A leitura interpretativa de Frei Luís de Sousa não pode esquecer a actuante presença
do Sebastianismo e o que este mito do “ ”Desejado”” significava na concepção de
Portugal: uma nação à procura da sua identidade, assombrada por mitos do passado.
A possibilidade teórica do regresso de D. Sebastião é simbolicamente representada na
peça pelo regresso de D. João de Portugal, na figura do Romeiro. As personagens que
melhor simbolizam a esperança no seu regresso são Telmo e Maria.
Ao longo da peça, são várias as referências expressas à mítica figura de D. Sebastião
que, segundo Garrett, inserem esta obra “ (...) no rico intertexto e interdiscurso literário
e cultural do Sebastianismo (...)” (Memória ao Conservatório Real):
Podemos, então concluir que o mito do Encoberto assume uma conotação negativa
em Frei Luís de Sousa, sendo perspectivado como sinal de paragem no tempo, de
estagnação e de sacrifício do herói na catástrofe final: Maria de Noronha representa o
sacrifício necessário para expiar os fantasmas do passado e definir o futuro do país.
Com o regresso de D. João de Portugal na figura do Romeiro, o rumo da história
altera-se e precipita-se o aniquilamento da harmonia da família de Manuel de Sousa
Coutinho e de D. Madalena e a morte de Maria. D. João é o anti-herói, o anti-mito, cuja
simples presença provoca destruição. De facto, há nesta obra uma concepção
destruidora deste regresso, já que não conduz à redenção ou salvação, mas origina
catástrofe e desgraça. Garrett parece sugerir que o Passado saudosista e a sua
passividade prejudicam a dinâmica do Presente, impedindo a regeneração activa do
país.