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O objetivo deste trabalho é lançar um olhar diferente sobre uma fonte primária a
partir da discussão entre fotografia e História. A fonte escolhida foi uma fotografia,
ganhadora do prêmio Pulitzer em 1993, tirada por Kevin Carter, fotógrafo sul-africano,
durante sua passagem pelo Sudão. Buscou-se relacionar um breve histórico sobre a biografia
de Kevin Carter e o regime político vigente à época da foto com a discussão sobre real e
verossímil dentro do contexto Fotografia-História. A questão orientadora do trabalho foca
responder às seguintes perguntas em relação a fonte escolhida: a fotografia traz em si a
realidade do instante? Caso não, por que o real não se mostra como essência?
História e Fotografia
Um meio pelo qual se possa destacar historicamente um momento. Será essa uma
boa definição para a fotografia dentro da sua relação com a história? Dentro da discussão
sobre a colaboração da fotografia para o trabalho historiográfico, geralmente chega-se a
questão sobre até que ponto deve um historiador confiar em sua fonte.
A função ideológica das imagens nos leva a pensar que estas não podem ser vistas
como a realidade “nua e crua”, como reflexo neutro do real, mas antes como uma
produção de sentido normativo por parte dos autores. (SILVA, EDLENE 2010)
Essa arquitetura da imagem não pode ser considerada a própria história. Ela
pertence a um contexto socialmente construído. A foto e o fotógrafo não são elementos
destacados de seu tempo. Um dos papéis do historiador é sempre buscar criticar as fontes e
evitar o hábito de ver um retrato como representação exata de um momento específico. O
retrato deve ser visto além do seu objetivo inicial: recorte da realidade. A fotografia, analisada
sob todas as suas características, pode ser muito útil para se entender com que olhar a história,
como conjunto de atores em um contexto, observa um acontecimento. Essa análise traz uma
realidade construída pela fotografia, conhecer fatos por imagens, não apenas textos, buscando
a verdade de um momento observando-o é um exercício extremamente tentador, todavia não
se deve cair na armadilha de acreditar somente naquilo que a fotografia mostra.
Em sua passagem pelo Sudão, em 1994, Kevin Carter fotografou uma situação. A
foto traz uma criança negra e magra, deitada no chão de terra e mato seco e um abutre ao
fundo aparentemente observando a criança. Essa é uma descrição simples e impessoal da foto.
Na época em que foi divulgada pelo jornal The New York Times, a fotografia causou grande
comoção, devido ao estado de aparente desnutrição da criança, do olhar do abutre
aparentemente a espera da morte daquele ser humano. O jornal recebeu várias
correspondências perguntando sobre o que havia acontecido com a criança e qual tinha sido a
posição do fotógrafo em relação àquela situação.
Quatorze meses após esse retrato, Kevin Carter recebeu o prêmio Pulitzer por
melhor foto jornalística. (tantos) meses após receber o prêmio, o fotógrafo suicidou-se.
Deixou uma carta na qual mostra-se extremamente perturbado com as imagens dos anos em
que passou fotografando cenas de guerra e fome na África.
O que se tem desse contexto é que não há como saber de fato o que se passou com
a criança, o abutre e o fotógrafo, pois não é revelado ao espectador da foto. A foto não
permite fazer uma correspondência direta entre memória e fotografia. O que de fato aconteceu
pertence a uma dimensão distinta daquilo que se mostra no retrato. Os relatos do fotógrafo
sobre o que aconteceu antes e depois da foto são discursos pertencentes a um indivíduo, que
escolhe aquilo que revelará sobre sua memória. O que foi revelado ao público sobre os
acontecimentos antes e depois da foto não pode ser considerado real. São especulações sobre
uma situação, como uma espécie de realidade inventada.