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7
agosto
2008
ficina
TABACARIA
a angústia da modernidade
na voz de Álvaro de Campos
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Sumário
Por que Samizdat? 6
Henry Alfred Bugalho
ENTREVISTA
Santiago Nazarian 8
MICROCONTOS
Denis da Cruz 12
Guilherme Rodrigues 13
Henry Alfred Bugalho 14
José Espírito Santo 14
Marcia Szajnbok 16
Volmar Camargo Junior 16
RECOMENDAÇÕES DE LEITURA
A Língua de Eulália, de Marcos Bagno 18
Guilherme Rodrigues
PANORAMA LITERÁRIO
Amadorize-se 32
Henry Alfred Bugalho
CONTOS
O Cego e o Psicopata 34
Carlos Alberto Barros
O Ladrão de Olhos 38
Volmar Camargo Junior
Síndrome de Caim 42
Henry Alfred Bugalho
O Palco 46
José Espírito Santo
Os Ratos 48
Joaquim Bispo
Luandino 50
Maria de Fátima Santos
Um Desejo 54
Denis da Cruz
Digressões do Dia numa Estranha Manhã do
Entardecer no Outono da Primavera 57
Guilherme Rodrigues
Prelúdio de uma Saudade 58
Zulmar Lopes
TRADUÇÃO
As Baleias Cinzas 60
Yolanda Arroyo Pizarro
Pequenas Coisas 66
Raymond Carver
AUTORA CONVIDADA
Microcontos 68
Ana Mello
TEORIA LITERÁRIA
Enchendo Lingüística na SAMIZDAT 70
Volmar Camargo Junior
CRÔNICAS
Só os Pobres Merecem Balas-perdidas 74
Henry Alfred Bugalho
Notícia do Fim do Mundo 76
Volmar Camargo Junior
Contadora de Histórias 78
Giselle Sato
POESIA
Soneto da Boa Morte 80
Carlos Alberto Barros
Sonetos 81
Guilherme Rodrigues
SEÇÃO DO LEITOR
Agora o leitor da SAMIZDAT também pode colaborar com a elaboração da revista.
Envie-nos suas sugestões, críticas e comentários.
Você também pode propor ou enviar textos para as seguintes seções da revista: Rese-
nha Literária, Teoria Literária, Autores em Língua Portuguesa, Tradução e Autor Convi-
dado.
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Por que Samizdat?
“Eu mesmo crio, edito, censuro, publico,
distribuo e posso ser preso por causa disto”
Vladimir Bukovsky
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Entrevista
SANTIAGO NAZARIAN
visão da literatura?
Santiago Nazarian: Para
mim, o encontro serviu
para identificar a proxi-
midade do Brasil com a
América Latina de uma
maneira mais geral, não
apenas literária. Aliás, 2007
foi um ano em que eu
estava descobrindo a Amé-
rica Latina, viajando pelo
http://www.piedepagina.com/numero12/images/Santiago-Nazarian.jpg
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organização do evento, e já que o português é tão nossa própria arte. Na li-
nós escritores, oferecemos pouco falado no mundo. teratura, como arte elitista,
a pauta. Talvez se fosse um Até mesmo as traduções convencionou-se a despre-
encontro em Paris, fosse se tornam mais difíceis, à zar a influência da cultura
interessante para os jornais medida em que as editoras pop. Mas qualquer um que
daqui, mas um encontro de têm menos leitores de por- nasceu dos anos 60 para cá
escritores latino-americanos tuguês para avaliar as obras, está mergulhado em cul-
em Bogotá... Não gerou traduzir, etc. tura pop – filmes, música,
nem notinhas. Então acho O site da revista piedepá- TV – por mais que negue
que foi isso, o evento ser- gina, edição nº 12, inclui essa influência. Durante
viu para eu me identificar o texto Literatura para algum tempo eu tentei –
como latino-americano, mas despertar zumbis, de sua conscientemente – abordar
não mudou muito minha autoria. Nele, há um tre- na minha literatura apenas
visão da literatura em si, cho com a seguinte frase: os elementos da alta-arte,
ou da minha responsabili- Talvez com a maturidade desprezar esse lado pop
dade, continuo encarando literária, eu tenha apenas também, porque achava que
a literatura como uma me tornado realmente ele poderia ralentar minha
trilha pessoal; tenho meus jovem, tenha aceitado escrita. Com o tempo fui
temas pessoais, minha visão minhas referências, meu percebendo que a gran-
particular e prefiro me ver universo, sem medo ou de conquista poderia ser
assim do que encaixado barreiras para expressar assumir essas influências e
num movimento ou mesmo minha arte. tentar trabalhá-las de uma
numa geração. forma genuinamente literá-
Você pode falar mais ria. Essa tem sido umas das
sobre que influências são minhas principais preo-
Qual é, na sua opinião, o essas? O que é influência cupações, em matéria de
maior desafio que o autor na sua opinião e até que estilo de uns quatro anos
brasileiro tem de enfren- ponto um escritor é in- para cá.
tar? fluenciado?
S.N: A falta de leitores. Isso S.N: Influência é a manifes-
se dá por questões cultu- tação e transformação do Ainda no texto Literatura
rais, econômicas e sociais repertório. Todos nós temos para despertar zumbis,
diversas. A falta de leitores um vasto repertório, que encontra-se: Talvez, a cada
é um mal que aflige cada incluiu literatura, música, romance que eu escre-
vez mais a moda, etc. va, bata um sino no meu
literatura “A literatura tem de Algumas ve- inconsciente: “como posso
mundial, ir além da verdade zes, informa- fazer para ofender acadê-
mas o Brasil, oficial, da verdade ções que ob- micos e perder prêmios?”
como um Não sei desde quando –
permitida, a literatura tivemos em ao menos no Brasil – es-
país subde- determinado
senvolvido, tem de ir além da momento critores se aproximaram
sente com verdade, oferecer da vida se mais de professores do
especial manifestam que de artistas. Escritores
essa possibilidade se tornaram aliados das
ênfase. Há inconscien-
também
além. Sua única temente na instituições. Quero ser
questões par- barreira é a criação nossa arte. aliado dos transgressores...
ticulares que humana.” Já outras Isso soa muito bem, ten-
dificultam a vezes, essas do a arte como o cami-
difusão da manifesta- nho possível, dentro da
literatura brasileira, como a ções são conscientes, nos civilização, para darmos
própria barreira da língua, dão elementos, idéias, para um destino aos nossos
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impulsos transgressores, literatura de ficção deve se – já que eu sempre gostei e
mesmo perversos... Ali- permitir ser politicamente estudei répteis, e também
ás, Elizabeth Roudinesco incorreta, revelando precon- por ser um pouco como eu
está lançando um livro ceitos, perversões, porque vejo o adolescente: agressi-
na Flip, falando sobre essa não se pode fingir que essas vo, com um enorme apetite,
questão da perversão e da coisas não existem, que mas ainda com certa timi-
perversidade. não existem no mundo e dez, um pouco desajeitado.
Você concorda com essa que não existem na cabeça O livro trata basicamente
idéia, de que a criação das pessoas; que uma dona da passagem da adolescên-
artística em geral, e a lite- de casa de meia-idade não cia para a idade adulta. Em
rária em particular, já que pode querer torturar uma geral, foi bem recebido, as
trabalha com palavras, é a criança, por exemplo. Se críticas foram melhores do
melhor das hipóteses para passa na cabeça das pesso- que eu esperava. Foi fina-
dar conta dos impulsos as, se passa na cabeça do lista do Portugal Telecom e
transgressores que temos escritor, precisa ser coloca- afins.
dentro de nós? do no papel, porque a arte é
a melhor ponte entre a vida
S.N.: Eu acho que a litera- subjetiva de cada um, talvez
tura, como arte de uma a única ponte entre essas
minoria (e para uma mi- vidas internas. A literatura
noria) pode e deve tratar tem de ir além da verdade
de questões que não são oficial, da verdade permi-
tratadas em outros luga- tida, a literatura tem de ir
res. E mais, por ser uma além da verdade, oferecer
arte conteudista, não con- essa possibilidade além. Sua
ceitual, tem o dever de se única barreira é a criação
aprofundar nas discussões. humana.
Então, enquanto no campo
jornalístico e no discurso Sobre seu romance Mas-
demagógico se diz “criança tigando Humanos: o que
precisa estar na escola”, no você tem lido, ouvido,
campo literário pode-se ver visto sobre ele? Você mes-
o outro lado da questão, o mo diz que ele é diferen-
quanto o modelo de ensino te dos três anteriores. O
atual é precário, o quanto que o motivou para essa
a posição do professor é mudança? E por que um Tendo em vista sua par-
muitas vezes uma posição jacaré? ticipação em sites, in-
hipócrita, o quanto o ensino SN: O romance foi escrito cluindo seu blog Amor
pode ser mais uma forma com essa consciência do & Hemácias, como você
de exercer poder do que meu papel de “jovem escri- percebe a influência da
de gerar discussão. Isso é tor”. Quero dizer, enquanto internet no mundo literá-
só um exemplo, mas um jovem, eu me sinto no dever rio?
exemplo real de uma das de trazer algo novo, trazer SN: É uma forma de comu-
discussões eu ofereço nos novas referências, novas nicação com o leitor, com
meus livros. Enquanto o estéticas. Em “Mastigando outros autores, uma forma
discurso demagógico diz: Humanos” procurei fazer do escritor mostrar o que
todos os homens são iguais, isso de forma bem radical, está fazendo, o que tem lido,
o discurso literário pode todo o tom pop e bem hu- etc. Para mim, serve apenas
dizer “não, as pessoas têm morado do livro vai nesse para isso. Já é o suficiente.
diferenças e essa sociedade caminho. A escolha do ja-
não admite diferenças.” E a caré foi uma escolha afetiva
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Em seu blog, você fala seus romances enquanto geiros que gosto, sei que
sobre comprar ou baixar estão no rascunho? Você não seriam comercialmente
um filme para ter e rever é verborrágico ou meticu- viáveis no Brasil. É preciso
quando quiser. O mesmo loso? Planeja o texto todo saber separar, encarar com
que acontece às músicas antes ou deixa que as coi- certo olhar mercadológico.
que marcam certos mo- sas vão acontecendo?
mentos de nossa vida. SN: Verborrágico, claro.
Quando você usa o ver- Pode nos adiantar algo
Meus romances mais recen- sobre o enredo do seu
bo ter, significa ser uma tes eu até tive certo planeja-
espécie de co-autor com o novo romance O Prédio, o
mento, criei os personagens, Tédio e o Menino Cego?
artista? O que você pensa sabia exatamente onde
da obra artística depois Ele seguirá a linha psi-
queria chegar, como iria codélica de Mastigando
que ela deixa as mãos de terminar, mas as frases vão
seu autor? Humanos?
surgindo espontaneamente,
SN: Não, quando eu uso é como uma pintura em SN: Sete meninos entrando
o verbo “ter” eu me refiro que vou pincelando por na adolescência se apai-
apenas ao objeto cultural, cima. Nada é apagado. xonam por uma professo-
que pode até ser um objeto ra, que é uma infanticida
virtual, no caso de uma mú- serial. É isso. Um pouco
sica ou um filme. Acho que Em seus trabalhos de tra- menos psicodélico do que o
a obra nunca pertence tanto dução, nota-se que você Mastigando Humanos, por-
ao público quanto ao artis- não os faz apenas por que não tem toda a alego-
ta, e digo isso me colocando encomenda de editoras, ria com animais e tal, mas
nos dois lados da questão. mas também por prazer ainda assim tem certa dose
Como público, eu nunca próprio. Isso reflete uma pop, certo humor negro, eu
me sinto tão “possuidor” preocupação em apresen- diria que é um romance
de uma obra de arte, em tar, no Brasil, autores es- existencialista bizarro.
identificação intensa com trangeiros que você julga
ela quanto com minha pró- de qualidade, mas que são
pria obra. É como eu disse ignorados por nossos edi-
anteriormente, a obra de tores. Diante disso, qual
arte - a literatura - é uma sua opinião sobre a polí-
ponte entre a vida subjetiva tica editorial brasileira?
do artista e a vida do recep- SN: Eu já sugeri algumas
tor, mas essa troca sempre é coisas para as editoras com Coordenador da entrevista:
limitada. Você tem a ponte, que trabalho, já tentei em-
pode chegar até lá, dar uma placar algumas traduções, Carlos Alberto Barros
olhada, mas não vai residir mas é muito raro eles acei-
naquele castelo, entende? É tarem as sugestões. Achava
Perguntas feitas por:
uma visita turística, limi- que isso era uma limitação
tada. Pode parecer pouco, que eu tinha, mas recente- Alian Moroz
mas não é, porque a cha- mente vi o Paulo Henriques Carlos Alberto Barros
ve final estará sempre no Britto dizendo que a Cia
autor. E se basta para ele, das Letras raramente aceita- Henry Alfred Bugalho
se responde às perguntas va as sugestões dele tam- Marcia Szajnbok
dele, é válido, responderá a bém. Então eu faço mais
perguntas diversas de várias trabalhos por encomenda. Volmar Camargo Junior
outras pessoas. Até porque, tenho um gosto Zulmar Lopes
um pouco atípico. Grande
parte dos autores estran-
Como é a relação com
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Microcontos
Tempo
Denis da Cruz
Veloz
Denis da Cruz
Trânsito
Denis da Cruz
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Microcontos
Festa Surpresa
Henry Alfred Bugalho
Filosofia
José Espírito Santo
Palavra
José Espírito Santo
O Nome
José Espírito Santo
Sempre que lhe perguntavam o nome, respondia
com uma longa história. Naquela noite, quando no
bar do hotel, a loira lhe perguntou qual era a sua
história, respondeu Manuel. Sem hesitar!
Capuchinho, a
verdadeira história
José Espírito Santo
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Microcontos
Coisas de Mulher
Marcia Szajnbok
IV.
Ansiedade, apreensão, expectativas. A primeira vez tinha de ser perfeita.
- Você não disse que era virgem? Como é que não sangrou?
Os corpos ainda juntos, as almas irrecuperavelmente apartadas.
O amor que tu me tinhas era vidro e se quebrou...
V. VI.
A festa foi ótima. Todos comeram, Sentada no chão, o ouvido colado à
beberam e se divertiram muito. porta do banheiro, a menina pergunta:
Quando saíram os últimos amigos, -Mãe, você está aí?
desligou a musica, apagou as luzes. Lá de dentro, entre risos, vem a
Era madrugada. Era seu aniversário. E resposta: - Não, não estou aqui... fugi
os restos da casa cheia tornavam mais pela janela!
consistente o vazio. O pequeno corpo para sempre
Ali mesmo, no chão da sala, chorou, dividido: a boca-razão sorri, o olhos-
chorou, até dormir cansada, como as emoção lacrimejam.
crianças.
Dez Segundos
Volmar Camargo Junior
A Última do Juca
Volmar Camargo Junior
Mãe da Noiva
Volmar Camargo Junior
Estricnina
Volmar Camargo Junior
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Recomendações de Leitura
A Língua de Eulália,
Uma Novela Sociolingüística
Livro: A Língua de
E ulália, Uma Novela
S ociolingüística
Editora: Contexto
A Letra Escarlate,
inagurado por Hemmingway,
que trouxe para a literatura
a linguagem jornalística - se
contrapõe ao estilo prolixo e
de Nathaniel Hawthorne sofisticado de Hawthorne.
No fundo, “A Letra Escar-
late” é uma ousada crítica de
Henry Alfred Bugalho é Hester Prynne, uma mu-
Hawthorne à moral puritana,
lher condenada a carregar no
henrybugalho@gmail.com peito a letra “A”, após ter sido
aos extremos que o radicalis-
mo religioso pode conduzir.
acusada de adultério. Ao se
Nathaniel Hawthorne é um O autor não poupa Hester
recusar a revelar a identidade
dos grandes autores canônicos da necessária expiação pelo
de quem a corrompeu, Hester
dos EUA, comparável talvez a adultério, mas ele parece
toma para si toda a culpa pelo
Machado de Assis no Brasil ou simpatizar com a protagonista,
pecado. A trama é ambientada
a Eça de Queirós em Portugal. querer defender que, além da
na Nova Inglaterra em meados
Sua obra principal, “A Letra racionalidade, o animal ho-
do século XVII, auge da caça
Escarlate” foi um dos primei- mem também é formado por
às bruxas nas cidades regidas
ros fenômenos editoriais no instintos e paixões.
pela administração puritana.
país e é leitura obrigatória Um dos grandes clássicos
Deste adultério, Hester dá
nas escolas. Na verdade, esta da literatura americana tam-
a luz à Pearl, uma criança que
acolhida diz muito sobre o bém é uma das grandes ex-
representa a mácula do peca-
espírito norte-americano, até posições das nossas fraquezas
do da mãe muito mais do que
mais do que isto, diz muito “demasiado humanas”.
a própria letra escarlate. Isola-
sobre a moral protestante que, das do convívio social, Hester
segundo Max Weber, está no e Pearl tornam-se cúmplices,
cerne da expansão capitalista. companheiras no opróbrio.
A protagonista do romance
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Autor em Língua Portuguesa
TABACARIA
Álvaro de Campos
Falhei em tudo.
Como não fiz propósito nenhum, talvez tudo fosse nada.
A aprendizagem que me deram,
Desci dela pela janela das traseiras da casa.
Fui até ao campo com grandes propósitos.
Mas lá encontrei só ervas e árvores,
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Ser o que penso? Mas penso tanta coisa!
E há tantos que pensam ser a mesma coisa que não pode haver tantos!
Gênio? Neste momento
Cem mil cérebros se concebem em sonho gênios como eu,
E a história não marcará, quem sabe?, nem um,
Nem haverá senão estrume de tantas conquistas futuras.
Não, não creio em mim.
Em todos os manicômios há doidos malucos com tantas certezas!
Eu, que não tenho nenhuma certeza, sou mais certo ou menos certo?
Não, nem em mim...
Em quantas mansardas e não-mansardas do mundo
Não estão nesta hora gênios-para-si-mesmos sonhando?
Quantas aspirações altas e nobres e lúcidas -
Sim, verdadeiramente altas e nobres e lúcidas -,
E quem sabe se realizáveis,
Nunca verão a luz do sol real nem acharão ouvidos de gente?
O mundo é para quem nasce para o conquistar
E não para quem sonha que pode conquistá-lo, ainda que tenha razão.
Tenho sonhado mais que o que Napoleão fez.
Tenho apertado ao peito hipotético mais humanidades do que Cristo,
Tenho feito filosofias em segredo que nenhum Kant escreveu.
Mas sou, e talvez serei sempre, o da mansarda,
Ainda que não more nela;
Serei sempre o que não nasceu para isso;
Serei sempre só o que tinha qualidades;
Serei sempre o que esperou que lhe abrissem a porta ao pé de uma parede sem porta,
E cantou a cantiga do Infinito numa capoeira,
E ouviu a voz de Deus num poço tapado.
Crer em mim? Não, nem em nada.
Derrame-me a Natureza sobre a cabeça ardente
O seu sol, a sua chava, o vento que me acha o cabelo,
E o resto que venha se vier, ou tiver que vir, ou não venha.
Escravos cardíacos das estrelas,
Conquistamos todo o mundo antes de nos levantar da cama;
Mas acordamos e ele é opaco,
Levantamo-nos e ele é alheio,
Saímos de casa e ele é a terra inteira,
Mais o sistema solar e a Via Láctea e o Indefinido.
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Olho a cada um os andrajos e as chagas e a mentira,
E penso: talvez nunca vivesses nem estudasses nem amasses nem cresses
(Porque é possível fazer a realidade de tudo isso sem fazer nada disso);
Talvez tenhas existido apenas, como um lagarto a quem cortam o rabo
E que é rabo para aquém do lagarto remexidamente
15-1-1928
Fonte: http://www.insite.com.br/art/pessoa/ficcoes/acampos/456.html
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Autor em Língua Portuguesa
Álvaro de Campos
e a criação heteronímica de Fernando Pessoa
“A celebridade raras vezes acolhe
os génios em vida, salvo se a vida
é longa, e lhes chega no fim dela.
Quase nunca acolhe aqueles gé-
nios especiais, em quem o dom da
criação se junta ao da novidade.”
http://oglobo.globo.com/blogs/arquivos_upload/2008/02/216_2310-Fernando-Pessoa.jpg
Henry Alfred Bugalho Fernando Pessoa nasceu Apesar duma fervilhante
em Lisboa em 1888. Após vida literária desde cedo, o
henrybugalho@gmail.com
ter vivido boa parte de sua "dia triunfal", como o pró-
infância na África do Sul, prio Pessoa o denominava,
Fernando Pessoa retornou a foi o dia 8 de março de
Portugal em 1905, ingressou 1914, quando ele criou o
na Faculdade de Letras da heterônimo Alberto Caeiro e,
Universidade de Lisboa, mas duma só vez escreveu a obra
desistiu antes de completar "O Guardador de Rebanhos".
um ano. Com a herança de Nesta mesma data, surgiram
sua avó, fundou uma tipogra- outros dois heterônimos fun-
fia em 1907, que mal chegou damentais na carreira poé-
a funcionar. No ano seguinte, tica de Pessoa, Ricardo Reis
assumiu um cargo como e Álvaro de Campos, ambos
tradutor comercial, profissão discípulos direto da poesia
que exerceria por toda sua de Alberto Caeiro.
vida.
http://omj.no.sapo.pt/bio2.htm
http://www.colegiosaofrancisco.com.br/alfa/fernando-pessoa/carta-adolfo.php
http://pt.wikipedia.org/wiki/Fernando_Pessoa
http://pt.wikipedia.org/wiki/%C3%81lvaro_de_Campos
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Autor em Língua Portuguesa
http://www.flickr.com/photos/kton25/473611645/sizes/o/
Florbela Espanca
MAMÃ
A contrastar, porém, sin- inclinou a cabeça, e duas lá-
gularmente com a miséria do grimas brilhantes como gotas
Noite negra e tempestu- casebre, via-se um berço ele- de orvalho se desprenderam
osa! No céu não luzia uma gante e lindo. Envolviam-no dos olhos, resvalando-lhe pe-
estrela, o vento soprava com rendas e arminhos. Dentro las faces, que foram cair nas
violência, e flocos de neve um pequeno gentil dormia, do pequenito que, a sorrir no
envolviam, como em alva com a linda cabecita emol- seu sorriso de anjo, balbu-
mortalha, a aldeia adorme- durada nos anéis doirados do ciou mimoso:
cida. Só ao longe milhares seu cabelo loiro. Nos lábios - Mamã!
de luzes ardiam no sober- pairava-lhe um sorriso meigo
bo castelo. Perfumes, flores, de anjo dormente. Abre-se a
sedas, rendas e cá fora, numa porta de repente. Uma mu-
humilde choupana à beira lher divinalmente formosa,
da estrada, fome, miséria envolta em ondas de rendas
e lamentos. Vivia ali uma e sedas, arrastando altiva a
pobre camponesa com dois longa cauda, entra na chou-
filhinhos. Magros, doentes, pana. A camponesa ergue-se
pediam esmola pelos casais. admirada, enquanto a fidalga
Agora choravam. Tinham adulada, invejada, que tinha
fome e não tinham pão, os a seus pés um mundo de
míseros pequeninos. No adoradores, não receando
único aposento via-se apenas amarrotar as renda caras do
uma enxerga onde, com a ca- seu opulento vestido de baile,
beça entre as mãos, a pobre ajoelhou humilde ante o ber-
mãe pensava, talvez, no futu- cito do filho do crime, que
ro bem negro dos filhinhos. tinha de beijar furtivamente;
http://www.flickr.com/photos/tcatcarson/2272845428/sizes/o/
Florbela Espanca fundos, a boca embriagante dade, onde o luar chora noite
e fatal que há-de prender-te e dia! Não me detive nem
Um dia, o destino, trôpego para todo o sempre! um só instante! O coração
velho de cabelos cor da neve, Isto disse-me um dia o des- ficou-me a pedaços dispersos
deu-me uns sapatos e disse- tino, trôpego velho de cabelos pelos caminhos que percorri,
me: cor da neve. mas eu caminhei sempre, sem
- Aqui tens estes sapatos Calcei os sapatos e cami- fraquejar um só momento!...
de ferro, calça-os e caminha... nhei, O luar era profundo; às Há muito tempo que ando,
Caminha sempre, sem des- vezes, cantavam nas matas os tenho quase cem anos já, os
canso nem fadiga, vai sempre rouxinóis... Outras vezes, ao meus cabelos tomam-se da
avante e não te detenhas, não sol ardente do meio-dia de- cor do linho, e o meu frágil
pares nunca!... A estrada da sabrochavam as rosas, verme- corpo inclina-se suavemente
vida tem trechos de céu e lhas como beijos de sangue; para a terra, como uma fraca
paisagens infernais; não te as- as borboletas traziam nas asas, haste sacudida pela nortada.
suste a escuridão, nem te des- finas como farrapos de seda, Começo a sentir-me cansada,
lumbres com a claridade; nem os perfumes delirantes de os meus passos vão sendo
um minuto sequer te detenhas milhares de corolas! Outras vagarosos na estrada imensa
à beira da estrada; deixa florir vezes ainda, nem uma estrela da vida!
os malmequeres, deixa cantar no céu, nem um perfume na E os sapatos inda se não
os rouxinóis. Quer seja lisa, terra, e eu ouvia a meus pés a romperam!
quer seja alcantilada a imensa voz de algum imenso abismo. Onde estareis vós, ó olhos
estrada, caminha, caminha Passei pelo reino do sonho, perturbadores e profundos, ó
sempre! Não pares nunca! pelo país da esperança e do boca embriagante e fatal que
Um dia, os sapatos hão-de amor que, ao longe, banhado há-de prender-me para todo o
romper-se; deter-te-ás então. É pelo sol, dá a impressão duma sempre?!...
que terás encontrado, enfim, imensa esmeralda, e vi tam-
os olhos perturbadores e pro- bém as terras tristes da sau-
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Autor em Língua Portuguesa
A voz feminina de
FLORBELA ESPANCA
Florbela Espanca nasceu
no Alentejo, em Vila Viçosa, a
8 de Dezembro de 1894.
Filha ilegítima de uma
"criada de servir" falecida
muito nova, foi registada
como filha de pai incógnito,
marca social ignominiosa
que haveria de a marcar
profundamente, apesar de ter
sido educada pelo pai e pela
madrasta, Mariana Espanca.
Estudou em Évora, onde con-
cluiu o curso dos liceus em
1917. Mais tarde vai estudar
para Lisboa, frequentando a
Faculdade de Direito. Colabo-
rou no Notícias de Évora e foi,
com Irene Lisboa, percursora
do movimento de emancipa-
ção da mulher.
Os seus três casamentos
falhados, assim como as de-
silusões amorosas em geral e
a morte do irmão, Apeles Es-
panca, a quem era fortemente
ligada, num acidente de avião,
marcaram profundamente a
sua vida e obra.
Em Dezembro de 1930,
agravados os problemas de
saúde, sobretudo de ordem
psicológica, Florbela pôs fim à
própria vida a 8 de dezembro,
em Matosinhos. O seu suicí-
dio foi socialmente manipula-
do e, oficialmente, apresenta-
morte. mulher, dando novos rumos à
da como causa da morte, um
Com a sua personalida- consciência literária nascida
«edema pulmonar».
de de uma riqueza interior de vivências femininas.
Embora sua notoriedade
excepcional, escreveu os seus
tenha vindo a partir de sua
versos com uma perturbação fontes:
poesia, Florbela produziu
ardente, revelando um ero- http://www.vidaslusofonas.pt/florbela_espanca.htm
também uma obra em prosa,
tismo feminino transcendido, http://www.mulheres-ps20.ipp.pt/Florb-Espanca.htm
composta por contos e por
pondo a nu a intimidade da
um diário que antecedeu sua
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Panorama Literário
Durante a Renascença, o
Homem era vista como um
reflexo perfeito do Universo.
Esta relação entre o macro-
cósmico e o microcósmico
se manifestava na ânsia por
http://www.bisbymac.com/HOMBRE%20VITRUVIANO-2.jpg
desvendar o “O Livro do
Mundo”, através das Artes,
da Ciência e da Filosofia.
O homem pleno era aquele
que buscava o conhecimen-
to pleno.
AMADORIZE-SE
Henry Alfred Bugalho
henrybugalho@gmail.com
A grande luta dos preten- com um capítulo no livro genheiro, filósofo, médico, etc.
sos escritores ou de autores que estou lendo — Blog! How — o homem moderno passou
em início de carreira é a the newest media revolution a valorizar o “recorte”, a “es-
profissionalização. is changing politics, business, pecialização”. Isto parece ter
O que isto quer dizer and culture — que trans- decorrido graças ao reconhe-
exatamente — se é uma crevia exatamente o que se cimento de como os saberes
padronização da remunera- passava na minha cabeça. podem ser, individualmente,
ção da hora do escritor, se é Em suma, durante boa par- bastante vastos. No campo
a criação de sindicatos (acho te do século XX, as atividades da Medicina, por exemplo,
que este é o suposto papel da laborais tenderam à profissio- alguém pode passar a vida
UBE), ou qualquer outro tipo nalização, à regulamentação inteira estudando que não se
de normatização do ofício — das práticas e normas de seus obterá pleno conhecimento
é um mistério que um dia ofícios. Isto incluiu a cria- de todas as especialidades.
ainda desvendo. No entanto, ção de cursos tecnológicos, Portanto, a especialização se
este movimento me parece universitários, formação de tornou o signo da compe-
ser algo ultrapassado, uma sindicatos, salário-mínimo, tência. “Restrinjo a amplidão
mentalidade típica do século entre várias outras conquistas do meu saber”, diz o homem
XX. do mercado de trabalho. moderno, “mas me torno o
Enquanto o homem re- melhor naquilo que sei”.
Curiosamente, enquanto nascentista se orgulhava por O adjetivo “amador” se tor-
eu pensava em escrever este agregar várias atribuições — nou algo demeritório. O ama-
artigo, acabei me deparando matemático, físico, pintor, en- dor estaria a pelo menos um
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Contos
O CEGO E O PSICOPATA
Carlos Alberto Barros
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o dela: por que está acontecendo armário... Minha serra elétri-
– Vai ficar tudo bem! Eu isso com a gente? Outro pas- ca portátil... Ele achou minha
te amo! Vai ficar tudo bem! – so: Deus, porque nos abando- serra elétrica... Usou lá no
esperneio, ouço, choro, estre- nou? E outro: eu não quero quarto e agora vai usar aqui.
meço. morrer. Estão mais próximos, Sádico maldito! Vai usar em
mais fortes. Não chegue aqui! mim!
– Meu amor, pede para ele Não chegue aqui! Cristo,
parar! Não, não faz isso, pára! – Não precisamos ter
estão já na cozinha! Parecem pressa. Sempre te odiei, seu
Aaaahh! Pede para ele parar! trazer todo o peso do mundo, desgraçado. Faço questão de
Não consigo mais respon- sinto-os quebrar o piso. Pren- te matar bem devagar, peda-
der. Sinto-me o mais impres- do a respiração. Os passos... cinho por pedacinho – fala,
tável dos homens. Inundado Pararam na minha frente. enquanto eu escuto o ruído
pelos gritos de agonia, aban- – Ouviu como sua esposa da serra bem próximo ao
dono o pouco de esperança estava se divertindo? – ouço- meu ouvido.
que eu ainda carregava e os falarem.
simplesmente peço que o – Mas, nem te conheço,
meu fim venha logo. Estremeço na cadeira. Ten- maluco!
to, em vão, me levantar. – Você não me conhece,
Minutos passados, os gri-
tos de minha esposa tornam- – Onde está minha mu- mas eu te conheço.
se sussurros mecânicos de lher, seu débil mental? O que Desde que fui amarra-
alguém em estado de choque. você fez? do nesta cadeira, fiz várias
Ouço a cama rangendo, ouço – Calma. Ela está bem preces. E a única delas que
os gemidos. Não agüento aqui. achei que nunca seria atendi-
mais! O que ele está fazendo? Sinto algo pesado cair da, acontece agora: o milagre.
O que o covarde está fazen- sobre meu colo. Um líquido Ouço sirenes se aproximan-
do com a minha mulher? viscoso e quente umedece do, várias delas. Percebo os
Os sons param. Um breve minha roupa. Não... Por Cris- passos em ação. Correm
silêncio tenta prevalecer. to, não... O desespero toma ligeiros, vão até a sala, vol-
Surgem pequenos ruídos, conta de mim, agito-me, o tam à cozinha. As sirenes
indecifráveis. O que o louco que estava em meu colo vai mais próximas. Mais passos
ainda está tramando? Ah, ao chão. Sarcástica, ressurge em direção ao quarto, de lá,
não... não... Este barulho... a voz na minha frente: saem abruptos, como que
Meu Deus, não... Por miseri- duplicados. Parecem estar de
córdia, não! novo na sala, abrem a porta,
– Seja mais carinhoso... aceleram-se. Ouço-os distan-
Histérica, minha mulher Como é que você joga assim, tes... Mais longe... Não ouço
alfineta meus ouvidos com no chão, a cabeça de sua mais.
longos e agudos gritos. Será mulher?
que ninguém mais escuta Junto com as sirenes, sons
isso? Onde estão as pragas – Aaaaahhh! de carros e freios parecem
dos vizinhos curiosos? A muito próximos. A cam-
Por quê? Por que tudo
polícia? painha toca várias vezes. Eu
isso? Não entendo. O que fi-
peço socorro. Alguém grita
Os gritos se extinguem, o zemos de errado? Eu... Minha
dizendo que é da polícia e
barulho da morte continua. mulher... A cabeça... Deus do
que está entrando. Eu peço
Escuto algo sendo cortado, céu! Não suporto mais, entre-
socorro. Os passos invadem
faço uma prece, amaldiçôo go os pontos.
a casa, montes deles. Graças
Deus. Os passos... Os pas- – Por que não me mata a Deus! Graças a Deus!
sos, mais carregados do que logo, seu maníaco? Vamos,
nunca, estão vindo para cá. – O senhor está bem?
me mata! – exijo, em prantos.
A cada um deles, imagino o – ouço uma voz próxima
Aquele barulho... Ouço, perguntando.
que me trarão. Minha espo-
novamente, aquele barulho...
sa... Esteja bem, meu amor, – O louco matou minha
Eu tinha certeza. Em cima do
por favor. Mais um passo: esposa! Ele me cegou! Acabou
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Contos
O LADRÃO
de
OLHOS
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— Certamente há. Se co- a vestir seu luto pelo Verão. — Devo ter morrido.
mer de minha carne, cairá na Patas-Fortes correu como Uma voz antiga e afetuosa
escuridão como eu. E nada louco para vencer a tundra. soprou em seus ouvidos.
pode ser pior que um caça- Sua fome era tanta que sentia
suas entranhas devorarem- — Ainda não, lobo. Aqui
dor cego. não é a morte para você.
no. Quando o azul do céu
Patas-Fortes ponderou por despediu-se definitivamente, — Quem é? Onde estou?
um instante. o jovem lupino pisou na
— Aqui é para onde venho
— O que devo fazer, en- planície.
quando Inverno chega. Oh,
tão? Diante do deserto imenso, sim. Eu sou Urso.
— É simples. Basta trazer o lobo sentiu pela primeira
— Por que me trouxe para
meus olhos de volta. vez a solidão. Para espantá-
cá?
la, tão alto quanto podia,
— Isso é impossível, cari- — Porque foi você quem
Patas-Fortes uivou.
bu. me trouxe para cá primeiro.
Então, uma surpresa. Vin-
— Não, não é. Ao sul, Quando você e seus irmãos
do de muito além da vasti-
além da tundra há uma aprendiam a ser caçadores,
dão cinzenta, ouviu a respos-
grande planície. Depois da tiraram minha vida.
ta ao seu uivo. Era também
planície há a floresta. No Patas-Fortes ficou cons-
um lamento, mas, de alguma
meio da floresta há O Olmo, ternado. Em outros tempos,
forma, havia naquele outro
a árvore mais velha do quando ainda vivia com seus
uivo uma gota de gratidão.
mundo, tão alta que sua copa pares, aprendeu que um urso
Precisava chegar à floresta.
furou o céu, e cujas raízes só é confiável se está san-
Precisava reaver os olhos do
jazem no mundo dos mortos. grando no chão.
Avô-Caribu. E a partir daque-
Em um oco do tronco des-
le instante, precisava também — E ainda assim ajudou-
sa árvore vive o Corvo. Foi
encontrar o dono daquele me.
Corvo, o ladrão que roubou
uivo longínquo.
meus olhos. — Sou um Espírito agora.
Em sua enorme agitação, É meu dever ensinar o que
— Não tenho escolha?
não percebeu que o mundo sei a quem precisa.
— Ou isso, ou a míngua. estava mudando. O céu fica-
Finalmente, conseguiu
Dito isso, o venerável va cada vez mais baixo, o ar
ver. Estava em uma toca sob
animal bateu com os cascos mais pesado e duro. O seu
a neve, protegido, aquecido
no gelo, e uma neblina densa trote rugia mais alto aos seus
e com vida – embora ainda
e leitosa ergueu-se em toda ouvidos que o vento. Foi por
estivesse faminto. Patas-fortes
a ravina. Naquele momento, isso que, quando a nevasca
aprendeu a hibernar. Contu-
Patas-Fortes entendeu que tomou a planície, o lobo foi
do, ainda era Inverno. O céu
aquele não era uma presa surpreendido. O Inverno ha-
tornou a abrir, derramando
qualquer. Era o Avô-Caribu. via chegado definitivamente.
sobre o mundo a luz das
Ele sabia – como sabiam O jovem lobo foi sendo aos
estrelas. O frio fora da toca
todos os lobos desde sem- poucos vencido pela neve,
era maior do que antes da
pre – que não se pode negar pelo isolamento e pela fome.
Nevasca, mas uma agradável
um pedido do Avô-Caribu. Perdeu a consciência.
constatação fez com que o
Se contrariado, não haveria Algum tempo depois, seu lobo o ignorasse por comple-
caça para os lobos por tantos corpo foi invadido por uma to. Havia chegado à floresta.
verões quantas fossem as
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Sem ter percebido o E outra vez, foi surpreen- entretanto, era uma morte
quanto caminhou durante dido. Ao seu lado, outro lobo diferente. Permitiu-se ser
a tempestade, Patas-Fortes uivou. Era o mesmo uivo que levado pelo instinto mais
não viu onde estava quan- Patas-Fortes ouviu antes de antigo de sua raça, e seu
do desfaleceu. Rejubilou-se atravessar a planície. focinho transformou todos
quando avistou diante de si — Encontrei você! Enfim, os cheiros das coisas obscu-
um formidável monte, bran- encontrei o uivo que me recidas em imagens dentro
co pela neve como todo o responde. de sua cabeça. Diante dele, os
mundo, mas que tinha seu cheiros fizeram surgir uma
dorso e seus pés cobertos — Sim. É grande a minha árvore tão grande que não
de pinheiros. Patas-Fortes alegria também. Mas sei que se podia ver onde terminava.
tinha uma lembrança distan- não fui eu quem o trouxe até Era o Olmo.
te daquela massa escura de aqui.
— Quer encontrar o La-
caules compridos. Não era — É verdade. Vim para drão? – perguntou o outro.
uma boa recordação, mes- reaver algo que foi roubado. Patas-Fortes, então, viu como
mo sem entender o motivo. ele se parecia. Era dono de
— Seus olhos.
Mesmo assim, impulsionado uma altivez digna de um
pelo compromisso assumido — Não os meus, mas os
alfa, um chefe de alcatéia.
quando Sol ainda pairava de alguém de quem foram
Sentiu em sua presença a
no céu, o lobo lançou-se roubados. Como sabe?
mesma sensação que perce-
contra a penumbra. A luz — Porque é o que todos beu quando encontrou Urso
diminuiu de tal maneira que querem aqui. Todos os que e, antes dele, Avô-Caribu.
depois de não muitos passos, perderam a lembrança da Estava diante de um Espírito.
pôde orientar-se apenas pelo última coisa que viram, vêm Aquele era Pai-Lobo.
olfato. Assim, quando sen- para cá. Ou pedem que al-
tia o cheiro das cascas das — Sim. A hora é agora.
guém o faça.
árvores aproximarem-se o — Siga-me, então.
— Você sabe como posso
suficiente, desviava delas para
chegar ao Olmo, então? Pai-Lobo conduziu Patas-
seguir, mais e mais adentro
Fortes por um caminho se-
na escuridão. E quanto mais — Ainda não percebeu?
creto. Circundando parte do
denso ficava o negrume, mais Você está aos pés dele.
tronco gigantesco do Olmo,
parado o ar, mais confuso Patas-Fortes entendeu o encontraram um buraco que
e labiríntico ficava o ca- que acontecia. Estava expe- levava às raízes da árvore.
minho. Só então, depois de rimentando o que seria seu Desceram até onde era pos-
estar completamente perdido, destino pela eternidade se sível. Em seguida, quando o
Patas-Fortes deu-se conta de não cumprisse a missão. buraco terminava, e o cheiro
que não sabia como chegar Buscando nas suas recor- da terra mais antigo que já
ao Olmo. dações, o lobo encontrou a havia sentido, os dois puse-
Sentiu outra vez o mal- que poderia ajudá-lo naquele ram-se a cavar. E cavaram
estar do isolamento. Com ele, momento: o cheiro de Avô- por um tempo incalculável,
o peso do ar parado, a escu- Caribu. sempre indo para baixo. Já
ridão quase palpável, a fome O lobo ainda sentia frio, não era mais frio, mas não
que voltou urrando dentro ainda estava amedrontado, era quente. O aroma que o
de si. Girou para todos os ainda estava imerso no es- lobo sentia era apenas o seu
lados, bateu-se contra os curo, e acima de tudo estava e de seu companheiro. A ter-
troncos invisíveis dos pinhei- mortalmente faminto. Mas o ra que cavavam não parecia
ros, resvalou no chão que compromisso o fez esquecer- com nada que conhecesse.
ele próprio ajudou a deixar se por um instante de si Então, surgiu uma luz. Era
barrento. Como um último próprio. Pela segunda vez uma luz desagradável e tris-
recurso para fugir ao deses- desde que levou um cervídeo te. Quando chegaram a luz,
pero, ganiu, rosnou, latiu e, velho para uma armadilha, encontraram uma caverna
por fim, uivou. Patas-Fortes esteve próximo nevoenta, onde parecia não
da morte. Mas desta vez, haver nada. De cima, vinham
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Contos
Wilhelm Schröder (1881-
1947) dedicou grande parte
de sua carreira médica
ao estudo das patologias
psiquiátricas. Foi as-
sistente de Otto Loewi,
posteriormente passou a
investigar e compilar casos
para sua obra mais impor-
tante, Kompendium der
Psychopathologie.
A morte trágica, durante
sua internação num hospital
psiquiátrico, comoveu a
comunidade médica.
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Hans subiu ao quarto onde a
irmãzinha dormia e a sufo-
cou com um travesseiro.
A morte do bebê foi con-
siderada por causas naturais.
Hans revelaria o assassinato
apenas alguns anos depois,
ao ser diagnosticado porta-
dor duma doença terminal.
Sob o peso da verdade, seu
pai o deserdou e sua esposa
o abandonou.
Hans cometeu suicídio
com um tiro na cabeça, uma
foto de Louise repousava em
seu colo.
O terceiro e mais sur-
preendente dos casos, que
influenciaria diretamente a
carreira do Dr. Schröder (o
que ele só descobriria poste-
riormente), dizia respeito a
um rumor, à boca pequena,
de que Gustav Schröder era
o favorito para receber o
Prêmio Nobel de Fisiologia,
graças a suas pesquisas na
área cardiovascular.
Wilhelm Schröder era
mais velho e razoavelmente
conhecido por seus pares,
mas a notícia de que um É inacreditável! Há uma todos terem se recolhido,
década que dou meu sangue por Wilhelm e Gustav sentaram-
rapazola, recém-saído da
meu trabalho e, com muito custo,
Universidade, estivesse sendo se no quintal para fumar.
consegui um pouco de renome.
cogitado para o mais impor- Mas meu irmão, sabe-se lá por “Eu perguntei a Gustav
tante prêmio na área médica, que cargas d’água, por um simples o que ele pensava de mim”,
foi demais para o primogê- trabalho acadêmico, está sendo conta-nos Willhelm Schröder
nito. considerado como um gênio da
medicina.
em seu diário, “e ele me res-
Na medida em que o dia pondeu que eu era seu irmão
Todos se achegam e me dão
do anúncio do prêmio se mais velho”.
tapinhas no ombro, congratulan-
aproximava, os boatos se do-me por ser irmão dum futuro — Digo profissionalmente,
tornavam mais freqüentes ganhador do Nobel. Tenho nojo Gustav. O que você pensa de
e consistentes — o nome de deste povo ignorante. mim como médico?
Gustav Schröder se fortalecia.
— Você é ótimo, Wi-
Organizaram uma festa para
Naquela noite, brindaram lhelm... — Gustav refletiu
comemorar a indicação.
à saúde de Gustav parentes — Tem um potencial que po-
No diário de Wilhelm, na e amigos, a premiação era deria ser melhor explorado,
entrada escrita poucas horas tomada como certa, todos talvez precise de um pouco
antes da festa, ele escreveu: estavam inebriados. mais de ousadia, mas tem
No fim do jantar, após tudo para ser reconhecido no
futuro.
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Contos
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Contos
Joaquim Bispo
OS RATOS
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Contos
LUANDINO
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com quiabos. Calados, ela e o Beijou-o de jeito calmo e Na vinda, trazia-se reno-
pai. Silêncio só quebrado ao terno que nisso nem preci- vada. Doíam-lhe, ardendo, os
café. Era o hábito desde que sava fazer esforço: ela gos- bicos dos seios sob a blusa
lhe morrera a mulher fazia tava dele. Muito ela gostava que trouxe desfraldada. A bi-
dezoito anos. Tantos quantos daquele pai viúvo. cicleta enternecia-se aos seus
a distância do dia em que pedalares. Era o finzinho da
E foi dançando pelo cor-
a pariu a ela, Júlia. Silêncio madrugada.
redor. Abriu de par em par a
durante as refeições.
porta da cozinha e saiu para Na cozinha, havia pão
Só a voz de Joaquina. a lua que alumiava, branca com doce de goiaba e um
e amarela. A lua que fazia, copo de leite muito branco e
- Quer que sirva a sobre-
quase em oiro, a terra verme- ainda morno. Joaquina quem
mesa, sinhá Maria?
lha das traseiras. Levou pela deixara. Sorriu-se um sorri-
Sempre se dirigindo a ela. mão a bicicleta até chegar à so que lhe enviou a ela que
Desde pequenina, ela era a estrada: uma língua de terra, logo, logo ia acordar.
mulher da casa. Sempre a batida a maço, mal coberta
Dançou-se seminua na
chamava de sinhá Maria. de uma fita que já fora preta.
cozinha. Partia dentro em
Julinha, apenas quando se Pedalou depressa. Cruzou-se
pouco. Nesse dia. Ía no jipe
sentava na bordinha da cama com o jipe do tenente Ma-
do tenente até ao aeroporto.
contando estórias velhas: “do tias. Ía para a sanzala. Era
tempo em que a mãezinha o seu costume. Ela sabia.
era viva, antes da menina Acenou-lhe e riu sem muito
bem perceber ao que achou Nunca mais viu Luandino.
nascer”. Ou as coisas, que
Joaquina dizia serem “para o piada. Sincopou, no para Num Maio, tão longín-
paizinho não sofrer”. cima e para baixo, em redon- quo que nessa noite nenhum
do, o pisar do pedal. deles sabe que existia, depa-
- Não anda com Luandino,
Lembra-se que ia serena, rou-o.
Júlinha. Ele não presta. Seu
pai não gosta. Vê, ele nem é no lusco-fusco, que a lua se Era Lisboa. Rossio. Ao fim
homem de lhe merecer. fizera alta e as árvores aden- da tarde.
savam copas sobre a estrada.
Júlia comia a talhada de Tanto ano passado sobre
manga, silenciosa. O sabor Passou a casa do Chefe de a noite de lua. Tanto estro-
do corpo de Luandino mis- Posto e contornou à esquer- piado e tanto morrido. Tanto
turava-se ao sabor da fruta. da. Abriu o portão de ferro: passado e tanto presente
Sorriu-se. O tecido da blusa uma cancela ferrugenta. se fizera nela desde aquela
roçava-lhe, desusado, cada Encostou a bicicleta no muro noite.
mama. baixo. Chamou sob a janela
entreaberta. Ele encostado ao ferro da
Bebeu, em goles lentos, boca do metro. O Luandino.
a bebida gostosa de pura - Luandino… Preto retinto. A carapinha
cafeína. Ouviu o pai falar da encanecida nas fontes. O
A lua iluminava o quarto
fazenda. Lembra-se bem: nes- Luandino dependurando doi-
sem mais móveis do que a
sa noite, falou-lhe nas vacas rados sob as mangas coçadas
esteira desdobrada no chão
que aleitavam. de um casaco.
de cimento. Isso, e um pano
-Seca-lhes o leite ou este de cores a servir de nada aos Sob o vestido justo que
enfraquece. Já morreu um corpos deles, nus, ferventes, e trazia, os bicos dos seios
bezerro. ao quente da noite com lua. adensaram-lhe recordados.
Vagueavam chamares, ao Ela estranhou-se.
E ela, pensando em ma-
mas, sorriu para dentro da longe, que ela não ouviu: O homem reagiu ao seu
chávena onde aparecia, ténue, estar ali parada, olhando-o:
- Júlia.
a cara de uma chinesa: por- pediu-lhe dinheiro para o
celanas que a mãe levara de Era o pai Antunes. Como almoço. Estendeu-lhe a mão
enxoval. ela adorava aquele pai viúvo.
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Contos
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ros completava todo átrio voltou para seu trono. Pri- amor. Não hesitaria em tirar
do palácio e sacerdotes lhe meiramente sorriu e depois sua vida por vingança.
deram passagem pela imensa o som de sua gargalhada O rei ofegava, seus dedos
escadaria. reverberou pelas paredes do roliços correndo em cima da
O peregrino entrou no salão. caixa, titubeando se toca-
salão real, enquanto oiten- - Matem-no! – sentenciou. va ou não a brilhante rosa.
ta guerreiros se curvaram. Os oitenta guerreiros Antes de decidir, Akin bateu-
Ajoelhou-se diante do Impe- avançaram de seus postos, lhe no punho, derrubando
rador e ergueu a caixa sobre enquanto Akin levantou-se o botão. A Rosa de Nandra
a cabeça; entreaberta, ela aturdido. O corpo do pere- caiu ao sopé do trono, se
mostrava a flor cintilante. grino respondia aos ataques misturando ao sangue dos
- Eis o Botão de Nandra, como um olho que fecha ao corpos na escadaria.
meu Senhor – levantou a rufar de uma nuvem de poei- - Fale! – gritou.
fronte. – Dê-me a prometida ra. Reflexo. Flechas, espadas - Um Desejo – disse o im-
mão da minha princesa. e lanças eram desviadas ou perador tartamudeando. – O
Há muitas coisas que aparadas. botão de Nandra contém Um
podem superar o amor entre Para cada defesa que Desejo. E só um coração que
irmãos, mas nenhuma delas fazia, retornava dois contra- desejasse o Amor poderia
é mais forte que corações ataques; dois corpos inimigos colhê-lo.
fraternos desejando a mesma dilacerados. Akin atacava É impossível descrever o
dama. com a espada, com o punho que sentiu Akin. Amou a
Akin e Akan se apaixona- e com a Arte – rajadas de princesa e por ela se embre-
ram por Mirah, a única filha energia azul, que ora saiam nhou naquela viagem. Lutou
do rei, prometida ao guerrei- da palma de sua mão esquer- contra a fúria do tempo,
ro que trouxesse o Botão de da, ora riscavam junto ao fio contra criaturas terríveis e
Nandra. de sua arma, rasgando corpos travou a maior de suas bata-
dos oponentes à frente. lhas, entregando à Morte o
Muitos peregrinaram às
distantes terras do norte. Combatendo, Akin subiu seu amado irmão.
Nunca se ouviu falar de os sete degraus do trono. Akan não foi o único a
alguém que houvesse retor- Guerreiros protegiam o rei, morrer em vão. Outros guer-
nado. que apertava no peito gordo reiros pereceram diante da
a caixa de marfim. artimanha do imperador, na
Mas os irmãos, mesmo
sabendo do intento um do Quando matou o último busca de seu Um Desejo, a
outro, partiram em busca da inimigo, a porta do salão se maior das magias existentes.
rosa. escancarou e uma infinidade Ao degolar o imperador,
de soldados, vestidos em seus passou a ter um sentimento
Durante a jornada, deseja- trajes azulados, invadiu o
vam intimamente ou morrer, de fácil descrição: justiça.
local.
ou que o outro perecesse no Virou-se para o salão
caminho. Mas nada dis- Akin virou-se num átimo infestado de soldados com
to ocorreu. A morte só os e apoiou o pé esquerdo no armas em punho ou arcos
envolveria através do braço trono, entre as pernas do preparados. Um a um, foram
irmão, dando o último golpe. imperador. A espada, ébria se ajoelhando, se curvando
do sangue de oitenta vidas, até as cabeças tocarem o
- Claro – disse o impera- tingiu de vermelho o pescoço
dor levantando seu protu- chão. Havia um novo impe-
do rei, se afundando na ba- rador em Nór, que acabara
berante corpo do trono. – A nha, sem cortar-lhe a carne.
mão da princesa Mirah será de conquistar o trono na
sua – desceu os sete degraus - Fale! – gritou Akin forma das Leis Ancestrais:
– tão logo eu confira o que ouvindo o som dos arcos re- pela espada.
há em suas mãos. tesarem no outro extremo da
sala. – Matei meu irmão por
Pegou a caixa de marfim e
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Contos
PRELÚDIO DE
UMA SAUDADE
Zulmar Lopes
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Tradução
AS BALEIAS CINZAS
Yolanda Arroyo Pizarro
tradução: Henry Alfred Bugalho
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à Espanha também e depois toalha, o biquíni, o snorkel e
voltou ao México para fazer os óculos de mergulho. Esta
um trabalho com a UNAM. tarde, pela primeira vez, haví-
Tudo isto ela me contou na amos avistado o cetáceo.
única carta que certa vez me Depois deste, periodica-
escrevera. Desde há muito mente, continuamos vendo-
que não nos vemos. Nestes os em nossas travessias. As
dias, acabou de me enviar águas reluzentes da baía
um telegrama. “Irei visitar-te. Magdalena nos presentavam
Viveca”, dizia. Penso em vol- com muitos e belos vis-
tar a vê-la e tenho calafrios lumbres do impressionante
na barriga. Gostaria de me animal. Tornei-me guia.
lembrar de mais coisas de Comecei a trazer grupos
quando ela era pequena. O de pessoas, cada vez maio-
salitre me torna isto impos- res, para que vissem aquele
sível. fenômeno marino com o
mesmo tamanho dum ôni-
Ω bus. Aquelas massas colos-
sais não se assustavam; pelo
“Em momentos como este,
contrário. Pareciam desfrutar
o ser humano percebe que se
da companhia. Observavam-
aproxima duma criatura que
nos curiosas na medida em
ultrapassa sua compreensão,
que saíam à superfície para
duma presença misteriosa
respirarem, a cada três ou
encarnada num inacreditável
cinco minutos. A princípio,
cilindro negro.” Terminei de
cabíamos todos a bordo
ler a citação. Viveca olhou
dum pequeno barco, que fui
para cima, recostada à amu-
consertando aos poucos com
rada do barco, os olhos sal-
minhas próprias mãos. Logo,
tados, duas tranças de cabelo
com a cobrança do espetácu-
arruivado em cada lado de
lo natural que as baleias nos
sua cabeça, a saia de queru-
obsequiavam e que eu coleta-
bins quadriculados. Minha
va com prazer, pude adquirir
Viveca era pequenina.
uma embarcação um pouco
— Jacques Yves Cousteau, maior.
o oceanógrafo — ela disse.
Converti-me em guia
Sorri orgulhoso e fechei o li-
porque muita gente ansiava
vro, aquiescendo. Minha filha
por observar estas maravilho-
memorizava cada vez melhor.
sas criaturas. Todos os anos,
Inclusive, melhor do que
emigravam para as lagunas
eu. Esta manhã, assim que
da Baixa Califórnia para se
acreditei estar pronto para a
acasalarem e parirem. Pou-
travessia, havia me esquecido
cos marinheiros e pescadores
dos trajes de mergulho em
se atreviam a enfrentá-las.
algum lugar da cabana. Não
As razões eram diversas.
me lembro exatamente onde.
Muitos dependiam da pes-
No entanto, ela, aos sete anos
car para subsistirem e não
de idade, conseguia gravar
desejavam investir num novo
na memória citações como
projeto, que talvez nem desse
aquela e até mais extensas.
resultado. O que os pesca-
Havia trazido nos ombros,
dores sabem sobre ser guias
sem que eu a fizesse se
turísticos? O que sabem os
lembrar, sua mochila com a
marinheiros sobre se dirigir
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de ombros, olha para mim a dar uma gargalhada. olhos. Está triste. Aproximo-
e me pede que, por favor, em- Tentei me lembrar, mas me um tanto indeciso.
preste-lhe uma blusa porque não consegui. Tornou-se im- — Amanhã é o décimo
está com frio. Desço à cabine possível para mim. dia, filha. Você vai com a
e trago-lhe uma. transportadora? Voltará?
— Obrigada, Franciso
Ω
— ela me diz, e volto a me
Conto a meu grupo de — Não. Vou ficar outros
sentir estranho, incômodo,
turistas que, ainda que seja dez dias mais.
até receoso. Mas não o digo.
Não o digo. proibido ficar a menos de Fico feliz.
trinta metros destes cetáce- — Que bom! Assim po-
— Pelo calorzinho. E pela
os, às vezes a baleias-mães, demos passar mais tempo
comida. Chegam até aqui de
dominadas pela curiosidade, juntos.
tão longe por comida. Dão-
dirigem-se com suas crias até
se um banquete de pequenos Ela me encara. Sem ro-
os barcos e até deixam ser
crustáceos no Pacífico, e logo deios, desafiante. Seu olhar é
tocadas. Eles gritam emocio-
seguem buscando alimento gélido. A comissura de seus
nados quando se dão conta
até chegar a estas lagunas. lábios se aperta de modo de
de que meu comentário é
Levam de dois a três meses estranho.
mais uma advertência do que
para chegarem. Neste trajeto, — Temos de conversar,
qualquer outra coisa, porque
elas perdem boa parte de seu Francisco. Por isto vou ficar.
uma das baleias já havia se
peso. Neste período, depen-
acercado, saca seu olho por
dem quase exclusivamente de
sobre a água e nos borrifa Ω
sua reserva de gordura. Em
com sua pequena ducha É possível. Pode ser? Não
quarenta e sete, outorgou-se
salgada. Exibe umas manchas reajo. Minha intenção é
proteção total a elas pela
brancas na pele, causadas tentar entendê-la, mas não
Comissão Baleeira Interna-
por cracas e outros parasitas. consigo. Ela me conta, fala
cional e, em anos recentes,
Escutamo-la respirar e, com para mim, confessa-me uma
o governo mexicano estabe-
prazer, voltamos a nos deixar mar de palavras sem fundo.
leceu para elas santuários e
molhar por seu esguicho. Exige de mim.
reservas. Atualmente, a baleia
Ambrosio mostra um cartaz
cinza já não é considerada — Como não pude perce-
bastante atraente, em cores
como espécie ameaçada. ber? Passei o resto de minha
vivas, que anuncia um preço
— Sabemos que as fêmeas bastante módico para aque- vida odiando-o, esquecen-
prenhas são as primeiras a les valentes que desejassem do-o, brincando de crise ner-
chegar nas lagunas e aqui acariciar a pele da baleia. vosa em crise nervosa. Veja
parem os baleatos — Am- minhas unhas, roídas, masti-
— Os cetáceos permane- gadas até a metade do dedo.
brosio aproveita o repentino
cem nas lagunas por dois Quase não tenho unhas, qua-
ataque de atenção — nascem
ou três meses, de janeiro a se não durmo. Nunca sonhei
das costas, nós vimos. Aju-
meados de março. Aprovei- depois do que me você me
dam em cada parto outras
tem agora para tocá-los — fez. Sempre tenho pesadelos.
duas fêmeas; as tias, nós
Ambrosio tenta convencer Sonho que você retorna e
dizemos.
— Já está quase se acabando volta a fazer-me o mesmo.
— Sim, atuam de parteiras, a temporada.
Viveca. Este assunto é dos Como pode dizer-me agora
Os turistas correm e fazer que não se lembra? Tenho es-
mais agradáveis — eu lhe
uma grande fila no convés. tado internada em sanatórios,
digo.
Todos vão pagar por aquela postergando meus estudos,
— Francisco, como se recordação tão única. Como afetando minhas notas, para
chama aquele baleato que Viveca viaja conosco hoje, eu que hoje você me diga que
nasceu no dia do seu ani- a olho. Ela está do outro lado, não se lembra do que me
versário? Você se lembra? parada perto do timão. Estu- fez? Tenho tentado até ago-
Demos-lhe um nome... — do seu perfil. Uma das velas ra superar meus fantasmas.
Ambrosio me pergunta, logo possui a mesma cor que seus
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Tradução
PEQUENAS
COISAS
Raymond Carver
tradução: Henry Alfred Bugalho
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Autor Convidado
MINICONTOS
Ana Mello Fuga
O ônibus é rápido.
Na janela tudo passa - árvores, rio, nuvens.
Não passa a saudade, não volta a cidade.
Nem o amor da Maria.
Amor adolescente
Delicioso aquele beijo.
Primeiro amor tem gosto de chocolate
novo, de água depois do futebol.
Tem cor de primavera e cheiro de alfaze-
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ma.
Dizem que amor é tão forte que até dói.
Mas o que dói mesmo é namorar menina
com aparelho nos dentes.
Quimera
As panelas brilhavam o fogão também,
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Coração assaltado
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No inferno V
Não comi o pão que o Diabo amassou.
Mas as empadinhas, não resisti.
“De profissão sou téc. Química. Escrever é para mim diversão e uma forma de interagir
com as pessoas, fazer amizades, aprender. Tenho alguns prêmios literários, um conto premia-
do pela Carris, poesia nas janelas dos ônibus e trens de Porto Alegre e haicai selecionado em
concurso da UFRGS. Todos estão também em livros. Adoro minicontos e além de publicá-los
no meu blog MINICONTANDO, sou editora da REVISTA VEREDAS e tenho oficina de mini-
contos. Além disso, sou colunista do site SORTIMENTOS.COM e coordenadora do Movimen-
to Internacional Poetrix no RS.”
Minicontando: http://minicontosanamello.blogspot.com/
Revista Veredas: http://www.veredas.art.br/
Sortimentos.com: http://www.sortimentos.com/gente/ana_mello-080707.htm
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Teoria Literária
enchendo lingüística
na samizdat
Volmar Camargo Junior
v.camargo.junior@gmail.com
“ O conto se
constrói para
fazer aparecer
artificialmente algo
que estava oculto.
Reproduz a busca
sempre renovada de
uma experiência única
que nos permita ver, sob
© Eduardo Grossman
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secreta é a chave da forma za e simplicidade a história deliberada de Scharlach. O
do conto e suas variantes. secreta e narra sigilosamente mesmo ocorre com Acevedo
6. A versão moderna do a história visível até transfor- Bandeira em “El Muerto”; com
conto que vem de Tche- má-la em algo enigmático e Nolan em “Tema del Traidor
cov, Katherine Mansfield, obscuro. Essa inversão funda y del Héroe”; com Emma
Sherwood Anderson, o Joyce o “kafkiano”.A história do Zunz.Borges (como Poe,
de “Dublinenses”, abandona suicídio no argumento de como Kafka) sabia transfor-
o final surpreendente e a Tchecov seria narrada por mar em argumento os pro-
estrutura fechada; trabalha Kafka em primeiro plano e blemas da forma de narrar.
a tensão entre as duas histó- com toda naturalidade. O 11. O conto se constrói
rias sem nunca resolvê-las. terrível estaria centrado na para fazer aparecer artificial-
A história secreta conta-se partida, narrada de um modo mente algo que estava oculto.
de um modo cada vez mais elíptico e ameaçador. Reproduz a busca sempre
elusivo. O conto clássico à 9. Para Borges a história renovada de uma experiência
Poe contava uma história 1 é um gênero e a história única que nos permita ver,
anunciando que havia outra; 2 sempre a mesma. Para sob a superfície opaca da
o conto moderno conta duas atenuar ou dissimular a vida, uma verdade secreta.
histórias como se fossem monotonia essencial dessa “A visão instantânea que nos
uma só.A teoria do iceberg história secreta, Borges re- faz descobrir o desconhecido,
de Hemingway é a primeira corre às variantes narrativas não numa longínqua terra
síntese desse processo de que os gêneros lhe oferecem. incógnita, mas no próprio
transformação: o mais im- Todos os contos de Borges coração do imediato”, dizia
portante nunca se conta. A são construídos com esse Rimbaud.Essa iluminação
história secreta se constrói procedimento.A história visí- profana se transformou na
com o não dito, com o su- vel, o jogo no caso de Tche- forma do conto.
bentendido e a alusão. cov, seria contada por Borges
7. “O Grande Rio dos Dois segundo os estereótipos (leve-
mente parodiados) de uma Ricardo Piglia é escritor ar-
Corações”, um dos textos gentino, autor de, entre outros,
fundamentais de Hemingway, tradição ou de um gênero.
Uma partida num arma- “Respiração Artificial” (Ilumi-
cifra a tal ponto a história 2 nuras) e “Dinheiro Queimado
(os efeitos da guerra em Nick zém, na planície entrerriana,
contada por um velho solda- (Companhia das Letras). O
Adams) que o conto parece texto acima foi publicado ori-
a descrição trivial de uma do da cavalaria de Urquiza,
amigo de Hilario Ascasubi. ginalmente em “O Laboratório
excursão de pesca. Hemin- do Escritor” (Iluminuras).
gway utiliza toda sua perícia A narração do suicídio seria
na narração hermética da uma história construída com
história secreta. Usa com tal a duplicidade e a condensa-
Tradução de Josely Vianna
maestria a arte da elipse que ção da vida de um homem
Baptista
consegue com que se note a numa cena ou ato único que
define seu destino. (http://www.portrasdas-
ausência da outra história.O
letras.com.br/pdtl2/sub.
que Hemingway faria com o 10. A variante fundamen-
php?op=literatura/docs/como-
episódio de Tchecov? Nar- tal que Borges introduziu
fazer )
rar com detalhes precisos a na história do conto consis-
partida e o ambiente onde tiu em fazer da construção
se desenrola o jogo e técnica cifrada da história 2 o tema
utilizada pelo jogador para principal.Borges narra as
apostar e o tipo de bebida manobras de alguém que
que toma. Não dizer nunca constrói perversamente uma
que esse homem vai se suici- trama secreta com os mate-
dar, mas escrever o conto se riais de uma história visível.
o leitor já soubesse disso. Em “La Muerte y la Brújula”, a
8. Kafka conta com clare- história 2 é uma construção
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Crônica
SÓ os POBRES
MERECEM BALAS-
PERDIDAS
Henry Alfred Bugalho
henrybugalho@gmail.com
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76
76
Crônica
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Crônica
CONTADORA DE
HISTÓRIAS
Giselle Sato
gisellesato@superig.com.br
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Momentos pessoais e
vivências. Ser imparcial na
criação do poema é cabo de
guerra entre razão e sensibi-
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Poesia
SONETO DA BOA
MORTE
Carlos Alberto Barros
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Amargonia
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Para sempre, te amar por toda eternidade.
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Poesia
LABORATÓRIO POÉTICO iV
VADIAGEM
Poetrix TRISTE PROBLEMA MENSAL
Volmar Camargo Junior
v.camargo.junior@gmail.com
MONÓLOGO
É manhã. Irrompeu fúria, rasgou vestidos, “abre aspas
É dia. Derrubou pratos, quebrou mobília Tenho dito.
E daí? Hormônios da mãe, hormônios da filha. fecha aspas”
MODERAÇÃO MITO
“Cu”, tudo bem. O que é, não sei.
“Merda”, também. Nunca vi, nem senti.
“Amor”, eu hein?
Mas existe.
Entranhas. Goza.
RAPOSA UNIÃO
Era uma vez uma raposa Sol e chuva, casamento de viúva
Conheceu um raposo Chuva e sol, casamento de espanhol
E acabou o conto de fadas. Arco-íris, não tem casamento?
Tudo
constrói
O mundo aqui.
O mundo lá, levanta-se
Para ver o que aqui acontece.
Aqui nada acontece há tanto tempo
que era melhor mesmo que o outro mundo
viesse para cá e terminasse com tudo de uma vez.
Manda chamar o outro mundo que esse aqui já deu!
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Poesia
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Alian Moroz
http://forumdelinha.blogspot.com/
Marcia Szajnbok
http://marcia-poeticamente.blogspot.com/
Pedro Faria
http://civilizadoselvagem.blogspot.com/
Revista SAMIZDAT
www.samizdat-pt.blogspot.com
Sven Geier
http://www.sgeier.net/fractals/
Referências:
Enchendo Lingüística na SAMIZDAT
http://www.portrasdasletras.com.br/pdtl2/sub.php?op=literatura/docs/comofazer
Flickr
http://www.flickr.com/
Pequenas Coisas
www.samizdat-pt.blogspot.com 87
http://www.carversite.com/story.html
http://pt.wikipedia.org/wiki/Raymond_Clevie_Carver%2C_Jr.
Tabacaria
http://www.insite.com.br/art/pessoa/ficcoes/acampos/456.html
http://omj.no.sapo.pt/bio2.htm
http://www.colegiosaofrancisco.com.br/alfa/fernando-pessoa/carta-adolfo.php
http://pt.wikipedia.org/wiki/Fernando_Pessoa
http://pt.wikipedia.org/wiki/%C3%81lvaro_de_Campos
Wikipédia
http://www.wikipedia.org/
http://www.labnews.co.uk/cms_images/Image/March_2/318239_4385web.gif
SAMIZDAT
SOBRE OS AUT
ORES DA
SAMIZDAT
Alian Moroz
SOBRE OS AUTORES DA Formado em Matemática pela
SAMIZDAT
UFPR,lecionou durante 20 anos. For-
mado ainda pela Faculdade de Belas
Artes do Paraná em Licenciatura em
Desenho,trabalhou junto a Estúdios de pro-
paganda e no setor editorial. Historiador e
Filósofo amador, venceu em 2006 o Prèmio
‘Destaque cultural’ promovido pela secre-
taria de Cultura de Curitiba com o livro ‘
Desvendando a História e os mitos Bíblicos’.
SOBRE Lançou em 2007 a primeira edição de ‘ O Manuscrito XXXII’,
seu primeiro
OS AU romance , pela Editora Corifeu. Poeta e músico nas horas vagas,
têm como
TORES
principais influências,Umberto Eco e Luis Fernando Veríssimo.
SAMIZ DA alian.moroz@hotmail.com
Carlos Alb
Paulistano
ta de s d e s e m p
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DAT
erto Barro
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e, artista
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nordestino
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s-
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89
Giselle Sato
Giselle se autodefine apenas como uma contadora de his-
tórias carioca. Estudou Belas Artes e foi comissária de bordo
— cargo em que não fez muita arte, esperamos. Adora viajar
(felizmente!) e fala alguns idiomas.
Atualmente se diverte com a literatura, participando de
concursos e escrevendo para diversos sites pela net. Gosta de
retratar a realidade, dedicando-se a textos fortes que chegam
a chocar pelos detalhes, funcionando como um eficiente pa-
norama da sociedade em que vivemos, principalmente daquilo que é
comumente jogado
para baixo do tapete pelos veículos de comunicação.
gisellesato@superig.com.br
http://www.trilhasdaimensidao.prosaeverso.net/
Guilherme Rodrigues
Estudante Letras na
Universidade do Sagrado
Coração, em Bauru, onde
sempre morou. Nutre
grande paixão por Línguas,
Literatura e Lingüística,
áreas em que se dedica
cada vez mais.
o
Henry Alfred Bugalh
a pela UFPR, com
É formado em Filosofi ra e
pecialista em Literatu
ênfase em Estética. Es as
atro romances e de du
História. Autor de qu
.
coletâneas de contos
Nova York, com sua
Mora, atualmente, em
sua cachorrinha.
esposa Denise e Bia,
.com
henrybugalho@gmail
www.maosdevaca.com
Joaquim Bispo
Ex-técnico de televisão,
xadrezista e pintor amador,
licenciado recente em His-
tória da Arte, experimenta
agora o prazer da escrita,
em Lisboa.
Marcia Szajnbok
Médica formada pela Facul-
dade de Medicina da Univer-
sidade de São Paulo, trabalha
como psiquiatra e psicanalista.
Apaixonada por literatura e lín-
guas estrangeiras, lê sempre que
pode e brinca de escrever de vez Pedro Faria
em quando. Paulistana convicta, Estuda Matemática na Univer-
lo.
vive desde sempre em São Pau sidade Estadual do Rio de Janeiro,
músico amador e escritor quando
marciasz@hotmail.com dá na telha. Nascido e criado no
Rio.
punksterbass@hotmail.com
http://civilizadoselvagem.blogspot.com/
Volmar Camargo Ju
nior é gaúcho. Form
em Letras pela Unive ado
rsidade de Cruz Alta,
leciona por sua próp nã o
ria vontade. Entrou na
em 2004, e desde en ECT
tão já morou em meia
de “Pereirópolis” pelo dúzia
Rio Grande. Atualm
vive com a esposa Na en te
tascha em Canela, na
Gaúcha. Dividem o ap Serra
artamento com Marie,
uma gata voluntario
sa e cínica.
v.camargo.junior@gm
http://recantodasletra ail.com
s.uol.com.br/autores/v
cj
Zulmar Lopes -
ca. Formado em jorna
Zulmar Lopes é cario tra ba lh a
de Gama Filho,
lismo pela Universida ciana e
prensa. Alma provin
como assessor de im en-
contra-se provisoriam
coração suburbano, en irro
olita Copacabana, ba
te exilado na cosmop sit ua ções
personagens e
fonte de inspiração de fu gir
ntos. Escreve para
que compõem seus co
do marasmo.www.samizdat-pt.blogspot.com 91
Também nesta edição,
textos de