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Fisiologia Cardiovascular
Fisiologia Cardiovascular
Fisiologia
Cardiovascular.
56 - VOL I - FUNDAMENTOS DA CIRCULAÇÃO EXTRACORPÓREA
A aplicação prática da circulação dos eletrólitos, bem como as alterações
extracorpórea, inclui uma série de que apresentam durante a circulação
procedimentos repetitivos que podem extracorpórea.
parecer simples e mecânicos. Não A função adequada dos tecidos do
existe, contudo, uma conduta padro- organismo depende da qualidade da
nizada de perfusão, aplicável à qualquer função celular. Esta, depende de con-
paciente, independente de suas carac- dições ótimas do meio ambiente no qual
terísticas próprias, como idade, peso, as células vivem, o líquido extracelular.
volemia e hematócrito, estado geral, As condições ótimas do meio ambiente
gráu de comprometimento cardiovas- celular, incluem as concentrações de
cular e dos demais sistemas orgânicos, materiais nutritivos, hormônios e
para citar apenas algumas. Ao contrário, dejetos do metabolismo, a tensão dos
os procedimentos são planejados e gases respiratórios e a temperatura. Um
conduzidos, de acordo com as neces- meio ambiente ótimo para a atividade
sidades específicas de cada paciente. celular somente pode ser mantido por
A prática da circulação extracorpórea, um fluxo sanguíneo ininterrupto para
na realidade, consiste na simulação os tecidos, função primordial do sistema
mecânica de princípios da fisiologia do circulatório, no qual o coração serve
ser humano, especialmente os rela- como única fonte de energia para
cionados à circulação, respiração e aos impulsionar o sangue.
balanços hidro-eletrolítico e ácido-base. O organismo humano é percorrido
A circulação extracorpórea determina pela corrente sanguínea, com a fina-
uma fisiologia especial para o organismo lidade de nutrir os seus diversos tecidos.
humano, em virtude das características Essa tarefa é executada pelo conjunto de
da bomba propulsora, das relações entre elementos que constituem o sistema
o sangue e o oxigenador durante as cardiovascular: coração, artérias, veias,
trocas gasosas e das relações entre o capilares e vasos linfáticos.
fluxo arterial e a microcirculação, na A energia utilizada para a circulação
nutrição dos tecidos. do sangue é fornecida pela contração da
A comparação dos fenômenos da massa muscular do coração. Os dois
circulação extracorpórea com os que troncos arteriais que recebem o sangue
ocorrem no organismo intacto, permite impulsionado pelos ventrículos, aorta e
a compreensão da fisiologia do ser artéria pulmonar, se subdividem em
humano durante a perfusão, bem como ramos, à medida que se afastam do
da resposta do organismo à circulação coração. Ao se aproximar dos tecidos
extracorpórea. que vão irrigar, seu calibre está bastante
No presente capítulo, e nos capítulos reduzido. Os ramos de menor calibre,
4 a 7, serão revistos os principais as arteríolas, terminam numa fina rede
aspectos da fisiologia cardiovascular, vascular, composta pelos capilares, que
respiratória, renal, do sangue, da água e irrigam todos os tecidos. Nos pulmões
A BOMBA CARDÍACA
O coração está localizado no interior para o aparelho circulatório, capaz de
do tórax, ocupando uma posição aproxi- impulsionar volumes variados de
madamente central entre os dois pul- sangue,commecanismosautônomosde
mões, no espaço chamado mediastino; controle, capazes de responder à estí-
possui a forma cônica, com a ponta ou mulos de natureza química e física, que
ápice voltada para baixo, para a frente e podem regular o seu débito, de acordo
para a esquerda. A sua base é formada com as necessidades dos tecidos do
pelos dois átrios e pelos grandes vasos. organismo. O coração adulto se contrái
O coração é a bomba propulsora ideal e relaxa 115.000 vezes por dia, impul-
sionando 7.500 litros de sangue pelo
corpo.
O coração é uma bomba muscular
ôca, pulsátil, dividida em quatro câ-
maras. As câmaras superiores são os
átrios e as inferiores são os ventrículos.
Os átrios, de paredes mais finas,
recebem o sangue que flui das veias; são
câmarasreceptorasoucâmarasdeacesso
aos ventrículos. Também bombeiam
fracamente o sangue para auxiliar o
enchimento ventricular. O átrio direito
recebe as veias cava superior e inferior
que trazem o sangue venoso ao coração.
Fig. 3.1. Esquema do interior do coração, mostrando O átrio esquerdo recebe as veias pulmo-
as quatro cavidades cardíacas, os vasos que desem- nares, que trazem o sangue oxigenado
bocam e emergem nas câmaras atriais e ventriculares,
as válvulas e o sentido do fluxo sanguíneo. nos pulmões, para distribuição ao
organismo (Fig. 3.1).
Fig.3.3. A. Gráfico que demonstra o comportamento das pressões intra-ventricular e atrial, durante o ciclo cardíaco.
O ponto A indica o fechamento das válvulas átrio-ventriculares e o ponto B indica o momento da sua abertura. B.
Gráfico que demonstra o compor-tamento das pressões ventricular esquerda e aórtica, durante o ciclo cardíaco.
O ponto A indica o momento da abertura da válvula aórtica e o ponto B, o momento do seu fechamento, que
determina uma incisura na curva da pressão aórtica.
PRESSÃOARTERIAL
Ao se contrair, o ventrículo esquerdo se eleva. A válvula aórtica aberta, permite
aumenta a pressão no seu interior e faz que a pressão gerada no interior do
o sangue fluir com facilidade para a ventrículo esquerdo pela sua contração
aorta. A entrada de sangue na aorta e se transmita para a aorta. No final da
demaisartériasfazcomquesuasparedes sístole, quando o ventrículo esquerdo
se distendam e a pressão no seu interior deixa de ejetar, a válvula aórtica se fecha
CIRCULAÇÃOPERIFÉRICA
E MICROCIRCULAÇÃO
O sistema circulatório é um grande aos tecidos, e destes de volta ao átrios.
sistema fechado constituido por vasos Está dividido em dois circuitos: 1. a
que conduzem o sangue dos ventrículos circulação pulmonar ou pequena circu-
FLUXO E RESISTÊNCIA
O fluxo, seja em um tubo rígido ou da manutenção de uma pressão ade-
num vaso sanguíneo, é o movimento de quada dentro do sistema arterial. A
uma quantidade de fluido entre dois pressão intra-arterial deve ser mantida
pontos, durante um determinado perío- acima de um valor crítico, de 40 a
do de tempo. 60mmHg para permitir a perfusão dos
A distribuição do fluxo de sangue leitos vasculares de órgãos vitais, como
para os leitos vasculares é controlada cérebro, micárdio e rins.
pelas variações do diâmetro das arte- Quando um líquido circula no
ríolas. Esta forma de controle depende interior de um tubo, existe uma força
TROCAS TRANSCAPILARES
A função mais importante do sistema lares. Os esfincteres pré-capilares e as
circulatório, a permuta de nutrientes e metarteríolas se contraem e se relaxam
dejetos celulares, entre o sangue circu- alternadamente, em ciclos de 5 a 10
lante e os tecidos, se processa nos vêzes por minuto. O fator mais impor-
capilares. tante para determinar o gráu de abertura
A organização capilar do organismo e fechamento das metarteríolas e esfin-
na microcirculação favorece as trocas cteres pré-capilares é a concentração de
entre os capilares e as células, havendo oxigênio nos tecidos. Quando a con-
sempre um vaso capilar em proxi- centração de oxigênio é baixa, os
midade à cada célula. A parede capilar esfincteres permanecem abertos mais
apresenta poros ou canalículos que são tempo, aumentando o afluxo de sangue.
atravessados pela maioria dos íons e Quanto maior for a utilização de
moléculas hidrosolúveis. Outras subs- oxigênio pelos tecidos, maior será a
tâncias lipossolúveis atravessam direta- quantidade de sangue que flui pelos
mente a célula endotelial, por dissolução capilares.
na sua membrana, sem atravessar os
poros. A maior parte das trocas, con-
tudo, ocorre pelo fenômeno da difusão.
O plasma sanguíneo trocas substâncias
com o líquido extracelular. Este, troca
as substâncias com as células através a
membrana celular. O plasma, portanto,
regula o meio em que as células vivem,
oferecendo condições mais adequadas
ao seu funcionamento (Fig. 3.8).
A autoregulação do fluxo de sangue
nos capilares é fundamental para as
trocas com os tecidos. O sangue não flui Fig. 3.8. Esquema da difusão de líquidos entre o capilar
num rítmo contínuo através dos capi- sanguíneo, o capilar linfático e o espaço intersticial.
1. A pressão capilar ou pressão hidros- Fig. 3.9. O desenho representa as forças que tendem a
movimentar os líquidos para dentro e para fora dos
tática, que tende a fazer o líquido sair capilares, nas trocas com o líquido intersticial, através
do capilar para o interstício. das membranas capilares.
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