Na dissertação podemos expor, sem combater, idéias de que discordamos ou que nos
são indiferentes.
Mas, se, por ser calvinista, e fizer a respeito desta doutrina uma exposição com o
propósito de influenciar seus ouvintes, de lhes formar a opinião, de convertê-los em
adeptos deste sistema teológico , com o propósito, enfim, de mostrar ou provar as
vantagens, a conveniência, a verdade, em suma, da teologia Calvinista—se assim
proceder, esse professor estará argumentando. (Argumentação).
Em vez de lidar apenas com idéias, princípios ou fatos, vários oradores descambam para
o insulto, xingamento, a ironia, o sarcasmo, enfim, para invectivas de toda ordem, que
constituem o que se costuma chamar de argumento ad hominem (que é o ataque direto
à pessoa, colocando seu caráter em dúvida).
Outros oradores revelam o propósito de expor ao ridículo ou à execração pública os que
se opõem às suas idéias ou princípios, recorrendo assim ao argumento ad populum.
A legítima argumentação, tal como deve ser entendida, não se confunde com o “bate-
boca” estéril ou carregado de animosidade. Ela deve ser, ao contrário, ”construtiva na
sua finalidade, cooperativa em espírito e socialmente útil. Embora seja exato que os
ignorantes discutem pelas razões mais tolas, isto não constitui motivo para que homens
inteligentes se omitam em advogar idéias e projetos que valham a pena. Homens mal-
intencionados discutem por objetivos egoístas ou ignóbeis, mas este fato deve servir de
estímulo aos homens de boa vontade para que se disponham a falar com maior
freqüência e maior desassombro. O ponto de vista que considera a discussão como vazia
de sentido e ausente de senso comum é não só falso, mas também perigoso, sob o ponto
de vista social”(J.R. Whitaker Penteado, op.cit., p. 233).
Jesus demonstra ser Deus (Declaração), porque perdoou pecados, curou enfermos,
andou sobre as águas, leu pensamentos, e ressuscitou. (Razões, provas, evidências)
Mas posso estar errado quanto ás razões (ter recebido o salário do mês), visto ser
possível terem sido outros os motivos (como ter recebido uma herança ou pedido
emprestadoa dois mil cruzeiros para pagar os mil que me devia). Neste caso, houve
apenas uma indução pelo raciocínio, a partir de indícios e não de fatos.
Suponhamos que alguém diz ser: “o castigo físico a melhor maneira de educar a
criança.”
Tipos de evidências:
• fatos;
• exemplos;
• ilustrações;
• dados estatísticos;
• testemunho.
5. Conclusão
Não se pode argumentar com idéias a respeito das quais todos, absolutamente todos, es-
tão de acordo. Quem discutiria a declaração ou proposição de que o homem é mortal ou
um ser vivo? Quem discutiria o valor ou a importância da educação na vida moderna?
Se argumentar é convencer pela evidência, pela apresentação de razões, seria inútil
tentar convencer-nos daquilo de que já estamos… convencidos.
Argumentação implica, assim, antes de mais nada, divergência de opinião. Isto leva
a crer que as questões técnicas fogem à argumentação, desde que os fatos
(experiências, pesquisas) já tenham provado a verdade da tese, doutrina ou
princípio. Fatos não se discutem.
Como se trata de contestar ou refutar, é evidente que a declaração deve ser atribuída a
outrem, através de uma forma verbal do tipo:
“Dizem que (ou Você diz que, Fulano declarou que, muitos acreditam que, é opinião
generalizada que) só o castigo físico, a pancada, educa, só ele é realmente eficaz quando
se deseja corrigir a criança, formar-lhe o caráter…
Neste caso é importante definir o que é predestinação e livre arbítrio. E como estes
termos são utilizados na perspectiva do orador.
Além da definição dos termos, importa que o autor ou orador defina também, logo
de saída, a sua posição de maneira inequívoca, que declare, em suma, o que
pretende provar.
Mas, para dispormos de argumentos favoráveis á nossa tese, convém dosar bem ou
restringir, o número de casos excepcionais. Sem essa cautela, corremos o risco de ser
contraditórios ou de oferecer as melhores razões à parte contrária. Neste caso, nossa
argumentação acaba sendo um tiro pela culatra.
Entretanto, pode não haver, ou é possível que não encontremos, razões para uma
concordância parcial; então, passamos diretamente da proposição à contestação, que é
o….
O autor deve escolher a que melhor se ajuste à natureza da sua tese, a que seja
mais capaz de impressionar o leitor ou ouvinte. Quase sempre, entretanto, ao
contrário do que se faz na refutação, adota-se a ordem gradativa crescente ou
climática, isto é, aquela em que se parte das provas mais frágeis para as mais
fortes, mais irrefutáveis.
Existem ainda outros artifícios de que o argumentador pode servir-se para convencer,
para influenciar o leitor ou ouvinte.
Muitos são comuns também à dissertação: confrontos flagrantes, comparações
adequadas e elucidativas, testemunho autorizado, alusões históricas pertinentes, e até
mesmo anedotas.
Por fim, cabe ainda lembrar dois outros fatores relevantes. O primeiro diz respeito à
conveniência de o autor frisar, nas ocasiões oportunas, os pontos principais da sua tese,
pontos que ele, sem dúvida, englobará na conclusão final, de maneira tanto quanto
possível enfática, se bem que sucintamente. O segundo refere-se à necessidade de se
anteciparem ou se preverem possíveis objeções do opositor ou leitor, para refutá-las a
seu tempo.
Aqui também a forma verbal assume feição típica; quase sempre—já que se trata de
opor aos argumentos favoráveis precedentes, ou à proposição toda, outros, contrários —
o período ou parágrafo, ou o trecho da fala na língua oral, que lhe correspondam, se
iniciam com uma conjunção adversativa ou expressão equivalente:
Fatos:
Os fatos — termo de sentido muito amplo, com que se costuma até mesmo designar
toda a evidência — constituem o elemento mais importante da argumentação em
particular assim como da dissertação ou explanação de idéias em geral.
Temos dito mais de uma vez que só os fatos provam, só eles convencem.
Mas nem todos os fatos são irrefutáveis; seu valor de prova é relativo, sujeitos como
estão à evolução da ciência, da técnica e dos próprios conceitos ou preconceitos de vida:
o que era verdade ontem pode não o ser hoje. De forma que é indispensável levar em
conta essa relatividade para que eles sejam convincentes, funcionem realmente como
prova.
Exemplos:
Ilustrações:
Dados estatísticos:
Dados estatísticos são também fatos, mas fatos específicos. Têm grande valor de
convicção, constituindo quase sempre prova ou evidência incontestável.
Três mil candidatos é, aparentemente, uma cifra respeitável. Mas, quantos foram, no
total, os candidatos? Se foram cerca de 6.000, a percentagem de reprovação, com
que se pretende provar a deficiência do nosso ensino médio, é de 50%, índice real-
mente lastimável. Mas, se foram 30.000 os candidatos? A percentagem de
reprovados passa a ser apenas de 10%, o que não é grave, antes pelo contrário, é sinal de
excelente resultado. Portanto, com os mesmos dados estatísticos, posso chegar a
conclusões opostas.
Testemunho:
Entretanto, sua eficácia é também relativa. Têm-se feito experiências para provar
como o testemunho pode ser falho (refiro-me, evidentemente, ao testemunho “visual”, e
não ao “autorizado”): O mesmo fato presenciado por várias pessoas pode assumir
proporções e versões mais diversas.
Entretanto, apesar das suas falhas ou vícios, o testemunho” continua a merecer fé até
mesmo nos tribunais. Sua presença na argumentação em geral constitui, assim, desde
que fidedigno ou autorizado, valioso elemento de prova.
Ao optar nesta fase argumentativa pela refutação de argumentos, o orador deve observar
alguns critérios que farão esta tarefa ser mais eficiente.
Whitaker Penteado, na sua excelente obra já citada, arrola algumas sugestões para
refutar idéias ou argumentos. Depois de dizer que a maneira de contestar argumentos
depende de fatores pessoais e de circunstâncias várias, o Autor apresenta-nos as se-
guintes sugestões:
Procure refutar o argumento que lhe pareça mais forte. Comece por ele.
Procure atacar os pontos fracos da argumentação contrária.
Utilize a técnica de “redução às últimas conseqüências”, levando os argumentos
contrários ao máximo de sua extensão.
Veja se o opositor apresentou uma evidência adequada ao argumento
empregado.
Escolha uma autoridade que tenha dito exatamente o contrário do que afirma o
seu opositor.
Aceite os fatos, mas demonstre que foram mal empregados. Ataque a fonte na
qual se basearam os argumentos do seu opositor.
Cite outros exemplos semelhantes, que provem exatamente o contrário dos
argumentos que lhe são apresentados pelo opositor.
Demonstre que a citação feita pelo opositor foi deturpada, com a omissão de
palavras ou de toda a sentença que diria o contrário do que quis dizer o opositor.
Analise cuidadosamente os argumentos contrários, dissecando-os para revelar as
falsidades que contêm.”
“Logo (por conseqüência, portanto, de forma que não se devem espancar as crianças…”
“Portanto, não acho que você deva espancar seu filho como acaba de fazer…”
Na língua escrita, esse tipo de argumentação pode reduzir-se a um simples parágrafo
(correspondente na oral a uma só fala não interrompida pelo interlocutor), ou a vários
deles, tudo dependendo da maior ou menor complexidade das idéias postas em discus-
são. No primeiro caso, a proposição será verdadeiramente o tópico frasal, e os demais
estágios, o desenvolvimento. Entretanto, a complexidade do assunto, o teor da
proposição, pode exigir, como acontece com mais freqüência, maior número de
parágrafos: quatro pelo menos, um para cada estágio. Muitas argumentações alongam-se
por várias páginas.