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lecacao, Socata & Culosras, x 13, 2000, 141-211 DIALOGOS'SOBRE 0. VIVIDO*:. A GESTAO FLEXIVEL DO CURRICULO PRATICAS E ATITUDES EM CONFRONTO E ANALISE Neste ntimero da Revista de Educagao Sociedade ¢ Culturas, dedica-se 0 Gossiet «Didlogos sobte 0 vivido: ao projecto da Gestao Flexivel do Cutriculo (GEC) Os dados etnogrificos foram recolhidos num encontro organizado pelo Centro de Estudos € Investigaco da Escola Superior de Educacdo de Leitia cooidenado por José Brites Ferzeita, no dia 6 de Outubro de 1999 Nele intervie- ram, como conferencistas convidados, Paulo Abrantes, actual Director Geral do Ensino Basico, e Luisa Alonso, especialista em Teoria do Curriculo Numa mesa redonda pata troca de experiéncias, estiveram presentes professores das t1és escolas que, no distrito de Leitia, no ano lectivo de 1998/99, experimentaram a GFC: EB 2,3 D Dinis, EB 2,3 da Maceira Liz ¢ EB 2,3 da Atouguia da Baleia As interpelagdes ao primeico conferencista seguem sob o titulo de 1° dig- logo ¢ as efectuadas 4 segunda conferencista constituem o 22 diélogo Da troca de experiéncias por parte das escolas presentes na mesa redonda resulta 0 3° didlogo Por fim, os depoimentos conseguidos de encarregados de educacao, que neste caso concreto sio também professores, encerram os tegistos de con- cepcdes sobre esta mudanca educativa em curso, inseridos na 1* parte Seguem-se os comentirios de José Brites Feiteita, que enquadta jeridica- mente a GEC numa reforma educativa mais ampla, no sentido de o péblico menos familiarizado com esta conjuntura pedagégica experimental portuguesa * Organiagio de Ricardo Vieira (Pscola Supesior de Educagio / Instituto Politécnico de Leiria) & Graga Sampaio (Escola Basiea 2, 3 D Dinis} gr¥CACAg SOCIEDADE &! CULIURAS poder entender os diferentes posicionamentos; de Luisa Alonso, para quem tra- duzit em propostas de acco a colaboragdo, a investigagio ¢ a teflexdo em toro da construgio da ideia de integracao de todos os alunos € o desafio que 4 ptoposta de Gestio Flexivel do Curriculo coloca as escolas ¢ aos professo- ses; de Giaga Sampaio, que chama a atencio pata a «radi¢ao centializadora, normativa © piesciitivar dos cuniculos portugueses, concluindo que, spor um lado, os professores apreciam a autonomia; por ovtto, nao aproveitam aquela que ihes é concediday; de Isabel Pereira, que, numa perspectivs psicossociolé- gica, procuta entender as posturas dos sujeitos no Ambito da problematica das maudancas sociais, pessoais ¢ profissionais, e, finalmente, de Ricardo Vieira, que tenta «reduzit- os posicionamentos em face da GFC por parte dos encartegados de educagio que se pronunckam propositadamente para setem lidos e pensa- dos nesta tevista 1" PARTE 1.2 Didlogo Inter pelacdo 4 comunicacao do Director Geral do Ensino Basico, Prof. Doutor Paulo Abrantes Paulo Absantes ~ [ ] A ldgica dos objectives minimos, que andou por ai, pode também trazer resultados desastrosos [ ] Vém depois os apoios aciesci- dos Viu-se que no era 96 para os 5% de alunos As vezes, a logica levava jf & turma inteira Hé que mudar esta légica Ha que encarar o curticulo doutra maneita J4 nao sao sé alguns alunos A légica curricular tem a ver agora com todos os alunos; nfo apenas com alguns [ ] Precisamos de caminhar pot ai ‘Mas nio pode ser bruscamente {1A ideia de identifica: a inovacdo curticular com a elaboracdo de novos programas tem sido um fracasso Nao é ai que esta o problema, verdadeira- mente Quando se fala de programas, ou de cutriculo, nessa perspectiva, esté a falar-se € de cutriculo nacional, mas ha também o cunriculo impiementado, que € filtrado por tantas coisas, ¢ que também nao € ainda, de facto, 0 que os alu- nos aprendem ePUCAGag SOCIEDADE ' CULTURAS [ | Esta ideia da gestio flexivel do curticulo, pelo menos na minha cabeca, € muito mais um caminho que € preciso percoirer para evoluismos na nossa concepgio de curriculo, de desenvolvimento curricular € gest@o do curticulo, do que propriamente uma reforma classica em que, num dado momento, muda tudo € passa tudo a ser doutra maneira Neste sentido, também nao se trata dum projecto experimental no sentido classico em que se chega ao fim @ se pode dizer: «Afinal isto nao dé nada; entao voltamos a fazer como era antiga- mente { ] Claso que temos que ir acompanhando e avaliando e percebendo o que, neste caminho, nao esta realmente a funcionar, que recuos € preciso fazer, que zigue-zagues € preciso fazer, que novas ideias é que surgem, mas tendo um objectivo, uma intengdo, neste nosso percurso [ ] Nés todos somos um pouco apressados O professor tem o problema de trabalhar com os alunos € muitas vezes nao vei 0s efeitos mais importantes do trabalho que fez com eles Com alguns sabemos 0 que se passa mesmo para além da escola, mas isso nao se passa na generalidade dos casos E angustia-nos um povco nao vermos as mudancas mais rapidamente, em um, dois, trés anos Temos que aprender a conviver com isso e perceber que estes processos sto lentos c gracuais Mas eu acho que nds $6 podemos conviver com isso se estivermos perceber para onde & que queremos caminhar € se estivermos a caminhar para 14, embora isso possa demorar [ ] Caso contrario, desmoralizamos Tem que haver uma intengéo: «Eu estou a trabalhar para que daqui a alguns anos haja um outio ambiente ecucativo, uma melhor resposta para os alunos que temos, para que os alunos aprendam mais, de uma maneia mais significativa, etc» Assim, talvez nao desanimemos tao depressa Américo Oliveira - [ ] A questio dos programas, a gestio flexivel, no fundo, também se coloca no ensino superior e eu abritia o debate com uma questio a que chamaria o custiculo que é necessétio intoduzir, 0 curriculo ~ocultor, que eu chamaria até de curiculo subversive { | H4 perto de 20 anos que faziamos, por exemplo, os estigios com material avulso, fabricado pelos estagidtios, comportando tal facto sobrecarges de trabalho e a pulverizacio do processo de ensino-aprendizagem [ | Neste momento em que existem progra mas, em que existem manuais, a minha preocupagio tem a ver com o risco de massificagio € depauperamento do ensino basico, mercé da factura a pagar er¥CSOAg SOCIEDADE ©” Cu1ruRAS para asseguiar o sucesso dos alunos com dificuldades educativas A teflexio que exponho é a seguinte: setia talvez ttl introduzit uma componente de certo modo vanguardista: os professores deveriam aliar-se, auma patte das stas aulas, a um niicleo duro, flexive! e vanguardista de alunos que, de certo modo, puxaria peia maioria ou minotia ou parte dessa classe Porque estamos até numa época de informética, onde muitas vezes os alunos sabem mais que os plofessores, essa gestiio vanguardista do cutriculo talvez fosse uma das manei- tas de puxar e seduzir essa parte dos ahinos de uma turma, por vezes mais amorfa € com maiores dificuldades Brites Ferreira - A minha questo tem a ver um pouco com o titulo deste piojecto [ ] Os nomes das coisas tém o seu significado endo sera que a ges- to flexivel do cunriculo nao poderd sugetir a ideia de que o curriculo existe, esti estabelecido, esta fixado © a margem de autonomia ou matgem de flexibi- lidade coloca-se a0 nivel da prdptia gestio € nao ao nivel da construgo pro- priamente dita do cusrriculo que se considere adequado para determinado tipo de situagdes? Jo3o — Ha duas coisas que me agradam nesta ideia da gestio flexivel do curriculo: uma € que, contatiamente a0 que disse o colega anterior, talvez a gestdio flexivel do curticulo n&o seja pegar no curriculo e geri-lo de forma flexi- vel O curticulo seré feito, sera produzido por quem nao o tem feito até agora, ou seja, por quem dé as aulas A outra coisa que também me agrada é 0 facto de essa construgao dos curriculos it estar infinitamente inacabada Esta até me parece ser a ideia mais importante que esta subjacente gestao flexivel dos cur- ticulos Mas ha que pensar depois na aplicaglo dos cusriculos A longo prazo, temos que depois ver a aplicagio em termos do mercado de tabalho, paia as pessoas que saem dum 9° ano ou dum 12® ou mesmo da universidade, se isso nao seré um bocado restritive por nao ser tio universal E que quando o curti- culo ¢ os programas sio elaborados a nivel nacional é diferente Por um lado ha a questio da flexibiliza¢o, mas também o risco da sedentatizacio dos alunos Jorge $4 - Eu gostava que 0 Doutor Paulo Abrantes, aa sua perspectiva, tentasse mostiat se 4 gestdo do curticulo nfo passari muito mais pela adequa- _o¥eAGdg SOCIEDADE & CULIURAS 30 do proprio curriculo a cada um dos alunos, com as respectivas estratégias ¢ processos de aprendizagem de cada um, muito mais do que gerit os objecti- ‘vos ou os contetidos que eventualmente possam ocorter no dito programa Paulo Abrantes — Responder significa dizer-vos um pouco da minha visio sobre estas questées Nao vou seguir a ordem das perguntas, vou talvez cami- hat das mais gerais para as menos geiais Quanto & questi do que € nacio- nal e do que € decidido pela escola eu acho que nés temos estado a falar da existéncia em Potugal dum cussiculo nacional Noutros paises, como nos EU A ow no Brasil, com outras tadigdes, no hé sequer cusriculo nacional Em Inglaterra hé curriculo nacional ba pouco tempo, porque a tradig2o era no sen- tido de nao havet [ | Quando ele foi introduzido, houve e ainda ha uma quantidade inciivel de protestos por parte das escolas e dos professores. Mas inuitos no imaginavam como € que se poderia viver com um curriculo nacio- nal, da mesma forma que muitos de nds no imaginamos como € que, 20 con- watio, se pode viver sem um curticulo nacional Saber 0 que se passa nos outros paises aluda-nos a relativiza: um pouco as coisas | ] Hé portanto rmui- tas coisas que tém sobretudo a ver com uma tradig&o, com uma historia { J Mas, em Portugal, estamos a falar de serem definidos, a nivel nacional, alguns grandes objectivos do ensino bisico e dos seus ués ciclos, estabele- cenda-se 0 que é que sto as aprendizagens considetadas fundamentais € quais os percursos de aprendizagem que todos os alunos devem viver A administea- ao tem uma orientagdo que pode eventualmente ser revista no futuro porque as coisas esto sempre a evoluir Por exemplo, eu nio compreendo que um aluno faca todo 0 ensino bésico sem ter ao longo desse percurso algumas experiéncias de trabalho labotatorial, no campo do ensino experimental das cigncias Isso é quanto a mim uma lacuna muito grande na sua formagio E, no entanto, isso até acontece com alguns alunos [ ] E quem diz isto diz muitas outras coisas, coisas que nds hoje consideramos fundamentais na formacao duma pessoa E, noutras teas disciplinares, a mesma coisa Eu acho que isso tem, que set estabelecido: quais so, num dado momento, as experiéncias que consideramos fundamental que todos os alunos vivam E isto nao incompati- vel com duas coisas que penso que a escola ¢ os professores devem ter auto- nomia para fazer: a maneira de conseguir chegar a esses grandes objectivos € goVAC4y SOCIEDADE aprendizagens pode ser muitissimo variavel; € s20 os professores que conhe- cem as condigdes concretas que, precisando naturalmente muitas vezes de ajuda mas independentemente das ajudas externas, devem tomar as medidas em relac3o aos seus alunos Por outuo lado, nao € s6 uma questio de estraté- gias Mesmo do ponto de vista dos temas, das metodologias, etc , eu acho que © curriculo deve ser suficientemente aberto pata permitir a incorporagio de elementos de diversidade [ } Como j foi seferido por um interveniente, cu também acho que a questo da flexibilidade tem a ver sobretudo com uma adequac&o aos alunos | ] com uma diferenciagio que € necessitia, © que nao significa pensar s6 em alguns mas pensar em todos No entanto, penso que essa diferenciagdo nao deve ser entendida como 0 encorajamento de um tipo de ensino que a escola promove- tia, excessivamente individualizado, ou individualista, se quiserem [ ] Eu acho que devemos pensar que a nossa escola € também um meio de socializactio das criancas € que o facto de estarem a aprender juntas, muitas vezes durante anos, é muito importante E talvez o aspecto mais forte da vivéncia escolar dos alunos Temos que pensar ndo s6 nas estatégias individuais mas também em estratégias que facam sentido para aquele grupo (1 As vezes ouve-se dizer que os alunos mio gostam da escola Eu nio subescreveria esta alismacdo, pelo menos dita deste modo [ } Tenho encon- tado muitos casos de alunos que num certo sentido gostam muito € que nou- tro sentido nao gostam Mas era preciso qualificarmos isso Dever conhecet ctiancas € jovens que defendem, de uma maneita que até parece por vezes jf préxima dos limites do absurdo, a sua prdpria escola de ctiticas que nos pare- cem dbvias Muitas vezes, os alunos sac os primeiros a ficar aboriecidos por dizerem mal da sua escola Ea mesma coisa se aplica aos professores [ ] Uma vex ouvi um aluino traduzir este sentimento da seguinte forma: «Nao, no, eu gosto muito da minha escola, nao gosto é das aulas. A escola setia uma coisa de que os alunos gostatiam muito mas as aulas é que atrapalhavam [ ] De facto, a escola — escreveu uma vez um autor de uma maneira muito significa- tiva — € pata o aluno a sociedade dos seus amigos, a comunidade dos seus amigos I J A nossa escola é por vezes pouco vatiada Baseada frequentemente no mesmo tipo de aulas [ ] no fundo sempre com o mesmo esquema | ] Por _oUCAag SOCIEDADE 2 CULTURAS vezes faltam tempos € espacos para se fazerem aprendizagens que nao se fazem necessariamente na aula daquela disciplina, naquele momento [ | Por jsso € que na gestio flexivel do curticulo queremos que as escolas incorporem na sua organizacao curricular algumas dreas novas [ } No sentido de estas componentes deverem fazer parte do curriculo [ ] Como os alunos envolve- rem-se em projectos, { ] numa légica diferente de aprender a resolver pioble- mas E uma drea também de estudo acompanhado { } { 1 Vivemos numa €poca em que a quantidade de informacao € tao grande que se torna muito importante a pessoa aprender a lidar com essa quantidade de informago Portanto, precisa de desenvolver certas aptidées que tém a ver com: petceber rapidamente o que é que é importante ¢ 0 que € que no inte- ressa muito naquele momento [ J, numa lista grande de coisas ser capaz de ir directo ao essencial, ou ser capaz de fazer uma sintese original, que nao seja 96 repetir [ ] ‘A pergunta que eu coloco é esta: entfo € a escola nao deve incorporar isso explicitamente como um objecto de ensino e apendizagem? Eu acho que sim! [ 1 E isto nao é fazer nenhuma guerra as disciplinas tradicionais, como é evi- dente Quando os alunos tém que pesquisar, fazer trabalhos, isso é sobre alguma coisa; tem que haver contetido: nao se trabalha sobre nada. { ] £, no fundo, introduzir uma dimensao que a escola sempre teve mas que muitas vezes est num segundo plano, est4 mais implicita do que explicita [ ] Neste sentido, nao me parece incompativel haver um nivel de decisio nacional e 0 tal proceso de construgio do curriculo com uma margem de manobra para as escolas € os proptios professores { ] Também nao podemos identificar este projecto apenas com alguns alu- nos. E para todos os alunos 2.2 Didlogo Interpelacao a comunicacio da Prof.* Doutora Luisa Alonso Luisa Alonso — Intitulei a minha comunicagao «A construgao partilhada do cutticulo na escola Nao utilizo o conceito de gestao flexivel do curriculo ja go¥Orbig sociepape & curiuras que ele se encontta subsumido nesta ideia de consttucio partilhada do cuni- culo na escola O Professor Paulo Abrantes j4 fez o levantamento de alguns problemas educativos ¢ curriculares que ha muito tempo afligem as nossas escolas € dos quais as comunidades educativas, felizmente, vao tomando cada vez mais consciéneia Depois de enumerat alguns deles que me parecem mais significativos, procurarei ver que alternativas poderemos encontrar como forma de os ultapassar [ ] [ 1 £ nas escolas que temos de encontrar alternativas para estes problemas; ( ] estimalar, sustentar ¢ favorecer essa mudanca que é uma das fungdes do Ministétio da Educacio, Claro que a mudanca nao é feita pelo Ministério Quem a faz sao os professores, com os pais, com as comunidades educativas € com os préprias alunos, que também sao agentes de mudanga [ ] Apesar da diversidade de escola pata escola, de aluno para aluno, de sala para sala, ainda continuamos a pensar muito com a ideia de uniformidade Ainda que assim nio pensemos, nas nossas prétices, acabamos por fazer um tipo de intervengo muito baseada em tratar por igual aquilo que é diferente [_] Por outro lado, continua a persistir uma visio da aprendizagem como acu- mulagao passiva € linear de conhecimenios, mais centrada na quantidade de aqqisigdes do que na qualidade da compreensio [ ] Se nos centrarmos, por exemplo, nas experiéncias de aprendizagem que proporciona o Estudo Acompanhado, a questio € como elas se 1elacionam com as experiéncias realizadas na aula de Ciéncias da Natureza, com as activi- dades da Area de Projecto ou com as realizadas numa festividade como pode set o Carnaval Tem que haver um projecto que articule, que dé um significado a tudo 0 que 0 aluno faz na escola, de maneisa que nio sejam actividades escolhidas 20 asbitrio ou por interesse apenas de um professor mas que dé sentido ¢ contri- bua para que os alunos se transformem em cidadios ctiticos, paiticipativos, activos, etc Claro que isto implica a necessidade de clarificar este projecto curricular através de processos de teflexiio ¢ discussdo conjunta, © que chamamos o tra- balho colaborativo, de forma a oferecet aos alunos um curriculo mais inte- grado, mais significativo e adequado &s suas necessidades Se dizemos que 0 curriculo tem que ser constiuido na escola, isto exige fundamentalmente trés gp0F Cho SOCIEDADE & CULIURAS tipos de atitudes por parte daqueles que so responsaveis pela construgao do curticulo: a colaboracao, a reflexdo € a investigacao [ J Temos que entender a escola como uma espécie de aprendizagem da democtacia Neste projecto curricular, a educacio para a cidadania € uma importante componente Mas no pode ficar s6 entregue ao director de tuzma, a educagiio pata a cidadania aprende-se em todos os momentos da vida na escola[ | Temos também que tomar a aprendizagem significativa € funcional [ Que toda a aprendizagem se sustente naquilo que 0 aluno jf sabe € naquilo que ele jé experienciou Quando a aprendizagem é assim significativa, tomna-se funcional, ajuda a resolver problemas, ajuda a aprender outras coisas, a fazer transferéncias, ajuda a aplicar {J £ mais importante 0 como aprender do que o qué, embora o qué seja imprescindivel para 0 como Pot isso, quando se diz que os contetidos no sic importantes, mas sim os processos, isto nao cotresponde a realidade da apren- dizagem, pois, ambos, conteiidos € processos, tm que set vistos conjanta- mente © que, sim, € preciso ampliat € 0 conceito de contetidos com que se tabalha na escola, muito centado no dominio dos conhecimentos, sem ligaco aos procedimentos ¢ 3s atitudes e valores Ha algo que € fundamental neste projecto € de que se fala pouco As pes~ soas esto, por vezes, mais preocupadas com as quesides organizacionais: fize- tos os hordtios assim, tantas horas para o estudo acompanhado, tantas horas para a matemdtica, tantos professores que trabalham na atea de projecto inter- disciplina,, etc E claro que estas questées organizacionais sustentam © p1o- jecto Se nio cuidamos a organizacdo, evidentemente que 0 curticulo nao fun- ciona Mas, o mais importante nao é a organizagio A organizacio esté ao set- vigo de um projecto, no é uma finalidade em si mesma [| A ideia central da flexibilidade cunicular é que os alunos desenvolvam todas as suas potencialidades, todas as suas capacidades, enquanto individuos € cidadios, na escola Para isso hd que enconuar # melhor osganizagao, os melhores métodos, os melhores processos € os melhores sistemas de avaliac2o, para permitit que todos os alunos tenham éxito na escola, sejam alunos com deficiéncia comprovada, sejam alunos sobyedotados, sejam alunos normais, aqueles que nds chamamos alunos nonmais, sejam alunos com sitmos répidos, evUCACag SOCIEDADE © CULIURAS sejam alunos mais lentos, todos tém que ter 2 possibilidade de desenvolver as suas capacidades nas escola E, para isso, temos que nos organizar de maneira diferente da que nos organizémos no passado Jorge $4 - Ouvi com muita atencao a sua intervencao e jé nio é a primeira vez que © faco, mas, na sua intervencio, nés ouvimos o contetido, mas como é em relacio 20 proceso de chegar aquilo que aos fez ouvir? Como € que vamos realmente inttoduzic esses cuuriculos alternativos com a hierarquia admi- nistrativa que temos, com as dificuldades ao nivel da gestao escolar, com 4 tea- lidade de cada escola? Iuisa Alonso — A questao do como é, de facto, central Mas, também temos que ter muito claro aquilo que queremos ¢ 0 que pretendemos; isso ja é alguma coisa Quanto a questio do como, jé me referi a ela embora muito rapi- damente Para ja, tem que ser sem pressas porque a mudanca é lenta, exige reflexio. {| Fundamentalmente, ditia que hd dois ou ués caminhos. que tém a ver com 0 comegaimos a pensa: juntos: 2 discutit, a dialogar, a seflectit € a planificar em conjunto, coisa que na nossa escola fizemos pouco, a nao ser aquelas reunides para dar notas, etc rata-se de discutir problemas educativos € questées ceniais sobre o que ensinar @ como ajudar a aprender [_] Nao se tuata de dizer que 08 professores sio individualistas Nao A escola é que nio estava organizada para discutir e partilhar questdes curriculares e pedagdgicas Os professores dialogam muito, mas sobretudo no que se relaciona com o comportamento dos alunos € com os problemas de disciplina | ] Mas no se poe em comum 2 maneita como trabalhamos e como podemos articular os nossos objectives © metodologias com as dos outtos, desenvolver um projecto ‘ou um progiama, investigar, avaliar em conjunto, isso é algo que tradicional- mente se fez pouco na escola E esse é um processo fundamental para 2 inova- ao [ Ha outra coisa importante que os professores muitas vezes ndo fazem: registar E preciso registar, pois hi experiéncias pedagégicas interessantissimas, mas que nao estio registadas ¢ acabam por se perder [ ] As vezes poderia- mos perder menos tempo com algumas reuniées que em termos de ciiativi- dade € produtividade deixam muito a desejar go¥CACho SOCIEDADE &! CULTURAS Ricardo Vieira - Gostatia de sublinhar uma ideia da Professora Luisa Alonso, que de alguma forma ja anterionmente deu resposta a pergunta do colega $4 Acho que ha que considerar, em primeiro lugar, uma filosofia, uma nova filosofia, pelo menos do ponto de vista de ser legitimada pelo Estado £ que, de facto, essa filosofia de que a nossa universalidade tem que conter a diversidade como normalidade jé existia E, na diversidade estao nao s6 os alu- nos com dificuldades de aprendizagem, os shandicapés., mas estio também todos os diferentes estilos cognitivos de aprender 2 matematica, histéria, filoso- fia ou outra matéria qualquer Esta matéria foi, de resto, bem frisada peta Professora Luisa Alonso Agora, outro assunto é 0 processo de implementar essa filosofia nas préticas dos nossos quotidianos, que € chamada a organiza- cio A organizagio esta efectivamente ao servigo de um projecio E disso, quem sabe sois vés Nao tenho diividas que as pessoas que estio no terreno como professores tém muitas sugest0es € alternativas 4 gestto e administracao tradicionais Ha experiéncias siquissimas nas diferentes escolas, nenhuma igual a outra, que hoje & tarde vamos de certo poder ouvir |], com as quais se aprender, no paca copiat, para fazer igualmente de maneira igual, mas antes ‘para ctiat, para nos inspirat e podermos depois adequat a0 nosso préprio con- texto, & nossa pr6ptia escola 3° Didlogo A Gestio Flexivel do Curriculo — Que Vivéncias? Troca de experiéncias das Escolas B 2,3 D. Dinis, B 2,3 Atouguia da Baleia e B 2,3 Maceira Liz Escola EB 2/3 D. Dinis — Leiria Rositio Selada - Estou aqui pot estar ligada ao Projecto nao por vivencia, mas por estar no Conselho Pedagégico quando se tomou a decisto de adetir- mos 20 Projecto da Gestdo Flexivel do Cuniculo (GFC) A nossa entiada niio foi pacifica ao nivel do todo da Escola, mas 40 nivel do Conselho Pedagégico (CP) Consideramos que algo néo ia bem, que haveria de se fazer mudanga porgue os alunos na sua diversidade nto saiam com as competéncias consideradas gph Gag sociepape & cueruras bisicas Fomos convidados pela Escola da Maceira para estarmos presentes num Forum em que se debateram questies que se nos vinkam a pér hé algum tempo, especialmente ao nivel do 2° ciclo - estavam a dar-nos horas especificas para pormos os meninos a estudar, isto para falaimos em termos praticas; esta- vam a dar-nos horas pata concretizaimos o Piojecto Interdisciplinas, antiga Avea-Escola, que tanto ralhdvamos porque nao tinkamos horas para tabalhar; estavam a dat-nos uma hora para os alunos estarem com o Director de Turma, hora pela qual tanto anstivamos Estavam a dar-nos tudo isto sem que os alu- nos passassem mais horas na Fscola em actividades cuniculares Perante esta oferta tao grandiosa 0 CP ponderou durante virios dias (embora sem muito tempo pois estavamos no final do ano lectivo) e decidiu aceitar 0 que ha tanto andava a pedir E evidente que nio é facil a mudanga; numa Escola com cento € tal professotes, tantos alunos ¢ tanta diversidade de maneiras de estar e de pensai, no se consegue © consenso Mas tentémos, uns mais empenhada- mente, outtos menos Quando chegimos ao final do ano lectivo ~ e um ano é muito pouco para avaliarmos uma mudanca desta envergadura - 0 CP uma vez mais decidiu avangar ~ como podiamos recuar numa situacio na qual acredité- vamos? As coisas ainda nio esto bem, mas, pelo menos, estamos num cami- aho diferente no qual alguns estio a procurat melhorar alguma coisa E preciso que essas pessoas se unam pata combaterem aqueles mais atreigados aquelas piiticas de «muito igual do mesmo, como nos APA(S) (Apoio Pedagégico Acrescida) Muitos de nds ainda nao temos o habito de trabalhatmos em con- junto, nao discutimos os contetidos, nao planificamos para aquele conjunto de alunos daquela tusma Tem de se partir pata uma forma mais activa de waba- that, em que 2s pessoas participem activamente, se encontiem para conjugarem esforgos para Ultapassar as diffculdades daqueles alunos daquela turma Penso, porém, que nao é legitimo dizer tudo isto sem por em causa outra, coisa: na nossa Escola nfo temos nem um espacinho para nos enconiratmos € tabalharmos exn conjunta Este ano reduzimos quatro tumas € conseguimos uma vez pot semana uma hora sem aullas, deixando espaco para nos reunitmos — 0 que € muito pouco! Mas 0 que é preciso é «mudar as nossas cebecass, especialmente as mais fechadas € mais asteigadas a0 que sempre fizetam muito individuaimente, de modo a que possamos construit aquilo que de manha se esteve a falar

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