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Os ApóstolosA n tig o s

por DAVID O. McKay

tradução de MYRIAM B. M. DE CASTRO

— JUNTA DA ESCOLA DOMINICAL —

Missão Brasileira da Igreja de Jesus Cristo dos Santos dos Últimos Dias

BUA HENRIQUE MONTEIRO, 21. (Pinheiros) — SÃO PAULO (SP).


CAIXA POSTAL 863 — TEL. 8O-4638
SÃO PAULO – 1963
Í N D I C E PRIMEIRA PARTE — PEDRO
1 — Fontes de Luz . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 7
2 — Infância e Meio . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 11
3 — Desenvolvimento . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 17
4 — Os Doze . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 25
5 — Gloriosas Experiências . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 32
6 — O Testemunho de Pedro . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 36
7 — Uma Soberba Manifestação . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 41
8 — Lições de Verdadeira Liderança . . . . . . . . . . . . . . . . 46
9 — Na Noite da Traição . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 51
10 — Da Escuridão Para a Luz . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 58
11 — Um Verdadeiro Líder e Valoroso Defensor . . . . . . 65
12 — Pedro e João Aprisionados . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 70
í3 — Perseguidos Mas Incansáveis . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 75
14 — Uma Visita Especial a Samaria . . . . . . . . . . . . . . . . . 80
15 — Em Lida e Jope . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 83
16 — O Terceiro Aprisionamento . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 89
17 — Cenas Finais de um Grande Ministério . . . . . . . . . . 94

SEGUNDA PARTE — TIAGO


18 — Tiago — O Filho de Zebedeu . . . . . . . . . . . . . . . . . . 101
TERCEIRA PARTE — JOÃO
19 — Com o Redentor . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .. 107
20 — Com Pedro e os Doze . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 112
21 — últimas Cenas do Ministério . . . . . . . . . . . ... 116

3—
QUARTA PARTE — PAULO E SEUS COMPANHEIROS

22 — Saulo de Tarso . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 123


2)3 — A Convenção de Saulo . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 128
24 — Em Outra Escola . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 132
25 — Mensageiros Especiais a Jerusalém . . . . . . . . . . . . . . 137
20 — Primeira Viagem Missionária . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 141
27 — A Primeira Viagem Missionária — (continuação) .. 146
28 — Uma Grande Controvérsia . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 151
29 — Paulo Inicia Sua Segunda Viagem Missionária . . . . 156
30 — Em Filipos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 161
31 — Na Macedônia . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 167
32 — Em Atenas e Corinto . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 172
33 — A Terceira Viagem Missionária de Paulo de Antió-
quia a Ëfeso . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 179
34 — Terceira Viagem do Missionário — (continuação) 185
35 — Excitantes Experiências em Jerusalém . . .. . . . . .. 190
36 — Dois Anos em Prisão . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 196
37 — A Viagem a Roma . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 203
318 — O Mundo Enriquecido Por Um Prisioneiro Açor-
rentado ...................................... 210
PRIMEIRA PARTE

PEDRO

LIÇÃO I FONTES DE LUZ


Todos gostam de ler e ouvir falar sobre grandes homens. As crianças e os adultos têm
satisfação em saber como os líderes dos homens no passado fizeram o mundo melhor e
mais feliz com seus atos nobres. Após passarem-se muitos e muitos anos, ainda se vê obem
que esses líderes fizeram ao mundo, despertando grandes e admiráveis aspirações nos
meninos e meninas que hoje em dia desejam imitar esses heróis do passado.
Todos os meninos têm alguém que representa o seu ideal. Talvez haja mais de uma
pessoa represen tando esse ideal — um menino, por exemplo, pode de sejar ser como um
bom atleta, como um bom violinis ta, e também como um músico algum dia. Podem tam -
bém desejarem ser como um bom orador. Mas, algu mas vezes, as crianças escolhem
maus exemplos para seus ideais. Isto acontece quando lêem maus livros ou se associam
com homens de má índole. Como é infeliz o menino que lê sobre um salteador de
estradas ou la drão e vê despertar em sua jovem mente o desejo de ser como aquele
homem mau! Como é infeliz o menino que escolhe para seu ideal um homem que fuma,
bebe e passa a vida toda despreocupado e sem trabalhar!
Assim as vidas dos homens são como sinais que nos indicam os caminhos que levam a
existências úteis e felizes ou a vidas de egoísmo e miséria. É importan te, então, que
procuremos, tanto na vida como nos li-

vros, a companhia dos melhores e mais nobres homens e mulheres.


Carlyle, um grande escritor inglês, diz:
"Os grandes homens são sempre boas companhias, não importa sob que ponto de
vista sejam considera dos. Não podemos olhar, ainda que ligeiramente um grande
homem, sem dele ganhar algo. É a fonte de luz perto da qual é útil e agradável estar."
Se você estudar a vida dessas grandes fontes de luz do mundo, aprenderá pelo
menos uma coisa, que fez seus nomes imortais. É o seguinte: cada um deu alguma coisa
de sua vida para fazer o mundo melhor. Não passaram seu tempo procurando prazer,
ou diver são para si mesmo, mas encontraram sua maior ale gria em fazer os outras
felizes e mais confortados. To dos esses bons atos vivem para sempre, mesmo que o
mundo jamais tenha conhecimento deles.
Há uma história muito antiga que diz que um homem de um outro planeta visitou a
terra. Do alto de uma montanha ele olhou para as movimentadas ci dades do mundo.
Milhares de homens, como formigas, estavam ocupados construindo palácios de prazer e
outras coisas que não duram muito. Ao partir de vol ta, disse: "Toda essa gente está
gastando seu tempo para construir frágeis ninhos. Não é de se admirar que fracassem e
se envergonhem".
Todos os homens verdadeiramente grandes no mundo construíram algo além de
frágeis ninhos. Do fundo de suas mentes e de seus corações, saíram pre ciosidades que
fizeram o mundo mais rico. Realizaram feitos c!e amor e de sacrifício que inspiraram
milhões. Ao assim fazerem, podem ter sofrido; muitos, realmen te, tiveram morte
prematura, mas todos que assim de ram suas vidas, as salvaram. O que fazemos por
Deus e nosso próximo, vive para sempre; aquilo que faze mos só para nós não pode
durar.

Quando ouvimos qualquer coisa sobre um grande homem, logo queremos saber
tudo a seu respeito — onde nasceu, quem eram seus pais, onde viveu, como brincava,
com quem brincava, em que espécie de casa morava, onde ia nadar, onde pescava, etc.
Estas coi sas ditas a respeito de George Washington e Abraão Lincoln são sempre
interessantes. Qual é o menino que não gosta de ouvir a história do pequeno Lincoln que
vivia na cabana de troncos no sertão de Indiana? Ima giná-lo entre os ursos e outros
animais selvagens? Imaginá-lo sentado ao pé do fogo aprendendo a fazer contas com
auxílio de um pedaço de carvão e uma pá porque não tinha lousa, nem papel e nem
lápis? Abraão Lincoln foi um homem grande e bom, e queremos sa ber tudo a seu
respeito, mesmo quando era menino, em parte para que isto nos ajude a ser mais ou
menos co mo ele, pois, como Lincoln escreveu, "os meninos que se dedicam aos livros, aos
poucos se tornarão grandes homens".
Infelizmente, muito pouco sabemos a respeito da infância dos apóstolos antigos,
sobre quem leremos neste pequeno livro. Naturalmente, podemos imaginar que espécie
de meninos eram, se considerarmos a es pécie de homens que se tornaram mas, os
pequenos in cidentes de sua infância e mocidade, que tenderam a modificar seu caráter e
que poderiam nos interessar tanto, apesar de se terem passado mil e novecentos anos,
nunca foram escritos e talvez jamais sejam co nhecidos. Cresceram e se tornaram adultos
antes de te rem a oportunidade de prestar ao mundo o trabalho que os imortalizou.
Sob um aspecto, contudo, eram os homens mais favorecidos que o mundo conheceu,
porque tiveram o privilégio de estar em contacto diário durante cerca de dois anos e
meio, com o Salvador do mundo. Não é de se admirar, portanto, que tenham se tornado
grandes, tendo um exemplo de verdadeira grandeza cons-
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tantemente diante de si. Assim que aprenderam a amar Jesus, quizeram ser como Ele e
guardaram os seus en sinamentos e procuraram agir como Ele havia agido. Sem dúvida,
será proveitoso para nós se nos familiari zarmos com tais homens.
Pensem bem: o único motivo pelo qual o mundo ouviu falar deles foi por terem
encontrado o Salvador e feito Dele o Guia de suas vidas. Se eles não o tivessem feito,
ninguém saberia hoje que tais homens existiram um dia. Teriam vivido, morrido, e sido
esquecidos da mesma forma que milhares de outros homens que em seus dias morreram
sem que ninguém tomasse conhe cimento de sua existência, da mesma forma como mi -
lhares e milhares vivem hoje, desperdiçando sua vida e energias numa vida inútil,
escolhendo a espécie errada de homens para seus ideais, dirigindo seus passos à estrada
do prazer e indolência, em vez de dirigi-los à estrada do trabalho. Logo chegarão ao fim
de sua jornada na vida e ninguém poderá dizer que o mundo se tornou um pouco melhor
por eles terem nele vivido. Ao fim de cada dia, tais homens deixam o caminho que
palmilharam, tão estéril como o encontraram -— não plantam árvores para dar sombra
a outros nem ro seiras para fazer o mundo mais doce e belo para aque les que virão —
nenhum ato nobre e nenhuma realiza ção qualquer — apenas um caminho infrutífero,
estéril, árido, entremeado, talvez, com espinhos e cardos. Mas o mesmo não aconteceu
com os discípulos que escolheram Jesus para seu guia. Suas vidas são como jardins de
rosas do qual o mundo pode colher belas flores para sempre.

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LIÇÃO 2
INFÂNCIA E MEIO

"A mocidade é como as plantas: desde os primei ros frutos que produzem nos
fazem saber o que espe rar no futuro".
Correndo ao norte do Lago de Utah, através de parte da Grande Bacia, e
esvasiando-se no Grande La go Salgado, o Mar Morto da América, acha-se o Rio
Jordão. No Lago Utah a água é doce e há grande abun dância de peixes; no Lago
Salgado, como o próprio nome indica, a água é salgada; e tão salgada que os peixes
nela não podem viver. Ao presidente Brigham Young e aos valorosos pioneiros que o
acompanhavam, o Vale do Lago Salgado, com o Mar Morto refletindo os raios
gloriosos do sol de Julho, eram sem dúvid.i a "terra prometida".
Muito longe, além do Oceano Atlântico, estenden do-se na parte oriental do Mar
Mediterrâneo, encon-tra-se um outro mar salgado, um outro Rio Jordão e um outro
lago doce, correndo o rio através da "Terra Prometida" ou a "Terra de Canaan".
Contudo, se con sultarmos um mapa daquele país, veremos que as posi ções relativas
deste lago, rio e mar, são exatamente opostas às de Utah. Na Terra Santa, o lago, de
água doce encontra-se ao norte, o Rio Jordão corre para o Sul, para dentro do Mar
Morto.
A terra que contém estes três marcos impor tantes na história, tem vários
nomes. Como menciona mos acima, é chamada a Terra Santa, também a Ter-
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ra de Canaan, a Terra dos Hebreus, ou, ainda, a Casa de Israel, porque os filhos de
Jacob um dia lá se esta beleceram. É 'ainda algumas vezes chamada a Terra de Judá,
como se chamava um dos filhos de Jacob na Palestina, provavelmente por causa dos
Filisteus que viveram, como sabemos, nos dias do menino pastor David.
Tamanho de Canaan — O Lago Salgado tem cerca de oitenta milhas de
comprimento e quarenta de lar gura. A terra de Canaan tem quasi o dobro do compri -
mento e da largura, ou cento e setenta milhas de com primento e oitenta de largura. A
cidade de Dan encon trava-se ao Norte e Barsheba ao sul.
O lago de água doce da Terra Santa, também tem vários nomes. É geralmente
conhecido como o Mar da Galiléia, mas algumas vezes é chamado Mar de Tibe-riades,
Lago de Genezaré, Lago de Tiberíades e Mar de Ceneró. Tem cerca de dezesseis milhas
de compri mento e seis de largura. "As (águas deste lago se en contram numa profunda
bacia, rodeada de todos os lados por colinas, exceto a estreita entrada e saida do Jordão
em cada extremo.
Este mar visto da cidade de Capernaum, que está situada perto da extremidade
superior da encosta do lado ocidental, parece extremamente grande; seu maior
comprimento vai de norte a sul. O aspecto estéril das montanhas que se vêem em ambos
os lados e a com pleta ausência de madeira, dão contudo, uma aparên cia de tristeza à
paisagem que é aumentada com a me lancolia da calma morta de suas águas".
No lado ocidental deste lago encontrava-se unia das mais importantes regiões da
Palestina, chamada Gali léia. Um escritor antigo diz que em certa ocasião esta província
"continha duzentas e quatro cidades e vila rejos, com pelo menos quinze mil habitantes".
Betsaida — Em algum lugar desta província, pró- vàvelmente muito perto de
Capernaum, achava-se uma
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cidadezinha chamada Betsaida. Havia uma outra ci dade com o mesmo nome na parte
noroeste, mas é em Betsaida, perto de Capernaum, que agora estamos mais
interessados. Deve ter sido perto do lago, porque mui tas das pessoas que lá viviam
ganhavam a vida pescan do, não com anzóis e linhas como os meninos pescam hoje em
dia, mas com redes, que lançavam ao mar, e passavam pelo lago até que apanhassem os
peixes que eram então arrastados para a praia.
Simão — Na casa de um desses pescadores, prova velmente alguns anos antes do
nascimento do Salva dor, nasceu um dia uma criança a quem seus pais cha maram Simão
ou Simeão. Tinha um irmão chamado André (João 1:42-43). O nome de seu pai era
Jonas ou Johanas, mas muito pouco se sabe a seu respeito e na da absolutamente a
respeito de sua mãe. Nada defi nitivo se conhece a respeito da infância ou da mocida de
de Simão. Contudo, podemos concluir sem medo de errar, pelo que sabemos dos
costumes, crenças e prá ticas dos judeus de seu tempo, que ele vivia numa ca sa pequena
de telhado chato, contendo pouca ou ne nhuma mobília. Sabemos também que em casa e
na escola ele aprendeu tudo sobre os profetas no que ho je é o nosso Velho Testamento;
que observou estrita mente o dia do Sábado, e, o que é mais importante, aprendeu a
esperar pelo dia em que o Salvador do mundo viria a Seu povo.
Em fantasia, podemos imaginar Simão, André e seus companheiros de brinquedos
divertindo-se na praia da Galiléia; mas é somente em imaginação que podemos ver
quaisquer dos acontecimentos da infân cia de Simão. "Podemos pensar nele. diz George
L. Weed, "como um menino útil, auxiliando sua mãe nos deveres da casa — trazendo
cuidadosamente as peque nas lâmpadas de argila vermelha para serem enfeita das, ou o
milho para ser amassado, o peixe que seu pai havia apanhado, o carvão para cozinhá-lo,
o pão

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do forno, óleo e pães de mel para serem comidos por ele, ou água do riacho que corria na
colina atrás da sua casa, em direção ao lago, ou enchendo as jarras de água ia porta. Não
foi ele um orgulho para sua mãe quando pela primeira vez sacudindo a oliveira trouxe as
azeitonas para ela como parte de sua refeição fru gal, ou quando esparramava o milho e o
cânhamo pa ra secarem no telhado chato de sua casa, ao sol do verão? Não foi ele um
orgulho para seu pai quando pe la primeira vez tomou o remo e mergulhou-o na onda,
ajudou a lançar a rede e contou os peixes que haviam apanhado? Ele admirava o voo das
pardais e colhia flores — papoulas, margaridas e anémonas — como aquelas das quais o
Grande Mestre, a quem ele ainda não conhecia, ensinaria a ele lições de sabedoria e amor.
Infantilmente ele colhia conchinhas à beira-mar e fazia buracos na branca areia da praia
com um pe daço de pau com o mesmo prazer que uma criança mo derna brinca na praia
com sua pàzinha e seu balde.
Nenhum dos pescadores que viram Simão com seus companheiros brincando com
redes e barcos, ja mais suspeitou que quando ele crescesse estaria entre os maiores
homens do mundo!
Alguns escritores nos dizem que os Galileus eram geralmente corajosos, destemidos e
amavam a liber dade. Os homens davam bons soldados, pois eram "ou sados e intrépidos".
O menino Simão, ao se tornar adul to, deve ter admirado os homens corajosos que havia
ao seu redor, pois ele também se tornou um homem de cartáter forte, como vemos pelo
primeiro incidente de sua vida que foi registrado.
O NOME DE SIMÃO É MUDADO
Logo após ter Simão se tornado adulto, veio um homem do deserto do Jordão, vestido
somente com pêlo de camelo e uma túnica de couro em seus quadris,

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mas pregando com tal poder que o povo da "Judéia e de todas as regiões ao redor"
vieram ouvi-lo. Este gran de pregador era João Batista, o precursor de Cristo. Entre
aqueles que vieram ouvi-lo encontrava-se Simão que, sem dúvida alegrou-se ao ouvir
este pregador do Arrependimento declarar que o Filho do Homem de veria em breve se
manifestar na terra. Simão, André e alguns de seus amigos, creram no que João Batista
pregava.
Um dia, quando juntamente com alguns de seus seguidores, João se encontrava
perto de Betabara (uma palavra que significa encruzilhada) vendo Jesus que se dirigia
para ele, disse: "Eis aqui o Cordeiro de Deus, que tira o pecado do mundo. Este é aquele
do qual eu disse: Após inim vem um varão que já foi antes de mim; porque já era
primeiro do que eu".
No dia seguinte, 'italvez pelas proximidades das dez da manhã, João estava falando
com dois discípu los, eram eles André, irmão de Simão, e João. Cami nhando a curta
distância deles se achava o mesmo ho mem a quem João havia apontado no dia anterior,
como o Cordeiro de Deus. "E vendo por ali andar a Je sus, disse: Eis aqui o Cordeiro de
Deus. E os dois dis cípulos ouviram-no dizer isto e seguiram a Jesus".
O Irmão de Simão crê em Jesus — Aceitando o convite de Jesus para acompanhá-lo até
onde estava morando, estes dois homens permaneceram com Ele, ouvindo Suas palavras
durante o resto do dia. Ao par tirem, acreditavam que Jesus fosse o Rei de Israel, o
Salvador do mundo. Assim foram eles naquele dia, os primeiros, dois, além de João
Batista, a crer em Jesus.
Sempre que temos algo que é muito bom, quere mos partilhar com os que amamos.
Assim aconteceu com estes dois irmãos. Logo que sentiram a influência divina irradiar
do Salvador, encheram-se de grande vontade de fazer com que os que amavam ficassem
sob a mesma influência. André saiu a procurar seu

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irmão Simão e João seu irmão Tiago. André encontrou Simão primeiro e disse: "Já
achamos o Messias (que, traduzido, é o Cristo)".
Simão é chamado Cefas — E ele o trouxe a Jesus quando Este o viu, disse: "Tu és
Simão, filho de Jonas; lu -serás chamado Cefas (que quer dizer Pedro)". Na queles dias
os judeus falavam a língua hebraica, mas o Novo Testamento foi escrito em grego. Em
hebraico, Cefas significa "pedra", mas em grego a palavra pe dra é "Petras" ou Pedro.
Assim, daquele momento em diante, Simão foi conhecido como Simão Pedro, ou Si mão
a Rocha.
Quando pensamentos neste mundo maravilhoso no qual vivemos, em suas grandes
divisões de terra cha madas continentes, que no continente ocidental se en contram os
países da Europa, Ásia, África; que num cantinho da Ásia, há uma faixa de terra quase
só duas vezes maior do que o Lago Salgado; que naquela fai xa de terra havia uma divisão
como um de nossos es-tados, chamada Galiléia; que nesta província havia mais de
duzentas cidades e que em cada cidade habita vam vários milhares de pessoas, entre as
quais um dia nasceu um menino cujos pais eram desconhecidos, e que este menino
cresceu para se tornar um homem de tal caróter que Jesus o chamou "A Rocha" e que
durante mil e novecentos anos ele foi conhecido e honra do por milhões e milhões de
pessoas, precisamos com preender, mesmo em nossa mocidade, que um nasci mento
humilde não é um impecilho para a grandeza!

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LIÇÃO 3
DESENVOLVIMENTO
"Oh, sê meu amigo e ensina-me a ser teu amigo". SEU LAR EM CAPERNAUM
Desde o momento em que Pedro encontrou Jesus, seus pontos de vista na vida
mudaram. Até aquele tempo, ele havia esperado a vinda do Rei dos Judeus como um
acontecimento a se realizar em futuro inde finido. Com os outros judeus, ele havia pensado
que a vinda do Salvador seria marcada por maravilhosas manifestações e que, vestido em
trajes púrpura e ser vido por muitos anjos ele viria em poder infinito e nu ma expressão
divina de Sua ira, quebrar as cadeias ro manas que prendiam a cativa nação judia.
Mas agora, Pedro havia encontrado o Messias — um homem solitário nas margens do
Jordão. Somente cerca de cinco homens sabiam então que Ele clamava ser o Messias. Não
havia legiões de hostes celestes acompanhando-O! Ele não trazia vestes purpúreas! Não
possuía meios visíveis ao seu alcance com os quais pudesse quebrar o jugo romano. Seria
Ele realmente o Messias que deveria vir, ou deveria Pedro esperar outro?
A influência de Jesus sobre Pedro — Êsíes pensamentos e centenas de outros sem dúvida
assomavam à mente de Pedro, ao sair ele das proximidades do Jordão e voltar à sua pesca
na Galiléia. André e João, naquela memorável visita, pareciam ter recebido um
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testemunho da divindade da missão de Jesus e eles le varam aquele testemunho aos seus
irmãos, ao excla marem com alegria: "Já achlámos o Messias". Mas Pedro, impetuoso e
que, como aprenderemos, era na turalmente livre para falar o que sentia, até onde sa -
bemos ainda não havia expressado tal segurança. Con tudo, ele havia se impressionado
profundamente; pois não havia Jesus, à primeira vista, lido seu caráter? Não havia Ele
penetrado no mais profundo da sua nature za? Não havia Ele irradiado um espírito que
tão com-pletamente envolvia Pedro que ele não mais queria sair de Sua influência?
O Lar de Pedro — Pedro nessa ocasião era casado, sendo, talvez, pai de um
pequeno menino. Ele havia mudado de seu antigo lar em Betsaida, e vivia com a mãe
de sua esposa, ou ela com ele, em Capernaum. Com ele, achavam-se também André e
seus dois fiéis companheiros e amigos, Tiago e João, os filhos de Zebedeu.
A casa de Pedro tornou-se conhecida em Caper naum e, posteriormente tornou-se,
um dos pontos me moráveis do mundo. Lá, sem dúvida, Jesus ficava sem pre que se
achava em Capernaum. Depois que Jesus foi tão impdedosiamente (rejeitado por seus
próprios conterrâneos em Nazaré, fez de Capernaum sua cida de; e supõe-se que
grande parte do tempo, coube a Pedro a honra de hospedar em seu lar o Salvador do
mundo. Cada palavra, cada ato de seu grande hóspe de deve certamente ter aumentado
a confiança de Pe dro em Jesus como o Messias!

UMA LIÇÃO DE OBEDIÊNCIA


Nas praias da Galiléia — Numa bela manhã, vá-rios meses após os acontecimentos
narrados na lição anterior, e pouco tempo após ter sido renegado em Na zaré, Jesus
estava pregando a uma multidão nas praias

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da Galiléia. Pedro e André estavam ocupados nas pro ximidades, lavando suas redes,
após terem passado a noite toda no lago em tentativa baldada de apanhar alguns
peixes.
"E aconteceu que, apertando-o a multidão, para ouvir a palavra de Deus, estava
Ele junto ao lago de Genezaré. E viu estar dois barcos juntos à pram do lago; e os
pescadores, havendo descido deles, estavam lavando suas redes. E, entrando num dos
barcos, que era o de Simão, pediu-lhe que o afastasse um pouco da terra e, assentando-
se, ensinava do barco a multidão".
Primeiro caso registrado da obediência de Pedro — Quando Pedro satisfez o pedido de
Jesus "que o afastasse um pouco da terra", fez o primeiro ato de obediência à voz de
Cristo, que foi registrado. Agora, contudo, seguiu-se uma obediência que era completa-
mente contrária à maneira de pensar do pescador. Quando Jesus havia acabado de
falar à multidão, disse à Pedro: "Faze-te ao mar alto, e lançai as vossas re des para
pescar. As folhas e a sujeira haviam sido tiradas da rede vazia; estava seca, e os fios
arrebenta dos haviam sido emendados. Pedro estava cansado e queria descançar.
Estava com fome também, ou talvez desencorajado. Não é de se espantar, portanto,
que tenha respondido: "Mestre, havendo trabalhado toda a noite nada apanhámos".
Era o mesmo que dizer: "Não adianta nada, pois não há peixes nesta manhã, nesta
parte do lago e também não havia nenhum durante toda a noite". Mas 'Pedro estava
aprendendo a honrar e obedecer este Homem entre os homens; assim, rapi damente
acrescentou estas palavras: "mas sobre tua palavra lançarei a rede". Como um
pescador expe rimentado que era, seu bom senso lhe dizia que uma outra tentativa
seria inútil; como um seguidor de .Jesus, sua Fé lhe ordenava que tentasse.

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(ZindocoResultado da Obediência — "E fazendo assim, colheram uma grande


quantidade de peixes, e rompia-se-lhes a rede. E fizeram sinal aos companheiros que
estavam no outro barco, para que os fossem ajudar. E foram, encheram ambos os
barcos de maneira tal que quase iam a pique. É-nos relatado que "o espanto se
apoderara deles e de todos que com ele estavam, por causa da pesca de peixe que
haviam feito". Pedro, o lider dos quatro e que mais tarde se tornou o chefe dos Doze,
"prostrou-se aos pés de Jesus, dizendo: Se nhor ausenta-te de mim, que sou um
pecador".
Teria sido simplesmente a dúvida e hesitação expressas quando, alguns minutos
antes, Jesus havia pedido a ele que se "fizesse ao alto mar?" ou seria a compreensão das
muitas dúvidas da divindade de Cristo que agora o abatiam, e lhe faziam sentir sua
própria inferioridade e fraqueza na presença deste Todo Po deroso? Jesus havia
manifestado seu poder, e assim fa zendo havia ensinado a Pedro uma lição que ele e o
mundo todo, mais cedo ou mais tarde deveriam apren der: que a obediência às palavras
de Cristo traz bên çãos, tanto materiais como espirituais. Enquanto a compreensão
desta verdade embalava seus sentimentos cheios de respeito, Jesus lhe disse: "Não
temas: de ago ra em diante serás pescador de homens".

UM SÁBADO MEMORÁVEL
Após ter sido rejeitado em sua própria cidade, Na zaré, Ele "desceu a Capernaum
e ali os ensinava nos sábados".
Culto na Sinagoga — A última parte do culto na sinagoga naqueles tempos, era a
exposição das escritu ras e a sua pregação ao povo. Isto não era feito sempre por um
oficial mas por uma pessoa distinta que esti vesse na congregação. Naturalmente, Jesus
era conhe cido em todos os lugares naquele tempo como um gran-

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de mestre, um operador de milagres e um capaz intér prete da lei; "e admiravam a sua
doutrina, porque a sua palavra era com autoridade".
Cura de Um Endemoninhado — Certo slábado, quando Jesus estava pregando, Pedro e
todos os pre sentes firam surpresos por ver um homem levantar-se na audiência e,
repentinamente, interromper gritando em alta voz: "Ah! que temos nós contigo, Jesus
Nazareno? vieste a destruir-nos? Bem sei quem és; O Santo de Deus". Ao calar-se este
homem, que estava possuído por um espírito mau, a audiência toda estava em suspenso
quando Jesus o repreendeu, dizendo: "Ca la-te e sai dele." E o demónio, lançando-o por
terra no meio do povo, saiu dele sem lhe fazer mau algum. E veio espanto sobre todos, e
falavam entre si uns e outros, dizendo: Que palavra é esta, que até aos espí ritos imundos
manda com autoridade e poder e eles saem?"
A Cura da Sogra de Pedro — Ao terminar este culto, Jesus foi com Pedro à casa deste,
acompanhado de André, Tiago e João.
Pedro, André, Tiago e João eram companheiros de de infância, sócios como
pescadores, companheiros co mo discípulos de João Batista e agora estavam se tor nando
inseparáveis e amados elos da Irmandade de Cristo! Ao entrarem em casa souberam que
a mãe da esposa de Pedro estava muito doente, com febre. Sem dúvida, foi Pedro que
contou a Jesus as condições de sua sogra e rogou que Ele a abençoasse. "Inclinando- se
sobre ela, repreendeu a febre e esta a deixou. E, levantando-se logo, servia-os".
É fácil imaginar como toda Capernaum comentava como Jesus havia repreendido o
espírito mau do ho mem aflito, na sinagoga! E que então, alguns minutos n pós o culto,
Ele havia curado uma mulher instantân-ncnmentc, de febre! As notícias se
esparramaram de casa em casa e de grupo em grupo até que "sua fama
— 21 —
Domínio divulgou-se por todos os lugares em redor daquela co marca" .
Muitos Curados — Durante toda a tarde a casa de Pedro e as ruas ao seu redor
estavam cheias de pes soas, algumas movidas por curiosidade, mas a maioria desejando
uma bênção. Homens possuídos de demó nios eram levados através da multidão até
Jesus e eram curados; aqueles que durante muitos dias haviam so frido de febre
escaldante, aqueles que eram afligidos por várias espécies de moléstias, eram todos
trazidos à presença deste Grande Médico que impunha suas mãos sobre todos e os
curava.
O sol desceu, veio a meia luz, e as sombras da noite começaram a cair, mas os doentes
e os sofredores ainda buscavam aquela cura divina que somente Cristo, o Se nhor
poderia dar. "Jamais", diz Eidersheim, "jamais, sem dúvida, foi Ele mais
verdadeiramente o Cristo do que quando, no silêncio daquela noite passou por aquela
multidão sofredora colocando suas mãos sobre os doen tes curando todos os expulsando
muitos demónios".
Provavelmente naquele dia Jesus só pôde descan-çar bem tarde. Depois que o povo
havia partido para os seus lares, agora mais alegres, Pedro e os de sua casa queriam
conversar com o hóspede ilustre, sobre os grandes milagres daquele dia. Finalmente,
todos se retiraram e dormiram ao escoarem-se as últimas ho ras daquele inesquecível
sábado.

OUTRA SEMANA DE PREPARO


A Manhã de Domingo — Antes de surgir a luz, con tudo, Jesus levantou-se quietamente,
respirando o puro ar da manhã; procurou um lugar quieto e solitário e lá orava. Pedro
deve ter se surpreendido quando ao ir cumprimentar seu hóspede, encontrou seu quarto
vazio. Talvez tivesse adivinhado onde Jesus havia ido, pois nos é dito que "seguiram-nO
Simão e os que com

— 22 —
ele estavam. E, achando-o, lhe disseram: "Todos Te buscam".
Que gloriosa será a situação deste velho mundo quando puder ser
verdadeiramente dito de Cristo, — "Todos Te buscam".
O egoísmo, a inveja, o ódio, a mentira, o roubo, a desonestidade, a desobediência
aos pais, a crueldade para com as crianças e animais, a discussão entre os vizinhos e as
lutas entre as nações — tudo desaparece rá quando se puder dizer verdadeiramente ao
Redentor da humanidade, — "Todos Te buscam".
Parece que Jesus e Seus amigos saíram de Carper-naum naquele dia e "pregava
nas sinagogas deles por toda Galiléia e expulsava os demónios". Onde quer que fossem,
os doentes eram curados e os leprosos eram limpos. Alguns dias mais tarde, voltaram
a Caper-naum. Assim que o povo soube que Jesus se encon trava "na casa" (sem
dúvida, na casa de Pedro), "Lo go que se ajuntaram tantos, que nem ainda nos lugares
junto à porta cabiam; e anunciava-lhes a palavra".
O Paralítico de Capernaum — Foi nesta ocasião que quatro homens trouxeram um
paralítico. O pobre infeliz jazia em sua cama que era carregada pêlos qua tro homens.
"E não podendo aproximar-se d'Êle por causa da multidão", subiram ao telhado. Ali
fizeram uma abertura comunicando com a sala "e baixaram o leito em que jazia o
paralítico".
"E Jesus vendo a fé deles, disse ao paralítico: Filho, estão perdoados os teus pecados.
E levantou-se e, to mando logo o leito, saiu em presença de todos, de sorte que todos se
admiraram e glorificaram a Deus, dizen do: Nunca tal vimos". Todas estas gloriosas
manifes tações de poder divino e, sem dúvida muitas e muitas mais, Jesus havia feito
mesmo antes de escolher Seus Do/c Apóstolos.

— 23 —

'Pedro, como se vê, foi uma testemunha de todas elas. Se ele tivesse tido qualquer
dúvida alguns meses antes, quando seu irmão André disse: "Já encontramos/ o Messias",
certamente elas haviam há muito tempp sido banidas de sua mente; e podemos entender
porque, quando Jesus disse: "de agora em diante serás pesca dor de homens", Pedro
deixando tudo, seguiu após Ele.
Mas, mesmo assim, não obstante todas as experi ências, a fé de Simão ainda não era
a pedra em que Jesus queria que ela se transformasse.
— 24 —

LIÇÃO 4 OS DOZE

"Os Doze conselheiros viajantes são cha mados para serem os Doze Apóstolos,
ou testemunhas especiais do nome de Cristo em todo o mundo".

Provavelmente muitos meses após os acontecimen tos narrados no capítulo anterior e


um pouco antes da Festa da Páscoa, Jesus foi a uma montanha perto de Capernaum.
Como era de costume deste tempo de sua vida, uma grande multidão O seguia. Mas Ele
afastou-se da multidão, foi ao alto da montanha para que pudesse estar a sós com Seu Pai
nos Céus, ao qual Ele orou a noite toda.
Os Doze Escolhidos — Sem dúvida, muitos de seus mais ardentes seguidores também
permaneceram na montanha por toda noite, pois "quando já era dia, chamou a si os seus
discípulos e escolheu doze deles, a quem também nomeou apóstolos".
A palavra apóstolo significa "Enviado" ou "Aque le que é enviado". Um apóstolo é
uma "testemunha especial do nome de Cristo em todo o Mundo".
Em todos os relatos feitos deste importante acon tecimento, o nome de Pedro é
mencionado primeiro, indicando que ele foi escolhido como chefe dos após tolos, e foi
sem dúvida indicado e abençoado como o Presidente do Conselho dos Doze. Os nomes
dos Doze a quem Jesus ordenou naquele tempo, são:

— 25 —
(1) Simão Pedro, e seu irmão; (2) André; (3) Tia go e (4) João, os dois filhos de
Zebedeu; (5) Filipe de Betsaida e (6) Natanael, também chamado Bar-tolomeu; (7)
Tomé, também chamado "Dídimos", nome que significa "gémeo"; (8) Miateus, o
publi-cano, ou coletor de impostos; (9) Tiago, filho de Alfeu; (10) Lebeu, que era
também chamado Ta-deu e também Judas, mas não o Iscariotes; (11) Simão o
"Cananita" ou Simão o "Zelador" e (12) Judas Iscariotes, que foi o traidor.
Quem Eram os Doze — Estes doze homens eram, em sua maioria, pescadores
galileus que trabalhavam em seu ofício nas praias da Galiléia. Mateus, contudo, era um
publicano e, portanto, desprezado petos Judeus; e Judas era Judeu. Alguns dos líderes
dos judeus pen saram que eles fossem "homens sem letras e indoutos", isto é, sem
instrução e ignorantes. Indoutos eles o eram; mas não ignorantes, pois pela sua
sabedoria e pregação, sobrepujaram toda a estrutura do conheci mento humano, e
conduziram o mundo à luz e à ver dade".
Como um humilde discípulo de Jesus, Pedro havia sido testemunha de muitas
coisas maravilhosas relacio nadas com a missão do Salvador; mas era difícil para ele
compreender o significado do plano do Evangelho. Ao continuarmos com sua biografia,
notaremos que sua compreensão se desenvolveu vagarosamente, apesar de ter ele
estado, durante um ano mais ou menos, na pre sença de seu Senhor. Aqui estão algumas
das coisas que ele testemunhou imediatamente após a sua ordenação como apóstolo.

NA FESTA DE MATEUS
J oiro — Um dia Jesus e os Doze aceitaram um con vite para ir à casa de Mateus, o que
muito ofendeu os

— 26 —
fariseus, pois Jesus comeu com um publicano e os pe cadores. Enquanto Jesus e os Doze
ainda estavam na festa, e Jesus estava respondendo à acusação dos fari seus, "eis que
chegou um dos principais da sinagoga, por nome Jairo, e, vendo-o, prostrou-se aos seus
pés, e rogava-lhe muito, dizendo: Minha filha está moribun da; rogo-te que venhas e lhe
imponhas as mãos para que sare e viva".
Jesus imediatamente abandonou os prazeres da festa de seu amigo e irmão Mateus,
e seguiu Jairo à sua casa.

A MULHER QUE TINHA UM FLUXO DE SANGUE


"...E seguia-o uma multidão que o apertava". Nesta multidão achava-se uma
senhora que vinha so frendo por doze anos em virtude de uma ferida que não podia ser
curada. O sangue havia corrido por tan to tempo que ela estava fraca e era muito pobre,
pois "havia dispendido tudo quanto tinha, tentando curar- se". Ela havia ouvido falar em
Jesus e em seu poder pa ra curar os doentes, e tinha tanta fé que havia dito a si mesma:
"Se tão somente tocar os seus vestidos, sa rarei" .
Ao passar Jesus ela esticou suas mãos e tocou a barra do Seu vestido, "e logo se
lhe secou a fonte do seu sangue e sentiu no seu corpo estar já curada da quele
açoite".
"Quem tocou os meus vestidos"? Jesus, sentindo imediatamente que havia saído
virtude dÊle, virou-se e perguntou: "Quem tocou os meus vestidois". Pedro respondeu,
"Mestre, a multidão te aperta e oprime, e dizes: "Quem é que me tocou?" (Lucas 8:45).
Que grande visão deve Pedro ter recebido dos po deres divinos de Cristo, ao notar
que a mulher que estava doente vinha através da multidão, atirando-se
— 27 —

aos pés de Cristo, e confessava tudo a Ele. Que sa tisfação deve ter ele experimentado,
ao ouvir seu Se nhor dizer: "Filha, a tua fé te salvou; vai em paz e sê curada deste teu
açoite".
Mas logo Pedro foi testemunha de um milagre ainda maior.

A FILHA DE JAIRO

Enquanto Jesus ainda estava falando à mulher que


agora havia sido abençoada e estava feliz, e enquanto
Pedro e seus companheiros e a multidão ainda olhavam
com grande admiração, viu uni dos principais da sina
goga, a quem diziam: "A tua filha está morta, não in
comodes o Mestre". /

Pobre Jairo! Ele havia saído apressadamente do lado da cama de sua filhinha apenas
meia hora antes para pedir a Jesus de Nazaré que viesse salvá-la. O médico divino havia
saído imediatamente para aten dê-lo, porém era tarde demais. O coração de Pedro deve
ter se movido de simpatia e pena pelo pobre pai. Mas então, após o triste anúncio de
falecimento, eles ouviram a voz confortadora de Jesus: "Não temas, crê somente e será
salva".
Ao aproximarem-se da casa, ouviram o pranto dos amigos e os lamentos da mãe
infeliz. Mas, Pedro, co mo também os outros, ouviram o Mestre dizer "Não choreis: Não
está morta, mas dorme. E riam-se dÊle sabendo que estava morta". O Salvador então
pediu que todos deixassem a sala, com exceção de Pedro, Tiago e João, o pai e a mãe.
Então dirigiu-se à cama, tomou a pequenina e branca mão nas suas e disse: "Levanta-te
menina". "E o seu espírito voltou e ela logo se levantou; e Jesus mandou que lhe dessem
de comer".

— 28 —

Estes acontecimentos na vida de Pedro são apenas algumas das gloriosas


experiências que ele teve antes de partir como "uma testemunha especial do nome de
Cristo". Jesus sabia que nem Pedro e nem ninguém poderia converter outros à verdade
antes que eles mes mos a conhecessem. Ninguém pode ensinar o que não sabe. Sem
dúvida, por esta ocasião Pedro cria, com todo o seu coração, que Jesus, o fazedor de
maravilhas, era realmente o Messias que deveria vir; mas seu teste munho ainda não era
firme como uma "pedra".

A PRIMEIRA MISSÃO DE PEDRO


Contudo, chegou o tempo em que ele estava sufi cientemente instruído para partir
em missão "e Jesus chamou a si os doze e começou a enviá-los a dois e dois" (Marcos,
6).
"... e lhes ordenou dizendo: Não ireis pelo cami nho das gentes, nem entrareis em
cidade de samarita-nos; mas ide às ovelhas perdidas da casa d'Israel e, indo, pregai,
dizendo: É chegado o reino dos céus. Curai os enfermos, purificai os leprosos, ressuscitai
os mortos, expulsai os demónios: de graça recebestes, de graça dai. (Mateus, 1:5-42).
Ele lhes disse que viajassem sem dinheiro e sem roupas extras e que levassem
bênçãos e paz a todos que os recebessem. Disse-lhes que seriam perseguidos, presos e
julgados diante de governadores e reis, mas deu-lhes a certeza de que o Senhor os
livraria. Disse ainda que "se ninguém vos receber, nem escutar vos sas palavras, saindo
daquela casa ou cidade, sacudi o pó dos vossos pés. Em verdade vos digo que, no dia
do juizo, haverá menos rigor para as cidades de Sodo- ina e Gomorra do que para
aquela cidade".
"Quem vos recebe, me recebe a mim; e quem me recebe a mim, recebe Aquele
que me enviou. E qual-

— 29 —

quer que tiver dado só que seja um copo d'água fria a um destes pequeninos na qualidade de
discípulos, em verdade vos digo que de modo nenhum perderá seu galardão".
Não sabemos quem foi o companheiro de Pedro nesta missão mas sabemos que eles
foram e pregaram arrependimento aos homens, que expulsaram demónios e fizeram muitas
outras coisas em nome de Jesus de Nazaré.
Foi enquanto estavam empenhados nesta missão que João Batista foi decapitado por
ordem do perverso rei Herodes.
Ao voltarem, "Os apóstolos ajuntaram-se a Jesus (provavelmente em Capernaum) e
contaram-lhe tudo, tanto o que tinham feito como o que tinham ensinado. Mas havia tantos
que "iam e vinham" que "não tinham tempo para comer", assim Jesus, querendo estar sozi -
nho com os Doze, disse: "Vinde vós aqui à parte, a um lugar deserto, e repousai um pouco".
Assim eles en traram num barco "em particular", e navegaram ao lado de Capernaum para a
costa noroeste. Mas algu mas das pessoas os viram partir e correram a pé ao redor da costa
noroeste do lago. Outras pessoas as vendo correr, juntaram-se a elas, e quando Jesus e os
Doze desembarcaram havia centenas, se não milhares de pessoas lá para cumprimentá-los.
Ao aproximar-se a noite, os discípulos pediram a Jesus para dispersar a multidão, para
que pudessem ir à cidade e comprar algo que comer.
Foi nesta ocasião que Pedro testemunhou outra manifestação do poder de Deus e viu
repetida a lição que ele aprendera um ano atrás quando fez a mara vilhosa pesca, isto é, que a
obediência k palavra de Cristo sempre traz conforto e felicidade. Em lugar de dispersar a
multidão que estava com fome, Jesus disse: "Onde compraremos pão para estes comerem?"

— 30 —
Respondeu Filipe: "Duzentos dinheiros de pão não lhes bastarão, para que cada um deles
tome um poueo" (João 6). Mas de cinco pães de cevada e dois peixinhos, Jesus, por algum
processo que lhe era natu ral, mas milagroso para nós, alimentou a vasta multi dão em número
de quase cinco mil.
Pedro ajudou não só a distribuir os pães e os peixes entre a multidão, mas também a juntar
doze cestas de sobras. Sem dúvida ele foi um dos que disseram: "Este é verdadeiramente o
profeta que devia vir ao mundo". Vamos esperar, contudo, que ele não tenha sido um dos que
tomariam Jesus pela forca para fazê-lo Rei.

— 31_
LIÇÃO 5 GLORIOSAS EXPERIÊNCIAS
"Os passos da fé caem no nada aparente, mas sob eles encontram a rocha".
"Tudo o que vi me ensinou: a confiar no Criador, pelas coisas que não vi".
—x. x. x. x—
Quanto Jesus chamou Simão "Pedro" ou "A Ro cha", sem dúvida expressou com
aquele nome uma das* características que Ele desejava ver na fé de Seus dis cípulos, e,
particularmente, em Seus Apóstolos. Que ria que eles tivessem uma fé inabalável — uma
fé que os faria firmes na verdade, a despeito de milagre ou milagres de homens — fé no
Senhor em todos os íem-pos e sob todas as circunstâncias, fossem elas quais fossem.
Jesus sabia que os Judeus eram facilmente in fluenciáveis, que um milagre feito hoje
poderia des pertar neles um sentimento de que Ele era o rei pelo qual eles estavam
esperando e que a verdade ensinada amanhã poderia despertar neles um sentimento de
que Ele era um impostor. Ele queria leviá-los a Deus e ao Seu Evangelho. Queria que
compreendessem as ver dades da vida para que as vivessem após a sua partida do meio
deles.
Imaginem então qual não foi a sua dor, quando, após o milagre mencionado no
último capítulo, o povo se levantou e o aclamou rei e pensou que por lhe ofe-
— 32 —
recer uma coroa vazia lhe estava prestando honras. Ele não queria que eles o
honrassem. Queria apenas que vissem o poder de Deus e cressem em sua divina
verdade.
Querendo estar a sós mais uma vez com Seu Pai, não querendo a companhia nem
mesmo dos três prin cipais apóstolos, Pedro, Tiago e João, Jesus dispersou a multidão,
disse aos Doze que embarcassem e voltas, sem a Capernaum e Ele se dirigiu a um
local solitário para orar.
O MAR TEMPESTUOSO
Durante a noite, enquanto Jesus ainda orava, caiu uma grande tempestade, que fazia
levantar grandes ondas no mar. Da montanha, Jesus podia ver Seus discípulos lutando,
mas incapazes de fazer muito pro gresso, embora eles não o vissem.
Quando o barco estava cerca de trinta estádios da praia, Jesus decidiu ir a ele. Já
passava da meia noite e os discípulos ainda estavam lutando contra o mar encapelado.
Jesus anda sobre o mar — Imagine seu medo quan do, na escuridão, viram um objeto
dirigindo-se a eles sobre as ondas! E quando alguém gritou: "É um fan tasma", ficaram
mais amedrontados que nunca.
"Jesus, porém, lhe falou logo, dizendo: Tende bom ânimo, sou eu, não tenhais
medo".
Pedro imediatamente falou, dizendo: "Senhor, se és tu, manda-me ir ter consigo por
cima das águas".
"Vem", disse Jesus.
E Pedro, descendo do barco, andou sobre as águas para ir ter com Jesus".
Pedro, firme em crença e forte em determinação quando seus olhos vêem somente a
magestade da fé e a perfeita manifestação de seu poder: Poderoso e des-
— 33 —
temido, quando vê somente a glória de Deus e sua alma grita para ir ter com Ele:
Mas quando vê "o vento forte" fica com medo e, começando a afundar-se, grita,
dizendo: "Senhor, sal va-me" (Mateus 14).
Assim é na vida, quando os ventos da tentação e as ondas do desespero se abatem
sobre nós, o olho da fé se eleva mais para estes elementos de que para a luz da vida,
enfraquecendo o poder da fé, como Pedro, começamos a afundar. Muitos, sim,
muitos, afundam-se sob as vagas; poucos gritam como ele: "Senhor salva-me".
"E logo Jesus, estendendo a mão, segurou-o e dis se-lhe: Homem de pouca fé,
porque duvidaste?".
OUTRA EXPERIÊNCIA
Na manhã seguinte o povo de Capernaum que sa bia que Pedro e os outros
discípulos haviam partido do lado oposto sem Jesus, muito se admiraram por vê-lo
junto com eles e disseram: "Rabi, quando chegaste
aqui?".
"Vós me buscais, não pêlos sinais que vistes, mas
porque comestes do pão e vos saciastes".
"Trabalho, não pela comida que perece, mas pela
comida que permanece para a vida eterna, a qual o
Filho do homem vos dará", (João 6:25-27).
Ele então proferiu o famoso sermão sobre o Pão da Vida, parte do qual, como
João dele se lembrava, acha-se registrado no capitulo sexto do evangelho de João.
Havia tantas coisas que eram faladas e que os Judeus não podiam compreender, por
causa de seu pre conceito, que primeiramente ficaram meio confusos, depois
enraivecidos e finalmente muito ofendidos. Aqueles que tinham pouca fé,
influenciaram-se pêlos murmúrios da multidão e disseram: "Não cremos que
_ 34 _

este homem seja o Filho de Deus. Mesmo alguns de Seus discípulos afastaram-se da
Verdade "e já não andavam com Ele".
A massa de homens e mulheres enraivecidos muito se assemelhava com o mar
encapelado que fustigava os discípulos na noite anterior. Os ventos do ridículo e as
ondas do descontentamento batiam-se contra os discípulos inconstantes. Ao olharem
para estes maus elementos da paixão humana, sua fé em Cristo enfra queceu-se e eles
"começaram a afundar".
Em vão, Jesus testificou "Sou Eu, o Filho do Ho mem!" Eles não lhe dariam ouvido,
pois Ele era para eles nada mais que o filho de José o carpinteiro. Ao afastarem-se
dele os vários grupos, Ele virou-se para os apóstolos e disse: "Quereis vós também
retirar-vos?" Mais uma vez foi Pedro que quebrou o silêncio. Com os outros ele havia
olhado para a barulhenta mul tidão, com os outros ouvira as palavras enraivecidas
dirigidas ao seu Mestre. No meio deste mar de paixão humana, diria ele, "Senhor, se
és tu, manda-me ir ter consigo?"
Como que um pouco hesitante, como se sua fé não fosse tão firme como Jesus
queria que se tornasse, ele respondeu: "Senhor, para quem iremos nós? Tu tens as
palavras da vida eterna". (João 6:68).
Então, sua certeza se fortaleceu e seus pensamen tos se afastaram da multidão
apóstata e ele acrescen tou: "E nós temos crido e conhecido que tu és o Cristo, o Filho
de Deus". Apesar do não ter vindo dos lábios de Jesus, nessa ocasião, a palavra
"Abençoado", sem dúvida Ele se sentia satisfeito por ver a fé incerta de seus
discípulos se tornar firme nos corações de seus Apóstolos.
- 35 -

LIÇÃO 6

O TESTEMUNHO DE PEDRO

Em Tiro e Sidon. — Pouco tempo depois que o povo de Capernaum negou o


Salvador, como foi n ar-rado no capitulo anterior, Jesus levou seus doze discí pulos ao
oeste, através da Galiléia, para a terra de Tiro e Sidon, perto do Mar Mediterrâneo. Ele
queria estar sozinho com os Doze, para que pudesse ensinar-lhes muitas coisas
relacionadas com o reino de Deus e assim prepará-los para levar adiante o trabalho,
depois que Ele os deixasse.
A Mulher Cananea — Muitas coisas aconteceram nesta viagem que deve ter sido
memorável para Pedro e os outros membros dos Doze. Primeiro, houve uma mulher
cananea que procurou Jesus e implorou que Ele curasse sua filhinha.
Porque ela não pertencia à raça judia, os discípulos disseram: "Despede-a, que
vem gritando após nós".
Naturalmente, eles devem ter pensado então, e por muito tempo depois, que o
Evangelho era somente para os Judeus. Mas Jesus lhes ensinou que Ele amava à
mulher cananea tanto quanto aos judeus. Mas Pedro não compreendeu inteiramente.
Outros milagres — Da Costa de Tiro e Sidon, eles viajaram ao redor da Galiléia e
chegaram ao lado este do Mar da Galiléia. Aqui os discípulos testemunharam outras
manifestações do poder de Jesus. Um homem surdo que não podia falar claramente, foi
curado e ouviu e falou; e quando o povo ouviu sobre isto, se-
— 36 —

guiu a Jesus e os Doze, fora da cidadezinha, até "um lugar deserto".


Mais uma vez Pedro viu uma multidão ser ali mentada, desta vez, tendo somente
sete pães e alguns peixinhos.
Pode parecer que depois de todos estes meses jun to do Salvador — ouvindo Suas
parábolas, vendo Seus milagres, sentindo Seu espírito e recebendo Seus ensi namentos
diariamente, os apóstolos compreenderiam certamente a missão do Redentor.
.ás palavras de Jesus não são compreendidas. — Mas lemos que após terem sido
alimentados estes "quatro mil homens, além de mulheres e crianças" os discípulos
entraram com Jesus num barco e remaram para o lado oeste do lago. Lá eles
encontraram alguns Fariseus e Saduceus, que começaram a se opor a Jesus. Quando Ele
e os Doze estavam sozinhos novamen te, disse: "Adverti-vos e acautelai-vos do fermento
dos fariseus e saduceus".
Sabemos o que Ele queria dizer com isto, mas os discípulos disseram entre si: "É
porque não nos for necemos de pão".
Quando Jesus viu que eles não o compreenderam, disse: "Como não entendestes que
não vos falei a res peito de pão, mas que vos guardásseis do fermento dos fariseus e
saduceus?"
"Então compreenderam que não dissera que se guardassem do fermento do pão, mas
da doutrina dos íuriscus e dos saduceus". (Mateus, 16:1-12).
Sem dúvida, havia viários entre eles cujo testem u- nliu estava se tornando firme e
inabalável. Sabemos «l u e apenas alguns dias mais tarde o apóstolo chefe mostrou em
palavras que não poderiam ser mal inter- prcludus, sua firme convicção de que Cristo era
realmente o Filho do Deus Vivo.

— 37 —
A inesquecível confissão de Pedro — Eles haviam se dirigido para o norte, para
Cesaréia de Filipo, aos pés do monte Hermon. Aqui, Jesus, um dia, fez aos seus discípulos
esta pergunta: "Quem dizem os ho mens ser o filho do homem?"
"E eles disseram: "Uns João Batista, outros Elias, e outros Jeremias ou um dos
profetas".
Então Jesus disse: "Mas vós, quem dizeis que eu sou?
Simão Pedro respondeu: "Tu és o Cristo, o Filho do Deus vivo".
Não havia hesitação agora, nem medo, nem incer teza, para a expressão direta de
uma alma convencida da verdade: "Tu és o Cristo, o Filho do Deus vivo".
"Bemaventurado és tu, Simão Barjonas, porque t'o não revelou a carne e o sangue,
mas meu Pai, que está nos céus", disse-lhe Jesus.
Finalmente Jesus descobre em Pedro a certeza que estava há muitos meses
procurando desenvolver. Ele agora sabe que o espírito de Pedro recebeu certeza di vina
de que todos estes milagres e poderosas manifes tações haviam sido feitas pelo poder de
Deus através de Seu filho unigénito. Ele sabe que o testemunho de Pedro não tinha vindo
dos homens mas de Deus, e não importava o que os homens pudessem fazer ou pensar.
Pedro levantar-se-ia firme como uma rocha sobre este testemunho.
"E também te digo", continuou Jesus, "que tu és Pedro e sobre esta pedra edificarei
a minha igreja, e as portas do inferno não prevalecerão contra ela".
A Igreja de Cristo edificada sobre revelação — Com isto Jesus queria dizer que, como o
nome de Simão era "Pedro", que significa "pedra", assim também seu tes temunho que
veio por revelação seria a rocha sobre a qual a Igreja de Cristo seria construída. Porque
quando alguém recebe certeza divina em sua alma, da vera

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cidade do evangelho, nem os homens, nem as ondas da tentação e nem o poder do
inferno poderão privá-lo dela. Logo que Jesus encontrou Simão, Ele disse que ele seria
chamado "a Rocha". Parecia que desde então Jesus havia estado esperando o tempo
em que o teste munho de Pedro fosse como seu caráter — expressivo e firme. Este
tempo chegou; e Pedro estava agora pre parado para receber uma responsabilidade
maior.
Chaves do reino — "E eu te darei as chaves do reino dos céus; e tudo o que ligares
na terra será ligado nos céus, e tudo o que desligares na terra será desliga do nos
céus".
Uma chave era para abrir a porta do evangelho aos gentios, mas levou algum
tempo para que Pedro sou besse como uslá-la.
Uma coisa é saber que o evangelho é verdadeiro; mas outra coisa é compreender
seu propósito e significado .
Jesus prediz sua própria morte — Desse tempo em diante Jesus começou a dizer aos
Apóstolos que ele so freria e morreria e que eles precisavam continuar a pregar o
evangelho. Disse-lhes que dentro de alguns meses Ele seria levado pêlos principais
sacerdotes, se ria morto e ressurgiria novamente no terceiro dia.
Zelo desnecessário — Quando Pedro ouviu isto, levou o Salvador para um lado, e
ainda esperando que Jesus um dia viesse a ser rei, disse: "Senhor, tem compaixão de
ti; de modo nenhum te aconteça isso". Kru o mesmo que dizer, eles não O levarão se
pudermos evitá-lo.
Pedro é repreendido — Corajoso, mas incompre- eiiHÍvel Pedro! Ele não
compreendia que era necessá rio (jue seu Senhor morresse, antes que Sua missão de
redenção fosse cumprida. Assim, em seu amor cego, rvi lnriii que o Senhor
completasse Seu trabalho! O Salvador, percebendo isto, virou-se e disse a Pedro:

— 39 —
"Arreda-te de diante de mim, Satanaz, que me serves de escândalo; porque não
compreendes as coisas que são de Deus, mas só as que são dos homens". (Mateus 16:
16-23).
Esta era uma reprensão severa, e deve ter causado profundo efeito em Pedro com o
pensamento de que o seu plano não era o de Deus; sem dúvida ele compre endeu que
ainda tinha muito o que aprender antes de poder levar a cabo a grande tarefa que o
Senhor lhe ha via atribuido naquele dia. Mas em seu zelo para salvar Jesus da morte, ele
errou, em amor.
De qualquer modo, sabemos que Jesus estava sa tisfeito com o testemunho de Pedro e
com seu amor, e que esperaria pacientemente pela sua compreensão do plano do
evangelho.

— 40
LIÇÃO 7 UMA SOBERBA MANIFESTAÇÃO
O Monte Santo — Na região de Cesaréia de Filipo, onde Pedro deu seu testemunho e
recebeu bênção e po der de seu Mestre, achava-se uma alta montanha da ca deia do
Líbano, conhecida como Monte Hermon. Pe dro a chamava Monte Santo. Após sabermos o
que acon teceu lá, todos concordaremos que Pedro deu-lhe um nome adequado.
Um escritor que visitou esta região nos diz que o "magnífico esplendor" deste pico
"elevando-se como um gigante sobre todos os outros picos da cadeia do Líbano, com sua
cabeça coberta de neve, é visível de to das as direções. É provavelmente o lugar mais alto
na terra sobre o qual o Senhor jamais se encontrou e do qual Ele tinha uma vista das mais
amplas. Do alto, Ele olhava para baixo sobre a Galiléia, onde havia ensinado c
trabalhado, onde havia sido recebido por poucos e ne gado por muitos".
A renúncia a si mesmo é necessária — Seis dias (Lucas diz oito) haviam se passado desde
que Pedro linvia dado seu grande testemunho — seis dias, sem dú- vida, de importantes
instruções a Pedro e aos outros « m /c .
1'oi provavelmente durante aquele tempo que os Do/c aprenderam que para ser um
verdadeiro seguidor ilr .lesus, é preciso negar a si mesmo muitos desejos e npclitcs —
controlar os sentimentos de raiva, ciúmes e uui rus paixões. Disse o Salvador: "Se alguém
quizer vir após mim, renuncie-se a si mesmo, tome sobre si a cruz

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e siga-Me. Porque aquele que quizer salvar a sua vida, perde-la-á e quem perder a sua
vida por amor de Mim, acha-laJá. Pois que aproveita ao homem, se ganhar o o mundo
inteiro e perder a sua alma? ou que dará o homem em recompensa da sua alma?"
(Mateus 16: 24-26).
Estas e muitas outras verdades gloriosas Pedro, sem dúvida, ouviu durante aquela
memorável semana em Cesaréia de Filipo.
Mas ele ouvira coisas ainda mais gloriosas.
Ainda perplexo com alguns dos dizeres de Jesus, ainda imaginandjo porque era
necessário que o Se nhor sofresse muitas coisas e fosse rejeitado e mesmo morto, Pedro,
Tiago e João certamente, acompanharam Jesus ao lado do Monte Hermon. Parece, pelo
breve re lato que temos deste incidente, que eles gastaram vá rias horas em solene
conversação, perguntando-lhe os apóstolos muitas coisas relacionadas com Suas pala -
vras.
A meia-luz transformava-se em escuridão, e as som bras da noite escondiam o Monte
Hermon completa-mente dos vales adormecidos abaixo.
A transfiguração — Talvez os três líderes estives sem sonolentos, e ao afastar-se o
Senhor para orar, eles estavam profundamente adormecidos. Mias, seja como for,
sabemos que quando seus olhos voltaram-se para Jesus "transfigurou-se diante deles; e
os seus ves tidos tornaram-se brancos como a neve, tais como ne nhum lavadeiro sobre a
terra os poderia branquear. E apareceu-lhes Elias corri Moisés e falavam com Je sus".
(Marcos 9:1-6).
Não Morte mas transformação — Estes personagens celestes falaram, com Jesus, sobre a
sua aproxi mação da morte, e ressurreição, uma das coisas vi tais no ministério de Cristo,
que Pedro não podia com preender. Após esta gloriosa visão de dois seres celes-

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tiais, a Morte perderia muito se não todo o terror pe rante Pedro, Tiago e João. Eles
saberiam que mesmo se os homens maus matassem seu Mestre, Ele viveria e ainda seria
seu Senhor e Salvador. A Morte, para eles, depois disto, seria apenas uma separação.
Eles com preenderam que "a morte nada tinha de terrível em si mas o que a vida tinha a
fazia assim."
"E bom que nós estejamos aqui" — Pedro, por ins piração, havia recebido certeza de
que Jesus era real mente o Cristo; agora ele testemunhava um sinal vi sível de seu
testemunho. Desejoso de ter um monu mento erigido a este sinal externo, alguma coisa que
outros olhos além do seu pudessem ver, ele gritou, pe la impulsividade de seu coração:
"Mestre, é bom que nós estejamos aqui, e façamos três cabanas, uma para li, uma para
Moisés e uma para Elias". Mas repenti namente ao desaparecerem Moisés e Elias, uma
nuvem os cobriu e uma voz saiu da nuvem dizendo: "Este é meu filho amado, a Ele ouvi",
Fontes de Testemunho — O testemunho de Pedro eslava, neste tempo, fortalecido e a
sua fé provada: (Pedro 1:7).
(1) Pela confirmação de milagres; (2) pela visão de seres celestiais; (3) por
inspiração; (4) por ouvir não somente o testemunho destes anjos mas também o
divino Testemunho do próprio Deus.
Sim, a sua fé estava construída sobre a pedra e as portas do inferno não podiam
prevalecer contra ela!
Isto é verdade e, de agora em diante podemos con cluir com segurança, ao
acompanhar sua carreira, que nem uma sombra de dúvida da divindade da missão de
Cristo jamais atravessou a mente de Pedro.
A Pureza e a sinceridade são essenciais — Quando pensamos que Pedro esteve em
contacto quase diário <-om o Salvador dos homens, podemos concluir que seu testemunho
cresceu muito vagarosamente, mas, se as-
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sim aconteceu, como o carvalho que também cresce vagarosamente, tornou-se tanto mais
durável.
Afinal de contas, a experiência de Pedro é a ex periência que virá a quase todos os
meninos e meni nas que lerem estas páginas. O conhecimento da ver dade, e o testemunho do
Evangelho podem vir gra dualmente a quase todos eles. A grande lição a ser aprendida
mesmo na mocidade é a de pureza de pen samento e busca com coração sincero, da
orientação diária do Salvador que conduzirá a um testemunho da veracidade do Evangelho
de Cristo, tão seguro e per manente como o que Pedro possuía ao descer do Mon te Hermon
onde presenciou a transfiguração de Cristo e ouviu a voz de Deus testificar da Sua divindade.
Mas, o saber que Jesus era o Salvador da Humani dade, não deu a Pedro uma
compreensão do plano do Evangelho. Quanto a isto ele ainda tinha muito o que aprender. E
pode ser que a sua força de caráter ou melhor, seu julgamento, não fossem tão firmes como
deveriam ter sido num homem cuja vida toda deveria ser firme como uma pedra.
Na força de seu testemunho e numa atitude até certo ponto resignada ao destino que
mais cedo ou mais tarde levaria o Mestre, Pedro continuou a fazer muitas perguntas
relacionadas aos aspectos vitais da missão de Cristo. Uma pergunta que os apóstolos fi zeram
a si mesmos ao descerem à multidão que per manecia ao pé da colina, foi: o que o Mestre
queria dizer quando falou que o Filho do Homem se levanta ria dentre os mortos?
Enquanto o Salvador estava respondendo esta pergunta e explicando as profecias a ela
relacionadas, chegaram ao lugar onde, na noite anterior, eles haviam deixado os outros
discípulos. Uma grande multidão se reunia ao redor deles, e os escribas lhes faziam per -
guntas.

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O jovem, lunático — Entre esta multidão encon trava-se um pequeno garoto que padecia
por influên cia de um mau espírito. Quando ele estava "possuído" caia ao chão, espumava pela
boca, rangia os dentes. O pai encontrou Jesus e implorou a Ele que aliviasse seu pobre filho, e
acrescentou que os discípulos haviam tenlado fazê-lo, sem conseguí-lo.
"Quanto tempo faz, perguntou Jesus "que lhe su cede isto?" "Desde a infância," disse o pai
"e muitas vezes o tem lançado no fogo, e na água para o destruir, mas, se tu podes fazer
alguma coisa, tem compaixão de nós e ajuda-nos." E Jesus repreendeu o espírito imundo e o
menino foi curado.
Um contraste — Para Pedro, Tiago e João, quão grande era o contraste entre a cena que
eles presencia ram na noite anterior no Monte e esta. Aqui se mani festava o poder do mal,
causando suspeita, dor, ago nia, morte; lá, havia se manifestado o poder do Senhor,
proclamando felicidade, paz, glória, e imortalidade!
Tais têm sido os resultados destes dois grandes poderes, influenciando as vidas dos homens
em todas as idades. Tal é o resultado hoje em dia. Uma pergun-la vital para nós é:
Permaneceremos nós ao lado do pecado onde o mal triunfa, ou mostraremos nós pelo menos
boa vontade para subir ao monte da Santidade c deixar que Deus transforme nossas vidas?

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LIÇÃO 8 LIÇÕES DE VERDADEIRA LIDERANÇA
"O cará ter é formado pelas circunstâncias.
Com os mesmos materiais, um homem .
constrói palácios enquanto outro constrói
cabanas"
—x. x. x. x—

Entre a transfiguração e a última semana cheia de acontecimentos da vida do


Salvador na terra, há ape nas alguns casos registrados nas escrituras nos quais Pedro é
pessoalmente mencionado. É significativo, con tudo, que quase todos estes confirmam
direta ou indi-retamente, o caráter de Pedro como um líder apostó lico. IPedro sabe que
Jesus é o Cristo que deveria vir, mas teria força para defendê-lo com palavras e atos?
Compreende ele os princípios divinos do Evangelho suficientemente para manifestá-lo
em sua vida diária nas conversações e em todas as suas associações com o seu próximo?
Com a excessão provável do incidente do dinheiro do tributo, que salienta para Pedro a
filiação do seu Mestre, todas as lições seguintes baseiam- se diretamente sobre força de
canáter e princípios de conduta.
TRIBUTO
Uma antiga lei — Naquele tempo existia uma taxa sobre todo Judeu homem, de vinte
anos ou mais, para

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a manutenção do Templo e de seus serviços. Esta lei havia estado em vigor desde os
dias dos filhos de Is rael, quando o grande Moisés disse: "a metade dum siclo é a
oferta do Senhor". (Êxodo 30-13).
Maleus nos relata que "chegando eles a Caper- niuini, nproximaram-se de
Pedro os que cobravam as didrucmas e disseram: O vosso mestre não paga as
didracmas?" "Sim", prontamente respondeu Pedro.
Se ele soubesse quando estava falando com os co- lotores de impostos, que não
havia dinheiro disponí vel, teria se preocupado sobre como poderiam pagar o meio
siclo devido como tributo, naquele dia.
Os filhos são livres — Quando Pedro voltou à ca sa, Jesus antecipou-se ao que ele
ia dizer, e pergun tou-lhe: "De quem cobram os reisi da terra os tributos, ou o censo?
De seus filhos ou dos alheios?"
"Dos alheios", respondeu Pedro.
"Logo, são livres os filhos", disse Jesus, querendo dizer que desde que esse
dinheiro de tributo se desti nava à manutenção da casa de Seu Pai, Ele, o Filho, não
teria que pagá-lo; mas acrescentou:
"Mas para que os não escandalizemos, vai ao mar, lança o anzol, tira o primeiro
peixe que subir e, abrin do-lhe a boca encontrarás um státer; toma-o e dá-o por inim
e por ti:" (Mateus 17:24-27).
Esta experiência deve ter introduzido na mente de IPedro de que é melhor
sofrer ofensa do que ofen der.

UMA LIÇÃO DE PERDÃO


Mais ou menos nessa ocasião, Pedro perguntou: "Senhor, até quantas vezes pecará meu
irmão con tra mini e eu lhe perdoarei? Até sete? (Mateus 18:21). Talvez já estivesse sido
necessário que Pedro re-Holvesse alguma dificuldade entre os homens em dis-

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puta ou pode ser que ele tenha sido provocado duran te o argumento que surgiu entre os
discípulos, sobre quem era o maior entre eles. Se algum deles o tivesse insultado por ele
ser o maior, é muito provável que sua paciência se tivesse esgotado. De qualquer forma, ele
queria saber se há um limite no número de vezes que um homem deveria perdoar seu
irmão. Que grande lição deu a este impetuoso apóstolo quando respon deu: "Não te digo:
Até sete, mas até setenta vezes se te". (Mateus 18:22).
Então, para tornar o ensinamento mais firme, o Senhor lhes contou a parábola do
servo impiedoso.
Um certo rei quiz fazer contas com seus servos, para ver os que lhe deviam e
descobriu que um lhe de via dez mil talentos. O servo não podia pagar esta di vida, e assim
o rei ordenou que fosse vendido, junta mente com sua esposa e filhos e tudo o que tinha. O
servo pediu misericórdia, dizendo: "Senhor sê gene roso para comigo e tudo te pagarei."
"Então o senhor daquele sorvo, movido de íntima compaixão, soltou-o e perdoou-lhe
a dívida."
O rei não somente teve piedade do infeliz devedor, como também o libertou da
prisão, deixando que fi casse com sua esposa e filhos e cancelou a divida.
O Servo ingrato — Mas, aquele mesmo servo saiu e encontrou um dos seus conservos
que lhe devia cem dinheiros, milhares de vezes menos do que o primeiro servo devia a seu
mestre.
Lançando mão do seu conservo, sufocava-o, dizen do: "Paga o que me deves".
Então o seu conservo, prostando-se aos seus pés, rogava-lhe misericórdia, dizendo:
"Sê generoso para comigo, e tudo te pagarei".
Mas o maldoso servo, recusando-se a ter piedade, "foi encerrá-lo na prisão, até que
pagasse a dívida".

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Assim, quando o seu senhor ouviu como o servo a quem ele havia perdoado, havia
tratado o seu conservo, chamou-o à sua presença e disse: "Servo malvado, per doei-te
Ioda aquela dívida, porque me suplicaste; não devias tu igualmente ter compaixão do teu
companhei ro, como eu também tive misericórdia de ti?
A este servo impiedoso foi ordenado que pagasse os dez mil talentos, e foi entregue
aos "atormentado res" até que pagasse tudo o que devia.
Então concluiu o Salvador: "Assim vos fará tam bém meu Pai celestial se do coração
não perdoardes cada um a seu irmão as suas ofensas". (Mateus 18: 23-35).
Será que Pedro se esqueceu da lição?

A RECOMPENSA DO SACRIFÍCIO

O governador jovem e rico — Um dia Pedro e os outros ouviram uma conversação


entre o seu Senhor e um rico e jovem governador. Era jovem e rico e, como pintado pêlos
antigos mestres, muito simpático. Ele havia se mantido moralmente limpo e queria con -
seguir a vida eterna. Mas seu coração estava com suas riquesas; assim, quando o
Salvador disse: "vende tudo quanto tens, reparte-o entre os pobres, e terias um te souro
no céu; vem e segue-me", o jovem se afastou muito triste.
Então Pedro disse: "Eis que nos deixámos tudo e te seguimos". Era o mesmo que
dizer: Senhor, deixa mos tudo por sua causa, agora qual será a recompen sa?" Jesus
disse:
"...ninguém há que tenha deixado casa, ou pais, ou irmãos, ou mulher, ou filhos,
pelo reino de Deus, e não haja de receber muito mais neste tempo e no sé culo vindouro a
vida eterna".

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"Porém", acrescentou Ele, "muitos primeiros se rão derradeiros e muitos


derradeiros serão primeiros".
Humildade — Esta última afirmativa deve ter con tido, para Pedro, o primeiro entre
os Doze, uma im portante lição de humildade.
UMA LIÇÃO DE FÉ
Foi provavelmente na terça-feira da última sema na que Jesus passou com os seus
apóstolos, que Pedro chamou a sua atenção para o resultado de uma divina maldição.
A figueira seca — Um dia ou dois antes, Jesus ha via se afastado de seu caminho para
colher alguns fi gos de uma figueira que ficava a alguma distância. Quando descobriu
que a árvore não produzia figos, dis se que ela jamais produziria frutos novamente. Na
manhã desta têrça-feira, £|o passarem os discípulos, "viram que a figueira se tinha
secado desde as raízes".
"E Pedro, lembrando-se, disse-lhe: Mestre, eis que a figueira, que tu amaldiçoaste,
secou-se".
O Poder da Fé — Jesus respondeu: "Tende fé em Deus. Porque em verdade vos
digo que qualquer que disser a este monte: Ergue-te e lança-te ao mar; e não duvidar
em seu coração, mas crer que se fará aquilo que diz, tudo o que disser lhe será feito.
(Marcos 11: 21-23).
Naquele mesmo dia, Pedro, sem dúvúda, estava com os Doze no Monte das Oliveiras,
quando eles per guntaram a Jesus, em particular, sobre a destruição do Templo. (Marcos
13; Mateus 24; Lucas 21)
Guardar mandamentos — A Pedro e a todos, Ele disse: "Vigiai pois em todo o tempo,
orando, para que sejais havidos por dignos de evitar todas estas coisas que hão de
acontecer e de estar em pé diante do Filho do Homem".

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LIÇÃO 9 NA NOITE DA TRAIÇÃO

"O ponto mais fraco do homem é o se jul gar o mais sábio".

NO CENÁCULO

Na quinta-feira da semana da paixão, Jesus cha mou Pedro e João a Ele e disse:
"Ide, preparai-nos a páscoa para que a comamos". (Lucas, 22-8).
A Páscoa — A páscoa, como lembramos, é o nome dado à festa estabelecida para
comemorar o tempo em que o anjo destruidor passou sobre as casas dos he breus, que
haviam sido marcados pelo sangue do cor deiro. Neste festival, era morto um cordeiro,
que era chamado o cordeiro pascoal. * Foi no dia em que o cordeiro deveria ser morto,
que Pedro e João foram instruídos para fazer os preparativos.
Um cenáculo é preparado — "Onde queres que a preparemos?", perguntaram eles.
"Eis que quando entrardes na cidade", disse Ele, "vos encontrará um homem,
levando um cântaro d'á-gua: seguí-o até a casa em que ele entrar. E direis ao
* N. R. — Perfeita analogia entre a morte do Salvador e a ocasião em que o sangue de
um cordeiro inocente marcou as portas das casas daqueles que não iriam ter a visita da
morte que ceifaria as vidas dos seus primo génitos.

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dono da casa. O Mestre te diz: Onde está o aposento cm que hei de comer a páscoa com
os meus discípulos? Então ele vos mostrará um grande cenáculo mobilia do; aí fazei
preparativos".
Os dois apóstolos procederam de acordo com as instruções e fizeram os necessários
preparativos.
Na hora determinada Jesus e os Doze se reuniram neste cenáculo. Alguns pensam
que foi em casa de Marcos, alguns em casa de José de Arimatéia, mas nós não sabemos e
também não tem muita importância. Estamos mais interessados no que aconteceu lá.
Uma reunião solene — Jesus presidiu a festa. De um lado, suficientemente perto para
reclinar-se sobre o peito do Mestre, sentou-se João e do outro lado, Pe dro. Foi talvez, a
reunião mais solene que os Apósto los tiveram, pois o Salvador disse no princípio da mes -
ma:
"Desejei muito comer convosco esta páscoa, antes que padeça; porque vos digo que
não a comerei mais até que ela se cumpra no reino de Deus".
Queria dizer que havia chegado a hora em que Seus inimigos viriam para levá-lo e
matá-lo.
Quase ao terminar a ceia, Jesus levantou-se de onde estava reclinado, depoz ao lado
seus vestidos ex teriores ,tomou uma toalha e cingiu-se como criado. Tomou então uma
bacia d'água e começou a lavar os pés dos discípulos.
Jesus lava os pés dos discípulos — Talvez o Salvador tenha descoberto nas mentes dos
discípulos o mes mo pensamento que havia certa vez causado uma disputa entre eles, isto
é, quem era o maior. Talvez este pensamento tenha surgido quando eles viram Pe dro e
João ocupando os lugares de honra. De qualquer modo, seu Senhor, o maior dentre eles,
assumiu uma atitude de servo, o menor e mais humilde dentre eles.

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protesta — Quando Ele se aproximou de Pe dro, esto disse: "Senhor, tu lavas-
me os pés a mim?" 1'edm serviria seu Mestre, mas seu Mestre jamais ser.
V in il n r l e !
"O que eu faço não o sabes tu agora, mas tu o Hiilirnis depois", respondeu Jesus. "iNimca
me lavarás os pés". "Sc eu te não lavar, não tens parte comigo", continuou Jesus.
Quando Pedro pensou que sua recusa a submeter- HC a ser servido pelo Senhor, podia
realmente afastá-lo «Ir si, ele disse:
"Senhor, não só os meus pés, mas também as mãos <• :i cabeça".
Um Exemplo — "Depois que lhes lavou os pés e tomou os seus vestidos, tornou a se
assentar à mesa e lhes disse. Entendeis o que vos tenho feito?" Vós me chamais Mestre e
Senhor e dizeis bem, porque eu o sou. IPois se eu, Senhor e Mestre, vos lavei os pés, vós
<lcveis também lavar os pés uns aos outros. Porque eu vos dei o exemplo, para que, como
eu vos fiz, façais vós também".
Assim, esses doze homens receberam, de manei ra clara e prática, a divina lição de
utilidade ao pró ximo. Assim eles aprenderam que aqueles que eram maiores entre eles,
eram em verdade servos de todos.
"f/m de vós me há de trair" — Imediatamente após esta impressionante e sagrada
cerimónia, cujo signifi cado completo apenas alguns compreendem, o Senhor disse: —
Um de vós me há de trair".
lista notícia lançou tristeza sobre todos. O dá-la, lê/; com que perturbação viesse
sobre o "espírito" de Cristo e o ouvi-la fez todos muito tristes.
Começaram a perguntar uns aos outros qual de les seria tão infiel; e logo cada um
perguntava ao Mes tre, "Porventura sou eu, Senhor?"

— 53 —

Judas, o último de todos disse: — "Porventura sou eu, Rabi?"


Jesus respondeu: — "Tu o disseste". A sua respos ta entretanto, parece não ter sido
ouvida pêlos outros, porque Pedro pediu a João que perguntasse ao Mes tre "quem era
aquele de quem ele falava". (João 13).
Jesus respondeu com voz baixa: — "É aquele a quem eu der o bocado molhado".
Judas Iscariotes — E molhando o bocado, deu-o a Judas Iscariotes. Pedro e João,
então souberam quem era o traidor; mas os outros provavelmente não o sa biam; pois
não compreenderam Jesus quando disse a Judas: "O que fazes fá-lo depressa".
LEALDADE COMO PEDRO A SENTIA
Após ter desaparecido na noite o traidor — oh! que noite para ele! — Jesus continuou
a ensinar e a consolar os Onze.
Amai-vos uns aos outros — "Um novo mandamen to vos dou: Que vos ameis uns aos
outros, como eu vos amei a vós, que também vós uns aos outros vos ameis".
Entre outras coisas, Ele disse, referindo-se à apro ximação da morte: "Para onde eu
vou não podes ago ra seguir-me".
Isto aumentou o amor de Pedro e ele perguntou: "Porque não posso seguir-te agora?
Por ti darei a mi nha vida". (João 13: 34-37).
Pedro seria experimentado — "Simão, Simão, eis que Satanaz vos pediu para vos
cirandar como trigo; mas eu roguei por ti, para que a tua fé não desfaleça; e tu, quando
te converteres, (isto é, voltar a ser discí pulo penitente) conforta a teus irmãos". (Lucas
22: 31-32).
Isto aborreceu Pedro grandemente. Pensar que seu Mestre levemente suspeitaria
que ele, Pedro, enfra-

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queceria em sua firmeza no Senhor (é significativo qu« o Senhor o tivesse chamado pelo
seu antigo nome, Simão) !
Pedro, protestando, disse "Senhor, estou pronto ;» ir contigo até a prisão e à morte"
(Lucas 22:33).
Uma Profecia — Digo-vos Pedro", continuou Je sus "que não cantará hoje o galo
antes que três vezes negues que me conheces".
Mas ele falou com grande veemência: "Ainda que me seja mister morrer contigo, não
te negarei. E o mes mo todos os discípulos disseram" (Mateus 26:35).
Pedro foi sincero em todas as palavras que disse c sentiu-se profundamente a verdade
do que disse; mas sua força real ainda não tinha vindo a ele e seu Mes tre o sabia. Viria,
mas nasceria do profundo silêncio de um coração sofredor.

A LEALDADE COM QUE PEDRO AGIA

Getsemane — Mais tarde naquela noite, o grupo deixou o cenáculo, atravessou o regato
Kedron, e diri giu-se ao Jardim Getsemane, ao oeste do Monte das Oliveiras.
Mandando que oito dos Doze permanecessem jun tos, Ele tomou os outros três, Pedro,
Tiago e João apar te. Sua alma estava "cheia de tristeza até à morte".
Ele disse: "Ficai aqui e velai comigo".
Não como eu quero mas como tu queres — Afastando-se um pouco deles, orou. Os
apóstolos puderam vê-lo e talvez ouvi-lo, ao dizer: "Meu Pai, se é possi-vel, passe de mini
este cálice; porém, não como eu que-ro, mas como tu queres". (Mateus 26).
Ao voltar, encontrou os três dormindo e disse "Si mão (chama-o Simão novamente)
dormes? Não podes vigiar uma hora?"
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"Vigiai e orai, para que não entreis em tentação", o Espírito na verdade, está
pronto, mas a carne é fraca".
A sonolência de Pedro e de seus irmãos — Afastou-se novamente; novamente voltou e
novamente en controu-os dormindo, "porque os seus olhos estavam pesados e não
sabiam que responder-lhe".
Ao voltar pela terceira vez, disse com bondade "Dormi agora e descançai. Basta; é
chegada a hora. Eis que o Filho do homem vai ser entregue nas mãos dos pecadores".
Após um sono um pouco mais longo, os três fo ram despertados por Jesus, apenas
para ver aproxi mando-se "uma grande multidão com espadas e va rapaus, da parte dos
principais dos sacerdotes e dos escribas e dos anciãos"; à frente estava Judas que se
aproximou do Senhor e traiu-o com um beijo.
Pedro defende seu Senhor — Ao aproximarem-se os soldados para lançarem suas
mãos sobre Jesus, Pe dro que agora estava completamente acordado, saltou para libertar
seu Mestre e, tomando "a espada, desem bainhou-a e feriu o servo do sumo sacerdote e
cortou-lhe a orelha direita".
Este servo, cuja orelha direita Pedro cortou, com um só golpe chamava-se Malco.
Uma lição — "Mete a sua espada na bainha',' or denou o Salvador, "não beberei eu
o cálice que o Pai me deu?" Que lição para Pedro! Apesar do dever o ter conduzido ao
sofrimento e à morte, mesmo assim o Senhor não fraquejava em sua força.
Então disse Jesus: "Deixai-os; basta. E, tocando-lhe a orelha, o curou". (Lucas,
22:52).
Ao levarem os oficiais a Jesus, os discípulos dei xando-os, fugiram.
Pedro segue Jesus — A força de Pedro e sua leal dade oscilavam; mas ele não podia
fugir com os ou-

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tros. Nem podia ele concluir que seria melhor ir com Jesus. Assim, ele não fez nem um e
nem outro, mas "o seguiu de longe até o pátio do sumo sacerdote".
A princípio, ele permaneceu no exterior, mas mais tarde aventurouse no palácio,
onde estavam os cria dos.

A FRAQUEZA TRAZ SOFRIMENTO

Enquanto Pedro estava sentado ao pé do fogo. aquecendo-se, entrou uma criada e,


reconhecendo-o como um dos que tinham estado com Jesus disse: "Tu também estavas
com Jesus da Galiléia".
Num momento de fraqueza — "Não sei o que di zes" disse Pedro diante de todos.
Saiu então para fora, talvez para esfriar sua cons ciência que queimava ou para
resolver o que seria melhor fazer.
Uni homem, vendo-o lá, gritou: "Este também es tava com Jesus de Nazaré".
"Não conheço tal homem" disse Simão; e neste momento fez um juramento.
Um dos servos do sumo sacerdote, que era paren te de Malco, aproximou-se de
Pedro um pouco mais tarde e disse: "Não te vi eu no horto com ele?" (João 18:26).
Então ele começou a praguejar e jurar dizendo: "Homem não sei o que dizes".
Neste momento, Pedro ouviu o galo cantar.
Dor — Quase imediatamente também, o Salvador passando por ele, voltou-se e
olhou para Pedro. Então, lemlbrando-se das palavras do Seu Senhor, "Antes que o galo
cante hoje, me negarás três vezes", Pedro saiu e chorou amargamente.

— 57 —
LIÇÃO 10 DA ESCURIDÃO PARA A LUZ
"A força nasce do profundo silêncio e dos corações sofredores e não da alegria".
—x. x. x. x—
Força oriunda da fraqueza — Diz-se que quando Pedro se afastou, sem fala, da face de
todos e, cheio de silêncio, chorou amargamente, sua dor era tão gran de que ele
permaneceu sozinho durante a Sexta-feira e o Sábado, após a crucificação do Salvador. Se
assim foi, sua dor pelo que havia feito, tornou-se muito mais profunda ao lembrar-sc
das muitas palavras bondosas que o Salvador lhe havia dito e dos muitos e muitos
momentos fcli/es que ele havia passado em companhia do Salvador, dada palavra, alo e
olhar associados com seu Mestre surdia c-in sua mrnlc com uni novo signifi cado. Talvez
pela primeira vê/ em sua vida compreen dia porque o Senhor linha querido que sua
natureza e fé fossem como uma "pedra". Através de amargas lágrimas, ele viu todos os
verdadeiros atributos da hu manidade, personificados em .k sus. Reverência, Fra -
ternidade, Paciência, Sinceridade, Coragem. Estas e muitas outras qualidades nobres
faziam Jesus parecer a ele grandioso e, mais claramente compreendia sua pequenez e
miséria. Esta última manifestação de sua fraqueza, que o levou a negar o seu Senhor, fez
com que ele se visse a si mesmo sob nova luz, e isto teve um efeito decisivo sobre ele. Do
profundo silêncio de

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seu sofrimento, naqueles dois dias, nasceu aquela força que Cristo lhe tentava dar
desde que o chamara "Pedro".
Uma triste reunião — Deve ter sido uma triste reu nião quando João e Pedro
reuniram-se pela primeira vez após a crucificação. Quando foi, ou onde, não nos é
dito; mas estamos certos de que João deve ter reco nhecido uma grande mudança em
seus companheiros apóstolos. Do olhar macilento e das profundas linhas de dor, deve
ter brilhado uma humildade que João ja mais havia visto antes na face de 'Pedro.
Podemos so mente imaginar quais eram os sentimentos de Pedro ao ouvir João
contar tudo o que havia acontecido ante Herodes e Pilatos e na Cruz. Misturando-se
com a dor de Pedro estava o profundo desapontamento de saber que o Messias, seu
Rei, não ia libertar os judeus e go verná-los como ele havia esperado. Em dúvida
sobre o que fazer, eles provavelmente decidiram visitar o lu gar onde seu Mestre havia
sido posto e então voltar à sua antiga profissão de pescadores.
No Sepulcro — Mas havia uma cujo amor e devo ção a conduziram ao túmulo
mesmo antes dos após tolos. Maria Madalena, quando ainda estava escuro,
aproximou-se do lugar onde pensava que Jesus dormia na morte. Mas em vez de ver o
corpo de seu Senhor no sepulcro frio e escuro, ao redor do qual nada mais ha via além
de tristeza e dor, ela encontrou um túmulo vazio. Alarmada, correu a Pedro e João e,
sem fôlego, gritou: "Levaram o Senhor do sepulcro". "Então Pe dro saiu com o outro
discípulo e foram ao sepulcro". A princípio eles correram juntos, mas Pedro, já can -
sado do sofrimento, logo se distanciou do Apóstolo João que era mais jovem, e que
alcançou o local pri meiro. "E abaixando-se, viu postos os lençóis; todavia não
entrou".

—59 —

Olhar para dentro, contudo, não satisfez Pedro; pois assim que chegou, "entrou no
sepulcro". João o seguiu. Notaram que o lenço que tinha sido posto so bre a cabeça de
Jesus não estava com os lençóis enro lado num lugar à parte; os lençóis de linho também,
estavam bom dobrados c colocados ao lado, com cui dado, files concluíram que ladrões
não teriam feito isto o assim desfizeram a teoria de Maria pela qual o corpo do Senhor
havia sido roubado. Mas, "ainda não sabiam a Escritura: que era necessário que
ressuscitas se dos mortos".
Maria vê o Redentor Ressuscitado — Perplexos e cheios de admiração, os dois
discípulos "tornaram pa ra casa" mas Maria permaneceu perto do túmulo, e co mo
recompensa por sua fidelidade e devoção, tornou-se a primeira pessoa no mundo a ver o
Redentor res suscitado.
Pedro vê seu Senhor — Outras mulheres que ti nham vindo ao túmulo naquela
manhã para render, como pensavam, o último serviço ao Senhor, também puderam vê-
lo. Mais tarde, no mesmo dia, Ele deve ter aparecido a Pedro; mas onde, ou sob quais
circuns tâncias, ou o que foi dito, não sabemos. Podemos ter certeza, contudo, que a alma
arrependida de Pedro en cheu-se de eterna alegria ao receber o perdão divino de Seu
Senhor.
Os discípulos de Emaús — Naquela noite, ao se reunirem os Onze no cenáculo,
discutindo os aconte cimentos do dia e particularmente a aparição do Se nhor a Pedro,
entraram dois discípulos de Emaús. Lo go ao entrarem na presença dos Onze, ouviram a
maravilhosa mensagem "Ressuscitou verdadeiramente o Senhor e já apareceu a Simão".
Eles podiam crer pron tamente nisto pois contaram que quando voltaram de Jerusalém,
naquele dia, tendo ouvido dos anjos e do

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sepulcro vazio, Jesus em pessoa aproximou-se e foi com eles.


Jesus apareceu aos onze — Enquanto estavam assim reunidos, Jesus apareceu a eles
novamente e disse-lhes: Paz seja convosco". Cenas como estas não podem ser descritas e os
evangelistas que nos contam a res peito dela simplesmente mencionam o fato e nos dei xam
imaginar o que eles pensaram e sentiram naquela gloriosa ocasião.

O PESCADOR SE TORNA PASTOR

No Mar de Tiberíades — Viários dias depois disto Pedro e seis outros discípulos
estavam de volta ao mar de Tiberíades, pescando. Estavam na Galiléia, evi dentemente
esperando encontrar o Senhor lá como Ele havia prometido. Uma noite, como se já
estivesse qua se desesperado de esperar disse ele aos outros:
— "Vou pescar".
— "Também nós vamos contigo" disseram eles.
Entraram num barco imediatamente e baixaram suas redes. Trabalharam a noite
toda e nada pesca ram, da mesma forma como havia acontecido numa noite memorável
alguns meses atrtás.
Ao levantar-se a manhã, viram um homem de pé na praia, porém, à distância, não
puderam reconhe cê-lo. De repente o homem gritou:
Muitos peixes são apanhados — "Filhos, tendes al guma coisa de comer?"
— "Não", foi a resposta.
"Lançai a rede para a banda direita do barco e achareis, disse o homem.
Assim fizeram e apanharam tantos peixes que mal podiam retirar a rede.

— 61 —

João cujos olhos cheios de amor foram feitos mais agudos por um coração cheio de
amor, correu ao lado de Pedro e murmurou: — "É o Senhor".
No mesmo momento, Pedro sabia que João havia falado a verdade e, homem de ação
que era, colocou seu paletó de pescador, mergulhou no mar e correu aos pés do seu
Mestre. Os outros vieram no pequeno barco, arrastando uma rede de peixes.
Jesus já havia começado a acender fogo, e estava cosinhando algo para comer. Após
as saudações, Ele disse: "Trazei dos peixes que agora apanhastes".
Pedro foi à rede fez com que fosse puxada para a terra. Enquanto os peixes estavam
cosinhando, os dis cípulos contaram o número apanhado e verificaram que duma vez
haviam cento e cincoenta e três e, "sen do tantos, não se rompeu a rede".
Pedro, um Pastor do rebanho de Cristo — Jesus havia lhes mostrado onde apanhar os
peixes, havia acendido o fogo sobre o qual cozinhá-los e agora "to mou o pão c deu-lhes
e, semelhantemente, o peixe". Certamente estes pequenos incjidentes serviam para
salientar a eles a verdade de que se eles 'buscassem pri meiramente o Heino de Deus o a
sua justiça tudo o mais lhes seria acrescentado. De qualquer modo, esta foi a lição
ensinada na grande ocasião: Os apóstolos não deveriam agora passar suas vidas
buscando as coi sas que perecem, mas procurando almas que durariam através de toda a
eternidade. Muitos estariam então reunidos no redil de Crislo, e o pastor foi dele afasta -
do. Daquele momento em diante Pedro e seus compa nheiros deveriam ser os
guardadores deste rebanho.
Quando eles quebraram seu jejum, Jesus disse a Simão Pedro, "Simão, filho de
Jonas, amas-me mais do que estes?"
— "Sim, Senhor; tu sabes que te amo", respondeu Pedro.
— 62 —

— "Apascenta os meus cordeiros". Isto é, lomr ton ta dos pequeninos da minha


Igreja. Não deixe que se afastem por veredas que os levarão ao pecado e ú mi séria.
Disse-lhe ele novamente, pela segunda vez:
— "Simão, filho de Jonas, amas-me?"
— "Sim, Senhor: Tu sabes que te amo".
— "Apascenta as minhas ovelhas". Mantenha os mais velhos juntos e dê-lhes as
palavras de vida como as tens recebido de mini.
Unxa terceira vez. Jesus disse:
— "Simão, filho de Jonas, amas-me?" E Pedro, entristecido, respondeu: — "Senhor,
tu sabes tudo; tu sabes que te amo".
— "Apascenta as minhas ovelhas".
O Dever Primeiro — Então o Salvador admoestou Pedro a não seguir sempre as
suas próprias inclinações e a sua natureza impulsiva, mas sempre fazer o seu dever
como Pastor do Rebanho. Quando Pedro era jo vem, e não possuia o conhecimento e
responsabilida de de agora, podia ir pescar, ganhar dinheiro, ou estu dar, ou fazer
qualquer outra coisa que queria, mas ago ra precisava realizar seus deveres no Reino de
Deus, não importando o que pudesse suceder ia ele pessoal mente ao fazer isto. Apesar
dos deveres de Pedro o le varem à cruz, o Salvador disse: — "Siga-me".
Enquanto esta conversação se desenvolvia, Jesus e Pedro estavam conversando a
sós um pouco adiante dos outros.
— Senhor, disse Pedro, o que seria de João?
— "Se eu quizer que ele fique até que eu venha, que te importa a ti? Segue-me
tu". Era o mesmo que dizer. Limite-se aos seus deveres, Pedro, ensine os ou tros a
fazerem o mesmo e tudo estará bem.

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Esta é a última palavra registrada de Cristo a Pedro, mas ele estava presente,
naturalmente, quando o Sal vador deu suas últimas instruções aos Doze (Veja Mar cos
16:16).
Deste tempo em diante, o zelo de Pedro no traba lho do seu Ministério foi constante
e sua ousadia insu- perada.

— 64 —
LIÇÃO 11 UM VERDADEIRO LÍDER E VALOROSO DEFENSOR
"A recompensa de alguém pelo cumpri mento do seu dever é a capacidade de
poder cumprir outros deveres". —x. x. x. x—

Com o conhecimento de que Jesus Cristo era seu Salvador, que ele era mais feliz
quando ele, Pedro, fa zia o que o Senhor queria que ele fizesse, e que quando ele agia
errado ou cedia à tentação do mal, ele era in feliz, Pedro iniciou sua grande missão como
principal apóstolo e presidente dos Doze.
Em Jerusalém — De acordo com a ordem do Sal vador, pela qual eles não deviam sair
de Jerusalém, até que tivessem recebido o Espírito Santo, Pedro, por algum tempo após a
ascenção do Senhor, estabeleceu-se na Cidade Santa. Aqui, ele, Tiago e João e outros dos
Onze, frequentemente reuniam-se num cenáculo, tal vez no mesmo em que Jesus havia
comido a páscoa com Seus discípulos. Com eles estava Maria, a Mãe de Jesus e algumas
outras mulheres.
UM APÓSTOLO ESCOLHIDO
Numa dessas ocasiões, estavam presentes cento e vinte pessoas. "Todas perseverando
unanimemente em oração e súplicas". Pedro se levantou em seu meio e disse que era
necessário escolher um homem que tivesse sido fiel em seguir o Salvador, para tomar o
lu-

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gar do traidor, Judas, no Quorum dos Doze Apóstolos. Dois nomes foram sugeridos: José,
chamado Barsabás e Matias. Sabendo que o Senhor é que deveria escolher os homens que
deveriam ser suas testemunhas espe ciais, eles oraram, dizendo: "Tu, Senhor, conhecedor
dos corações de todos mostra qual destes dois tens es colhido". Então lançaram sortes e
caiu a sorte sobre Matias; e "foi contado com os onze apóstolos".

O DIA DE PENTECOSTES

O Espirito Santo — Antes das nove horas da ma nhã, dez dias após a ascenção do
Salvador e cincoenta dias após a Páscoa associada com a crucificação, os Apóstolos
realizaram uma reunião memorável. Estan do "reunidos num mesmo lugar" de repente
veio um .so;ii dos céus" como de um vento veemente e encheu toda a casa em que
estavam assentados". Assim veio o batismo pelo fogo e o Espírito Santo, como Cristo
havia prometido. O Confortador sobre o qual seu Mestre havia tantus vezes falado,
tinha finalmente vindo a eles, para guiá-los e inspirá-los como Jesus havia fei to em
pessoa.
O Dom de Línguas — Imediatamente uma maravi lhosa manifestação teve lugar. —
Apesar de quase todos os apóstolos serem Galileus e falarem a mesma lingua, quando
passaram a dar o seu testemunho de Cristo e de seu Evangelho, "começaram a falar
noutras línguas, conforme o Espírito Santo lhes concedia que falassem".
Logo se ouviu em toda a cidade que algo de notá vel havia acontecido e o povo, em
grande número, reu niu-se ao redor dos apóstolos. Na multidão encontra vam-se judeus
de muitas nações que tinham vindo a Jerusalém para celebrar o dia de Pentecostes.
Estes falavam as linguas dos países de onde tinham vindo.

— 66 —

lutlflinem o seu espanto quando ouviram o evangelho pregado em sua própria língua!
— "Pois que não são galileus todos estes homens (|iic estuo falando?"
perguntaram. — "Sim",, foi a resposta.
— "Como pois os ouvimos, cada um, na nossa pró- priti lingua em que somos
nascidos?"
Ao contarem os apóstolos, um após outro, da sal vação dos homens através do
evangelho de Jesus Cristo, algumas das pessoas se admiraram, outras se diverti ram,
mas todos estavam perplexos.
— "Que quer isto dizer?" perguntaram alguns.
— "Estão cheios de mosto (isto é: bêbados)".
O discurso de Pedro — Então Pedro se levantou e, com grande poder, dirigiu-se à
multidão. "Varões ju deus e todos os que habitais em Jerusalém, seja-vos isto notório e
escutai as minhas palavras. Estes homens não estão embriagados como vós pensais,
sendo a terceira hora do dia.
Mas isto é o que foi dito pelo profeta Joel: (Leia tudo o que foi dito, como se acha
registrado em Atos 2:14-37).
Sem dúvida, somente uma pequena parte de discur so de Pedro nos é dada, mas ao
lermos suas palavras inspiradas, e ao partilharmos do destemor com o qual disse aos
judeus que eles haviam crucificado o Cristo, lornamo-nos prontamente convencidos
que a fraqueza que ele manifestou cerca de um mês e meio antes, foi .substituída pela
força de um homem de Deus. Naque la ocasião ele havia gaguejado e dito: "Não o
conhe ço", mas agora, ele declarava: "Deus ressuscitou a este Jesus, do que todos nós
somos testemunhas".
Seu destemor — Com toda a coragem de sua con vicção, e como o poder do Espirito
Santo, ele acrescen tou: "Sabia pois com certeza toda a casa d'Israel que
— 67 —

a esse Jesus, a quem vós crucificastes, Deus o fez Se nhor e Cristo".


Ao ouvirem da iniquidade da crucificação de Cristo e de muitos outros pecados,
desejaram obter perdão pelo que haviam feito, e gritaram a Pedro e aos outros apóstolos:
— "Que faremos, varões irmãos?"
Na resposta de Pedro, vemos a porta aberta atra vés da qual todos precisam passar para
serem salvos no Reino de Deus:
"Arrependei-vos e cada um de vós seja batizado em nome de Jesus Cristo para perdão
dos pecados: e recebereis o dom do Espírito Santo".
Então aqueles que acreditaram no que Pedro ha via dito, foram batizados; e o pequeno
grupo de cento e vinte pessoas cresceu para três mil cento e vinte. E todos os dias, dali em
diante, muitos outros foram con vertidos e juntaram-se à Igreja.

O HOMEM QUE NÃO ANDAVA

O local de reuniões gerais - Cerca de três horas certa tarde, Pedro e João iam ao Templo para
orar. Ali iam Iodos os dias para reunirem-se com os santos e então visitar as casas, "partindo o
pão". Assim sendo, o Templo parece ter sido o local de reuniões gerais dos primeiros
seguidores do Redentor. Era a Sua casa, e lá eles gostavam de se reunir para adoração. A en -
trada principal do templo era por intermédio do "Al pendre de Salomão", através dum portão
que era cha mado "O Belo Portão". Ali se reuniam todas as pessoas pobres, os cegos, aleijados,
fracos e doentes — que vi viam pedindo esmolas dos que vinham ao Templo.
Um Apelo — Certa tarde, um desses fez, um pie doso apelo a Pedro e João. Era um homem de
quarenta anos de idade, mas jamais tinha dado um passo

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em sua vida. Os amigos o carregavam lá pela numlul 6 o levavam de volta à noite. Em


resposta ao sen pedido de dinheiro, Pedro disse: — "Olha para nós".
A Resposta. — Enquanto o homem tentava adivi nhar quanto dinheiro os apóstolos lhe
dariam, Pedro acrescentou: — "Não tenho prata nem ouro, mas o que tenho isso te dou: em
nome de Jesus Cristo, o Naza reno, levanta-se e anda".
Tomando-o pela mão direita, Pedro levantou-o, e imediatamente os ossos de seus pés e
tornozelos rece beram energia.
O homem ficou tão contente que entrou no tempo saltando e louvando a Deus pelo
grande milagre que tinha vindo à sua vida.
Novamente o povo ficou "cheio de pasmo e assom bro" e reuniram-se em grande número
no alpendre de Salomão ,olhando para Pedro e João e tentando adivi nhar que espécie de
homens eram.
Outro impressionunte discurso. — Aqui Pedro fez outro grande discurso no qual ele disse
que este homem havia sido curado através da fé no nome de Jesus Cristo, a quem Deus
glorificou e a "quem vós entregastes e, perante a face de Pilatos negastes, tendo este determi nado
que fosse solto.
Mas vós negastes o Santo e o Justo e pedistes que se vos desse um homem homicida. E
matastes o Prín cipe da vida ao qual Deus ressuscitou dos mortos, do que nós somos
testemunhas. (Atos 3:12-26).

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LIÇÃO 12 PEDRO E JOÃO APRISIONADOS
"Pois nenhum bem é feito, ou dito, ou ima ginado pelo homem, sem o auxílio
de Deus... portanto nenhum mal é feito, ou dito, ou imaginado, sem o auxílio
do Demónio".

—x.x.x.x—

Pedro é interrogado. — Quando Pedro ainda esta va pregando aos milhares que se
achavam no "alpen dre de Salomão", viu aproximar-se do castelo perto do Templo, o
capitão da guarda e seus comandados.
Os sacerdotes judeus tinham ficado enciumados e desconfiados dos apóstolos e
olhavam com alarme para os milhares que se juntavam à Igreja. Assim decidi ram
chamar seus soldados, dispersar a multidão e pren der Pedro e João como homens
responsáveis por toda aquela agitação. Contudo, cerca de cinco mil pessoas foram
convertidas naquela tarde.
Aprisionados. — Assim os soldados "lançaram mão deles e os encerraram na prisão
pois era já tarde" e, portanto não dava mais tempo de levá-los a julgamen to. Apesar de
terem sido encerrados em celas fecha das, seus espíritos estavam livres e suas consciências
limpas. Podiam dormir mais socegadamente do que o sacerdote que havia sido
responsável pela sua prisão.
Perante o Sinédrio. — Pela manhã os prisioneiros foram levadas ao Sinédrio, onde se
assentava Anãs, o

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NIIIIKI Hiiccrdote e Caifás, e João c Alexandre, c parcn li ••, i In Mimo-sacerdote. Estes
homens haviam condena do JCMIS , talvez naquela sala, e haviam determinado que a
pregação em nome de Jesus de Nazaré deveria terminar.
Outros estavam presentes naquela manhã, e entre t'11 es, verdadeiros amigos dos
apóstolos. Um deles era o aleijado que havia sido curado.
Curiosidade e Espanto. — Como ele havia sido a causa inocente da reunião da
multidão na noite ante rior, todos pareciam estar ainda mais interessados nele do que
nos prisioneiros. Ele havia sido carregado, sa biam todos, somente há vinte e quatro
horas atrás para o portão do templo e agora estava andando firmemente através da
multidão para aproximar-se dos apóstolos.
"Com que poder ou em nome de quem fizestes isto?" perguntou um dos Juizes.
Então Pedro cheio do Espírito Santo lhe disse: — "Principais do povo, e vós,
anciãos d'Israel.
Visto que hoje somos interrogados acerca do bene fício feito a um homem enfermo, e
do modo como foi curado".
Pedro testifica de Cristo — "Seja conhecido de vós todos, e de todo o povo dlsrael, que
em nome de Jesus Cristo, o nazareno, aquele a quem vós crucificastes e a quem Deus
ressuscitou dos mortos em nome desse é que este está são diante de vós".
Como aqueles homens pecadores devem ter fra quejado ao ver a dignididade de
Pedro, sentir sua sin ceridade e ouvir as agudas palavras que penetravam suas almas
culpadas!
Disse-lhes mais que não poderiam obter salvação a menos que também eles tomassem
sobre si mesmos o nome de Cristo: "porque também debaixo do céu ne nhum outro
nome há, dado entre os homens, pelo q mi l devemos ser salvos".

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O que poderiam dizer os sacerdotes? O que pode riam fazer? Nada.
Os Inimigos ficam confusos. — Lá estava um ho mem curado e são, que havia estado
inutilizado por quarenta anos!
Lá estava Pedro, ousadamente proclamando que o milagre fora operado em nome de
Jesus de Nazaré, a quem haviam condenado à morte.
Eles consideravam Pedro como sem instrução, mas ele os havia aturdido a todos.
Conselho. — Após mandar que os prisioneiros fos sem levados para outra sala,
disseram entre eles: "Que havemos de fazer a estes homens porque a todos que habitam
em Jerusalém é manifesto que por eles foi fei to um sinal notório, e não o podemos
negar".
Assim, para que a doutrina que os apóstolos esta vam pregando não se esparramasse
mais, eles combi naram de ameaçar Pedro e João e mandar que eles não falassem "nesse
nome" a homem algum.
Chamando os prisioneiros novamente à sua pre sença, disseram-lhes que
"absolutamente não falassem, nem ensinassem no nome de Jesus".
Disseram os Apóstolos: "Julgais vós se é justo di ante de Deus, ouvirmos antes a vós
do que a Deus?"
É melhor obedecer a Deus que aos homens". — "Porque não podemos deixar de falar
do que temos vis to e ouvido".
Sem dúvida estes sacerdotes teriam punido os após tolos naquele momento se não
tivessem medo do povo, "porque todos glorificavam a Deus pelo que acon tecera" .
Quando foram postos em liberdade, (Pedro e João foram "para os seus" e
contaram aos seus amigos tudo o que havia acontecido. Quando ouviram estas coisas, os
santos uniram-se em oração de graças a Deus por to das as Suas bênçãos. (Atos 4:23-31).

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Nesta reunião verificou-sc nova e poderosa manifestação do Espírito Santo "e


anunciavam com ousadia a palavra de Deus".

PERIGO DENTRO DO REDIL


Infiéis. — Estes líderes tinham que lutar não so mente com os inimigos fora da Igreja,
mas com o povo contencioso e desonesto que havia penetrado no redil. Havia homens e
mulheres que não haviam se arrepen dido de seus pecados antes de serem batizados;
portan to não haviam recebido o Espírito Santo.
Dois destes eram Ananias e sua esposa Safira.
Todos que se filiavam à Igreja tinham tudo em comum. Aqueles que tinham terras e
outras proprie dades, vendiam-nas e traziam o dinheiro aos Apósto los . Não havia ricos e
nem pobres — todos tinham tudo que os outros tinham e o que um possuía pertencia a
todos.
Dois enganadores. — Aranias e Safira venderam uma propriedade mas trouxeram
somente parte do di nheiro e disseram que era tudo. Assim eles disseram uma mentira,
e, mostraram pertencer à pior classe do mundo.
A mentira é descoberta. — Através da inspiração do Espírito Santo, Pedro descobriu a
mentira e disse a Ananias: "...porque encheu Satanás o teu coração para que mentisses
ao Espírito Santo, o retivesses par te do preço da herdade?"
A severa punição. — "Porque formaste este desíg nio em teu coração? Não mentiste
aos homens, mas a Deus".
"E Ananias, ouvindo estas palavras, caiu e expirou".
Cerca de três horas mais tarde, sua esposa entrou e contou a mesma história que
seu marido. Ela, lam-

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bem, recebeu a divina repreensão e pagou a penalida de de seu pecado, pela morte.
Depois disto, ninguém ousava enganar os apóstolos ao fazer suas contribuições à
Igreja.
Esta é uma boa lição para todos guardarmos em mente hoje em dia, especialmente
quando pagarmos dizimos ao Senhor.
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LIÇÃO 13 PERSEGUIDOS MAS INCANSÁVEIS
"Eu não amaldiçoarei Senhor, pois ouvi dizer que uma maldição é como uma
pedra atirada para os céus e cai sobre a ca beça de quem atirou".
—x. x. x. x—
l

A sinceridade com que Pedro e os outros Apóstolos pregavam o Evangelho de Jesus


Cristo tinha um ma ravilhoso efeito sobre as multidões que os ouviam. No alpendre de
Salomão, dia após dia, homens e mulhe res ouviam os Doze testificarem que o
Redentor do Mundo tinha vindo de fato.
Doentes são curados. — Estes testemunhos eram corroborados também, por
maravilhosas manifestações, pois "muitos sinais e prodígios eram feitos entre o povo
pelas mãos dos apóstolos". Tão grande era a fé no po der de Deus que "transportavam
os enfermos para as ruas, e os punham em leitos e em macas para que ao menos a
sombra de Pedro, quando estes passasse co brisse alguns deles".
As pessoas doentes de Jerusalém não eram as úni cas abençoadas; pessoas das
cidadezinhas perto de Je rusalém que estavam doentes e afligidas por espíritos maus,
apelavam aos apóstolos, e pelo poder de Deus, eram curadas.
Regozijo e união. — Deve ter sido para Pedro e seus companheiros apóstolos um
motivo de alegria ver

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o interesse e a fé de tantos milhares, na mensagem de Cristo. Que alegria, também, nos


corações de todos aqueles inválidos que, curados, pulavam de suas camas e também
louvavam o Redentor! Como os Doze devem ter se amado mutuamente e as batidas de
seus cora ções devem ter sido como uma, pois, dia a dia, eles le vavam seu testemunho da
morte e ressurreição de seu Senhor e recebiam certeza divina de que Ele ainda esta va se
manifestando a eles através do Espírito Santo! Como este Espírito permeava aqueles
que se juntavam à Igreja, não é de se admirar que a multidão dos que acreditavam
tivessem um só coração e uma só alma!
Ódio. — Mas haviam alguns homens em Jerusa lém que tinham muitos ciúmes dos
Apóstolos, e cujos corações estavam cheios, não de alegria, mas de inve ja. Esses
homens tinham sido os líderes na crucifica ção de Jesus. Diz-se que: "Logo que se
levanta um templo a Deus, o demónio levanta uma capela ao la do". Assim, enquanto o
Senhor derramava o espírito de amor sobre aqueles que se ligavam à Igreja, o de mónio
derramava ódio no coração dos que eram maus e não queriam se arrepender.
Pedro é aprisionado. — Assim, "levantando-se o sumo sacerdote e todos os que
estavam com ele, enche ram-se de inveja, e lançaram mãos dos apóstodos e os puzeram
na prisão pública". Estes governadores igno rantes e cheios de preconceitos estavam
determinados a fazer com que os Doze cessassem de pregar Crist* porque se o que os
Doze diziam fosse verdade, estes magistrados seriam culpados da morte do Rei dos Ju -
deus. Mas o homem fraco e pusilânime não pode inter romper o trabalho do Senhor.
Uma libertação milagrosa. — Durante a noite, en quanto os prisioneiros estavam
reunidos na prisão — talvez cantando e orando — um anjo do Senhor lhes

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apareceu. Abriu as portas da prisão, trouxe-os para fora e disse:


"Ide, e apresentai-vos no templo e dizei ao povo todas as palavras desta vida".
A respeito desta ordem, George L. Weed escreve: "Ide" — apesar das ameaças e
comando, ferrolhos e barras e guardas da prisão. Em nome Dele que lhes ordenou "Ide
e pregai meu Evangelho", "apresentai-vos no templo" — exatamente o mesmo lugar de
onde haviam sido expulsos — "dizei ao povo" todos os que ouvirem, pois seu Mestre que
é também o meu, é o Sal vador de todos eles. Dizei todas as palavras desta vi da — "a
prometida vida futura da qual a ressurreição de Jesus é a primeira realização".
Obedientes à ordem do anjo, os Doze entraram no tempo bem cedinho e ensinavam.
Como sua mensa gem deve ter emocionado os ansiosos ouvintes que ha viam se reunião
tão cedo para ouvir a palavra de Deus!
Os judeus ficam perplexos. — Na mesma hora da manhã um outro grupo se reuniu.
O surno sacerdote chamou seu conselho e "todos os anciãos dos filhos de Israel". Quando
o conselho estava reunido, o sumo sacerdote mandou buscar Pedro e seus irmãos na pri -
são. Logo os oficiais voltaram dizendo:
"Achamos realmente o cárcere fechado, com toda segurança e os guardas que
estavam fora, diante das portas; mas quando abrimos, ninguém achamos dentro".
Perplexos por este inesperado acontecimento, o su mo sacerdote e o conselho pareciam
ser incapazes de decidir exatamente o que fazer. Enquanto ainda bus cavam uma
explicação satisfatória ou decidiam qual o próximo passo a dar, entraram alguns dizendo:
"Eis que homens que encerrastes na prisão, estão no Templo e ensinam ao povo".
Ao ouvir isto o capitão do templo com seus oficiais foram buscar os Apóstolos para
colocá-los ante o con-
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selho. Então os oficiais trouxeram-nos sem violência, isto é sem feri-los e sem
brutalidade, "porque temiam ser apedrejados pelo povo".
Perante o conselho. — Assim que os Doze apare ceram, o sumo sacerdote perguntou:
"Não vos admoes tamos nós expressamente que não ensinásseis nesse no me? E eis que
enchestes Jerusalém dessa vossa dou trina, e quereis lançar sobre nós o sangue desse ho -
mem".
Seu coração cheio de preconceito o induzia a fa lar de Jesus sem nem siquer
mencionar o seu nome. Mas mesmo em sua rudeza, ele nos dá um grande tes temunho do
sucesso da pregação dos Apóstolos. "En chestes Jerusalém dessa vossa doutrina" disse
ele, "e quereis lançar sobre nós o sangue desse homem". Te ria o sumo sacerdote se
esquecido então que os Judeus gritaram no julgamento de Jesus "O seu sangue caia
sobre nós e sobre nossos filhos?" Se assim era, devem ter se sentido temerosos de que se
cumprisse a impre cação.
Então disse Pedro e os outros apóstolos:
"Mais importa obedecer a Deus que aos homens". Mostrando tanta ansiedade
quanto o sumo sacerdote havia manifestado relutância ao nome de Jesus, Pedro
acrescentou:
Um discurso ousado — "O Deus de nossos pais res suscitou a Jesus, ao qual vós
matastes, suspendendo-o no madeiro. Deus com a sua dextra o elevou a Prínci pe e
Salvador, para dar a Israel o arrependimento e remissão dos pecados. E nós somos
testemunhas acer ca destas palavras, nós e também o Espírito Santo".
Esse ousado discurso foi como uma agulhada no coração dos juizes iníquos.
Enfureceu-os tanto que eles falaram em matar os Doze, da mesma forma como haviam
matado o Salvador.

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A Defesa 'de GamtílieJ,. — Mas havia x hábil advogado entre eles, que tinha justiça
em seu coração. Seu nome era Gamaliel. Levantou-se entre eles e disse que levassem os
Apóstolos para fora por um pouco de tempo.
Quando isto foi feito, ele continuou: "Varões israelitas, acautelai-vos a respeito do que
haveis de fazer a estes homens, porque antes destes dias levantou-se Teudas, dizendo ser
alguém, a este se ajuntou o número de uns quatrocentos homens, o qual foi morto e
todos os que lhe deram ouvidos foram dis persos e reduzidos a nada; e depois deste,
levantou-se Judas, o galileu, nos dias do alistamento e todos os que lhe deram ouvidos
foram dispersos". Agora vos digo: deixai estes homens; porque se esta obra é dos
homens, perecerá; mas se é de Deus, não podereis desfazê-la; para que não aconteça
porventura, serdes achados com batendo contra Deus". (Atos 5:33-39).
Espancados e libertos. — Prevaleceu a influência de Gamaliel; e a vida dos apóstolos
foi poupada; mas não foram soltos antes de serem espancados e ordena dos a não falarem
no nome de Jesus. Cada um foi amarrado pela cintura com os braços amarrados numa
coluna baixa, para que se pudessem inclinar a fim de que as batidas os atingissem mais
facilmente e recebe ram trinta e nove chicotadas.
Ao deixarem a câmara do conselho, com suas fe ridas sangrando, seus corações
encheram-se, não de amargura e sofrimento, mas de alegria "regozijando-se de terem
sido julgados dignos de padecer afronta pelo nome de Jesus".

— 79
LIÇÃO 14 UMA VISITA ESPECIAL A SAMARIA
Diáconos. — Ao aumentar o número de membros na Igreja, os homens foram
chamados e ordenados aos v.ários cargos no trabalho do ministério. Além dos Apóstolos,
havia Evangelistas, Pastores, Mestres, Diá conos, etc. Entre os primeiros a ser escolhidos e
orde nados para um cargo determinado na Igreja, encontra vam-se "sete varões de boa
reputação, cheios do Espi rito Santo e de sabedoria". Seus nomes eras Estêvão, Fi lipe,
Prócoro, Nicanor, Timon, Parmenas e Nicolau. Fo ram chamados diáconos e um de seus
deveres era o de observar a distribuição de alimentos entre os pobres.
O martírio de Estêvão. — Logo após a sua indica ção, uma perseguição amarga c cruel
levantou-se con tra a Igreja em Jerusalém, durante a qual os Santos se esparramaram
para fora, pelas regiões da Judéia e Samaria. Estêvão, um homem cheio de fé e do
Espiri to Santo, foi apedrejado até à morte. Filipe desceu para a cidade de Samaria e lá
continuou a pregar Cris to aos Samaritanos.
Filipe. — Parece que maior poder acompanhava o ministério de Filipe, pois "muitos
espíritos imundos saiam de muitos que os tinham, clamarido em alta voz; e muitos
paralíticos e coxos eram curados. E havia grande alegria naquela cidade". O povo ouvia
a men sagem de Filipe e se batisava na Igreja.
Autoridade Limitada. — Mas o batismo pela água não é suficiente. Deve ser seguido
pelo batismo do Es pirito Santo. Parece, contudo, que Filipe, apesar de ter

— 80 —

autoridade para batisar, não tinha o direito de conferir o Espírito Santo. Ele, portanto,
tinha o cargo de sacerdote.
O Espírito Santo. — Quando a notícia de que Sá. maria havia recebido o Evangelho
chegou a Jerusalém, "enviaram para lá Pedro e João. Os quais, tendo desci do, oraram
por eles para que recebessem o Espírito Santo". Sobre as cabeças destes crentes
batisados, Pedro e João punham suas mãos e lhes conferiam o Espi rito Santo.
Pretendentes. — O Senhor não aceita na Igreja to dos os que são batisados. Sòmentes
aqueles que since ramente acreditam em Jesus Cristo como o Redentor do Mundo e que se
arrependem de seus pecados e recebem o Espírito Santo. Aqueles que são batizados sem
fé e arrependimento, são meros pretendentes.
Uma pessoa nessas condições juntou-se à Igreja da Inglaterra há alguns anos atrás.
Um dia um membro, vendo que o jovem não tinha fé, perguntou-lhe porque havia se
juntado 'à Igreja. "Oh, só para sair da Améri ca", respondeu ele.
Um pouco mais tarde, em conversação, confessou ter se afiliado à Igreja Católica
uma certa vez, para con seguir um rosário, e mais tarde juntou-se à Igreja de Jesus Cristo
dos Santos dos Últimos Dias, para vir a Utá. Naturalmente, não demorou muito para que
fosse excomungado e um pouco mais larde caiu nas profun dezas do pecado e da miséria.
Simão, o Feiticeiro. — Na ocasião em que Filipe foi a Samaria, havia um homem
chamado Simão na ci dade, que era um grande pretendente. Ele clamava ser um
feiticeiro, e ganhava muito dinheiro enfeitiçando as pessoas com as suas mandingas.
Contudo, quando o povo ouviu o verdadeiro Evangelho e viu os milagres feitos pelo
poder de Deus, perderam interesse nas feiti çarias de Simão e foram batisados por Filipe.

— 81 —

"E creu o próprio Simão; e sendo batisado ficou de contínuo com Filipe; e vendo os
sinais e as grandes maravilhas que se faziam, estava atónito". Mas ele não se converteu.
Seu único propósito em reunir-se à Igre ja era descobrir como esses milagres eram feitos,
pen sando que poderia usá-los para ganhar dinheiro.
Sua ambição. — Quando Simão viu que através da imposição das mãos dos
Apóstolos o Espirito Santo era concedido, ofereceu-lhes dinheiro, dizendo "Dai-me
também a mim esse poder, para que aquele sobre quem eu puzer as mãos receba o
Espirito Santo". Pobre ho mem ambicioso! Sua sede de dinheiro levou-o ao sa crifício de
sua própria honra.
Simão é Repreendido. — Se ele pensou que o co ração de Pedro era tão avarento
como o seu próprio, logo se convenceu de que estava errado, pois o apósto lo indignado,
olhando diretamente para a alma sórdida deste mercenário hipócrita, respondeu:
— "O teu dinheiro seja contigo para perdição, pois cuidaste que o dom de Deus se
alcança por dinheiro.
"Tu não tens parte nem sorte nesta palavra porque o teu coração não é relo diante
de Deus".
"A aparência exterior e as pretenções hipócritas não podiam influenciar Pedro
mais do que poderiam conseguir o favor de Deus. Somente era aceitável um coração
sincero. Vendo que o coração de Simão estava em conseguir dinheiro, com o sacrifício
de sua honra e da contaminação da palavra de Deus, Pedro lhe disse que se
arrependesse de sua iniquidade e que orasse a Deus por perdão, "pois", terminou ele,
"Vejo que estás em fel de amargura e em laço de iniquidade".
Tal repreensão encheu o feiticeiro de temor e ele pediu a Pedro que orasse a Deus
"para que nada do que disseste venha sobre mim". Pedro continuou a pregar por
algum tempo em outras cidades em Samaria e então voltou a Jerusalém.
— 82 —

LIÇÃO 15 EM LIDA E JOPE

A Igreja é estabelecida. — Apesar de apenas al guns anos se terem passado desde que os
apóstolos ti nham recebido a comissão final "Ide por todo o mundo e pregai o Evangelho",
através de seu trabalho contí nuo e sincero, muitas Igrejas foram estabelecidas em toda
Judéia, Galiléia e Samaria. Como era o dever dos doze cuidar dos interesses de toda a
Igreja, tornou-se necessário que eles viajassem através de toda a terra dos Judeus. Pedro
foi de lugar em lugar, organizando, ordenando, abençoando e pregando o Evangelho de
Cristo.
Enéias, o Paralítico. — Em uma dessas viagens, ele visitou as cidades nas planícies de
Sharon, na costa do Mar Mediterrâneo. Uma dessas cidades era Lida, na parte sul da
planície. Enquanto estava visitando os san tos, "achou ali certo homem, chamado Enéias,
jazendo numa cama havia oito anos, o qual era paralítico". Esta era uma doença que
afetava os membros dos que a sofriam, e fazia com que não pudessem andar. Este pobre
aleijado não tinha dado um só passo por oito anos. Sem dúvida, ele ouvira que Cristo
havia curado homens tão doentes como ele próprio e também, que Pedro, em nome de
Cristo, havia ordenado ao aleijado do portão do Templo que se levantasse e andasse. De
qualquer forma, quando Pedro o encontrou, ele pediu a Pedro que lhe desse a mesma
bênção.
"E disse-lhe Pedro: Enéias, Jesus Cristo te dá saú de; levanta-te e faze a tua cama. E
logo se levantou.
— 83 —

E viram-no todos os que habitavam em Lida e Sarona os quais se converteram ao


Senhor".
Tábua. — Não muito distante de Lida havia outra cidade chamada Jope. Um dos
motivos pêlos quais há escritos sobre Jope é porque era a cidade de uma mu lher muito
boa a quem todos amavam. Seu nome em hebreu era Tabita e em grego Dorcas —
Ambos estes nomes significam "Gazela", o nome de um belo animal, parecido com o
veado. Tabita parece ter sido tão bela como boa, e todo o seu tempo evidentemente era
gasto em dar conforto e felicidade a outros. Fazia benefício aos pobres, dando-lhes
agasalhos e roupas que ela mes ma fazia. Mas um dia ficou doente e todos os seus inú -
meros amigos ficaram muito preocupados. Quando sua doença piorou e ela morreu, os
seus corações enche ram-se de tristeza. Entre os que choravam, haviam al gumas viúvas a
quem Tabita havia confortado. Esta vam mesmo muito tristes, como toda a Igreja em
Jope. Após terem lavado cuidadosamente o corpo, foi este le vado a um quarto a]to.
Não fizeram nenhuma cerimónia fúnebre, pois al guns dos discípulos ouviram dizer
que Pedro estava ern Lida, e "lhe mandaram dois varões, rogando-lhe que não se
demorasse em vir ler com eles".
Pedro consentiu em atender seu pedido e foi ime diatamente a Jope. "... e quando
chegou, levaram-no ao quarto alto e todas as viuvas o rodearam chorando e mostrando
as túnicas e vestidos que Dorcas fizera quando estava com elas" e, sem dúvida, entre
seus so luços, louvando as virtudes da irmã que partira.
Seguindo o exemplo de seu Mestre quando a pe quena filha de Jairo voltou à vida,
Pedro pediu a todos que estavam no quarto que saissem. Ele então ajoe lhou-se e orou.
^7irando-se para o corpo, disse: "Tabi ta, levanta-te".

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Tabitn volta à vida. — À primeira rnanifcstiirào devida, como nos é dito, "ela abriu os
olhos". Quiil não deve ler sido a sua surpresa ao ver o Principal Apósto lo ao seu lado,
em vez de seus amigos mais próximos, — que troca de cumprimentos foi feita, que
expressões de gratidão, não podemos dizer; mas, "ele, lhe dando a mão, a levantou e
chamando os santos e as viúvas, apresentou-lh'a viva".
Como um resultado deste milagre, que ficou conhe cido em toda Jope "muitos
creram no Senhor".
Pregação dòmenle aos judeus. — Até esta ocasião os apóstolos pregavam somente aos
Judeus porque, sen do eles próprios judeus, pensavam que Jesus era o seu Salvador mas
não Salvador de outras nações, especial mente daquelas nações que adoravam ídolos.
Todos os que não eram judeus, eram chamados gentios e eram considerados pêlos
judeus "comuns" ou "não limpos".
Cornélio. — Apesar do Senhor ter comandado, "ensinai todas as nações", os
apóstolos não pareciam ter compreendido sua missão, até que Pedro recebeu uma visão
especial.
Enquanto ele estava em Jope, com um homem cha mado Simão, um curtidor, havia
um oficial romano cm Cesaréia, a trinta milhas ao norte. Seu nome era Cor-nelius. Era o
capitão de cem soldados, e era portanto chamado um "centurião". Apesar de ser gentio,
Cor-iiélio aão adorava ídolos como fazia a maioria dos gentios.
Um homem devoto. — Sem dúvida, ele ouviu falar de Cristo e sabia que muitos dos
Judeus O aceitavam como seu Salvador; e imaginava porque o verdadeiro Evangelho
não podia salvá-lo da mesma forma que aos judeus. Era um homem "piedoso e temente a
Deus" e ensinava o mesmo a todos em sua casa. Não somente

— 85 —
isto, mas vivia também uma vida direita e, o que é me lhor, ajudava os pobres.
Uma tarde estava orando em sua casa quando um anjo lhe apareceu e disse
"Cornélio".
A inesperada aparição do anjo encheu o centurião de medo; mas ele respondeu: "Que é
Senhor?"
São respondidas as suas orações. — "As tuas «'rações e as tuas esmolas têm subido
para memória diante de Deus; agora, pois, envia homens a Jope e manda chamar a
Simão, que tem por sobrenome Pedro. Este está com um certo Simão curtidor, que tem
a sua casa junto ao mar. Ele te dirá o que deves fazer".
Assim que o anjo se foi, Cornélio chamou dois ser vos e um soldado que também
adoravam o Senhor, e dizendo-lhes o que o anjo havia dito, os enviou a Jope. Seguiram
pela praia rumo ao sul, toda a noite, e che garam a Jope mais ou menos ao meio dia do
dia se guinte.
Uma visão ao meio dia. — Mais ou menos na hora em que estes mensageiros
entraram na cidade, Pedro, como era costume, foi ao terraço para orar. Enquanto
estava lá, esperando que fosse preparada a sua refeição do meio dia, foi-lhe arrebatado
o sentido e viu o céu aberto e descendo um vaso, "como se fosse um grande lençol,
atado pelas quatro pontas e vindo para a terra, no qual havia de todos os animais
quadrúpedes e rep tis da terra e aves do céu".
Enquanto Pedro olhava estes animais, pensando que não eram próprios para comer,
uma voz disse: "Le vanta-te, Pedro, mata e come".
"De modo nenhum, Senhor, porque nunca comi coisa alguma comum e imunda".
"Não faças tu comum", continuou a voz, "o que Deus purificou".

— 86 —
Isto foi repetido três vezes, e então o lençol foi U 1 vado novamente para os céus.
Pedro perplexo. — Pedro estava perplexo, e sen tou-se tentando adivinhar o
significado da visão. Con tudo, não ficou muito tempo em dúvida; pois enquanto estava
pensando na visão "disse-lhe o Espirito: Eis que três varões te buscam. Levanta-te pois
e desce e vai com eles, não duvidando, porque eu os enviei".
Aconteceu que enquanto Pedro recebia sua visão, os três mensageiros de Cornélio
bateram à porta de Si mão e foram admitidos à sua casa. Ao vê-los entrar Pedro disse:
"Sou eu a quem procurais qual é a causa porque estais aqui?"
"Cornélio, o centurião *** foi avisado por um san to anjo para que te chamasse à
sua casa e ouvisse as tuas palavras".
Os mensageiros permaneceram naquela noite com Pedro, na casa de Simão; na
manhã seguinte, conduzi ram-no e a "alguns irmãos de Jope", para Cesárea. No dia
seguinte, ao chegarem em casa do centurião, encon traram toda a sua casa, seus parentes
e amigos reuni dos para recebê-los. Ao aproximar-se Pedro da porta, Cornélio saiu para
encontrá-lo, caiu aos seus pés e co meçou a adorá-lo. Mas Pedro levantou-o dizendo gen -
tilmente :
"Levanta-te que eu também sou homem".
Ao entrarem os dois na casa, Pedro, vendo uni gru po de pessoas presente, disse:
Pedro se mistura com gentios. — "Vós bem sabeis que não é licito a um varão judeu
ajuntar-se ou che gar-se a estrangeiros; mas Deus mostrou-me que a ne nhum homem
devo chamar comum ou imundo, *** "Por que razão me mandastes chamar?"
Cornélio então contou tudo sobre seu jejum e ora ção, a visita do anjo e as suas
instruções. (Veja Atos 10:30-34).

— 87 —

O preconceito que havia impedido que Pedro com preendesse o significado total da
ordem "Ensinai todas as nações" começou a desaparecer de sua alma, seus olhos
começaram a ver mais claramente a misericór dia de nosso Pai Celestial; e ao
terminar Cornélio de falar, exclamou:
"Reconheço por verdade que Deus não faz accep-ção de pessoas. Mas que lhe é
agradável aquele que, em qualquer nação, o leme e obra o que é justo". (Veja Atos
10:31-13).
Então, nesta primeira reunião dos gentios na pri mitiva igreja, Pedro contou a
história do redentor, tes tificando da morte e ressurreição do Salvador.
É concedido o Espírito Santo. — Como prova fi nal o principal dos Apóstolos viu que
Deus aceitaria os gentios da mesma forma que aos judeus, em sua Igre ja, "caiu o
Espírito Santo sobre todos os que ouviam a palavra".
Aceitando isto como uma manifestação direta de Deus, Pedro declarou:
"Pode alguém porventura recusar a água, para que não sejam batisados estes, que
também receberam como nós o Espirito Santo?"

— 88 —

LIÇÃO 16 O TERCEIRO APRISIONAMENTO


"Aqueles que procuraram a Deus, jamais o fizeram em vão".
"Não faça aquilo sobre o que não puder orar pela benção de Deus. Um
segredo que não dirias a Deus é um segredo que deveria ser afastado de teu
próprio co ração".
—x. x. x. x—
Após haver completado seu trabalho em Lida, Jope e nas cidades adjacentes, Pedro
voltou a Jerusalém e continuou em seu trabalho sincero no ministério.
f/m Rei iníquo. — Mas havia um rei iníquo que governava a Judéia naquela ocasião,
chamado Herodes Agripa, que "estendeu as mãos sobre alguns da igreja, para os
maltratar". Era o neto de Herodes o Grande, que, como nos lembramos, matou todas as
criancinhas em Belém em seus esforços para matar o pequeno me nino Jesus. Era também
sobrinho de Herodes Anlipas, o rei iníquo que mandou cortar a cabeça de João Ba-tista.
Herodes Agripa, tinha as mesmas paixões iníquos de seu avô e de seu tio; assim,
naturalmente, odiava e desprezava os homens direitos que, ao pregar o Evan gelho,
condenavam o pecado e a iniquidade.
Pedro é joç/ado na prisão. — O primeiro apóstolo a sofrer pela iniquidade do rei Agripa,
foi Tiago, irmão de João, a quem ele matou "à espada". Quando v i u que Isso agradara
aos judeus orgulhosos, pensou nu

— 89 —

matar mais alguns do grupo dos apóstolos. Assim, prendeu Simão Pedro; mas,
felizmente, resolveu não matá-lo até depois da Páscoa e assim atirou-o na pri são até uma
ocasião mais favorável para a execução.
Fortemente guardado. — Para ter certeza de que Pedro não escaparia desta vez,
"entregou-o a quatro quaternos de soldados para que o "guardassem". Isto queria
dizer quatro piquetes de quatro guardas, dezes- seis no total. Cada grupo devia vigiar
três horas e en tão ser substituído por outro durante a vigília noturna. Dois oficiais
deveriam guardar o portão exterior da pri são e dois deveriam estar na cela, um em cada
lado do prisioneiro com seus braços acorrentados a ele". As sim firmemente guardado e
acorrentado, Pedro deitou-se para dormir "entre os dois soldados, ligados com duas
cadeias e os guardas diante da porta guardavam a prisão".
A morte cruel de Tiago e a notícia da prisão de Pedro, causou grande consternação
entre os santos na Judéia. Alguns, talvez, estivessem atemorizados; mas todos oravam.
Reuniões Especiais de Oração. — Parece que gru pos de santos sinceros reuniam-se em
diferentes luga res, e rogavam em sincera oração a Deus para que pou passe a vida de seu
líder. Realmente, na Igreja, ora vam a Deus incessantemente por ele. Alguns historia -
dores pensam que entre estes que assim suplicavam ao Senhor, encontrava-se Paulo e
Barnabé, que estavam provavelmente em Jerusalém nessa ocasião.
Uma das principais reuniões foi feita em casa de Maria, mãe de João Marcos, que
muitos anos depois escreveu o evangelho segundo S. Marcos.
Em Casa de Maria. — Enquanto os deixamos em solene oração na noite anterior ao
dia em que Pedro seria morto, voltemos à prisão e vejamos o que está acontecendo lá.

— 90 —

Um anjo aparece a Pedro. — Enquanto Pedro es tava dormindo em seu catre de


palha, "eis que sobrc-veio um anjo do Senhor, e resplandeceu uma lu/ nn prisão".
Evidentemente, os guardas estavam adorme cidos, e não viram ou ouviram nada
porque o anjo to cou Pedro na ilharga e o levantou, dizendo: "Levanta- te depressa".
Ao obedecer, suas cadeias caíram de suas mãos. Então o anjo lhe disse: "Cinge-te
e ata as tuas al parcas".
Pedro, mal sabendo o que fazia, obedeceu. Então o anjo continuou:
"Lança às costas a tua capa e segue-me".
Ainda pensando estar sonhando, Pedro seguiu o anjo.
Pedro é libertado da prisão. — Deixaram os guar das na cela, passaram a primeira
guarda, e a segunda; ninguém tentou detê-los. Quando chegaram "à porta de ferro, que
dá para a cidade", ela "se lhes abriu por si mesma". O anjo continuou a dirigir Pedro
através de uma das ruas da cidade e deixou-o tão repentina mente como havia aparecido.
Nesta altura, contudo, Pedro compreendeu clara mente que não estava sonhando
mas que estava de fato fora da prisão. Disse consigo mesmo:
Sua vida é salva. — "Agora sei verdadeiramente que o Senhor enviou o seu anjo e
me livrou da mão de Herodes, e de tudo o que o povo dos judeus esperava". Com este
último comentário ele se referia à execução pública que Herodes havia prometido fazer
realizar na quele mesmo dia. Mas a fé e as orações foram mais poderosas a favor de
Pedro do que o decreto de reis, e as exigências dos perversos judeus.
Pensando por alguns momentos a que lugar se di rigir, dirigiu-se à casa de Maria,
mãe de João Marcos,

— 91 —
onde, sabemos, alguns dos santos estavam no mesmo momento orando pela sua
libertação.
Rode. — "Batendo Pedro à porta do páteo" uma jovem chamada Rode veio
atender e perguntou quem era. Quando ela ouviu a voz de Pedro, ficou tão con tente
que não parou para abrir o portão, mas correu imediatamente para a sala, dizendo:
O espanto dos amigos. — Pedro está aqui; está à p<)rta.
Assim repentinamente interrompidos em sua ora ção as pessoas não acreditaram
em Rode e disseram que ela estava fora de si. Rode insistiu que estava cer ta. Ela
conhecia a voz de Pedro e sabia que ele estava à porta. Eles finalmente concluíram que
era um anjo.
Enquanto isso, Pedro continuava batendo até que foi finalmente atendido. Parece
que o pequeno grupo não esperava que suas orações fossem atendidas de maneira tão
literal; assim "quando abriram, viram-no e se espantaram".
Pedro levantando sua mão, e pedindo-lhes que fi zessem silêncio, contou como o
Senhor o havia liberta do da prisão. Então acrescentou: "Anunciai isto a Tia go e aos
irmãos". Este Tiago era provavelmente o ir mão de Jesus que parece ter sido
encarregado da Igre ja de Jerusalém (Gal. 1:19).
Pedro foge. — Sabendo que assim que fosse nota da a sua falta na prisão os soldados
de Herodes esta riam procurando por ele, "Pedro partiu para outro lu gar". Quando
veio a manhã, ihouve grande alvoroço entre a multidão em virtude da fuga de Pedro.
Hero des ordenou que se fizesse uma busca completa, mas foi em vão.
Os guardas são mortos. — Pensando então que os guardas da prisão tivessem sido
negligentes, o perver so rei mandou que fossem mortos. Não muito tempo depois ele
próprio morreu tão repentina e tão miserà-

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velmente que alguns disseram que a ira de Deus o vi. sitara por sua maldade. Lucas nos
diz que o anjo do Senhor o matou.
A morte de Herodes. — Mas Pedro, a quem Hero des tinha procurado matar, foi
poupado, através de bênçãos do Senhor, para abençoar a Igreja e pregar o Evangelho
ainda por muitos anos.

— 93 —
LIÇÃO 17 CENAS FINAIS DE UM GRANDE MINISTÉRIO

"O evangelho é a concretização de todas as esperanças, o aperfeiçoamento


de todas as filosofias, o intérprete de todas as re velações e uma chave para
todas as apa rentes contradições da verdade no mundo físico e moral".
—x. x. x. x—
O caráter de Pedro. — Muitos anos se passaram desde que Pedro se encontrou com
Jesus e foi chamado Cephas que, por interpretação, significa "Pedra". Pe dro não
imaginava então porque o Senhor queria que o caráter deste pescador se tornasse como
uma rocha. Não havia compreendido a grande responsabilidade que seu Mestre queria
colocar sobre ele. Os anos que se passaram foram Iodos plenos de grandes e maravi -
lhosas experiências, que tendiam fazer de Pedro não somente o homem de rocha que
Cristo havia querido que ele se tornasse, mas o grande líder e principal apóstolo da
Igreja de Cristo.
Destemor, fidelidade, oração, humildade e zelo in cansável em seus esforços para
instruir e abençoar o povo eram característicos do caráter de Pedro, que bri lharam em
toda sua vida.
Devemos nos lembrar, contudo, que este caráter de rocha não foi formado
repentinamente. Cresceu gra dualmente. O leitor se lembra de como Jesus, obser vando
sua formação, reprovava as fraquezas de Pedro,

— 94 —

elogiava sua força e o encorajava sempre, a permne- cer fiel e verdadeiro no trabalho de
"pescador de lio. mens".
O Pescador de Homens. — Chegamos agora naquele período de sua vida em que este
homem que uni dia puxava redes cheias de peixes do Mar da Galiléia poude olhar para
traz, para seus anos de ministério e ver inúmeras redes cheias de homens, mulheres e
crian ças, retiradas do mar da ignorância e do pecado e co locadas a salvo na Igreja de
Cristo.
Havia diferença, contudo, entre os resultados de sua pesca de peixes e de homens: os
peixes, ele retira va do elemento de vida para morte física; os homens ele tirava do
elemento da morte para vida eterna.
Durante cinco anos após sua libertação do terceiro aprisionamento, Pedro
continuava suas visitas de cida de em cidade, de província em província, pregando a
Palavra do Senhor. Durante muitas dessas viagens ele foi, sem dúvida, acompanhado
por sua fiel esposa.
Aberta a porta aos gentios. — Havia sido dever e privilégio de Pedro pregar o
Evangelho primeiramente aos gentios. Note que quando o Senhor queria que os gentios
ouvissem sua palavra, ele instruía o chefe dos Apóstolos a girar a chave que abria a porta
do Evan gelho a eles. Este é um doa deveres especiais do Apos tolado.
Cristãos. — Desde aqueles tempos, muitos gentios se converteram; e em algumas
cidades eles se reuniam e prestavam culto juntamente com os judeus. Isto acontecia
particularmente na Antióquia, uma impor tante cidade da Síria, onde os seguidores de
Jesus fo ram pela primeira vez chamados cristãos.
Mas haviam certos homens na Judéia, que foram a Antióquia e ocasionaram
atrapalhações. Estes eram judeus que haviam aceitado o Evangelho, mas que a i n da
acreditavam que os gentios teriam que fazer ludo o

— 95 —

que os judeus faziam antes de poderem obter a sal vação.


Pedro justifica os gentios. — A questão quanto à possibilidade dos gentios receberem
o evangelho e se rem salvos, sem estar de acordo com o rito judaico, chegou aos
apóstolos e outros líderes da Igreja em Je rusalém.
"E havendo grande contenda, levantou-se Pedro e disse-lhes: Varões irmãos, bem
sabeis que já há mui to tempo Deus me elegeu dentre nós, para que os gen tios ouvissem
da minha boca a palavra do evangelho e
cressem.
"E Deus, que conhece os corações, deu testemunho deles, dando-lhes o Espirito
Santo, assim como também a nós.
"E não fez diferença alguma entre eles e nós, pu rificando os seus corações pela
fé".
Ele então os exortou a não provocar Deus inven tando uma regra que faria com
que os gentios fizessem o que o Senhor não pedia deles. "Pois", acrescentou ele
"seremos salvos péla graça do Senhor Jesus Cristo como eles também".
Apoio ao direito. — Houve um tempo quando Si- mão, o pescador judeu, com todos
os seus preconceitos judeus, teria apoiado o lado judeu da questão; mas agora, não era
Simão, o pescador que falava, mas Pe dro, o chefe dos apóstolos do Senhor. O que eram
os pre conceitos para ele à luz da inspiração da verdade! Tudo o que era preciso é que
ele soubesse o que estava certo e, com ou sem preconceito, com ou sem favor, ele o
defenderia.
É verdade que após este conselho, assim diz Paulo, (Gal. 2:7) Pedro retirou-se da
companhia de alguns gentios porque alguns judeus desceram de Jerusalém. Paulo diz
que repreendeu Pedro por suas ações nesta ocasião, mas nada foi registrado sobre o
que Pedro-

— 96 —

disse ou fez. Conhecendo Pedro como nós, j concluir com segurança que ele não deve ler se
do da retidão intencionalmente. Parece mais provável que Paulo tivesse compreendido
mal o motivo das acõrs de Pedro. De qualquer modo, podemos ter certeza d r que o que
Pedro disse e fez foi para ajudar os que st-achavam influenciados por seus atos.
Visita às igrejas. — Daquele tempo em diante, pouco sabemos a respeito das viagens
de Pedro. Pela leitura de suas epístolas, temos uma pequena visão da natureza dos seus
trabalhos e viagens durante os últi mos anos de sua vida. Sem dúvida, ele visitou todos os
países em que existiam ramos organizados da Igreja, até mesmo as "sete Igrejas da Ásia".
Trinta e cinco anos de trabalho. — Não se sabe exatamente onde morreu, e nem a
espécie de morte que sofreu; mas é evidente que o fim não estava longe quando ele
escreveu sua segunda carta às Igrejas. Isto foi cerca de trinta e cinco anos após ter
encontrado seu Salvador. Ele havia estado no.ministério então, apro ximadamente trinta e
cinco anos, ou talvez ainda mais.
Referindo-se à profecia do Senhor nas praias da Galiléia, o velho apóstolo, escrevendo
aos Santos e os encorajando a serem verdadeiros ao Evangelho, disse:
"Sabendo que brevemente hei de deixar este meu tabernáculo, como também nosso
Senhor Jesus Cristo já m'o tem revelado, mas também ou procurarei em toda a ocasião
que depois da minha morte tenhais lem branças destas coisas".
Alguns dos mais antigos autores cristãos nos dizem que Pedro e Paulo foram ambos
aprisionados em Ro ma durante as terríveis perseguições aos Santos pelo perverso rei
Nero.
Uma Lenda. — Conta-se que antes de Nero apri sionar Pedro, os Cristãos,
percebendo o perigo em quo ele se encontrava, rogaram que deixasse Roínn. C.oni
— 97 —

muita relutância, ele cedeu aos seus pedidos e fugiu da cidade à noite. Ao fugir,
encontrou o Senhor levando Sua cruz e dirigindo-se a Roma. "Mestre, para onde vais?",
perguntou Pedro, "Para Roma, para ser cruci ficado pela segunda vez", foi a resposta.
Pensando que o seu Senhor poderia ser crucificado pela segunda vez, pela Verdade,
ele também queria morrer por ela, e voltou a Roma, e algum tempo mais tarde, foi
condenado pelo imperador Nero a sofrer morte por crucificação. Ao aproximar-se do
local da execução, contudo, Pedro pediu que lhe fosse permiti do ser crucificado com a
cabeça para baixo, o que lhe foi concedido.
As circunstâncias são mais ou menos lendárias e podem ou não ser verdadeiras. Mas
seja qual for a maneira ou tempo da morte de Simão Pedro, ele mor reu fiel a todas as
tarefas que o Senhor e Mestre lhe havia dado.

— 98 —
Segunda Parte

TIAGO

— 99 —
LIÇÃO TIAGO -O FILHO DE ZEBEDEU

Entre as mulheres devotas que seguiram Jesus na Galiléia, que o auxiliaram e que
assistiram com zelo e sofrimento os julgamentos em Jerusalém, achava-se uma dedicada
mãe chamada Salomé. Com Maria Ma dalena e Maria, mãe de Jesus, e José, presenciou à
distância a crucificação do Salvador.
Ela não se esqueceria de seu Senhor nem mesmo na cruz. Foi também uma das que,
com unguentos e perfumes, foi cedinho ao sepulcro na manhã de domin go, para
participar do embalsamento do corpo de Je sus. A ela e a outros, o Salvador apareceu
naquela ma nhã dizendo:
"Não temais; ide, e anunciai a meus irmãos que vão a Galiléia, e lá me verão".
(Matheus 28:10).
"Feliz era ele com tal mãe! A fé nas mulheres pul sa com seu sangue, e a confiança em
todas as coisas ele vadas vêm facilmente a ele, e apesar dele tropeçar e cair, não cegará
sua alma com argila". (Tennyson).
Orgulhosa de Seus Filhos. — Assim era a fiel e devotada mulher a quem Tiago e João,
os filhos de Zebe-deu, chamavam mãe. E ela era tão orgulhosa de seus filhos como estes o
eram dela; pois pareciam haver her dado de sua mãe, e talvez de seu pai também, aquelas
qualidades verdadeiras e constantes que os faziam dis cípulos tão devotos de Cristo.
Um pedido de mãe. — Como a maioria das mães, Salomé queria ver seus filhos
honrados; e um dia pe diu ao Salvador que seus filhos pudessem sentar-se,

— 101 —
uniu à sua esquerda e outro à sua direita, em seu Rei no. Jesus disse: "Podeis vós beber do
cálix que eu hei de beber e ser balizados com o batismo com que eu sou balizado?"
files responderam: "Podemos".
Hebcreisi do meu cálix. — "Na verdade bebereis do meu cálix e sereis balizados com o
batismo com que eu sou batizado", respondeu o Senhor, "mas assentar-se à minha
direita ou à minha esquerda não me pertence concedê-lo".
Verdadeiros servos. — A anciedade da mãe por ter seus filhos assim honrados, fez os
outros dez ficarem um pouco enciumados mas Jesus viu seus sentimentos, e disse-lhes
que enquanto os homens que têm alta po sição no mundo exercem um domínio iníquo,
aqueles que recebem cargos em Sua Igreja são servos de todos.
"E qualquer que entre vós quizer ser o primeiro, seja vosso servo".
De Bethsaida. — Tiago era de Bethsaida, na Gali-léia, e era pescador.
Estava trabalhando em seu ofício quando o Senhor chamou ao ministério. Quando
veio a chamada, Tiago e seu irmão estavam sentados num barco, remendando suas
redes. Seu pai e os servos empregados também se encontravam no mesmo local.
Naturalmente, Tiago ti nha visto Jesus antes disto e sem dúvida havia ouvido as suas
palavras; pois quando André apressou-se para encontrar Simão Pedro, após ter
encontrado o Senhor. João havia corrido para encontrar seu irmão Tiago.
A chamada é aceita. — Assim, também Tiago, ha via encontrado o Messias e jiá havia
se convertido ao Evangelho. Portanto, quando Jesus parou naquela ma nhã na praia,
disse: "\ rinde após mim, eu vos farei pescadores de homens" eles imediatamente
deixaram seu pai com os servos e seguiram Jesus.

— 102 —

Um dos doze. — Quando os doze foram escolhidos, Tiago foi escolhido após Pedro, e
era um dos que cons tituíam o que podemos chamar a Presidência dos Do ze. Nesta
posição, ele tornou-se bastante próximo do Redentor, e foi uma testemunha de vista de
alguns dos acontecimentos mais sagrados do ministério do Seu Se nhor. Assim, com Pedro
e João, ele foi apresentado na sala quando a pequena filha de Jairo foi restaurada à
vida.
No Monte. — Ele foi também um dos três favore cidos no Monte da Transfiguração;
e foi um daqueles escolhidos para acompanhar o Mestre ao lugar deserto no Jardim de
Getsêmani quando Cristo sofreu aquelas amargas agonias preparatórias para sua
traição e sofri mentos na cruz.
O Filho do Trovão. — Tiago era chamado filho do Trovão; e há um incidente na
Ríblia que nos dá uma pequena visão da sua natureza, e que talvez tenha dado origem
àquele nome. Quando chegou o tempo em que Jesus havia decidido ir a Jerusalém para
ser oferecido como um sacrifício, ele "mandou mensageiros adiante da sua face; e indo
eles, entraram numa aldeia de sa-maritanos, para lhe prepararem pousada. (Lucas
9:52). Tiago foi um desses mensageiros.
Mas os Samaritanos, que nada queriam saber dos judeus, e que estavam
particularmente ofendidos nesta ocasião porque Jesus estava determinado a cultuar em
Jerusalém, recusaram-se a receber Jesus. Sua recusa tornou Tiago e João tão
indignados que viraram-se para seu Mestre e disseram: "Senhor, queres que diga mos
que desça fogo do céu e os consuma, como Elias também fez?"
Repreensão. — Mas o Senhor desagradou-se por eles estarem zangados e disse "Vós
sabeis de que es pírito sois. Porque o Filho do homem não veio para destruir as almas
dos homens, mas para salvá-las. Por

— 103 —

esta manifestação de fogo em suas nature/as, é que se acredita que Tiago e João fossem
chamados "Boaner-ges", ou "filhos do trovão".
Mas, se ele tinha natureza impetuosa e tempera mento nervoso, ele o controlava, e
através de sua fé e devoção conquistou o favor de seu Senhor.
Pouco é registrado sobre seus trabalhos — Acredita-se que ele tenha viajado bastante,
pregando o Evan gelho, a todas as tribus dispersas de Israel, Mas de seus trabalhos,
muito pouco foi registrado.
O Primeiro mártir — Cerca de quarenta e dois ou quarenta e quatro anos depois de
Cristo, Herodes Agri-pa, como já aprendemos, iniciou uma terrível perse guição contra
os Santos. Tiago se encontrava entre os primeiros a serem presos.
Oficial convertido — Foi ele sentenciado logo após sua prisão mas, tão grande era sua
fé e sua coragem durante o julgamento que o oficial que o guardava (que como dizem
alguns, era seu acusador) arrependeu-se de seus pecados, converteu-se e declarou sua fé
no Cris tianismo.
Ao ser Tiago conduzido ao lugar da execução, es te oficial lançou-se ao pés do
apóstolo, e humildemen te implorou perdão pelo que havia dito contra ele. Colocando
seus braços ao redor do homem penitente, Tiago respondeu "paz, meu filho, paz seja
contigo e perdão pêlos teus pecados".
Execução — Ambos foram então executados por ordem do cruel rei Herodes.
Assim, Tiago, o primeiro apóstolo mártir, partilhou da taça que muitos anos atrás ele
disse ao Seu Senhor que beberia.
— 104 —

TERCEIRA PARTE

JOÃO
LIÇÃO 19 COM O REDENTOR

"A modéstia é uma luz brilhante; prepara a mente para receber


conhecimento, e o coração para a verdade".

"Humildade é o sólido alicerce de todas as virtudes".

—x. x .x. x —

Modéstia — No primeiro capítulo do evangelho segundo São João, lemos que dois
discípulos de João Batista ouviram seu mestre testemunhar da divindade de Jesus.
Disse o Batista, referindo-se a Jesus cami nhando sozinho à distância "Eis o Cordeiro de
Deus que tira o pecado do mundo". Um dos dois discípulos que ouviram este
testemunho é mencionado. Em todo o livro, que, sem dúvida, foi escrito pelo próprio
São João, o nome de João, filho de Zebedeu, jamais foi es crito. No relato da iiltima Ceia,
lemos de um discípu lo "a quem Jesus amava" que se sentava perto do Se nhor para que
sua cabeça pudesse descançar no peito de Jesus.
Estes dois casos e ainda outros podem ser men cionados para indicar-nos uma das
importantes carac terísticas de São João, uma modéstia sincera, que lhe grangearam o
amor e respeito de todos quantos o co nheceram.

107
Destemor — Mas João era o filho de Salomé e Ze- bedeu, e irmão mais novo de
Tiago, pelo que era chamado "Boanerges", ou filho do Trovão. Isto nos dá uma
pequena visão de uma outra faceta de seu ca-ráter. Como seu irmão Tiago, ele era
evidentemente inflamado em seu zelo em tudo que se propuzesse a realizar, e destemer
ao fazer as coisas que ele achava certas.
Amor — Uma modéstia que sempre o afastou de glorificar-se ou adiantar-se
indevidamente; um deste- mor em defender o que era certo, e amor por seu Mes tre que
lhe deu o maior lugar no coração de Jesus —-estas eram as três características do
canáter de João, que sobressaem distintamente no relato fragmentário de sua vida.
Ele viveu e provavelmente nasceu em Bethsaida, a cidade de Pedro, André e Filipe.
Era pescador de pro fissão, e trabalhava com seu pai e seu irmão Tiago. Seu pai,
Zebedeu, era proprietário de seus próprios barcos e tinha servos; assim concluímos que
estivesse bem de finanças. (Marcos 1:20:).
Buscava a verdade — Buscava ele sempre o verda deiro aprendizado, e especialmente
aquelas coisas que lhe dissessem algo sobre Deus e a próxima vida. Man tinha sua mente
e coração puros, para que pudesse apreciar a verdade quando a ouvisse.
Assim, quando João Batista saiu do deserto pre gando arrependimento e declarando
que o Reino de Deus estava próximo, João foi um dos jovens destemi, dos que creram
em João Batista e o seguiram. Assim ele estava preparado para aceitar o testemunho de
João sobre Jesus, após ter sido este batisado, no Jor dão, e foi um dos dois que falara
com o Salvador do mundo do princípio de seu ministério.
Segue a Jesus — Na mesma ocasião em que Simão Pedro e seu irmão foram
chamados como discípulos de

— 108 —
Jesus, Tiago o filho de Zebedeu e João, seu irmão, es tavam com seu pai consertando as
redes e quando Je sus os chamou, eles imediatamente deixaram o barco e seu pai e
seguiram-no (Matheus 4:21-22. Lucas 5:1-11).
A primeira lição — Lucas nos relata que João es tava presente à primeira pesca
miraculosa de peixes e muito se admirou pelo que viu e ouviu na ocasião. Foi uma das
primeiras lições, se não a primeira que lhe ensinou a grande verdade de que a obediência
às pala vras de Cristo trazem obediência.
O mais jovem dos doze — Deste tempo, até o fim de sua acidentada vida, ele esteve
sempre no ministé rio. Quando Jesus escolheu seus discípulos, João foi escolhido como um
dos três principais, apesar de ser o mais jovem membro dos Doze.
Memoráveis experiências — Desde aquele tempo João permaneceu sempre bem perto
de Jesus, e teste munhou alguns dos mais notáveis e divinos incidentes registrados na
história do ministério de Cristo. Ele foi um dos três apóstolos que tiveram! a permissão
de per manecer na sala quando a pequena filha de Jairo foi restaurada à vida. (Lucas
8:51). Ele estava no Monte da Transfiguração quando o Salvador conversou com
Moisés e Elias e quando uma voz dos céus disse "Este é meu filho amado, ouvi-o"
(Lucas 9:28).
Com 'Pedro, Tiago e André, João estava presente no Monte das Oliveiras quando
Jesus lhes ensinou quanto à destruição do templo e da segunda vinda de Cristo. Como a
lerribrança de tais ocasiões deve ter en chido sua memória nos anos que se seguiram, de
alegria e doce contentamento.
Ele e Pedro foram encarregados de fazer os pre parativos para a Páscoa. (Lucas
22:8).
Próximo de Jesus — No momento solene em que o Senhor disse "um de vós me há
de trair", foi João, "o

— 109 --

discípulo a quem Jesus amava" que recebeu a resposta indicando quem era o traidor.
Em Getsêmani — Quando a tristeza de Getsêmani começou a pesar sobre o espírito de
Jesus, João foi um dos três a quem ele disse: "A minha alma está profun damente triste
ate a morte: ficai aqui, e vigiai". (Mar cos 14:33).
Em casa do Sumo Sacerdote — Mais tarde naquela mesma noite, quando o traidor deu o
beijo da traição e os soldados prenderam Jesus e o levaram como prisio neiro, todos os
outros discípulos fugiram, mas João acompanhou seu mestre à casa do sumo sacerdote e
mais tarde deixou entrar Pedro, que, como já foi dito, seguia à distância.
Um terrível sofrimento — Apesar de não nos ter sido contado, podemos imaginar quais
foram os senti mentos deste amado discípulo ao ouvir as falsas e per versas acusações
contra o Senhor, e como seu coração deve ter doído ao ver Jesus ser espancado e
maltrata do e uma coroa de espinhos ser posta sobre sua cabeça. Se ele tinha querido
invocar fogo dos céus para consu mir os samaritanos que haviam se recusado a abrigar
e acomodar ao Senhor, qual não deve ter sido o estado de sua alma inflamada quando viu
os judeus e seus juizes perseguindo Cristo até a morte!
O último Pedido — Como sua alma deve ter sido presa de agonia ao ver seu Salvador
pregado na cruz, e, não obslante, que paz deve ter vindo a ele quando recebeu dos lábios
agonizantes de seu Mestre uma das mais queridas tarefas jamais dada a um mortal.
Quan do as três Marias e João estavam o pé da cruz, Jesus olhou para eles e disse à sua
mãe: "Moilher, eis aí teu filho" e a João: "Eis aí tua mãe".
"E desde aquela hora o discípulo a recebeu em sua
casa

— 110 --

No sepulcro — Na manhã de domingo após a cru cificação, João estava com Pedro
quando Maria Mada lena veio correndo dizer-lhes: "Levaram o Senhor do sepulcro e
não sabemos onde o puzeram".
Assim que os apóstolos ouviram estas palavras, correram para o local onde Jesus
tinha sido sepultado. João, sendo mais jovem chegou primeiro que Pedro e foi o primeiro
a ver o túmulo vazio, "e, abaixando-se, viu no chão os lençóis; todavia, não entrou". Um
momento mais tarde, contudo, seguiu Pedro para dentro do túmulo, examinou
cuidadosamente as roupas de li nho e o lenço que estava envolto na cabeça; mas não
compreendendo ainda que Cristo deveria ressuscitar no terceiro dia, voltaram às suas
próprias casas.
Seu testemunho — João estava com os dez e mais tarde com os Onze quando Cristo
apareceu a eles no cenáculo. Desta e de outras experiências gloriosas, ele dá seu
testemunho em seu Evangelho. "Para que creiais que Jesus é o Cristo, o Filho de Deus e
para que, cren do, tenhais vida em Seu nome".

— 111 --
LIÇÃO 20

COM PEDRO E OS DOZE


"Ame um ser humano com pureza e ter nura e amarias a todos" "O amor dá-se a si
mesmo e não é comprado".

—x. x. x. x—
No mar da Galiléia — João foi um dos que, após a morte e ressurreição de Jesus,
quando Simão Pedro disse: "Vou pescar", responderam: "Também nós va mos contigo".
Labutaram toda a noite e nada apanha ram, mas quando a manhã veio, um homem que se
achava na praia lhes disse: "Lançai a rede para a ban da direita do barco". Isto eles
fizeram imediatamente e apanharam uma enorme quantidade de peixes. Quasi
imediatamente João reconheceu Jesus e disse a Pedro: "É o Senhor".
Apascenta as minhas ovelhas — Um pouco mais tarde, na praia, ele ouviu a admoestação
a Pedro, para apascentar ovelhas e cordeiros no rebanho de Cristo e sem dúvida João
partilhava do sentimento de respon sabilidade que então foi atirado sobre os Doze.
Foi nesta ocasião que Pedro perguntou a Jesus o que aconteceria a João a que Jesus
deu a significativa resposta: "Se eu quero que ele fique até que eu venha, que te importa a
ti?" "Segue-me tu".
Uma profecia — Divulgou-se pois entre os irmãos este dito, que aquele discípulo não
havia de morrer, Jesus, porém, não lhes disse que não morreria, mas: Se

— 112 —

eu quero que ele fique até que eu venha, que te impor ta a ti?
A este respeito, lemos em Doutrinas e Convénios (secção 7) que João havia dito ao
Senhor "Dá-me po der sobre a morte, para que eu possa viver e trazer almas a ti".
E o Senhor respondeu: "Na verdade, na verdade te digo que, visto como o desejaste
permanecerás até que Eu venha em Minha glória e profetizarás perante nações, tribos,
línguas e povos".
O Senhor então disse a Pedro que Ele faria João como "o fogo abrasador e um anjo
ministrador e ele ministrará àqueles que serão herdeiros da salvação e habitam a terra".
Verdadeira grandeza — Assim foi expresso o amor de João não somente por seu Senhor
e Mestre mas por todos os filhos de homens aos quais ele queria trazer Cristo e
participar das alegrias do evangelho eterno. Por este espírito, João provou ter sido um
dos maiores homens que já viveram, pois a verdadeira grandeza consiste em perder-se
por amor de outros.
Fiel ao encargo — Cerca de quinze anos após a ascenção do Salvador, acredita-se que
João continuou em Jerusalém e permaneceu um verdadeiro filho de Maria. Durante todo o
tempo, contudo, ele per maneceu ativo no ministério.
O aleijado — Ele estava com Pedro, a caminho do Templo, quando o aleijado do portão
do templo pediu esmolas.
Com Pedro ele exerceu sua fé na ocasião em que abençoou o pobre homem que nunca
tinha andado. (Atos 3:1-12).
Aprisionado —- João, sem dúvida, testificou à mul tidão que se reuniu no Alpendre de
Salomão no dia deste milagre; mas nenhum historiador nos diz o que ele disse. Deduzimos
pelo que Lucas nos diz, que João

— 1 13 —
falou na ocasião, mas somente o sermão de Pedro e somente parte dele foi guardado.
Enquanto eles estavam falando, o capitão do tem plo prendeu-os e aprisionou-os.
Perante o conselho — Quando foram trazidos pe rante o Conselho no dia seguinte e
lhes disseram que não mais falassem de Jesus, João mostrou-se tão ousa do como Pedro,
ao declarar: Julgai vós se é justo, dian te de Deus, ouvir-vos antes a vós do que a Deus;
por que não podemos deixar de falar do que temos visto e ouvido" (Atos 4:19-20).
Após terem sido soltos, continuaram a pregar ao povo e a louvar ao Senhor por
todas as suas maravi lhosas manifestações a eles. A grande festa espiritual que resultou
de seus trabalhos, deve ter enchido a al ma de João com uma paz divina, tal como ele
jamais havia experimentado, pois, de todos os apóstolos, ele era o mais espiritual.
Um verdadeiro servo — Durante este periodo, ele foi aprisionado várias vezes, mas
jamais hesitou em sua determinação de fazer com que todo o povo sou besse que Jesus
era o Redentor do Mundo.
Ele podia sofrer e ser feliz porque amava todos aqueles a quem servia. Assim, no
princípio de seu mi nistério, seu caráter brilhou em verdadeira grandeza, pois ele era
paciente, serviçal e forte para sofrer pé- los outros".
Em Samaria — Quando os samaritanos receberam o Evangelho através da pregação
de Filipe, João acom panhou Pedro a Samaria, e conferiu o Espírito Santo pela imposição
das mãos, sobre aqueles a quem Filipe batizara (Atos 8:5-14).
Vários Oficiais — Sem dúvida esta foi apenas uma das muitas visitas que ele fez
durante aqueles quinze anos em que permaneceu em Jerusalém. Os Doze, os setentas,
anciãos, sacerdotes, mestres e diá-

— 1 14 —
conos foram pregando em todas as cidades dos arredo res de Jerusalém e os três
apóstolos principais Pedro, Tiago e João seriam necessários e quando não necessá rios
seriam convidados a organizar ramos e conhecer os novos conversos e encorajá-los em
sua fé gloriosa.
O Pilar da igreja — Quando surgiu a grande ques tão sobre os gentios que se filiavam
à Igreja e sobre o que deveriam fazer, João foi um dos que se assenta ram no conselho
convocado em Jerusalém. Paulo, es crevendo sobre este conselho, menciona Tiago,
Cephas e João, que pareciam ser colunas. À luz da organização da Igreja hoje, sabemos
que Pedro, Tiago e João eram os homens que presidiam naquela ocasião, sendo Tia go o
que tomava as decisões que eram adotadas em todas as províncias.
Coração amoroso — Depois daquele tempo, sabe mos muito pouco sobre o ministério
de João. Parte do que é conhecido será ensinado na próxima lição. Sabe mos mais sobre a
espécie de homem que ele era do que de seus atos. Quando lemos suas cartas escritas à
igreja e seu Evangelho, podemos entender prontamen te porque Jesus o escolheu para
cuidar de Sua Mãe Ma ria. O coração de João estava cheio de amor, e ele que ria que
todos se amassem. Disse que ninguém que diz que "está na luz, e aborrece a seu irmão,
até agora es tá em trevas. Aquele que ama a seu irmão está na luz".
"Mas aquele que aborrece a seu irmão está em trevas, e anda em trevas, e não sabe
para onde deve ir; porque as trevas lhe cegaram os oihos".
"Filhinhos, escrevo-vos, porque pelo seu nome vos são perdoados os pecados". Naquela
carta ele diz "E agora, filhinhos, permanecei nele; para que, quando ele se manifestar,
tenhamos confiança, e não sejamos confundidos por ele na sua vinda".

— 1 15 —

LI C ÃO 21
ULTIMAS CENAS DO MINISTÉRIO
"O amor era para a sua alma não sòmen-le uma parte de sua existência,
mas o to do, o verdadeiro alento de seu coração.
—x. x. x. x—
Passam-se 18 anos — O importante conselho men cionado no último capítulo, foi
realizado cerca de 50 anos depois do nascimento de Cristo (50 D.C.). Duran te os
próximos 18 anos, João parece ter estado fora de vista. Nada se sabe sobre o que ele fez
ou onde esteve. Presume-se que tenha deixado Jerusalém e raramente, voltado, se é que
o fez. Se assim foi, podemos concluir que Maria, a mãe de Jesus também tenha saído de
Jerusalém deixando-a e a todos os seus queridos paren tes e amigos na terra, para um
feliz, e glorioso encon tro com o seu Filho, em seu lar celestial nas alturas. O amor e a
atenção que João dedicou a Maria podiam ser dedicados inteiramente à Igreja que
agora levava o nome de seu Filho.
Sem dúvida ele visitou todos ou quasi todos os lugares importantes onde os cristãos
habitavam; mas a maioria de seus últimos anos parecem ter sido pas sados na Ásia
Menor.
Em Éfeso — A tradição nos informa que ele fez seu lar em Éfeso, uma cidade
grande e populosa de lona, cerca de 40 milhas de Smirna. Era notória prin cipalmente
por sua iniquidade e por seu belo templo dedicado a Diana. Alguns dizem que Maria
mãe de Je sus e Maria Madalena, foram a Éfeso com João, e lá

— 116 —

morreram. A tradição agrada porque moslrn como h devoção de um filho à sua mãe,
como é moslnuln por João, se associou o amor de Maria Madalena, q m- p<» deria bem
ser expresso nas palavras de outra bela mu lher, que disse à mãe de seu marido: "Não me
ins tes para que te deixe e me torne de detrás de ti; porque aonde quer que tu fores irei
eu, e onde quer que pousares à noite, ali pousarei eu; o teu povo é o meu povo, o teu Deus
é o meu Deus; onde quer que morre res, morrerei eu e ali serei sepultada". (Ruth 1:16-
17).
De Éfeso João visitou todos os ramos da Igreja, trabalhando especialmente entre "As
Sete Igrejas da Ásia".
Quando João havia passado muitos anos em Éfeso, um cruel imperador Romano,
durante sua perseguição à Igreja, prendeu-o, mandou levá-lo a Roma, conde nou-o à
inorte e mergulhou-o em óleo fervente. Tendo sido a vida de João preservada pelo poder
de Deus, foi ele então banido para Patmos. Tudo o que João diz so bre isto é que ele esteve
"na ilha que é chamada Pat mos por causa da Palavra de Deus e pelo testemunho de
Jesus Cristo". É evidente daí que ele tenha sido per seguido por sua crença no Evangelho
e por seu indes trutível testemunho da vida, morte e ressurreição de Jesus Cristo. Ele foi
provavelmente a última testemu-- nha viva dos milagres e ensinamentos do Salvador. Tal -
vez este tenha sido o motivo pelo qual foi degredado. Mas os homens iníquos não podiam
banir o testemu nho que ele havia deixado. Este achava-se plantado nos corações de
milhares de crentes sinceros e como se mentes esparramadas em solo fértil, cresceriam e
produziriam ricas colheitas anos e anos depois.
O degredo não feriu o velho apóstolo, pois ele uno estava só nem mesmo naquela
rocha estéril e dcsnbi-tada. Numa manhã de domingo ou o "dia do Senhor" como ele o
chamava, ele "ouviu atrás dele "unin gnin

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Ho voz, <-omo de trombeta, que dizia: O que vês, escre vi 1 i» num livro e envia-o às sete
igrejas que estão na AHÍM : A fifeso, e a Smirna, e a Pérgamo, e a Tiatira, o n Sardo, e a
Filadélfia, e a Laodicéia". Ele virou-se r v i u o Filho do Homem vestido até os pés com um
vestido comprido e cingido com um cinto de ouro. Ao deparar com o Senhor vestido com tal
divino esplendor, caiu aos seus pés como morto. Mas o Salva dor, diz João, "pôs sobre mim a
sua dextra, dizendo-me: "Não temas; Eu sou o primeiro e o último; E o que vivo e fui morto,
mas eis aqui estou vivo para todo o sempre". Ele foi novamente mandado escrever tudo o que
havia presenciado e o que lhe seria mostrado em visão. Assim foi dado às sete Igrejas da Ásia,
e subse quentemente ao mundo, o que é conhecido como "Apo calipse", o último livro da
Bdblia, mas o primeiro es crito por seu autor.
Ao morrer Domiciano, o cruel imperador que o havia banido, o Apóstolo poude voltar a
Éfeso, onde con tinuou sua pregação, suas escrituras e seu testemunho.
Os escritos de João — Além do "Apocalipse", ele escreveu seu Evangelho e suas três
epistolas. A segun da epistola de João deve ser de especial interesse aos jovens. Dela nós
inferimos que ele escrevia cartas a dois lares Cristãos. As mães desses lares eram irmãs. Sua
carta é endereçada "à Sra. Eleita", como é algu mas vezes chamada e a seus filhos. João diz de
seu amor e do amor de outros para com eles — mãe e fi lhos — em virtude de seu caráter
cristão. Diz de sua grande alegria por caminharem as crianças na verda de, vivendo como
devem viver os que aprenderam os ensinamentos de Cristo.
Conta-se que quando ele ficou tão velho e fraco que não mais podia caminhar para a
Igreja, nem pre-tfnr ao seu povo, seus amigos o carregavam para o lo-cnl da reunião. Nestas
ocasiões, ele repetia freqüente-

— 118 —
mente: "Queridos filhinhos, amai-vos uns aos outroi". Um dia alguns lhe
perguntaram :"Mestre, porque tem* pré dizeis isto?. Ao que ele respondeu: "Isto é o <{Ut o
Senhor te ordena; e isto, se o praticares, é suficien te".
Diz-se que ele viveu mais de cem anos, mas de seus últimos dias nada está especificamente
registrado. Sabemos, contudo, que ele resistiu à mais amarga perse guição, viveu mais que seus
perseguidores, instruiu com sua vida e ensinamentos milhares no Caminho da vi da, e está
abençoando muitos milhares no mundo ho je em dia por amor sublime e infantil.
"Amado, não sigas o mal, mas o bem. Quem faz bem é de Deus: mas quem faz mal não
tem visto a Deus".

— 119 -
QUARTA PARTE

PAULO E SEUS COMPANHEmOS


LIÇÃO 22 SAULO DE TARSO
"Boa companhia e bons sermões são os verdadeiros tendões da vida".
—x. x. x. x—
Um Benjaminita — No tempo em que Pedro, An dré, Tiago e João eram meninos e
brincavam em Beth-saida, nas praias da Galiléia, havia um outro rapazola inteligente e
hábil, brincando e estudando numa cida de, cerca de trezentas milhas distante e a quem
aqueles apóstolos conheceriam depois de muitos anos, primei ramente como um perigoso
inimigo e depois como um amigo e irmão. O nome deste menino era Saulo, e vi via em
Tarso, a capital da Sicília. Era judeu e perten cia à tribo de Benjamim, o filho mais novo
de Jacó. O pai de Benjamim, como nos lembramos, manteve-o em casa quando os outros
filhos partiram pela primeira vez para o Egito, para comprar milho. A tribo de Ben -
jamim era tida como muito valorosa; e sobre isto, ve remos que Saulo era um verdadeiro
Benjaminita.
Outros membros da Família — A respeito dos pais de Saulo e de sua meninice, sabemos
muito pouco. Seu pai, certa vez, viveu na Palestina, e teria naturalmente, ensinado seu
filho a ser um bom judeu ortodoxo. De sua mãe nada sabemos, mas podemos estar
certos de que ela cuidava dele com grande cuidado, guiando-o em seus jogos e estudos
e o inspirava, mesmo em sua mocidade, para crescer sendo um homem úli l c gran-

— 123 —
de. Sem dúvida, uma boa mãe ele tinha, pois todos os grandes homens foram
abençoados com mães nobres. Não sabemos, entretanto, se tinha algum irmão; mas
sabemos que tinha pelo menos uma irmã, a quem ele sempre amou e para quem foi um
irmão verdadeiro e nobre toda a sua vida.
Um bom estudante — Saulo era um bom estudan-Ic, e frequentou escola
provtàvelmente desde os seis anos de idade, até se tornar um homem. Mas naqueles dias.
os meninos não tinham livros. Limitavam-se a ouvir o que lhes era dito pelo professor,
lembrá-lo, e tentar repeti-lo quando lhes pedissem que o fizessem. O principal estudo na
sala de aula, naquele tempo, era o das santas escrituras. Naturalmente, eles não tinham
a Bíblia como a temos agora, mas tinham o Velho Tes tamento e podiam aprender tudo
sobre Abrão, Isaque, e Jacó, os filhos de Israel. Rei Saul. o Rei Davi. o Rei Salomão e os
profetas. Assim, ele aprendeu desde cedo e aguardar a vinda do Messias que seria Rei
dos Ju deus.
Fariseus e Saduceus — Entre os judeus encontra vam-se diferentes seitas ou
religiões, sendo as princi pais a dos Fariseus e Saduceus. Nos dias de Saulo, a geita dos
fariseus era a mais popular de todas elas, e tinham eles os mais altos postos no governo
do Estado e na igreja. Acreditavam na lei oral dada por Deus a Moisés, bem como na lei
escrita. Acreditavam tam bém na ressurreição do corpo. Mas oravam longa c
frequentemente, não somente nas sinagogas e no tem plo, mas nas ruas, para que
pudessem ser ouvidos pê los homens. Também em outras coisas eram muito hi pócritas.
Os saduceus não aceitavam a ressurreição do cor po. Veremos, mais tarde, como
Saulo usou com vanta gem a diferença de crença destas duas seitas.

— 124 —

Fariseu — Saulo era fariseu e por sinal um bom fariseu. Era justo e sincero em sua
crença e educação, como qualquer homem poderia ser. Se Saulo tivesse sido um Fariseu
hipócrita, provavelmente jamais te ria encontrado a verdade, mas sendo sincero, isto é.
sempre fazendo o que julgava certo, foi conduzido ao evangelho.
Um cidadão romano — Há mais uma coisa a aprender a respeito deste menino, Saulo
de Tarso. Ele nasceu um cidadão romano. Tarso, uma cidade muito rica e populosa, era
um município romano, ou corpo ração livre. Isto significa que a liberdade de Roma (que
governava todos aqueles países naquela ocasião) havia sido dado aos homens livres de
Tarso. Esta li berdade havia sido concedida porque os homens de Tarso haviam
defendido dois imperadores de Roma durante uma rebelião contra eles.
Assim, Saulo, apesar de judeu, era um cidadão romano livre. Nesta condição dupla,
tinha dois nomes. Saulo e Paulo; o primeiro, seu nome judeu e o viltimo seu nome
romano ou latino.
Fazedor de lendas — Como já foi dito, Saulo era um estudante; mas era trabalhador,
não somente com suas mãos. Fazia tendas. Este oficio ele o aprendeu quando ainda era
menino. Era uma prática constante dos judeus conduzir seus filhos a um oficio honesto
para que, em caso de necessidade, pudessem ganhar suas vidas com o trabalho de suas
próprias mãos. Hou ve tempo em que Paulo, apesar de ser um apóstolo, trabalhou em
intervalos durante vinte e nove anos no oficio que seu pai lhe dera. Foi durante esse
tempo que ele escreveu: "Estas mãos me serviram".
Gamaliel — Quando havia completado o estudo que era ministrado nas escolas
judaicas de Tarso, e ha via aprendido seu oficio, quiz aumentar sua educação. Tinha ele
então, cerca de catorze anos de idade. Ha-

— 125 —

via as universidades dos gentios, perto de sua cidade, mas, como ele queria se tornar um
Habí, foi a Jerusa lém e se tornou aluno da famoso "Escola de Hillel". O presidente desta
famosa instituição de ensino era "um certo fariseu, chamado Gamaliel, doutor da lei,
vene rado por todo o povo" (Atos 5:34). Supõe-se que ele tenha sido filho de Simão que
estava no templo quan do o menino Jesus foi abençoado e que disse: "Agora. Senhor,
despedes em paz o teu servo, segundo a tua palavra, pois já os meus olhos viram a tua
salvação". Mas, apesar de Gamaliel ser o homem mais instruí do de seus dias, não sabia
que o Messias tinha vindo. Evidentemente, ele não acreditou no que seu pai havia dito
sobre o menino Jesus.
Instruído e influenciado por este grande mestre. Saulo continuou por vários anos
estudando em hebreu e grego, e decorando todos os mandamentos importan tes contidos
no Velho Testamento.
Estêvão — Paulo completou seu curso sob a ins trução da Gamaliel e provavelmente
retornou à Sicília. Durante esse tempo, Jesus havia sido crucificado e ha via começado
uma terrível perseguição contra alguns de Seus discípulos. O primeiro a sofrer a morte
duran te esta perseguição foi Estêvão, um dos sete diáconos escolhidos para cuidar das
provisões aos pobres. Estê vão era um servo muito fiel "cheio ,de fé e do Espírito Santo".
Ele declarou que Jesus era o Salvador do mun do e que todos os homens deviam crer em
Seu nome se quizessem ser salvos. Estêvão sabia que os fariseus es tavam errados no que
acreditavam ser a salvação, e ele, sem dúvida, lhes disse isto. De qualquer modo, dis cutiu
com eles na sinagoga.
Estêvão perante o Sinédrio — Tendo sido derrota dos em suas disputas, os judeus
enraivecidos arrasta ram Estêvão perante o Sinédrio e o acusaram de blas fémia. Mesmo
no tribunal ele manteve o seu testemu-

— 126 —

nho da divindade, morte e ressurreição do Snlvndor o que enraiveceu de tal modo os


judeus que eles "mu giam os dentes contra ele" e finalmente o arraslannn para fora
do tribunal e o apedrejaram até a morlc.
Entre estes cegos fariseus que disputavam com Estêvão, encontrava-se o jovevn e
instruído Saulo de Tarso. E quando eles "gritaram com grande voz, tapa ram os seus
ouvidos e arremeteram unânimes contra ele", presenciou a morte cruel deste
primeiro mártir cristão. Saulo era sincero em acreditar que Estêvão era um inimigo
da religião judaica. Provavelmente Estê vão reconheceu este fato então, pois, ao
morrer, orou: "Senhor, não lhes imputes este pecado". (Atos 7).

— 127 —
LIÇÃO 23 A CONVERSÃO DE SAULO
"Melhor é estar errado com sinceridade do que certo com falsidade".

Um grande perseguidor — Após a morte de Este vão, "houve uma grande perseguição
contra a igreja que estava em Jerusalém", e todos foram dispersos pe las terras da
Judéia e de Samaria, exceto os apóstolos" (Atos 8:1). Um dos perseguidores mais
valorosos e incansáveis dos Santos, durante aqueles dias terríveis, era o cego fariseu
Saulo de Tarso. Estava tão determi nado a por um fim no que ele pensava ser uma here -
sia que adquiriu o direito de oficial do Sinédrio para prender os seguidores de Jesus
onde quer que os en contrasse. Ia de casa em casa, afastando homens de suas mulheres e
crianças; Prendia mesmo mulheres e as atirava em prisões. Certamente os gritos e as
súpli cas das crianças devem ter cortado seu amargo cora ção mais que o martírio do fiel
Estêvão. Ao afastar ho mens e mulheres de seus lares, as faces pálidas das criancinhas
devem ter impressionado sua alma de ma neira a humilhá-lo e perseguí-lo todos os dias
de sua vida.
Sua sinceridade — Somente uma coisa poderia dar-lhe conforto em sua vida mais
tarde, ao se recor dar destas terríveis experiências. Era isto, expresso em suas próprias
palavras: "Bem tinha eu imaginado que

— 128 —
contra o nome de Jesus nazareno devia m pratiClf! muitos atos". Saulo era sincero no
que fu/ia. Não acre ditava que Jesus Cristo fosse o filho de Deus, c acredi tava que seria
agradável ao seu Pai Celeslial fazer Io dos os crentes em Cristo negarem o Seu nome.
Assolava as Igrejas — Assim, Saulo assolava as igrejas e quando havia aprisionado
ou expulso de Je rusalém todo homem que podia encontrar e que con fessava Cristo, com
sua alma "respirando ainda amea ças e mortes contra os discípulos do Senhor, dirigiu-se
ao Sumo Sacerdote, e pediu-lhe cartas para Damasco para as sinagogas, afim de que, se
encontrasse alguns daquela seita, quer homens quer mulheres, os condu zisse presos a
Jerusalém". (Atos 9:1-2).
Dúvida — Damasco, fica a cerca de cento e cin-coenta milhas ao norte de Jerusalém,
e, assim sendo, levaria cerca de uma semana para Paulo e seus acom panhantes vencerem
a distância. Talvez durante alguns daqueles dias de relativa inatividade, ele tivesse come -
çado a pensar se de fato o que estava fazendo era cer. to. Talvez a face resplendente de
Estêvão agonizante e a última oração do mártir tivessem começado a calar mais
profundamente em sua alma do que antes. Os gritos das criancinhas chorando pêlos seus
pais a quem Sau lo havia perseguido, começavam a penetrar mais agu damente em sua
alma e fizeram-no sentir-se miserá vel e infeliz ao olhar para as outras experiências que o
aguardavam em Damasco. Faria o trabalho do Senhor com que ele se sentisse tão
amargurado e nervoso, se es tivesse empenhado nele?, Deve ter pensado Saulo. Lo go
aprendei-ia que somente o trabalho do mal produz aqueles sentimentos, e que o
verdadeiro serviço do Se nhor sempre trás paz e contentamento.
Luz — Mas, fossem quais fossem os seus pensa mentos e sentimentos, a verdade é que
ele se apressa va, com a determinação de prender todos os seguido-

— 129 —
rés de Jesus, que pudesse encontrar. Ao se aproximar da cidade, contudo, "subitamente
o cercou um resplen dor de luz do céu" Saulo caiu ao chão, e os homens que estavam ao
seu redor ficaram mudos em silêncio. A revelação — Desde aquele momento, Saulo era
um homem mudado. Quando caiu ao chão, era um fa riseu orgulhoso e altivo, um
perseguidor de inocentes: quando se levantou, era um humilde procurador da verdade,
um arrependido seguidor daquele a quem ha via perseguido. Do meio da luz veio uma
voz que di zia: "Saulo, Saulo, porque me persegues?"
— "Quem és, Senhor?" perguntou Saulo.
— "Eu sou Jesus, a quem tu persegues", e então acrescentou: "duro é para ti
recalcitrar contra os agui- Ihões".
Quando Saulo o compreendeu e viu que estava igin- do errado, perguntou — "Senhor,
que queres que faça?"
— "Levanta-te e entra na cidade e lá será dito o que te convém fazer", e não o que
Saulo gostaria de fa zer, nem o que poderia fazer, mas o que conviria fa zer para ser
aceito pelo Senhor. Saulo havia sido aben çoado com olhos, mas tinha estado cego
espiritual mente. Agora ele estava cego fisicamente mas chega va luz ao seu espírito. Ao
levantar-se nada podia ver e seus acompanhantes o conduziram à cidade, onde se
hospedou em casa de Judas, numa rua chamada Di reita.
Ananias — Enquanto isto o Senhor, em visão, dis se a um de seus servos, chamado
Ananias: "Levanta-te e vai à rua chamada Direita, e pergunte em casa de Judas por
um homem de Tarso, chamado Saulo; pois eis que ele está orando".
Mas Ananias respondeu: "Senhor, de muitos ouvi acerca deste homem, quantos
males tem feito aos teus santos em Jerusalém; e aqui tem autorização dos prin cipais
dos sacerdotes para prender a todos os que invo-

— 130 —
cam o teu nome". Ananias era dos que, provavelmente, Saulo prenderia primeiro.
O Senhor disse a Ananias que fosse como huvhi sido instruído pois Ele havia
escolhido Saulo para "le var o Seu nome diante dos gentios e dos reis e dos fi lhos
dTsrael".
Saulo é ministrado — Ananias procedeu de acor do com as instruções recebidas, e
quando entrou na ca sa de Judas encontrou Saulo penitente, como cego. To da a
impiedade do orgulhoso fariseu havia desapare cido e ele orava pela luz — luz, em seus
olhos e luz em sua alma. Suas orações foram respondidas, pois o hu milde servo de
Deus pôs suas mãos sobre ele e disse: "Irmão Saulo, o Senhor Jesus, que te apareceu
no ca minho por onde vinhas, me enviou para que tornes a ver e sejas cheio do
Espírito Santo".
Sua visão é restabelecida — E Saulo recebeu sua visão imediatamente e levantou-se e
foi batizado. Isto era algo que precisava fazer se quizesse ser contado como
membro da Igreja de Cristo. Assim, na conver são deste grande homem, encontramos
ilustrada a apli cação dos vários princípios do Evangelho, isto é: Fé em Jesus Cristo;
Arrependimento dos maus atos; Ba- tismo e reconhecimento da autoridade de Cristo
na terra.

— 131 —
LIÇÃO 2A EM OUTRA ESCOLA
"Todo o cabedal de conhecimento cai co mo um medifício ante uma única
palavra — Pé".
—x. x. x. x—

Durante muitos dias, que seguiram a sua maravi lhosa conversão e a restauração de
sua vista, Saulo permaneceu "com os discípulos que estavam em Da masco". Havia agora
encontrado uma outra escola, e como era esta diferente da escola em que antes se as -
sentara aos pés do sábio Gamaliel. Lá ele ouviu as ins truções dos homens mais sábios de
seus dias; agora ele ouvia a homens que eram julgados ignorantes. Lá recebeu treino de
intelecto; agora ele recebia treino da alma. Lá ele estudou cegamente; agora ele estudava,
vendo verdadeiramente. Seu instrutor era um dos ho mens fiéis a quem ele desprezava e a
quem viera pren der. "Nem Pedro, Tiago ou João, ou qualquer dos gran des e eminentes
apóstolos precisaram ser ouvidos pa ra instruir o sábio e talentoso Saulo, mas Ananias, um
cristão pobre e de coração simples de quem a Palavra divina não fizera menção
anteriormente, foi capaz, nas mãos de Deus, de ensinar o mais bem aquinhoado de todos
os antigos conversos".
Verdadeiro zelo — A aprender horas seguidas, na queles dias memoráveis, sua alma
incendiou-se com verdadeiro zelo. "E logo nas sinagogas pregava a Je sus, que este era o
Filho de Deus".

— 132 —

O Espanto dos Judeus — Não nos c dito se qual quer dos homens que o
acompanharam a Damasco se converteu. Talvez vim ou dois o tenham feito; mas, sem
dúvida, alguns deles pensaram que Saulo havia se tor nado um traidor. Assim também
pensaram os Judeus em Damasco, que se espantaram e murmuraram entre si: "Não é
este o que em Jerusalém perseguia os que invocavam este nome, e para isso veio aqui,
para nos levar presos aos principais dos sacerdotes?" Mas, quan to mais eles se opunham
a ele, com maior eloquência defendia o nome de Jesus e provava a eles que Jesus era o
Cristo.
A Escola da Solidão — Após alguns dias de fla mantes disputas nas sinagogas, Saulo
decidiu deixar Damasco e fazer um retiro. Assim, despediu-se de seus novos amigos,
partiu para a Arábia, nas montanhas perto do Mar Vermelho. Aqui ele recebeu
instruções na Escola da Solidão.
Da mesma forma que Moisés, Elias, João Batista e mesmo o próprio Salvador, Saulo
agora procurava estar a sós com Deus e aprender a comungar com o Es pírito Santo.
Quanto tempo ficou lá não o sabemos. Tudo o que ele diz sobre a sua viagem é que
"parti para a Arábia, e voltei outra vez a Damasco".

FUGA DE DAMASCO
Assim que ele volou à cidade em que havia sido convertido, começou a pregar
novamente nas sinago gas. Novamente os Judeus começaram a disputar com ele, e
novamente ele os confundiu. Dia após dia, e se mana após semana a controvérsia
religiosa prosseguiu até que os judeus não puderam mais aguentar e "to maram
conselho entre si para o matar".

— 133 —

Todos os portões guardados — Ao redor da cidade de Damasco havia um grande muro,


e ninguém pode ria entrar ou sair a não ser através dos portões. Por tanto, quando os
Judeus decid^r)am<mtitar Saulo, a primeira coisa que fizeram foi tentar barrar sua
saída. Colocaram guardas em todos os portões tanto de dia como de noite para poderem
tirar-lhe a vida".
Mas Saulo tanto tinha amigos como inimigos, e tinha um Amigo que o havia
escolhido para uma gran de e útil missão, e enquanto Saulo tivesse fé, sua vida seria
poupada até que seu trabalho especial fosse exe cutado. Por inspiração ou de qualquer
outra maneira. Saulo sabia que seus inimigos estavam esperando por ele, e assim
manteve-se fora de seu caminho.
Sobre o muro — Felizmente, um de seus amigos vivia numa casa construída perto
dos muros da cidade e dali alguns dos discípulos auxiliaram Saulo a fugir. Puzeram-no
num cesto e então vigiando cuidadosamen te para ver se havia algum inimigo à vista,
eles carre garam Saulo para o alto do muro, e baixaram-no do outro lado. Assim
aconteceu que enquanto os guardas vigiavam dia e noite, para apanhar Saulo, aquele
discípulo do Mestre estava a caminho de Jerusalém.

COM OS DISCÍPULOS EM JERUSALÉM

Três anos antes, ele havia deixado Jerusalém co mo um oficial do Sinédrio, portador
de comissão espe cial e acompanhado de servos e oficiais. Partiu com inimizade em seu
coração por toda pessoa que profes sava acreditar em Jesus Cristo. Agora ele viajava de
volta, sozinho, rejeitado por aqueles a quem ele ha via servido, um fugitivo dos judeus
que, alguns anos antes, esperavam aclamá-lo como herói» Mas Saulo sente-se mais feliz
agora, sozinho como está, do que quando foi com pompa prender os servos de Deus. E

— 134 —
não obstante até nem pode esperar qualquer espécie de boa acolhida em Jerusalém,
Seus antigos antigos e professores pensavam que ele havia se tornado um traidor de sua
causa e os Apóstolos de Jesus duvida vam de sua conversão". ... todos o temiam, não
cren do que fosse discípulo".
Barnabé — Mas havia um velho e verdadeiro ami go, colega de escola, e concidadão,
que estendeu a Sau lo uma mão amiga. Era Barnabé que "tomando-o con sigo o trouxe
aos apóstolos" contando como Saulo ti nha sido convertido por uma luz e a voz do
Senhor e como 31e havja pregado em Damasco em nome de Jesus.
Com este testemunho os Apóstolos aceitaram Sau lo, e deram-lhe sua companhia.
Logo estava ele pre gando em Jerusalém com tanta ousadia como tinha feito em
Damasco. Em suas disputas com os gregos, ele evidentemente os confundiu como havia
feito com os de Damasco e com o mesmo efeito: "tomaram con selho entre si para o
matar".
Retorno a Tarso — Quando os irmãos ouviram isto "o acompanharam à Cesaráia e o
enviaram a Tar so" de volta ao seu antigo lar aos seus pais e à sua irmã. Mas que homem
diferente era ele do que quando >havia partido para praticar em Jerusalém! Em nome,
ainda "Saulo de Tarso", mas em natureza era "Paulo e dis cípulo de Jesus Cristo".
Chamado a auxiliar Barnabé — Durante a perse guição na qual Estêvão foi
martirizado, os Santos se esparramaram para diferentes lugares c, onde quer que fossem,
pregavam as alegres novas de grande ale gria. "E a mão do Senhor era com eles; e grande
número creu e se converteu ao Senhor'.
Cristãos — Muitos desses conversos reuniram-se em Antióquia e foi lá, como já
sabemos, qu<' os Smilos foram pela primeira vez chamiidos Cristãos. Foi pri-

— 135 —
meiramente aplicado este apelido a eles como a pala^/ vra Mórmon é aplicada à Igreja
nestes dias, mas pojsí-teriormente foi aceito como título honroso.
Barnabé procura Saulo — Barnabé, que "era um bom homem, e cheio do Espírito
Santo e de fé" foi in dicado para cuidar dos Santos naquela cidade. Encon trando uma
grande oportunidade missionária naque le campo, e desejando ter alguém capaz para
ajudá-lo a levar adiante o grande trabalho que lhe foi destina do, Barnabé decidiu ir a
Tarso, sua antiga cidade, para encontrar Saulo. Que felicidade esses antigos colegas de
infância devem ter sentido quando novamente se encontraram nas cenas familiares de
seus dias de in fância. Não sabemos o que fizeram, nem o que disse ram, e nem o que seus
antigos amigos e parentes pen savam de sua nova religião. O que sabemos, contudo, é
que Paulo aceitou o chamado para ir com Barnabé a Antióquia. Lá "eles se reuniram
naquela igreja e ensi naram muita gente". Esta parece ter sido a primeira ta refa de
Saulo na Igreja.

136
LIÇÃO 25 MENSAGEIROS ESPECIAIS A JERUSALÉM
"Deus ordenou aos homens, necessitando estes uns dos outros, a se amarem
mutua mente, e a carregaem as cargas do pró ximo".
"Lamentar os infortúnios, é somente hu mano; aliviá-los é divino".
—x.x.x.x—
Ágabo — Enquanto Saulo e Barnabé estavam na Antióquia, vieram profetas de
Jerusalém, um dos quais era chamado Ágabo. Acredita-se que ele tenha sido um dos
setenta escolhidos pelo Salvador; mas exatamen-te que grau do sacerdócio ou que
posição na Igreja ele ocupava, não sabemos ao certo. Mas ele deve ter sido um homem
direito, e cheio do Espírito Santo, pois podia prever através de inspiração do Espirito,
coisas que outras pessoas, por sua própria inteligência, não podiam ver. No tempo do
qual falamos, ele profetizou que "haveria uma grande fome em todo o mundo".
Ofertas aos pobres -— Os discípulos tinham fé em Ágabo e acreditavam ser
verdadeiro o que ele dizia. Conheciam alguns santos na Judéia, que não poderiam
suportar a fome; muitos deles haviam dado tudo o que possuíam à Igreja; assim "os
discípulos determinaram mandar, cada um conforme o que pudesse, socorro aos irmãos
que habitavam na "Judéia". Saulo e Harnabó foram escolhidos como mensageiros de
socorro.

— 137 —

Fome — Foi bom que assim tivessem procedido, pois a fome veio com Ágabo havia
previsto. Lucas nos diz que aconteceu nos dias de Cláudio César (44 D.C.) e os
historiadores profanos nos dizem que foi tão seve ra que até mesmo o imperador foi
insultado no merca do por aqueles que passavam fome.
Perseguição sob Herodes — Mais ou menos no tem po em que os dois élderes foram
enviados da Antióquia para Jerusalém, houve uma amarga perseguição con tra os
Santos; e "o rei Herodes estendeu suas mãos so bre alguns da Igreja para os maltratar;
e matou à es pada Tiago, irmão de João". Aqueles foram os dias nos quais Pedro foi
aprisionado e acorrentado aos seus guardas, mas através da intervenção milagrosa de
Deus foi solto por um anjo. Saulo e Barnabé talvez estives sem presentes na casa de
Maria, a mãe de João Mar cos, unindo-se às orações para a preservação da vida de
Pedro, quando, como já aprendemos na lição sobre Pedro, Rode anunciou a presença
de Pedro à porta.
Volta a Cesaréia — Após testemunhar esta mara-vilh°sa manifestação de poder de
Deus a favor de seus servos, Saulo e Barnabé provavelmente tenham teste munhado
como Deus pune os iníquos. Se assim foi. aconteceu da seguinte maneira: Seu dever
como men sageiro dos Santos da Antióquia havia sido fielmente executado e o socorro
enviado aos membros da Igreja na Judéia, devidamente entregue a/queles a quem o
deveriam fazer. Haviam gasto muitos dias revendo ve lhos amigos e gozando da
companhia, mesmo em per seguição, dos líderes e membros da Igreja de Cristo.
Estavam agora prontos para retornar e relatar os seus trabalhos prestados à Igreja na
Antióquia. Sua viagem de volta os levou a Cesaréia. Talvez eles tenham visi tado
Cornélio, cujo lar, como você se lembra, lá fica va. De qualquer modo, alguns dos que
estudaram cui dadosamente a vida e as viagens de Saulo nos dizem

— 138 —

que ao voltar para Jerusalém, desta vez, ele testemu nhou a morte do perverso Rei
Herodes. Weed descreve a cena da seguinte maneira:
Morte, de Herodes — "O Imperador Cláudio havia conseguido grandes vitórias na
Grã-Bretanha. Ao vol tar a Roma, houve grande alegria. Herodes pensou que obteria
grandes favores do imperador, oferecendo um grande festival em sua honra em
Cesaréia, para onde se apressou partindo de Jerusalém. Na manhã do se gundo dia, o
teatro estava lotado com uma massa enor me de seres humanos para presenciarem a
exibição desumana de gladiadores que lutavam para diverti mento público. Herodes
apresentou-se vestido em ma ravilhoso manto, brilhando de prata. Ao cair sobre ele os
raios do sol da manhã, os olhos dos espectado res foram feridos pelo brilhante manto.
Lisongeado por seus tolos gritos de admiração, ele disse uma oração ao povo que gritava
dizendo: "É a voz de um Deus e não de um homem". Ele gostava de assim ser chamado,
ape sar de ser isto blasfémia, dando a um homem o que pertence a Deus somente.
Imediatamente o anjo do Senhor feriu-o porque não deu a glória a Deus". Esta
experiência não foi diferente da que Pedro teve na pri são, quando o anjo do Senhor
desceu sobre ele e o to cou na ilharga, afastando-o da morte.
O golpe do anjo sobre Herodes feriu-o com uma terrível doença, tal como a que
havia causado a morte de seu avô. Ele foi levado do teatro ao seu palácioi on de
permaneceu cinco dias em agonia até que a morte encerrou sua vida no quinquagésimo
quarto ano de sua vida. Era o quarto ano do seu reinado sobre a região onde havia
reinado seu avô, cujo mau exemplo ele se guiu para um fim igualmente inglório.
Quando no teatro a cena foi repentinamente mu dada, das diversões gladiatórias e
iníquas, para o julgamento

— 139-

do rei, a multidão fugiu horrorizada, abando, liando MS roupas de acordo com


o costume.
João Marcos — Todas estas coisas e muitas mais, Paulo c H;irnnt>é relatariam
aos santos ao voltarem a Anlióqiiia. Lucas nos diz que após terem cumprido seu
niinislrrio, eles voltaram de Jerusalém e levaram com (Mrs João cujo sobrenome era
Marcos".
Interessantes reuniões foram realizadas na Antió- i|iiia, nas quais o relatório da
missão de Saulo e Bar- nabé foi dado. Presentes a estas reuniões e residentes na
Antióquia nesta ocasião, haviam "alguns profetas, doutores a saber: Barnabé e Simeão,
chamado Níger, e Uúcio Cireneu e Manahen, que fora criado com He-rodes, o tetrarca,
e Saulo. E servindo eles ao Senhor e jejuando, disse o Espirito Santo: "Apartai-me a
Bar nabé e a Saulo para a obra a que os tenho chamado". Eles haviam se desempenhado
de um dever com fideli dade e estavam agora melhor preparados para um maior, para o
qual o Senhor os havia escolhido. Tra tava-se de uma missão especial aos gentios.
Algum tempo mais tarde, após terem orado e je juado, alguns dos profetas e mestres
impuseram suas mãos sobre os missionários escolhidos, abençoaram-nos e mandaram
que se preparassem para sua viagem.

— 140-
LIÇÃO 26 PRIMEIRA VIAGEM MISSIONÁRIA

"Permita que sua religião seja vista. As lâmpadas não falam, brilham. Um
farol não toca nenhum tambor, não soa nenhum gongo; não obstante, longe,
longe no ocea no sua luz amiga é vista pelo navegante".

—x. x. x. x—

Logo após as reuniões especiais mencionadas no último capitulo, S. Paulo, Barnabé


e João Marcos ini ciaram sua missão que é conhecida como a primeira viagem
missionária de Paulo.
Em Chipre. — Partindo da famosa cidade de Atió-quia, na Siria, eles navegaram rio
abaixo para a Se-lêucia, um porto do Mar Mediterrâneo. Ali embarca ram no mar
aberto, e navegaram para o sul, para a ilha de Chipre.
Desembarcando em Salamina, um porto de Chipre, os missionários iniciaram seus
trabalhos imediatamen te, pregando a palavra de Deus na sinagoga dos Judeus. Ali
Barnabé estava em casa, e sem dúvida experimen tou grande alegria em pregar o
Evangelho aos seus antigos amigos e companheiros de brinquedos. Mas de ve ter ficado
profundamente aborrecido por ver o gran de número deles que rejeitou sua mensagem
e conti nuou em pecado e idolatria.

— 141-
Os gentios nesta ilha adoravam a deusa Vénus, a quem haviam construído um Templo
e ofereciam sa crifícios .
Sua religião, em vez de torná-los mais puros em seus pensamentos e mais virtuosos em
suas ações, os fazia pecadores. Assim Saulo e seus companheiros acharam o povo de f al o
muito iníquo. Onde quer que fossem, êsles Ires missionários pregavam o único evan gelho
verdadeiro, e chamavam os homens em todos os lugares ao arrependimento.
Viajaram por Ioda Chipre, uma distância de cerca de cem milhas, falando ao povo
sobre Cristo o Re dentor do Mundo.

KM >PAFO S

O Governador ouve o evangelho. — Na parte su doeste de Chipre encontrava-se a


principal cidade da ilha. chamada Pafos. lira ali que o governador roma no ou, como
diy. laicas, o procônsul vivia. Como era seu costume, logo após sua chegada os
missionários entraram na cidade c proclamaram sua mensagem ao povo. Quando o
governador Sérgio Paulo ouviu falar deles, "chamando a si llarnabó e Saulo, procurava
muito ouvir a palavra de Deus". Lucas diz que ele era um "varão prudente" e, assim
sendo, concluímos que tenha sido sincero em seu desejo de conhecer a verdade.

ELIMAS, O ENCANTADOR

Um encantador rejeita o evangelho. — Vivendo em casa do preconsul, na ocasião, havia


um homem que não era sincero e que dizia ser um encantador. Ele rejeitou a mensagem
de Saulo e opoz-se aos seus ensi namentos. Barjesus era o seu verdadeiro nome e era

— 142 —

judeu e falso profeta. Saulo leu seu coração per verso e sabia que era por egoísmo e amor
ao dinheiro que ele rejeitava o Evangelho.
Então Saulo, também chamado Paulo, "cheio do Espírito Santo e fixando os olhos
nele, disse: Ó filho do diabo, cheio de todo engano e de toda malícia, ini migo de toda a
justiça, não cessarás de perturbar os retos caminhos do Senhor?"
"Eis aí, pois, agora contra ti a mão do Senhor, e ficarás cego, sem ver o sol por
algum tempo".
O Governador Crê. — Sérgio Paulo, contudo, "creu, maravilhado, na doutrina do
Senhor". Muitos outros também acreditaram e na perversa cidade de Pafos onde os
habitantes adoravam a deusa do amor, uma igreja foi organizada, e um pequeno corpo
de cris tãos se reuniu para adorar o verdadeiro Deus e Seu Filho, Jesus Cristo.

EM PAMFÍLIA

De Pafos, Paulo e seus companheiros navegaram em direção ao norte, para Perge na


Panfília. Neste lugar algo aconteceu sobre o qual devemos aprender mais. Tudo o que
Lucas relata é o seguinte: "Mas João, apartando-se deles, voltou para Jerusalém".
Sabemos que mais tarde, esta circunstância tornou-se uma questão de grande
disputa entre Barnabé e Paulo, mas o motivo exato, porque João quiz voltar, não nos foi
dito. Talvez, não tivesse sido sua intenção viajar para tão longe; ou talvez assuntos em
sua casa necessitassem de sua atenção; ou talvez tenha sido muito sensível e julgado que
"dois é bom, três é de mais". Mas, seja qual for a causa, Paulo e Barnabé tinham que
continuar sua viagem sem o jovem Marcos. Mais tarde ele reiniciou seus trabalhos
missionários, via jando com Barnabé. Não há nenhum registro de que

_ 143—

ele tenha reiniciado suas viagens com Paulo; apesar do último ter escrito sobre ele mais
tarde, como um con forto, e um companheiro no reino de Deus.

NA PISÍDIA

Através de Montanhas. — De Perge, na Panfília, Paulo e Barnabé continuaram para


o norte, para a Antióquia, na Pisídia. Dia após dia, estes dois missio nários viajaram a pé
através duma região montanhosa, onde poucas pesoas moravam. Algumas vezes, talvez,
eles tenham podido encontrar alojamento com algum pastor, mas, mais
frequentemente, dormiam em caver nas ou entre as árvores. Mas tinham uma
mensagem de salvação em seus corações e por isso sentiam-se fe lizes. Após cerca de sete
dias de viagem cansativa e perigosa chegaram a Antióquia, na Pisidia.
Na sinagoga. — Ao chegar o dia de sábado, como era seu costume ,os missionários
foram à sinagoga, e sentaram-se com a congregação. Após os líderes terem lido a lei e os
profetas, perguntaram aos visitantes se eles tinham "alguma palavra de consolação
para o po vo". Ao ouvir isto, Paulo levantou-se e pronunciou um sermão muito
expressivo, tão expressivo que o povo convidou Paulo para falar novamente no próximo
sábado. "Muitos que estavam presentes aceitaram o Evan gelho". (Atos 13:14-21).
"E no sábado seguinte ajuntou-se quase toda a ci dade a ouvir a palavra de Deus.
"E então os judeus, vendo a multidão, encheram- se de inveja: e blasfemando,
contradiziam o que Paulo dizia": "Sua oposição e contradição fez com que os
missionários se tornassem mais empolgados e positi vos, quando era aparente que os
Judeus não aceitariam a verdade, Paulo e Barnabé, usando de ousadia disse ram: "Era
mister que a vós se pregasse primeiro a

_ 144—

palavra de Deus; mas visto que as rejeitaes, e vos não julgaes dignos da vida eterna, eis
que nos voltamos para os gentios". Quando os gentios ouviram isto, alegraram-se e muitos
deles aceitaram os princípios do Evangelho.
Judeus ciumentos. — Os judeus ficaram enciuma dos; encheram-se de inveja e
decidiram expulsar os missionários para "fora de seus termos". Isto eles fi zeram com o
auxílio de "mulheres religiosas e hones tas, e os principaes da cidade". A perseguição se
tornou tão grande que Paulo e Barnabé "sacudindo con tra eles o pó dos seus pés,
partiram para Icônio.
EM ICÔNIO
Novamente na sinagoga. — Cheios da alegria que vem do verdadeiro serviço ao
próximo, Paulo e Bar nabé, começaram sua pregação em Icônio. Entrando na sinagoga,
como haviam feito na cidade da qual aça bavam de ser expulsos, "falando ousadamente
acerca do Senhor, o qual dava testemunho da palavra da sua graça, permitindo que por
suas mãos se fizessem si nais e prodígios".
Novamente contraditos. — Judeus e gregos se ajun. taram ao redor do estandarte que
era levado por estes grandes missionários; mas também judeus e gregos se organizaram
para se opor a eles. O resultado foi que a cidade de dividiu, "uns eram pêlos judeus e
outros pêlos apóstolos".
Ouvindo que se havia organizado uma trama para causar-lhes danos e apedrejá-los,
Paulo e Barnabó re tiraram-se da cidade e foram a "Listra e Derbe, ruln- des da
Lycaonia, e para a província circunvi/inlin".
_ 145—
LIÇÃO 27

Á PRIMEIRA VIAGEM MISSIONÁRIA — (continuação) EM LISTRA E DERBE

"Os ataques externos e as atribulações mais firmam do que abalam o Cristão,


da mes ma forma como as tempestades só servem para melhor firmar o
carvalho ao solo".

"Se Deus puzer Seus filhos na fornalha, Ele estará na fornalha com eles, com
toda certeza".

—x. x. x. x—

Entre os pagãos. — Em Listra, Paulo e Barnabé en contraram um povo que era quase
inteiramente pagão, pois adoravam Júpiter, Mercúrio e outros deuses fal sos, e sabiam
pouco ou nada sobre o verdadeiro Deus. Havia judeus entre eles mas não em número
suficiente para construir uma sinagoga.
O país era selvagem e inculto e os seus habitantes eram bem parecidos com o país.
Eram "pobres, de pequeno conhecimento e rudes no vestuário e nas ma-lieiras". Um
povo assim é comumente acanhado entre extranhos e vagaroso para aceitar qualquer
coisa no va. Mas assim que começa a ganhar confiança no extranho, pode ser facilmente
levado por ele, não ten do opiniões próprias muito definidas.

— 146 —
A doutrina pregada por Paulo e Barnabó, era no va para eles, e após um certo tempo
começou a dfci* perlar sua curiosidade, e então o seu interesse.
Povo escolhido entre eles. — Alguns dos mais inteligentes compreenderam a verdade e
a aceitaram. Para que não se pense que entre os pagãos não existia povo superior,
mencionarei que entre estes pagãos ha via pelo menos uma família cuja participação na
Igre ja a Bíblia menciona, e em Derbe havia outras.
Timóteo. — Nestas cidades, fora da perseguição e aflição que desciam sobre eles,
movidas pêlos igno rantes e maus, Paulo e Barnabé trouxeram à fé alguns dos melhores
membros da antiga Igreja. Entre estes encontrava-se Timóteo, a quem Paulo mais
tarde cha mou seu filho; Eunice, a Mãe de Timóteo e Loide, avó de Timóteo, cuja fé
Paulo comentou anos mais tarde-Sem dúvida, somente a amizade deste nobre povo pa -
gava Paulo em sobejo por toda perseguição que ele sofreu durante sua primeira
missão.
Mas, para o povo em geral, a mensagem era extra- nha e incompreensível, Eles não
podiam separar a dou trina de Cristo de suas divindades pagãs, como nos mostra uma
admirável experiência.
Um Milagre. — Paulo e Barnabé e alguns conver sos estavam reunidos um dia ao ar
livre. Na audiên cia sentava-se um homem "leso dos pés" que tinha esta do aleijado desde
o seu nascimento e que jamais havia andado. Este fato, naturalmente, todo o povo
sabia, pois muitos estavam familiarizados com ele e tinham visto ser ele carregado à
reunião. "E ouviu falar Paulo" e a convicção entrou em seu cansado coração de que o
que Paulo dizia era verdadeiro. Paulo olhou para ele e "vendo que tinha fé para ser
curado", disse: "Le vanta-te direito sobre teus pés", isto ordenado pelo po der do
Redentor.

— 147 —
"E ele saltou e andou". Quando o povo viu isto, levantou-se um clamor na cidade e
disseram em sua linguagem, que era uma mistura de grego e sírio: "Chamaram a Paulo e
Barnabé pêlos nomes de seus deuses. Barnabé era alto, assim eles o chamaram Jú piter; e
Paulo, sendo baixo e orador de talento, eles chamaram Merciirio, porque Mercúrio era o
deus da instrução e da eloquência.
Oferecer Sacrifícios. —- Algum tempo após a reu nião, os sacerdotes de Júpiter que
oficiavam no templo de Júpiter que havia na cidade, decidiram oferecer sa crifícios aos
seus deuses, personificados em Paulo e Barnabé. Assim, todos eles, juntaram-se nos
portões da cidade, trouxeram touros e começaram a fazer os pre parativos para oferecer
sacrifícios.
Os missionários protestam. — Quando «Paulo e Bar nabé ouviram isto, correram para
entre o povo e "ras garam os seus vestidos" em protesto contra tal sacrifí cio. Rasgar
seus vestidos era uma expressão de inten so sentimento e o povo o compreendeu. Além
de fa zer isto, eles gritaram: "Varões, porque fazeis estas coisas? Nós também somos
homens como vós, sujeitos às mesmas paixões, e vos anunciamos que vos conver testes
dessas vaidades ao Deus vivo, que fez o céu e a terra, e o mar e tudo quanto há neles".
Paulo apedrejado. — Contudo, eles mal podiam evitar que o povo os adorasse, mas
alguns judeus ha viam seguido os missionários da Antióquia e Icònio tendo convencido a
multidão que Paulo e Barnabé eram impostores, e que o milagre tinha sido feito pelo
poder do mal. Instaram o povo de tal maneira que, em vez de adorarem a Barnabé e
Paulo, apanharam pedras e ape drejaram Paulo até que este caiu ao chão, aparente -
mente morto. Pensando que estivesse morto, a multi dão então arrastou seu corpo para
fora da cidade e o abandonou.

148

Um monstro de muitas cabeças. — Esta multidão era como um monstro de muitas


cabeças. Primeiro estavam prontos a adorar os homens como deuses e então, apenas
em alguns minutos tornaram-se tão per versos que chegariam a manchar sua alma
com um assassínio.
Paulo volta a si. — Dispersada a multidão, ao re dor do corpo silencioso e
sangrento que ainda jazia inerte ao solo, reuniram-se alguns discípulos fiéis e inte ligentes
que haviam acreditado no verdadeiro evange lho . Como devem ter ficado satisfeitos e
gratos quando viram Paulo mover-se e mais; tarde recobrar seus sentidos!
Ele havia sido apedrejado, mas não ferido seria mente assim uns poucos cuidados
deram-lhe força pa ra se manter sobre seus pés e caminhar de volta à cidade.
Gaio. — No dia seguinte ele saiu de Listra e via jou vinte milhas, para Derbe.
Aqui ele pregou com ousadia e efetivamente, e converteu muitos à verdade, e entre
eles um homem chamado Gaio, que provou ser um amigo firme e verdadeiro de
Paulo e da Igreja em geral.
Outro ramo organizado. — Como haviam feito em outras cidades, os missionários
organizaram em Derbe um ramo da Igreja e ordenaram Élderes para dirigi-lo.
Instruiu a estes e se reuniram a eles e com os membros em jejum e oração, e "os
encomendarem ao Senhor" e deles se despediram, pois havia chegado o tempo em que
os primeiros missionários da Antióquia deveriam regressar para seu lar,
De volta a casa — Eles visitaram todos os ramos, pregando o Evangelho, instruindo,
abençoando e con fortando os Santos em Listra e nas regiões circunvizi nhas. Voltaram
então quarenta milhas para Icònio e sessenta milhas para Antióquia, na Pisidia. De lá,

— 149 —

partiram para Gergue na Panfilia e navegaram de Atta- lia para Antióquia, na Síria.
Aqui os Santos se reuniram e lhes deram boas vin das, e ouviram o relato dos
Élderes de "quão grandes coisas Deus fizera por eles, e como abrira aos gentios a
porta da fé".

— 150 —
LIÇÃO 28 UMA GRANDE CONTROVÉSIA
Textos: Atos 15 1-35.
"A união dos cristãos em Cristo, sua ca beça comum, por meio da influência
que dele emana, pode ser ilustrada por um imã. Não somente junta as
partículas de ferro a si mesmo por sua virtude magné tica, mas também por
esta virtude as une umas às outras".
—x.x.x.x—
Os judeus espalhados pelo império — Ao seguirmos Paulo e Barnabé em sua primeira
viagem missio nária, notamos que em quase todas as cidades que visi taram Judeus e que
judeus estavam espalhados por quase todo o império romano. Estavam nas costas e Ühas
da Ásia ocidental, no litoral do Mar Cáspio, e alguns se encontravam até mesmo na
China.
Os judeus mantinham-se em sua religião — Mas não importa onde o judeus vivesse, ele
sempre manti nha sua religião e estudava cuidadosamente a Lei de Moisés. Foi isto que
Tiago quiz dizer quando disse "Moisés, desde os tempos antigos, tem em cada cidade
quem o segue, e cada sábado é lido nas sinagogas". Sua religião os ensinava a não se
misturarem com os gen tios em casamento ou intercurso social.
Os gentios, por outro lado, olhavam com desprezo para os judeus, enquanto as
festividades alegres e li cenciosas da adoração grega e romana fazia com que

— 151 —

chocada; pois obedecer seria quebrar a Lei de seus antepassados, associando-se aos
gentios. Os cristãos judeus que estavam com Pedro desde Jope até Cesaréia, admiraram-
se quando viram o dom do Espi rito Santo derramado sobre os "imundos" gentios. Quando
Pedro chegou a Jerusalém, foi acusado não so mente de ter se associado com gentios mas
também co mido com eles. Porém Pedro havia aprendido por Re velação que "o que Deus
purificou" ninguém os judeus olhassem com desprezo para os gentios. Eles faziam,
negócios entre si, e se misturavam em seus afa zeres diários, mas de regra, era só até aí
que iam suas ligações. Diriam com Shylock (Mercador da Veneza, Ato I, Cena 3):
"Comprarei com você, venderei com você .falarei com você, caminharei com você e assim
por diante; mas não comerei com você, não beberei com você e nem orarei com você".
Naturalmente havia certqs gentios que algumas vezes se convertiam à religião
judaica e havia alguns que se casavam com mulher judia, mas a barreira de
desapreciação e suspeita não se desfazia.
Os Preconceitos de Pedro — Como já vimos, foi difícil para o Senhor convencer Pedro
de que os gen tios mereciam ser batizados na Igreja de Cristo. Pedro viu numa visão uni
grande lençol descendo dos céus no qual havia animais imundos e ele ouviu uma voz:
"Levanta-te Pedro, mata e come". Mas Pedro disse "De modo nenhum, Senhor, porque
nunca comi coisa alguma comum ou imunda". (Veja toda a experiência).
A Revelação de Pedro — Quando Pedro compre endeu o significado da visão, toda a
sua natureza ju dia ficou deveria chamar "Comum ou imundo", que o Senhor "não faz
acepção de pessoas" e que tôdasi as nações que O acei tam, O temem e trabalham com
justiça, podem rece ber Suas bênçãos.

— 152 —
A QUESTÃO É AGITADA
A Igreja é agitada — Mas havia muitos judeus na Igreja que não criam nisto e a
única condição sob a qual aceitariam um gentio, era que estes deveriam também
obedecer à religião mosaica. Quando esta classe de Cristãos ouviu que Paulo e Barnabé
haviam batizado centenas de gentios .ficaram muito agitados em seus sentimentos, e
alguns deles foram a Antióquia e começaram a pregar, primeiro particularmente e de -
pois publicamente, que a menos que os gentios obede cessem um certo rito judeu, não
poderiam ser salvos. Paulo e Barnabé haviam dito aos Santos que a obediên cia ao
Evangelho de Cristo salvaria os Gentios da mes ma forma que os judeus e que os gentios
não tinham que se tornar judeus. Estes homens do principal ramo da Igreja declararam
que Paulo e Barnabé estavam errados. Sem dúvida aqueles que dentre os gentios se
voltaram para Deus estavam perturbados e perplexos. A controvérsia se tornou tão
aguda que ameaçou de afastar alguns da Igreja.

MENSAGEIROS ENVIADOS A JERUSALÉM


Mensageiros a Jerusalém — Assim foi determinado que Paulo e Barnabé e outros
dentre eles fossem a Jerusalém e levassem esta questão perante os apósto los e anciãos.
A Igreja em Antióquia, evidentemente acreditava que (Paulo e Barnabé estavam
certos pois quando ini ciaram sua viagem foram acompanhados em seu ca minho pela
Igreja. Ao passarem através da Siro-^Fení-cia e Samaria, e dizerem aos Santos que os
cumpri mentavam, como os gentios haviam sido convertidos, «lês "davam grande alegria a
todos os irmãos".
A Terceira visita de Paulo — Esta foi a terceira visita de Paulo a Jerusalém desde a
conversão. A pri-

— 153 —
meira foi três anos após ter se afiliado à Igreja, quan do ele passou duas semanas com
Pedro e então fugiu por estar em perigo de vida. A segunda foi quando ele acompanhou os
mensageiros que trouxeram socorro aos Santos na Judéia durante a fome. Foi nesta oca -
sião que Pedro foi condenado à morte. Quinze anos haviam se passado desde que ele havia
partido de Je rusalém para Damasco, com papéis para prender to dos os Cristãos que
encontrasse. Agora ele entra na ci dade como defensor de uma das maiores verdades que a
Igreja Cristã do mundo pode conhecer, isto é, que Deus não faz acepção de pessoas, mas
que abençoará toda nação que obedeça os princípios de vida e sal vação.

NO CONSELHO COM OS LÍDERES


Tito — Ele primeiramente se reuniu a Pedro, Tia go e João, e recebeu pela primeira
vez, pelo que nos é dado conhecer, "a mão direita e amizade" de João, o discípulo amado.
Tito estava com Paulo como um exemplo do que eram os conversos gentios.
Um Apelo à Presidência — Esta visita foi realmen te um apelo à Presidência dos Doze,
e confirma a cren ça dos membros da Igreja hoje em dia, que Pedro, Tia go e João foram
nomeados lideres naquela ocasião, da mesma forma como temos hoje os três Sumo
Sacerdo tes que são escolhidos como a Primeira Presidência da Igreja de Cristo.
Uma reunião importante — Finalmente a grande reunião. Foi uma cena de grande
debate e talvez, em seu início, de grande discussão, mas finalmente Pedro se dirigiu à
audiência e contou como Deus lhe havia revelado a fato de que os gentios podiam aceitar o
Evangelho sem obedecer todas as cerimónias judaicas.
Os Missionários testificam — Então Paulo e Bar- nabé falaram em meio a grande
silêncio, todos os olhos

— 154 —
estando como que presos a esses dois grandes missio nários que haviam sido os primeiros
a organizar ra mos da Igreja entre as nações dos gentios. Finalmen te, Tiago, o irmão do
Senhor, que era conhecido entre os judeus como "Tiago o Justo", levantou-se e procla -
mou a decisão do conselho, que estabelecia a união dos cristãos judeus e gentios.

PAULO VOLTA A ANTIÓQUIA

Judas e Silas — Assim terminou a controvérsia e a missão de Paulo aos gentios estava
oficialmente aprovada. Quando ele partiu de volta a Antióquia, achava-se acompanhado
de Judas, cujo sobrenome era Barsabás e Silas que era chefe entre os irmãos. Pare ce que
João Marcos também partiu com eles. Levaram com eles o decreto do conselho para ser
lido às Igrejas que haviam sido tão perturbadas com a controvérsia.
Quando chegaram a Antióquia, toda a Igreja se reuniu, para ouvir a decisão do
conselho. Podemos imaginar com que interesse e consolo os Santos ouvi ram o decreto de
que não deveria haver uma igreja para os gentios e outra para os judeus, mas que todos
que sinceramente criam em Cristo e obedeciam Seu evangelho seriam salvos.

-155 —

LIÇÃO 29
PAULO INICIA SUA SEGUNDA VIAGEM MISSIONÁRIA
"O homem deveria confiar em Deus, co mo se Deus cuidasse de tudo, e não obs -
tante, trabalhar tanto como se ele mesmo fizesse tudo".
—x. x. x. x—
Paulo deseja visitar os ramos — Depois que Silas e Judas Barsabás permaneceram na
Anüóquia por al gum tempo "ensinando e pregando a palavra do Senhor" com Paulo e
Barnabé e "muitos outros", Judas prova velmente retornou a Jerusalém, e "pareceu bem
a Si Ias ficar ali". Dois anos se passaram desde que Paulo e Barnabé haviam voltado de
sua primeira missão e Paulo quiz visitar novamente as igrejas que eles ha viam
estabelecido naquela memorável viagem. Assim, um dia ele disse a Barnabé: "Tornemos
a visitar nos sos irmãos por todas as cidades em que j/á anuncia mos a palavra do Senhor,
para ver como estão".
Desacordo — Barnabé logo consentiu, mas disse "Vamos levar meu primo João
Marcos conosco". "Não", respondeu Paulo, "não adianta levar Marcos conosco pois ele
se afastou de nós em Pamfilia e não foi traba lhar conosco".
Separação — Mas Barnabé sabia porque Marcos havia feito aquilo e tinha certeza de
que ele não de sistiria desta vez. Paulo contudo não consentiu e assim estes dois grandes
missionários concordaram em se se parar e cada um tomar seu próprio companheiro.
Bar-

— 156 —

nabé escolheu João Marcos e Paulo escolheu Silas. Eles provavelmente concordaram que
Barnabé e Mar cos fossem visitar as igrejas nas ilhas e Paulo e Silas visitariam as do
continente.
Não nos consta que Paulo e Barnabé jamais te nham se encontrado novamente, mas
Paulo se refere a ele posteriormente, como um apóstolo ativamente empenhado no
serviço do Mestre. Marcos também, pos teriormente, conquistou a confiança de Paulo,
pois mais tarde se refere a ele como um companheiro de traba lho e um dos que tinham
sido úteis no ministério.
Barnabé e Marcos em Chipre — Barnabé e Marcos partiram primeiro e navegaram
para Chipre, a ilha na tal de Barnabé. Aqui Marcos também se sentiria em casa, pois foi
onde iniciou seu trabalho missionário. Aqui os deixaremos entre os novos cristãos e
seguire mos Paulo e Silas.
PROVÁVEL VISITA À TERRA NATAL DE PAULO
Estes dois missionários iniciaram por terra, em di-reção ao norte, através da "Síria
e Sicília, confirman do as igrejas". Levaram com eles, naturalmente, a de cisão do
Conselho que, sem dúvida, deu grande con forto aos gentios cristãos nestes ramos.
Exatamente quais cidades Paulo e Silas visitaram na Siria e na Sicília, não sabemos;
mas havia uma pe la qual Paulo certamente passaria: a sua cidade natal, Tarso. Se ele
conseguiu estabelecer uma igreja lá, com que alegria e satisfação ele não retornaria
agora. Pau lo sempre foi muito orgulhoso de Tarso e referiu-se a ela mais tarde como
"cidade não pouco célebre".
EM DERBE E OUTRAS CIDADES
Derbe, Primeiro — Em sua primeira viagem Pau lo e Barnabé visitaram, por ordem,
Icônio, Listra e

— 157 —

Derbe. Agora ele e Silas se aproximam destas cidades em ordem contrária, visitando
Derbe primeiro e en tão Listra e Icônio.
Bem recebidos em Listra — Em Listra a sua che gada foi comemorada pela bela Eunice
que era judia, a mãe de Timóteo, Loide, sua avó e seu companheiro Silas.
CHAMADA E ORDENAÇÃO DE TIMÓTEO

Timóteo é fiel — Em Icônio e Listra, Paulo soube pêlos irmãos que aquelas boas
mulheres e seu nobre filho, Timóteo, haviam sido fiéis (à fé. Ele já sabia que Timóteo havia
sido instruído desde a infância a repar tir as escrituras e a viver uma vida pura. Timóteo
foi um dos que permaneceram ao seu lado quando a mul tidão o arrastou para fora da
cidade e o abandonou como morto e agora ele ainda encontra no coração do jovem a fé
que primeiro tinham sua avó Loide e sua mãe Eunice. Sem dúvida, Paulo disse à senhora:
"Eu desejo que Timóteo me acompanhe".
Timóteo é ordenado — A mãe consentiu e Timó teo foi ordenado pela imposição das
mãos, para ser um missionário e servo do Senhor Jesus Cristo. Paulo posteriormente
chamou este jovem "meu verdadeiro filho na fé", (l Tim. l :2) Este fato confirma a verda -
de contida no Artigo de Fé que declara ser crença dos Santos dos Últimos Dias que "um
homem deve ser cha mado por Deus, por profecia e pela imposição das mãos por aqueles
que tenham autoridade para pregar o Evangelho e ministrar as suas ornenanças".
Para a Galácia — Após batizar muitos mais con versos e estabelecer as Igrejas na fé, e
sem dúvida vi sitando a Antióquia, Pisidia e outras cidades no inte rior onde ele e Barnabé
organizaram ramos da Igre ja, Paulo, Silas e Timóteo se dirigiram para a direcão norte,
através da região da Galácia.

— 158 —
Paulo adoece — Enquanto estavam atravessando aquela região Paulo adoeceu. Que
espécie de doença? não sabemos se era "o espinho na carne". O certo é que ele estava
muito doente, e ficou detido na Galácia, aparentemente contra sua vontade. A despeito
de sua doença, contudo, ele pregou o Evangelho ao povo e muitos creram. A maneira
como ele amava os amigos que fez naquela ocasião, pode ser parcialmente com preendida
por uma carta que ele lhes escreveu na qual ele diz: "E vós sabeis que primeiro vos
anunciei o Evangelho estando em fraqueza da carne; e não re jeitastes, nem desprezastes
isso que era uma tentação na minha carne antes me recebestes como um anjo de Deus,
como Jesus Cristo mesmo. Porque vos dou testemunho de possível fora, arrancaríeis os
vossos olhos e m'os darieis". (Gal. 4:13-15).
Naquela mesma carta ele os chama "meus filhi- nhos" (Gal. 2-19) e expressa o desejo
de estar com eles novamente e fortalecê-los no Evangelho.
Ramos estabelecidos — Antes dos missionários dei xarem a Galácia, ramos da Igreja
foram organizados, e a carta de Paulo a eslas Igrejas é parte do Novo Tes tamento.
Rumo ao Oeste — Partindo da Galácia, os três via jantes continuaram para o oeste,
em direcão ao Mar Egeo, e "tendo passado por Misia, desceram a Troas", cujo nome
completo era Alexandria Troas. Paulo ti nha suas vistas voltadas para a Europa e deste
lugar podia olhar através do Mar Egeo e ver as distantes co linas da Macedônia".
Uma visão — Certa noite ele foi para a cama, tal vez pensando no povo que vivia no
outro lado das águas e inspirado com o sentimento de que o Senhor queria que ele fosse
para eles. Naquela noite apareceu a ele uma visão, na qual "se apresentou um varão da

— 159 —
Macedônia, e lhe rogou, dizendo: Passa à Macedônia e ajuda-nos".
Lucas — Mas antes deles tomarem o barco para atravessar, ele e seus companheiros
haviam recebido entre eles outro converso fiel a quem introduziremos agora em nossa
lição. Pode ser que Paulo o tenha en contrado quando estava doente pois o homem era
um médico, e podia ser de grande utilidade para ele em sua doença. Este novo
companheiro fez várias notas e posteriormente escreveu os "Atos dos Apóstolos" em que
aprendemos a maioria das coisas que ora estamos estudando. Seu nome era Lucas,
chamado por Paulo "o amado médico".
Paulo contou sua visão aos irmãos e "imediata mente" Lucas disse: "e logo depois
desta visão, pro curamos partir para a Macedônia, concluindo que o Senhor nos
chamava para lhes anunciarmos o evange lho".
Eles navegaram de Troa, em caminho direito atra vés da Samotrácia e no dia
seguinte para Nápoles e dali para Filipos, que é a primeira cidade desta parte da
Macedônia.

— 160—
LIÇÃO 30 EM FILIPOS

"O Evangelho é a realização de todas as esperanças, a perfeição de toda


filosofia, o intérprete de todas as revelações, e uma chave para todas as
aparentes contradi ções da verdade no mundo físico e moral".

—x. x. x. x—

Nas margens do rio — Perto da cidade de Filipos, corria o rio Gagitas. Em suas
margens "fora das por tas" achava-se um lugar de oração, provavelmente ao ar livre, no
qual algumas pessoas se reuniam para adorar ao Senhor. Não havia sinagoga em Filipos
e os poucos judeus que lá se encontravam se reuniam nes te lugar, "lá beira do rio" para
orarem. Quando chegou o primeiro dia de sábado, após terem os Élderes estado em
Filipos por vários dias, foram a este lugar de ora ção "e falaram às mulheres que ali se
ajuntaram".
O Evangelho é pregado — Sem dúvida os homens maus acusaram os missionários
naqueles dias de afas tarem as mulheres do bom caminho da mesma forma como os
inimigos acusam os Élderes da Igreja hoje em dia. Mas as mentiras e as falsas acusações
não podiam evitar que Paulo e seus companherios continuassem seu trabalho. A estas
mulheres, eles pregaram o Evangelho de Jesus Cristo e contaram a história de Sua vida,
Sua morte cruel e Sua gloriosa ressurreição.

— 161—

LÍDIA
Entre o grupo que ouvia a maravilhosa mensa gem, achava-se uma certa mulher
chamada "Lídia" que vivia em Tiatira mas que estava naquela ocasião em Filipos,
cuidando de seus negócios relacionados com a venda de púrpura. Ela vendia corantes e
púrpura usados pêlos ricos e pela nobreza. O Senhor lhe deu um testemunho da
verdade, como Paulo a explicou e ela pediu para ser batizada. Ela e sua casa foram ad -
mitidas como membros naquele dia. Se Lídia foi a pri meira a ser batizada, então ela teve
o privilégio de ser a primeira pessoa na Europa a aceitar o cristianismo. Se a referência
à sua "casa" significa que ela tinha filhos ou se se refere somente aos seus escravos ou a
ambos, não sabemos, mas eles se tornaram o núcleo de um ramo esforçado da Igreja
naquela cidade, e na cidade de Lídia também.
Após o batismo, Lídia convidou os missionários para irem 'à sua casa e disse: "Se
haveis julgado que eu seja fiel ao Senhor, entrai em minha casa".

A PITONISA

O mau Espírito é repreendido — Um dia quando os Élderes se dirigiam ao lugar de


oração, eles encon traram uma infeliz mulher que os perturbava. Era uma moça que
parecia ser possuída por "espírito de adivi nhação", que seus mestres (pois ela tinha
mais de um) usavam para para fazer dinheiro. Quando ela se en controu com os
Élderes, gritou: "Estes homens que nos anunciam o caminho da salvação, são servos do
Deus Altíssimo".
Depois que ela repetiu isto em vários dias dife rentes, Paulo "perturbado", não
particularmente pelo que ela dizia, mas porque sabia que o mau espírito a

— 162 —

estava atormentando, voltou-se para ela um dia e dis se aos maus espíritos:
"Em nome de Jesus Cristo, te mando que saias de la" e imediatamente ela foi
curada.
Efeito — Quando seus mestres compreenderam que sua escrava tinha sido curada, e
que a esperança de ganhos havia desaparecido, ficaram muito zanga dos, "prenderam
Paulo e Silas e os levaram à praça, à presença dos magistrados" Mas eles foram suficien -
temente espertos para não contarem aos magistrados a verdadeira razão porque Paulo e
Silas haviam sido levados lá. Não disseram "estes homens curaram nos sã escrava e não
mais podemos enganar o povo por dinheiro". Não. Eles os acusaram de quebrar a lei ro -
mana introduzindo costumes e crenças que eram ile gais perante a lei romana.
"E a multidão se levantou unida contra eles" e os magistrados sem dar aos Élderes
uma oportunidade para se defenderem mandou açoitá-los com varas.
AÇOITADOS E APRISIONADOS

No cárcere interior — Com suas mãos amarradas e com suas costas desnudas para o
chicote, os Élderes foram açoitados com muitos açoites. Sangrentos e ator doados, foram
então levados para a prisão. Quando o carcereiro os recebeu, teve ordens de guardá-los
"com segurança". Ouvindo esta ordem e julgando que os pri sioneiros fossem homens
muito maus, o carcereiro os levou e "os lançou no cárcere interior". O cárcere in terior
de uma prisão romana, era um subterrâneo es curo, úmido e triste. Um escritor a chama
de cela pes tilenta, úmida e fria, da qual a luz foi excluída e onde as correntes se
enferrujam nos membros dos prisio neiros". Mas, não satisfeito em fechar os Élderes em
lal Imraco, o carcereiro "lhes segurou os pés no tron-

— 163 —

co". Ao prender somente seus pés, contudo, ele de monstrou um pouco de misericórdia
pois havia bu racos no tronco para os punhos e o pescoço também.
Alegria na tristeza — Com suas costas feridas e sangrentas, seus corpos gelados pelo
frio e humidade, suas pernas apertadas e doendo, esfaimados e sono lentos e rodeados
pela escuridão da noite, Paulo e Si las que sabiam estar sofrendo pelo verdadeiro Evan -
gelho, podiam regosijar-se e louvar a Deus. Isto eles fizeram à meia noite, orando e
cantando "hinos a Deus". Suas vozes soaram através das celas da prisão e os prisioneiros
de corações duros e pecadores ouvi ram com surpresa o primeiro hino cristão que jamais
tinham ouvido. O Poder de Deus se manifestou não somente nos corações de Seus
verdadeiros servos, mas em toda a prisão e também na cidade, pois "de repen te
sobreveiu um tão grande terremoto, que os alicer ces do cárcere se moveram". Todos os
ferrolhos e bar ras das portas caíram e as portas da prisão se abriram e "foram soltas
todas as prisões", mas nem um prisio neiro tentou fugir.
O temor do carcereiro — Acordado de seu sono pelo barulho e tremor de terra, o
carcereiro correu para a prisão somente para encontrar as portas escancara das.
Lembrando-se de sua vida se algum deles esca passe ,desembainhou sua espada para
suicidar-se, quando Paulo gritou: "Não te faças nenhum mal, que todos aqui estamos".
Então ele, (o carcereiro) "pedindo luz, saltou den tro, e, todo trémulo, se prostrou
ante Paulo e Silas".

SUA CONVERSÃO
Umai pergunta muito importante — Talvez ele tivesse ouvido a pitonisa dizer, "estes
homens são servos do Deus Altíssimo", pode ser que os tivesse ouvido
— 164 —

pregar, ou pelo menos tenha ouvido pela boca de oa-tros o que eles pregavam.
Provavelmente o próprio tremor de terra o tivesse convencido de que aqueles homens
não somente eram inocentes, mas também servos de Deus. De qualquer modo, ele
gritou: "Senho res, que é necessário que eu faça para me salvar?" Es ta é a pergunta que
todos deviam fazer e a resposta, quando dada com verdade, todos deveriam obedecer. A
Resposta — Note a resposta: "Crê no Senhor Jesus Cristo e serás salvo, tu e a tua casa".
Então os servos do Senhor explicaram o que é a verdadeira crença, expondo "a
palavra do Senhor", ensinou-lhes fé, arrependimento e batismo ;e quando o carcereiro
e sua família disseram que acreditavam ser verdadei ro o Evangelho, ele levou-os para
fora lavou seus ver gões e foi batizado na mesma noite "ele e todos os seus".
Então eles os levou, não de volta è prisão, mas à sua própria casa, e lhes pôs a mesa.
Conta-se que seu coração encheu-se de alegria porque ele creu no Senhor
com toda a sua casa.
Por fazer o bem havia aberto as janelas de sua al ma e o sol de pura felicidade havia
irradiado através de todo o seu ser.
Os Prisioneiros são soltos — O terremoto ou qualquer outra coisa havia amedrontado
outros homens da cidade, também, e entre estes os magistrados que ha viam sentenciado
e condenado, dois homens inocen tes a serem açoitados e aprisionados. Compreendendo
seu erro, logo de manhã enviaram a seguinte ordem ao carcereiro. "Soltai aqueles
homens".
Paulo surpreende o carcereiro — Satisfeito com a mensagem o carcereiro correu a
Paulo e Silas, dizen do: "Os magistrados mandaram que vos soltasse; ago ra pois saí e ide
em paz".

— 165 —
Ele surpreendeu-se ao ouvir Paulo responder fria mente: "Açoitaram-nos
publicamente e, sem sermos condenados, sendo homens romanos, nos lançaram na
prisão e agora encobertamente nos lançam fora? Ago ra eles querem que saiamos
quietamente para que o povo pense que somos pestilentos que fugimos da ca deia.
"Não será assim; mas venham eles mesmos e ti-rem-nos para fora".
Os magistrados se humilham — Quando os magis trados perceberam ter eles sido
açoitados e lança dos na prisão sem mesmo um julgamento, ficaram muito
amedrontados e compreenderam que poderiam até mesmo perder o seu cargo. Assim
eles vieram e le varam Paulo e Silas para fora da prisão, e expressa ram o desejo de que
os missionários saissem da cida de.
Os prisioneiro»! soltos haviam conquistado uma grande vitória e embora não
fizessem ostentação na frente dos seus perseguidores, aproveitaram a ocasião para irem
à casa de Lídia e encontrar-se com todos os Santos. Talvez Paulo tenha relembrado aos
santos a noite em Jerusalém em que Pedro foi solto da prisão e veio à casa de Maria.
Não sabemos o que foi dito, com exceção de que "vendo os irmãos, os confortaram e
depois partiram". Lucas ficou para fortalecer e levantar a Igreja em Filipos e Paulo e
seus outros companheiros prossegui ram para Tessalônica.

— 16 6 --
LIÇÃO 31 NA MACEDÔNIA

"Uma luta constante, uma batalha inces sante para trazer sucesso nos meios
inóspitos, é o preço de toda grande realiza ção".

—x.x.x.x—

"Banir, aprisionar, pilhar, passar fome, enforcar, e queimar homens por religião,
não é o Evangelho de Cristo, mas a política do demónio. Cristo jamais usou qualquer
coisa que se parecesse com a força, com ex-cessão de uma vez, que foi para expulsar os
mercado res para fora do templo e não para fazê-los entrar".
É muito fácil fazer o bem quando estamos em boa companhia, mas não é fácil
defender o direito quando a maioria se opõe a ele e, não obstante, é quando de vemos
mostrar verdadeira coragem. O Profeta Joseph Smith por exemplo, foi aviltado e
perseguido por di zer que havia recebido uma visã/o, mas ele sempre permaneceu fiel ao
seu testemunho. Apesar de ser odia da e perseguido, ele afirmava que Deus havia falado
com ele e que "todo o mundo não podia fazer com que ele pensasse e acreditasse o
contrário".
Esta é a coragem e a firmeza que todos deveriam. ter. Quando se sabe que alguma
coisa é verdadeira, deve-se sempre ter a coragem para defendê-la mes mo diante do
ridículo e da punição.

__ 167 —

Quanto à coragem para pregar o Evangelho em face da grande perseguição os


missionários em Tessa-lônica e Beréia provaram ser verdadeiros heróis.
Após o cruel tratamento que Paulo recebeu em Filipos, não estava em condições de
suportar longas viagens. Não obstante, ele e seus companheiros viaja ram mais de cem
milhas antes de chegarem a Tessa- lônica.
Esta cidade, a capital da Macedônia, em direção à qual Paulo havia dirigido seu
roteiro desde que dei xou Troas, era um importante centro comercial. "Em toda Grécia,
com excessão de Corinto, não havia por to com melhor situação; a ancoragem era das
melho res; as estradas eram lisas como lagos enquanto os va les da vizinhança davam
acesso às estradas que leva vam a Epirus e lá Macedônia superior". (Touard).
Seu nome — Certa vez a cidade fora chamada Terma, mas nos dias de Alexandre o
Grande, foi cha mada Tessalònica, em homenagem à irmã de Alexan dre, Tessolônica,
esposa de um dos generais de Ale xandre. A cidade ainda é chamada por este nome, li -
geiramente modificado. É agora chamada Salonique, e foi um dos centros da grande
guerra que em 1915 as solou toda a Europa. Em importância é a segunda ci dade da
Turquia Europeia.
Cansados fisicamente, mas alertas em Espirito — Cansado e sem dinheiro, Paulo entrou
nesta grande cidade. Exausto fisicamente mas vigoroso e animado como nunca em
espírito, ele deu os primeiros passos para dar ao povo a gloriosa mensagem do
Evangelho do Redentor. A primeira reunião foi provavelmente realizada na sinagoga,
pois Tessalònica era naquele tempo e tem sido até hoje, um forte centro judeu. Du rante
três semanas consecutivas, Paulo e Silas disser taram com eles sobre as, escrituras",
expondo e de monstrando que convinha que o Cristo padecesse e

— 168 —

ressucitasse dos mortos". E este Jesus, que vos anun cio, dizia ele, é o Cristo".
Não era só na sinagoga que os esforçados missio nários proclamavam a
mensagem, mas também nas ruas.
Com Jason — Paulo e Silas hospedaram-se com um homem chamado Jason,
onde Paulo trabalhava no ofício que havia aprendido em Tarso. O próprio Pau lo
relata que "trabalhando noite e dia para não ser mos pesados a nenhum de vós, vos
pregamos o evan gelho de Deus", (l Tess. 2:9). Assim, tarde da noite, quando o sol há
muito se havia deitado sobre os in cessantes trabalhos espirituais do dia, o apóstolo
poderia ser visto à luz da vela trabalhando no áspero pa no de crina, para que não
fosse uma carga para nin guém. (Sua profissão era tendeiro, isto é fabricante de
tendas).
Auxiliados pêlos santos — Podemos bem imaginar que ele tenha sido frequentemente
interrompido neste trabalho por homens e mulheres que procura vam mais luz nas
doutrinas do Evangelho. O resultado foi que Paulo mal ganhava o necessário para
pagar seus alimentos e roupas, e se os bons santos de Filipos não lhes tivessem enviado
socorro, ele e Silas teriam talvez passado grandes necessidades.
Poucos judeus aceitaram sua mensagem e assim Paulo e seu companheiro se
voltaram para os gentios, muitos dos quais acreditaram e "também uma grande
multidão de gregos religiosos e não poucas distintas mulheres".

ARMA-SE A TEMPESTADE
Quando os judeus descrentes viram grande núme ro de pessoas aceitarem este novo
Evangelho, ficaram enciumados e zangados. Dirigiram-se a uma classe bai-

— 169 —

xá e ignorante de cidadãos "homens perversos, dentre os vadios" e lhes disseram que estes
cristãos estavam pondo o mundo todo em alvoroço e deviam ser expul sos da cidade. Assim
reuniram uma multidão e cerca ram a casa de Jason onde os Élderes estavam hospeda dos.
Os missionários são avisados — Mas, felizmente, Paulo e Silas não estavam e não
puderam ser encon trados. Talvez algum amigo ou o Espirito do Senhor tivesse prevenido
os servos de Deus para que não fos sem para casa naquela hora. Não encontrando os Élde res,
a multidão arrastou Jason e alguns outros irmãos para diante dos magistrados da cidade e
disseram:
Jason é preso — Estes que têm alvoroçado o mun do, chegaram também aqui". Os quais
Jason recolheu; e todos estes procederam contra os decretos de Cé sar, dizendo que há
outro rei, Jesus".
Como é fácil, às vezes, fazer da verdade uma men tira.
Paulo e Seus companheiros escapam — Jason e seus amigos dando "satisfação" (pelo que
talvez se que- ra dizer que tiveram de depositar dinheiro como ga rantia de que nada fariam
contra o governo), foram postos em liberdade. Mas a multidão ainda estava mo vida contra
Paulo e Silas que foram aconselhados pê los irmãos a partirem imediatamente.
Eles partiram à noite, viajando cincoenta e uma milhas para Beréia.

EM BERÉIA
Muitos aceitam o evangelho — A perseguição e o sofrimento não mais podiam deter estes
inspiradores Élderes em sua pregação; assim, logo que chegaram a Beréia "foram à sinagoga dos
judeus". Os judeus da qui eram mais nobres do que os da Tessalônica, e dis-

— 170 —
cutiram sobre as escrituras que eram constituídas pelo Velho Testamento, guardado em
pergaminhos sagra dos na sinagoga. Assim, concluímos que os bereanos não somente ouviram
atenciosamente ao que os mis sionários disseram mas também buscaram nas escritu ras para ver
se o que diziam estava de acordo com a lei. Quando verificaram que estava, muitos acredita ram
e" também mulheres .gregas da classe nobre e não poucos varões".

A TEMPESTADE OS SEGUE

Da mesma forma como os judeus foram de Icônio a Lastra, assim vieram de Tessalônica a
Beréia, como caçadores sobre sua presa, e "excitaram as multidões".
Silas e Timóteo permanecem — As sementes da verdade já haviam se enraizado no rico solo
e conquan to a tempestade de perseguição ameaçasse cair sobre Paulo* iserviu sjòmente para
fortalecer e vitalizar o campo do evangelho.
Deixando Silas e Timóteo para* continuarem o trabalho, para abençoar e encorajar os
Santos, Paulo tornou-se mais uma vez um fugitivo e foi levado por alguns dos irmãos para o
mar.
Paulo foge — Do mesmo ponto na costa, ele em barcou para Atenas.

— 171 —
LIÇÃO 32EM ATENAS E CORINTO
"Algumas vezes um nobre fracasso serve
ao mundo tão fielmente como um grande
sucesso".
"Na vida não há maior bênção do que a
de ter-se um amigo prudente".
—x. x. x. x—
Solidão. — Talvez poucos dos que leram este livro tenham tido a oportunidade de ficar
sozinhos, mesmo por pouco tempo, numa cidade estranha; mas pode ser que alguns de
seus parentes o tenham feito. Se assim é, poderão saber como se pode sentir sozinho,
mesmo quando se está entre uma grande multidão, numa cida de extranha, e sem a
amizade das pessoas que o ro deiam. Esta deve ter sido a condição de Paulo depois que se
despediu de seus irmãos e caminhava pelas ruas de Atenas, sozinho.
Esta solidão o impressionou tanto que posterior-te escreveu aos Tessalonicenses
dizendo que fora dei xado só em Atenas. Ele enviou uma ordem a Beréia, para que "Silas e
Timóteo fossem ter com ele o mais depressa possível" mas até que eles chegaram, ele era o
único cristão na grande cidade pagã.
Estátuas e divindade. — Ao caminhar através das ruas de Atenas, Paulo viu muitas
estátuas e monumen tos erigidos em homenagem a homens e a deuses mís ticos. Algumas
destas eram as estátuas de grandes ho-

172 —
MH - IIS de Alenas, tal como "Solon o fazedor de leis, Co- iioii, o almirante, Demóstenes, o
orador". Entre seus heróis se encontravam Hércules, Mercúrio, Apoio, Ne- liino,
Júpiter, Minerva e muitos outros e num lugar, no centro de todos esses encontrava-se
um altar erigido aos "Doze Deuses". Havia mais estátuas em Atenas do que em todo o
resto da Grécia. Diz-se como quase ver dade que era mais fácil encontrar um deus em
Atenas do que um homem" (Weed). Havia também altares erigidos à Fama, à Modéstia,
à Energia, á Persuassão, à Piedade e Paulo viu uma inscrição:
"Ao Deus desconhecido"
Na cidade havia um local de reunião comum cha mado Agora. Ali os atenienses se
reuniam para falar e discutir as questões do dia. Os vadios e os grandes fi lósofos se
misturavam, anciosos para ouvir algo de no vo. Enquanto Paulo esperava por seus
companheiros, visitava diariamente este local e conversava com aque les que encontrava.
Dele a multidão ouviu, pela primei ra vez, sobre Jesus e sobre a ressurreição.
Ele também frequentava o culto na sinagoga, e discutia com os judeus.
Interesse despertado. — Assim, Paulo, apesar de sozinho e desencorajado, e talvez
triste por ver a igno rância e a iniquidade que havia ao seu redor, começou a agitar a
cidade, por causa da mensagem que anun ciava. Os atenienses e estrangeiros também,
começa ram a ficar curiosos; pois alguns deles, nos conta Lu cas, "de nenhuma outra
coisa se ocupavam, senão de dizer e ouvir alguma novidade".
Então alguns filósofos o notaram e ouviram falar dele. Alguns disseram:
"Que quer dizer este paroleiro?"
E outros:
"Parece que é pregador de deuses estranhos; por que lhes anunciava a Jesus e a
ressurreição."
— 173 —
A colina de Marte. — No alto da colina do Areó pago, existia uma plataforma e um
lance de degraus de pedra, saindo diretamente de Agora, davam acesso a ela. Nesta
haviam se sentado os principais juizes que haviam, desde tempos imemoriais, decidido as
importantes questões de religião, ou pronunciado sentenças sobre os maiores criminosos.
Supunha-se que Marte ti vesse sido julgado ali, e porisso era chamada "A coli na de
Marte". No alto desta colina erguia-se o templo
de Marte.
Para este lugar importante e memorável, os filóso fos levaram o apóstolo, dizendo:
"Poderemos nós sa ber que nova doutrina é essa de que falas? Pois coisas estranhas
nos trazes aos ouvidos: queremos pois saber o que vem a ser isto.
Um discurso memorável. — Paulo aceitou o con vite, e pronunciou um dos discursos
mais notáveis no mundo. Pode-se notar, entretanto, que ele nem siquer menciona o
nome de Cristo, mas tenta influenciar seus ouvintes atraindo-os para o que queria que
eles se in teressassem (Atos 17:22-31).
Logo que Paulo mencionou a ressurreição dos mor tos, foi interrompido. Alguns
começaram a rir e fazer pouco de sua afirmativa. Outros eram mais cortezes e
disseram ao afastar-se dele "Acerca disso te ouvire
mós outra vez".
Dionísio é convertido. — Paulo deve ter se sentido quasi esmagado com o
pensamento de que seu sermão tivesse sido um grande fracasso; mas ele havia se
desin-cumbido de seus deveres e as sementes da verdade ha viam sido semeadas.
Produziram frutos na forma da conversão de Dionisio membro da corte do Areópago e
uma mulher cujo nome era Damaris, "e outros com
eles".
Após permanecer curto tempo, ele partiu de Ate nas como havia nela vivido, um
'homem desprezado e solitário. Não obstante, aquela curta visita e aquele

— 174—

discurso interrompido, foram caracterizados por um sincero desejo de reunir os que


andam no erro e na iniquidade para arrependimento e fizeram Paulo mais famoso do
que qualquer dos filósofos, tão sábios em seu próprio conceito, que caçoaram e o
desprezaram.

NO FIM DA SEGUNDA MISSÃO


Sozinho em Corinto. — É provável que Timóteo tenha se juntado a Paulo em Atenas;
mas, se assim aconteceu, ele voltou imediatamente às Igrejas na Ma-cedônia. Assim,
Paulo partiu de Atenas sozinho e ten do desembarcado no porto de Cencrea, caminhou
dezoito milhas para Corinto. Lá ele encontrou muitos gregos e judeus. Havia também
uma multidão de es tranhos que vinham ver os grandes jogos e corridas; os
comerciantes, os mercadores e outros negociantes de longe e perto constituiam a sua
população. Assim, a solidão de Paulo aqui deve ser sido tão aguda como o tinha sido em
Atenas. Ele próprio relata que lá che gou "em fraqueza, em temor e em grande tremor".
Áquüa e Priscila, — Mais ou menos naquele tem po o imperador romano, chamado
Cornélio, assinou um decreto mandando que todos os judeus fossem afastados de
Roma. Entre os que tiveram que partir encontrava-se um homem chamado Áquila e
sua espo sa Priscila. Se eram cristãos antes de chegarem a Co rinto, não se sabe. De
qualquer maneira, estiveram entre os primeiros amigos que Paulo encontrou naque la
cidade. Pode ser que se tenham conhecido porque Áquila e Paulo tinham o mesmo
ofício. Seja como for, Paulo vivia com Áquüa e Priscila e se já não o haviam feito antes
converteram-se ao Evangelho, ao qual per maneceram firmes e fiéis. Estes amigos
foram muito úteis a Paulo dando-lhe emprego, mas principalmente, provando ser
verdadeiros amigos.

— 175 —

Na Sinagoga. — Todos os dias de Sábado, estes três amigos e companheiros de


trabalho punham de lado suas tendas e iam à sinagoga adorar a Deus. Pau lo, como de
costume, falava aos seus compatriotas e aos gregos conversos, e proclamava a eles a
gloriosa mensagem do Redentor ressurreito. Discutia com eles sobre as escrituras e os
persuadia a se tornarem cris tãos.
Timóteo e Silas reunem-se a Paulo. — Por algum tempo ele parecia ser menos
enérgico do que o comum. Mas naquele mesmo período, juntaram-se a eles seus queridos
amigos, Timóteo e Silas. Sua vinda deu-lhe novo alento, ou como diz Lucas,
"impulsionado pela palavra, testificava aos Judeus que Jesus era o Cristo". Julgando
pela força que Paulo recebeu de seus compa nheiros, ele compreendeu que "Um
verdadeiro amigo é um dom de Deus e somente Ele que fez os corações pode uni-los".
Os judeus recusam a verdade. — Quanto mais ou sadamente Paulo pregava, mais
acirradamente os ju deus inconversos se opunham a ele. Finalmente, quan do
blasfemaram em nome de Deus e se recusaram a aceitar a verdade, Paulo "sacudiu os
vestidos" e disse: "O vosso sangue seja sobre a vossa cabeça; eu estou limpo e desde
agora parto para os gentios".
A conversão de Crispo. — Mas muitos se converte ram e entre esses se encontrava
Crispo, o principal da sinagoga — "ele com toda a sua casa". Sua conversão, com as
multidões de coríntios que também foram bati-zados, somente fizeram os judeus mais
ofendidos que nunca; e começaram a ameaçar Paulo.
Conforto. — Mais ou menos nesta ocasião Paulo escreveu sua segunda carta aos
Tessalonicenses. Nes ta ele pede, especialmente, orações para que eles pu dessem se
libertar dos homens iníquos que tinham ao seu redor. "Rogai por nós, para que a
palavra do Se nhor tenha livre curso e seja glorificada, como tam-
— 176 —

l>t'm o é entre vós. E para que sejamos livres de ho mens dissolutos e maus; porque a fé
não é de todos." (II. Tess. 3:1-2).
E Paulo orou também e recebeu uma resposta di- rcta do Senhor, que disse: "Não
temas mas fala e não lê cales; porque eu estou contigo e ninguém lançará mão de ti
para te fazer mal, pois tenho muito povo nesta cidade".
Na casa de Justo. —- Quando Paulo deixou a sina goga, promoveu reuniões na casa
que estava "junto de sinagoga", talvez vizinha. Aqui Paulo e seus dois com panheiros
continuaram a pregar. Isto exasperou os ju deus de tal modo que eles decidiram fazer
com que Paulo fosse expulso ou punido. Mias aconteceu que na quele mesmo tempo, um
novo governador foi nomeado para governar Acais.
Ante Gálio. — Seu nome era Gálio e era conheci do como um homem muito amável
e gentil. Pensando que ele seria facilmente influenciado, os judeus pren deram Paulo e o
levaram perante a cadeira do julga mento, dizendo falsamente "Este persuade os
homens a servir a Deus contra a lei".
Paulo levantou-se e indicou de qualquer maneira que queria responder à acusação;
mas Gálio o impe diu e, dirigindo-se aos judeus, disse: "Se houvesse ó judeus, algum
agravo ou crime enorme, com razão vos sofreria; mas se a questão é de palavras e de
nomes, e da lei que entre vós há, vede-o vós mesmos: porque eu não quero ser juiz
dessas coisas".
E expulsou-os do tribunal.
Assim Paulo não sofreu injúrias, como o Senhor havia prometido. Mas os judeus
sim, pois os gregos pegaram seu líder e o açoitaram mesmo diante da ca deira de
julgamento.
Paulo permaneceu em Corinto um ano e meio, e estabeleceu lá uma forte igreja.

— 177 —
Então, como se aproximasse o tempo da Páscoa em Jerusalém, ele despediu-se dos
Santos; e tomando Áquila, Priscila, Silas e Timóteo, seus amigos e com panheiros fiéis,
partiu para Éfeso, daí para a Cesaréia e Jerusalém.

— 178 —
LIÇÃO 33

A TERCEIRA VIAGEM MISSIONARIO DE PAULO DE ANTOQUIA A EFESO

“E niguém toma para si esta honra se não o que é chamado por Deus como Aarão”

—x. x. x. x—
Uma Promessa. — Quando Paulo se deteve em Éfeso a caminho de Jerusalém, como
mencionamos na lição anterior, os Judeus a quem ele pregou pediram-lhe que
permanecesse um pouco mais entre eles. Não sendo possível atendê-los, prometeu voltar
novamente, se Deus quizesse. Esta promessa, como veremos, Pau lo cumpriu literalmente.
Saudações à Igreja. — Não sabemos se ele chegou a Antióquia em tempo de estar
presente à Páscoa. So mos levados a crer que não o fez, pois tudo o que sabe mos de sua
visita é que ele saudou a Igreja e continuou para Antióquia.
Início da Terceira Viagem. — Após ter ficado algum tempo com a importante Igreja da
Antióquia, Paulo iniciou sua terceira viagem missionária. É difí cil determinar exatamente
o curso que ele seguiu, mas desde que Lucas nos conta que ele esteve "cm todo ò país da
Galácia e Frigia", podemos concluir com segu rança que ele visitou sua cidade natal, Tarso,
bem como as cidades de Derbe, Listra, Icônio e possivelmen te Antióquia na Pisídia. O bom
povo da Galácia tam-

— 179 —
bem teve o prazer de receber o apóstolo que foi o pri meiro a lhes pregar o Evangelho, e a
quem ele havia tão bondosamente administrado em aflição.
Também não sabemos com certeza quem foram seus companheiros. Timóteo, sem
dúvida, foi um dos que o acompanharam em toda a sua viagem.
APOLO
Um Eloquente Pregador. — Enquanto «Paulo e Ti móteo estava visitando as Igrejas na
Galácia e na Fri gia, vamos adiante deles até Éfeso, pois lá se encontra um homem que
devemos conhecer. Seu nome é Apoio e ele veio a Alexandria. Era, sem dúvida, um dos
mais eloquentes pregadores do Evangelho naqueles dias.
Mas logo que chegou a Éfeso, "conhecia somente o batismo de João". Havia aceitado a
mensagem de João Batista, mas não tinha ouvido o Evangelho como havia sido ensinado
por Jesus e Seus discipulos. Pa recia desconhecer também a missão do Espírito Santo.
Com ele havia outros homens que tinham a mes ma crença incompleta.
Nova Luz — Acreditando ter a verdade, estes ho mens foram à mesma sinagoga na
qual Paulo pregou quando os judeus lhe pediram que ficasse mais tempo e Apoio falou ao
povo. Na congregação se achavam Áquila e Priscila. Estes dois bons cristãos perceberam
imediatamente que Apoio não compreendia o evange lho; assim, eles o convidaram para ir
à sua casa e "lhe expuseram minuciosamente os caminhos de Deus".
Logo depois disto, Apoio deixou Éfeso e partiu para Corinto, levando consigo uma
carta de recomen dação dos Santos em Éfeso.
É CONCEDIDO O ESPÍRITO SANTO
As coisas se achavam neste pé quando Paulo che gou a Éfeso. Encontrou os doze
homens que haviam

— 180 —

aprendido o evangelho como Apoio o sabia. Quiindo disseram a Paulo que acreditavam
no Evangelho, ôlr lhes perguntou: "Recebestes vós já o Espírito Sanlo quando crestes?"
E eles disseram-lhe: "Nós nem ainda ouvimos que haja Espírito Santo".
— "Em que sois batizados então?"
— "No batismo de João" responderam-lhe eles.
— "Certamente João batizou com o batismo do arrependimento dizendo ao povo que
cresse no que após ele havia de vir, isto é, em Jesus Cristo.
Eles foram batizados pela autoridade própria em nome do Senhor Jesus. Paulo então
"impondo-lhes as mãos, veio sobre eles o Espírito Santo e falavam lín guas e
profetizavam".
Três meses na sinagoga — Durante três meses Pau lo continuou a pregar na sinagoga,
"disputando e per suadindo-os acerca do reino de Deus". Durante este tempo, ele
trabalhou em seus ofício mantendo-se a si próprio com suas mãos. Diariamente a Igreja
crescia em força, e diariamente seus inimigos se tornavam tão mais acérrimos em sua
oposição que Paulo saiu da si nagoga, e fazia suas reuniões numa escola onde ensina va um
homem chamado Tirano.
Dois anos em Éfeso — Neste lugar Paulo trabalhou durante dois anos, um período em
sua vida marcado por maravilhosas manifestações do Senhor. Doentes eram curados pelo
poder da fé, nas formas mais mila grosas. Algumas vezes Paulo não podia visitar em pes -
soa estes doentes, eles se curavam apenas tocando um lenço ou um avental que ele tivesse
usado. "Assim o nome do Senhor Jesus Cristo era engrandecido".
HOMENS QUE AGIAM SEM AUTORIDADE
Filhos de Sceva — Entre aqueles que testemunha ram estes milagres haviam alguns
vagabundos judeus

— 181 —

que ganhavam a vida angariando do povo, fingindo ser mágicos. Quando viram Paulo
curar os doentes em no me de Jesus, pensaram que podiam fazer o mesmo e assim
ganharem uma grande quantidade de dinheiro. Assim, um dia estes sete homens, que
eram filhos de Sceva, encontrando um homem que se achava domi nado por um mal
espírito, disse um deles: "Esconju ro-vos por Jesus a quem Paulo prega", a sair dele.
— "Conheço a Jesus e bem sei quem é Paulo, mas
quem sois vós?"
"E, saltando neles o homem que tinha o espirito maligno e assenhoreando-se de
dois, poude mais que eles, de tal maneira que, nus e feridos, fugiram daque la casa".
A Grande Fogueira — O tratamento que estes sete homens receberam pela sua
hipocrisia, logo se espar ramou por toda a cidade. Muitos que haviam pratica do tais
artes, como os filhos de Sceva, trouxeram to dos os seus livros de mágica e fizeram uma
fogueira com eles. Paulo viu se queimar naquele dia uma quan tidade de papeis e livros
que valiam cerca de cincoen-ta mil peças de prata.
Festa anual — Todos os anos em Éfeso, no mês de maio, havia um grande festival
em honra à Deusa Dia na. Homens ricos vinham de todas as partes da Ásia "e pagavam
vastas somas de dinheiro para diversões en tre o povo". Eram de diferentes espécies.
Nos teatros haviam consertos e espetáculos; no hipódromo, corri das; no estádio, jogos
de ginástica, de correr, pular e lutar. Havia cenas barulhentas tanto de dia como de
noite. Em todas as horas do dia havia alegres procis sões ao templo, seguindo-se os
animais coroados com guirlandas, levados ao sacrifício. "Vagabundos e bê bados
podiam ser vistos quase em todos os lugares na quela época" (Weed). As lojas e bazares
enchiam-se de todas as coisas atraentes daquela época, que os pais e os amigos
compravam para eles próprios e para aque-

— 182 —

lês que estavam distantes. Os principais enfeites eram os pequenos modelos de Diana e seu
santuário. Os com pradores mais pobres compravam modelos feitos de madeira, enquanto
os ricos os compravam de ouro.
Paulo, sem dúvida havia dito aos efésios, como o fez aos atenienses, que Deus não é
feito de madeira, de prata ou de ouro, e nem esculpido pela arte do homem. Milhares de
pessoas acreditavam em Paulo e adora vam o verdadeiro Deus. Conseqüentemente, nesta
festa anual, não havia tantas imagens de Diana como ti nha havido nos outros festivais.
REUNE-SE UMA MULTIDÃO
Demétrio — Demétrio, um ourives de prata, que fazia nichos de prata para Diana,
ficou muito agitado quando viu interferência em seu negócio. Reuniu os que trabalhavam
no mesmo ramo e disse: "Varões, vós bem sabeis que deste oficio temos a nossa
prosperida de. E bem vedes et ouvis que não só em Éfeso, mas até quase em toda a Ásia,
este Paulo tem convencido e afastado uma grande multidão, dizendo que não são deuses os
que se fazem com as mãos".
Ele continuou a falar a eles até que todos se agi taram e gritaram: "Grande é a Diana
dos efésios".
Os companheiros de Paulo são presos — Logo a cidade toda entrou em confusão.
Reuniu-se uma multi dão que tentava encontrar Paulo. Não o conseguindo, apanharam
Gaio e Aristarco, dois dos companheiros de Paulo e os arrastaram ao teatro.
Paulo foi mantido em segurança por seus amigos que se recusaram deixá-lo entrar
no teatro, apesar de le insistir em fazê-lo.
Um judeu chamado Alexandre tentou falar com a multidão, mas ninguém queria
ouvir e continuaram a gritar por duas horas: "Grande é a Diana dos efé sios".

— 183 —
Quando cansaram, o escrivão de cidade levantou-se e lhes disse que era melhor que
fossem para casa e ficassem quietos, ou os romanos poderiam acusá-los de "sedição". Ele
disse também que se Demétrio tinha qualquer questão contra Paulo, poderia mandar
pren dê-lo e apresentá-lo na corte.
Como a metade deste povo, como no caso de todas as multidões, não sabia porque
tinha vindo, começa ram a evacuar o teatro. "Os assentos de pedra foram esvasiados
gradualmente, cessou o grande clamor e os arruaceiros se dispersaram para as svias
várias ocupa ções e diversões".
Como Paulo já havia feito os necessários prepa rativos para ir à Macedônia, chamou
seus discípulos a si e após abraçá-los, deixou Éfeso, até onde sabemos, para sempre.
Posteriormente, contudo, como veremos na próxima lição, ele encontrou alguns Élderes
e San- los de Éfeso.

— 184 —
LIÇÃO 34

TERCEIRA VIAGEM DO MISSIONÁRIO


(Continuação)

Visita de despedida de Paulo às Igrejas que ele havia estabelecido. —x.x.x.x—

Durante os seguintes nove ou dez meses — do verão de 57 A. D. até à primavera de


58 A. D. após a carinhosa despedida de Paulo aos discípulos de Éfeso, sabemos muito
pouco a respeito de suas viagens. Das epístolas que ele escreveu durante este período
tira mos a maioria do que é conhecido a respeito de seus trabalhos e deveres nos lados da
Macedônia.
Ele primeiramente foi a Troas, onde esperava en contrar Tito, o qual ele havia
enviado a Corinto. Aqui ele diz: "Não tive descanco no meu espírito, porque não achei
ali meu irmão Tito". (II. Cor. 2:13)
Preocupado com o que tinha ouvido sobre as más condições predominantes na
Igreja de Corinto, ele par tiu de Troas para Filipos.
Uma alegre recepção — Aqui ele encontrou alguns <ie seus mais queridos Santos, pois os
conversos fili-penses, apesar de estarem entre os mais pobres, finan ceiramente, eram
dos mais fiéig de todas as Igrejas. Paulo aceitou seu auxilio quando recusou-o de
outras fontes. Esta foi uma Igreja que Paulo não reprovou. Que alegre acolhida estes
fiéis santos devem ter dado ao apóstolo! Como seus corações devem ler exultado ao
recordarem as experiências que viveram quando

— 185 —
Paulo, Timóteo e Silas pregaram pela primeira vez às mulheres que se achavam às
margens do rio. Lídia e o carcereiro e um enorme grupo de outros membros fiéis /
estavam todos lá para relembrarem a sua prisão, seu açoitamento, o tronco, os hinos
cantados à meia noite, o terremoto, o temor das autoridades e todas as mara vilhosas
experiências daquela primeira visita a Filipos.
.A depressão de Paulo — Não obstante, apesar da boa acolhida, Paulo diz: "a nossa
carne não teve re pouso algum, antes em tudo fomos atribulados: por fora combates,
temores por dentro. Mas Deus, que con sola os abatidos, nos consolou com a vinda de Ti
to". (II Cor. 7:6).
Segunda epístola aos Coríntios — Tito contou-lhes que os membros da Igreja em
Corinto que não estavam agindo direito foram excomungados e que muitos dos santos
haviam melhorado. Ao ouvir isto, Paulo escre veu outra carta a eles (a segunda epístola
aos corin-tios) e mandou Tito de volta com ela.
Ofertas — Tito parece ter sido um dos principais em arrecadar contribuições para o
socorro dos pobres na Judéia. Quando voltou a Corinto continuou a fazer arrecadações
para Paulo levar a Jerusalém em futuro próximo. (II Cor. 8)
A próxima vez que ouvimos de Paulo, ele se en contrava em Corinto. Aí ele ouve que
os Gaiatas esta vam dizendo que ele não era um apóstolo porque Je sus não o havia
escolhido como um dos Doze. Assim, ele escreveu uma carta aos Gaiatas, na qual ele diz:
Os Gaiatas são reprovados — "Maravilho-me que tão depressa passásseis daquele
que vos chamou à gra ça de Cristo para outro evangelho". (Gal. 1:6)
Então ele admoesta a não aceitarem qualquer ou tro Evangelho, pois qualquer que
pregar outro Evan gelho, "seja anátema" (amaldiçoado).
Aqui ele também escreveu sua espístola aos ro manos.

— 186
Paulo preparou-se para ir à Palestina, dirclnmm- te de Corinto, mas soube que
estava sendo tramado um plano para tirar sua vida. Para frustá-lo, ele volln polo mesmo
caminho até a Macedônia. Quando o grupo chegou novamente a Filipos, Timóteo e
vários ou lios seguiram na frente para Troas. Paulo e Lucas permii- neceram por algum
tempo e depois juntaram-se novii-mente ao grupo em Troas.

UMA LONGA E MEMORÁVEL REUNIÃO

Quando chegou o domingo, todos os discípulos se reuniram "para partir o pão" e


Paulo pronunciou seu discurso de despedida. Quando estava para deixá-los, cedo,
persuadiram-no a continuar seu discurso até à meia-noite, o que ele fez.
A reunião foi feita num cenáculo, cujas janelas estavam abertas para que a
congregação pudesse gozar o ar fresco da noite.
Êutico cai — Sentado numa das janelas estava um jovem chamado Êutico, que havia
ouvido o sermão o tanto quanto tinha podido e então adormecera. En quanto Paulo
falava, Êutico ia se inclinando sempre até que perdeu o equilíbrio e caiu ao pátio em
baixo. Sem dúvida, um grito de mulher interrompeu primei ramente o sermão. O povo
levantou-se e correram pa ra baixo, e levantaram o jovem como morto.
Revivido — Paulo também desceu e abraçando o rapaz, disse: "Não vos perturbeis
que a sua alma m" lê está".
Cheios de graça por ter sido restaurada a vida do jovem, o povo voltou ao cenáculo
e Paulo lhes pregou até pela manhã.
Os companheiros de Paulo foram de navio ale Assos, mas ele preferiu andar as vinte
milhas sozinho.

— 187 —

Em Assos ele embarcou e navegou até Mitilene, daí a Chios e depois para Samos, e
permaneceram em Tro-gilio cerca de uma milha de lá.
Em Mileto — No dia seguinte, Paulo passou de na vio por Éfeso, julgando que não
teria tempo para visi tar os Santos, pois queria estar em Jerusalém no dia de Pentecostes.
Mas quando chegou a Mileto, a algu mas milhas de Éfeso, enviou uma mensagem para
que os Élderes da Igreja viessem ter com ele. Isto eles fi zeram com toda a satisfação e
ouviram com intenso interesse suas palavras, (veja Aios 20:17-35)
"E havendo dito isto pôs-se de joelhos e orou com todos eles".
Aquele pequeno grupo de cristãos reunidos num lugar obscuro na praia, apresenta
às nossas mentes uma das mais belas figuras do mundo, e sua saudação de despedida
uma ds mais impresionantes e patéticas.
Uma triste despedida — Quando o querido após tolo estava para de(ixtá-los,
"Levantou-se um grande pranto entre todos e, lançando-se ao pescoço de Paulo, o
beijavam, entristecendo-se muito, principalmente pe la palavra que dissera, que não
viriam mais o seu ros to". Parecia que eles não podiam suportar a dor de vê-lo partir.
Agarraram-se a ele até mesmo quando embarcou e foi com dificuldade que seus
companhei ros conseguiram afastá-lo.
Uma cena semelhante verificou-se em Tiro, onde o grupo permaneceu sete dias.
Enquanto Paulo visita va e confortava os Santos ali, eles o aconselhavam a não ir a
Jerusalém onde sua vida estaria em perigo. Mas Paulo não se deixou convencer.
Quando chegou a hora da despedida, os homens, mulheres e crianlças, todos foram
com Paulo e seu grupo até a praia. Ali se ajoelharam, oraram e fizeram as despedidas.
Paulo e seus companherios embarca-

— 188 —

ram e os Santos tristemente regressaram para seus la res.

EM CESARÉIA
Em Cesaréia os missionários foram hospedados por Filipe, o evangelista, um dos
sete diáconos esco lhidos.
Uma profecia — Enquanto lá estavam, Ágabo, um profeta, desceu de Jerusalém e
após cumprimentar a todos, tomou a "cinta de Paulo e ligando-se os seus próprios pés e
mãos, disse: Assim ligarão os judeus, em Jerusalém, o varão de quem é esta cinta, e o en -
tregarão nas mãos dos gentios".
Ouvindo esta profecia, Lucas e o grupo de Pau lo rogavam para que ele não fosse a
Jerusalém. Mas Paulo respondeu:
"Que fazeis vós, chorando e magoando-me o co ração? Porque eu estou pronto, não
só a ser ligado, mas ainda a morrer em Jerusalém pelo nome do Se nhor" ao que seus
amigos responderam: "Faça-se a vontade do Senhor".
De Cesaréia viajaram de carruagem até Jerusalém onde foram recebidos festivamente
pêlos irmãos
— 189 —

LIÇÃO 35 EXCITANTES EXPERIÊNCIAS EM JERUSALÉM

"Na grande massa do mal, ao rolar e au mentar, há sempre um bem


trabalhando pela libertação e pelo triunfo".

No quartel-general — Em Jerusalém, Paulo e seus companheiros se reuniram à


Igreja e sem dúvida de ram o dinheiro que lhe havia sido entregue pelas igre jas dos
gentios para benefício dos pobres na judéia. Aconselhado por Tiago, o irmão do
Senhor, que pre sidia a igreja em Jerusalém, Paulo fez a barba, cortou o cabelo e fez
outras coisas para mostrar aos judeus que ele tinha boa vontade em observar as leis
judaicas.
Falsamente acusado — Depois de estar em Jerusa lém por cerca de uma semana, foi
ao templo para ado rar. Aconteceu que se achavam no Templo alguns ho mens que
tinham visto Paulo na Ásia com os gentios. Pensando que ele tinha trazido alguns dos
gentios ao templo, agitaram o povo, prenderam Paulo e gritaram: "Varões israelitas,
acudi: este é o homem que por to das as partes ensina a todos contra o povo e contra a
lei e contra este lugar; e, demais disto, introduziu também no templo os gregos e
profanou és lê santo lu gar".
Naturalmente, isto não era verdade, mas serviu para agitar a multidão que
arrastou Paulo para fora do templo e fechou as portas. Em sua agitação esta vam
prestes a matar Paulo, o que teriam feito se não

— 190 —
fosse a providencial interferência de um oficial roma no.
Postada num castelo ao norte do templo havia uma guarda de soldados, sob o
comando de um oficial chamado o "tribuno da corte".
Salvo da Morte — Quando alguém disse ao capi tão, cujo nome era Cláudio Lisias
que havia confusão na parte exterior do templo apressaram-se os soldados para o
local, chegando lá exatamente quando a multi dão começava a bater e a pisar em Paulo
para que mor resse. Os soldados salvaram 'Paulo, mas o capitão, pen sando que era um
desordeiro, mandou que fosse acor rentado.
"Quem é e o que tem feito?" perguntou Cláudio aos enraivecidos judeus.
Alguns gritaram uma coisa, outros outra, em tal confusão que o tribuno nada
poude compreender. Assim, disse aos soldados: "conduzam-no à fortaleza".
Nos degraus do castelo — Ao levarem Paulo, a multidão, agindo como lobos atrás da
presa, acompa nhou-os, gritando: "Mata-o". Ao subirem os degraus da fortaleza,
Paulo, faiando em grego, disse ao tri buno :
— É-me permitido dizer-te alguma coisa?"
— "Sabes o grego", respondeu o capitão, "Não és porventura aquele egípcio que
antes destes dias fez uma sedição e levou ao deserto quatro mil salteado res?"
— "Sou um homem judeu, cidadão de Tarso, ci dade não pouco célebre na Sicília:
rogo-te, porém que me permitas falar ao povo".
Na esperança de saber alguma coisa a respeito do motim, o tribuno deu seu
consentimento. Paulo vol tou-se à multidão e pediu-lhes que fizessem silêncio.
Cessaram de gritar, especialmente quando ouviram que Paulo falava em hebreu, sua
própria língua (Leia todo o discurso, como se acha registrado em Atos 22:1-21)

— 191 —
A palavra "gentios" — Os judeus ouviram em si lêncio até que ele mencionou a
palavra "gentios". En tão eles gritaram: "Tira da terra um tal homem, por que não
convém que viva". Em seu rancor, arranca ram suas vestes e jogavam pó no ar para
mostrar o quanto o odiavam.
Paulo é açoitado — Estando ainda em dúvida quanto ao que Paulo havia feito, o
tribuno mandou que ele fosse levado para dentro da fortaleza e o açoi taram até que
Paulo dissesse porque os judeus grita vam tanto contra ele. Ao prenderem-no para
açoitá-lo. Paulo disse ao centurião que estava ao seu lado: "É-vos lícito açoitar um
romano, sem ser condenado?"
Ouvindo isto o centurião correu ao tribuno dizen do: "Vê o que vais fazer, porque
este homem é ro mano". Então o tribuno veio e disse a Paulo:
— "Dize-me, és tu romano?"
— "Sim", respondeu Paulo.
— "Eu com grande soma de dinheiro alcancei es te direito de cidadão", respondeu
Cláudio.
— "Mas eu sou-o de nascimento", respondeu or gulhosamente Paulo.
Quando eles ouviram isto, aqueles que iam tortu rá-lo afastaram-se dele e o tribuno
também se pertur bou, pois que não tinha o direito de acorrentar um ci dadão romano
que não tenha tido um julgamento jus to.

PERANTE ANANIAS, O SUMO-SACERDOTE


Na manhã seguinte Paulo foi levado à presença de Ananias, o Sumo-Sacerdote, e do
Conselho.
Paulo é espancado — "E, pondo Paulo os olhos no conselho, disse: Varões irmãos,
até ao dia de hoje te nho andado diante de Deus com toda a boa consciên-
cia".

— 192 —
Ao ouvir isto, Ananias enfureceu-se e disse aos que estavam ao lado de Paulo:
— "Firam-no na boca".
— "Deus te ferirá, parede branqueada", respon deu Paulo com repentina fúria,
"tu estás aqui assenta do para julgar-me conforme a lei, e contra a lei me mandas
ferir?"
Aqueles que estavam sentados ao lado de Paulo, disseram: "Injuriais o sumo-
sacerdote de Deus?" En tão, Paulo, controlando seus sentimentos, disse:
— "Não sabia, irmãos, que era o sumo-sacerdote: porque está escrito: Não dirás
mal do príncipe do teu povo.
Duas Seitas — Paulo então notou que no conse lho haviam dois grupos, alguns
fariseus e outros sadu-ceus; assim, falando sabiamente sobre a ressurreição,
conquistou os fariseus para o seu lado, que disseram: "Nenhum mal achamos neste
homem, e, se algum espí rito ou anjo lhe falou, não resistamos a Deus". Isto enfureceu
os fariseus e as duas seitas começaram a discutir e tanto se enfureceram que o tribuno,
temen do que eles esfacelassem Paulo, mandou que seus sol dados Q levassem de volta à
fortaleza.
Na noite seguinte, quando Paulo ainda estava no castelo, o Senhor surgiu ao seu
lado e disse:
Conforto Divino — "Paulo, tem ânimo: porque, como de mim testificaste em
Jerusalém, assim importa que testifiques também em Roma".
Conjuração assassina — Na manhã seguinte, cer ca de quarenta desses judeus
enraivecidos, ligaram-se por um juramento, de que não comeriam e nem bebe riam
enquanto não matassem Paulo. Para isto real i/a r, disseram ao sumo-sacerdote:
"conjuramo-nos, sol) poiui de maldição, e nada provaremos até que matemos ;i 1'an Io.
Agora, pois, vós, como conselho, rogai no Irilmno que v<Ho traga amanhã, como que
querendo snlx-r

— 193 —

mais alguma coisa de seus negócios e, antes que che gue, estaremos prontos para o
matar".
Mas o filho da irmã de Paulo soube da conjura ção e indo à fortaleza, contou, a
seu tio tudo o que sa bia. Após ouvir a história de seu sobrinho, Paulo cha mou um dos
centuriões e disse: "Leve este mancebo ao tribuno, porque tem alguma coisa que lhe
comuni car". O centurião fez como lhe havia sido dito e disse ao tribuno:
— "O preso Paulo, chamando-me a si rogou-me que te trouxesse este mancebo,
que tem alguma coisa que te dizer".
— "Que tens a me contar?" perguntou o tribuno.
"Os judeus combinaram rogar-te que amanhã le ves Paulo ao conselho, como que
tendo de inquirir de le mais alguma coisa, mas tu não creias porque mais de quarenta
homens dentre eles lhe andam armando ciladas: os quais se obrigaram, sob pena de
maldição, a não comerem nem beberem até que o tenham morto.
O tribuno acreditou no que lhe dizia o jovem e disse:
— "Não contes a ninguém que me mostrastes es tas coisas".
E chamando dois centuriões, disse:
— "Aprontai para as três horas da noite, duzentos soldados, setenta cavaleiros e
duzentos arqueiros para irem até Cesaréia. Aparelhai as cavalgaduras, para que
pondo nelas a Paulo, o levem a salvo ao presidente Félix".
Cláudio escreveu então uma carta ao Governador Pélix, explicando brevemente
porque Paulo lhe estava sendo enviado (Atos 23:25-30).
Mandou também um recado aos acusadores de Paulo, dizendo que fossem ao
governador fazerem suas queixas.

— 194 —

Quando Paulo, são e salvo, apareceu diante de Fé-lix, o governador, este lhe
perguntou:
— "De que província sois?"
— "Da Silícia", respondeu Paulo.
"Ouvir-te-ei, disse, quando também aqui vieram os teus acusadores".
Paulo foi então colocado na sala de julgamento de Herodes, até o seu julgamento
cinco dias mais tarde.
Preso — Assim, a vida de Paulo, dentro do curto espaço de alguns dias, havia sido
salva por duas vezes daqueles que queriam matálo. Deus lhe havia fa lado dizendo:
"Paulo, tem ânimo" e apesar de ainda ser um prisioneiro, havia paz em sua alma pois
ele sabia que somente havia feito o que era certo e que Deus aprovava suas ações.

— 19 5 —
LIÇÃO 36 DOIS ANOS EM PRISÃO

"Tenho a consciência livre de ofensas a Deus e aos homens".


Joseph Smith

—x. x. x. x — PERANTE FÉLIX

Cinco dias após ter sido Paulo colocado na prisão, o sumo-sacerdote Ananias e
alguns dos Élderes vieram a Cesaréia, para depor contra ele. Trouxeram com ele um
advogado chamado Tértulo.
Félix, o governador romano, mandou buscar o pri sioneiro para ouvir do advogado
judeu as coisas que Paulo tinha feito. O advogado começou seu discurso lisonjeando
Félix, para obter seu favor e então acusou Paulo da seguinte maneira:
Paulo é falsamente acusado — "Temos achado que este homem é uma peste, promotor
de sedições entre todos os judeus, por todo o mundo, e o principal de fensor da seita dos
nazarenos . O qual intentou também profanar o templo: e por isso o prendemos e
conforme a nossa lei o quizemos julgar".
E todos os judeus gritavam:
— "Sim, estas coisas são assim".
"Quando acabaram de falar, Félix acenou com sua mão para que Paulo falasse em
sua própria defesa, o que ele fez, dizendo:

196 —

— "Porque sei que já vai para muitos anos que desta nação és juiz, com tanto melhor
ânimo respondo por mini. Pois bem podes saber que não há mais de doze dias que subi a
Jerusalém a adorar, mas nego que tenha disputado com qualquer homem ou que tenha
amotinado o povo, nas sinagogas nem na cidade. Nem tão pouco podem provar as coisas
de que agora me acusam. Mas confesso-te isto: que, conforme aquele caminho que
chamam seita, assim sirvo ao Deus de nossos pais, crendo tudo quanto está escrito na lei e
nos profetas, e na ressurreição dos mortos, tanto para os justos como para os injustos. E
por isso procuro sempre ter uma consciência sem ofensa tanto para com Deus como para
com os homens".
Inocente, mas prisioneiro. — íPaulo falou com tan to entusiasmo e sinceridade que
Félix se convenceu de que falava a verdade. Quando ele concluiu, Félix sabia que era
inocente, mas, com medo de desagradar os judeus, que como ele via, odiavam a Paulo,
disse aos oficiais que mantivessem Paulo prisioneiro, mas que lhe dessem alguma
liberdade, e que permitissem que seus amigos viessem vê-lo. Assim Ananias e Tér tulo
tiveram que voltar a Jerusalém sem ter visto Paulo punido. Eles ainda esperavam,
contudo, fazer com que fosse açoitado ou morto.
Perante Félix e Druscila. — Vários dias mais tarde, Félix e sua esposa Druscila, uma
judia, chamaram Paulo perante eles para ouvirem a respeito de sua dou trina cristã.
Infelizmente o presidente e sua cxpòsn não tinham vivido corretamente. E assim,
quando Paulo falou da "justiça e da temperança, e do jui/ o vindouro, Félix,
espavorido, respondeu:
— "Por agora vai-te e em tendo oporlunidiidc Ic chamarei".
Félix não era um juiz justo, mas ijucrin livrnrl Paulo. Queria porém dinheiro
paru fa/.ê-lo. <',liiiinnil|

— 197 —
o prisioneiro perante si muitas vezes e sugeriu que se Paulo lhe desse dinheiro ele o
libertaria; mas Paulo desprezava a intimação de suborno.
Assim, durante dois anos Paulo permaneceu na pri- ceu mas, durante aquele tempo
ele pregou o Evangelho a muitos de seus amigos e talvez a muitos estranhos também.
Quando Félix foi sucedido, "que rendo comprazer aos judeus, deixou a Paulo preso".
PERANTE FESTO
Outra conspiração perversa. — Félix foi sucedido por Festo, que era uni presidente
mais justo e honrado. Festo permaneceu em Cesaréia cerca de três dias, e su biu para
visitar Jerusalém. Então os sacerdotes prin cipais e outros tentaram envenenar sua
mente contra Paulo e perguntaram se podiam trazê-lo de Cesaréia a Jerusalém para
julgá-lo. O seu plano perverso era matá-lo no caminho.
Mas Festo respondeu: "Este prisioneiro será man tido em Cesaréia e eu mesmo irei
para lá. Quem den tre vós tem poder, desça comigo e prove que este ho mem é tão mau
como dizem".
Paulo nega as acusações. — Dez dias mais tarde, em Cesaréia, Festo assentou-se na
cadeira do julgamen to e mandou que trouxessem Paulo perante ele. No vamente
acusaram Paulo de muitas coisas más, mas não podiam provar nenhuma delas. Paulo
novamente respondeu por si mesmo, dizendo:
— "Eu não pequei em coisa alguma contra a lei dos judeus, nem contra o Templo,
nem contra César".
Festo, desejoso de agradar os judeus e não saben do que eles queriam matar Paulo,
disse:
— "Queres tu subir a Jerusalém e ser lá perante mim julgado acerca destas
coisas?"
— "Estou perante o tribunal de César, onde con vém que seja julgado; não fiz
agravo algum aos judeus

— 198 —
como tu bemo sabes; ninguémme pode entregar a eles, apelo para César.
Apelo a César. — Paulo, como já vimos, era um cidadão romano, e portanto a
lei lhe facultava o di reito de ser julgado emRoma, perante César, o impe rador.
Então Festo, tendo falado com o conselho, disse a Paulo:
—"Apelaste para César? Para César irás!" AssimPaulo voltou <à prisão à espera de
uma oca sião favorável para ser enviado a Roma.
PERANTE O REI A GRIPA
Quando Paulo esteve cego logo após a sua visão, o Senhor disse: "... este é para mim
um vaso escolhi do, para levar o meu nome diante dos gentios, e dos fi lhos d'Israel".
Entre as pessoas a quem Paulo pregou o Evange lho, estava o rei Agripa e sua irmã
Berenice. Agripa, que reinava sobre parte da terra no lado este do rio Jordão, fez uma
visita a Festo; e o presidente aprovei tou a ocasião para falar com o rei a respeito de
Paulo, a maneira como tinha sido feito prisioneiro por Félix, como os Judeus o
acusavam, sem conseguirem provar suas acusações; como ele se recusou a ir a
Jerusalém e como finalmente havia apelado para César. (Atos 25:13-22).
Disse Agripa: — "Festo, eu mesmo gostaria de ouvir este homem".
— "Está bem", disse Festo, "amanhã o ouvirás".
Uma Assembleia Real. — Pela manhã, Agripa r Berenice vieram com grande pompa",
o que signifini, sem dúvida, que ele estava vestido com sons mimlns de púrpura e ela com
suas jóias brilhantes c servidos por escravos vestidos com cores berrantes. lira u n i u

— 199 —

assembleia real e a ocasião era solene, mas o persona gem mais real entre eles era o
humilde prisioneiro que apareceu em correntes para defender sua inocência e buscar a
justiça de sua causa.
O rei, olhando Paulo com mais curiosidade do que desprezo, disse:
— "Permite-se que te defendas". Então Paulo, dirigindo-se principalmente a Agri-pa,
disse um impressionante discurso, como se segue:
— "Tenho-me por venturoso, ó rei Agripa, de que perante ti me haja hoje de
defender de todas as coisas de que sou acusado pêlos judeus; mormente sabendo eu que
tens conhecimentos de todos os costumes e ques tões que há entre os judeus; pelo que te
rogo que me ouças com paciência.
A minha vida, pois,desde a mocidade, qual haja sido, desde o principio em
Jerusalém, entre os de mi nha nação todos os judeus o sabem.
Sabendo mais de mim, desde o princípio (se o qui-zerem testificar) que, conforme a
mais severa seita da nossa religião, vivi fariseu.
E agora pela esperança da promessa que por Deus foi feita a nossos pais estou aqui e
sou julgado, á qual as nossas doze tribos esperam alcançar, servindo a Deus
continuamente, noite e dia. Por esta esperança, ó Rei Agripa, eu sou acusado pêlos
judeus.
Pois que? julga-se coisa incrível entre vos que Deus ressucite os mortos? Bem tinha eu
imaginado que con tra o nome de Jesus nazareno devia eu praticar muitos atos. O que
também fiz em Jerusalém. E, havendo recebido poder dos principais dos sacerdotes,
encerrei muitos dos santos nas prisões e quando os matavam eu dava o meu voto contra
eles. "E, castigando-os muitas vezes por todas as sinagogas, os obriguei a blasfemar. E,
enfurecido demasidamente contra eles, até nas cida des estranhas os persegui. Sobre o
que, indo então a

— 200 —

Damasco, com poder e comissão dos principais dos sa cerdotes, ao meio-dia, ó rei, vi no
caminho uma luz do céu, que excedia o esplendor do sol, cuja claridade me envolveu a
mim e aos que vinham comigo. E, caindo nós todos por terra, ouvi uma voz que falava, e
em língua hebraica dizia: Saulo, porque me persegues? Dura coisa te é recalcitrar contra
os aguilhões. E disse eu: Quem és, Senhor? E ele respondeu: Eu sou Jesus, a quem tu
persegues: Mias levanta-te e põe-te sobre teus pés, porque te apareci por isto, para te pôr
por ministro e testemunha tanto das coisas que tens visto como daquelas pelas quais te
aparecerei ainda; livran do-te do povo e dos gentios, para os quais agora te en vio. Para
lhes abrires os olhos, e das trevas os conver teres à luz, do poder de Satanaz a Deus; afim
de que recebam a remissão dos pecados, e sorte entre os san tificados pela fé em mim.
"Pelo que, ó rei Agripa, não fui desobediente à vi são celestial. Antes anunciei
primeiramente aos que está em Damasco e em Jerusalém, e por toda a terra da Judéia, e
aos gentios, que se emendassem e se con vertessem a Deus, fazendo obras dignas de
arrependi mento. Por causa disto os judeus lançaram mão de mim no templo, e
procuraram matar-me. Mas alcan çando socorros de Deus, ainda até ao dia de hoje per -
maneço, dando testemunho tanto a pequenos como a grandes, não dizendo nada mais do
que o que os pro fetas a Moisés disseram que devia acontecer.
"Isto é, que o Cristo devia padecer, e, sendo o pri meiro da ressureição dos mortos,
devia anunciar ;i l u/, a este povo e aos gentios. E, dizendo ele islo cm sim defesa, disse
Festo em alta voz: — Estás louco, 1'imlo; as muitas letras te fazem delirar. Mas ele disse 1:
Nn<> deliro, ó potentíssimo Festo; antes digo palnvrn.s «Ir verdade e de um são juizo.
Porque o rei, ilianu- de quem falo com ousadia, sabe estas coisas, pois mm rn-iii

— 201 —

que nada disto lhe é culto; porque isto não se fez em qualquer canto". (Atos 26:11-
26).
— "Crês tu nos profetas, ó rei Agripa? Bem sei que crês.
Então disse Agripa: — "iPor pouco me queres per suadir a que me faça cristão".
— "Prouvera a Deus" disse Paulo, "que, ou por pouco ou por muito, não somente
tu, mas também to- dos quantos, hoje me estão ouvindo se tornassem tais e quais eu sou,
exceto estas cadeias".
Após ouvir o grande discurso de Paulo, o rei e sua irmã e o presidente retiraram-se
para um lado e disse ram que não havia motivo para manter Paulo prisio neiro, pois ele
nada tinha feito que merecesse morte ou cadeias.
Bem se podia soltar este homem", disse Agripa a Festo, "se não houvesse apelado
para César".

— 202
Lição 37

A VIAGEM A ROMA

"Deus prometeu que se O respeitarmos em todos os nossos caminhos, ele


dirigirá com segurança nossos passos e em experiências veremos esta
promessa cumprida".

—x.x.x.x—•
Júlio, o Capitão Romano. — Em virtude do apelo de Paulo a César, tornou-se
necessário que ele fosse a Roma, na Itália, onde vivia o imperador Romano. As sim,
quando tudo estava pronto, e a passagem no na vio garantida, Paulo e alguns outros
prisioneiros em barcaram para Roma. Foi posto a cargo de um capitão romano, chamado
Júlio, um homem gentil, honrado, e verdadeiro amigo de íPaulo. Ele reconheceu que o
apóstolo seu prisioneiro, era um homem grande e bom, e possuia sabedoria superior ia
dos mais sábios. Emo cionantes experiências se verificaram em sua viagem que provaram
a Júlio que Paulo não somente era sá bio, mas também inspirado pelo Senhor. Não
imporia onde Paulo estivesse, em cuja companhia fosse coloon-do, em paz, ou em
perseguição, tendo diante de si a vida ou ameaçado pela morte, ele sempre era o mesmo
esforçado pregador do Evangelho — um verdmlciro servo de Seu Senhor e Mestre, Jesus
Cristo. (•: por i^lo que mesmo seus inimigos o respeitavam e o trmiimi «< porque Júlio e
outros homens honestos o ml mi r nvmn e o amavam.

— 203 —
Companheiros. — Dois dos verdadeiros amigos de Paulo estavam com eles, Lucas o
douto historiador, e Aristarco de Tessalônica. Navegando ao norte de Ce-saréia, eles
pararam um dia em Sidon, onde, por cor tesia de Júlio, Paulo desembarcou para ver seus
ami gos que lá viviam. Que alegre e ao mesmo tempo tris te reunião deve ter sido esta. De
Sidon eles navega ram para o norte, além da ilha de Chipre, daí para oeste, além das
praias da Ásia Menor. Em Mira, uma cidade da Lícia, Júlio, o Centurião encontrou um
navio navegando de Alexandria para a Itália e assim transferiu seus prisioneiros do navio
de Adranitum para o de Alexandria. Este último navio estava carre gado de trigo
destinado à Itália, vindo do Egito.
Bons Portos. — Durante muitos dias o navio mo veu-se vagarosamente em virtude de
uma forte venta nia, mas finalmente chegou a uma ilha chamada Cre ta. Seguiram a sua
praia até que encontraram um an coradouro chamado "Bons Portos", perto da cidade de
Lasea. Como não era um bom lugar para passar o in verno, o proprietário decidiu
navegar para outro porto.

PAULO ADVERTE

Como a viagem fosse perigosa, sendo já quasi in verno, Paulo os preveniu a não
partir, dizendo:
"Varões, vejo que a navegação há de ser incómo da, e com muito dano, não só para o
navio e carga mas também para as nossas vidas", e aconselhou-os a per manecer onde
estavam, durante o inverno.
Mas o proprietário do navio, acreditando que Pau lo nada soubesse a respeito de
navegação, disse que podiam ir; e o centurião, crendo que o proprietário do navio tinha
melhor julgamento que Paulo, consentiu em navegar novamente.
Os navios naqueles dias não eram como os vapo res de hoje. Eram rudemente
construidos. tendo um

— 204 —
grande mastro, em cuja cabeça passavam enormes cor. das e uma grande vela. Era
dirigido por dois limões. Estando facilmente sujeito a fazer água, corria o peri go de
adernar, apesar das cordas para amarrar o casco, quando este se enfraquecia pelas
tempestades. Na proa estava pintado um olho, como que para procurar a direção e
vigiar contra perigos. Seus ornamentos eram figuras de divindades pagãs, a quem os
marinhei ros idólatras e supersticiosos procuravam para pedir proteção".
Na opinião de Paulo, seria perigoso tentar cruzar o Mediterrâneo em tal barco, e ele
sabia por inspiração do Senhor que, se os marinheiros tentassem fazê-lo. encontrariam o
desastre.
Havia duzentas e setenta e seis pessoas a bordo quando levantaram âncoras em Bons
Portos e, conti nuaram sua viagem. O bom tempo e o vento favorá vel prometiam uma
viagem bem sucedida e segura; e sem dúvida os marinheiros riam-se de Paulo por seus
temores.
Inicia-se a Tempestade. — Mas, de repente, tudo se modificou. Um forte vento
descendo das montanhas pela praia, abateu-se sobre o navio e o fazia andar à roda. Os
marinheiros eram incapazes de controlá-lo e o leme se desgovernou. Atraz do navio havia
um pe queno barco, que eles agora puxavam a bordo para que quando o navio estivesse
ameaçado de se despedaçar, eles o amarrassem com cordas para que, não se esfa celasse e
não fizesse água.
Mas, não obstante todos os seus esforços, o barco começou a vazar e a ser levado
para alto mar. Foi en tão que começaram a aliviar o barco. Mas ainda o veiu to
tempestuoso açoitava o navio e a chuva aliali»-sc contra ele e o perigo de afundamento
era imiiicnlo aumentava sempre. As horas se prolongai ain pnn dias e os passageiros e
marinheiros esfomeados cniiii nhavam aterrorizados dia e noite. No loivoiro din. n-

— 205 —
lata Lucas, "lançamos ao mar a armação do navio, com as nossas próprias mãos", donde
concluimos que o na vio estava fazendo tanta água, que mesmo os passagei ros auxiliavam
a jogar para fora tudo o que podia ser dispensado.
"E não aparecendo, havia muitos dias, nem sol nem estrelas, e caindo sobre nós uma
não pequena tem pestade, fugiu-nos toda a esperança de nos salvarmos". Mesmo Lucas,
parece, perdeu a coragem, e estava a ponto de desistir.
Ttodos em desespero, com exceção de um. — Sem alimentação regular, pois o que tinham
estava prova velmente estragado, ensopados e gelados, o desespero se apossou de todo o
grupo. Mas havia uma exceção •— (Paulo. Enquanto os outros estavam perdendo a es -
perança, empenhou-se em oração. Nem a falta de con forto e nem o perigo, nem a
oposição aos seus conse lhos, nem tudo isto junto poderia perturbar sua calma que
tanto diferia do temor e da angústia que havia ao seu lado. Havia um grande contraste
entre o inseguro navio e a sua firmeza; estava na escuridão mas a luz divina subsistia
nele. Ele distinguia entre a fraqueza física e a força espiritual, entre os gritos
desesperados ao seu redor e a paz interior, entre os olhos pintados na proa do navio e o
olho que tudo via e que estava com ele, entre as imagens ornamentais de deuses fal sos e
impotentes e o governador de todas as coisas.
Em meio a este desespero e escuridão, Paulo le vantou-se e disse: "Fora na verdade
razoável, varões, ter-me ouvido a mim e não partir de Creta, e assim evi tariam este
incómodo e esta perdição. Mas agora vos admoesto a que tenhais bom ânimo, porque
não se per derá a vida de nenhum de vós, mas somente o navio. Porque esta mesma
noite o anjo de Deus, de quem eu sou, e a quem sirvo, esteve comigo, dizendo: "Paulo,
não temas: importa que sejas apresentado a César e eis que Deus te deu todos quantos
navegam contigo.

— 206 —

Portanto, ó varões, tende bom ânimo, porque creio cm Deus que há de acontecer assim
como a mini me foi dito. É contudo necessário irmos dar numa ilhn".
A tempestade durou catorze dias; e então 11111:1 m>i te os marinheiros pensaram estar
se aproximando d:i terra. Sondaram a profundida e viram que a íigim es tava a vinte
braças. Dentro de algum tempo, mediram novamente e verificaram que estava somente
a 15 bra ças de profundidade e portanto sabiam que a terra uno estava distante.
Os marinheiros tentam escapar. — Ancoraram na vio e esperaram anciosamente pelo
dia. Então alguns marinheiros começaram a abaixar um pequeno barco, fingindo estar
lançando mais âncoras mas na verdade tentando abandonar o navio e deixar tudo no
navio en tregue à destruição. Quando Paulo descobriu seus in tentos, disse ao centurião":
Paulo os previne. — "Se estes não ficarem no na vio não podereis salvar-vos". Ao
ouvir isto uns mari nheiros cortaram a corda e deixaram o barco cair c deste modo
aqueles não puderam fugir.
Conforto e Alimentos. — Quando estava amanhe cendo, 'Paulo dirigiu-se novamente
à tripulação, man dando que comessem. "É já hoje o décimo quarto dia que esperais e
permaneceis sem comer, não havendo provado nada. Portanto, exorto-vos a que comais
al guma coisa, pois é para a vossa saúde; porque nem um cabelo cairá da cabeça de
qualquer de vós".
Ele então tomou pão e deu graças na presença de todos e quando o partiu, começou
a comer. Enconijn-dos pela fé e segurança de Paulo, todos quebraram seu jejum e
então aliviaram o navio atirando o trigo puni fora do navio.
Assim que veio a luz do dia, puderam ver lerni. mas não sabiam que lugar era.
Contudo, virnm um regato que desembocava no mar, e concluirnin que poderiam levar
seu navio em segurança paru n bnin. A1*-

— 207—

sim eles cortaram a âncora levantaram velas e dirigi ram-se para a praia.
Como uni clímax de todos os desastres, o navio fi cou preso na areia. A proa
enterrou-se fundo na areia e a popa começou a se despedaçar.
O Navio afunda. — Havia uma lei romana que di zia que um soldado devia tomar
o lugar do prisioneiro se permitisse que este escapasse; assim os soldados te mendo que
os prisioneiros pudessem nadar para a praia e escapar, pediram ao centurião para
matar to dos os prisioneiros enquanto ainda estavam a bordo. Mas Júlio, querendo
salvar a vida de Paulo se recusou a permitir que os prisioneiros fossem mortos.
Alguns deles nadaram para a praia e, auxiliando os outros, conseguiram salvar
a todos — nem uma só vida se perdeu, exceto o navio, exatamente como Pau lo havia
previsto.
A ilha era Malta, logo ao sul da Sicília. É MANIFESTO O PODER DE

DEUS

Lucas relata que "os bárbaros usaram conosco de não pouca humanidade; porque
acendendo uma gran de fogueira, nos recolheram a todos por causa da chu va que caía e
do frio".
Paulo estava ocupado ajudando a manter o fogo, e a dar maior conforto aos outros
quando algo aconte ceu que assustou os nativos. Uma víbora que se acha va no meio dos
paus de lenha, rastejou-se e prendeu-se à mão de Paulo, o qual sacudindo a mão lançou-a
ao fogo. Quando todos a viram e souberam o quanto era venenosa, disseram
"Certamente este homem é um ho micida, visto como, escapando do mar a Justiça não o
deixa viver".
A admiração dos nativos. — Eles estavam espe rando que ele inchasse e morresse. Mas
surpreende-
— 208 —

ram-se ao ver que nenhum dano veio a ele. Então mu daram de ideia e disseram que era um
deus.
É pregado o evangelho. — Sem dúvida Paulo lhes disse quem ele era, e pregou o
Evangelho de Jesus Cria- to a eles. Ficaram em casa de Públio, o chefe da ilha, que
também ouviu o evangelho e viu o poder do Sacer dócio manifestado. Seu pai estava
doente com febre c muito mal. Paulo administrou-lhe virtude pela impo sição das mãos e
ele curou-se imediatamente. As no tícias destes milagres logo se esparramaram e o resul -
tado foi que muitos que estavam doentes "vieram tam bém ter com ele e sararam".
"Os quais nos distinguiram também com muitas honras", diz o historiador Lucas, "e
havendo de nave gar, nos prouveram das coisas necessárias".
Semeadas as sementes da verdade. — Que bênção para este povo foram os três meses que
Paulo e seus companheiros passaram lá, e que grande tristeza eles devem ter
experimentado ao se despedirem quando o "Castri e Polux", o navio de Alexandria,
levou Paulo para sempre. Levou a ele, mas não às verdades que ele ensinara. Estas
permaneceriam com eles e, se fossem aceitas, os abençoariam eternamente.

— 209 —
LIÇÃO 38
O MUNDO ENRIQUECIDO POR UM PRISIONEIRO ACORRENTADO
"O Sangue dos mártires é a semente da
Igreja."
/
—x. x. x. x—
Antecipação versas Realização. — Alguns meninos da escola reuniram-se um dia para
discutir a ques tão: A Antecipação dá mais prazer que a realização". Um do lado dos que
tentavam provar que a Antecipa ção dá mais prazer, referiu-se a todas as experiências de
um menino no Natal, dizendo que o dia antes do Na tal que é a véspera de Natal, sempre
dá maior satisfa ção que o próprio Natal — "Assim que o menino rece be seus presentes,
começa a lamentar-se que o Natal não seja amanhã".
O menino expressou em seus modos simples, mais ou menos o mesmo pensamento
contido nesta sentença de Emerson: "O homem olha para a frente com sorri sos, mas
para traz com suspiros" ou, como outro autor o descreve "O que esperamos é sempre
melhor do que o que gozamos".
Nem sempre é assim na vida; mas certamente de ve ter sido isto o que aconteceu com
Paulo e sua espe rada visita a Roma. Durante muitos anos ele havia aguardado com
prazer a ocasião em que pregaria o Evangelho na famosa capital do grande Império Ro -
mano. Mas agora, ao aproximar-se da realização de

210 —
suas esperanças, é um homem velho, gasto pelo traba lho e pela prisão, e um
prisioneiro.
Contudo, não devemos concluir que ele não tivesse conforto, ou que tivesse menos
desejo de levar seu tes temunho ao mundo, sua mensagem da divina missão do seu
Salvador. Ao contrário, ele continuava a apro veitar toda oportunidade que tinha para
pregar o evan gelho eterno.
Siracusa. — Assim ele fez quando o Castri e Po- lux ou "Os Gémeos" pararam a
oitenta milhas ao norto. de Malta, num lugar chamado Siracusa, a antiga capi tal da
Sicilia. É bem provável que Paulo tenha pedido permissão para desembarcar e pregar
o Evangelho aos judeus e gentios que se achavam naquela celebrada ci dade. Se isto
aconteceu, estamos certos de que Júlio acedeu ao seu pedido. De qualquer modo, os
Sicilianos posteriormente clamaram que Paulo fundou uma Igre ja naquela cidade.
Puteoli. — Sua próxima parada importante foi na parte norte da bela baía de
Nápoles, onde estava situa da uma cidade chamada Puteoli; agora conhecida como
Pozzuoli. Ao entrar no porto, o navio que levava Pau lo e seus amigos foi saudado por
uma multidão. Entre estes havia irmãos que tinham vindo apresentar boas vindas e
confortar o missionário prisioneiro. Talve/ por um desejo de Júlio de permanecer
naquele local tempo suficiente para se comunicar com Roma ou lal vez em
consideração a Paulo, o grupo permaneceu cm Puteoli por sete dias, dando assim
aos Éldcrcs uma oportunidade de passar o domingo com os sanlos na quele local.
Como deve ter sido refrescante para o es pírito de Paulo adorar mais uma vez com
aqueles «pie tinham o mesmo testemunho do Evangelho «pie ele
tinha.
Tendo sido enviada uma mensagem t i a f r e n t e , « p i e Paulo estava em seu caminho de
1 ' n t e o l i p a r a Kmmi. muitos dos irmãos naquela c i d a d e p a r t i r a m p a i a en

— 211 —

contrar o amado e famoso missionário. Sem dúvida OF Santos de Roma compreenderam


que o espírito de Pau lo bem como o seu corpo deveriam estar gastos e can sados, e, como
verdadeiros amigos, preparam-se para recebê-lo. A verdadeira adversidade sempre
encoraja uma pessoa a ir a um amigo na adversidade mais do que em prosperidade.
Pode ser que eles tivessem que rido somente dar a ele uma acolhida real na sua cida de,
pois ele era de fato um personagem real, apesar de estar a ferros. Seja qual for o
motivo, alguns dos ir mãos viajaram quarenta milhas e encontraram seu amado apóstolo
na praça d'Apio. Outro grupo o encon trou nas "Três Vendas", a trinta milhas de Roma.
O coração de Paulo estava tocado por esta manifestação de amizade e verdadeira
irmandade, e ele "deu graças a Deus e tomou ânimo".
Sob guarda. — Quando o grupo alcançou a famo sa capital do mundo antigo esta deve
ter parecido a Paulo como uma grande prisão; e quando seus amigos dele se
separaram para ir para suas casas e ele para o seu lugar guardado, seu coração deve ter
se sentido bas tante pesado. Contudo, Júlio gentilmente entregou seu prisioneiro ao
capitão da guarda pretoriana, a mais alta autoridade na cidade o guarda encarregado
de to dos os que deveriam ir à presença do Imperador para julgamento. Felizmente,
Paulo não foi posto em pri são mas permitiram-lhe, que morasse sozinho numa casa,
sob a guarda constante de um soldado. Ali ele gozou de toda a liberdade possível a um
prisioneiro; assim, fiel ao seu espírito enérgico, ele descobriu mui tas oportunidades
para continuar sua pregação. Isto ele fez primeiramente aos soldados a quem estava li -
gado diariamente. Como eles se revezavam constante- mente, teve ampla oportunidade
para pregar a verda de a muitos guardas e assim pregou indiretamente ao próprio
Imperador.

— 212 —

Apelo aos judeus. — Ele teve ocasião de também pregar aos judeus. Chamou os
chefes desta nação e lhes contou porque ele era então um prisioneiro. "Na da havendo eu
feito contra o povo ou contra os ritos paternos", disse ele, "vim contudo preso desde
Jerusa lém, entregue nas mãos dos romanos, os quais, haven do-me examinado, queriam
soltar-me por não haver em mim crime algum de morte. Mas opondo-se os judeus, foi-me
forçoso apelar para César",
"Por esta causa vos chamei, para vos ver e falar; porque pela esperança d'Israel
estou com esta cadeia".
Os judeus negam a mensagem. — Os judeus dis seram que nada tinham ouvido contra
ele, mas "quan to a esta seita (referindo-se aos Cristãos) notório nos é que em toda a parte
se fala contra ela". De fato, em Roma como em todos os outros lugares, os judeus re -
cusaram a mensagem do evangelho e obrigaram Paulo a regressar aos gentios.
O Evangelho se divulga. — Durante cerca de oito centos dias, Paulo permaneceu
prisioneiro aguardando seu julgamento perante o Imperador. Durante este tempo, ele
pregou o Evangelho a centenas de soldados que tinham um após outro lhe servido de
guardas. Es tes, quando convertidos, convertiam outros e quando enviados para as
províncias romanas, espalhavam o evangelho por novas terras, aumentando assim a área
sobre a qual a luz da verdade podia brilhar.
Mas esta não era a única maneira como ele irra diava da habitação humilde do
missionário prisionei ro. Durante aqueles dois anos de reclusão, ele se man teve em
comunicação com as Igrejas da Europa e da Ásia. Como não havia estradas de ferro,
nem navios e nem telégrafo, todas as cartas que recebia ou que en viava eram levadas por
um correio que viajava muito vagarosamente por terra e mar, algumas vexes por cen -
tenas de milhas. Mas ele tinha ólimos c dedicados ami gos que o serviam e que estavam
sempre prontos para

— 213 —

levar suas mensagens. Alguns destes nós já conhece mos. Lucas, o fiel médico; Timóteo,
seu filho no Evan gelho; João Marcos o que partiu com Paulo e Barnabé em sua primeira
missão; Aristarco de Tessalônica; Epafrodito, um amigo da Macedônia; Onésimo, um es -
cravo pertencente ao amigo de Paulo, Filemon, e ou tros. Com estes servos fiéis como
mensageiros, Paulo escreveu cartas que são chamadas epistolas, que fize ram o mundo
todo melhor e mais rico em conhecimen to da verdade. Estas cartas estão agora no Novo
Tes tamento e são chamadas Epístolas aos Filipenses, a Filemon, aos Colossenses, aos
Efésios, etc.
Assim se tornaram as epístolas escritas por Paulo na prisão romana, mensageiras
aladas que podem voar do este ao oeste em missão de amor.
Livre. — A certeza do que Paulo fez após ter sido prisioneiro em Roma por dois anos,
termina com a afir mativa de Lucas de que ele "recebia todos quantos vi nham vê-lo,
pregando o reino de Deus e ensinando com toda a liberdade as coisas pertencentes ao
Senhor Je sus Cristo sem impedimento algum". Acredita-se, con tudo, que ele tenha
finalmente recebido sua liberdade e pregado em muitas terras, dizendo a tradição que
ele chegou mesmo a ir à Inglaterra. Acredita-se que tenha sido durante esta viagem
missionária que ele escreveu sua primeira carta a Timóteo, que havia sido indicado para
tomar conta da Igreja em Éfeso e também a carta a Tito que estava com as Igrejas na
ilha de Creta.
Preso novamente. — Cerca do ano de 64 A.D., con tudo, ele foi novamente preso em
Roma. Somente um ano antes os santos haviam sido perseguidos até à mor te pelo
perverso Nero. Eles haviam sido atirados na arena, devorados por animais selvagens,
queimados como tochas humanas e martirizados de outras formas cruéis.

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Degolado. — Foi logo depois do incêndio de Ro ma por este perverso imperador, que
Paulo, o mais enérgico de todos os missionários, após 30 anos de cons tante serviço no
ministério, foi degolado. Um pouco antes de sobrevir a morte, ele escreveu a Timóteo
estas belas e patéticas palavras: "Porque eu já estou sendo oferecido por aspersão de
sacrifício e o tempo da mi nha partida está próximo. Combati o bom combate, acabei a
carreira, guardei a fé. Desde agora, a coroa da justiça me está guardada a qual o Senhor,
justo juiz, me dará naquele dia; e não somente a mini. mas tam bém a todos os que
amarem a sua vinda".
Ao inclinar sua cabeça para receber o golpe fatal, sabemos que poderia ter dito em toda
verdade: "Sinto minha imortalidade sobrepujar todas as dores, todas as lágrimas, todo
o tempo, todos os temores e penetrar, como os eternos trovões das profundezas, nos
meus ou vidos esta verdade — tu vives para sempre!"

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