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CONSIDERAÇÕES TEÓRICAS SOBRE O SURGIMENTO DO WELFARE


STATE E SUAS IMPLICAÇÕES NAS POLÍTICAS SOCIAIS:
UMA VERSÃO PRELIMINAR

Marineide Wieczynski*

O Welfare State surgiu nos países europeus devido à expansão do


capitalismo após a Revolução Industrial e o Movimento de um Estado Nacional
visando a democracia. Segundo (DRAIBE: 1988, 21) “seu início efetivo dá-se
exatamente com a superação dos absolutismos e a emergência das
democracias de massa.” O Welfare State é uma transformação do próprio
Estado a partir das suas estruturas, funções e legitimidade. Ele é uma resposta
à demanda por serviços de segurança sócio-econômica. Marta Arretch (1995:
11) diz que com a industrialização surge a divisão social do trabalho, isto
implica num crescimento individual em relação à sociedade. Desse modo, os
serviços sociais surgem para dar respostas às dificuldades individuais, visando
garantir a sobrevivência das sociedades. E ainda salienta:

“As medidas de proteção aos pobres foram


progressivamente deixando de tratá-los
indistintamente, isto é, passaram a surgir políticas de
atenção à heterogeneidade da pobreza” (1995:11).

As fases do sistema de proteção social citada por FLEURY (1994),


apontam claramente as mudanças das políticas de atenção à pobreza:
1600- 1880/Poor Laws: a pobreza era algo vergonhoso e as pessoas eram
culpabilizadas pela situação que se encontravam;
1880-1914: os programas de seguros social estavam destinados a classe
trabalhadora;
1918-1960: há uma ampliação dos programas sociais com o predomínio de
Estado prover o mínimo quanto aos benefícios sociais;
1960-1995: instaura-se a universalização dos serviços sociais;

*
Assistente Social e Mestranda do Programa de Pós-Graduação de Serviço Social
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1975 até os dias de hoje: diminuição da expansão estatal, início da crise do


Welfare State.
A autora também arrola alguns autores consagrados que apontam suas
considerações sobre a emergência do Welfare State. (TITMUS:1974), vê as
medidas de proteção social a partir do desenvolvimento da sociedade
industrial, afirmando que esta mesma sociedade foi quem gerou os problemas
sociais. (WILEMSKI:1975), diz que o Welfare State é de responsabilidade
estatal, é uma proteção social mínima, em níveis básicos de renda, e estes
devem ser vistos como direito e não como caridade. (MARSHALL:1965) ,
relaciona o estado de bem-estar com o capitalismo. Acredita que sua essência
está no sistema econômico e social como num todo. (BRIGGS:1961), tem sua
teoria fundamentada do Estado moderno, afirma que o Welfare State surge por
três razões básicas: garantia de renda mínima as famílias, dar segurança as
famílias nas “contingências sociais: (doença/velhice) e assegurar a todos os
cidadãos qualidade nos serviços sociais. (O’CONNOR:1977), enfatiza que as
políticas sociais estão relacionadas com a acumulação e legitimação exercidas
pelo Estado capitalista. (ESPING-ANDERSEN:1980), aponta que o Welfare
State é o fruto das lutas de classes, ou, mais amplamente, é uma articulação
das políticas redistribuição, sendo esta uma reprodução de uma ordem social.
(FLORA & HEIDENHEIMER:1981), tem um posicionamento durkemiano, vendo
o Welfare State como uma resposta as crescentes demandas por segurança
socio-econômica da sociedade industrial, devido ao aumento da divisão do
trabalho, à expansão dos mercados e da perda das funções de segurança das
famílias na comunidade. (ALBER: 1991), designa que as políticas de proteção
social são necessárias para promover a integração das sociedades devido a
modernidade. (GOUGH:1979), descreve que a origem do Welfare State é
encontrada no conflito de classes e no crescimento da classe trabalhadora,
sendo este o resultado da organização e ação das massas.
Mas o Welfare State começa a apresentar seus primeiros sintomas de
crise ainda na década de 70. (DRAIBE & HENRIQUE:1998), acreditam que
esta crise surgiu da parceria entre Política Social e Política Econômica
(Keynesiana), em que o Welfare deveria regular e estimular o crescimento
econômico a ao mesmo tempo solucionar conflitos sociais.. Assim, ao autores
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descrevem alguns pontos sobre os motivos que geraram o aprofundamento da


crise do Welfare State a partir da análise de vários estudiosos desse assunto;
• A crise do Welfare State no trato econômico: o Welfare não esta passando
por uma verdadeira crise; está apenas sofrendo mutações em sua natureza
administrativa. Visto dessa maneira, os programas sociais necessitam de
uma maior efetividade, por isso ele precisa mudar sua forma de
organização. A auto-gestão dos programas sociais é a saída, sendo assim,
deve-se repensar o seu financiamento.
• Welfare State corresponde a falência do Estado: a expansão dos gastos
públicos com a área social provoca déficits para o Estado, provocando a
inflação e o desemprego Os programas socais são os responsáveis pelo
desequilíbrio da competitividade entre os indivíduos no mundo do trabalho.
“A solução passa pela redução dos programas tanto quanto possível,
redução dos benefícios, controle do acesso e fraudes, austeridade no
fornecimento de bens, privatização dos serviços, etc.” (DRAIBE &
HENRIQUE:1988,58).
• A crise do Welfare State é sobretudo uma crise de caráter financeiro-fiscal:
com a diminuição das receitas públicas devido a crise econômica, ocorre a
diminuição dos financiamentos para os programas sociais. Os programas
sociais, por sua vez, não podem ser feitos através da imposição de
impostos para as massas, já que estão economicamente desequilibradas.
Portanto, a crise fiscal do Estado se expressa nos gastos sociais que
aumentam cada vez mais, e o seu financiamento torna-se algo moroso.
• Burocratização e centralização excessiva: a burocracia estatal é
fragmentada, aumentando a ineficiência dos programas sociais. Por sua vez
para manter-se no aparelho estatal a burocracia prolifera irracionalmente
programas sociais para atender a grupos lobistas. Desse modo, o seu
controle através da participação política das massas e da construção efetiva
de políticas sociais não é permitido. Já a centralização desencadeia
mecanismos de autoritarismo quanto a imposição de políticas e distribuição
de recursos.
• Perda de eficácia social: na visão conservadora a ineficácia dos programas
sociais desencadeia para um Estado não distributivo. A solução é “assistir”
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financeiramente aqueles que são pobres e excluir os “vagabundos/os falsos


desempregados”.
• É uma crise de legitimidade e de baixa capacidade de resistência da opinião
pública: essa argumentação central diz respeito à incapacidade das
instituições estatais de gerar um sistema de legitimidade auto-sustentada,
havendo assim, um aumento de conflitos sócio-políticos.
• Colapso do pacto político do pós-guerra sobe ao qual o Welfare State se
ergueu: após o pós-guerra, há autores que defendem a teoria de que os
programas de políticas sociais surgiram para cobrir os riscos aos quais
estariam expostos os trabalhadores, reforçando assim as atividades
econômicas. Porém, com a crise econômica iniciada no início dos anos 70 o
Welfare State esgotou sua forma básica entre a regulação estatal
fundamentada na política econômica de Keynes com a articulação das
políticas sociais.
• A opacidade de responde aos novos valores pré-determinantes nas
sociedades pós-industriais: o mundo industrializado substituiu rapidamente
valores materiais por valores pós materiais, o que estariam gerando novas
demandas para as instituições políticas e sociais, o que estas não estão
devidamente preparadas para atendê-las. Exemplo: questão ecológica,
lazer, etc.
O Welfare State no Brasil como aponta (DRAIBE, 1998), surge entre as
décadas de 30 e 70 e possui as seguintes fases:
1930/1943: criação dos institutos de aposentadorias e pensões, legislação
trabalhista, regulação de políticas nas áreas de saúde e educação. Há uma
centralização dos recursos na Esfera Federal;
1945-1964: inovações nos campos da educação, saúde, assistência social e na
habitação popular. Estas ações estavam guiadas sob a forma seletiva,
heterogênea (benefícios) e fragmentada (institucional e financeiro quanto à
intervenção social do Estado).
Déc. de 60 até meados da déc. de 70: supera-se a forma fragmentada e
socialmente seletiva, há um espaço para a universalização (educação, saúde,
assistência social, previdência e habitação). Este período segue alguns
elementos importantes, tais como:
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a) 1965-77: há uma organização no interior do Estado quanto ao


financiamento do Welfare State;
b) 1977-81: expansão massiva;
c) 1981-85: reestruturação conservadora;
d) 1995-88: reestruturação progressista;
e) 1988 ....: definição do novo perfil (Constituição Federal)
VIANA(1998), cita ( SANTOS:1988) , o mesmo afirma que o sistema de
proteção social no Brasil nunca será redistributivo, mesmo após sua
reformulação, pois os atores que fazem parte do cenário político não são os
canais reivindicatórios de igualdade. Mas sim, são uma instância política que
expressam interesses apenas de alguns grupos. Com isso, o Estado possui um
papel de benfeitor, assumindo ações de produtor e distribuidor de bens
públicos.
Nesse aspecto, Sonia Draibe (1988), levanta alguns princípios pelos quais o
Welfare State no Brasil foi construído, sendo caracterizado, pela centralização
política e financeira no governo federal e nas ações sociais, fragmentação
institucional, exclusão da população à participação política, o auto-
financiamento social, a privatização e o clientelismo que ainda persiste em
muitos segmentos sociais.
Diante disso, a autora aponta os caminhos para as políticas sociais no
Brasil:
1º Descentralização político-institucional: é o espaço de discussão de
políticas públicas com a população. Porém, segundo DRAIBE (1998), há dois
problemas com isso: primeiro esses espaços nem sempre são democratizados,
vindo a prevalecer um comportamento político arbitrário; segundo há uma
ligeira tendência em reduzir as despesas, e isso poder ser um discurso político;
2º O social: a elevação do grau de participação popular em diferentes níveis
de todos os processos de implantação das Políticas Sociais;
3º Setor privado/lucro:setor privado/sem lucro: é uma tendência de
mudança nos modos de gerir os bens e serviços sociais. Alteram-se as
relações entre Estado e mercado público e o privado, assim como, os sistemas
de produção e consumo dos equipamentos sociais. Pode ocorrer uma
desresponsabilização do Estado.
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4º distribuição de produtos/bens “in natura” a população pobre: é o


fortalecimento do assistencialismo;
5º renda mínima: o valor proposto não garante plena cidadania aos
indivíduos.
Os desafios para as políticas sociais segundo ESPING-ANDERSEN (1995)
são o envelhecimento populacional, os serviços que garantem o pleno emprego
e não mais as indústrias, declínio do provedor familiar do sexo masculino,
mudanças no ciclo da vida (as pessoas se envolvendo mais com atividades
várias atividades ao longo de suas vidas, pois não são constrangidas por
estereótipos tradicionais de gênero e idade).

REFERÊNCIAS:
ARRETCH, Marta. Emergência e desenvolvimento do Welfare State: teorias
explicativas. In: BID, Rio de Janeiro, nº 39, 1995, p.3-40.
DRAIBE, Sonia & HENRIQUE, Wilnês. Welfare State, Crise e Gestão da
crise.IN: Revista Brasileira de Ciências Sociais, vol.3, nº 6, São Paulo:
ANPOCS, 1988, P.53-78.
________ O Welfare State no Brasil, características e perspectivas. IN: Revista
da ANPOCS, n. 12, 1988.
ESPING-ANDERSEN, GOSTA. As três economias do Welfare State. IN:
Revista Lua Nova, n.24, São Paulo, CEDEC, 1991, P.85-115.
________ O futuro do Welfare State na nova ordem mundial. IN: Revista Lua
Nova, n 35, São Paulo, CEDEC, 1995, P.73-112.
FLEURY, Sonia. Em busca de uma teoria do Welfare State. IN: Estado sem
cidadãos. Rio de Janeiro, Fiocruz, 1994, p.101-118.
GIDDENS, Anthony. Para além da esquerda e da direita. São Paulo, UNESP,
1996, P.153-172.
VIANA. M.L.W. A americanização da seguridade social no Brasil. Rio de
Janeiro, Revan: UCAM, IUPERJ, 1988, p, 17-51.

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