“O homem nasceu livre e em todo lugar encontra-se a ferros. O que se crê senhor
dos demais não é menos escravo do que eles. Como adveio tal mudança? Ignoro-o. Que pode
legitimá-la? Creio poder responder a pergunta” (Contrato Social )
O pano de fundo da obra de Rousseau é a questão natureza ⇔ civilização. A sua
principal pergunta é a seguinte: o progresso da ciência e da técnica (artes) trouxe mais
felicidade para o homem? A resposta de Rousseau será um solene não!
A civilização é vista por Rousseau como responsável pela degeneração das exigências
morais mais profundas da natureza humana... A vida do homem primitivo, ao contrário, seria
feliz porque ele sabe viver de acordo com suas necessidades inatas. Ele é amplamente auto-
suficiente porque constrói sua existência no isolamento das florestas, satisfaz as necessidades
de alimentação e sexo sem maiores dificuldades, e não é atingido pela angústia diante da
doença e da morte, diz um dos seus comentadores. Para Rousseau, o homem primitivo é mais
feliz porque as exigências da sociedade ainda são muito pequenas. No estado civilizado, há
muita exigência, muita rivalidade, ganância e, como o homem não se pode satisfazer, surge a
infelicidade. Deve-se notar que, para Rousseau, há uma distinção entre o primitivo - o bárbaro
- e o civilizado. O estado de natureza é o primitivo.
Outro tema importante:o sentimento é que desvenda a interioridade do homem. Ele
aponta para o sentimento como faculdade infinitamente mais sublime, como verdadeiro
caminho para a penetração na essência da interioridade. A Natureza palpita dentro de cada ser
humano, como íntimo sentimento de vida. É preciso estudar a natureza para “conhecer-se a si
mesmo”.
Rousseau e a Educação
Para Rousseau, seria preciso, primeiro descobrir como o homem deveria ser em seu
estado de natureza original para ajudá-lo a livrar-se de tudo aquilo que, no estado de
civilização, corrompeu a sua natureza. Pois, para ele, a evolução social corrompeu o homem.
Mas, como chegar ao conhecimento deste Estado Natural, primitivo? Outro desafio importante
é saber se neste estado de Natureza reina a desigualdade? Ou se a desigualdade é fruto da
civilização? E em que circunstâncias ela surgiu? Para Rousseau, o homem pode ser
considerado no seu estado de natureza e no estado social.
* homem físico: no estado de natureza é fisicamente mais forte. Todo ser vivo é, pela
sua natureza, fisicamente forte. Os animais, uma vez domesticados, degeneram.
*homem psicológico: o primado da liberdade - isso o distingue do animal. As
faculdades intelectuais superiores nascem das faculdades inferiores. O homem precisa se
comunicar: a língua supõe a sociedade. O estado de natureza caracteriza-se pela suficiência do
instinto, o estado de sociedade pela suficiência da razão.
* homem moral : amoralismo integral - homem não é bom, nem mau, não conhece a
virtude, nem o vício. O primeiro princípio da moral natural é o instinto de conservação de si
mesmo. O segundo princípio natural é a piedade. “Alcança o teu bem, causando o menor mal
possível a outrem” - “Faze a outrem o que queres que te façam”.
- As paixões são mais violentas no estado de natureza, mas, quando satisfeitas,
extinguem-se. Como as paixões elementares se reduzem a três desejos (nutrição, reprodução e
repouso) e um temor (dor): com abundância de alimentos e de mulheres 1 e sem outras
obrigações, o que facilita o repouso, fica fácil satisfazer as paixões.
Conclusão
Rousseau, sem dúvida, nos faz pensar muito sobre o atual estágio da sociedade, com
suas desigualdades, violências, medos, angústias, incertezas, misérias, doenças...
Isso ficou muito claro, para mim, quando eu lia Rousseau, numa manhã de domingo,
enquanto no Estádio do Pacaembu encenava-se uma batalha medieval, no coração de uma das
maiores cidades do mundo, na era da informação, da tecnologia, da telecomunicação...
Sociedade Global, redes, Internet..., mas não se pode comunicar nem com aquele que está ao
lado, sem violência! Naquelas cenas grotescas estava o “homem civilizado”.
Rousseau nos faz pensar ainda na questão da corrupção dos governos e no desvio de
suas funções, enquanto os “representantes do povo” estão ali mais para manter os seus
privilégios e os de seus protegidos (que os financiam) e não a serviço da “vontade
geral”. Nesse caso, temos uma sociedade de senhores e escravos e não de homens livres
e soberanos.
O Pantheon Hoje
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Texto preparado pelo professor João Virgílio Tagliavini
www.virgilio.com.br