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Jus Navigandi
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Suspeição de testemunha no processo trabalhista


http://jus.uol.com.br/revista/texto/1255
Publicado em 11/1997
Airton Rocha Nóbrega

Têm-se admitido no âmbito do processo trabalhista que pessoas com reclamações ajuizadas
contra a empresa demandada por um outro empregado venham a figurar na condição de testemunhas,
depondo, não raro, acerca de fatos que, sem sombra de dúvida, as favorecerão na demanda de seu
interesse.
Alega-se, para rejeitar eventuais contraditas formuladas, que o fato de estar a testemunha
exercitando, em outro processo, o seu direito de ação, como garantia constitucional, não se constituiria
em fator impeditivo à sua inclusão, em feito de interesse de outro empregado, como testemunha.
Mas efetivamente poderá uma pessoa nessa condição depor com isenção acerca de fatos
respeitantes à postulação deduzida por outro ex-empregado? O exercício inquestionável do seu direito
de ação - que não se busca afetar quando se formula a contradita - lhe retira do espírito a
animosidade contra a empresa demandada? Não possui ele, nessa situação, o desejo de ver a
empresa submetida a mais uma condenação perante a Justiça Obreira?
Tais indagações precisam ser examinadas com maior cuidado de modo a evitar-se o que se
tem verificado comumente no âmbito da Justiça do Trabalho, onde pessoas que tenham sido demitidas
pela empresa, se revezam nos diversos processos, ora na condição de parte, ora na condição de
testemunha, trocando favores uns aos outros e levando à Justiça informações que não se coadunam
com a realidade fática.
Merece uma profunda reflexão a questão ora apontada, pois o fato de contraditar-se uma
pessoa nessa condição não significa de modo algum que se pretenda obstaculizar o exercício do seu
direito constitucional de ação - até porque a formulação da contradita não interferirá na demanda de
interesse da testemunha - mas sim visa a por em destaque o fato da existência de um litígio entre ela e
a empresa. Busca-se, portanto, evitar que, em decorrência do seu próprio litígio, venha a prestar
depoimento viciado, na maioria das vezes comprometido pelo desejo de mostrar que a empresa errou
não só em relação ao seu próprio caso, mas também em relação àquele outro no qual passa a figurar
como testemunha.
Sem condições de aceitabilidade, portanto, é o depoimento de pessoa que detendo reclamação
trabalhista contra a empresa - que se equipara à condição de inimigo capital da parte - vem a ser
arrolado como testemunha em outro ou outros feitos proposto contra o mesmo empregador.

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Nesse sentido, aliás, é o entendimento que se observa em arestos reiterados, bem


representados pelos acórdãos que vão a seguir transcritos:
"4324. Litigância contra o reclamado. O depoimento de testemunha contraditada, sob o

argumento de litigar contra o mesmo reclamado, deve ser tomado com reservas, já que, não raro,

reclamante e testemunhas são colegas de trabalho e esta detém clara evidência de não prejudicar a

pretensão inicial, pois, apesar de a jurisprudência não acolher a contradita sob esse fundamento,

há, na prática, uma tendência ao favoritismo por parte da testemunha. Recurso provido. Ac. TRT

10ª Reg. 3ª T (Ac. 0400/94), Rel Juiz Francisco Leocádio, DJ/DF 15/07/94, Jornal Trabalhista, Ano

XII, nº 533, p. 1129."

"4322. Testemunha. Suspeição. A testemunha que litiga com a mesma empresa em outro

processo não tem a isenção que deverá ter ao testemunhar, considerando-se que tem interesse no

desfecho da demanda em que vai depor, podendo, inclusive, daí, obter benefícios. O depoimento de

tal testemunha só poderia ser requerido a título de mera informação, o que não ocorreu no

presente caso. Embargos acolhidos. Ac. TST SDI (E RR 12195/90.8), Rel. Min. Afonso Celso, DJU

03/12/93, p. 26500."

("
Dicionário de Decisões Trabalhistas " - B. Calheiros Bomfim, Silvério dos Santos e Cristina
Kaway Stamato - 25ª edição - Rio de Janeiro: Edições Trabalhistas, 1995 - pág. 740). (Grifou-se).

"2313. Acolhimento de contradita de testemunhas, que têm em curso ação contra a mesma

reclamada e com o mesmo objetivo. Inocorrência. Interesse evidente. Suspeição destas

caracterizada. Não ocorre cerceamento de defesa quando o juiz acolhe a contradita de testemunhas,

se estas, perquiridas a respeito, declaram ter ação em curso contra a mesma reclamada e com o

mesmo objeto, pois, em casos que tais, flagrante o seu interesse no sucesso da demanda, o que

lhes acarreta a suspeição para depor, consoante a previsão contida no inciso IV do art. 405, do

CPC. Ac. TRT 15ª Reg. 5ª T (Ac. 7.288/95), Rel. Juiz Sotero da Silva, DO/SP 22/05/95, Jornal

Trabalhista, Ano XII, ny 568, p. 814."

("
Dicionário de Decisões Trabalhistas " - B. Calheiros Bomfim, Silvério dos Santos e Cristina
Kaway Stamato - 26ª edição - Rio de Janeiro: Edições Trabalhistas, 1995 - pág. 426). . Grifou-se

Nestes termos, não se pode admitir como totalmente isento o testemunho prestado por pessoa
que, como a própria parte, mantém-se em litígio contra a mesma empresa e pretendendo, em regra, a
condenação destas em idênticas vantagens.
É completamente equivocado, assim, maxima data venia, entender-se que tal contradita,
formulada tempestiva e oportunamente pela parte, visa a impedir ou a afetar de algum modo o direito
constitucional de ação da pessoa arrolada como testemunha em processo diverso daquele em que ela
deduz a sua pretensão.
Em tais circunstâncias, forçoso reconhecer-se que a testemunha por maior que seja o seu
desejo de narrar fatos com isenção de ânimos e de modo imparcial, jamais poderá deixar

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completamente de lado e olvidar o seu próprio pedido, até porque se assim o fizer e narrar fatos que se
mostrem contrários à sua pretensão, a estará negando e inviabilizando o seu acolhimento.
Outro aspecto de suma importância que não vem sendo considerado, alude ao fato de, em
geral, tais pessoas terem o seu contrato de trabalho rescindido por iniciativa da empresa que,
rejeitando-as profissionalmente, adotam a postura de simplesmente dispensá-las, acarretando, em
conseqüência, a perda do emprego quase sempre necessário à própria subsistência. Ora, numa
situação como esta, poderá admitir-se total e completa isenção de ânimos do trabalhador rejeitado pela
empresa contra quem demanda? .
Óbvio que não

A ficção jurídica criada de modo inexplicável e em prejuízo das próprias instituições jurídicas
não pode e não deve se sobrepor e se distanciar do aspecto humano, pena de ver-se afetado e
questionado o conteúdo da decisão que, baseada em prova colhida nesses moldes, apenas contribuirá
para um desprestígio e desrespeito da nobre e indispensável função judicante.
Ante tais considerações, e sendo arrolada no processo trabalhista pessoa que mantém contra a
mesma empresa demanda judicial, forçoso reconhecer-se a sua suspeição, já que equiparada estará ao
inimigo capital da parte, nos moldes estatuídos pelo art. 405, § 3º, IV, do Código de Processo Civil.
Em assim sendo, impõe-se uma reavaliação das decisões que, a partir de contraditas
formuladas oportunamente, as inadmitem por entender, de modo equivocado, que acolhê-las significaria
negar o exercício do direito constitucional de ação, .
direito esse que sequer será afetado

Sobre o autor
Airton Rocha Nóbrega
advogado em Brasília (DF), professor da Universidade Católica de Brasília e da Escola Brasileira de
Administração Pública (EBAP/FGV)

Como citar este texto: NBR 6023:2002 ABNT


NÓBREGA, Airton Rocha. Suspeição de testemunha no processo trabalhista. Jus Navigandi, Teresina, ano 2,
n. 21, 19 nov. 1997. Disponível em: <http://jus.uol.com.br/revista/texto/1255>. Acesso em: 25 nov. 2010.

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