• Espanta-Pardais era um boneco humilde que vivia no meio da seara. • Tinha dois grandes braços sempre abertos à espera que alguém os fechasse com amizade, um casaco cheio de remendinhos de todas as cores, um cachecol muito comprido e um chapéu preto com uma flor lá no alto. Tinha o sonho de poder caminhar pela Estrada-Larga. Às vezes, era o Vento e a Dona-Lua-de-cara-redondinha que lhe davam notícias do mundo. • Um dia, o Espanta-Pardais cansou-se de estar ali sozinho, parado, de braços abertos. Certo dia apareceu a Maria Primavera que lhe disse que tinha vindo da Estrada-Larga. O Espanta- Pardais estremeceu e ficou curioso sobre o que seria a Estrada-Larga e pediu à Maria Primavera para lhe contar tudo o que sabia sobre aquela estrada. • A Maria Primavera descreveu tudo o que estava relacionado com a Estrada-Larga. Mas a preocupação da Maria Primavera era de como ele poderia caminhar só com uma perna de pau. • O Pássaro-Verde, que estava no ombro da Maria Primavera foi pedir um ramo seco à Senhora Figueira. Ela ficou muito admirada pelo facto de ele querer mais uma perna, uma vez que não poderia sair dali. A Senhora Figueira lá lhe deu um dos seus ramos. Com a ajuda dos amigos, lá lhe colocaram a perna e ele ficou muito contente, dançou, dançou, sem parar. • Depois de ter caído, levantou-se, despediu-se dos seus amigos e lá foi ele para a Estrada-Larga. • Enquanto caminhavam, falavam, apanhavam flores…. E assim se passaram quarenta dias e quarenta noites. • De repente, sentiu uma tristeza, porque lhe doía o corpo, parecia que o seu sonho era difícil de se concretizar. • Apareceu um menino com asas de abelha que lhe disse que os seus amigos se tinham ido embora e explicou que para chegar à Estrada-Larga, ele teria de fazer algo de útil e belo. Cansado, triste e choroso, acabou por cair e ficou ali imóvel, até que apareceu um pardalito que lhe pediu uma palhinha do seu corpo para fazer o seu ninho. • Passaram os dias e as noites e vieram as estações do ano. Do corpo do Espanta-Pardais nasceram cogumelos dourados e musgo macio. Já ninguém se lembrava dele. Apareceu a Maria Primavera que lhe lembrou que já se tinham conhecido. A Maria Primavera explicou à árvore que ela era a antiga perna do seu amigo Espanta-Pardais. E também lhe disse como se tinha transformado numa bela árvore. Feliz, a árvore abriu os seus ramos à manhã que nascia. De mãos dadas, à sua volta, a Primavera, os pássaros…, cantavam, cheias de contentamento.