Você está na página 1de 1

Me queimei completamente e foi a melhor coisa que fiz na vida.

No dia em que nasci, dizem, que o bercário do hospital pegou fogo. Escapei ilesa, mas a
partir daí minha vida foi uma queimação atrás da outra. Desde pequena, famas eu tenho
todas. Minha reputação, eternamente abalada. Meu nome, sempre entre os mais malfalados.
Se eu tivesse feito 10% das coisas que disseram que fiz, deveria agora estar em tour com os
RollingStones.
Mas não estou reclamando, ao contrário. Encontro-me tão queimada que sou uma das
poucas pessoas que podem fazer o que bem entender. Porque não há nada que eu possa
fazer de errado que já não tenham dito que fiz pior.
E não é nem que eu vá fazer coisas erradas, ou mesmo que eu queira fazer coisas erradas,
apenas não faz mais diferença se as faço ou não. Se eu for até o jornaleiro comprar
figurinhas da Moranguinho, vão dizer que eu estava comprando a G Magazine. Se eu for a
Disneylândia, vão dizer que eu furei filas. Se eu salvar o planeta de uma invasão
extraterrestre, vão dizer que me viram de agarramento com um baixinho verde.
Enfim posso tudo. Posso até começar frases com pronomes, como fiz lá no título. E não
estou sozinha nessa liberdade - todos os queimadíssimos usufruem dela comigo. Madonna
dá tiros em faisões e segue rainha do pop, enquanto o rei Michael se estrepa por ter talvez
pegado um peruzinho. Por isso, sinceramente, agradeço aos maledicentes. Sinto-me um
carro blindado num tiroteio de chumbinho.
E até metáforas cafonas posso fazer.
Fernanda Young

Você também pode gostar