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ARGUMENTAÇÃO INFORMAL

Por Pr. Josias Moura de Menezes

Nossos compêndios e manuais de língua portuguesa não costumam distinguir a


dissertação da argumentação, considerando esta apenas “momentos” daquela. No
entanto, uma e outra têm características próprias. Se a primeira tem como propósito
principal expor ou explanar, explicar ou interpretar idéias, a segunda visa sobretudo a
convencer, persuadir ou influenciar o leitor ou ouvinte.

Na dissertação, expressamos o que sabemos ou acreditamos saber a respeito de


determinado assunto; externamos nossa opinião sobre o que é ou nos parece ser.

Na argumentação, além disso, procuramos principalmente formar a opinião do


leitor ou ouvinte, tentando convencê-lo de que a razão está conosco, de que nós é
que estamos de posse da verdade.

Na dissertação podemos expor, sem combater, idéias de que discordamos ou que nos
são indiferentes.

Exemplo. Um professor de teologia, pode fazer uma explanação sobre o calvinismo ou


o arminianismo com absoluta isenção, dando dessas doutrinas uma idéia exata, fiel, sem
tentar convencer seus alunos das verdades ou falsidades numa ou noutra contidas, sem
tentar formar-lhes a opinião, deixando-os, ao contrário, em inteira liberdade de se
decidirem por qualquer delas. (Dissertação)

Mas, se, por ser calvinista, e fizer a respeito desta doutrina uma exposição com o
propósito de influenciar seus ouvintes, de lhes formar a opinião, de convertê-los em
adeptos deste sistema teológico , com o propósito, enfim, de mostrar ou provar as
vantagens, a conveniência,  a  verdade, em suma, da teologia Calvinista—se assim
proceder, esse professor estará argumentando. (Argumentação).

Então, Argumentar é, em última análise, convencer ou tentar convencer mediante


a apresentação de razões, em face da evidência das provas e à luz de um raciocínio
coerente e consistente.

1.  Condições da argumentação


A argumentação deve basear-se nos sãos princípios da lógica. Entretanto, nos
debates, nas polêmicas, nas discussões que se travam a todo instante, na simples
conversação, na imprensa nas assembléias ou agrupamentos de qualquer ordem,
nos Parlamentos, em salas de aula, ou em Igrejas, a argumentação não raro se
desvirtua, degenerando em bate-boca estéril, falacioso ou sofismático.

Em vez de lidar apenas com idéias, princípios ou fatos, vários oradores descambam para
o insulto, xingamento, a ironia, o sarcasmo, enfim, para invectivas de toda ordem, que
constituem o que se costuma chamar de argumento ad hominem (que é o ataque direto
à pessoa, colocando seu caráter em dúvida).
Outros oradores revelam o propósito de expor ao ridículo ou à execração pública os que
se opõem às suas idéias ou princípios, recorrendo assim ao argumento ad populum.

Ora, o insulto, as acusações desonrosas, a ironia, o sarcasmo por mais brilhantes


que sejam, por mais que irritem ou perturbem o oponente, jamais constituem ar-
gumentos, antes revelam a falta deles. Tampouco valem como argumentos os
preconceitos, as superstições ou as generalizações apressadas que se baseiam naquilo
que a lógica chama, como Já vimos, juízos de simples inspeção.

A legítima argumentação, tal como deve ser entendida, não se confunde com o “bate-
boca” estéril ou carregado de animosidade. Ela deve ser, ao contrário, ”construtiva na
sua finalidade, cooperativa em espírito e socialmente útil. Embora seja exato que os
ignorantes discutem pelas razões mais tolas, isto não constitui motivo para que homens
inteligentes se omitam em advogar idéias e projetos que valham a pena. Homens mal-
intencionados discutem por objetivos egoístas ou ignóbeis, mas este fato deve servir de
estímulo aos homens de boa vontade para que se disponham a falar com maior
freqüência e maior desassombro. O ponto de vista que considera a discussão como vazia
de sentido e ausente de senso comum é não só falso, mas também perigoso, sob o ponto
de vista social”(J.R. Whitaker Penteado, op.cit., p. 233).

2.  Argumentação informal


A argumentação informal está presente em quase tudo quanto dizemos ou
escrevemos por força das contingências do cotidiano.

Quase toda conversa — salvo o caso, aliás freqüente, da exposição puramente


narrativa ou descritiva — é essencialmente argumentação. Se é certo que muitas
pessoas — sobretudo as mulheres — só sabem conversar “contando, narrando,
descrevendo, inventando”, isto é, relatando episódios ou incidentes do cotidiano, revi-
vendo casos ou peripécias, não é menos certo que, toda vez que, em conversa,
expressamos nossa opinião sobre fatos ou idéias, estamos, de qualquer forma, tentando
convencer aquele pequeno auditório das “rodinhas”, procurando fazê-lo aceitar nosso
ponto de vista, fazê-lo, enfim, concordar conosco.

Toda argumentação consiste, em essência, numa declaração seguida de prova


(fatos, razões, evidência. Vejamos estes exemplos:

Joaquim Carapuça está muito bem de vida (declaração), porque comprou um


apartamento dúplex na Avenida Atlântica e passou dois anos excursionando pela
Europa (razões. = Prova = evidência).

Jesus demonstra ser Deus (Declaração), porque perdoou pecados, curou enfermos,
andou sobre as águas, leu pensamentos, e ressuscitou. (Razões, provas, evidências)

Mas esse tipo de argumentação informal corre freqüentemente o risco de ser


falacioso, quando a declaração se baseia apenas em indícios.
Se digo, por exemplo: “Fulano já deve ter recebido o salário do mês porque me pagou
os mil cruzeiros que me devia”, estou certo apenas quanto à declaração (ter-me pago
os mil cruzeiros).

Mas posso estar errado quanto ás razões (ter recebido o salário do mês), visto ser
possível terem sido outros os motivos (como ter recebido uma herança ou pedido
emprestadoa dois mil cruzeiros para pagar os mil que me devia). Neste caso, houve
apenas uma indução pelo raciocínio, a partir de indícios e não de fatos.

3.  Estrutura típica da argumentação


informal em língua escrita ou falada
Quando a natureza da declaração implica desenvolvimento de idéias abstratas, a
argumentação assume estrutura mais complexa, com uma “arquitetura” mais trabalhada.
Embora seja mais comum na língua falada — o que talvez justifique a denominação de
informal — dela nos servimos também com muita freqüência na linguagem escrita.
Cremos que o conhecimento da sua estrutura pode ajudar grandemente o estudante a
argumentar com segurança e objetividade. Vejamos um exemplo:

Suponhamos que alguém diz ser: “o castigo físico a melhor maneira de educar a
criança.”

Trata-se de uma proposição argumentável, porque admite divergência. Portanto, pode-


se:

 Provar a validade dessa declaração;


 Ou Refutá-la/ contestá-la.

O esquema de argumentação informal, constituído por três ou cinco estágios, será,


portanto, de uma argumentação por contestação da proposição:

Vejamos um esboço desta estrutura de argumentação informal:

1. Proposição (Declaração, tese, opinião ou afirmativa, suficientemente definida e


limitada; não deve conter em si mesma nenhum argumento, isto é, prova ou razão),

2. Análise da proposição (Definição de todos os termos da proposição para que não


haja interpretações duvidosas quanto as palavras utilizadas em sua composição. Esta
fase pode ser opcional em algumas circunstâncias)

3. Concordância parcial (É usada no caso da pessoa concordar com parte da


proposição e discordar de parte dela. Esta é uma fase opcional)

4. Formulação dos argumentos por meio da refutação ou concordância. Aqui as


Evidências são apresentadas. Esta é a parte central da argumentação

Tipos de evidências:
•  fatos;

•  exemplos;

•  ilustrações;

•  dados estatísticos;

•  testemunho.

5. Conclusão

3.1    Primeiro estágio: Proposição (declaração, tese,


opinião)
A proposição, por exemplo, deve ser clara, definida, inconfundível quanto ao que
afirma ou nega. Além disso, é indispensável que seja… argumentável, quer dizer,
não pode ser uma verdade universal, indiscutível, incontestável.

Não se pode argumentar com idéias a respeito das quais todos, absolutamente todos, es-
tão de acordo. Quem discutiria a declaração ou proposição de que  o homem é mortal ou
um ser vivo? Quem discutiria o valor ou a importância da educação na vida moderna?
Se argumentar é convencer pela evidência, pela apresentação de razões, seria inútil
tentar convencer-nos daquilo de que já estamos… convencidos.

Argumentação implica, assim, antes de mais nada, divergência de opinião. Isto leva
a crer que as questões técnicas fogem à argumentação, desde que os fatos
(experiências, pesquisas) já tenham provado a verdade da tese, doutrina ou
princípio. Fatos não se discutem.

Por outro lado, a proposição deve ser, de preferência, afirmativa e suficientemente


específica para permitir uma tomada de posição contra ou a favor.

Como argumentar a respeito de generalidades tais como a previdência social, a


propaganda, a democracia, a caridade, a liberdade? Proposições vagas ou
inespecíficas que não permitam tomada de posição só admitem dissertação, í.e.
explanação ou interpretação.

Para submetê-las à argumentação é necessário delimitá-las e apresentá-las em


termos de opção. Então, é possível argumentar, pois deve haver quem discorde da
existência de umas ou de outras. Nesse caso, a proposição poderá configurar-se como:
Porque a Previdência Social oferece (ou não) aos trabalhadores toda a assistência que
dela se deve esperar ou Deficiências da assistência médica prestada pelo Instituto X no
ano tal no Estado tal. Posta em termos semelhantes, a proposição torna-se
argumentável, já que admite divergências de opiniões.

Como se trata de contestar ou refutar, é evidente que a declaração deve ser atribuída a
outrem, através de uma forma verbal do tipo:
“Dizem que (ou Você diz que, Fulano declarou que, muitos acreditam que, é opinião
generalizada que) só o castigo físico, a pancada, educa, só ele é realmente eficaz quando
se deseja corrigir a criança, formar-lhe o caráter…

3.2    Segundo estágio: Analise da proposição


A análise da proposição, que não costuma aparecer na argumentação informal,
principalmente na língua falada, constitui um estágio importante.

Antes de começar a discutir é indispensável definir com clareza o sentido da


proposição ou de alguns dos seus termos a fim de evitar mal-entendidos, a fim de
impedir que o debate se tome estéril ou inútil, sem possibilidade de conclusão: os
opositores, por atribuírem a determinada palavra ou expressão sentido diverso, podem
estar de acordo desde o início, sem o saberem. Urge, portanto, definir com precisão o
sentido das palavras.

Em situações práticas e cotidianas da argumentação, geralmente a pessoa que debate


não define os  termos da proposição. E migra logo para as etapas seguintes. Mas, a
definição de termos elimina muitas controvérsias acerca do significado de alguns termos
presentes na proposição.

Se a proposição é: “A democracia é o único regime político que respeita a liberdade do


indivíduo”. Torna-se talvez necessário conceituar ou definir primeiro, pelo menos,
“democracia” e “liberdade”, palavras de sentido intencional, vago, abstrato, e por isso
sujeitas ao malabarismo das múltiplas interpretações.

Se a proposição for: “Deus predestina todas as coisas que acontecem na vida do


homem que é limitado em seu livre arbítrio.”

Neste caso é importante definir o que é predestinação e livre arbítrio. E como estes
termos são utilizados na perspectiva do orador.

Além da definição dos termos, importa que o autor ou orador defina também, logo
de saída, a sua posição de maneira inequívoca, que declare, em suma, o que
pretende provar.

3.3    Terceiro estágio: Concordância parcial


Na concordância parcial o autor, ou falante, reconhece que em certos casos,
excepcionais, é possível que o castigo físico, seja um bom corretivo, mas — frise-se
bem — só em certos casos, só em certa medida, só em condições muito especiais e,
assim mesmo, em poções medicamentosas, homeopáticas…

A concordância parcial (fique a denominação) reflete uma atitude natural do


espírito em face de certas idéias ou teses, pois é incontestável que existem quase
sempre “os dois lados da medalha”; muitas idéias admitem concordância parcial ou
contestação parcial: basta encará-las do ponto de vista geral ou do ponto de vista
particular, basta atentar em certas circunstâncias, em certos fatores.
Portanto, é natural admitir que, em certos casos particulares, a correção física seja
aconselhável. Na argumentação, este estágio assume usualmente, ou mesmo
invariavelmente, uma feição verbal semelhante às seguintes (de teor concessivo): “É
verdade (é certo, é evidente, é indiscutível) que, em certos casos…”  ”É possível que,
em certos casos, você tenha razão…” “Em parte, talvez tenham razão…”.

Em seguida, juntam-se as razões, provas, casos particulares que parecem


confirmar a tese, a qual mais adiante será contestada: criança muito rebelde,
ineficácia de outros corretivos, reincidência provocadora, etc.

Mas, para dispormos de argumentos favoráveis á nossa tese, convém dosar bem ou
restringir, o número de casos excepcionais. Sem essa cautela, corremos o risco de ser
contraditórios ou de oferecer as melhores razões à parte contrária. Neste caso, nossa
argumentação acaba sendo um tiro pela culatra.

Entretanto, pode não haver, ou é possível que não encontremos, razões para uma
concordância parcial; então, passamos diretamente da proposição à contestação, que é
o….

3.4    Quarto estágio: Argumentação – A parte mais


importante do argumento
Esse é o estágio em que o autor apresenta as provas ou razões, o suporte das suas
idéias. É aí que a coerência do raciocínio mais se impõe.

O autor deve lembrar-se de que só as evidências provam (evicências no sentido mais


amplo: exemplos, estatísticas, ilustrações, comparações, descrições, narrações), desde
que apresentem aquelas condições de quantidade suficiente (enumeração perfeita ou
completa), fidedignidade, autenticidade, relevância e adequação.

Além disso, é de suma importância a ordem em que as provas são apresentadas:

O autor deve escolher a que melhor se ajuste à natureza da sua tese, a que seja
mais capaz de impressionar o leitor ou ouvinte. Quase sempre, entretanto, ao
contrário do que se faz na refutação, adota-se a ordem gradativa crescente ou
climática, isto é, aquela em que se parte das provas mais frágeis para as mais
fortes, mais irrefutáveis.

Outro recurso de convicção consiste em manter o leitor como que em suspense


quanto às conclusões, até um ponto de saturação tal, que, várias vezes iminentes mas
não declaradas, elas acabem impondo-se por si mesmas: esse é o momento de enunciá-
las. Mas deve lembrar-se da paciência e da resistência da atenção do leitor para não
cansá-lo nem exasperá-lo, mantendo-o por tempo demasiado na expectativa da
conclusão. Num filme de suspense, as evidências que vão sendo apresentadas
produzem uma ar de expectativa quanto as conclusões finais, mas estas conclusões
brotam ao fim de tais evidências.

Existem ainda outros artifícios de que o argumentador pode servir-se para convencer,
para influenciar o leitor ou ouvinte.
Muitos são comuns também à dissertação: confrontos flagrantes, comparações
adequadas e elucidativas, testemunho autorizado, alusões históricas pertinentes, e até
mesmo anedotas.

Por fim, cabe ainda lembrar dois outros fatores relevantes. O primeiro diz respeito à
conveniência de o autor frisar, nas ocasiões oportunas, os pontos principais da sua tese,
pontos que ele, sem dúvida, englobará na conclusão final, de maneira tanto quanto
possível enfática, se bem que sucintamente. O segundo refere-se à necessidade de se
anteciparem ou se preverem possíveis objeções do opositor ou leitor, para refutá-las a
seu tempo.

A argumentação será realizada por dois métodos:

 Contestação/refutação. É para o caso quando vamos discordar da tese que


foi apresentada.
 Concordância. Usado no caso em que concordamos com a tese apresentada.

Aqui também a forma verbal assume feição típica; quase sempre—já que se trata de
opor aos argumentos favoráveis precedentes, ou à proposição toda, outros, contrários —
o período ou parágrafo, ou o trecho da fala na língua oral, que lhe correspondam, se
iniciam com uma conjunção adversativa ou expressão equivalente:

Como fazer a argumentação de forma Consistente

A argumentação esteia-se em dois elementos principais: a consistência do


raciocínio e a evidência das provas.

Evidência das provas = fatos, exemplos, dados estatísticos, testemunhos

Evidência — considerada por Descartes como o critério da verdade — é a certeza


manifesta, a certeza a que se chega pelo raciocínio (evidência de razão) ou pela
apresentação dos fatos (evidência de fato), independentemente de toda teoria.

São cinco os tipos mais comuns de evidência: os fatos propriamente ditos, os


exemplos, as ilustrações, os dados estatísticos (tabelas, números, mapas, etc.) e o
testemunho.

 Fatos:

Os fatos — termo de sentido muito amplo, com que se costuma até mesmo designar
toda a evidência — constituem o elemento mais importante da argumentação em
particular assim como da dissertação ou explanação de idéias em geral.

Temos dito mais de uma vez que só os fatos provam, só eles convencem.

Mas nem todos os fatos são irrefutáveis; seu valor de prova é relativo, sujeitos como
estão à evolução da ciência, da técnica e dos próprios conceitos ou preconceitos de vida:
o que era verdade ontem pode não o ser hoje. De forma que é indispensável levar em
conta essa relatividade para que eles sejam convincentes, funcionem realmente como
prova.

Um exemplo de como fatos podem ser provas de valor relativo em determinadas


circunstâncias, é que o sorriso de uma pessoa pode ser um interpretado como um
gesto de simpatia por um amigo, mas pode ser também tido como um ato de
sarcasmo por um desafeto.

Os fatos evidentes ou notórios são os que mais provam. Provo a deficiência da


previdência social, citando o fato de contribuintes se verem forçados a recorrer a
hospitais particulares para operações ou tratamentos de urgência, porque o instituto de
previdência a que pertencem não os pode atender em condições satisfatórias.

 Exemplos:

Exemplos são fatos típicos ou representativos de determinada situação. O fato de o


Professor Fulano de Tal se ver na contingência de dar, em colégios particulares, dez ou
mais aulas diárias é um exemplo típico dos sacrifícios a que estão sujeitos os membros
do magistério particular no Brasil.

 Ilustrações:

Quando o exemplo se alonga em narrativa detalhada e entremeada de descrições, tem-se


a ilustração. Há duas espécies de ilustração: a hipotética e a real. A primeira, como o
nome o diz, é invenção, é hipótese: narra o que poderia acontecer ou provavelmente
acontecerá em determinadas circunstâncias. Mas, nem por ser imaginária, prescinde da
condição de verossimilhança e de consistência, para não falar da adequação à idéia que
se defende.

Ilustração hipotética Ilustração real


A parábolas. Jesus curando um coxo.

A introdução da ilustração no corpo da argumentação faz-se com naturalidade,


com o objetivo de ilustrar a tese que está sendo defendida. Suponhamos que um
pregador esteja argumentando sobre a importância da fé. Ele pode recorrer a inúmeras
ilustrações que estão nas escrituras para defender o princípio da fé que esta sendo
exposto ao seu auditório.

O propósito principal da ilustração hipotética ou real é tornar mais viva e mais


impressiva uma argumentação sobre temas abstratos. Porém, deve-se ter algum
cuidado com as ilustrações hipotéticas, evitando-se aquelas que são extragantes
demais.

A ilustração é um recurso de valor didático incontestável capaz de, por si só,


tornar mais clara, mais convincente, uma tese ou opinião. Entretanto, seu valor
como prova é muito relativo, e, em certos casos, até mesmo duvidoso.

A ilustração real descreve ou narra em detalhes um fato verdadeiro. Mais eficaz,


mais persuasiva do que a hipotética, ela vale por si mesma como prova.
O que se espera da ilustração real é que, de fato, sustente, apóie ou justifique,
determinada declaração. Para isso, é preciso que seja clara, objetiva, sintomática e
obviamente relacionada com a proposição. Sua feição dramática deve ser tanto
quanto possível explorada, desde que o exagero não a transforme em dramalhão.

Muitas vezes, a ilustração se faz por referência a episódios históricos ou a obras de


ficção (romances-tese, romances de protesto, peças dramáticas de conteúdo social), cujo
enredo se pode então ligeiramente resumir.

 Dados estatísticos:

Dados estatísticos são também fatos, mas fatos específicos. Têm grande valor de
convicção, constituindo quase sempre prova ou evidência incontestável.

Entretanto, é preciso ter cautela na sua apresentação ou manipulação, já que sua


validade é também muito relativa: com os mesmos dados estatísticos tanto se pode
provar como refutar a mesma tese.

Pode ser falsa ou verdadeira a afirmação: “O pastor fulano tem  o apoio de 80


pessoas em seu pastorado, por isso deve ficar”. Digamos que esta igreja tem 100
membros, então 80 pessoas representam 80% da vontade desta Igreja em apoiar seu
pastor. Assim, a afirmação é verdadeira. Mas, suponhamos que está igreja tem 10.000
membros. Então 80 pessoas representam menos de 1% desta Igreja. Logo, a afirmação é
falsa por falta de apoio dos dados estatísticos.

Do mesmo modo pode ser falsa ou verdadeira a conclusão de que o ensino


fundamental no Brasil é muito deficiente, porque este ano, só no Rio de Janeiro,
foram reprovados, digamos, 3.000 candidatos às escolas superiores.

Três mil candidatos é, aparentemente, uma cifra respeitável. Mas, quantos foram, no
total, os candidatos? Se foram cerca de 6.000, a percentagem de reprovação, com
que se pretende provar a deficiência do nosso ensino médio, é de 50%, índice real-
mente lastimável. Mas, se foram 30.000 os candidatos? A percentagem de
reprovados passa a ser apenas de 10%, o que não é grave, antes pelo contrário, é sinal de
excelente resultado. Portanto, com os mesmos dados estatísticos, posso chegar a
conclusões opostas.

 Testemunho:

O testemunho é ou pode ser o fato trazido à colação por intermédio de terceiros. Se


autorizado ou fidedigno, seu valor de prova é inegável.

Os autores bíblicos, por exemplo, recorrem a evidencia testemunhar, quando defendem


temas como a ressureição de Cristo.

Entretanto, sua eficácia é também relativa. Têm-se feito experiências para provar
como o testemunho pode ser falho (refiro-me, evidentemente, ao testemunho “visual”, e
não ao “autorizado”): O mesmo fato presenciado por várias pessoas pode assumir
proporções e versões mais diversas.
Entretanto, apesar das suas falhas ou vícios, o testemunho” continua a merecer fé até
mesmo nos tribunais. Sua presença na argumentação em geral constitui, assim, desde
que fidedigno ou autorizado, valioso elemento de prova.

E se formos refutar uma tese em vez de apoiá-la?  Normas ou sugestões


para refutar argumentos

Ao optar nesta fase argumentativa pela refutação de argumentos, o orador deve observar
alguns critérios que farão esta tarefa ser mais eficiente.

Whitaker Penteado, na sua excelente obra já citada, arrola algumas sugestões para
refutar idéias ou argumentos. Depois de dizer que a maneira de contestar argumentos
depende de fatores pessoais e de circunstâncias várias, o Autor apresenta-nos as se-
guintes sugestões:

 Procure refutar o argumento que lhe pareça mais forte. Comece por ele.
 Procure atacar os pontos fracos da argumentação contrária.
 Utilize a técnica de “redução às últimas conseqüências”, levando os argumentos
contrários ao máximo de sua extensão.
 Veja se o opositor apresentou uma evidência adequada ao argumento
empregado.
 Escolha uma autoridade que tenha dito exatamente o contrário do que afirma o
seu opositor.
 Aceite os fatos, mas demonstre que foram mal empregados. Ataque a fonte na
qual se basearam os argumentos do seu opositor.
 Cite outros exemplos semelhantes, que provem exatamente o contrário dos
argumentos que lhe são apresentados pelo opositor.
 Demonstre que a citação feita pelo opositor foi deturpada, com a omissão de
palavras ou de toda a sentença que diria o contrário do que quis dizer o opositor.
 Analise cuidadosamente os argumentos contrários, dissecando-os para revelar as
falsidades que contêm.”

3.5    Quinto estágio: Conclusão


Não existe argumentação sem conclusão, que decorre naturalmente das provas ou
argumentos apresentados. As principais partículas típicas da conclusão são, como se
sabe, “logo”, “portanto”, “por conseqüência” e, até mesmo, “de forma que”. Tais
partículas encabeçam períodos ou parágrafos em que negamos (argumentação por
refutação) ou confirmamos o teor da proposição:

“Logo (por conseqüência, portanto, de forma que não se devem espancar as crianças…”

Muitas vezes, principalmente na língua falada, a argumentação é provocada por uma


situação real (fato, incidente); no caso do castigo físico, por exemplo, um pai que
espanca o filho diante de nós, ou que defende em conversa a conveniência da pancada.
Nesses casos, é comum reportar-se a conclusão à situação que a críou:

“Portanto, não acho que você deva espancar seu filho como acaba de fazer…”
Na língua escrita, esse tipo de argumentação pode reduzir-se a um simples parágrafo
(correspondente na oral a uma só fala não interrompida pelo interlocutor), ou a vários
deles, tudo dependendo da maior ou menor complexidade das idéias postas em discus-
são. No primeiro caso, a proposição será verdadeiramente o tópico frasal, e os demais
estágios, o desenvolvimento. Entretanto, a complexidade do assunto, o teor da
proposição, pode exigir, como acontece com mais freqüência, maior número de
parágrafos: quatro pelo menos, um para cada estágio. Muitas argumentações alongam-se
por várias páginas.

Essa é a estrutura típica da argumentação informal, tanto na língua falada quanto na


escrita. Em alguns casos, ela se faz por contestação ou refutação, com ou sem
concordância parcial, quando se procura negar tese ou opinião alheia; em outros, por
confirmação.

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