Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
1. INTRODUÇÃO. …………………………………………………………………...1
2. A DATABASE………………………………………………………………………1
3. ANÁLISE DA SITUAÇÃO………………………………………………………...3
4. PLANO DE MUDANÇA…………………………………………………………...5
5. CONCLUSÃO……………………………………………………………………..15
6. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS…………………………………………..16
Mestrado em Políticas de Desenvolvimento dos Recursos Humanos
Cadeira: Mudança Organizacional
Docentes: Maria José Chambel e Luís Curral 1
1. INTRODUÇÃO
Este trabalho visa dar resposta a uma série de problemas organizacionais de uma
empresa de software, a DataBase, que devido ao seu rápido crescimento dos últimos
anos e às políticas de gestão empreendidas para lhe fazer face, tem vindo a assistir a
uma crescente insatisfação e desmotivação dos seus colaboradores, facto que provocou
a saída da empresa da lista dos Melhores Empregadores e poderá, inclusive, colocar em
causa o desenvolvimento do negócio.
A Direcção da empresa delineou como novo objectivo entrar, num espaço de três anos,
para a lista dos «dez mais» em termos de melhores desempenhos e melhores
empregadores. Para isso, elaborar-se-á um plano estruturado de mudança, com o
objectivo de aumentar a satisfação dos trabalhadores sem, por outro lado, perder o
controlo dos custos necessários para tal.
A primeira parte deste trabalho tem como objectivo fazer uma descrição da DataBase e
do seu «historial» de crescimento dos últimos anos. Na segunda parte analisam-se os
problemas provocados pelas medidas tomadas e as suas implicações para a organização.
Finalmente, na terceira e última parte delineia-se o plano de mudança, com os seus
objectivos, procedimentos e técnicas para reduzir a resistência e metodologia a utilizar,
com descrição da cada uma das fases a executar.
2. A DATABASE
A DataBase, empresa de software, foi criada com propósitos muito claros e alargados,
baseados na visão dos seus fundadores, especialmente do presidente do grupo, o Dr.
Tiago Nogueira, pessoa de convicções fortes e que delineou objectivos para a empresa a
longo prazo.
Como tal, assumiu-se como uma empresa com uma cultura forte, com valores muito
arraigados, sendo esses valores a “satisfação do cliente, a liderança através do exemplo,
integridade e transparência, justiça e a busca da excelência.
Embora os primeiros anos tenham sido muito difíceis, tendo a empresa que se debater,
por um lado, com a «gigantesca máquina burocrática» que era o Estado português e, por
outro, com o mercado nacional, na altura ainda muito pouco desenvolvido, com
organizações ainda fortemente adeptas das máquinas de escrever e do papel e para quem
Mestrado em Políticas de Desenvolvimento dos Recursos Humanos
Cadeira: Mudança Organizacional
Docentes: Maria José Chambel e Luís Curral 2
Este crescimento fez com que a DataBase ganhasse credibilidade e prestígio no sector,
tendo-se mostrado uma empresa bastante agressiva na promoção da sua imagem,
sempre em busca de iniciativas com o objectivo de se diferenciar continuadamente dos
seus competidores.
Ao nível da gestão dos seus recursos humanos, a DataBase sempre tentou implicar os
empregados com a organização demonstrando, através das suas acções, o seu
envolvimento com eles. No fundo, o objectivo era que a DataBase fosse vista como “a
melhor empregadora”, sendo altamente cobiçada pelos potenciais trabalhadores. Para
tal, no início dos anos 90, altura do início do crescimento da empresa, criou uma série
de benefícios para os seus colaboradores tendo, ao longo dos anos, desenvolvido três
áreas consideradas importantes: conhecimento através da formação; emocional, através
do ambiente de trabalho; e financeiro, através dos sistemas de compensação e
benefícios.
Para mais, sempre forneceu um grande suporte aos colaboradores no caso de estes
serem confrontados com emergências e situações imprevistas. Criou um programa de
saúde muito diversificado, encorajou os colaboradores a desenvolverem áreas de
interesse pessoal, criando clubes de hobbies, culturais e de desporto, além de lhes
permitir adquirirem acções da empresa a 5% do valor de mercado, possibilitando-lhes
assim arrecadar dividendos importantes.
Isto fez realmente com que a empresa tivesse sido classificada, tanto em 2001 como em
2002, como “a melhor empresa para trabalhar”. No entanto, em 2003 ficaram fora dessa
prestigiada lista.
Mestrado em Políticas de Desenvolvimento dos Recursos Humanos
Cadeira: Mudança Organizacional
Docentes: Maria José Chambel e Luís Curral 3
3. ANÁLISE DA SITUAÇÃO
Com o rápido crescimento que conheceu, a empresa teve que redireccionar a sua
estratégia, de forma a aumentar a eficiência, reduzir custos e aumentar a produtividade.
Para tal, implementou uma série de mudanças que foram mal percepcionadas pelos
colaboradores e que levaram a um descontentamento crescente.
Embora, como referido, a DataBase tenha permitido aos seus colaboradores adquirirem
acções da empresa a 5% do seu valor de mercado, a partir de uma certa altura o preço de
aquisição dessas acções passou para 85% do valor de mercado, gorando as expectativas
dos novos trabalhadores.
Embora a organização possuísse uma cultura forte, com valores muito arraigados, com o
rápido crescimento do número de empregados, para além da rotatividade dos seus
recursos humanos que aumentava em proporção directa com a insatisfação, tornou-se
difícil reproduzir esses valores aos novos elementos. Ainda que o Departamento de
Recursos Humanos tivesse a preocupação de, nos processos de recrutamento, avaliar o
potencial cultural e “fit” de valores de cada candidato, isso tornou-se mais difícil com o
rápido crescimento do negócio, que não poderia ser limitado pela escassez de recursos.
Por outro lado, o aumento da rotatividade levou também a um aumento dos custos com
os trabalhadores, devido aos sucessivos recrutamentos que originou.
O crescimento da empresa fez com que esta se deparasse com outros desafios. A
diversidade e a disparidade ao longo da hierarquia de empregados tornavam-se cada vez
mais aparentes. As chefias, tanto seniores como intermédias, mostravam-se incapazes
de compreender as frustrações dos trabalhadores que, contrariamente ao que lhes tinha
acontecido, não estavam a fazer um trabalho desafiante e a receber extensas
recompensas da DataBase. Estes gestores demonstraram ainda uma forte resistência a
uma gestão descentralizada, recusando delegar eficazmente, à medida que as suas
responsabilidades aumentavam.
Mestrado em Políticas de Desenvolvimento dos Recursos Humanos
Cadeira: Mudança Organizacional
Docentes: Maria José Chambel e Luís Curral 4
Robbins (2005: 238, 239) defende que os rumores, que fazem parte de um sistema de
comunicação informal dentro da organização, emergem como reacção a situações
importantes para as pessoas, quando há ambiguidade, e sob condições que despertam
ansiedade. Segundo o autor, a rede de rumores é tida pela maioria dos funcionários
como mais confiável e fidedigna do que os comunicados formais vindos da cúpula da
organização.
Embora grande parte destas medidas tenham sido tomadas com as melhores intenções,
os seus resultados não se revelaram, minimamente, os esperados. Os colaboradores
estavam duvidosos quanto ao impacto das mudanças, principalmente na forma como
iriam funcionar na prática. As práticas e mudanças pareciam fortalecer a empresa à
custa dos trabalhadores e, para mais, estes últimos tinham criado expectativas em
Mestrado em Políticas de Desenvolvimento dos Recursos Humanos
Cadeira: Mudança Organizacional
Docentes: Maria José Chambel e Luís Curral 5
4. PLANO DE MUDANÇA
A DataBase tem como objectivo entrar para a lista dos “dez mais” tanto em termos de
melhores empregadores quanto em termos de melhores desempenhos, no espaço de três
anos, o que implica equilibrar, por um lado, os investimentos necessários para aumentar
a satisfação dos colaboradores e, por outro, os custos para controlar derrapagens
financeiras.
Mestrado em Políticas de Desenvolvimento dos Recursos Humanos
Cadeira: Mudança Organizacional
Docentes: Maria José Chambel e Luís Curral 6
Lewin (id., ibid, 2001: 537, 538), descreve teoricamente o processo de mudança
segundo três fases: descongelamento, mudança e recongelamento, tendo Schein (id.,
ibid.) explicitado os mecanismos que actuam em cada uma dessas fases.
Na segunda fase, a organização ou o grupo muda para um novo nível, o que envolve o
desenvolvimento de novos valores, atitudes e comportamentos. Nesta fase podem
ocorrer dois processos: a identificação com um novo modelo, que permite compreender
que é possível actuar segundo padrões diferentes; e a perscrutação da envolvente, que
implica uma reestruturação cognitiva e uma aprendizagem de novos padrões
comportamentais.
Segundo Caetano (2001: 539), “a interpretação que os empregados fazem das razões
que lhes são fornecidas para a realização de mudanças influencia o modo como reagem
e se dispõem a colaborar ou não com a direcção da organização. (…) A credibilidade
das razões apresentadas é um factor crítico que pode levar os empregados a
considerarem como legítimo, ou não, o processo de mudança e a reagirem em função
das interpretações individuais e grupais que fazem da mudança organizacional e das
suas consequências”.
A gestão da resistência à mudança tem que ser feita de forma muito cuidadosa,
procurando desarmar os mecanismos de resistência através da comunicação, da
participação e da partilha da visão de futuro por todos os membros da organização
(Camara et al, 2005: 218).
frequentemente, um novo ciclo, com uma análise específica dos novos problemas
encontrados e novas acções ou intervenções sobre a situação, de modo a viabilizar e
manter o processo de mudança (Caetano, 2001: 542).
Esta fase é fundamental, pois permite identificar os problemas que perturbam a eficácia
da organização e os eventuais factores que os determinam. Torna-se necessário
considerar as variáveis fundamentais que influenciam a organização. Seguidamente,
importa averiguar a relação dessas variáveis com os resultados da organização e
identificar os problemas críticos que afectam a sua eficácia, ao que se segue a produção
de soluções alternativas. (id., ibid.: 542).
Neste caso, recorrer-se-á ao modelo AMIGO, elaborado por Peiró (Chambel e Peiró,
1999), modelo de análise multifacetada para a intervenção e a gestão organizacional.
Segundo este modelo, que se pode incluir na concepção sistémica das organizações, a
organização, estudada com um carácter global, é uma consequência da relação
congruente que se estabelece entre as suas diferentes componentes. O núcleo essencial
de uma organização é constituído pela sua missão e a sua cultura mas, e de acordo com
a orientação contingencial que está subjacente ao modelo, a compreensão do contexto
em que ela opera é essencial para compreender a própria organização. Por outro lado, é
através do planeamento e da actuação estratégicos que a organização se tenta adaptar às
alterações que vão ocorrendo nesse mesmo contexto, reflectindo-se a missão
organizacional nos produtos e/ou serviços oferecidos. O conjunto dos elementos
referidos constitui a essência da organização, que se materializa numa série de
componentes hard e soft. As hard incluem os recursos económicos e a infra-estrutura, a
estrutura, a tecnologia e o sistema de trabalho. As soft são integradas pelo clima
Mestrado em Políticas de Desenvolvimento dos Recursos Humanos
Cadeira: Mudança Organizacional
Docentes: Maria José Chambel e Luís Curral 9
Segundo Caetano (2001: 560) a devolução dos resultados pode fazer-se através da
divulgação do relatório, da realização de sessões de grupo para a sua discussão e da
criação de grupos de trabalho para análise dos problemas detectados e sugestão de
medidas para os resolver. Assim, a devolução dos resultados aos colaboradores, para
discussão e análise, traduz-se num aumento de informação e poder dos níveis mais
baixos da organização, o que poderá facilitar o processo de mudança planeada,
implicando os próprios colaboradores na criação e implementação das medidas que se
decidir tomar.
Ao nível grupal: a mudança deve focalizar-se nos grupos e nas relações entre os
diversos grupos da organização. Assim, seria necessário considerar a reformulação de
funções, envolvendo modificação de tarefas, de responsabilidades, dos padrões de
interacção e, se necessário, do ambiente físico e técnico em que o trabalho é realizado.
Incluem-se aqui intervenções sobre o alargamento e enriquecimento do trabalho, de
forma a ir de encontro ao desejo dos colaboradores de produzirem um trabalho mais
criativo.
Outro mecanismo que seria importante considerar é a gestão por objectivos. Peter
Drucker, (citado por Caetano, 2001: 554), “além de considerar fundamental a
articulação dos objectivos globais da empresa com os objectivos de cada unidade e de
cada gestor, e de considerar que este processo de gestão facilitará o ajustamento dos
objectivos do indivíduo com os objectivos da empresa, coloca uma ênfase especial no
Mestrado em Políticas de Desenvolvimento dos Recursos Humanos
Cadeira: Mudança Organizacional
Docentes: Maria José Chambel e Luís Curral 12
Por outro lado, seria necessário desenvolver e consolidar o espírito de equipa, assim
como facilitar a resolução de conflitos. Isto passaria pela implementação de um modelo
de equipas autogeridas, com delegação de poder por todos os colaboradores, permitindo
que estes participem na resolução dos problemas do dia-a-dia.
Esta convicção advém da absoluta crença no papel crucial das pessoas e dos grupos
como agentes de criação e de inovação, que são duas actividades hoje indispensáveis
para o sucesso das organizações que actuam em contextos dinâmicos (Tavares, 2004:
82-84).
Por outro lado, segundo Mintzberg (2004: 458) inovar significa entrar em ruptura com
as rotinas estabelecidas, não podendo, a organização inovadora, apoiar-se em nenhuma
forma de estandardização para coordenar as suas actividades. Assim, a inovação
sofisticada exige uma estrutura que ele denomina de Adhocracia e que apresenta a
seguinte configuração: uma estrutura muito orgânica com pouca formalização do
comportamento; uma especialização horizontal elevada, baseada na formação; uma
tendência para agrupar os especialistas em unidades funcionais para a gestão do pessoal,
e para os desdobrar em pequenas unidades (grupos de projecto) para a realização do
trabalho; uma utilização importante dos mecanismos de ligação para encorajar o
ajustamento mútuo (principal mecanismo de coordenação) no interior das equipas e
entre as equipas; e uma descentralização selectiva no sentido destas equipas e no
interior destas equipas que estão situadas em vários locais da organização e que
agrupam as várias «combinações» dos quadros hierárquicos e dos peritos operacionais.
Segundo Caetano (2001: 545), a avaliação da mudança pode efectuar-se com base em
critérios «duros» e relativamente objectivos, como, por exemplo, o aumento das vendas,
o aumento dos lucros, a diminuição das reclamações, entre outros. Contudo, muito
frequentemente, pode não ser adequado utilizar estes critérios, tornando-se necessário
recorrer também a critérios de avaliação mais subjectivos ou «moles», de carácter
perceptivo. Sempre que possível, é conveniente combinar os dois tipos de avaliação.
5. CONCLUSÃO
Algumas das medidas aqui apontadas tinham já sido consideradas e implementadas pela
empresa, mas de uma forma não estruturada, sem um planeamento eficaz, pelo que
apenas originaram incompreensão, revolta e confusão.
6. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
Chambel, M. J. e Peiró, J.M. (1999), “El modelo «amigo» en el análisis del cambio
estratégico en las organizaciones: ocho estúdios de casos realizados en pequeñas
empresas del sector cerâmico”, Trabajo y Seguridad Social, nº 199, pp. 199-240