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eae ANGEL B. ESPINA BARRIO (ED.) TURISMO, CULTURA Y DESARROLLO ANTROPOLOGIA EN CASTILLA Y LEON E IBEROAMERICA, X *"] Diputacién & —_ . - 3 de {gpg INSTITUTO DE INVESTIGACIONES de Salamanca a 4M ANTROPOLOGICAS DE CASTILLAY LEON Pedras Altas, Enseada de Brito: sentidos do naturismo numa comunidade tradicional TELMO PEDRO VIEIRA Marcos AURELIO Da SILVA Universidad Municipal de Sao Jose (Brasil) InrRopu¢do, BALNEAWO DE ProRAS ALIAS, localizado no municipio de Palhoga-SC, é uma das oito praias brasileiras oficialmente destinadas & pratica do naturismo ou nudismo. De aguas mansas, por situar-se no continente frontal 2 Ilha de Santa Catarina, onde esta sediada a capital do Fstado, € a praia palhocense de mais dificil acesso — € preciso enfrentar cinco quilémetros de uma estrada preciria ¢ estreita -, © que contribuiu para sua transformacao em rea de nudismo obrigatorio, que desde entio gera muita polémica na comunidade da Enseada de Brito, distrito ao qual pertence. © nudismo, segundo a Federagio Brasileira de Naturismo (FBrN), tem cer- ca de 300 mil adeptos oficiais no Brasil, sem conlar os ocasionais, divididos em associagdes que adotam praias mais isoladas © também reas de lazer de cidades nao litoraineas, como vem acontecendo no Distrito Federal e estado de Goiis, Santa Catarina é 0 estado brasileiro com 0 maior numero de praias oficiais, trés no total. As duas mais antigas e também de maior frequiéncia de nudistas si0 a praia do Pinho, no municipio de Balnedrio Camboriti, a 80 qui- lémetros de Florian6polis, ¢ a praia da Galheta, na capital, © Pinho abtiga 0 nudismo obrigatério desde 1988 e das wes é a que possui maior infra-est-utura para o turista, Agreste ¢ isolada, a Galheta € local de naturistas desde os anos 70, mas apenas em 1997 uma lei municipal autorizou a pritica, sem torna/ obrigaténia n6 Teumo Pepto. Virita-Marcos Auwéuio pa Suva A terceira praia nudista de Santa Catarina, Pedras Altas, ao contririo das outras duas ¢ de tantas outras praias brasileiras, s6 comecou a ser procurada pelos naturistas com © decreto municipal de 1991. Até envio, 0 local era tido. como um recanto privilegiado para a comunidade da Enseada que tnha ali a tinica praia balnedvel da regiao, O lugar que era espago de retiros e lazer para a comunidade, tornou-se abruptamente uma praia de nudismo, o que desperta até hoje indignacao por parte de alguns moradores, sendo que a questio moral da nudez nao € 0 principal entrave. Entre os contririos, a maioria se ressente pela perda do espaco de lazer sem consulta pelo prefeito da época, O fato de que muitas pessoas se colocaram contririas ao naturismo no local, pela questio cultural de nao aceitar a nudez, ndo pode ser explicado pelo fato da Enseada de Brito ser uma comunidade tadicional e de fore religiosidade. Sao questoes que fazem parte da cultura brasileira, em que ha uma conexao fore entre nudez © sexo, uma heranga da cultura latina ¢ erista, O nudismo em si, como pregam os proprios naturistas, nada possui de obsceno ou por- nogrifico, © que explica que grande parte dessas praias sejam freqtientadas prioritariamente por familias ou easais. Porém, isso nao exclui o fato de muit delas serem procuradas para encontros sexuais furivos ou por voyeirs, que getalmente sio pessoas nio associadas aos grupos naturistas, Sao essas situacdes que revelam os dois lados do naturismo na cultura brasileira que estario no centro deste trabalho. Mais do que apenas mostrar as questoes morais nestes contextos, 0 assunto € uma oportunidade impar de se pensar a questio do corpo e do turismo na cultura brasileira, E premente que, © desenrolar dessa problemitica, se da de acordo com as nogdes de corpo presentes numa determinada cultura e € 0 lugar do corpo na cultura brasileira que estaremos analisindo nas paginas que se seguem, Mas € a questio do turismo, central em toda ess polémica, que nos interessa com grande forca aqui. A regito da Grande Floriandpolis, e Palhoca em particular, viveneia desde 0s anos 80 um desenvolvimento turistico que, além das transformagoes da pai- sagem urbana, tém afctado grandemente a propria paisagem social, com novos comportamentos ¢ velhas tradicdes entrande em contraste € conflito, Um dos exemplos mais polémicos é a chamada Farra do Boi, muito comum no periodo da Quaresma, entre o Carnaval ¢ a Pascoa, em que grupos de farristas correm atras de um boi por ras da comunidade, culminando com sua morte € consumo no final da “brineadeira”. A tradicto, comum desde a Epoca da colonizacio acoriana, comecou a ser uma preocupagio nacional nos anos 80, quando a Capital catarinense comecou a se tornar um destino turfstico importante para o turismo interno. Nos anos 90, quando a regio, além de des- tino turistico torna-se destino para os migrantes internos, vindos principalmente do Sudeste brasileiro e dos outros estados do Sul, 0 que era tradigao torna-se uma problema policial e a farra do boi passa a ser sistematicamente inibida ¢ 0s farristas punidos com prisio. Com © naturismo, temos © inverso: neste caso é a “novidade*, aquilo que representa uma mudanga na tradigao, € que tem gerado polémica. As trés praias naturistas de Santa Catarina sempre foram paleo de muita polémica, principalmente por conta da obrigatoriedade do nudismo, o que afasta os nao Pepeas ALIAS, ENSEADA DE Barro 37 adeptos das praias, uma ver que a presenga de pessoas vestidas pode inibir os naturists. Na praia da Galheta, que nio obriga 2 pritica, a questio tem sido os conflitos entre nudistas € pescadores que utilizam a pritia, jd que os Uiltimos associam © naturismo com promiscuidade. No caso de Pedras Altas, a questio maior dz polémica toda é a utilizaco de uma das tnicas praias bainedveis da regiao de mar fechado de Palhoga pare uso restrito de pessoas de fora da comunidade. ASECTOS METODOLOGICOS © presemte artigo foi coastruido a partir de incursoes sistematicas ao bal- neiirio de Pedras Alias e & comunidade da Enseada de Brito, durante os meses de janeiro, fevereiro € marco de 2007. Individualmente, os dois pesquisadores realizaram observacio participant no local destinado 4 pritics do naturismo, realizando entrevistas com os nudistas. Também foram realizadas visitas nas residéncias de moradores vizinhos a praia, onde se procedeui a realizagio de entrevistas abertas. Realizamos também uma série de pesquisas part entender a quesiao do naturismo no Brasil € mais especificamente na praia de Pedras Alias © TURISMO £4 OCUPACAO DO LITORAL PALHOCENSE Palhoca € um dos mais extensos municipios do litoral catsrinense, com 361 ki’, a 4o quilmetios ao sul Floriandpolis, nas coordenadas geogrificas de 27° 4o' de latitude sul © 48° 38" Ge longitude oeste, Neste territério, vive uma popu- lagdo permanente estimada pelo Instituto Brasileiro de Geogratia Estatistica (IBGE) para o ano de 2006 de 1281 mil habitantes, sendo que 4.828 vivem na zona rural. Na alta temporada ha um acréscimo significativo, chegando a 30% da populacio nas areas balnedrias localizadas no distrito de Enseada de Brito, do qual fazem pa s de Guarda do Embad, Pinheira, Papagaios, do Senho, Pedras Altas, Enseada de Brito, Praia de Fora, do Tomé. da Barra. ‘As primeiras informacoes sobre a ocupagio humana na regiao advém dos sitios arqueol6gicos que indicam ter sido o municipio ocupado por diversos povos indigenas ha milhares de anos, principalmente os guaranis. O povoamento por parte do homem branco ocorreu em seu territorie, inicialmente na irea da freguesia de Enseada de Brito a panir de meados do século XVII (+/— 1653), quando esteve habitando a area Domingos de Brito Peixoto, que a abandonou por problemas, indo se fixar em Laguna. De acordo com Farias (1g8o), foi em 13 de maio de 1750, a fundagao da freguesia de Enseada ce Brito, por casais vindos do arquipélago dos Acores. Portanto a data mais antiga relativa ao municipio de Palhoca € 0 da fundacao de Enseada de Brito. A expansao desta ocupagio se acelerou com as sesmarias doadas na regio no século VXIL Depois deste primeiro period de colonizagio e ocupacio deste que hoje € 0 municipio de Palhoca, tivemos uma segiiéncia ce fatos histéricos € poli- ticos que fizeram de Palhoga uma cidade préspera e considerada um grande 318 ‘Trio PEDRO ViEiRa-Mancos AURELIO DA SILV) polo turistico. Aqui citando 2 evolugio politico-adminstrativa, que vai desde a freguesia que foi criada pela lei provincial de novembro de 1882, portanto no século XIX € passindo a Vila (municipio) em 24 de abril de 1894 pelo Decreto Estadual n°. 184, do governador Anténio Moreira Céstr, tendo sido instalado em 23 de maio de 1894. No ano de 1919, a Vila de Palhoga foi elevada a categoria de cidade através da Lei Estadual n°, 1.245, de 22 de agosto daquele ano. © desenvolvimento ¢ © crescimento da entao cidade de Palhora foi 0 motivo de a mesma ser trans- formada em municipio no ano de 1894, incorporando as freguesias de Palhoga, Santo Amaro do Gubatio © Enseada de Brito Os recursos natural-paisagisticos ¢ histOrico-culturais do municipio so ricos em variedade e beleza. O Parque do Tabuleiro, com seus rios € cachoeiras, malas rativas ¢ fauna diversificada, As praias de areias brancas, tanto de mar manso como de mar aberto atraem milhares de turistas na alta temporada Guarda do Embati, Pinheira, do Sonho, Papagaio (de mar aberto); Perdas Altas (naturismo), Enseada de Brito, Praia de Fora, do Tomé (de mar manso) © principal conjunto arquiteténico-urbantstico do municipio & a sede do distrito de Enseada de Brito, que apresenta a dinica praca com tragado original da época da fixagio dos agorianos, em 1750, em cujo entomno ainda existem diversas construgdes do século XIX. ECONOMIA: © TURISMO COMO OPCAO DE DESENVOLVIMENTO SUSTENTAVEL Ao fazermos uma anilise da evolucao econdmica da regiio de Palhoca por setores econémicos, vamos perceber uma grande mudanga na estruturt da economia regional, que vem migrando de setor primdrio part o setor ter dirio, um reflexo direto da intensa urbanizagdo softida nos tiltimos anos pelo municipio. De acordo com os dados da Secretaria da Indistria, Comércio ¢ Turismo de Palhoga, de 2003, o setor primario da economia, que envolve as ativida- des ligadas a agricultura, pecuaria, extracao vegetal, animal e mineral, que empregava a maior parte da mao de obra especializada de municipio, vem decrescendo em importincia econdmica, com a tedugdo das areas & pessoal envolvidos, tanto em face do desinteresse pelo setor, como devido a criagao do parque da Serra do Tabuleiro que proibiu o uso de terras, que antes eram utilizadas pelos moradores. A pesca artesanal 6 um exemple do fendmeno que ocorre, De importante campo do setor primario da economia, sofreu uma retracto muito forte, seja pela reducao dos pescados ou pelo desestimulo aos que se envolvem com esta atividade, A maricultura se transformou nos dltimos anos em uma das boas altemativas aos pescadores, que passaram a contar com uma fonte de renda segura, Por toda a costa de Palhoca, aqui mais especialmente na Enseada de Brito, esta atividade se tonou bastante importante, embora muitos dos que estao envolvidos nesta atividade nao sejam pescadores, ou nao viviam do mar. Pepras ATA, EXSEADA DE BRITO 319 No setor secundario da economia, que se expance com muita velocidade no municipio de Palhoca, principalmente nestes dois tltimos anos, ocorre 0 paradoxo de gerar muitos empregos, ao mesmo tempo em que responde pelos maiores prejuizos a0 meio ambiente. ‘A regiio da Grande Florianépolis, nao tem sua vocacio voltada para area industrial, apesar do municipio vizinho de Palhoca, $40 José, responder pelo maior parque industrial da regio. Isto tem levado estas cidades a voltarem suas atividades para o setor tercidrie, em que se incluem as resultantes das atividades turisticas. Fsta busca por um setor da economia que leve a um desenvolvimento auto-sustentavel e ao uso equilibrado dos recurses naturais € na promocao do bem-estar coletivo, harmonizando 0 seu uso com a manutengao do equilibrio natural ¢ paisagistio, levou 0 poder puiblico municipal, érga0 responsavel pela mplantacao de politicas publicas, ¢ aqui no caso de desenvolvimento econd- mico, a langar projetos de cunho turistico para © municipio de Palhoca Fstas aces tiveram inicio na década de 70, quando ocorria no munic uma urbanizacdo indiscriminada © agressiva a0 meio ambiente, Muitas distorcoe: € incoeréncias no uso dos recursos naturais € paisagisticos, levaram & quase a extincao de muitas espécies animais e vegetais nativas, bem como a quase destruicao de todo o mangue que margeia o litoral proxime ao centro urbano da cidade de Palhoga. Estas acdes ocorridas durante este periodo nos levam a um diagnéstico mui- 10 triste sobre a realidade ambiental, mas ao mesmo tempo prevoca o poder ptiblico a uma acao mais forte no que tange a politicas ptiblicas turisticas para © municipio. Neste prisma, durante as décadas de 1980 € 1990, surgi no municipio uma sétie de iniciativas com 0 objetivo de implemertar agdes turisticas com uma vertente sustentivel assegurando 9 desenvolvimento das comunidades @ com- patibilizando economia € conservacio ambiental. Dos muitos projetos apresentados e implemeatados, um em especial, cl mou ateneao de toda a comunidade palhocense € da regio, pelo seu cariter inovador e polémico. Tratava-se do projeto de criacao de uma area de nanu- rismo em uma praia do distrito da Enseada de Brito, mais especificamente na localidade de Pedras Altas. ‘Antes de entrimos propriamente dito na questio de Pedras Altas, cabe res- far que uma pélitica de turismo deve ser implantada de forma plancjada. O maior problema dat auséneia do planejamento em localidades turisticas reside no seu crescimento descontrolado, que leva a descaracterizaczo © a perda da originalidade das destinagdes que motiva o Nuxo dos turistas. ¢ o empreendi- mento de acdes isoladas, esporddicas, eleitore:ras ¢ desvinculadas de uma visio ampla do fendmeno turistico. (RUSCHMANN, 1999, p.163) Para que ocoma um turismo sustentavel, como era 0 objetivo do poder ptiblico, todes os subsistemas devem estar conservados, para que aconteca a participacao ¢ aceitacao da comunidade, e necessério que o turismo se desen- no THO PEDRO Vieima-Magoos Auwiuo pa Saya volva de formia uniforme, sem sérias conseqiiéncias localidade © aos autée tones, garantindo a integridade dos recursos para dar continuidade a atividade a longo prazo. Sabemos que um dos objetivos do administrador publico, aqui no caso espe- cifico de Palnoga, a0 implantar acdes e politicas voltadas para o turismo, € a melhora na qualidade de vida dos residents, a geracio de lucro € a rotatividade de dinheiro na propria localidade. Segundo Brito (apud BELTRAO, 2001, p10, “o turismo como atividade produtiva, capaz de movimentar riquezas, arrasta as posiibilidades de melhoria da condigao de vida econdmica-s6cio-cultural das localidades receptoras das correntes turisticas.” © projeto de naturismo na regio da praia de Pedras Altas gers impactos. positivos © negativos, «4 estdo causando impasse, esti sendo dificil avaliar quais esto em maior destaque, se a atividade turistica esti realmente sendo vidvel 40 municipio nas condicdes que vem sendo realizada. O projeto do naturismo na regido da praia de Pedras Altas gera impactos positivos € negativos, j4 que estio causando impasse, sendo que € muito dificil avaliar quais desses fatores estdo reeebendo maior destaque, ou seja, se a atividade turistica estd realmente sendo viével 20 municipio dentro das condigdes que vem sendo realizadas, No caso especifico de Pedras Altas, a proposta do projeto de alteracao do Plano Diretor do municipio, transformando a localidade em area de naturismo. ngo teve © planejamento necessirio para evitar conseqiiéncias desconfortaveis, buscando caminhos seguros e sustentaveis que deveriam ter comegado pela sensibilizacio ¢ conscientizacio da comunidade. Hall (2000) coloca que “esses devem estabelecer uma politica de turismo com diretrizes que dé sustento a preservacao de patriménios natural, cultural € respeite o espaco geografico, hem como a vontide de sua populacao criando uma comuniclade sustentivel.” PEDRAS ALTAS: UM RECANTO PARA CS NATURISTAS Um belo balneario, dividido em duas pequenas praias de aproximadamente 100 metros cada, de aguas calmas ¢ de boa balneabilidade. O nome de Pedras Altas advém de um conjunto de rochas, que se destacam na parte sul da praia, De dificil acesso, a praia faz parte do Parque Estadual da Serra do Tabuleiro. A flora € rica em bromélias, palmitos, figueiras e frutas silvestres. A sua fauna tem com principais animais os quatis, cabritos, aves ¢ raposas. Esti situada a cinco quilémetros ao sul da Vila da Enseada de Brito, centro do distrito, na regio conhecida como Canto 'da Enseada. No ano ce 199, apés muita polémica na Camara de Vereadores © muita discussio, 0 prefeito de enti, Paulo Roberto Vidal, assinou 0 decreto den’. 187/91-A, que “Institui Area de Preservacao Ambiental e da Pratica do Naturismo, sob a forma de concessio exclusiva a Federacao Brasileira de Naturismo”. Até ser transformada em praia de nudismo, a localidade de Pedras Alas nao possuia energia elétrica e era utilizada como recanto para piqueniques, passeios, trilhas ecolégicas, ou ainda como refigio para os pescadores durante trovoadas ou mudangas bruscas do tempo, por possuir uma pequena bafa, pro- Pras Aut, ENSeaba bE Barto 3a tegida por rochas. Sua beleza natural estava praticamente intacta € a protegio do ecossistema da Mata Atlantica gurantida por pertencer ao Parque Estadual da Sera do Tabuleiro ou mesmo pelo dificil acesso ao local OS SENTIDOS DA NUDEZ E DO NATURISMO NA CULTURA BRASILFIRA © naturismo sob © ponto de vista dos seus praticantes € muito mais do que apenas abdicar do uso de roupas em locais especiais, como praias e colnias de férias proprias. Para muitos deles, é também um modo de vida natural ¢ saudivel, preocupado com o meio ambiente, a satide fisica © mental © a alimen- io. Num mundo em que as tecnologias cada vez mais avancam, com 0 risco iminente de catistrofes ambientais, entre outros eventos tipicos da modemidade, © nudismo parece representar uma volta a um passado inocente, em que é possivel um contato mais humano, menos sujeitos as barreiras sociais. Mas € interessante perceber que esta idéia de passado também pode ser utilizada por aqueles que condenam o estilo de vida naturist, porém um pas- sado nao mais romantizado, mas que, ao despir o ser humano de toda a sua *evolucao” 0 coloca no patamar das tribos selvagens. Lembramos ainda que. no Ocidente, © fato de muitos amerindios utilizarem-se de poucas vestes foi tido como um motive para consideri-los como “sem alma”, “nao civilizados". “sem histéria”, “sem moral”, abrindo as portas para o proceso de escravidao massacre de intimeras e numerosas sociedades, do século XV ao século XIX. Durante todo © processo de discussdo para aprovagao do decreto municipal que vansformaria Pedras Altas em recanto naturist, os argementos utilizados pelos dois lados recorriam a Biblia, mais especificamente As passagens do Génesis, no relato de Adio € Eva no paraiso: “tanto 0 homem como a mulher estavam nus € ado se envergonhavam’ (Gén, 2,25), defendiam os naturistas. Ao passo que os contririos emendavam que Adao ¢ Eva nao resistiram a tentacio € peciram: “Abriram-se entio os olhos de ambos ¢ reconheceram que estavam nus; coseram folhas de figueiras e fizeram cinturdes para si" (Gen. 3.7). Essa idéia de Natureza, como uma oposicio 8 vida moderna, é uma atuia- lizacdo da dicotomia entre Natureza/Cultura, caracteristica do Ocidente cristao. em que tudo aquilo considerado “biol6gico” ou que nao seja produto direto da acao humana € considerado do reino da “aatureza”, portanto, fora do controle humano. Rodrigues mostra em seu estudo, Tabu do Corpo, o quanto as culturas humanas consiroem suas nogdes sobre o corpo através de dicotomias entre o que € nojento eo que ¢ deeitdvel, entre o que € sagrado ¢ 0 que € profano. Assim, desenvolvemos virios rituais, geralmente entendidos como priiticas higié- nicas, que demonstram essa preocupacio com uma satitreza essencialmente caética, simbolizada no corpo hemano. Pelos ritos, os homens expressam, afirmam e reafirmam a sua soliéariedade © a sua interdependéncia, expressas em sentimentos, valores ¢ forgas naturais que cles dominam e manipulam simbolicamente, a fim de garantir pela reafir- macao periédica, a ordem ideal do universo: um sistema de pensamento em 322 TaiMo PEDRO VigtRA-MAakcOs AURELIO Da SHXA, que 0 mundo ¢ apresentado como um todo ordenado, em que cada coisa tem ‘© stu lugar. (Rodrigues, 1983:135) Os estudos sobre corpo tém tido, nas tltimas décadas, um grande desen- volvimento, levando a woria para além da dicotomia Natureza/Cultura, Corpo Alma, O corpo, nestes novos paradigmas, *naio & um objeto a ser estudado em relago com a cultura, mas deve ser considerado como o sujeito da cultura, ou em outras palavras, como a base existencial da cultura” (Csordas, 199035), Desta forma, cabe pensar o corpo mio mais como a matéria sobre a qual a cultura se imprime, mas como o resultado da aco da pr6pria cultura, © que se torna vma tarefa nada facil numa cultura dominada pelos paradigmas das ciéncias biol6gicas, em que as dimensoes culturais do corpo humano sao negadas frente a uma fisiologia, cada vez mais determinista (Rodrigues, 1983:129) Mas se observarmos o pantedo de possibilidades de utilizagio dos corpos, nas diferentes culturas humanas, perceberemos que 0 uso que os seres huma- nos fazem de seus corpos nunca € natural, mas sim social. F através desse uso que se imprime uma certa nogao de ser humano, idealizada naquela cultura Nesse sentido, seria um erro, antropologicamente falando, colocar 0 niio uso de roupa como algo que nos remeta a um primitivismo ou um passado inocente. Fazé-lo seria aceitar a maxima de que as roupas tém a mera fungaio de nos proteger das intempéries ou para encobrir as “vergonhas’ © uso de roupas, bem como todas as priticas corporais desenvolvidas numa determinada cultura, no sio resultado de uma natureza, mas de convencoes sociais, como ja afirmava Marcel Mauss (1934), em seu clissico ensaio, As Téc- nicas Corporais. OS movimentos do andar, da forma de posicionar os bracos formam para Mauss uma “idiossincrasia social” € nao o resultado de agencit- mentos € mecanismos individuais psiquicos. Ou seja, nos movimentamos de acordo com um cédigo partilhado, assim como sentimos € nos compontamos coletiva € nao individualmente. Os cotovelos sobre a mesi, nessa acepeio de Mauss, denunciam a procedéncia de uma pessoa. Para ele, trata-se mais do que simples habito, ou exigéncia social, ou costume adquirido. *E preciso ver técnicas ¢ a obra da raz3o pritica coletiva e individual, ali onde de ordinirio véem-se apenas a alma e suas faculdades de repeticlio” (Mauss, 1974:214) Sto portanto, essas priti¢as, ritos que traduzem, para a linguagem do corpo. toda uma linguagem do comportamento social; ritos que imprimem no homem uma espécie de consciéncia visceral do mundo, altamente codificada, estruts- rada, rigorosa © socializada, em que as possibilidades de escolha sao limitadas a minimos parimetros - porque qualquer liberdade é altamente significativa © poe em risco a totalidade do sistema de ordenacio €o mundo, (Rodrigues, a983135) Nesse sentido, ndo € de se estranhar que a nudez cause repulsa € per- plexidade. Por mais que se possa reconhecer uma naturalidade na nudez, essa naturalidade nem sempre € positiva. De acordo com essa “idiossincrasia social” de que nos fala Mauss, a nudez passa a ser uma linguagem desconhecida, per- turbadora da ordem, rao representando apenas a auséncia material das roupas, Pepras Auras, ENSEADA DE BRITO 333 mas de toda uma sorte de cédigos que garantem o lugar do corpo na cultura Despidos de tais codigos, os seres humanos parecem abrir as portas de um mundo castico, de onde as possibilidades de uma sexualidade desenfreada, como sugere 0 imaginario contririo ao naturismo. Esse corpo liberto de cédigos, livre das roupas ¢ do que elas representam € justamente o que buscam os nudistas. © que significa dizer que tanto os praticantes do naturismo quanto os que sio contririos a ele compartilham de uma mesma idéia de nudez, mas no de uma mestna idéia de corpo. Se para uns © corpo desnudo vai remeter As possibilidades de uma sexualidade livre, sem moral, para os naturistas € apenas uma forma de estar mais proximo a uma certa “natureza”. Essa mudanga de paradigmas costuma acompanhar a vida daqueles que aderem a pritica do naturismo © chegam a tornar-se associados e também daqueles que experenciam a nudez publica esporadicamente. Conviver com essa mudanga de cédigos foi a tarefa do casal de professores Anselmo e Célia, de 48 © 42 anos, quando foram convidados a freqiientar uma comunidade naturista, No inicio, acharam a idéia um tanto quanto absurda Casados ha 18 anos, 0 nudismo era algo particular do casal e poderia acontecer no maximo em uma praia deserta, em que estivessem sozinhos absolutamente, experiéncia que viveram na juventude. “Mas estar numa praia ou numa colénia de férias, com dezenas de outras pes- soas sem roupa, sempre foi Uma idéki que me desagradava”, diz ela. “Lim grupo de homens & mulheres sem roupa parece lembrar sucanagem, mas descobrimos que nao € bem assim’, emenda ele. (Anselmo ¢ Célia) Quando um outro casal de amigos, freqiientador de Pedras Altas. fez 0 convite, eles demoraram seis meses para aceitar e, desde 1996, passaram a ser adeptos do naturismo € se associaram logo no inicio. A experiéncia de estar sem roupa € como conquistar a liberdade. S6 mesmo depois disso € que a gente questiona porque € que ha tanto tabu em relacdo a nudez em nossa sociedade. A vergonba de estar nu torna-se ao ridécula, depois de 15 minutos ali, E quando descobrimos que nudez © sexo sio coisas bem diferentes (Célia). Depois da experi¢ncia libertadora, os dois trouxeram seus filhos que na €poca tinham ito e trés anos, O mais velho deixou de freqtientar na adoles @ncia, mas @ mais Novo. hoje com 14 anos, parece ter adericlo o estilo € chega a achar estranho it a praias em que © nudismo ¢ proibido, Anselmo concorda com Célia e © filho, mas entende 0 outro lado, daqueles que negam a nudez como algo pecaminoso ou promiscuo. NOs mesmos tinhambs idéias que 56 depois de virmos aqui € que repensamos. Mas ainda hoje, me deparo com 0 preconceito de muitos amigos, da minha familia. lids, nem todos em nossas familias sabem, Temos certeza que @ reacao o seria totalmente positiva (Anselmo). 34 Trimo Pepro Vieta-Marcos AURELIO 04 SiLva’ Essa ambigiidade em relagao 4 nudez faz com que os ambientes naturistas Tornem-se muitas vezes ambientes de tensao. A certeza de que nem todos comungam das mesmas idéias sobre a nudez, deixa os associados em estado de alerta quando da presenca de pessoas estranhas, Se em alguns destes espacos os homens sclteiros chegam a ser isolados ou mesmo proibidos, as vezes com violencia, de ali permanecerem, 0 uso de cimeris fotogsificas também ni costuma ser bem vindo. Numa de nossas incursdes a0 balneario de Pedras Alias, assistimos a violéncia de um naturista em relacao a um grupo de jovens que portayam uma maquina fotogrifica. Foi preciso que um deles provasse, mostrando as imagens fotografadas, que nao estava retratando o referido ba hista e sua esposa. Mas € mais curioso ainda pensar que outras praticas como © royewrismo nem sempre s40 consideradas como indesejiveis. Na mesma ocasiao em que presenciamos 0 incidente em relago & maquina fotogréfica, observamos a pre~ senga de homens sozinhos que, das pedras que emolduram a praia, espiavam, tranquilamente o referido casal que trocava caricias a beira-mar. Ou seja, se hi os que gostam de olhar, ha os que desejam ser observados, um outro compo- nente que nao podemos descartar desses contexios. O problema do registro fotogrifico, provavelmente era a impossibilidade dos fotografados preverem se seriam utilizadas como pornografia, © que provavelmente aconteceria num espago descontextualizado. A questao do contexto da nudez é importante de se pensar, uma vez que uma mesma imagem do corpo desnudo pode ganhar conotagdes diferentes (Rocrigues, 19852132). Basta penscrmos no corpo nu de uma mulher numa revista masculina ¢ essa mesma imagem numa revista médica. Dessa forma, a cultura brasileira, com suas herangas latinas, cristés e modernas, desenvolveu cdigos rigidos que colocam © corpo humano despido como algo sem controle, como um perigo nao domesticado, que s6 pode ser aceito em certos contextos, como no consultério médico, na intimidade do quarto de dormir, na aldeia indigena, na pornografia ou mesmo em festas como o carnaval AS praias € coldnias naturistas por mais isoladas que sejam, perdem essa condigio de contexto apropriado, pois continuam sendo piblicas ¢ acessiveis a qualquer pessoa, na otica daqueles que sto contratios. Revelam um corpo que, despido das referéncias distintivas. wansforma a normalidade em caos, as cenezas em insegurancas, Gabe lembrar que apenas em oito praias brasileiras é possivel praticar 0 naturismo com sespaldo na lei, mas que, em todas as outras, de um litoral de 9 mil quilometros de extensio, a pritica é proibida e pode ser punida. Em cidades como o Rio de Janeiro, por exemplo, onde € comum a pritica do tep less, no € raro que alguns freqiientadores mais conservadores dessas pr se intimidados e chamem a policia que, baseada numa idéia de “aten- tado ao pudor’, pode impedir a pritica, mesmo que ao haja ali nenhuma obscenidade sintam+ Pepitas AuTAS, ENSEADA be BRITO: 35 A COMUNIDADE DIIDIDA Mas a historia da transformacao de Pedras Altas em um espaco de naturismo ali pode ser pensada apenas como uma polémica que envolve os sentidos da nudez e do naturismo, No caso especifico de Palhoga, um municipio de beleza natural impar, essa questao ganha outros contornos ¢, inevitavelmente, temos a questio do desenvolvimento turistico como 0 pano de fundo de toda essa polémica. O municipio comegou a ser “descoberto” turisticamente nos anos 70, mas apenas nos anos go, do século passado, é que comeca a se moldar uma consciéncia das possibilidades de desenvolvimento da cidade através do turismo. Palhoca, assim como muitos municipios da regido, vivenciou até recente- mente a condigio de ser uma cidade-satélite da capital catarinense. O poder piiblico pouca atencao destinava 2 questo turistica, uma vez que a regio das praias, que é 0 proprio distrito da Enseada de Brito, representava apenas 10% da populacdo do municipio, concentrada em sua maioria na 4rea central de Palhoca. Durante 0s anos 90, algumas estratégias comegaram a cuidar mais da questao turistica, sem cue, no entanto houvesse um planejamento cuidadoso de desenvolvimento sustentivel. Questées como calgamento de ruas € proibicao de lancamento de esgotos nos rios € praias, sto algumas das poucas aces que demonstram a preocupacae com 0 turismo. ‘A transformacao de Pedras Altas em direa de nudismo foi uma dessas poucas estratégias do poder pablico para alavancar o turismo em Palhoga. Num litoral marcado pelas suas populacoes tradicionais, de origem agoriana, a novidade acabou trazendo o lado negativo do turismo, ndo pela questo do nudismo em si, mas pelo faro de ser uma proposta vinda de cima para baixo, sem consulta aos moradores. A situagdo nao € diferente de outros empreendimentos turisti cos que, sob a justificativa de desenvolver a economia, nio ouvem os nativos dessas localidades ¢ implantam os projetos sem consulta, sendo paralisados apenas pela acio da justica. A reaco de alguns membros da comunidade foi tal que ao colhermos os depoimentes sentiamos certa trustragio da populagao nativa, com o prefeito, que acettou a proposta, Outros se sentiam inconformados com a destruigao do meio ambiente no entomo da praia, tendo em vista que os naruristas construiram, mesmo que de forma ristica, uma pousada e um bar. Consequentemente houve um des- matamento naquela area intocada pelos natives, um recanto que sempre que podiam, praticavam seu lazer, num equilibrio homeny/natureza, sem precisar desmatar e agredir 9 meu ambiente. Muitos dos adultos © mesmo as criancas da catequese, que tinham nesta praia © seu espaco de lazer e mesmo de retiros espirituais, ficaram chocadas com a proibigio de no mais poderem entrar na rea, se nao fossem praticantes do naturismo, “Fiquei revoltada, era nosso lugar de passeio, lazer, os pescadores pegavam suis canoas nos domingos € levavam, quem quisesse passar 0 dia la, com as crianeas, uma priia tranqiila, areia fina, ¢ © mar muito limpo”, (Nadir Eugenia Pereira — 39 anos) 326 TeLMO PeDRo Vietea-Mancos AUREL Ds SUNS, Outros moridores se manifestam de forma imparcial, desde que a pritica do naturismo nio afete o seu dia-a-dia. Um morador expressou desta maneira a sua opiniak “Nao sou contra desde que nio mexam com a moral, tudo bem, Depois que botaram a praia de nudismo, no hotel mais os meus pés li, Respeito, mas vou mais ld. Sempre ia pescar naquela praia, agora estd proibido. Entio eu respeito”. (Manoel Gongalves de Souza, 58 anos) Mais proximo da Grea de naturismo, encontramos um grupo de natives que nos relataram de forma positiva a presenea dos naturistas, mas externaram sua decepcao com o prefeito da época, com © qual eles thantinham uma boa relacho. O fato que mais marcou a populagio nativa foi o ato de transformagao da drea, sem ouvir a populagao, sem uma consulta prévia aos moradores €, sobretudo, sem apresentar um projeto de desenvolvimente turistico para regio, ficando caracterizado simplesmente uma aco politica com fins desconhecicios, Este grupo nao demonstrou nenhuma objecio ao fato de o objeto de tans- formacao estar ligado a um turismo diferencindo, aqui, mas especifico, © do turismo naturista Muitos dos moradores do Ganto Sul da Enseada como € conhecida a area, acham que a vinda deste grupo de moradores “turistas”, esté contribuindo em muito para dar sustentacao as reivindicagoes desta comunidade, Um exemplo bem claro € 6 fato de que somente apés a transformagio das areas, € que « comunidade recebeu energia elétrica. Outro fator importante, esta caracterizado nO Pequeno comércio que existe no caminho que di acesso a praia de Pedras Altis. Um exemplo € 0 mini-mereado, “armazém e lanchonete do Ademir” que serve aperitivos de frutos do mar, passou a contar com a presenca dos turistas naturistas que s40 vizinhos, ampliando comércio e fazendo girar mais recursos financeiros no bairro. 4 proprietaria do estabelecimento. comercial, Dona Dilma Maria Elias, 39 anos, relata: “No comeco o pessoal ext contra, pois ext a linica praia ba aqui do canto, que nés tinhamos para tomar banho acampar, no inicio fot aquele transtorno. O pessoal fez diversas manifestagdes ¢ chegaram até a fechar a rua. Tudo isto aconteceu de uma hora pri outra, di noite pro dis. Hoje, hoje eu tenho eles como uma familia minha, amigos meus, s6 que nds nao freqiientamos mais a praia. Bles nos convidam pra irmos lf, mas nds nto vamos. © nosso kado, (comércio) cresceu através deles, vem muita gente de fora. No inicio eles nto deixavam os pescadores entrarem com seu barces, hoje. eles ja podem passar por ali Muitas gente ainda quer tirar a praia deles, porque era nossa” Outro ponto que faz com que parte da comunidade nao tenha rejeigao & © relacionamento com os freqtientadores do lugar. Os naturistas conquistaram ‘0s moradores pelo simples fato de demonstrarem que a pritica do nudismo, nao os transforma em pessoas diferentes. E estes, numa estratégia de conquis- ta da comunidade, passarum a convidar os nativos para visitarem suas casas, Pepras Attas, Enstana be Barto 337 irem almogar com cles, mostrando que eles tém uma vida normal, baseada no respeito, na ordem e na ética, Mostraram que também querem ver a localidace protegida por leis ambientais ¢ preservam a fauna e a flora do local, princi- palmente na construgio de seus espagos de moradias, sempre em harmonia com a natureza, Mas, nem todos comungam desta visio © deste relacionamento, ¢ mantém uma luta pela revogagao do decreto municipal, retornande a drea para uso de todos, sem proibigao. CONCLUSAO. Quando decidimos construire um artigo sobre © balneario de Pedras Altas, nos interessava, em maior medida, pensar a questao da nudez, frente a uma comunidade tradicional, de base cultural agoriana. No campo, porém nos deparamos com a questo turistica, que parecia ser 0 pano de fundo maior de toda polémica. O caso analisado aqui, desta forma, ofereceu-nos a dupla possibilidacle de pensar a quesiao cultural do compo © os conflitos vivenciados pelas populacdes da regiao com © desenvolvimento turistico dos wltimos 30 anos, A regilio da Grande Florianépolis € prenhe de simacdes impares que nos possibilizam pensar © quanto o turismo pode apresertar a dupla face do crescimento econdmico ¢ da falta de planejamento que gera descontentamento © choques de mentalidades. © turismo, como no exemplo estudado por nés, pode se converter numa ‘oportunidade de convivio das diferencas culturais, Mas, muitas vezes, o choque cultural, na Gtica capitalista, € interpretado como entrave ¢ a tradicao entendida como atraso, O caso de Pedras Altas demonstra que, na maior das vezes, é a falta de dilogo, com decisoes tomadas sem consulta popular, que geram esses entraves € que mesmo uma comunidade tradicional pode compreender as diferencas quando elas Ihe sto apresentadas € ndo impostas. BIB'TOGRAFTA Belo. 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