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CENA 1
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CENA 2
MÉDICO – Ele está deprimido.
FEDRA - Eu sei.
F - Eu sei.
F - Dorme.
M - Quando acorda?
F - Não ele telefona pras pessoas elas vêm fazem sexo e vão.
M - Mulheres?
F - Minha mãe podia me dizer isso. Eu achei que você deveria ajudar.
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F - Como?
M - Eu não quero parecer grosseiro, mas quem são essas pessoas com quem ele
faz sexo? Ele paga a elas?
M - Deve pagar.
M - Porque?
F - Ele é divertido.
F - Ele é um príncipe.
F - Claro..
M - Quem?
M - Sobre o que?
F - Tudo.
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M - (olha para ela)
F - Eu acho que meu filho está doente. Eu acho que você deve ajudar. Eu acho
que depois de seis anos estudando e trinta de experiência o médico do palácio
deve dizer alguma coisa melhor do que ele tem que perder peso.
M - Quem está tomando conta das coisas enquanto o seu marido está longe?
F - Duvido.
F - Demais.
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M - Ele tem motivos para estar se sentindo mal , é o aniversário dele.
F - Não é médico?
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CENA 3
STROFE está trabalhando.
Entra FEDRA.
STROFE- Mãe.
FEDRA- Sai daqui vai se fuder não me toca não fala comigo fica comigo.
F - Nada. Nada.
S - Já até sei.
S - Não.
F - Quis poder rasgar e abrir o seu peito pra acabar com a dor?
F - Isso tá me matando.
S - Hipólito.
F - (berra)
S - Obsessão.
F - Qui... !
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F - Você acha ele atraente?
S - Achava.
S - Não muito.
S - Não.
F - A casa é espaçosa.
S - Ele é espaçoso.
S - Ele me esgota.
S - Eu sei.
F - Posso sentir ele através das paredes. Na pele. Sentir o coração dele bater há
quilômetros.
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S - Porque você não arruma um amante. Tira ele da sua cabeça.
F - Tem uma coisa que existe entre nós, uma porra que se impõe aqui dentro.
Queima. E quando eu tô junto com ele o clima que fica entre nós dois. Você não
sente?
S - Não.
F - Eu quero possuir ele. Cada centímetro do corpo. Ficar junto com ele, até a
gente virar um só-
S - Isso é doença.
F - O pai dele não vai voltar tão cedo. Tá muito ocupado sendo inútil por aí.
S - Ele despreza quem dorme com ele. Trata que nem merda Eu já vi ele fazer
isso.
F - Eu não posso apagar, não posso sufocar isso que eu sinto. Não posso acordar
todo dia com isso me consumindo. Acho que eu vou explodir! Eu quero tanto ele.
Tanto! Eu converso muito com ele; ele conversa comigo. Você sabe, nós, nós
conhecemos muito bem um ao outro. Ele me conta umas coisas - nós somos
muito próximos - sobre sexo e o quanto isso deprime ele. E eu sei -
F - Mas pensa bem, se fosse uma pessoa que te amasse, te amasse de verdade.
S - Amam ele. Todo mundo ama ele. E ele despreza todo mundo por causa disso.
Não vai ser diferente com você.
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F - Você pode imaginar sentir tamanho prazer.
S - Mãe. Sou eu. Strofe, sua filha. Olha pra mim. Por favor esquece isso.
Por mim
F - Por você?
S - Você não fala sobre mais nada. Você não trabalha mais. ELE é a única coisa
que te importa. Mas você não vê quem ele é.
S - Não, porque a maior parte do tempo você TÁ com ele; até quando você não
TÁ com ele você TÁ com ele. E quando, às vezes, você se lembra que pariu a
mim e não a ele, você me fala sobre o quanto ELE tá doente.
F - Ele-
S - Fica longe dele. Vai atrás do Teseu. Vai trepar com outro. Custe isso o que
custar.
F - Não posso.
S - Mãe essa família já não sai das colunas sociais, das revistas de fofoca sem ter
nenhum escândalo-
F - É. Eu sei.
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F - Eu sei. Eu sei.
S - Ia ser a desculpa que tá todo mundo esperando pra gente ser xingado e
linchado no meio da rua.
S - Pensa no Teseu.
Por que que você casou com ele?
F - Não lembro.
F - Ele-
S - É!
Você não pode fazer isso. Não pode nem pensar nisso.
F - Não.
F - É, eu-
F - Não.
F - Não.
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CENA 4
HIPÓLITO está assistindo TV com o volume bem baixo e comendo. Ele está
brincando com um carro de controle remoto que corre por todo o quarto.
Seu olhar oscila entre o corro e a TV aparente mente sem ter prazer em nenhum
dois.
Ele come doces de dentro de um saco no seu colo.
FEDRA entra carregando presentes.
Ela fica olhando para ela alguns momentos.
Ele não olha para ela.
FEDRA avança mais para dentro do quarto.
Ela põe os presentes no chão e começa a arrumar o quarto – cata as meias e
cuecas e procura algum lugar para coloca-las, não encontra, então as põe de
volta no chão organizadas numa pilha. Cata os pacotes de bala e de batatas fritas
e joga na lata do lixo.
HIPÓLITO Assiste o tempo todo TV.
FEDRA acende uma luz mais forte.
FEDRA - Esse não é o tipo de pergunta que você deve fazer pra sua madrasta.
H - Sem ser com o Teseu. Ou você acha que ele tá na seca por aí.
H - Tá todo mundo atrás de uma pica famosa, um caralho da família real. então.
Eu que o diga.
F - (Não responde)
H - Eu não ligo.
(Silêncio. HIPÓLITO brinca com o seu carro)
São pra mim? Claro que são pra mim porra.
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F - As pessoas trouxeram até o portão. Eu acho que eles queriam era te entregar
pessoalmente. Tirar fotos.
F - É. Não é charmoso?
H - Agora nem posso, tá todo arranhado. Prova do desprezo deles por mim.
H - Eu. É a única maneira de com certeza ter o que eu quero. Embrulhado e tudo.
F - E você?
H - Eu?
Quer um doce?
F - Eu-
Não obrigada.
A última vez que você-
O que você me perguntou.
H - Fudi?
F - É.
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F - Há meses.
H - É mesmo? Então não. Alguém veio aqui. Bolota. Tinha um cheiro esquisito. E
eu trepei com um cara no jardim.
F - Um homem?
(silêncio)
Me odeia agora?
(silêncio)
H - Quando?
F - Daqui a pouco.
F - Eca!
H - O que?
H - Não, primeiro eu vi se eu não tinha limpado a minha porra com ela. E tava
lavada antes de eu calçar.
(silêncio.
Ele bate com o carro na parede)
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Que que há com você ?
H - Eu odeio as pessoas.
F - (não responde)
H - Me odeia agora?
F - Nunca.
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F - Eu não.
H - Porque você não vai conversar com a Strofe? Ela que é sua filha, não eu.
Porque toda essa preocupação comigo?
F - Eu te amo.
(silêncio)
H - Porque?
F - Não maS -
Isso te agradaria?
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H - Não. Tô só passando tempo. Esperando.
F - Por o que?
F - Tá acontecendo.
F - Agora.
F - Preenche comigo.
H - Tem pessoas assim. Elas não tão só deixando o tempo passar, elas tão
vivendo. Felizes. Com um amor. Odeio elas.
F - Porque?
H - Eu sou.
F - Eu não
H - Porque?
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H - Vai embora.
(silêncio)
H - De que?
F - Desculpa.
H - Já tive piores.
H - Quer nada!
F - Quero.
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F - Prazer.
H - Por que?
F - Eu te amo.
H - Não.
F - Tanto.
H - Olha, eu não costumo ficar de papo furado pós -coito. Nunca se tem nada pra
dizer.
F - Eu quero você-
F - Eu sei.
H - Vai fuder com outro e imagina que sou eu. Não ia ser difícil, todo o mundo é
igualzinho quando goza.
H - Ninguém me incendeia.
F - E aquela mulher?
H - Qual?
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F - Lena, vocês não eram –
F - (concorda)
H - Tédio.
F - Eu pensei que você fosse tido como bom nisso. Todo mundo é tão
decepcionante assim?
F - Porque não?
H - Enchi o saco.
(um tapa, FEDRA dá uma bofetada com toda a força na cara dele.)
Ela é menos passional, mas tem muito mais prática. Sou sempre a favor da
técnica.
H - Fiz.
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F - Por que não?
H - Posso sim.
H - Acorda.
F - Você me incendeia.
(silêncio)
H - Isso aí.
Fedra.
H - Me odeia agora?
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CENA 5
HIPÓLITO está de pé em frente a um espelho com a língua de fora.
Entra STROFE.
STROFE- Se esconde.
S - Se esconde.
S - HIPÓLITO.
H - Se eu mostrar prum tronco num pântano ele vai querer trepar comigo.
S - Olha.
S - Se esconde porra.
H - Ah tá .Que excitante.
H - É, tô vendo.
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H - O que?
H - Ah.
Isso importa?
S - Isso importa?
H - Isso importa.
S - Importa.
H - Porque?
S - Porque?!
H - É Porque e eu gostaria muito que você não repetisse tudo que eu digo.
Porque?
H - E daí?
H - CONTATO SEXUAL?!
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H - Num fode Strofe!
H - Qual é a tua?
H - Eu forcei você?
S - Hipólito.
H - Você acha?
H - Claro aí não é mais a minha “irmã” . Passa a ser uma de minhas vítimas.
H - Dum estuprador?
H - Porque?
H - Ah.
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S - Pra mim é.
H - Que estranho. A pessoa que tem menos ligação de sangue com essa família é
a que mais se preocupa com ela.
H - É. É provável.
Eu contei pra ela sobre nós dois.
S - Você o que?
S - O que?
H - Eu não disse que você fudeu com ele na noite de núpcias deles, mas como ele
partiu no dia seguinte...
S - Mãe.
S - Você tá rindo?
H - Tô.
H - Já me disseram isso.
S - Culpa sua.
H - Claro.
S - Tá.
O que que cê fez com ela, que que cê fez porra?
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STROFE avança em cima dele.
HIPÓLITO segura os braços dela impedindo que
ela bata nele.
STROFE chora e soluça muito, ela geme descontroladamente.
H - Ela sabia.
S - Não.
S - Ela-
H - Então me culpa.
H - É. Me culpa.
S - Você-
Como foi?
S - Enforcada.
(silêncio.)
Longo silêncio.
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H - Ela não devia ter levado isso tão a sério.
S - Ela te amava.
S - O que?
S - Nega.
H - Ferrado.
H - Não.
H - Nem eu.
S - Por favor.
H - Acabou.
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H - Ela me amava de verdade.
H - Descanse em paz.
S - Você fez?
Ele sai.
STROFE senta sozinha por alguns momentos pensando.
Ela levanta e o segue.
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CENA 6
Uma cela de cadeia. HIPÓLITO sentado sozinho entra um SACERDOTE.
HIPÓLITO -- Sempre suspeitei que o mundo não cheirava a tinta fresca e flores.
SC - Filho-
SC - Eu posso te ajudar.
SC - Espiritualmente.
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SC - Com a morte de sua mãe.
H - Aqui dentro.
H - Pra você claro que é. Você acha que a vida só tem sentido se a gente tiver alguém pra
nos torturar.
H - Você tem o pior amante de todos. Ele não só ACHA que é perfeito, ele É.
Eu tô satisfeito sozinho.
H - E Quando o amor acaba? Toca um despertador e diz que é hora de acordar, e aí?
H - Você é PE-RI-GO-SO!
SC - A realeza é escolha. Por vocês serem mais privilegiados que a maioria vocês
também são mais vulneráveis a culpa. DeuS -
SC - Talvez você descubra que existe. O que você vai fazer então? Não há
arrependimento na próxima vida. Só nessa.
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H - O que que você sugere? Uma conversão de última hora por acaso? Morrer como se
houvesse um Deus sabendo que não há? Não se existe um Deus, Eu prefiro olhar ele na
cara sabendo que eu morri como eu vivi. Em pecado consciente.
SC - Hipólito.
H - Eu tenho certeza que Deus deve ser inteligente o bastante pra enxergar além de
qualquer confissão minha de última hora.
H - Claro.
H - Ah.
SC - Seu país.
H - Certo.
H - Péssima escolha.
SC - Reze comigo. Salve-se. E o seu país também. Não cometa esse pecado.
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H - O que que lhe incomoda mais, a destruição da minha alma ou o fim da minha família?
Eu não tô correndo o risco de cometer um Pecado Mortal. Eu já cometi.
SC - Senhor ignore o que diz esse homem por vós escolhido. Perdoe o pecado que vem
da inteligência com a qual o Senhor o abençoou.
SC - Não.
SC - Não.
Me deixa morrer.
SC - Porque não?
H - Eu sei o que eu sou e o que eu vou ser sempre. Mas e você? Você peca sabendo que
vai confessar. Então você é perdoado. E aí você começa tudo de novo como se nada
tivesse acontecido. Como você ousa zombar do seu Deus tão poderoso, onipotente,
onisciente, se ele tudo vê porque que é preciso então confessar? A menos que você não
acredite nele de verdade.
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SC - Você não é Deus.
H - Não? Não. Sou um príncipe. Um deus na terra mas não Deus. Felizmente respeitado
por todos. Eu não permitiria que vocês pecassem sabendo que iam confessar e ficar
livres.
H - Um reino de homem honestos, pecando honestamente e a morte par aqueles que não
CONFESSAREM.
H - Isso deve ser o suficiente pra você. Mas eu não tenho a intenção de fingir, e brincar de
"confissãozinha". Se eu matei uma mulher e vou ser punido por isso, pelos HIPÓCRITAS
que eu deveria levar junto comigo. Nós todos deviamos queimar no inferno. Deus pode
ser todo poderoso, mas tem uma coisa que ele não pode fazer.
SC - Não.
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CENA 7
O corpo de FEDRA jaz junto de uma pira funeral, coberto.
Entra TESEU.
Ele se aproxima do corpo.
Levanta a coberta e olha para rosto de FEDRA.
Deixa a coberta cair.
Ele se ajoelha perto do corpo de FEDRA.
Ele se esfrega nas roupas dela - rasga-as - depois a pele, depois cabelos, cada
vez mais freneticamente até ficar exausto.
Mas ele não chora.
Ele fica de pé e acende a pira funeral.
FEDRA se vai em chamas.
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CENA 8
Do lado de fora da corte.
HOMEM 1- Vim.
MULHER 2- Desgraçado.
M 1- Parasitas!
H 1- Nunca mais.
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STROFE- Isso não quer dizer nada.
M 2- Filho da puta.
H 2- Você tá certo.
H 1- Ela tá morta.
T - Mas quem fez esse absurdo foi o príncipe. Ele é quem tem que pagar. Não
podemos culpar a família toda pelos atos desse príncipe irresponsável.
H 2- Você tá certo.
T - Depois nós pensamos nos outros, agora vamos nos concentrar em punir esse
sujeito que tá sujando o nome da família e da nossa terra.
H 1- Em consideração a gente.
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H 2- E a ela.
M 2- Ah coitado!
H 2- Mas então, mesmo assim ele sabe do que nós estamos falando.
M 1- Lá vem ele!
M 2- Miserável.
HIPÓLITO entra escoltado por 2 policiais. Enquanto passa o povo grita, xinga,
atira pedras
M 2- Desgraçado!
H - Você.
T - Matem -no.
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HOMEM 1 pega uma corda do pescoço de uma criança e põe em volta do
pescoço de HIPÓLITO, ele começa a Enforcar HIPÓLITO que é chutado pela
MULHER 1 até ficar semi-consciente.
MULHER 2 tira uma faca
H 2- Defendendo um desnaturado.
T - Defendendo um estuprador.
S - Teseu.
Hipólito.
Inocente.
Mãe. Ah Mãe.
Ela morre.
A MULHER 1 arria as calças de HIPÓLITO.
A MULHER 2 corta seus genitais fora.
Eles são atirados na churrasqueira.
As crianças comemoram.
Uma criança os tira da churrasqueira e os joga em cima de outra criança, que grita
e sai correndo.
Muitos risos.
Alguém os recupera e eles são atirados para um cachorro.
TESEU pega a faca.
Ele corta HIPÓLITO da virilha até o peito.
As tripas de HIPÓLITO são arrancadas e atiradas na churrasqueira.
Ele é chutado, apedrejado e xingado.
HIPÓLITO olha para o corpo de STROFE.
H – Strofe.
T – Strofe.
TESEU olha bem de perto para a mulher que ele estuprou e assassinou.
Ele a reconhece com horror.
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Quando HIPÓLITO está completamente imóvel, a polícia que estava assistindo
invade a multidão, batendo neles aleatoriamente.
A multidão dispersa com exceção de TESEU.
Dois Policiais ficam de pé olhando para HIPÓLITO.
POLICIAL 2 – Tá brincando?
T – HIPÓLITO.
Filho
Eu nunca gostei de você.
(Para SOFIA)
Me desculpa.
Não sabia que era você.
Deus me perdoe, eu não sabia.
Se eu soubesse que era você eu nunca teria –
(Para HIPÓLITO.)
H – Urubus.
(Esboça um sorriso)
Se pudessem haver mais momentos como esse.
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HIPÓLITO morre.
Um urubu pousa e começa a comer seu corpo
FIM
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