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2007:19:3:384-392
Key Words: Mechanical ventilation, Spontaneous bre- avaliação de sua duração, dos diferentes modos e pro-
athing test, Tracheostomy, Weaning tocolos e do prognóstico. Por esse motivo, é importan-
te a definição precisa dos termos, como se segue7,8:
INTRODUÇÃO
Desmame
Retirar o paciente da ventilação mecânica pode ser O termo desmame refere-se ao processo de transição
mais difícil que mantê-lo. O processo de retirada do da ventilação artificial para a espontânea nos pacien-
suporte ventilatório ocupa ao redor de 40% do tempo tes que permanecem em ventilação mecânica invasiva
total de ventilação mecânica1,2. Alguns autores descre- por tempo superior a 24h.
vem o desmame como a “área da penumbra da tera-
pia intensiva” e que, mesmo em mãos especializadas, Interrupção da Ventilação Mecânica
pode ser considerada uma mistura de arte e ciência3. O termo interrupção da ventilação mecânica refere-se
Apesar disso, a literatura tem demonstrado, mais re- aos pacientes que toleraram um teste de respiração
centemente, que protocolos de identificação sistemá- espontânea e que podem ou não ser elegível para ex-
tica de pacientes em condições de interrupção da ven- tubação.
tilação mecânica podem reduzir significativamente sua O teste de respiração espontânea (método de interrup-
duração4,5. Por outro lado, a busca por índices fisiológi- ção da ventilação mecânica) é a técnica mais simples,
cos capazes de predizer, acurada e reprodutivelmente, estando entre as mais eficazes para o desmame. É rea
o sucesso do desmame ventilatório ainda não chegou lizado permitindo-se que o paciente ventile esponta-
a resultados satisfatórios6. neamente através do tubo traqueal, conectado a uma
Para que esses novos conceitos fossem mais bem in- peça em forma de “T”, com fonte enriquecida de oxi-
corporados na prática das unidades de terapia intensi- gênio, ou recebendo pressão positiva contínua nas vias
va brasileiras, o capítulo que trata do desmame venti- aéreas (CPAP) de 5 cmH2O, ou ventilação com pressão
latório foi atualizado no presente Consenso. de suporte (PSV) de até 7 cmH2O.
Uma vez bem sucedido o teste de respiração espon- ventilatória, o processo estará concluído com sucesso.
tânea, outros fatores deverão ser considerados an- Se neste período necessitarem do retorno à ventilação
tes de se proceder a extubação, tais como o nível de mecânica serão considerados como insucesso27-29.
consciência, o grau de colaboração do paciente e sua
capacidade de eliminar secreções respiratórias, entre Critérios de Interrupção (Fracasso) do Teste de
outros, que serão discutidos a seguir. Respiração Espontânea (Tabela 1)
Como Fazer o Teste de Respiração Espontânea Tabela 1 - Parâmetros Clínicos e Funcionais para Interromper o
Teste de Respiração Espontânea
Demonstrou-se que um teste de respiração espontâ-
Parâmetros Sinais de intolerância ao teste
nea com duração de 30 min a duas horas foi útil para
Freqüência respiratória > 35 ipm
selecionar os pacientes prontos para extubação4,15-20.
Saturação arterial de O2 < 90%
Esses mesmos estudos mostraram taxa de re-intuba- Freqüência cardíaca > 140 bpm
ção em torno de 15% a 19% nos pacientes extubados. Pressão arterial sistólica > 180 mmHg ou < 90 mmHg
A desconexão da ventilação mecânica deve ser reali- Sinais e sintomas Agitação, sudorese, alteração do
zada oferecendo oxigênio suplementar a fim de man- nível de consciência
ter taxas de saturação de oxigênio no sangue arterial ipm = inspirações por minuto; bpm = batimentos por minuto
(SaO2) acima de 90%. A suplementação de oxigênio
deve ser feita com uma FIO2 até 0,4, não devendo ser Conduta no Paciente que não Passou no Teste de
aumentada durante o processo de desconexão. Outros Respiração Espontânea
modos podem ser tentados para o teste de respiração (A) Repouso da Musculatura
espontânea, como a ventilação com pressão positiva Recomendação: Os pacientes que falharam no teste
intermitente bifásica (BIPAP – biphasic positive airway inicial deverão retornar à ventilação mecânica e per-
pressure) e a ventilação proporcional assistida (PAV - manecer por 24h em modo ventilatório que ofereça
proportional assist ventilation). Estes modos tiveram conforto, expresso por avaliação clínica. Neste perío-
resultados iguais ao do tubo-T e PSV no teste de res- do serão reavaliadas e tratadas as possíveis causas de
piração espontânea21-23. Recentemente, uma compa- intolerância.
ração entre a compensação automática do tubo (ATC Grau de Evidência: A
– automatic tube compensation) associada ao CPAP Comentário: O principal distúrbio fisiológico existente
versus CPAP isolado mostrou-se favorável ao primei- na insuficiência respiratória parece ser o desequilíbrio
ro durante o teste de respiração espontânea. Houve entre a carga imposta ao sistema respiratório e a habi-
maior identificação de pacientes extubados com su- lidade em responder a essa demanda. Existem várias
cesso com o ATC (82% versus 65%)24. Protocolos evidências para se aguardar 24h antes de nova tenta-
computadorizados de desmame, presentes em alguns tiva de desmame, para que haja recuperação funcional
ventiladores, demonstraram abreviação do tempo de do sistema respiratório e de outras causas que possam
ventilação mecânica em número reduzido de ensaios ter levado à fadiga muscular respiratória, como o uso
clínicos aleatórios e devem ser observados em novos de sedativos, alterações eletrolíticas, entre outras. Nos
estudos25,26. pacientes que desenvolvem fadiga muscular, a recu-
Os pacientes em desmame devem ser monitorados de peração não ocorre em menor período. A aplicação do
forma contínua quanto às variáveis clínicas, às altera- teste de respiração espontânea com tubo-T duas ve-
ções na troca gasosa e às variáveis hemodinâmicas zes ao dia não foi benéfica em relação à sua aplicação
(Tabela 1). uma vez ao dia16.
A avaliação contínua e próxima é fundamental para
identificar precocemente sinais de intolerância e me- (B) Nova Tentativa após 24 Horas
canismos de falência respiratória. Caso os pacientes Recomendação: Admitindo que o paciente permane-
apresentem algum sinal de intolerância, o teste será ça elegível e que as causas de intolerância foram revis-
suspenso e haverá o retorno às condições ventilató- tas, novo teste de respiração espontânea deverá ser
rias prévias. Aqueles pacientes que não apresentarem realizado após 24h.
sinais de intolerância deverão ser avaliados quanto Grau de Evidência: A
à extubação e observados (monitorados) por 48h na Comentário: Há evidências de que a realização diária
UTI. Se, após 48 horas, permanecerem com autonomia de teste de respiração espontânea abrevia o tempo de
em pós-operatório de cirurgia cardíaca, nos quais o Metanálise publicada em 1998 deixou claro que não
tempo médio de intubação traqueal foi de 12h42. existia, até então, uma definição quanto ao momento
Uma boa higiene de vias aéreas superiores, visando à mais adequado para indicar a traqueostomia, uma vez
prevenção de aspiração das secreções que se pode acu- que os estudos eram discordantes, alguns não eram
mular na traquéia, acima do balonete, deve ser realizada. aleatórios na escolha dos pacientes e nenhum era
duplamente encoberto49. Entretanto, recentemente,
Cuidados Gerais Pré-Extubação estudo aleatório, envolvendo pacientes que presumi-
Recomendação: Antes de proceder a extubação, a velmente permaneceriam intubados por mais que 14
cabeceira do paciente deve ser elevada, mantendo-se dias (pacientes com doença neurológica de progres-
uma angulação entre 30º e 45º. Também é indicado que são lenta ou irreversível e/ou doença de via aérea su-
se aspire a via aérea antes de extubá-lo. perior), mostrou benefício em termos de mortalidade,
Grau de Evidência: D incidência de pneumonia, tempo de internação em UTI
Comentário: O acúmulo de secreção e a incapaci- e tempo de ventilação mecânica nos pacientes sub-
dade de eliminá-la através da tosse são fatores que metidos à traqueostomia precoce (nas primeiras 48h
contribuem de maneira importante para o insucesso da de intubação traqueal)50. Cabe salientar, entretanto,
extubação traqueal, mesmo após um teste de respira- que este trabalho não deixou claro quais foram os cri-
ção espontânea bem sucedido43,44. Nos pacientes que térios sugestivos de maior tempo de intubação traque-
apresentaram alguma dificuldade no procedimento de al e necessidade de ventilação mecânica. Também é
intubação traqueal ou que tenham importantes fatores importante enfatizar que, mantendo boas práticas em
de risco para complicações obstrutivas após extuba- relação à insuflação do balonete, o tubo traqueal pode
ção, pode-se optar por assegurar a via aérea pérvia, ser mantido por tempo superior a três semanas sem
mantendo-se um trocador de cânula endotraqueal em lesão laríngea ou traqueal.
posição por algumas horas, até que se tenha maior se-
gurança quanto ao sucesso da extubação45. OUTROS ASPECTOS ASSOCIADOS À INTERRUP-
Aspirar as vias aéreas antes da extubação tem como ÇÃO DA VENTILAÇÃO MECÂNICA E AO DESMAME
objetivos diminuir a quantidade de secreção nas vias VENTILATÓRIO
aéreas baixas e retirar a secreção que se acumula aci-
ma do balonete da cânula traqueal, evitando a sua as- Vários aspectos relacionados à qualidade da assis-
piração para os pulmões. A elevação da cabeceira visa, tência ao paciente com insuficiência respiratória têm
por sua vez, a diminuir a probabilidade do paciente efeito direto na eficiência e efetividade do desmame.
aspirar o conteúdo gástrico. Dessa forma pretende-se Alguns itens foram abordados nos demais capítulos do
diminuir as possibilidades de infecção respiratória46. Consenso. Seguem algumas recomendações especí-
ficas dos processos de desmame e de interrupção da
TRAQUEOSTOMIA ventilação mecânica.
Recomendação: A traqueostomia precoce (até 48h do
início da ventilação mecânica) em pacientes com previ- Dispositivos Trocadores de Calor
são de permanecer por mais de 14 dias em ventilação Recomendação: Deve-se estar atento à possível con-
mecânica reduzem a mortalidade, a pneumonia asso- tribuição negativa dos trocadores de calor nos pacien-
ciada à ventilação mecânica, os tempos de internação tes com falência de desmame.
em UTI e de ventilação mecânica. Grau de Evidência: A
Grau de Evidência: B Comentário: Os umidificadores trocadores de calor
Comentário: Durante muito tempo não foi possível vêm progressivamente substituindo os aquecedores
definir o papel da traqueostomia no desmame venti- dos ventiladores. Dois estudos aleatórios compararam
latório e o momento certo de realizá-la. Não há uma o efeito destes dispositivos sobre parâmetros fisiológi-
regra geral em relação ao tempo que se deve realizar cos respiratórios. Os pacientes em uso de trocadores
a traqueostomia e este procedimento deve ser indivi- de calor apresentaram significativo aumento de volu-
dualizado. Embora haja alguma divergência de resulta- me-minuto, freqüência respiratória, PaCO2, trabalho da
dos, a traqueostomia diminui a resistência e o trabalho respiração, produto pressão x tempo, pressão esofági-
ventilatório, facilitando o desmame dos pacientes com ca e transdiafragmática, PEEP intrínseco, acidose res-
alterações acentuadas da mecânica respiratória47,48. piratória, além de maior desconforto respiratório51,52.
Os autores concluíram que a presença de dispositi- e facilitar o desmame da ventilação mecânica em pa-
vos trocadores de calor deve ser levada em conta nos cientes com reserva ventilatória limitada. Entretanto, os
pacientes de desmame difícil, especialmente aqueles estudos ainda não têm respaldo para uma recomenda-
com insuficiência ventilatória crônica. ção mais ampla57,58.
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