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A GÊNESE DO DELITO

Sociologia Criminal

Prof.ª Vládia Soares

O CRIME E OS CRIMINOSOS

"O homem é o único ser

Capaz de fazer mal a seu

Semelhante pelo simples

“Prazer de fazê-lo”.

(Schopenhauer)

SOCIOLOGIA CRIMINAL

O nexo do Direito Penal com a sociologia criminal é o mesmo nexo do Direito com a
sociologia jurídica. Se o crime, como fenômeno social, exige estudos apurados pela ação
turbativa que provoca na vida societária, também outros fatos sociais, de que o Direito
cuida normativamente, são relevantes para o bem comum. Desajustamentos sociais que
nem sempre vão desembocar no crime criam situações contrárias aos interesses coletivos,
e tudo em conseqüência de problemas também afetos  à ordem jurídica.

A sociologia e sua influência na criminologia

É a ciência que estuda o delito como fenômeno social, melhor colocando, a criminalidade
em toda sua complexidade, e a pena como reação social em suas origens, evolução e
significação e em suas relações como demais fenômenos sociais relacionados com uma e
outra.

Colocando-se a sociologia criminal hoje, tem-se duas vertentes, que correspondem à


expressão da sociedade criminógena e que, de maneira sintética, apenas com a finalidade
de expor teríamos a frase de Lacassagne:

“A sociedade tem os criminosos que merece’’

TEORIA DAS SUBCULTURAS

O primeiro ponto referente às teorias denominadas etiológicas, de forma exemplificativa,


temos as teorias ecológicas da subcultura e da anomia. Todas respeitam e aceitam os
fundamentos do positivismo, desenvolvendo a técnica de que o crime é algo
intrinsecamente mau e que o criminoso é um homem diferente do cidadão normal; de
outro modo, temos a aceitação da ordem social. O crime é o resultado dos meios
ambientais e habitacionais, inserido nas culturas ou subcultura.
SOCIOLOGIA CRIMINAL

A técnica sociológica inicia-se da observação da distribuição diferente da delinqüência em


face da classe, filiação ética, residência urbana, região e período histórico. Os sociólogos
chegaram a conclusão de que, além do ambiente, do meio familiar, algo deve existir na
produção dos comportamentos dos delinqüentes. Aí não pararam e saíram a procurar as
diferenças entre o delinqüente e o homem normal.

Desvendar o delito é o mesmo que penetrar na ordem social.

DIREITO E SOCIOLOGIA

A ciência do direito é uma ciência normativa, ocupa-se das normas que compõem um
ordenamento jurídico, sistema que se considera dotado de validez. Não existe acordância
sobre o que designa e, para tanto, pode referir-se às normas positivas, como as fontes que
surgem dos costumes, das tradições ou da conduta, que se expressa por meio delas.

Interelação entre o direito e a sociologia

Um moderno estudo do direito não pode desprezar o fato da inter-relação entre as


variáveis sociais e as normas jurídicas, não só porque o direito constitui parte de um
sistema de controle social, mas também porque sua criação, interpretação e aplicação,
necessariamente, dependem das concepções que aas pessoas têm em determinado tempo
e em determinado lugar, de valores jurídicos que devem ser protegidos. Dessa maneira foi
que a sociologia encontrou elementos, não só para a compreensão do ordenamento
jurídico, más também para a sua criação e aplicação, de tal modo que resulta num
elemento necessário para descrever, entre outros, o grau de aceitação que as normas têm
e prevêem o que as futuras normas poderão ter.

A colocação sobre os valores, também chamada axiológica, poderia resultar partindo da


consideração que todo direito deve ser justo, isto é, deve expressar uma idéia de justiça,
pois do contrário não é direito.

O último enfoque seria sobre o fato social, que estudaria as condições e aplicação do
direito na sociedade, e sua relação com outras normas.

AS ESCOLAS SOCIOLÓGICAS

As escolas sociológicas vez que estas ressaltam não somente a importância do "meio" na
gênese da criminalidade, como também observam o crime como "fenômeno social".

A moderna sociologia criminal aponta para duas vertentes, a saber:

Modelo europeu e norte americano

Europeu - ligado a Durkhein (teoria da anomia, ou seja, a normalidade do delito no


contexto sócio-cultural);

Norte-americano - liga-se a Escola de Chicago (que admite a existência de subculturas


criminais, conforme Cliford Shaw), a partir da qual nasceram progressivamente diversos
esquemas teóricos (Teoria Ecológica, subculturas, da reação social, do etiquetamento
rotulagem e outras.

A ESCOLA DE CHICAGO

Teoria ecológica

Na teoria ecológica a cidade é "produtora" de criminalidade.

A primeira investigação dirigida para a criminalidade de uma cidade foi em Chicago nos
EUA em 1927 foram feitos levantamentos sobre 25 mil pessoas de 1313 bandos de
delinquentes e concluiu-se pela existência de um país ou território dos bandos.

A Escola de Chicago, berço da moderna sociologia criminal, não obstante não trate
especificamente de violência, mas sim da criminalidade urbana, tem como temática
preferida o estudo daquilo que poderíamos denominar a "sociologia da grande cidade", a
análise do desenvolvimento urbano, da civilização industrial e, correlativamente, a
morfologia da criminalidade nesse novo meio“

A ESCOLA DE CHICAGO

Membros da escola têm-se concentrado na cidade de Chicago como o objeto de seu


estudo, buscando provas de que a urbanização (Wirth: 1938) e aumentar a mobilidade
social têm sido as causas dos problemas sociais contemporâneos. Originalmente, Chicago
era uma tábula rasa, um ambiente vazio físico. Em 1860, Chicago era uma cidade pequena
com uma população de 10.000. Houve um grande crescimento após o incêndio de 1871.
Em 1910, a população ultrapassou os dois milhões de pessoas. and it produced
(Anderson: 1923), poor housing conditions, and bad working conditions based on low
wages and long hours. A rapidez do aumento foi devido a um afluxo de imigrantes e é
produzido sem-abrigo (Anderson: 1923), condições precárias de moradia, e as más
condições de trabalho baseado em baixos salários e longas horas. to the unrestrained
competition of the new city was a dynamic for growth. Mas, igualmente, Thomas e
Znaniecki (1918) salientam que a liberdade súbita dos imigrantes liberado dos controles de
Europa para a competição desenfreada da nova cidade foi uma dinâmica de crescimento.

chicago

A escola é talvez mais conhecido pelas teorias de subcultura Thrasher, Frazier, e


Sutherland, e para a aplicação dos princípios da ecologia para desenvolver a Teoria da
Desorganização Social que se refere às conseqüências do fracasso de:

Political institutions, policing, business, etc. in identified communities and/or


neighborhoods, or in society at large; and instituições sociais ou organizações sociais,
incluindo a família , escolas , igrejas , instituições políticas, policiais, empresas, etc nas
comunidades identificadas e / ou bairros, ou na sociedade em geral, e relações sociais que,
tradicionalmente, incentivar a cooperação entre as pessoas.

TEORIA DA DESORGANIZAÇÃO SOCIAL


Thomas definiu a desorganização social como "a incapacidade de um bairro para resolver
seus problemas em conjunto", que sugere um nível de patologia social e desorganização
pessoal, de modo que o prazo, a organização diferencial "social" era o preferido por
muitos, e pode ter sido a fonte de Sutherland (1947) Teoria da Associação Diferencial . Os
investigadores apresentaram uma análise clara de que a cidade é um lugar onde a vida é
superficial, onde as pessoas são anônimas, onde os relacionamentos são transitórios e
amizade e laços familiares são fracos. and the is instructive). Eles observaram o
enfraquecimento das relações sociais primárias e relacionar isso a um processo de
desorganização social.

TEORIA SOCIAL DA ANOMIA

Tal teoria, da qual Durkhein (1858-1917) é o seu maior expoente, defende que em
qualquer tipo de sociedade bem como em qualquer momento histórico haverá um volume
constante da criminalidade e, por conseqüência, do nível de delinqüência. Admite o delito
como comportamento normal que pode ser cometido por qualquer pessoa de qualquer
das castas sociais, derivando não de anomalias do indivíduo, tão pouco da desorganização
social, mas sim das estruturas e comportamentos cotidianos no seio de uma ordem social
intacta.

O crime é o fenômeno que apresenta, da forma mais irrefutável, todos os sintomas da


normalidade, sendo, pois, necessário e útil, verdadeiro fator de saúde pública, uma parte
integrante de toda a sociedade sadia‘

Conforme Durkheim, a anomia seria uma crise moral da sociedade, uma patologia gerada
por regras falhas de conduta.

Merton, por sua vez, entende que a anomia ocorre quando existe uma disfunção entre as
normas e as metas culturais com os meios institucionalizados, de forma que os indivíduos
acabam por recorrer a comportamentos de adaptação para atingir as metas culturais
existentes na sociedade.

TEORIA DO CONFLITO

Tal teoria contempla o crime como fruto dos conflitos existentes na sociedade, sendo
certo que nem sempre tais conflitos são nocivos a ela. "O comportamento delitivo é uma
reação à desigual e injusta distribuição de poder e riqueza na sociedade” (5).

A teoria do conflito se subdivide em duas linhas de pensamento, a saber:

Teorias do conflito não-Marxistas - O crime nada mais é do que um resultado normal das
tensões sociais e carece de significado patológico;

MARX

Teorias do conflito marxistas - Estas contemplam o crime como função das relações de
produção da sociedade capitalista. O delito é sempre um produto histórico, patológico e
contingente da sociedade capitalista. Têm suas raízes no pensamento de Marx e Engels.
TEORIA DAS SUBCULTURAS

A sociedade, como um todo, é formada por diversos sistemas de normas e valores dentro
de si mesma, sendo que tais grupos se organizam com seus próprios valores e normas de
condutas aceitas como corretas em seu meio, criando assim aquilo que se chama de
"subculturas".

Assim "a conduta delitiva não seria produto de desorganização ou ausência de valores
sociais, mas antes o reflexo e a expressão de outros sistemas de normas e de valores: os
subculturais"

Teoria da Associação Diferencial ou Aprendizagem Social

Os defensores de tal teoria entendem que o comportamento criminoso e a delinqüência


são frutos de um processo de aprendizagem e, em sendo assim, "o comportamento
delituoso se aprende do mesmo modo que o indivíduo aprende também condutas e
atividades lícitas, em sua interação com pessoas e grupos, e mediante um complexo
processo de comunicação. O indivíduo aprende não só a conduta delitiva, senão também
os próprios valores criminais, as técnicas comissivas e os mecanismos subjetivos de
racionalização (justificação ou autojustificação) do comportamento desviado”.

Condição social versus violência

Ocorre que a violência, e por conseqüência a criminalidade, não se encontram restritas a


esse ambiente. Quem assim pensa só conhece da violência atual das megalópoles, e já se
equivoca porquanto desde os primórdios a violência acompanha a conduta humana, ou
melhor, faz parte da natureza do homem independente deste encontrar-se em ambiente
urbano ou rural. Naquele sentido, quando falamos de violência estaríamos deixando à
margem aquela violência do campo onde as contendas são resolvidas "na base do facão",
porquanto, ademais, não se revestem na degradação lato sensu do homem.

DADOS DA FEBEM

Dados da Secretaria de Segurança Pública refletem as características dos internos da


FEBEM e nos dão certa idéia dos fatores determinantes do crime; como se verá, a falsa
idéia de que só o "pobre" comete crime não se funda na realidade.

Os menores infratores apontam como fatores que os levaram ao crime: exclusão social,
uso de drogas e falta de estrutura familiar.

As palavras dos internos da FEBEM são o retrato da mentalidade social:

FEBEM MENORES INFRATORES

“O que fez eu entrar pro crime (...) foi as necessidades que eu encontrei e que estava
passando... uma certa ambição também de ter as coisas (...) andar do jeito que todo
mundo anda, com dinheiro. A proposta que foi feita pra mim não foi a proposta de um
trabalho, de ter um trampo. A primeira proposta que teve pra mim foi pegar num revólver,
foi vender uma droga".

MENORES INFRATORES

"não ter emprego, falta de estudo e não ter oportunidade pra nós da periferia. Essa
situação chegou a um ponto que na vida do crime a gente ganhava alguma coisa".

"eu costumava roubar para usar drogas e usar drogas para roubar. Quando eu ia roubar eu
gostava de cheirar cocaína porque ela estimulava a violência, deixa você mais agressivo.
Então, eu tinha mais apetite"(10) .

"já tirei a vida de duas pessoas num assalta, mas, por mim não fez nem falta"

DADOS DA FEBEM - SP

"o primeiro ato infracional que eu cometi na minha vida foi esse homicídio. O que eu senti
num primeiro momento foi a revolta. Eu até não queria mas a revolta foi trazendo tudo
isso na minha cabeça e pelo ódio e pelas mágoas eu ajuntei tudo e cometi esse crime".

Sendo assim, em relação à educação podemos assegurar que não se trata de critério único
e determinante na delinqüência futura do homem; há se levar em consideração outros
fatores que, somados, PODEM criar uma personalidade criminosa.

A influencia economica nos instintos criminosos

"crêem os socialistas que, removidas certas instituições e attingido o ideal que ele
proclamam, cessaria a maior parte dos delitos (11) .

Marginal é quem mora na favela!!!

Em tais locais, por exemplo, ademais do contato diário da violência com os moradores,
suas próprias condições refletem a falta absoluta de condições humanas de vida; as
pessoas vivem ao lado de esgotos, "moram em residências" sem o mínimo de estrutura,
sem falar da precariedade de subsistência frente sua condição social

INFLUÊNCIA ECONOMICA

Tal realidade denota a falta de oportunidade de emprego e a ineficácia do seu ganho


refletir em melhores condições de SOBREVIVÊNCIA.
Muitos acreditam que o aumento da desigualdade social é o responsável pela violência
que impera hodiernamente. Ora, se assim o fosse, certo seria dizer que a violência se
voltaria tão somente contra os mais abastados; no entanto, o que se vê é a indiscriminada
violência, ou seja, o "não abastado", ou mais, "o miserável" possui chances iguais de ser
violentado em seus mais diversos bens quanto aquele que ostenta boa situação
econômica.

O que ocorre - certamente - que a falta de condições econômicas refletem e geram outros
maus; a desigual repartição da riqueza condena uma parte da população à miséria, e com
esta à falta de educação, de moradia, de alimento, de condições mínimas de
sobrevivência, de falta total de esperança num futuro pouco melhor.

Tal assertiva reveste-se da realidade conquanto os "ricos" também cometem crimes; há


aqueles que não estão privados de excelente moradia, educação pedagógica e familiar
exemplar, mas nem por isso deixam, absolutamente, de estarem "aptos" à delinqüência.

Os abastados trazem consigo diferentes fatores que os levam ao crime. Algumas vezes, "o
pobre" rouba visando o sustento de seus familiares, ou ainda, o faz em busca de melhores
condições de vida. O "rico", de outra feita, já dispõe de tudo que necessita porquanto se
alimenta com dignidade, sua família detêm certas "regalias", não possuindo, a priori
"desculpa para roubar".

Possui, todavia, o que o homem tratou chamar de ganância.

PARA REFLEXÃO

Utópica e hipoteticamente refletindo, não podia ele dispor de seus bens em excesso a
favor daquele que não os tem? - Assim não sendo, necessita ainda de mais, e, sobretudo,
precisa delinqüir para alcançar este algo mais?

O que diverge da antagônica realidade do "pobre" e do "rico" é o crime (meio) dos quais se
utilizam para "saciar" seus desejos; O primeiro se vale do furto, do roubo, do seqüestro; o
segundo das falsificações e das fraudes de toda espécie, visando essencialmente a
obtenção de mais riqueza (monetária). De certo que os crimes mais violentos estão ligados
à camada mais baixa da sociedade, mas são, senão, variantes de um mesmo delito natural.

QUESTÕES

Ficam, pois, algumas questões:

Os critérios estudados influenciam na violência e no crime?

O homem é fruto do meio ou o meio social é fruto do homem que nele vive?

Para aqueles que acreditam na influência ímpar de cada critério, como explicar sua eficácia
(ou não) frente os criminosos natos?
Devemos assim nos voltar para a base da formação que é a família e com igual razão ao
Estado como garantidor de condições mínimas de humanidade. A família por sua vez -
berço de um futuro sólido - só se fortifica se o Estado se coloca como sua base primária

4. Homem violento e criminoso: Fruto do meio social em que vive?

‘Qualquer motivo é idôneo para impulsionar alguém a ter ou deixar de ter determinado
comportamento, ainda que considerado socialmente inadequado ou absurdo; na verdade,
toda ação possui uma lógica interna, orientada para a satisfação de uma necessidade
primordial de sobrevivência, de segurança ou de amadurecimento, tais como o amor,
estima social, auto-estima ou sensação de pertencer a um grupo, qualquer que seja
ele’(12)

CONCLUSÕES

É óbvio que as dificuldades econômicas pelas quais passam nosso país, refletem na
população em geral, sobretudo nas camadas mais pobres, na grande parte miseráveis;
contudo isso não importa necessariamente em que se tornem criminosos.

Vários são os exemplos de que pobreza não implica em conduta criminosa, sendo o maior
de todos, no nosso ponto de vista, aquele em que o indivíduo se coloca como um animal
de carga e passa a puxar um carrinho no qual deposita papelão ou ferro velho, para
sustentar a si e à sua família. Tais pessoas preferem o caminho mais difícil, ou seja, passar
fome a cometer delitos.

Os que o leva a não cometer crimes é difícil responder, mas sem dúvida, tal resposta se
baseia, necessariamente, na sua personalidade (sentimento, valores, tendências e
volições).

CONCLUSÕES

Não podemos assim responder se o homem violento é produto do meio em que vive ou se
ele forja tal meio ao seu talante, ou seja, se o meio é produto do homem; no entanto, com
certeza, podemos dizer que a grande massa de miseráveis, principalmente aqueles que
coabitam em favelas, convivem no seu dia a dia com um alto grau de violência, comparável
somente a Estados que se encontram em constante guerra.

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