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Revista de Economia Politica, Vol. 1, n° 2, abril-junho/1981 A esfinge do tempo: para onde vai 0 socialismo? * FRANCISCO DE OLIVEIRA ** Deter-me-ei em alguns dos aspectos que considero importantes para o le- vantamento de questées atinentes A economia do socialismo. Nao pretendo, portanto — e é bom que fique claro, desde logo — oferecer para 0 debate algo que pretensiosamente possa ser tomado como uma teoria econédmica do socia- lismo, mesmo porque acredito que no existe essa teoria, Poder-se-ia objetar que, existindo experiéncias concretas socialistas, a teoria j4 se faz possivel — ¢ alguns afirmardo que j4 existe. Nao quero adentrar-me nesse cipoal, nao pelo medo de enredar-me nele, pois de cipoais se sai, quando menos cortando-se © mato. Afirmo, entretanto, que a teoria econémica do socialismo que existe resume-se, para ser curto © grosso, num axioma de que 0 socialismo é wma fase de transigéo, do lado dos que defendem e confirmam o carater socialista das experiéncias nacionais e internacionais j4 existentes. Por ai se vai A explicagio da manutencao do que se chama “resquicios” do modo de produgo capitalista no interior do socialismo: 0 fato de que essas experiéncias no conseguiram, ainda, desbordar os marcos da lei do valor. Para os que pensam na linha de Bettelheim ¢ de. Mandel, esses “resquicios” e a continuidade da vigéncia de certos aspectos da lei do valor nfo sao mais que “desvios” produzidos por uma concentragao do poder nas maos da burocracia que, fazendo as vezes das classes capitalistas, néio pode, por isso, fugir aos limites da lei do valor. Nesta inter- * Este texto serviu de base a um seminério realizado pelo Centro de Estudos “Paulo Emilio Salles Gomes”, em agosto de 1978. Dai sua forma nao académica, que o autor, ao publi célo agora, decidiu manter. Mesmo tendo, com a Polénia de hoje, reforgos ao argumento. .. ** Pesquisador do CEBRAP. 139 Pretagio, os sistemas socialistas nJo passariam na verdade de arremedos de um capitalismo de Estado. E indtil pensar que se pode antecipar “leis econémicas” do socialismo. E; em lugar de ver nisso um fracasso das ciéncias sociais, e principalmente do marxismo, vejo nisso, ao contrério, uma reafirmagio do cardter dialético do marxismo, para ficar nesse campo tedrico. O marxismo, em nio sendo usado comm uma biblia, pode apenas apontar 0 novo surgindo dentro do velho, talvez um velho ¢ surrado modo de dizer; mas no pode erigir conceitualmente aquilo que nao passou ainda pelo crivo do real. Isto 6 0 proceso de constituigao do conceito ndo se pode fazer categorialmente, ¢ requer portanto a existéncia de formas da producao e reproducio da riqueza social diversas das do capitalismo, Para que possa dar conta, entio, do processo de constituicéo do conceito. A tese classica do socialismo a da passagem da propriedade privada dos meios de produgao para a propriedade coletiva dos meios de produgio. Deve-se acrescentar a isso que essa passagem significa “propriedade privada capitalista dos meios de produgéo” para “propriedade coletiva socialista dos meios de producio”. Pode parecer uma mera redundancia, mas é bom lembrar que jé existiu propriedade privada dos meios de produgio que nao era capitalismo, assim como propriedade coletiva dos meios de produgéo que ndo era socialista. Em boa medida, a discussio entre narodniks e marxistas acerca da possibilidade da passagem da Rissia diretamente para o socialismo sem passar pelo capita- lismo residiu nisso: os narodniks defendiam o argumento de que era mais facil a Riissia passar para o socialismo, porque a propriedade coletiva, em sua forma comunal, era uma experiéncia histérica profundamente arraigada; de outro lado, os marxistas, tendo o proprio Marx e o prdprio Engels & frente — com varia- ges em diferentes periodos de suas vidas — negavam essa possibilidade exata- mente pelo fato de que aquela propriedade coletiva ndo surgia do capitalismo, mas era anterior ao mesmo, na Ruissia, e que qualquer socialismo, ao arrancar daquela base, teria que percorrer ou pelo menos realizar 0 que o capitalismo nGo tinha ainda conseguido fazer: através da concentrago da propriedade, ele- var © nivel das forgas produtivas, para somente entéo dar lugar ao socialismo. Nao interessa, talvez, adentrarmo-nos muito no exame dessa polémica, embora acredite eu que seu conhecimento 6 de extrema relevancia e, em certos casos, parece guardar semelhancas formais — assinalo formais — com 0 caso de economias como a brasileira e a maioria daquelas que constituem a cha- mada periferia do capitalismo dos paises centrais. A Historia, essa deusa ironica a rir dos homens, pareceu dar razio as duas correntes: a Ruissia passou para © socialismo antes que qualquer pais ocidental, e no por qualquer crise interna do capitalismo russo incipiente, mas por uma formidavel crise do capitalismo a escala mundial, ¢ 0 socialismo na hoje Unido Soviética teve que pagar pesados tributos ao atraso russo. 140 A discussdo, hoje, embora deva retomar os temas classicos, deve fazé-lo atualizando a problemética. De fato, no h4 mais nenhum recéndito lugar do globo onde 0 modo de producio, na parte capitalista do mundo, nao seja, para usar uma redundancia, movido pelas leis de reproduciio do capitalismo. De certa forma, pois, 0 socialismo tem que atrancar de bases, completas ou maduras, nuns casos, incompletas ou inacabadas noutros, j4 preparadas pelo capitalismo. A propria industrializago dos paises chamados periféricos aponta para a evi- déncia de que, mesmo se subordinados A divisio internacional do trabalho capi- talista, as leis de movimento da reproducio interna sao capitalistas. Com isso quero dizer que o predominante € a produgdo de mercadorias tendo a consti- tuigio da propria forca de trabalho como mercadoria, piv6 do processo de produgao e reprodugo social. Isto nos remete A questo central de que o socia- lismo tem como sua tarefa, se se quiser chegar A constituigiio de um modo de produgdo que nao utilize a forga de trabalho como mercadoria, dissolver o caréter de mercadoria da forca de trabalho. Dirdo alguns ou talvez a maioria que esse € o tema classico, a problematica classica, e que, portanto, nao esta- mos propondo nada de novo, nem sequer atualizando-a, © que ha, portanto, de novo, na velha problemética, e em que consiste sua atualizagéo? O que hd de novo & o capitalismo dos oligopélios. Isto diz tudo. Esmiucemos este novo. Em primeiro lugar, esse novo reitera o velho: isto 6 a extragdo de mais-valia, portanto a forga de trabalho como mercadoria continua sendo a pedra de toque da reprodugio do sistema. Em segundo lugar, porém, neste novo hé algo realmente novo: as formas mediante as quais capi- talismo dos oligopélios consegue uma taxa de lucro que, ancorada pela extragao da mais-valia, reproduz o sistema. O capitalismo dos oligopélios nao forma a taxa de lucro pela concorréncia sirictu sensu, isto 6, pela eliminagéo dos com- petidores que d4 lugar ao processo de concentragao. O capitalismo dos oligo- polios forma sua taxa de lucro ou suas taxas de lucro mediante a utilizagéo da riqueza social como mecanismo inerente para a propria extragdo da mais-valia. E o faz utilizando o estado. Essa utilizagéio do estado nao se dé apenas pelo fendmeno da “estatizacio”, isto é, pela entrada do estado como capitalista no proprio sistema produtivo, embora esse estado, ele mesmo capitalista, seja tam- bém parte integrante do novo. Mas o que hé de novo realmente é que a entrada do estado dé lugar aparicéo do “capital em geral”, que substitui o “capital social total”. Esse “capital em geral” é a riqueza social que se poe como pres- suposto da acumulagéo privada, e, em assim sendo, transforma-se em valor que busca valorizar-se. Isto aponta para 0 fato de que o capitalismo comple- tou-se como sistema de produciio eminentemente social, embora sua apropriagdo mantenha-se privada. O proceso dessa génese ndo é nada ex6geno ao capita- lismo: foi a forma mediante a qual o estado vem tentando evitar as crises que, 141 devido as enormes dimensdes da concentracao de capitais, tenderiam a tornar-se catastr6ficas. Essa simbiose entre extragéo de mais-valia que é sustentada pela priva- tizagdo da riqueza social torna o capitalismo oligopolista absolutamente insus- tentével sem o estado. Nao se pode dizer que isto é velho, se ficarmos a repetir que o estado sempre foi capturado pelas classes dominantes, e, no caso, pela burguesia na mais ampla acepgdo do termo. Mas a forma mediante a qual o estado € hoje néo apenas “propriedade” das classes dominantes, mas é ele mesmo também um capitalista, ou o capitalista par excellence, € completamente nova. E isto nos conduz ao cerne do nosso problema: dissolver o cardter de merca- doria da fora de trabalho passa por dissociar a riqueza social da acumulagio de capital. Este é 0 golpe certo, no lugar certo. A proposta do socialismo, pois, é atacar nos dois pontos: dissolucdo do cardter de mercadoria da forca de trabalho e separacao entre a riqueza social e a acumulagao. Essa simbiose eleva o patamar da luta de classes e muda suas formas, porque muda a produgao das classes e suas relagdes. Nao basta atacar a relaco de classes no interior do sistema produtivo, a relacio no interior da fabrica. Este ataque somente tem dado como resultados a melhoria dos niveis do salério real para os trabalhadores, mas nao destréi a relacdo social de explo- ragdo: porque, ao aumentar-se a participagdo dos trabalhadores por via dos salérios, 0 capitalismo responde agora néo apenas com o chamado progresso técnico, mas sustenta-se na utilizagdo da riqueza social para financiar sua propria acumulagdo. Apartando-se a acumulacio da riqueza social, pods-se chegar ao niicleo da relagdo de classe. Isto € 0 novo. Essa tematica pode ser confundida com a da destruigéo do estado, tam- bém da tradigio marxista, e muitos perguntarao se nao é a mesma tematica colocada sob roupagens novas. S6 para os que nfo querem ver que a repro- dugao do sistema nao se sustenta exclusivamente na extracio da mais-valia, ou, melhor dizendo, que a extragdo da mais-valia viabiliza-se através do financia- mento da acumulagdo pela riqueza social, é que a tematica pode parecer igual. © tema classico da destruigdo do estado assentava-se na premissa de que era preciso fazer isto para destruir 0 sustentéculo da propriedade privada. O tema novo diz que se trata de recuperar a riqueza social e levar as tltimas conse- qiiéncias um sistema que j4 é social na sua reproducio e torné-lo social na apropriagao. Desse ponto de vista, € 0 novo nascendo das entranhas do velho, mas sob novas formas. Isto quer dizer que o socialismo nao tem agora, como tarefa suja, realizar uma acumulagio que o capitalismo nao realizou. Essa acumulagdo © capitalismo jé realizou; trata-se agora de nao realimenté-la, ndo sustenté-la com a riqueza social. Mesmo em paises como o Brasil, poder-se-ia pensar que h4 uma larga tarefa ainda por ser cumprida, e que “deixemos que © capitalismo a exaura”, Basta olhar para ver que, mesmo no Brasil, essa forma 142 que é 0 “capital em geral” j4 € 0 cerne do problema: como é que o capita- lismo avanga sobre a agricultura, sobre a Amaz6nia, por exemplo, sobre o Nordeste? Utilizando parte da riqueza social — os impostos — como pressu- postos da acumulacao privada: incentivos fiscais, crédito a juros negativos, de- dugio fiscal do Imposto de Renda, para fazer 0 processo de concentragéo ¢ centralizagéo dos capitais. Se formos capazes de recuperar a nogéo de mudanca de forma qué cen- tral no marxismo, podemos pensar que a mudanga da forma de utilizacio da riqueza social j4 é um passo importante, mesmo se considerarmos que, em casos como o Brasil, néo apenas o tamanho do excedente nao se equivale aos dos paises capitalistas mais desenvolvidos, como ainda persistem bolsdes em que prevalecem relacdes nao capitalistas de producio. Mas a grande diferenga em relagdo ao “atraso russo” é que essas relagdes formalmente nao capitalistas so produzidas pela re-produgao do capitalismo. Mas o salto para o socialismo aqui nao requer — nem no campo, que é 0 caso extremo — que este faga ou com- plete as “tarefas sujas” da acumulacio e do crescimento das forcas produtivas. Basta pensar que, se mesmo o campo, com todo seu atraso, tem sido capaz de dar conta da alimentagao das cidades, teremos percebido que a mudanga de forma torna-se essencial para que mesmo o campo possa contribuir para a re- produgao da riqueza social sob novas formas de relagdo, sem a necessidade de exproprid-lo. E possivel, pois, instaurar relagdes sociais de cooperaco em lugar da relagdo social de exploracéio. Unindo as duas pontas do dilema, aboligio da sustentacio da acumulagéo privada pela riqueza social no ambito de toda a nacdo, chega-se ao amago da extincéo ou da dissolucéo do caréter fetichista da mercadoria, isto é, da transformagao da fora de trabalho em mercadoria. Mediante o uso da riqueza social pode-se chegar ao Amago do problema da reprodugdo. O fundo publico no capitalismo oligopolista, este “capital em geral”, 6 que pode desfazer o né gérdio da relagio estrutural entre prego da forca de trabalho ¢ taxa e volume da mais-valia no interior dos processos pro dutivos. Em se desfazendo essa relagio quantitativa, a relacio qualitativa, de que a forga de trabalho transfere ao capital seu préprio valor de uso, se esfuma como bolha de ar. Esse fundo piblico é que pode compensar, entre os varios setores propriamente produtivos, as descompensagdes na formacao do exceden- te no dmbito de cada empresa, que necessariamente advirdo da destruigéo da relagio entre preco da forca de trabalho e formagao da mais-valia. Essa dupla determinacio da mudanga — aboligéo da relagéo social de exploragao mais descolamento da riqueza social da acumulacio — remete dire- tamente A questo da gestéo. Esta passa a ser 0 n6. g6rdio, de cuja resolugao dependerd que o socialismo desvie-se para formas burocrdticas ou enverede pelas formas democriticas; de cuja resolugdo depende que o socialismo nio recrie no seu interior um espectro social tio amplo, onde os extremos sio téo pare- 143 cidos com certos paises capitalistas; de cuja resolugdo depende que a formagdo de estratos técnicos nao se transforme numa forma de reiterar 0 nao controle dos trabalhadores diretos e indiretos sobre 0 produto social; de cuja resolugio depende que o socialismo, enfim, nao venha a se parecer com um capitalismo de estado, mais do que com qualquer outra coisa. A questéo da gestio corre por duas vertentes. Em primeiro lugar, pela democracia nas relagdes internas da producéo e nas relagdes externas do con- junto da sociedade; mas nao quero ficar num terreno onde as palavras podem parecer vazias, Essa democracia, e, portanto, no final, a questio da gestéo, requer como seu passo decisivo e fundamental a aboligéo das fronteiras entre o tra- balho manual ¢ o trabalho intelectual. Somente essa abolicdo pode assegurar © maximo de socializagdo possivel, seja no plano da propria produgao, seja especialmente no plano da tomada de decisdes, evitando, portante, o surgimento de estratos especializados que terminam por transformar-se em verdadeiras classes sociais, e que, sob outras formas, reiteram 0 que © capitalismo criou: a sepa- ragdo entre produtores e meios de produgdo. Surgindo no processo da acumula- cdo primitiva como uma necessidade do capital, a separagdo entre produtores e meios de produgao transferiu a virtude técnica do trabalhador direto para os meios de produgio, criando, nesse passo, toda uma gama de trabalhos neces- sérios, cuja fungdo reside em refazer a ponte entre trabalhadores e meios de producao. Isto é, o trabalho de um engenheiro, para tomarmos esse exemplo, reside em projetar uma maquina que assume as anteriores virtudes técnicas do trabalhador. No caso dos paises capitalistas mais avangados, a questio da gestao ba- seada na possibilidade da abolicdo das fronteiras entre o trabalho manual e o trabalho intelectual anuncia-se no apenas como desejavel, mas como possivel. Pois a propria luta de classes, que desemboca numa aplicacio da ciéncia como forca produtiva, tende a reduzir — é apenas uma tendéncia que é negada reite- radamente pelo cardter de apropriacio privada do sistema — as diferencas entre o trabalho manual e o trabalho intelectual. Pense-se, porém, no caso dos paises capitalistas menos adiantados. Ser4 que essa tendéncia jé est inscrita nos processos de producdo? Se nfo quisermos mistificar a técnica, e reconhecé-la apenas no que ela é, relagdo social cristalizada, essa possibilidade também existe: para cada nivel de riqueza social existe um nivel de conhecimento técnico que pode ser socializado; nao o € apenas — e esse apenas é muito — pelo caréter privado da apropriacdo. Desde que a sintese entre abolicio da relagdo social de exploragdo e utilizagio do fundo ptiblico como formas de dissolugéo do fetiche da mercadoria e, portanto, de superaco da lei do valor se transforme na propria relacio social que reproduzird o sistema socialista, 0 caminho estaré aberto para a abolicéo das fronteiras entre trabalho manual e trabalho inte- lectual, e, portanto, para uma gestdo democritica, tornando indissocidvel, por 144 sua vez, 0 bindmio socialismo e democracia. O socialismo, talvez possamos dizé-lo com simplicidade, resume-se tensfo dialética entre propriedade cole- tiva e gestéo democratica. Restaria examinar, ainda que de passagem, dois temas que permeiam qual- quer discusséo sobre o socialismo. A primeira é a cldssica questo da revolugdo proletaria, do carter mesmo da revolucio. O capitalismo dos oligopélios esté a demonstrar que a revolugo que pode desembocar no socialismo, superando © capitalismo como forma socialmente superior, é simultaneamente proletéria e democratica. E proletéria no sentido da abolic¢ao da relacdo social de explo- ragio, e é democrdtica no sentido de que essa aboli¢do somente se fard me- diante 0 deslocamento entre riqueza social e acumulagdo. Isto conduz a questo de que a revolugo ou se fara recortando um amplo espectro de classes sociais, incluindo aquelas que nao séo exploradas diretamente no interior da fabrica, ou entéo o “obreirismo” de certas versdes, que fazem assim mais para home- nagear 0 operariado do que para conceder-lhe participacdo real, tender na verdade a conduzir a classe operdria a uma espécie de ghetto politico do qual sozinha nao saira. A outra questéo cléssica é a da ditadura do proletariado. Eu diria que a ditadura do proletariado é ou foi a contrafacio do processo de concentracdo e centralizaco dos capitais, E que, em sendo assim, é essa propria forma que leva aquilo que sio considerados os “desvios burocréticos” dos siste- mas socialistas existentes, porque o que existe é uma “ditadura sobre o prole- tariado”. Agora existe o fato de que o capitalismo dos oligopélios, a rigor, colo- cando o estado como assegurador das condigdes de reproducao particulares de cada capital, destruiu também a burguesia como classe monolitica e, portanto, seu papel na concentracdo e centralizacéo dos capitais. Nao recriemos aquilo que © capitalismo dos oligopélios jé destruiu. J4 existindo um processo de pro- dugao da riqueza social comandado, travejado pela presenga do estado, toda a questo passa a ser agora nao a de centralizar, pois isto ja esta feito, mas preci- samente, numa palavra, a questio do controle democritico do proprio estado. E esse controle requer o afastamento e a liquidagdo da burguesia, que € agora nao uma classe social auténoma, mas um parasita da riqueza social. Se ela justificou-se alguma vez historicamente, pelo seu papel revolucionario, ela é agora, analogamente a aristocracia que ela liquidou, um parasita sem destino e sem fungiio. 145

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