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SEGURANÇA NO TRABALHO: CUSTOS E BENEFÍCIOS DO

INVESTIMENTO PARA AS EMPRESAS E PARA OS EMPREGADOS

Sandra Golin de Andrade


Pós-Graduanda do Curso de Especialização (Pós-Graduação lato sensu) em
Gestão Estratégica de Pessoas. UNICENTRO, 2007.

Silvio Roberto Stefano


Professor Orientador. Doutorando em Administração, área de Recursos
Humanos - FEA/USP e Mestre em Administração, área de Gestão de Negócios -
www.unicentro.br PPA-UEL/UEM. Departamento de Administração, UNICENTRO.

RESUMO
O presente artigo aborda como temática os custos e benefícios de se investir em segurança
do trabalho, tanto para os empregadores como para os empregados. Utilizando-se de dados
secundários, referências bibliográficas e dados primários, obtidos por meio de questionários
aplicados aos colaboradores de duas indústrias madeireiras de Guarapuava, contemplando
41 entrevistados, em abril de 2008, que trabalham diretamente com a produção e estão, por
conseqüência, mais expostos aos acidentes de trabalho. Com o intuito de melhorar a
higiene no trabalho, a fim de proporcionar uma melhor qualidade de vida para os envolvidos
na atividade industrial. Percebeu-se que os riscos são mais evidentes quando os
funcionários não dispõem de treinamento prévio, ou quando a função é exercida por muito
tempo, proporcionando os vícios do trabalho repetitivo. Os benefícios da prevenção são
notáveis, pois os funcionários não são afastados por danos o que agiliza a produção e evita
o deslocamento de pessoal para suprir os que se encontram em tratamento ou afastados
por acidentes.
Palavras Chaves: segurança no trabalho, acidentes de trabalho e higiene no trabalho.

ABSTRACT
This article addresses issue the cost benefit of investing in security of working for employers
and to employees. Using the case of secondary data, references and primary data, obtained
through questionnaires applied to employees of two of Guarapuava lumberjack, including 41
interviewed in April 2008 that work directly with the production and are therefore more
exposed to accidents at work . In order to improve occupational health in order to provide a
better quality of life for those involved in industrial activity. Clearly that the risks are greatest
when the officials have no prior training, or when the function is exercised for a long time,
providing the vices of repetitive work. The benefits of prevention are clear, because the
officials are not removed by the damage that speeds up the production and prevent the
displacement of personnel to fill those in treatment or removed by accident.
Key words: security of work, accidents at work and occupational health.

Ed. 6 Ano: 2008 Revista Eletrônica Lato Sensu – UNICENTRO ISSN: 1980-6116
SEGURANÇA NO TRABALHO: CUSTOS E BENEFÍCIOS DO INVESTIMENTO PARA AS EMPRESAS E PARA OS
EMPREGADOS

1 INTRODUÇÃO

A abolição da escravatura trouxe ao Brasil e ao mundo uma nova concepção


de trabalho, o assalariado e, com ele, todas as conseqüências possíveis no que se refere a
direitos e deveres. A burguesia comandava as empresas e o comércio, o trabalho era pouco
regrado e as exigências subumanas, os operários não tinham horários definidos de trabalho,
podendo chegar até 16 horas diárias, no século XIX, as férias não existiam e muito menos o
décimo terceiro (SOUZA, 2002).
A situação modificou-se com a criação das Leis Trabalhistas e a explosão da
Revolução Industrial, um manifesto realizado pelo proletariado em busca de melhores
condições de vida, já que na Inglaterra existiam estatísticas demonstrando a expectativa de
vida das pessoas economicamente ativas, 17 anos para trabalhadores braçais e 35 anos
para os cargos administrativos (TORREIRA, 1997).
As regras trabalhistas foram de grande valia para a época, pois
proporcionaram aos operários o tempo de lazer e os salários controlados, mas ainda não
proporcionavam segurança a eles. Os números de acidentes e mortes eram cada vez mais
presentes, principalmente com a evolução da tecnologia que lançava máquinas para agilizar
o trabalho e diminuir os custos. Então surgem as Normas Regulamentadoras (NR’s), a
Consolidação das Leis Trabalhistas (CLT), em 1943, e a portaria n° 3.214, que vão amparar
os trabalhadores e proporcionar aos mesmos uma expectativa de vida maior.
O objetivo principal deste artigo é analisar a utilização das normas de
segurança em duas indústrias madeireiras de Guarapuava, seus benefícios para as
empresas e para os funcionários. Além disso, pretende-se investigar a relação custo
benefício do investimento em segurança do trabalho, pois as organizações se tornam
competitivas, assumindo sua responsabilidade social junto aos seus empregados.
Alicerçadas nas contextualizações bibliográficas divididas em tópicos referentes à higiene no
trabalho, segurança no trabalho, doenças do trabalho e normas regulamentadoras.
Pretende-se esclarecer quais as vantagens de investimento em segurança do
trabalho, partindo do princípio de que a prevenção de acidentes é a forma mais coerente de
ganhar tempo, reduzir custos diretos e indiretos das organizações, além de ser menos
traumático para o funcionário e para a sociedade. A problemática aborda qual a viabilidade
de se investir em segurança do trabalho? Será que apresenta menor custo que os
atendimentos aos danos causados?
Ancora-se em evidenciar o custo de se investir na prevenção de
acidentes, partindo do diagnóstico das principais causas de acidentes nas empresas, do
setor industrial, do custo da prevenção para os empregadores, bem como seus pontos
críticos passíveis de melhorias. Para atingir tais perspectivas, utilizou-se referenciais
bibliográficos e questionários aplicados a 41 funcionários atuantes na produção diretamente,
em duas indústrias madeireiras da cidade de Guarapuava.

2 REVISÃO DA LITERATURA
2.1 Higiene no Trabalho

Os primeiros estudos referentes ao ‘Labor’ datam de aproximadamente 300


anos, orientados pelos precursores Hunter, Georg, Bauer, Van Hohenhein (século XVI) e
Ramazzini século XVIII, o pai da medicina do trabalho (VIEIRA, 2000). Estudos que tiveram
ênfase em um segundo momento, 1888, marco na história da humanidade e da vida
trabalhista, o fim da escravatura no Brasil, um dos últimos países que decretou a abolição. O
mundo começa a viver as transformações trabalhistas e a concepção do Direito Laboral.
No Brasil, o primeiro decreto de proteção ao trabalho, surgiu em 1919 sob o
número 3.724 (da assistência médica e a indenização). Esse primeiro passo deu início, às

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leis de higiene, segurança e medicina do trabalho, que se amparam nas entidades oficiais
relacionadas à Segurança e Higiene Industrial, sendo elas: Ministério do Trabalho e
Emprego, Delegacias Regionais de Trabalho, Fundação Centro Nacional de Segurança,
Higiene e Medicina do Trabalho, Instituto Nacional de Seguro Social – INSS, Universidades,
Instituições e Escolas (VIEIRA, 2000).
As transformações eram pequenas e lentas, culminando a Revolução
Industrial presenciada por todo mundo em 1930, que reivindicava uma legislação social e
trabalhista específica e obrigatória a todas as empresas (TORREIRA, 1997).
O crescente número de acidentes e doenças do trabalho é que avivou a
questão de leis e proteção do trabalho e do meio. Obviamente, as referidas leis tiveram
grande oposição do empresariado da época, porém, com o passar do tempo, elas, por
pressão da opinião pública, foram aperfeiçoadas (VIEIRA, 2000).
O ápice das manifestações e o início da busca por uma maior expectativa de
vida foi marcado pela CLT (Consolidação das Leis Trabalhistas), em 1943. Naquele
momento, o consumo da força de trabalho, resultante da submissão dos trabalhadores a um
processo acelerado e desumano de produção, exigiu uma intervenção, sob pena de tornar
inviável a sobrevivência e reprodução do próprio processo (DIAS; MENDES, 1991).
Em conseqüência da CLT, tem-se a lei n° 6.514/77 e a portaria n° 3.214/78,
que trata exclusivamente da Segurança e da Medicina do Trabalho (VIEIRA, 2000, p. 256).
Além de todos os desgastes das frentes de trabalho, os avanços tecnológicos e a segunda
guerra mundial contribuíram para o avanço das indústrias e as importações de máquinas e
equipamentos para as organizações, em meio a uma situação que já estava se tornando
uma escravidão mascarada, pois o trabalho era exaustivo e desumano.
É bem verdade que a comodidade da vida moderna trouxe repercussões
severas para a sociedade. A lei da oferta e procura, uma vez que as máquinas realizavam o
trabalho de vários operários em menor tempo, os riscos de acidentes e o desgaste social
que toda essa dinâmica causou.
A descoberta das máquinas foi uma Revolução, a transformação mais
presente na vida das pessoas e necessária a sociedade contemporânea. Apesar de todos
os avanços, o risco de acidentes, tornou-se considerável, a expectativa de conciliação dos
extremos homem-máquina uma emergência desejada nos quatro cantos do mundo
(SOUZA, 2002).
A troca de homens por máquinas resultou em uma produção uniforme e
eficiente, além de proporcionar a redução de custos. A tecnologia industrial evoluíra de
forma acelerada, traduzida pelo desenvolvimento de novos processos industriais, novos
equipamentos, e pela síntese de novos produtos químicos, simultaneamente ao rearranjo de
uma nova divisão internacional do trabalho (DIAS; MENDES, 1991). O problema é que as
Leis não eram suficientes e, junto à modernidade, chegaram também os desgastes e as
doenças. Afirmação de Vieira (2000, p. 31) “o ambiente de trabalho tem sido causa de
mortes, doenças e incapacidades para um número incalculável de trabalhadores ao longo
da história da humanidade.”
É nesse contexto que são redigidas as Normas Regulamentadoras (NR’s) e
as comissões internas de prevenção a acidentes (CIPA), com a finalidade de reduzir
acidentes e regrar as empresas em prol do zelo à vida de seus operários.
De acordo com Torreira (1997, p. 2-3 e 5):

Um estudo realizado nos Estados Unidos por institutos do governo


estabelece que das incapacidades ocupacionais, uma terceira parte é
causada por danos e duas terceiras partes por doenças, mortes, dores,
sofrimentos vários e outras causas não determinadas, que não se
encontram incluídas na avaliação supra.
Embora a vida tenha melhorado, paga-se um preço excessivamente
elevado por este aumento no padrão devido à alta tecnologia. No ano de

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1965, no Brasil (conforme dados obtidos do SENAI), morreram 3.967


trabalhadores e ficaram definitivamente incapacitados 15.156.

Ainda seguindo Torreira (1997), os acidentes constituem a principal causa de


mortes para pessoas entre 1 a 44 anos. Sendo superadas somente pelas doenças do
coração, batidas de carro e câncer. Para as pessoas acima de 18 anos até 45, a taxa de
morte acidental aumenta com a idade. Quando se observa uma expectativa de vida média
para mulheres em torno de 77 anos e para homens 70 anos, depara-se com o cálculo do
ônus para o governo ao se confrontar com tantos acidentados jovens e incapacitados.
O fato de que as normas existem ainda não inibem o Brasil do diagnóstico de
recordista em acidentes nos locais de trabalho. Com essa afirmativa, apresentou-se uma
controvérsia, será que as normas são insuficientes ou os treinamentos inadequados para a
função desempenhada. Nem todas as empresas precisam ter comissões independentes
para tratar de acidentes, mas todas devem conhecer a legislação e adequar ela.

Os dados estatísticos brasileiros nos colocam na posição de campeões em


acidentes de trabalho, apesar de todos os esforços que vêm sendo
despendidos para reverter este quadro. O que se tem realizado demonstrou
ser insuficiente ou inadequado à melhoria da relação do trabalho com seu
ambiente (VIEIRA, 2000, p. 31).

O ônus para a nação e a empresa é cada vez maior e o desgaste para o


trabalhador pode ser irreparável, além de acarretar em diminuição de mão-de-obra ativa e
produtiva. O problema também é de ordem social, pois as seqüelas podem ser permanentes
e drásticas.
As questões trabalhistas sofrem com as constantes mudanças de normas e
leis ao decorrer dos anos. Não há chance para detectar os benefícios de uma norma, devido
à inconstância legislativa brasileira, o que acaba por dificultar a vida dos trabalhadores que
dela dependem. Estudos demonstram que os acidentes derivam-se do mau treinamento e
da falta de especialização dos trabalhadores frente às tecnologias.
“Embora grandes progressos tenham sido obtidos em segurança ocupacional
e saúde, as perdas em termos de vidas, danos, doença e dinheiro são ainda elevadas.”
(TORREIRA, 1997, p. 5). As fontes de dados são precárias e não aplicáveis a todos os tipos
de indústrias, devido à especificidade de trabalhos realizados em cada organização.
A explicação é complementada por Oliveira e Teixeira com as seguintes
palavras:

Em primeiro lugar, a seleção de pessoal, possibilita a escolha de uma mão-


de-obra provavelmente menos geradora de problemas futuros como o
absentismo e suas conseqüências (interrupção da produção, gastos com
obrigações sociais, etc.). Em segundo lugar, o controle deste absentismo na
força de trabalho já empregada, analisando os casos de doenças, faltas,
licenças, obviamente com mais cuidado e maior controle por parte da
empresa do que quando esta função é desempenhada por serviços médicos
externos a ela, por exemplo, da Previdência Social. Outro aspecto é a
possibilidade de obter um retorno mais rápido da força de trabalho à
produção, na medida em que um serviço próprio tem a possibilidade de um
funcionamento mais eficaz nesse sentido, do que habitualmente 'morosas' e
'deficientes' redes previdenciárias e estatais, ou mesmo a prática liberal sem
articulação com a empresa (OLIVEIRA; TEIXEIRA, 1986, p. 23).

A higiene no trabalho aborda a questão de riscos do ambiente, que podem


provocar doenças ocupacionais, dividindo-se em quatro grupos: químico, físico, biológico e
ergonômico, sendo trabalhados em conjunto com operários e comissões que elaboram

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mapas de riscos e traçam programas de prevenção para esses fatores evidentes no meio
laboral onde cada indivíduo está inserido. De acordo com Marques (2004), devem-se utilizar
alguns critérios para a montagem de programas que realmente tenham eficiência e sejam
estendidos a todos os envolvidos de forma clara:

· Antecipar e prever riscos a partir de dados históricos e relatos;


· identificar e reconhecer riscos nos equipamentos, produtos, softwares,
instalações, processos e operações;
· avaliar e determinar a probabilidade e severidade dos acidentes
resultantes dos riscos existentes;
· analisar falhas do sistema, dos seres humanos, decisões, gestão e
mesmo práticas das atividades que compõe o dia-a-dia da indústria;
· identificar causas, tendências e relações;
· investigar as causas de acidentes mais freqüentes;
· aconselhar o cumprimento de normas, legislação, procedimentos a
respeito de segurança;
· conduzir estudos sobre riscos potenciais;
· verificar se as capacidades humanas não estão a ser excedidas;
· eliminar riscos e causas de exposição e acidentes;
· reduzir a probabilidade de danos graves, doenças e danos ambientais;
· desenvolver políticas e procedimentos de segurança, saúde e ambiente;
· dinamizar a formação de equipes de segurança;
· implantar, administrar e informar sobre riscos e programas de controle
de acidentes;
· preparo e exposição de relatórios a respeito de acidentes no trabalho;
· transmitir os dados das políticas e procedimentos dos programas de
controle de risco a todos os envolvidos no processo de produção;
· implementar programas de controle de riscos dentro das organizações.

Acredita-se que somente o trabalho integrado dos programas de higiene no


trabalho elaborados pelas comissões e as adequações dos operários a eles proporcione a
redução dos índices de acidentes e doenças ocupacionais, registrados pelo Instituto
Nacional de Seguro Social (INSS) nos setores industriais.

2.2 SEGURANÇA NO TRABALHO

A segurança no trabalho passou a ser uma necessidade desde o fim da 2°


Guerra Mundial, em que se presenciou um grande e oneroso número de incapacitados e
dependentes de regalias previdenciárias ou securitárias, transmitindo um processo contínuo
de dependência de incentivos oriundos do ônus de atitudes pouco pensadas
antecipadamente, que são irreversíveis na atual circunstância, incapacitando os
trabalhadores.

Num contexto econômico e político como o da guerra e o do pós-guerra, o


custo provocado pela perda de vidas - abruptamente por acidentes do
trabalho, ou mais insidiosamente por doenças do trabalho - começou a ser
também sentido tanto pelos empregadores (ávidos de mão-de-obra
produtiva), quanto pelas companhias de seguro, às voltas com o pagamento
de pesadas indenizações por incapacidade provocada pelo trabalho (DIAS,
MENDES, 1991, p. 3).

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A segurança no trabalho é um composto de critérios que devem ser


observados e seguidos pelas organizações e seus trabalhadores, a fim de minimizar os
danos e as conseqüências de práticas incorretas no ambiente laboral. Conceituado por
Vieira (2000, p. 259) como:

[...] um estado, uma condição; traduz-se, basicamente, em confiança. A


segurança do Trabalho pode ser resumida em uma frase: É a prevenção de
perdas. Estas perdas às quais devemos nos antecipar referem-se a todo
tipo de ação técnica ou humana, que possam resultar numa diminuição das
funções laborais (produtivas, humanas, etc.). A segurança do trabalho são
os meios preventivos (recursos), e a prevenção dos acidentes é o fim a que
se deseja chegar.

Segurança no trabalho seria então uma tentativa de inibir acidentes, explicado


por Torreira (1997, p. 16) “como: acontecimento infeliz casual ou não, e de que resulta
ferimento, dano, estrago, prejuízo, avaria, ruína, etc. [...] O termo acidente evoca
considerações acerca de efeitos indesejáveis ou conseqüências.”
O fato é que a realidade atual não está muito distante do pós-guerra, os
acidentes de trabalho apesar de enquadrados pela legislação brasileira de forma global,
ainda causam muitas mortes e danos irreversíveis aos trabalhadores. Marras (2000)
enquadra a segurança no trabalho como sendo: a prevenção de acidentes no trabalho e a
eliminação das causas. Tanto que afirma ser a prevenção de acidentes do trabalho um
programa de longo prazo com o objetivo de conscientizar o trabalhador a proteger a sua
própria vida e a de seus companheiros.
Para alcançar essa expectativa perfeita de ambiente laborativo, apresenta-se
cinco temas relacionados à qualidade de vida no trabalho: eficiência no trabalho, satisfação
no trabalho, conexão entre satisfação e eficiência, influência dos fatores ambientais e
particularmente de tecnologia e desenvolvimento do pensamento da ciência social e
expectativas das pessoas a partir do trabalho (SILVA, 2005).
Pois a junção desses temas inibe a monotonia, que segundo Torreira, (1999,
p. 798) “é a falta de novos desafios que simbolizam as excitações, o trabalho que não
apresenta esta expectativa se torna monótono, o que por um longo período causa redução
de capacidade física e mental.”

Além da organização formal de segurança do trabalho definida em


legislação pertinente, as organizações apresentam tipos de organização
que estão mais diretamente relacionadas com a sua cultura interna, às
vezes até representando a forma de pensar de seu(s) proprietário(s).
Porém, entendemos que a estrutura de segurança de uma organização
deve ser pautada numa distribuição de responsabilidades bem definida e
ordenada, com o objetivo de atrair e conservar os esforços combinados de
todos os elementos da empresa (humanos e materiais) em favor de ações
preventivas aos acidentes e incidentes que possam resultar em perdas em
todos os níveis (VIEIRA, 2000, p. 265).

Talvez seja por essa questão, cultura interna e normas vigentes a todos as
organizações, que as adequações para a inibição de acidentes seja tão difícil de ser
alcançada na atualidade. Uma vez que o acidente de trabalho é uma ocorrência anormal e
indesejada decorrente do exercício do trabalho que atua negativamente, agredindo o
trabalhador com pequenas ou grandes lesões, ou ainda até mesmo a morte, acarretando em
danos à empresa, ao operário e à sociedade economicamente ativa (ZOCCHIO, 2001).
A segurança para Vieira (2000, p. 259) “é à parte da Engenharia que trata de
reconhecer, avaliar e controlar as condições, atos e fatores humanos de insegurança nos
ambientes de trabalho, com o intuito de evitar acidentes com danos materiais e
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principalmente à saúde do trabalhador.”


Para que a segurança exerça seu papel diante dos trabalhadores ativos,
Torreira (1997, p. 25) defende que é preciso levar alguns fatores em conta:

· Treinamento do trabalhador quanto aos procedimentos e práticas de


segurança;
· ensinar e insistir de como melhor trabalhar e com a devida segurança;
· estabelecer normas de uso e cuidados que os usuários devem observar
na utilização de um produto com a correspondente segurança;
· educar as pessoas sobre os perigos que podem existir em um produto,
processo ou tarefa e de como adotar as ações de proteção adequadas;
· treinar os profissionais no que respeita ao reconhecimento, avaliação
dos perigos e cumprimento das leis relativas à segurança e
responsabilidades legais.
· mais um item pode ser incluído, que diz respeito à motivação dos
cidadãos a cooperar com os programas de segurança mediante sua
participação efetiva.

Mas, mesmo que a empresa e seus operários tomem as devidas


providências, os acidentes são inevitáveis, com o tempo e o crescimento, o que se pode
articular é a melhor forma de tentar diminuir seus impactos e gravidade. Eles são
classificados por Diniz (2007) como típicos e atípicos. O primeiro se refere aos acidentes de
trabalho que advêm de um acontecimento súbito, violento e involuntário na prática do
trabalho, que atinge a integridade física ou psíquica do empregado. A segunda classificação
considera atípico o acidente de trabalho oriundo de doenças profissionais, peculiar a certo
ramo de atividade, ou seja, a moléstia é uma deficiência sofrida pelo operário, em razão de
sua profissão, que o obriga a estar em contato com substâncias que debilitam seu
organismo ou ao exercer sua tarefa, que envolve fato insalubre.
Independente da forma com que ocorre, vale lembrar que 50% dos acidentes
ocorrem com operários no seu primeiro ano de trabalho, sendo que a metade deles
acontece nos primeiros três meses. Algumas alternativas são cabíveis como o treinamento
citado anteriormente, as condições de trabalho adequadas entre outras (TORREIRA, 1997).
Além dos transtornos de ordem emocional e produtiva, tem-se o custo, que
pode ser classificado como direto e indireto, agregando ônus a todos os participantes dessa
cadeia produtiva. Dados da Vigilância Sanitária (2008) demonstram que acorrem 1,8
acidentes por dia na cidade de Guarapuava em 2007. Fato decorrente das transformações
industriais do terceiro milênio, que trouxe aos países subdesenvolvidos as indústrias, para
minimizar a poluição crescente das nações desenvolvidas, pois requerem mão-de-obra com
baixa tecnologia. Os países do Terceiro Mundo, afligidos pela elevação dos preços do
petróleo e pressionados pela recessão que se instala universalmente, buscam o
desenvolvimento econômico a qualquer custo, aceitando e estimulando essa transferência,
supostamente capaz de amenizar o desemprego e gerar divisas (DIAS, MENDES, 1991).
Para absorver toda essa transformação, as indústrias se amparam em
comissões internas que desenvolvem orientações e programas de segurança no trabalho, a
fim de prevenir possíveis afastamentos ou doenças, definido por Chiavenato (1994) como:
um conjunto de medidas técnicas, administrativas, educacionais, médicas e psicológicas,
empregadas para prevenir acidentes, seja pela eliminação de condições inseguras do
ambiente, seja pela instrução ou pelo convencimento das pessoas para a implementação de
práticas preventivas.

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2.3 DOENÇAS NO TRABALHO

As doenças no trabalho já causam grandes preocupações, pois são as


maiores responsáveis por afastamentos de trabalho e perda de produtividade.

Uma vez que acidentes (ou até incidentes) influem de forma negativa em
todo o processo produtivo já que o mesmo é responsável por perda de
tempo, perda de materiais, diminuição da eficiência do trabalhador, aumento
do absenteísmo, prejuízos financeiros. São fatores que resultam em
sofrimento para o homem, mas que também afetam a qualidade dos
produtos ou serviços prestados (VIEIRA, 2000, p. 260).

O acidente é uma ocorrência violenta, como o próprio nome diz, com


conseqüências imprevisíveis e catastróficas em que todos saem perdendo, pode gerar
problemas sociais ou até mesmo sofrimento físico e mental, além de perdas materiais.
Apresenta como conceito legal – “ocorre pelo exercício do trabalho, a serviço da empresa,
provocando lesão corporal, perturbação funcional ou doenças, que cause a morte ou perda,
ou redução permanente ou temporária, da capacidade para o trabalho.” (VIEIRA, 2000, p.
276).
Os acidentes geram prejuízos, que segundo Gomes e Gottschalk (2004, p.
275) são: morte, incapacidade total e permanente, incapacidade parcial e permanente e
incapacidade temporária, variando a intensidade de conseqüências. A utilização de novas
tecnologias nos processos de trabalho - embora possa contribuir para o melhoramento das
condições, acabam introduzindo novos riscos à saúde, quase sempre decorrentes da
organização do trabalho, e, portanto, de difícil "medicalização" (DIAS; MENDES, 1991).
As modificações dos processos de trabalho em nível "macro", e "micro",
acrescentados à eliminação dos riscos nas antigas condições de trabalho, provocam um
deslocamento do perfil de morbidade causada pelo trabalho: as doenças profissionais
clássicas tendem a desaparecer, e a preocupação desloca-se para as outras doenças
relacionadas ao trabalho. Passam a ser valorizadas as doenças cardiovasculares
(hipertensão arterial e doença coronariana), os distúrbios mentais, o estresse e o câncer.
Desloca-se, assim, a vocação da saúde ocupacional, passando a se ocupar da promoção de
saúde, cuja estratégia principal é a de, por meio de um processo de educação, modificar o
comportamento das pessoas e seu estilo de vida. (MENDES, 1988).
Na implementação desse novo modo de articular as questões de saúde
relacionadas ao trabalho, os trabalhadores contam com dois apoios importantes: uma
assessoria técnica especializada e o suporte, ainda que limitado, dos serviços públicos
estatais de saúde.
Não é possível separar o homem do trabalho, pois “o trabalho é a obra moral
de um indivíduo moral. Esse valor ético do trabalho que tem sentido bastante menosprezado
pela moderna economia política, é, entretanto, o que verdadeiramente o caracteriza.”
(TORREIRA, 1999, p. 9).
Assim, deve-se atentar para a redução de condições inseguras no trabalho,
minimizar os atos inseguros através de treinamento. Os projetos bem executados, bem
como o conhecimento dos eventuais erros humanos tendem a melhorar o comportamento
do trabalhador e conscientizá-lo na sua função. (TORREIRA, 1997). Complementado pela
afirmação de Vieira (2000, p. 31) “é chegado o momento do fim do paternalismo. Os
trabalhadores precisam ter participação ativa nas questões da segurança e conservação da
sua saúde.”
Para que a monotonia não seja presente, aconselha-se ciclos de trabalho de
curta duração, com pausas, e treinamentos adequados, inibindo a fadiga, caracterizada pela
forma com qual o organismo avisa que está tendo uma sobrecarga. Ela nos alerta indicando

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que ultrapassando esse ponto, podem ocorrer danos sensíveis. Além desse ponto a fadiga
passa a ser crônica (TORREIRA, 1999).

2.4 NORMAS REGULAMENTADORAS (NR’S) E CIPA

Para regrar o trabalho e suas condições como plausíveis aos seus


funcionários, foram criadas 32 normas regulamentadoras a respeito do trabalho em
indústrias que apresentam qualquer forma de risco a seus operários, não importando a
espécie. As Normas são ancoradas nos artigos 154 até 200 da CLT. Mas, apesar de todos
os esforços na busca de uma condição adequada de trabalho, pois segundo Torreira (1997,
p. 26), “nunca haverá uma resposta conclusiva e final para a pergunta “quando a segurança
é suficientemente segura?”A sociedade como um todo, através de processos políticos e
legais é que deve definir o preço que deseja pagar para ter níveis aceitáveis de risco.”
Dentre todas as normas apresentadas, são destacáveis algumas mais
conhecidas pelos proletários como: NR 4 que trata as obrigatoriedades das empresas em
possuírem serviços especializados em Engenharia de Segurança e Medicina do Trabalho -
SESMT, NR 5 CIPA – Comissão Interna de Prevenção de Acidentes no Trabalho, NR 6 que
estabelece e define os tipos de EPI’S – Equipamentos de Proteção Individual, NR 9 que
aborda os PPRA – Programas de Prevenção de Riscos Ambientais, que são responsáveis
pelos mapas de risco e, por fim, a NR 17 a respeito da ergonomia. A subdivisão é amparada
pelo site Saúde pertencente ao governo.
“A sociedade aceitou esses benefícios, porém não todos os riscos, realizando
novas exigências sobre engenheiros e outros profissionais, para reduzir os problemas
relativos à segurança e saúde.” (TORREIRA, 1997, p. 4). A segurança é cada vez mais
debatida em todo mundo, mas só uma ação conjunta fará com que o Brasil saia da
incômoda condição de um dos recordistas mundiais em acidentes e doenças profissionais;
para tal, a elaboração e execução de programas integrados de prevenção a riscos, bem
como o máximo investimento no desenvolvimento de novos instrumentos de proteção de
ordem geral e métodos laborais, são de suma importância e até emergenciais (VIEIRA,
2000).
As normas, já sofreram algumas modificações por portarias (5° de 17/08/92,
3.214/78) e decretos, mas continuam a possuir um caráter amplo e significativo. Os mapas
de riscos são norteados pelas CIPAs, mas essas, não possuem conhecimentos suficientes
para a elaboração e adaptação às novas necessidades, uma questão obrigatória para as
Comissões, de acordo com as colocações de Vieira (2000).
A Portaria n° 5 de 18/04/94, altera a NR-5, que passa a contemplar todos os
temas referentes à CIPA, inclusive o que se refere ao mapeamento de riscos. Nessa
Portaria é fixado um prazo de 120 dias para que ela passe a vigorar e antes que isso
aconteça, é publicada a Portaria n° 968, de 09/08/94 prorrogando por mais 180 dias a sua
entrada em vigor (VIEIRA, 2000).
Os cipeiros realizam um trabalho de suma importância para a organização e,
devido aos debates muitas vezes polêmicos, eles têm estabilidade empregatícia temporária,
desde o registro de sua candidatura até um ano após o término do mandato (BULGACOV,
1999).
Além da falta de preparo para a realização do mapeamento, muitos
colaboradores não sabem conceituar um mapa de riscos “a representação gráfica de como
os trabalhadores percebem o seu ambiente de trabalho“ (VIEIRA, 2000). É a amostragem da
realidade da empresa percebida através dos sentidos dos trabalhadores. Nada mais justo,
uma vez que, são eles que estão expostos aos riscos na maior parte de suas vidas.
Surgem então, novas práticas sindicais em saúde, traduzidas em
reivindicações de melhores condições de trabalho, através da ampliação do debate,

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EMPREGADOS

circulação de informações, inclusão de pautas específicas nas negociações coletivas, da


reformulação do trabalho das Comissões Internas de Prevenção de Acidentes (CIPAs), no
bojo da emergência do novo sindicalismo (INSTITUTO NACIONAL DE SAÚDE NO
TRABALHO, 2007).
Esse processo leva, em alguns países, à exigência da participação dos
trabalhadores nas questões de saúde e segurança. Elas, mais que quaisquer outras,
tipificavam situações concretas do cotidiano dos trabalhadores, expressas em sofrimento,
doença e morte (BERLINGUER, 1978).

3 METODOLOGIA

Utilizou-se o estudo de caso, como delineamento de pesquisa, para se


apontar os seus resultados o qual pretende demonstrar o ônus e o bônus de se investir em
segurança do trabalho. Segundo Yin (1994), o estudo de caso é uma investigação de um
fenômeno contemporâneo dentro de seu contexto da vida real, especialmente quando os
limites entre os fenômenos e o contexto não estão claramente definidos. As vantagens se
apresentam no estudo de uma situação real, mas com desvantagens de distorções de
informações por não compreender a questão abordada ou a impossibilidade de real
resposta ou pensamento sobre o tema indagado por medo de conseqüências futuras.
Foram estudados dois casos específicos e divergentes para que se permita
evidenciar a relação custo benefício de tal investimento. A pesquisa tem fontes primárias
obtidas de questionários aplicados a uma amostragem conveniente de funcionários que se
encontravam na empresa no momento da coleta de dados, utilizando-se de questionários
mistos, que apresentam questões de diferentes tipos: respostas abertas e respostas
fechadas, (SILVEIRA, 2000) direcionados aos colaboradores e ao administrativo, a fim de
levantar a situação dos empregados no local de trabalho (apêndice um) e secundárias
caracterizadas pelas estatísticas de anos anteriores a respeito de acidentes de trabalho e
suas conseqüências, bem como bibliografias sobre a temática.
O estudo foi realizado nas empresas, Celplac e Repinho, contemplando o
ramo madeireiro industrial, no mês de abril de 2008, de forma ocasional, utilizando-se de
dados qualitativos e quantitativos de caráter secundário. Entrevistando um total de 41
operários, que estão diretamente ligados à produção do produto final, representados por um
universo de 366 empregados aproximadamente, mas que nem todos estão ligados
diretamente à produção e trabalham em extensões como reflorestamento e secagem de
madeiras nas fazendas.
As limitações são encontradas na falta de conhecimento das Normas
Regulamentadoras e na falta de treinamento prévio para a função que cada trabalhador
ocupa dentro das organizações pesquisadas.

4 DESENVOLVIMENTO

Primeiramente, descreve-se a Celplac Indústria e Comércio Ltda, empresa de


médio porte, incorporando o setor de compensados com um total de 66 funcionários, sendo
totalmente privada e nacional. Devido à periculosidade dos serviços, exige-se a necessidade
de equipamentos de proteção individual, sendo o custo por funcionário calculado em torno
de R$ 40,00, custo elevado devido o número reduzido de funcionários. O regime de trabalho
é composto por 44 horas semanais, não possuindo turnos alternados. A organização é
norteada por CIPA e STAFF, um elemento especializado que assessora os diferentes níveis
hierárquicos sobre questões técnicas ligadas à segurança no trabalho, apresentando como
índice de 2007, um afastamento por acidente de trabalho, dados fornecidos pela empresa.

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Dos 66 funcionários, foram entrevistados 9, o que representa 13,7% do


quadro total da organização, foram escolhidos pela função que desempenham e pela
disponibilidade de horário para realizar o questionário no momento em que foi aplicado.
A segunda indústria em questão, Repinho Refrorestadora e Compensados
Ltda, apresenta 18 anos de história no ramo madeireiro, possuindo 300 funcionários
aproximadamente, também sendo privada e nacional. Ocupa uma área de 7.000 hectares
de reflorestamento, produzindo para exportação.
É uma indústria de grande porte, apresentando o custo por funcionário, em
R$ 10,00, para enquadramento das legislações a respeito dos equipamentos de proteção
individual e coletivo, barateado, em relação a outra madeireira por possuir mais de 300
funcionários. No ano de 2007, houve seis afastamentos superiores a quinze dias e doze
inferiores, mas sem graves danos. Os operários trabalham em regime de oito horas diárias.
O regime organizacional enquadra-se em STAFF.
Nessa madeireira, foram entrevistados 32 operários, o que representa 10,7%
do total, pois a empresa possui trabalhadores que atuam fora do perímetro da fábrica, não
trabalhando diretamente com a produção e o maquinário, maior causador de acidentes de
trabalho, sendo inviável a possibilidade de entrevistas, logo, realizou-se a pesquisa com os
colaboradores presentes no momento.
Dos 41 entrevistados, funcionários da Celplac e Repinho, 44% possuem de
18 a 29 anos de idade, 36,5% de 30 a 39 anos e 19,5% possuem mais de 39 anos. Todos
trabalham na produção propriamente dita e necessitam de EPI’s como luvas, botas, óculos,
aventais, capacete, protetores auriculares, entre outros.
Na Celplac, todos os operários entrevistados passam por treinamento prévio
de um dia, sendo renovado a cada três meses, para a inibição de vícios. Já na Repinho,
apenas quatro funcionários tiveram treinamento prévio.
Quando se indagou a questão de ocorrência de acidentes de trabalho, de
todos os entrevistados (Repinho e Celplac), 15% afirmam ter sofrido algum tipo de acidente
no ambiente em que atuam, sendo que desses, 13% foram danos de mão e antebraço e
apenas 2% relatou ter fraturas na coluna. Então, pode-se analisar que, a grande maioria dos
acidentes ocorrem com os membros superiores e que por vez também estão ligados
diretamente ao trabalho e manuseio de materiais dentro das áreas de risco, conforme ilustra
o gráfico 1:

GRÁFICO 1 - Acidentes de Trabalho


Fonte: elaborado pela autora

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EMPREGADOS

As duas indústrias afirmam que na ocorrência de acidentes, houve abertura


de Comunicado de Acidente de Trabalho (CAT), sendo todos os procedimentos executados
de forma correta com afastamentos e substituições. Por possuírem CIPA, já apresentam
uma maior compreensão de riscos e leis vigentes para amparo trabalhista. Sendo assim, os
funcionários despendem de paradas de 15 minutos, no decorrer das oito horas de trabalho
diário.

GRÁFICO 2 - Necessidade dos Programas de Prevenção de


Acidentes
Fonte: elaborado pela autora.

Pela questão de trabalharem em áreas de risco, 85% dos trabalhadores


entrevistados (Repinho e Celplac) acreditam que os programas de prevenção de acidentes
são necessários, embora 15% dos entrevistados consideram desnecessários para o bom
andamento das atividades, pois afirmam que não são amparados por CIPA, partindo do
princípio de que não participam das reuniões e não são informados da importância dessa
comissão para o amparo dos trabalhadores e a melhoria do ambiente de trabalho, dado
preocupante, uma vez que trabalham diretamente com os riscos à saúde. Informações
constantes no gráfico 2. Ainda, constatou-se que poucos conhecem o mapa de riscos
afirmando não participarem diretamente da sua confecção. 68% não reconhecem a
importância do mapa de riscos ou não têm conhecimento do mapa de seu setor.

GRÁFICO 3 - Importância do Mapa de Riscos


Fonte: elaborado pela autora

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As comissões internas de prevenção de acidentes foram criadas com o intuito


de proteger os trabalhadores dos riscos do ambiente de trabalho e das possíveis moléstias
que a função agrega ao trabalhador, com o tempo de exercício de determinada atividade em
um ambiente que apresenta riscos ou produtos geradores de danos, como os químicos e os
biológicos, por exemplo. O mapa de riscos passou a ser uma atribuição dessas comissões e
deve apresentar todos os pontos críticos do ambiente laboral, sendo confeccionado com o
auxílio de todos os envolvidos nas tarefas diárias, para que eles tenham noção das
dimensões de riscos a que estão inseridos, no entanto 68% dos trabalhadores
questionados, afirmam desconhecer o que é um mapa de riscos e qual sua finalidade dentro
da organização, conforme evidenciado no gráfico 3.
E de todos, apenas 29% afirmam ter participação na construção do mapa, o
que distorce a real função de demonstrar os riscos dos setores e conscientizar os seus
trabalhadores, para que os acidentes sejam evitados e os problemas de moléstias laborais
minimizados ao máximo, já que não podem ser banidos do ambiente, ou da função, de
acordo com a ilustração no gráfico 4.

GRÁFICO 4 - Participação na Confecção do Mapa de Riscos


Fonte: elaborado pela autora

Quanto aos acidentes de trajeto, todos os operários têm ciência de que o


trajeto também se enquadra ao trabalho. As normas são presentes e, em sua grande
maioria, é de conhecimento dos proletários, a grande questão é que as empresas não
seguem à risca as trinta e duas normas que regulamentam a produção industrial.

5 CONSIDERAÇÕES FINAIS

Os riscos são presentes no meio industrial, não podem ser ignorados, mas
devem ser reduzidos, para que os acidentes sejam minimizados e eliminados no decorrer do
tempo. A legislação é abundante e bem detalhada, entretanto deve ser utilizada em um
conjunto de treinamento prévio e trabalho em equipe para os funcionários.
A pesquisa de campo demonstrou que os empregados, nas duas empresas
madeireiras analisadas, não recebem o significativo treinamento prévio para exercer as
funções que lhes são atribuídas, além de não conhecerem as atribuições das CIPAS e a
importância dos mapas de riscos, o que gera uma maior incidência de acidentes e
afastamentos decorrentes dos acidentes causados pela falta de conhecimento. É necessária

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uma melhor conduta das empresas em cumprir as normas e proteger ao máximo a


organização e os operários que nelas trabalham.
Percebe-se que, apesar das indústrias atuarem na exportação e possuírem
as ISOS 9001:2000, não trabalham com eficácia o treinamento de pessoal. As empresas
elaboram os mapas de riscos sem o conhecimento de todos os funcionários que trabalham
diretamente nas situações de acidentes de trabalho, o que é primordial para o bom
funcionamento dos ambientes laborais.
Na empresa que não realiza treinamento prévio, o índice de acidentes de
trabalho é maior, embora o custo para adequação as NR’s seja menor, devido ao número de
funcionários da organização, na indústria de grande porte o custo da prevenção de
acidentes é na média de 10,00 por funcionário e, na de médio porte, é de 40,00. Valor bem
inferior aos ônus de afastamentos por tempo indeterminado, treinamentos de substitutos
para os acidentados, além de todas as burocracias pertinentes as comunicações ao INSS,
para que o afastamento seja remunerado e proporcione ao acidentando o devido amparo,
quando ele não está inserido na população economicamente ativa, sem mencionar ainda o
desgaste psicológico que o trauma agrega.
A organização perde em produtividade, dias de trabalho com acidentes e
investimentos em qualificação dos funcionários, que se encontram afastados, para que eles
possam operar o maquinário e produzir da melhor forma possível com agilidade e
padronização.
Talvez essa seja a grande questão que eleva o Brasil como recordista de
acidentes de trabalho. Guarapuava apresentou, no ano de 2007, mais de 200 registros de
afastamento por acidentes de trabalho e doenças ocupacionais com a abertura de CAT,
sendo que oito levaram os operários à morte. (SANTOS, 28/04/2008).
Em uma sociedade com várias empresas na informalidade, as quais não
possuem vínculo com o INSS e com a Regional de Saúde, logo, não registram os acidentes
e seus traumas, assim, estima-se que o número seja ainda maior.
As normas existem, o que falta para a redução dos acidentes é um trabalho
conjunto, governo, empresa e empregado, para que a situação seja modificada e os danos à
saúde e à sociedade se tornem menores e controláveis, reduzindo o ônus para o governo
que arca com a mão-de-obra afastada, tendo como população ativa, um número menor de
pessoas e para o funcionário que acaba perdendo saúde e capacidade laborativa, reduzindo
a população economicamente ativa do país.
A legislação é notável, o custo benefício de prevenção de acidentes é
presente, o que falta para a perfeita junção dos extremos é a conscientização de todos os
envolvidos no processo, empresas, empregados e poder público a explanação de
programas e a adequação das empresas às normas de forma eficiente, englobando todos
os operários que fazem parte da organização.

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ANDRADE, Sandra Golin de; STEFANO, Silvio Roberto

REFERÊNCIAS

BERLINGUER, G. A saúde nas fábricas. São Paulo: Hucitec, 1978.

BULGACOV, S. Manual de Gestão Empresarial. São Paulo: Atlas, 1999, Organizador.

CHIAVENATO, I. Recursos humanos. 3ª ed. São Paulo: Atlas, 1994.

DIAS, E. C.; MENDES, R. Da Medicina do Trabalho a Saúde do Trabalhador. São Paulo:


Ver Saúde Pública, vol.25, outubro, 1991. ISSN 0034-8910.

DINIZ, M. H. Curso de Direito Civil: responsabilidade civil. 7 vol. 21ª ed. São Paulo:
Saraiva, 2007.

GOMES, O.; GOTTSCHALK, E. Curso de Direito do Trabalho. Rio de Janeiro: Forense,


2004.

MARQUES, J. C. Higiene do trabalho. Universidade da Madeira, departamento de química,


2004.

MARRAS, J. P. Administração de recursos humanos: do operacional ao estratégico. 3ª


ed. São Paulo: Futura, 2000.

MENDES, R. O impacto dos efeitos da ocupação sobre a saúde de trabalhadores. Rev.


Saúde Pública, São Paulo, 1988.

OLIVEIRA, J.A.A.; TEIXEIRA, S.M.F. Previdência Social; 60 anos de história da


previdência no Brasil. Petrópolis: Vozes, 1986.

SANTOS, A. dos. Guarapuava teve oito mortes por acidente de trabalho em 2007.
Jornal Rede Sul de Notícias, 28 de abril de 2008. Disponível em:
http://www.redesuldenoticias.com.br/noticias, acessado em 10 de maio de 2008.

SILVA, R. O. da. Teorias da Administração. São Paulo: Pioneira Thomson Learning,


2005.

SILVEIRA, M. L. Trabalho de Campo. Curitiba: UFPR, 2000.

SOUZA, O. A. R. Nova Teoria Geral do Direito do Trabalho. São Paulo: LTR, 2002.

TORREIRA, R. P. Segurança Industrial e Saúde. Editora Eletrônica MCT Produções


Gráficas, 1997.

TORREIRA, R. P. Manual de Segurança Industrial. Editora Eletrônica MCT Produções


Gráficas, 1999.

VIEIRA, S. I. Manual de Saúde e Segurança do Trabalho. Vol. II. Florianópolis: Mestra,


2000, Coordenador.

ZOCCHIO, A. Segurança e saúde no trabalho como entender e cumprir as obrigações


pertinentes. São Paulo: LTR, 2001.

YIN, R. K. Applications of Case Study Research. Newbury Panrk: Sage, 1994.

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EMPREGADOS

APÊNDICE 1

QUESTIONÁRIO PARA OS FUNCIONÁRIOS DA LINHA DE PRODUÇÃO

1) Qual sua idade?


.................................................................................................................................

2) Qual sua função ou cargo dentro da organização?


............................................................................

3) Você depende da utilização de algum equipamento de proteção individual? Se sim, qual?


...............................................................................................................................................
...

4) Você passou por treinamento prévio, antes de iniciar suas atividades dentro da
organização? Qual foi a duração?
...............................................................................................................................................
...

5) Você já teve algum tipo de acidente de trabalho, nesta ou em outra empresa, que
trabalhou? Se sim, quais foram os danos?
...............................................................................................................................................
...

6) Se houve acidentes a CAT (Comunicado de Acidente de Trabalho), foi aberta junto ao


INSS?
( ) sim ( ) não

7) A empresa possui algum tipo de palestra ou grupo para a prevenção de acidentes (CIPA)
por exemplo?
( ) sim ( ) não

8) A organização possui algum programa de paradas durante o dia para descanso?


( ) sim, quanto tempo .......................................................................................
( ) não

9) Você acredita que os programas de prevenção de acidentes são necessários?


( ) sim ( ) não

10) Você sabe o que é um mapa de risco e qual sua função dentro da organização?
...............................................................................................................................................
...............................................................................................................................................
......

11) Os funcionários participam da confecção do mapa de riscos?


( ) sim ( ) não

12) Você acredita que acidentes ocorridos no trajeto casa-trabalho-casa também são
considerados como acidentes de trabalho?
( ) sim ( ) não

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QUESTIONÁRIO PARA O SETOR RESPONSÁVEL PELA SEGURANÇA NO TRABALHO

13) Qual o custo para a prevenção de acidentes?


....................................................................................................................................................

14) Qual o índice de funcionários afastados por acidentes de trabalho? (referência anual)
....................................................................................................................................................

15) Quantos funcionários a organização possui?


....................................................................................................................................................
....................................................................................................................................................
16) Qual a duração da jornada de trabalho? (todas as subdivisões e setores e se há
turnos alternados ou regulares)
....................................................................................................................................................
....................................................................................................................................................

17) Qual a forma de organização da empresa Linha, Staff ou Comissões?

Linha – parte do princípio básico de hierarquia, ou seja, o presidente da organização tem a


responsabilidade pela segurança dos trabalhadores na empresa e delega essa
responsabilidade para o nível hierárquico mais abaixo, sucessivamente.

Staff – o princípio básico é o mesmo da linha, só que com um elemento especializado que
irá assessorar os diferentes níveis hierárquicos sobre questões técnicas ligadas à segurança
no trabalho. Esse especialista estabelecerá os programas adotados assim como seu
desenvolvimento.

Comissões – comissões contendo representantes dos trabalhadores e do empregador são


formadas para discussões sobre segurança do trabalho. A desvantagem dessa divisão é
que não precisa necessariamente de um elemento especialista.
....................................................................................................................................................
....................................................................................................................................................

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