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Boi-Bumbá

O ritual original
O ritual era assim: Catarina, que estava grávida, tem desejos. Deseja comer, de acordo
com a folgaça, a língua, o coração, o fígado, um órgão vital do boi mais bonito da
fazenda de seu patrão, (o Amo do Boi).
Com medo de que seu filho nasça com a boca torta, Pai Francisco realiza esse desejo de
Catirina e rouba o boi mais bonito, mata-o e se esconde. Pai Francisco é acusado,
procurado, perseguido e preso pelos vaqueiros. E termina por confessar seu crime.
No ritual, o Amo chama o Dr. veterinário, Dr. curador, Dr. da Cachaça (hoje, o
Pajé indígena, feiticeiro) para trazer o boi de volta. E se consegue reviver o boi.
O crime de Pai Francisco não deixou de existir: o boi está vivo. Seu urro é ouvido com
alegria e todos os participantes cantam, pulam, se confraternizam, porque mais uma vez
o boi venceu a morte. E assim, anos a fio, a brincadeira de Boi-Bumbá vem sendo a
razão de ser de muitos parintinenses.
O ritual do Boi-Bumbá retrata a forte miscigenação: o negro cativo, típico no nodeste e
que teve maior influência nesta brincadeira, revive suas festas, os rituais de sua terra
distante. O índio, também cativo, buscou no boi uma fuga para sua situação, e nessa
brincadeira incorporara suas características. O branco, pela situação de dominante,
entrou na brincadeira de gaiato e era satirizado pelos escravos.

Boi-Bumbá
Os Instrumentos
Os instrumentos antigamente eram bastante simples, de percussão rústica:
palminhas, maracás de lata, 2 caixinhas, 4 zabumbas.
As palminhas, típicas do Boi, são dois pedaços de madeira, batidos um contra o outro
para fazer o ritmo que conduzia os passos da dança.
Atualmente, o a batucada (Garantido) ou Marujada (Caprichoso) do Boi é apoiada por
instrumentos de corda e teclados que acompanham e dão efeito à apresentação da arena.
O uso de teclados, inicialmente um tabu, se mostrou muito importante para a toada na
arena (um exemplo: Mapinguari, do Garantido 97).
O ritmo lento, lembrava o gemido sufocado do negro que padecia no cativeiro sem se
queixar.

Promessas
Antigamente, toda pessoa que colocava um boi fazia-o para pagar uma promessa.
No caso do Caprichoso, os irmãos Roque e Antônio Cid que vieram de Crato,
Ceará, fizeram uma promessa para São João Batista. Ao chegarem em Parintins,
no início do século, por volta de 1910, queriam encontrar trabalho e se fossem bem
sucedidos, colocariam um Boi para homenagear o Santo pelos anos de vida que
tivessem. Unidos a José Furtado Belém, criaram o Boi Caprichoso, em 1913.
O Boi Garantido surgiu da promessa feita também a São João Batista, por
Lindolfo Monteverde, pedindo a cura de uma hemorróida crônica. Atendido, criou
esta agremiação em 1919.
Até hoje as estrelas azul e vermelha resplandecem por todos os festivais, eventos
considerados como "Monstros Sagrados do Folclore Amazonense". Em sua
trajetória, de casa em casa até chegar ao Bumbódromo, os Bois-Bumbás
conquistaram seu espaço e hoje estão se tornando conhecidos nos cenários nacional
e internacional.

Boi-bumbá: origens
A palavra Boi é usada tanto para o animal como para o grupo folclórico inteiro.
Assim, Boi Caprichoso é tanto o boi de pano, que brinca na arena, quanto o
conjunto folclórico inteiro: o boi de pano mais os vaqueiros, os músicos, as figuras,
tribos e alegorias.
Originalmente, os bois eram confeccionados, com caixas de sabão e até de papelão
e cobertos com pano branco, preto, marrom ou estampado. Durante o
mês de junho, o Boi saía com seu Amo, o cantador de versos. No dia de São
Marçal, o boi era jogado dentro da fogueira como homenagem a este Santo e
encerrava-se, assim, a quadra junina.
O Boi de terreiro e o Boi doméstico eram bois simples. O Amo cantava os desafios
ao som de um maracá de lata, por ele mesmo ritmado. Os desafios eram versos que
o Amo tirava ridicularizando o Boi contrário.
Hoje, o Boi é feito de uma estrutura de madeira coberta com espuma e um pano de
cetim.
Dentro dele, o tripa se movimenta, tentando simular os movimentos de um touro
no campo.
O Boi de pano é uma das figuras mais esperadas e aclamadas durante a
apresentação. A entrada do Boi de pano, na arena, tem sobre o torcedor o mesmo
efeito de um gol, durante uma partida de futebol. A primeira entrada do Boi de
pano na arena é sempre elaborada com elementos de surpresa ou de grande beleza.
Momentos como esse, de euforia e emoção coletiva são dos fenômenos mais
notáveis do Festival de Parintins. A própria beleza plástica, visual do espetáculo é
um ingrediente cujo objetivo é levar a esta comoção coletiva. Assistir a uma
apresentação na arena é experimentar descargas de adrenalina.
A festa atual tem elementos muito fortes da catarse buscada nos primeiros tempos
do teatro grego, quando tentava-se libertar as emoções do público através do
espetáculo. É preciso estar em Parintins para crer !

As roupas
O guarda roupa era pobre e inexpressivo. Para se dar início à brincadeira, sempre
houveram reuniões. Escolhia-se o padrinho, local de ensaio, Amo e outros detalhes.
Havia a farra do Boi pelo padrinho. As apresentações concentravam-se no terreiro
dos ensaios até a morte do Boi. Depois, essas apresentações passaram a ser mais
domésticas, isto é, o Boi dançava nas casas e no momento do Auto do Boi, quando
o Pai Francisco, tirava a língua para satisfazer o desejo de Catirina, esta língua era
vendida ao dono da casa e com o dinheiro arrecadado nas portas dos mais
abastados se fazia a festa da matança do boi.
As roupas hoje são principalmente de dois tipos: simples, lembrando o homem da
Amazônia, pescadores e caboclos, ou fantasias representando tribos indígenas.
Rainha do Folclore e Sinhazinha da Fazenda usam roupas mais elaboradas. Os
vestidos são confeccionados com produtos renováveis da natureza, dentre outros.

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