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Universidade Técnica de Lisboa - Faculdade de Arquitectura

Qualidades expressivas dos eco-materiais

Filipe Humberto Torres Mesquita Borges de Macedo

Dissertação para Obtenção do Grau de Mestre em

ARQUITECTURA

Orientador Cientifico: Professor Doutor Rui Barreiros Duarte

Júri

Presidente: Professor Doutor António Pedro Assunção Nobre Lima

Vogais: Professor Doutor Rui Barreiros Duarte

Professora Doutora Maria Luísa Caldas

Lisboa, FAUTL, Dezembro, 2010


Faculdade de Arquitectura
Universidade Técnica de Lisboa

Título da Dissertação: As qualidades expressivas dos eco-materiais.


Nome do Aluno: Filipe Humberto Torres Mesquita Borges de Macedo
Orientador: Professor Doutor Rui Duarte Barreiros
Mestrado: Arquitectura
Data: Setembro de 2010

Resumo
A dissertação de Mestrado que se apresenta pretende aprofundar sobre as
capacidades expressivas dos eco-materiais na arquitectura.
O apelo que habitualmente surge para se utilizarem eco-materiais no projecto tem
como base a muita e variada informação técnica que os acompanham.
Dominantemente apelam ao seu uso com base valores quantitativos (a massa, a
poupança energética, poupança de CO2, etc).
Este estudo pretende valorizar as qualidades expressivas dos eco-materiais,
contribuindo para a sua utilização.
Para o efeito utilizamos os critérios adoptados por Peter Zumthor no livro “Atmosferas”.
Escolhemos esta obra pois é obra influente na actual produção arquitectónica e fala de
valores essencialmente substantivos.
A identificação destes valores qualitativos em obras de referencia que reflectem uma
consciência ecológica e utilizam eco-materiais, valorizando a sua significância e
aumentando a sua premência arquitectónica, complementará os aspectos
quantitativos que habitualmente suportam os apelos para sua divulgação.

Palavras-chave:

Eco-materiais, Expressividade, Sustentabilidade, Consciência ética.

F I L I P E H U M B E R T O T O R R E S M E S Q U I T A B O R G E S D E M A C E D O

II
Faculdade de Arquitectura
Universidade Técnica de Lisboa

The expressive capacities of eco-materials

Abstract

The Master's dissertation presented here aims to discuss the expressive capacities of
eco-materials in architecture.
The appeal that usually comes to foment the use of eco-materials in the project is
based on the many and varied technical information. Normally call for its use is based
on quantitative values (mass, energy saving, saving CO2, etc.).
This study will try to highlight the expressive qualities of eco-materials, contributing to
their use.
To this end we follow the criteria adopted by Peter Zumthor in the book "Atmospheres."
We chose this work because it's very influential work in the current architectural
production and it values and speaks mainly of qualitative values. We chose it also
because it is a work with which we identify.
The visualization of qualitative values in works that reflect an ecological awareness and
use eco-materials will complement and reinforce the need to their implementation. This
posture will highlight its significance and increase its eagerness as an architectural
complement to the quantitative and bureaucratic aspects that usually support the calls
to is use in construction.

Keywords:

Eco-materials, Expressiveness, Sustainability, Ethical awareness.

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III
Agradecimentos

Feito com graças ao amor, a paciência e o incentivo da Xanda, dedicado a ela e às


nossas filhas, a Mariana, a Joana e a Teresa. Também um obrigado especial á minha
ameixoeira, cujo tronco se ofereceu para a fotografia da capa.

Lisboa, Setembro 2010

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IV
ÍNDICE
Índice de ilustrações: ............................................................................................. VII
Prefácio ...................................................................................................................... 1
1-Introdução .............................................................................................................. 3
Introdução.................................................................................................................. 4
2- O estado dos conhecimentos ........................................................................ 15
2.1- O processo de consciencialização ambiental: ............................................. 16
2.2- A arquitectura como resposta a habitats insatisfatórios: ........................... 29
2.3-A responsabilidade social do arquitecto: ....................................................... 33
2.4- Construção sustentável: ................................................................................. 38
2.5 – Entendimento do eco material. ..................................................................... 42
2.6 – Os eco-materiais vernaculares. .................................................................... 46
2.6 – Os eco-materiais reciclados. ........................................................................ 51
2.7 – Os materiais de nova tecnologia. ................................................................. 57
2.8 – Os materiais bio-construidos. ...................................................................... 62
3- Desenvolvimento ................................................................................................ 65
3.1- A expressividade ............................................................................................. 66
3.2- O corpo da Arquitectura.................................................................................. 72
3.3- A consonância dos Materiais ......................................................................... 75
3.4- O som do espaço ............................................................................................. 79
3.5- A temperatura do espaço ................................................................................ 82
3.6- As coisas que me rodeiam.............................................................................. 86
3.8- Tensão entre o interior e o exterior................................................................ 93
3.9- Degraus da intimidade .................................................................................... 96
4- Conclusão.......................................................................................................... 103
4.1- Da expressividade. ........................................................................................ 104
4.2- Da sustentabilidade. ...................................................................................... 108
4.3- Dos limites da investigação. ......................................................................... 111
4.4- Dos desenvolvimentos futuros. ................................................................... 112
Bibliografia: ........................................................................................................... 114
Declaração ............................................................................................................. 119
Anexos: .................................................................................................................. 120

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VI
ÍNDICE DE ILUSTRAÇÕES:

Fig.- 1 Gráfico da variação dos teores de CO2............................................................................. 4

Fig.- 2 Toyota Prius, carro híbrido ................................................................................................. 5

Fig.- 3 Aterro com resíduos da industria da construção ............................................................... 6

Fig.- 4 Campo de refugiados no Dafur .......................................................................................... 6

Fig.- 5 Quadro explicativo do processo de classificação energética em vigor em Portugal ......... 7

Fig.- 6- Esquema explicativo das valências do programa LiderA ................................................. 8

Fig.- 7 Buckminster Fuller ............................................................................................................. 9

Fig.- 8 Le Corbusier, Plano Voisin............................................................................................... 10

Fig.- 9 Cidade Berbere em Marrocos, Ouarzazate ..................................................................... 11

Fig.- 10 Peter Zumthor,Capela de S. Bento, em Sumvitg, Suíça ............................................... 12

Fig.- 11 Peter Zumthor, Capela do Irmão Klaus, em Wachendorf, Eifel, Alemanha ................. 13

Fig.- 12 Mina de carvão, circa 1910 ............................................................................................ 16

Fig.- 13 Explosão atómica em Hiroshima, .................................................................................. 17

Fig.- 14- Thomas Edison. ............................................................................................................ 18

Fig.- 15- Foto de Mãe e Filho, Minamata. ................................................................................... 19

Fig.- 16- Protestos de cidadãos na década de 60 ...................................................................... 20

Fig.- 17- Nascimento da Greenpeace em 1973 .......................................................................... 21

Fig.- 18- Fotografia do nascer da Terra ...................................................................................... 22

Fig.- 19- UNEP ............................................................................................................................ 23

Fig.- 20- Evolução do buraco de ozono ...................................................................................... 24

Fig.- 21- capa do relatório “O nosso futuro comum” ................................................................... 25

Fig.- 22- Manifestante no COP 15............................................................................................... 26

Fig.- 23- Al Gore .......................................................................................................................... 27

Fig.- 24- Karl Marx Hof, de Karl Ehn ........................................................................................... 29

Fig.- 25- Pavilhão da Finlândia na Feira Mundial de Nova York, 1938/39, de Alvar Aalto ......... 30

Fig.- 26- Pavilhão Vasarely, Aix-en-provence, de Shigeru Ban .................................................. 31

Fig.- 27- Malmo's Western Harbour. ........................................................................................... 32

Fig.- 28- Gráfico da evolução da população humana ................................................................. 33

Fig.- 29- Vista de do centro de Xangai........................................................................................ 34

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VII
Fig.- 30- Pavilhão de Espanha, 2008, Francisco Mangado ........................................................ 35

Fig.- 31- Pavilhão Médico em Khartoun, Sudão, TAMassociati.................................................. 36

Fig.- 32- Pavilhão de Oração no Darfur, Sudão , TAMassociati. ................................................ 37

Fig.- 33- A epidemia de obesidade ............................................................................................ 38

Fig.- 34- Shangai. ........................................................................................................................ 38

Fig.- 35 Tijolos de cânhamo. ....................................................................................................... 46

Fig.- 36 Blocos de terra compactada .......................................................................................... 47

Fig.- 37 Isolamentos térmicos em lã ........................................................................................... 48

Fig.- 38 Bambu ............................................................................................................................ 49

Fig.- 39 Pavilhão de Portugal, Expo 2010, Xangai, Carlos Couto. ............................................. 50

Fig.- 40 Muralha Bizantina de Selçuk, Tuquia ............................................................................ 51

Fig.- 41 Parede de Polly-brics. .................................................................................................... 52

Fig.- 42 Sucata de Ferro. ............................................................................................................ 53

Fig.- 43, Atelier, Quito, Equador, Arq. David Moreno.................................................................. 54

Fig.- 44 The Ricyclops, Utrech, Holanda, 2012 Architeten. ....................................................... 55

Fig.- 45 Platoon Kunsthalle, Seul, Coreia do Sul, Platoon+ Graft Architects.............................. 56

Fig.- 46 Solar Ivy ......................................................................................................................... 57

Fig.- 47 Flash Bricks .................................................................................................................... 58

Fig.- 48 Thermeleon .................................................................................................................... 59

Fig.- 49 PORO, Arq. Miguel Veríssimo ....................................................................................... 60

Fig.- 50 Monocoque. ................................................................................................................... 61

Fig.- 51 Ford Rouge Centre, Dearborn, Michigan, William McDonough..................................... 62

Fig.- 52 La Caixa, Madrid, Herzog de Meuron, .......................................................................... 63

Fig.- 53 Institut for Forest na Nature Research, Wageningen, Holanda, Günther Behnisch, ..... 64

Fig.- 54- Bambu…………………………………………………………………………………66

Fig.- 55- Centro Cultural Tjibaou, Renzo Piano, ......................................................................... 67

Fig.- 56- Termas de Vals, Peter Zumthor,................................................................................... 68

Fig.- 57- Loblolly House, Chesapeake Bay, Maryland Kieran Timberlake, .............................. 69

Fig.- 58- Plastic House, Tokio, Kenso Kuma .............................................................................. 70

Fig.- 59- Meti Handmade Schol, Rodrapur, Bangladesh, Anna Heringer ................................... 72

Fig.- 60- Meti Handmade Schol, Rodrapur, Bangladesh, Anna Heringer, .................................. 73

Fig.- 61- Meti Handmade Schol, Rodrapur, Bangladesh, Anna Heringer. .................................. 74

Fig.- 62- Hamadera House, Sakai, Japão, Coo Planing ............................................................. 75

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VIII
Fig.- 63- The Trufle, Costa da Morte, Galiza, Espanha .............................................................. 76

Fig.- 64- Rauch House, Schlins, Austria, Boltshauser Architekten ............................................. 77

Fig.- 65- Casas na Areia, Comporta, Portugal, Aires Mateus ..................................................... 78

Fig.- 66- Great Bamboo Wall, Bejing, Kenso Kuma .................................................................... 79

Fig.- 67- Restaurante Yellow Tree House, Workworth, Pacific Environment Architects,............ 80

Fig.- 68- Papertainer Museum, Seoul, Korea do Sul, Shigeru Ban ............................................ 81

Fig.- 69- Alila Villas Uluwatu, Tokio, Woha Architects, Bali, Indonesia....................................... 82

Fig.- 70- Maison à Marrakech, Marrocos, Guilhem Eustache ..................................................... 83

Fig.- 71- Igreja de Kärsmäki, Finlândia, Lassila Hirvilammi ........................................................ 84

Fig.- 72- Dragspelhuset, Lago Ovre Gla, Suécia, 24h Architecture, ........................................... 85

Fig.- 73- Alila Villas Uluwatu, Tokio, Woha Architects, Bali, Indonesia....................................... 86

Fig.- 74- Vista de Nova Iorque .................................................................................................... 87

Fig.- 75- Casa Manifesto, Curacavi, Chile, James & Mau for Infiniski ........................................ 88

Fig.- 76- Alila Villas Uluwatu, Tokio, Woha Architects, Bali, Indonesia,...................................... 90

Fig.- 77- Capela em Tarnow, Polónia, Beton Architekt ............................................................... 91

Fig.- 78- Bamboo House, Osaka, Japão, Katsuhiro Miyamoto ................................................... 92

Fig.- 79- Plasticamente, Riccardo Giovaneti ............................................................................... 93

Fig.- 80- Centro médico, Khartoum, TAMassociati ..................................................................... 94

Fig.- 81- Casas na Areia, Comporta. Portugal, Aires Mateus ..................................................... 95

Fig.- 82- Abrigo de montanha, Kamounamoto, Japão, Sou Fujimoto ......................................... 96

Fig.- 83- Instalação, Victoria & Abert Museum, Londres, Rintala Eggertsson Architects .......... 97

Fig.- 84- Apartamento transformável, Hong Kong, Gary Chang ................................................. 98

Fig.- 85- Mapungubwe visitors Centre, Africa do Sul, Peter Rich ............................................... 99

Fig.- 86- Rauch House, Schlins, Austria, Boltshauser Architekten, .......................................... 100

Fig.- 87- Nk’Mip Desert Cultural Centre, Osoyoos, Canada, HBBH Architecs ......................... 101

Fig.- 88- I’m lost in Paris, Paris, França, R&S(ien) ................................................................... 102

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IX
PREFÁCIO

Desde tempos imemoriais que a humanidade edificou abrigos e desde esses tempos
que utilizou recursos para a sua construção e para o seu conforto. Durante milénios a
humanidade alterou os habitats existentes adaptando-os para as suas necessidades,
quer elas resultassem de uma exploração agrícola, quer fosse para a extracção de
matérias-primas.

Até a cerca de 250 anos, no início da revolução industrial, a humanização de habitats


naturais não implicou grandes alterações nos grandes ciclos que regem o equilíbrio
planetário. Contudo, com o aumento exponencial da população humana, fortemente
impulsionado pelo desenvolvimento iniciado na revolução industrial, o equilíbrio
planetário começou gradualmente a ser alterado. Hoje na sociedade pós-industrial em
que vivemos, e devido ao enorme aumento da população humana e acompanhado
pela necessidade de recursos que sustentam este crescimento, estes ciclos estão a
ser profundamente alterados.

A indústria da construção é uma das grandes responsáveis por este consumo


excessivo de recursos, quer por via da construção propriamente dita, quer por via dos
recursos que a utilização e manutenção do edificado exigem. Existe uma urgência de
alterar este estado, para isso torna-se necessário que a indústria da construção
edifique sem exaurir os recursos, que construa sem desperdiçar, que reaproveite o
que se desperdiça, que produza energia e que repare os habitats.

Não pretende esta dissertação renegar a história do edificado, e em particular da


arquitectura. Esta investigação pretende sim, construir uma visão que apele à
utilização de materialidades mais sustentáveis. Pois a edificação é fenómeno humano
por excelência, e o homem, como ser pensante, procurará sempre encontrar novas e
imaginativas soluções aos problemas com que se depara.

Procuraremos nesta investigação complementar o apelo à utilização de eco-materiais.


Por norma, os apelos ao seu uso estão consubstanciados ou nas vantagens
ecológicas que os eco-materiais proporcionam, ou na sua vantagem económica, pois
proporcionam alternativas a materiais e procedimentos cujos custos se tornem
proibitivos devidos à escassez de recursos, ou, por último, o derradeiro apelo ao seu
uso reside numa qualquer imposição normativa.

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1
É nossa vontade que esta investigação evidencie as qualidades expressivas dos eco-
materiais, e que desse modo possamos demonstrar que a sua utilização no projecto,
para além dos óbvios ganho ambientais, potencia tanto a riqueza expressiva como a
complexidade do projecto arquitectónico.

Procuramos deste modo demonstrar que a urgência de estratégias de sustentabilidade


do projecto, neste caso com a utilização de eco-materiais, para além de vantagens de
ordem técnica, reflecte a vontade de desenhar no projecto de arquitectura a imagem
idealizada de um homem melhor.

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2
1-INTRODUÇÃO

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3
INTRODUÇÃO

Os processos de industrialização e o exponencial crescimento demográfico


contribuíram para o esgotamento rápido de recursos energéticos, matéricos e da
biodiversidade. Contudo nas últimas quatro décadas tem-se verificado um progressivo
processo de consciencialização ambiental por parte da humanidade. Este processo
tem sido alicerçado pelas sucessivas crises ambientais com que a humanidade se tem
confrontado.

Nos últimos anos a chamada crise do carbono saltou da agenda de alguns grupos
ecologistas e investigadores para palco do discurso político dos dirigentes das
principais nações. A importância desta temática é consequência da progressiva
pressão que os cidadãos e as suas organizações representativas têm exercido sobre
os poderes políticos.

Fig.- 1 Gráfico da variação dos teores de CO2 no gelo da Antárctida, das temperaturas e nível do mar, de 400 mil anos
até ao presente. Fonte Instituto Goddard Estudos Espaciais – NASA; na National Geographic, Outubro 2008

A clara percepção que a crise do carbono, motivada pela progressiva industrialização


e urbanização do planeta, podem criar um desequilíbrio irreparável nas harmonias
planetárias e desse modo pôr em causa as gerações futuras, tem originado uma
profunda reflexão sobre o modo como vivemos nesta nossa casa que é o Planeta
Terra.

A consciencialização deste problema, e de um modo mais vasto do problema da


gestão dos recursos, tem motivado o aparecimento de graduais mudanças nos nossos
métodos de produção e hábitos de consumo.

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Essas mudanças, começam a ser implementadas devido a uma série de factores: em
primeiro lugar a sensibilização das questões ecológicas tem motivado a uma maior
consciencialização ambiental por parte dos consumidores, o que por sua vez leva as
empresas a procurem adaptar os seus produtos a essa exigência. A abundância de
produtos e serviços ditos verdes no nosso quotidiano é reflexo desse processo.

Por outro lado as indústrias desenvolvem novas tecnologias e produtos para


responder ao desafio da sustentabilidade. Com este tipo de investigação as indústrias
minimizam desperdícios e custos. Naturalmente, as empresas ganham vantagens
competitivas perante a concorrência e criam novos mercado para os seus produtos.

Fig.- 2 Toyota Prius, carro híbrido, com propulsão mista a combustão e motor eléctrico, utiliza um conjunto de baterias
para reutilizar a energia despendida com as travagens. Lançado em 1997 pela Toyota, e visto na altura pelas outras
marcas como uma experiencia fútil. Contudo a existência de um crescente numero de clientes ecologicamente
responsáveis, fez disparar a sua venda, tendo-se tornado num ícone de um estilo de vida sustentável. Fonte:
www.toyota. com

Podemos hoje afirmar que a maior parte das estratégias de mitigação dos processos
industriais e energéticos têm sido implementadas pela via regulamentar e legal. Dou
um exemplo, hoje todos os carros produzidos são recicláveis a 90%. No início dos
anos 90 a percentagem de reciclagem dos veículos em fim de vida situava-se nos
30%. Foi a introdução da Directiva 200/53/CE de 18 de Setembro de 2000 que alterou
a postura da indústria.

Esta directiva, tal como outras directivas e normativas europeias, foram


implementadas com base numa decisão política por parte da Comissão Europeia. Na
ocasião os fabricantes manifestaram a sua oposição a esta medida. O mesmo já tinha
acontecido à introdução de limites de consumo e características de segurança em
veículos. Hoje os fabricantes de automóveis, reconhecem que as mudanças nos seus

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princípios de produção foram benéficas para as suas empresas e para a sua indústria
em geral. A implementação de alterações por via regulamentar é bastante eficiente,
salvaguardando que exista de facto vontade política de as implementar.

As medidas de mitigação são particularmente prementes nas áreas do urbanismo e da


Arquitectura. Boa parte da energia e dos recursos que despendemos são afectos ao
modo como vivemos, quer nas nossas construções, quer nas nossas cidades. A
indústria da construção gasta cerca de um terço dos recursos e energia consumidos
pela humanidade cada ano (ADENE 2010). Em termos dos gases de efeito de estufa,
o edificado é responsável por 35% do total anual de emissões (A Green Vitruvius
1999). A edificação consome igualmente uma enorme quantidade de recursos
naturais. Todos os anos cerca de 40% de todos os recursos extraídos destinam-se à
indústria da edificação (A Green Vitruvius 1999). O impacto ambiental destas
extracções é enorme, da desflorestação, à contaminação das linhas de águas, da
destruição de habitats aos derrames, etc..

Fig.- 3 Aterro com resíduos da industria da construção, cerca de 40% dos resíduos tem como origem a industria da
construção, quer em virtude de demolições, quer como resultado das sobras e desperdícios de construção nova. Fonte:
(www.ecy.wa.gov/.../greenbuilding/AltWaste.html)
Fig.- 4 Campo de refugiados no Dafur, em contraponto ao desperdício de materiais de construção encontramos cerca
de 1/6 da população mundial, cerca de mil milhões de pessoas, a viver em habitações precárias. Fonte:
(http://jbcs.blogspot.com/2007/07/vidas-que-no-valen-nada-darfur-es.html)

É preciso ter em conta que esta é a situação actual, mas também ter em atenção que
com o desenvolvimento económico e o aumento populacional dos países em vias de
industrialização, associados ao aumento dos níveis de consumo causados por uma
urbanização progressiva, as necessidades de recursos e energia vão aumentar.
Consequentemente a edificação vai crescer exponencialmente para satisfazer as
crescente necessidades da humanidade.

Por outro lado a indústria da construção é responsável por uma enorme quantidade de
desperdícios, cerca de 40% dos desperdícios que acabam em aterro ou em lixeiras
provêm da indústria da construção (Arnal, Sauer, et al. 2008). O que não deixa de ser
um paradoxo, quando um sexto da população mundial não tem habitação condigna.

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Os actuais métodos de produção e materialização arquitectónicos continuam a
proceder como se o planeta não tivesses limites de utilização, e essa é uma
percepção que inevitavelmente irá mudar. A mudança já começou a acontecer,
conforme já tínhamos aflorado nas questões relativas à indústria automóvel, onde
verificamos que a realidade dessa indústria mudou, por um lado devido à introdução
de regulamentos impostos politicamente e por outro lado devido a um aumento de
exigência dos consumidores, na indústria da construção essa mudança começa a
acontecer.

Obviamente que face às pressões que a crise do carbono e a escassez de recursos


colocam, os governos, nomeadamente a comunidade europeia, já começaram a
estabelecer novos parâmetros para a industria. Com a directiva nº 2002/91/CE 1 ,
iniciaram-se as certificações energéticas do edificado na Europa. Esta directiva
estabelece normas e critérios de eficiência energética na construção. Facilmente se
constata que esta recente normativa começa a alterar o desenho das novas
construções. As novas arquitecturas procuram responder a este desafio criando
melhores condições bioclimáticas nos edifícios, o que a seu tempo irá diminuir a
pegada ecológica da edificação.

z
Fig.- 5 Quadro explicativo do processo de classificação energética em vigor em Portugal, resultado da implementação
da directiva 2002/91/ CE. Fonte: (http://www.adene.pt/NR/rdonlyres/C2A3E54E-5B8B-46F6-ACAD-
12B42F726368/821/SCE_Geral2.pdf)

1
A Directiva 2002/91/CE foi implementada em Portugal através dos Decreto-Lei n.º 78/2006 de 4 de Abril,
Sistema Nacional de Certificação Energética e da Qualidade do Ar Interior nos Edifícios (SCE), Decreto-
Lei n.º 79/2006 de 4 Abril, Regulamento dos Sistemas Energéticos e de Climatização dos Edifícios
(RSECE) e Decreto-Lei n.º 80/2006 de 4 Abril, Regulamento das Características de Comportamento
Térmico dos Edifícios (RCCTE), encontrando-se os novos edifícios obrigados a elevada eficiência
energética, e sendo classificados todos os restantes na altura de nova transacção que ocorra, permitindo
deste modo que os compradores tenham uma clara noção dos seus custos energéticos.

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Esta nova realidade, a mudança de um sistema de produção e consumo lineares,
típicos da industrialização e da sociedade de consumo, para um ciclo virtuoso onde
não exista desperdício e a sustentabilidade seja palavra de ordem, começa a impor-
se, quer por via da exigência regulamentar, quer pela cada vez maior
consciencialização ambiental dos cidadãos, quer ainda pelo aumento do custo das
matérias primas, cada vez mais escassas, associado às leis do mercado.

Em breve começarão a ser implementados novos sistemas de certificação dos


imóveis. Estes sistemas assentarão nas análises de ciclo de vida do edificado. Nestas
análises, o edifício é contemplado como um todo, ou seja serão escrutinados todos os
seus custos. Desde a energia incorporada na sua construção, às exigências de
manutenção, à sua eficiência energética e a futura reciclagem da construção.

Embora estes sistemas de certificação ainda não estejam implementados, muito me


custaria que os arquitectos apenas os implementassem devido a exigências
burocráticas e regulamentares ou por via da imposição dos promotores e clientes.

Fig.- 6- Esquema explicativo das valências do programa LiderA, desenvolvido em parceria entre o Instituto do
Ambiente e o IST, apresenta um sistema de análise de ciclo de vida voluntário, que permite aos projectistas quantificar
o impacto ambiental dos seus projectos. Fonte: http://www.lidera.info

Está na essência do ser arquitecto complementar e melhorar o habitat onde vivemos,


consequentemente estas mudanças estão predestinadas acontecer, pois estão no
âmago da praxis da arquitectónica. Procura-se nesta dissertação mostrar que estas
novas exigências não se resumam à obtenção de uma nota de certificação, mas que
as adoptemos, porque com elas vamos conseguir atingir novos paradigmas
arquitectónicos, tornando as nossas construções e as nossas cidades como parte da
solução deste problema civilizacional, pois tal é o nosso fado como arquitectos.

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Pretende-se demonstrar que uma atitude ecologicamente responsável não é
antagónica de uma prática arquitectónica significante e premente. Antes pelo contrário,
tal como Távora escreveu, “Que seja assim o arquitecto - homem entre os homens -
organizador do espaço - criador de felicidade” (Távora 1962). Uma atitude
ecologicamente responsável é consequência natural da vontade de fazer melhor, que
caracteriza a essência do acto arquitectónico.

A inovação e a descoberta de novas formas arquitectónicas estão no âmago na nossa


profissão, sempre foram elas que nos motivaram a continuar a descoberta do caminho
arquitectónico. Essas novas solicitações sempre foram mais significantes do que
burocráticas. Na história da arquitectura nunca foram muito relevantes os maiores
edifícios, ou os maiores vãos, ou qualquer outra visão cartesiana do objecto
arquitectónico. O significado sempre foi valor fundamental no desenvolvimento da
prática arquitectónica.

Fig.- 7 Buckminster Fuller posa em frente ao Fly's Eye, copula geodésica, desenhada para poder responder ao desafio
de mais construção menos material, e ao Dymaxion Car, desenhado com os mesmos princípios. Foto: Roger White
Stoller

Para atingir esse propósito, iremos estruturar esta dissertação do seguinte modo.
Em primeiro lugar iremos enunciar as fases marcantes do processo de
consciencialização ambiental, que desde os anos 60 tem vindo a mudar o modo como
a humanidade percepciona o Mundo. A visão do percurso que as preocupações
ambientais e as noções de sustentabilidade realizaram até começarmos a perceber a
sua necessidade, são fundamentais para compreendermos, que, apesar de termos
uma vida efémera, os nossos actos perduram e afectam as gerações vindouras. Deste

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modo, procurar-se-á demonstrar a necessidade dos problemas ambientais passarem a
estar num primeiro plano das nossas preocupações como arquitectos.

Em segundo lugar, perante a actual situação ambiental, demonstraremos que existe


uma tradição na resposta arquitectónica de responder a habitats insatisfatórios, e que
esse foi sempre motor de desenvolvimento de novos paradigmas arquitectónicos.
Essa resposta esteve sempre ligada à ética arquitectónica, faz parte da essência do
ser arquitecto responder a desafios com imaginação. E de cada vez que existem
essas novas respostas, o percurso da Arquitectura enriquece-se com novas
complexidades e significados, sendo esse o propósito da prática. Desconhecemos
etapas na história da Arquitectura que tenham sido impostas por via da
regulamentação ou da burocracia, apenas escrutino avanços na história da
arquitectura que aconteceram por crença num mundo melhor. E esse é desígnio ético
primordial da nossa profissão.

Fig.- 8 Le Corbusier, Plano Voisin, profunda reflexão acerca do urbanismo, concretizada em plano provocador que
propunha a demolição parcial de Paris , para responder a necessidades de alojamento e de salubridade ambiental.

Esta dissertação, conforme o seu título afirma, versará sobre as qualidades


expressivas dos eco-materiais. Contudo não podemos deixar de abordar o problema
da arquitectura sustentável, pelo que vamos rever algumas questões que marcam a
sustentabilidade de uma edificação. Iremos abordar as questões gerais que regem os
conceitos de arquitectura sustentável, como o emprego de sistemas solares passivos,
conceitos de produção de energia no edificado, a importância dos sistemas de análise
do ciclo de vida e toda a panóplia de soluções que procuram a mitigar a crise
ambiental.

Aos eco-materiais corresponde um papel importante nesta fase da resposta que


devemos dar como arquitectos, ou seja, na criação de um novo modelo de

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sustentabilidade. Ou seja, que as nossas construções passem a integrar-se no meio,
sem esgotar os recursos e participando nos ciclos naturais da sua renovação.

A importância de se adoptarem estratégias para reduzir desperdícios, a utilização de


materiais que sejam reserva de carbono, a reformulação de métodos de produção,
permitir a reciclagem da edificação, entre outras práticas, terão um papel fundamental
na resposta ao desafio que temos pela frente. Na sequência da lógica da dissertação,
é nesta altura que iremos caracterizar o que são eco-materiais.

Abordamos a questão dos eco-materiais por vários motivos, em primeiro lugar porque
os materiais constroem a coisa arquitectónica e são intervenientes fundamentais na
sua caracterização. É impensável dissociar o antigo Egipto com a monumentalidade
do calcário. É impossível imaginar a arquitectura moderna sem o betão e o vidro. A
materialidade das construções condiciona os seus conceitos e a sua concretização, e,
acima de tudo, condiciona a nossa relação com o habitat humano por excelência que é
o edificado.

Fig.- 9 Cidade berbere em Marrocos, Ouarzazate a leste de Marrakeshe, é exemplar no modo como os materiais
disponíveis condicionam a arquitectura, e em simultâneo, a arquitectura acrescenta novos significado à materialidade
da construção. Foto: (moroccotravelblog.wordpress.com)

A necessidade primordial de abrigo criou no ser humano uma estreita ligação com o
carácter matérico das suas construções. São os materiais com que construímos que
condicionam forma, textura, som e temperatura dos espaços. É esta relação intrínseca
que temos com a materialidade das coisas que nos permite sentir e relacionarmo-nos
com o espaço e com o modo como o concretizamos. O carácter ancestral da
materialidade é inato aos nossos sentidos. É apenas a experiência intensa de
percorrer um espaço, utilizando todos os nossos sentidos para o percepcionar, que
nos revela o verdadeiro significado do sítio.

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A sensibilidade com que encaramos estes fenómenos na caracterização do edificado,
leva-nos a acreditar, que devido à responsabilidade social e ética do arquitecto, iremos
começar a construir com estes eco-materiais de modo cada vez mais frequente. A
introdução destas novas materialidades irá trazer novos paradigmas ao modo como
fazemos Arquitectura.

É nossa tese, que essa mudança no modo como se constrói, assente na vontade dos
Arquitectos em fazer novas arquitecturas com maior exigência e maior respeito pelos
nossos recursos, irá vingar. Já existem muitos Arquitectos de referência que começam
a utilizar esta postura na elaboração dos seus projectos. Na última parte da
dissertação irei abordar a significância e a expressividade que a utilização destes eco-
materiais traz ao projecto de arquitectura.

Fig.- 10 Peter Zumthor, 1989,Capela de S. Bento, em Sumvitg, Suíça,

Para realizar esta interpretação procurar-se-ão seguir os critérios adoptados por Peter
Zumthor no livro “Atmosferas”. Escolhemos esta obra, pois é obra influente na actual
produção arquitectónica e fala de valores essencialmente substantivos. Na sua obra a
materialidade dos espaços é o fio condutor do discurso. A relevância do discurso de
Zumthor provem do modo como encara a prática da arquitectura. O método cuidado
com que projecta o conceito da obra é complementado pelo rigor com que os materiais
que a constroem são seleccionados. O resultado final ganha significados e
significâncias complementares que criam a poesia das suas obras, transformando-as
em paradigmas arquitectónicos. Por via da sua prática de excelência arquitectónica e
do seu discurso complexo e sedutor, Peter Zumthor, tornou-se numa das vozes mais
respeitadas e influentes no actual panorama da arquitectura.

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Logo tornou-se evidente para nós, que o seu modo de ver e praticar a arquitectura,
seria particularmente adequado para enquadrar a significância dos eco-materiais e
apelar à sua utilização, pois para além do seu discurso, muito ligado à significância da
materialidade das coisas, a sua notoriedade enquanto autor respeitado possibilitará
que o nosso discurso nesta dissertação seja enquadrado por uma obra que influencia
alguma da actual produção arquitectónica. É desse modo que nos propomos persuadir
os futuros leitores desta dissertação a participarem na solução deste grave problema,
que nós e os nossos filhos temos pela frente. Demonstraremos que para além dos
óbvios ganhos, quer eles sejam ambientais e económicos, quer residam num
cumprimento mais efectivo da responsabilidade social e ética do arquitecto, a principal
vantagem da sua utilização reside na capacidade de edificarmos arquitecturas
originais para o nosso tempo.

Fig.- 11 Peter Zumthor, 2007, Capela do Irmão Klaus, em Wachendorf, Eifel, Alemanha.

Os arquitectos deverão participar nesta mudança para a sustentabilidade porque é o


seu papel como arquitectos. “Orientar o exercício da sua profissão pelo respeito pela
natureza, bem como pela atenção pelo edificado pré-existente, de modo a contribuir
para melhorar a qualidade do ambiente e do património edificado” (O. d. Arquitectos
s.d.), logo é coisa inerente à prática da arquitectura o contributo para um melhor
ambiente em sentido lato. É também princípio essencial no exercício da praxis
arquitectónica a necessidade de manifestar a criatividade intrínseca à profissão. A
conjunção destes dois factores irá sem sombra de dúvida pôr os arquitecto a utilizar
estes materiais nos seus projecto sem necessidade de esperar pela obrigatoriedade
dos regulamentos.

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Esperamos que esta dissertação possa contribuir para esta mudança pois:

As lições do lento processo de consciencialização ambiental vão permitir tornar os


leitores mais conscientes.

Ao longo da história da arquitectura, ela sempre deu resposta a habitats


insatisfatórios, e de cada vez que o faz, elaborou novos paradigmas.

É desígnio dos arquitectos ser ética e socialmente responsáveis, sendo os


desafios da sustentabilidade uma das condicionantes da responsabilidade ética e
social inerentes à profissão.

Ao procurarmos simplificar noções de sustentabilidade ajudamos a desmistificar


um problema complexo, pois podemos deste modo e numa primeira etapa do
projecto estruturar estratégias de resposta simplificada

Ao procurarmos definir o que são eco-materiais de um modo simplificado,


propomos contribuir para a sua utilização de um modo mais intuitivo, sem recorrer
a sistemas complexos e burocratizados

Ao catalogarmos as diferentes famílias de eco-materiais, podem os leitores ficar


mais esclarecidos das suas possibilidades construtivas e vantagens ecológicas.

Ao encontrarmos situações significantes em obras de referência, seguindo as


obras de Arquitectos marcantes e contemporâneos, vamos apelar a novos
paradigmas arquitectónicos, pois apelo para a utilização é feito sem referência a
aspectos quantitativos e burocráticos.

Em suma será deste modo que esta dissertação discorrerá acerca das
expressividades dos eco-materiais.

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2- O ESTADO DOS CONHECIMENTOS

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2.1- O PROCESSO DE CONSCIENCIALIZAÇÃO AMBIENTAL:

Torna-se necessário saber qual tem sido a evolução das preocupações ambientais
para compreender a sua urgência. Para o efeito vamos descrever sumariamente
algumas das etapas desse processo. Este enquadramento permitirá compreender
melhor a necessidade de implementar cada vez mais critérios e pressupostos de
sustentabilidade na construção.

O processo de consciencialização ambiental é um fenómeno relativamente recente na


história da humanidade. A insatisfação ambiental é um processo que acompanha a
história da humanidade desde a sua origem. Foi o processo de insatisfação ambiental
que levou o homem a alterar as circunstâncias ambientais que o rodeavam.
Construindo alojamentos, inventando a agricultura, extraindo os metais, etc. Até à
revolução industrial, esta progressiva modulação das realidades ambientais às
necessidades e desejo do ser humano implicou algumas crises ambientais localizadas,
mas não interferiu com equilíbrio planetário.

Fig.- 12 Mina de carvão, bairro de mineiros, País de Gales, circa 1910, fonte Library of Congress

A partir da revolução industrial, a humanidade iniciou um processo de extracção e


transformação de recursos como nunca até então se tinha verificado. As necessidades
das indústrias assim o ditaram. Com esse processo de industrialização as populações
humanas começam a sentir os benefícios de um rápido crescimento.
Simultaneamente, começaram a sentir os efeitos das emissões e a sentir a presença
dos resíduos industriais no seu quotidiano. Devido ao fenómeno da urbanização as
populações começaram a conviver com espaços urbanos insalubres e habitats
poluídos, numa escala como até então nunca se tinha verificado.

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Em 1798 e 1803, Thomas Malthus, escreve dois ensaios sobre o princípio da
população, onde constata a insustentabilidade da manutenção de um crescimento
geométrico da população. Simultaneamente o Romantismo começa a disseminar uma
visão edílica da natureza, quase em contraponto com a sua leitura da
degenerescência da vida em cidade. O campo e a natureza começam a ser encarados
como um paraíso perdido. Subconscientemente começam a existir na sociedade
proto-sinais de alerta para a situação ambiental, contudo, apesar do contributo de
Malthus, este era sentimento geral sem base científica.

Apenas com a publicação de “A origem das espécies”, por Charles Darwin, em 1859, é
que começa a existir uma base científica que explique a evolução das espécies como
resultado de uma progressiva adaptação das mesmas a um ambiente específico. Em
simultâneo com as descobertas paleontológicas da época constatou-se que súbitas
extinções de espécies faziam parte da historia do mundo. Essa compreensão acabou
com um mito enraizado no subconsciente da espécie humana, o mito da imutabilidade
da natureza.

Fig.- 13 Explosão atómica em Hiroshima, 6 de Agosto 1945, 08,15h. Neste preciso momento, o mundo conhece o
alcance que a tecnologia humana adquiriu em termos de capacidade destrutiva, foto A P

Entre a segunda metade do Sec. XIX e meados do Sec. XX, o mundo viveu tempos
conturbados. Proliferaram os impérios coloniais, destinados a alimentarem a sua
industrialização com mais recursos e novos mercados. A industrialização desenvolveu
tensões sociais que fomentaram o aparecimento e desenvolvimento de teorias
políticas revolucionárias. Simultaneamente guerras eclodem em intervalos temporais
não muito distantes: ocorre a Guerra da Secessão nos EUA, as guerras europeias do
Sec XIX, a guerra Rússia Japão, o colapso do sistema imperial na China culminado

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pelas duas Guerras Mundiais, já para não referir a Revolução Soviética pelo meio, e a
entrada na era Nuclear, tudo isto até á primeira metade de Sec. XX.

Envolvida em tal sucessão de acontecimentos a espécie humana ficou com pouco


discernimento para percepcionar claramente que a situação ambiental se alterou
significativamente ao longo desse período.

Fig.- 14- Thomas Edison, 1857-1931- Inventor genial, representa o optimismo e a fé nas descobertas científicas e
tecnológicas como meio de responder às necessidades humanas. Parte desse optimismo impediu que a generalidade
das pessoas percepcionasse o alcance das alterações que a industrialização provocava no seu habitat.
Foto: William Eugene Smith, 1972

Contudo não podemos deixar de referir que durante o mesmo período, existiu um
progresso notável no desenvolvimento civilizacional, com a industrialização a atingir
níveis sem precedentes e simultaneamente a verificarem-se descobertas cientificas
revolucionárias em todas as áreas do conhecimento. Este desenvolvimento
civilizacional foi profundamente influenciado por descobertas científicas e tecnológicas
marcantes. As melhorias significativas no campo da medicina passaram pela
compreensão do papel das bactérias e micro organismos na doença, com o
consequente aparecimento das vacinas e desenvolvimento de novas técnicas
cirúrgicas. Na área dos transportes começa uma nova era de mobilidade, o comboio e
o aparecimento do automóvel e do avião abrem novos mundo. Na física assistimos a
uma autêntica revolução com a teoria da relatividade e as experiencias do casal Curie.
Nas cidades e no campo este período é marcado por profundas alterações, da
implementação das redes eléctricas, à massificação dos meios de comunicação, como
os jornais e a rádio, a vida das pessoas sofre uma alteração profundíssima. Em todas
as áreas do saber e da produção, quer seja ela agrícola ou industrial, as descobertas e
as novidades marcam o quotidiano.

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A esperança numa era de bem-estar baseada nas soluções da ciência e nos
benefícios da industrialização, aliada às conturbações históricas deste período tolda a
capacidade de se percepcionarem as alterações que o planeta sofria a nível
ambiental.

No final da 2ª Guerra Mundial o mundo entra na era nuclear e encontra-se perante


uma nova realidade, a Guerra Fria. Com ela veio a noção clara que espécie humana
podia deixar de existir por sua responsabilidade. Esta noção que os humanos têm a
capacidade de se auto-destruírem, inicia um processo que permite aumentar o nível
de consciência com que as pessoas encaram sua presença neste planeta.

Com esta percepção no seu subconsciente, a humanidade foi pela primeira realmente
confrontada com as consequências da industrialização em Minamata, no Japão, pois
entre 1958 e 1971 morreram cerca de 3 mil pessoas em virtude da contaminação da
cadeia alimentar. Essa contaminação foi originada pela poluição da Baia por uma
fábrica de PVC. Desse modo, o peixe e moluscos que faziam parte da alimentação
desta população adquiram altos níveis de mercúrio e outros metais pesados,
envenenando as populações vizinhas. Face ao aumento do número de mortes na zona
a Universidade de Kumamoto realizou uma investigação que concluiu que as pessoas
morriam de envenenamento por metais pesados. O envenenamento causava também
degenerações genéticas, afectando deste modo as gerações futuras.

Fig.- 15- Foto de Mãe a dar banho a filho de 16 anos, nascido com a doença de Minamata. Com este desastre,
percepcionamos de modo inequívoco, que os danos ambientais afectam-nos a nós e às gerações seguintes
Foto: William Eugene Smith, 1972

Na ocasião as autoridades políticas não intervieram, pois consideravam a fábrica


como elemento de progresso e de desenvolvimento. Em resultado desta atitude existiu
uma revolta popular que culminou com a ocupação pelas populações da fábrica da

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Chisso Corporation. Posteriormente com apresentação de uma acção judicial, a
fábrica foi reconvertida e a população indemnizada. Este é momento crucial na tomada
de consciência das populações nos processos ambientais. A partir deste momento as
populações verificam que tem capacidade, com esforço, de alterar e combater focos
de poluição. Com este acontecimento, os cidadãos apercebem-se que as questões
ambientais podem mudar radicalmente o curso expectável da sua vida. E como tal têm
o direito moral de entrevir.

Em 1961, em Londres, na VII conferência da União Internacional dos Arquitectos, R.


Buckminster Fuller, apresenta uma proposta para resolver o seguinte problema:
porque é apenas 40% da população usufrui dos recursos existentes? Em colaboração
com a Southern Illinois University, realiza um primeiro estudo, o “Inventory of World
Resources Human Trends and Needs”, em que analisa criteriosamente as
necessidades humanas, desde a alimentação, à extracção mineral, passando pelas
necessidades energéticas. Nesse estudo conclui-se que existe uma necessidade de
reformular os pressupostos que norteiam a nossa postura no mundo, pois os recursos
disponíveis não chegam para todos.

Fig.- 16- Protestos de cidadãos, a revolução cultural dos anos 60, altera a postura dos cidadãos perante o mundo, o
movimento ecologista começa a ganhar vigor e presença na sociedade, Foto: Bernie Boston, 1967

Durante o mesmo período, devido ao desenvolvimento dos media, nomeadamente da


televisão e das comunicações via satélite, a globalização das notícias na hora
transmite os sinais de alerta a toda a população. A população começa então a
relacionar os sinais de alerta que ecoam nas notícias. Começam também a ter a
noção que algo não estava a correr bem, e isso não se passava apenas no seu
quintal. Estes alarmes, secas, fomes, desastres industriais, derrames etc., estavam a
começar a acontecer simultaneamente em muitos locais distintos. Na segunda metade

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desta época tumultuosa, assistimos a uma profunda mudança social e política. O Maio
de 1968, os protestos contra a guerra do Vietname, a luta contra as tiranias, as lutas
pela independência, a revolução sexual e a música revolucionam o modo como
encaramos o mundo. No seio dessas movimentações, aparecem no meio académico
da Costa Leste dos E.U.A. determinados grupos que começaram a teorizar acerca da
componente política da defesa do meio ambiente. Estes grupos de estudantes aliam à
sua acção ambiental uma forte componente política. Dessa reflexão saem dois grupos
distintos.

Entre eles encontramos ao anarco-ecologistas, corrente que renega o


desenvolvimento e a sociedade de consumo, preconizando um neo primitivismo como
modo de vida. Esta corrente de pensamento tornou-se notória por numerosas
experiencias comunitárias auto-suficientes e pelas acções eco-terroristas que inspirou.
Entre os seus mais extremistas seguidores encontramos Ted Kasinsky, mais
conhecido por Unabomber. O filósofo John Zerzan foi um dos seus principais mentores
teóricos. Ele é o editor da revista Green Anarchy e a sua obra mais influente é “Future
Primitive” de 1994.

Por outro lado, a discussão política destas problemáticas motivou uma outra corrente
de pensamento. Esta defendia que se deveria sensibilizar as populações, pois caso as
populações tivessem conhecimento das consequências da crise ambiental, elas
constituiriam uma força política para poder alterar a situação. É desse modo que
assistimos nascimento dos primeiros organizações de carácter ecologista como a
Greenpeace e a WWF.

Fig.- 17- Nascimento da Greenpeace. Foto: Greenpeace., 1973

Pouco tempo depois, em 1973, o mundo é confrontado, com a primeira crise


petrolífera. O mundo desenvolvido sente na pele a falta de abundância de recursos. A

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consciência colectiva começa a perceber o significado de sustentabilidade, o mundo
dá uma prova da sua finitude.

Outra ocasião importante para aumentar esta crescente noção de finitude foi a celebre
fotografia tirada pela Apollo VII em que se vê o nascer da Terra visto da lua, em 1968.
A visão clara que o nosso planeta era um minúsculo círculo colorido na infinitude do
espaço, despertou consciências. Passámos a conceptualizar o local onde vivemos
como raro e precioso. Este é um momento importante na consciência colectiva da
humanidade.

Fig.- 18- Fotografia do nascer da Terra, tirada na Lua pela missão Apollo VIII. Nesta fotografia, a intensidade de cor e
vida da Terra contrastam com a aridez do espaço e da Lua. A nossa casa é coisa rara e valiosa. Foto: Nasa

Em 1966, preocupado com a situação económica e ambiental, Aurélio Peccei,


administrador da FIAT e da Olliveti, propõe a mais empresas e à comunidade científica
o estudo da questão. Em 1967 é fundado o Clube de Roma. Tinha como objectivo
discutir e analisar os limites do crescimento económico, levando em conta o uso
crescente dos recursos naturais. Numa primeira análise consideraram o crescimento
demográfico como o cerne do problema, pois origina uma industrialização acelerada, a
escassez de alimentos, o esgotamento de recursos não renováveis e a deterioração
do meio ambiente.

Em 1972 o Clube de Roma, encomenda ao MIT e a outras prestigiadas instituições,


um estudo científico para caracterizar a situação e realizar uma projecção a 100 anos
da situação do planeta e dos seus recursos. O estudo foi publicado em 1972 e tem
como titulo "Os Limites do crescimento". As suas principais conclusões são:
1. Se as actuais tendências de crescimento da população mundial, industrialização,
poluição, produção de alimentos e diminuição de recursos naturais continuarem
imutáveis, os limites de crescimento neste planeta serão alcançados algum dia dentro

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dos próximos cem anos. O resultado mais provável será um declínio súbito e
incontrolável, tanto da população como da capacidade industrial.
2. É possível modificar estas tendências de crescimento e formar uma condição de
estabilidade ecológica e económica que se possa manter até um futuro remoto. O
estado de equilíbrio global poderá ser planejado de tal modo que as necessidades
materiais básicas de cada pessoa na Terra sejam satisfeitas, e que cada pessoa tenha
igual oportunidade de realizar seu potencial humano individual.
3. Se a população do mundo decidir empenhar-se em obter este segundo resultado,
em vez de lutar pelo primeiro, quanto mais cedo ela começar a trabalhar para alcançá-
lo, maiores serão suas possibilidades de êxito.

Fig.- 19- Com a fundação da UNEP, as Nações Unidas, passam a dispor de um organismo que coordena os
programas de protecção ambiental numa perspectiva integrada, relacionando-os sempre com a componente do
desenvolvimento humano. Foto: UNEP

Em consequência da existência do Clube de Roma e de outras organizações, a


Nações Unidas realizam em Junho de 1972 a Primeira Conferência Mundial sobre o
Homem e o Meio Ambiente, também conhecida pela Conferencia de Estocolmo. Nesta
primeira conferência dedicada a temas ambientais não foi possível chegar a acordo,
pois os países subdesenvolvidos não aceitaram restrições ao seu desenvolvimento, e
os países desenvolvidos também não queriam pagar o diferencial de possíveis
restrições no desenvolvimento dos países do terceiro mundo. Contudo devemos
ressalvar, que apesar do fracasso em atingir um acordo, esta conferência teve como
maior virtude o facto de os estados reconhecerem os problemas ambientais, para além
desse reconhecimento, passou a existir a clara noção que a sua solução ou minoração
só será possível através de acções concertadas a nível global.
Em consequência da Conferencia de Estocolmo, é criada pelas Nações Unidas a
UNEP, United Nations Environment Programme. Esta agência tem como função
assessorar as Nações Unidas em programas de monitorização ambiental, promover e

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fomentar a realização de tratados internacionais, fomentar os programas e
instrumentos de desenvolvimento económico e ambiental sustentável. A criação deste
organismo foi de vital importância, pois pela primeira vez começaram a existir meios
para relacionar as visões e estudos nacionais, de modo a começar a ter uma imagem
global do estado ambiental do planeta. Foi através da UNEP que começou a
monitorização dos dados que permitiram começar a percepcionar o verdadeiro
problema da emissão de poluentes para a atmosfera com uma visão global do
problema. A primeira noção da gravidade da crise ambiental proveio da chamada crise
do Ozono. As medições dos níveis de ozono atmosférico sobre as calotes polares, em
especial na Antárctida, revelaram uma súbita diminuição dos seus níveis. De acordo
com os dados científicos e com modelos então disponíveis alertaram o mundo para
um possível derretimento dos gelos polares e relacionaram a rarefacção do ozono com
a poluição causada por aerossóis de uso industrial, nomeadamente os CFC (Cloro
flúor carbonetos)

Fig.- 20- Evolução do buraco de ozono desde 1980 até 2004, onde se verifica uma ligeiro decréscimo da sua dimensão
desde 2002, o que vem confirmar as previsões dos modelos adoptados na conferencia de Montreal. Com a aferição
dos resultados da conferência de Montreal podemos concluir que a humanidade pode reverter situações perigosas,
tendo o conhecimento cientifico do caso, basta vontade politica para agir. Foto: Nasa

Na mesma ocasião começam os primeiros alertas institucionais dados perante a


alarmante subida dos níveis de carbono na nossa atmosfera, relacionando-os com o
aumento de temperatura média do planeta e com o nível dos oceanos. Graças às
Nações Unidas e ao crescente grau de consciência ambiental, quer de governos, quer
de ONG’s, quer dos cidadãos, é realizada a conferencia de Montreal, em 1987, que
culmina com o Protocolo de Protecção da Camada de Ozono, onde é estabelecido um
programa para a limitar produção de CFC, e é criado um fundo de contrapartidas
financeiras aos países subdesenvolvidos de modo a compensá-los pela sua renúncia
em criar fabricas que os utilizem nos seus processos de desenvolvimento. Este
programa é o grande exemplo de como a cooperação internacional em problemas

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globais é a única resposta. Desde 2008 que o buraco de ozono tem vindo
progressivamente a diminuir, esperando-se, de acordo com os modelos científicos
empregues na sua monitorização, que a ordem natural das coisas esta restabelecida
em 2050.

É a UNEP que cria a em 1983 a Comissão Mundial sobre Meio Ambiente e


Desenvolvimento, também conhecida pela Comissão Bundtland, dado ser presidida
pela Dr. Harlen Gro Brundtlan, médica e antiga ministra do Ambiente, e Primeira
Ministra da Noruega. A Comissão Bruntdland com um papel chave no processo de
consciencialização ambiental, tinha como missão reavaliar as questões críticas
relativas ao meio ambiente e reformular propostas realistas para a sua solução. A
principal conclusão retirada pela comissão Brundtland foi a constatação da falência do
modelo de desenvolvimento vigente, pois caso os países desenvolvidos optassem
pelo modelo de desenvolvimento dos países industrializados todos os recursos se
esgotariam rapidamente.

Fig.- 21- Documento fundamental na compreensão das relações entre meio ambiente, desenvolvimento e
sustentabilidade. Fruto de um trabalho de 15 anos desenvolvido pela Comissão Mundial sobre o Meio Ambiente e
Desenvolvimento, nele o conhecimento científico é sistematizado e as medidas para alterar a situação são
preconizadas, mas falta ainda a vontade política. Foto: UNEP

No seu relatório final, publicado em 1987, conclui-se que se terá de substituir o actual
modelo de desenvolvimento por um novo modelo. O modelo de desenvolvimento
sustentável é apresentado como solução e é concebido pela seguinte premissa “ele é
o desenvolvimento que satisfaz as necessidades presentes, sem comprometer a
capacidade das gerações futuras de suprir suas próprias necessidades” (Brundtland
1987). Esta definição de sustentabilidade é marco fundamental no processo de
consciencialização ambiental, pois até esse momento, as preocupações estavam
centradas em duas situações tipo. Por um lado existia uma grande preocupação com
os problemas ambientais mais locais, o que motivava os cidadãos e as instituições a

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começar a agir. Por outro lado, em relação à situação global, a noção de falência do
modelo começava a estar enraizada nas consciências, mas ainda não existia um plano
alternativo que permitisse à humanidade sair desta situação. Só depois do relatório
Brundtland, e face às suas conclusões, é que as nações começaram a procurar as
primeiras tentativas exequíveis para projectar um caminho sustentável para o
problema. A cidadania começa a ganhar peso no quotidiano das nações, são os
cidadãos a pressionar os governos para intervirem cada vez mais nas questões
ambientais. O mesmo se passa em relação às empresas, a consciencialização
ambiental é cada vez mais um fenómeno global.

Em 1992 realiza-se a Conferencia do Rio que culmina com o tratado que cria a
Convenção - Quadro das Nações Unidas sobre as Mudanças Climáticas. Este tratado
tem como objectivo a estabilização da concentração de gases do efeito estufa na
atmosfera em níveis tais que evitem a sua interferência perigosa com o sistema
climático. É esta convenção que lança as bases para o protocolo de Quioto, onde
finalmente em 1997, se chega a acordo para a redução progressiva de emissões de
CO2 para níveis de 1990. O acordo prevê sistemas de monitorização, de cotas de
carbono e de mecanismos de compensação aos países em vias de desenvolvimento.
O Protocolo foi muito criticado pela comunidade científica e pelas ONG ecologistas,
pois nos seus modelos consideram que a redução proposta, reduzir os níveis de
emissões para o patamar de 1990, não será suficiente para mitigar a situação. Por
outro lado, apenas em 2005 é que foi concluído o processo de ratificação do protocolo,
que deveria ter estado em vigor entre 2000 até 2012. Não deixa apesar de ser tudo de
ser mais um momento marcante neste processo contínuo de consciencialização
ambiental em que ainda nos encontramos.

Fig.- 22- Manifestante em durante a realização do COP 15 em Copenhaga em Dezembro de 2009. Com o aumento da
consciência ambiental dos cidadãos, as acções de protesto para incrementar os níveis de resposta à crise ambiental
tem aumentado exponencialmente. Esperemos que com a proliferação de democracias a nível mundial esta pressão
seja efectiva em tempo útil. Foto: sorenbosteendahl.wordpress.com

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Em 2006, Al Gore lança o documentário “Uma Verdade Inconveniente”, uma
adaptação das suas conferências sobre as alterações climáticas, que foi largamente
difundido e discutido e marca um ponto crucial na democratização de uma realidade
nem sempre acessível aos menos bem informados. Este é um momento importante
neste processo de consciencialização ambiental em que nos encontramos. Graças a
este filme, e devido ao seu êxito, muitos milhões de cidadãos perceberam um pouco
melhor de qual o verdadeiro problema que enfrentamos.

Fig.- 23- Al Gore, antigo Vice-presidente dos E.U.A. durante o mandato Clinton, lança o documentário “Uma Verdade
Inconveniente”, baseado nas suas conferências sobre o aquecimento global e a sua relação com crise ambiental. Êxito
de bilheteiro em 2006 e ganhador de dois Óscares, este documentário teve a vicissitude de alertar os mais distraídos
para a gravidade da situação. Foto: www.algore.com

A recente Cimeira da Terra em Copenhaga, apesar do relativo insucesso, deu


seguimento ao Protocolo de Quioto, alargando o âmbito de acção e controle,
estabelecendo fundos de compensação para os países menos desenvolvidos e
aumentando as medidas de redução de emissões nos países desenvolvidos. Marcante
na COP 15 foi o movimento de massas que mobilizou para tentar pressionar o poder
político em adoptar medidas mais realistas. Reflexo da democratização da informação
motivada pela revolução digital, ela lança um sério aviso ao poder político. Cada vez
mais o processo de consciencialização ambiental pressionará o poder politico com as
suas preocupações ambientais.

A grande virtude do processo de consciencialização é que cada indivíduo passa a ter a


clara consciência que os seus actos importam para resolver a situação. Que por mais
conferências, protocolos e tratados que existam, se o individuo não mudar o modo
como se relaciona com o mundo essa é uma batalha perdida. A mudança de
paradigma passa sem sombra de dúvidas por uma imensidão de actos individuais.

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27
Esta é uma esperança e um dever para o futuro, sendo que cada vez mais, na nossa
qualidade de cidadãos, iremos pesar a consequência dos nossos actos em termos
ambientais. O significado ético do conceito de sustentabilidade pesa no nosso
quotidiano e isso é o princípio de uma mudança, uma mudança, que passo a passo,
nos permitirá alterar as perspectivas mais sombrias que neste momento nos são
apresentadas.

A grande esperança para o futuro alicerça-se no nosso passado como espécie. O ser
humano sempre conseguiu adaptar-se a novas realidades e é dado histórico que
quase sempre se saiu bem e prosperou após a adaptação.

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2.2- A ARQUITECTURA COMO RESPOSTA A HABITATS
INSATISFATÓRIOS:

Cada vez que a arquitectura se viu confrontada com temas de urgência civilizacional,
criou novos paradigmas e soluções de modo a dar resposta aos mesmos. A
concretização desta resposta teve uma concretização alicerçada nas materialidades
do seu tempo.

Assistimos a este tipo de actuação desde o séc. XIX, como resposta aos problemas
sociais e de salubridade causados pela urbanização originada pela revolução
industrial. Situação esta que deu origem a uma serie de conceitos, que começaram
com Charles Fourrier e acabaram por culminar em Le Corbusier e a Carta de Atenas,
passando pelas cidades jardim, pelo modernismo, pelo racionalismo, entre outros.

Fig.- 24- Karl Marx Hof, de Karl Ehn, Viena 1932. Conjunto habitacional para operários, incluía espaços verdes,
infantários e lavandarias, de modo a melhorar as suas condições de vida. Numerosos avanços na arquitectura foram
marcados pela vontade dos arquitectos em resolverem problemas reais.

Ou seja, a origem do modernismo, incluindo as suas correntes organicista e


racionalista, surgiu também como resposta ao problema civilizacional da falência do
modelo urbano medieval perante a voracidade da urbanização de origem industrial.
Esta resposta elaborou uma serie de novos modelos arquitectónicos e urbanos, a
concretização desses modelos apoiou-se em grande parte na utilização das
materialidades icónicas da revolução industrial.

A massificação dos processos de produção do ferro, do aço, do vidro abriu portas a


que o desenvolvimento arquitectónico passasse a incorporar este materiais,

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reformulando a sua linguagem e adquirindo novas expressividades como parte da
resposta ao problema da falência do modelo da cidade medieval.

Com O fim da 2ª Guerra Mundial, acrescente necessidade de construção e seriação


da reconstrução, desencadeou desafios que foram parcialmente resolvidos pelas
intervenções governamentais e pela industrialização massiva da indústria da
construção. O problema da contínua urbanização levantou novos paradigmas. Com as
intervenções realizadas, a falta de referências urbanas, a progressiva desumanização
do espaço público e urbano e o excessivo zonamento levantaram novos problemas, o
que originou por sua vez, novas respostas, como o regionalismo crítico e o pós-
modernismo.

Fig.- 25- Pavilhão da Finlândia na Feira Mundial de Nova York, 1938/39, de Alvar Aalto. A utilização de materiais
tradicionais, utilizando-os de um modo novo e surpreendente permitiu a Alvar Aalto um percurso de carreira influente e
marcante.

Cada uma dessas respostas teve associadas materialidades e expressividades


próprias. No caso do regionalismo crítico é de ressalvar a utilização de materiais e
técnicas de tradição local associadas à tradição moderna. Já o Pós-modernismo se
caracterizou pela junção da tradição clássica aos materiais mais expressivos da
sociedade de consumo.

Estas respostas fazem parte de um processo contínuo iniciado no inicio do Sec. XIX,
tendo todas estas correntes e movimentos uma premissa comum: a crença num
crescimento contínuo. Essa premissa não é exclusiva das correntes e pensamento
arquitectónico, ela é uma premissa transversal à génese política, económica e social
da sociedade capitalista.

Hoje é um dado adquirido que o nosso processo de exploração e crescimento nos


conduziu a uma encruzilhada civilizacional. Essa encruzilhada tem um potencial que

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nenhuma outra teve na história da humanidade, ela tem o potencial de poder alterar
definitivamente o equilíbrio planetário, podendo em última análise acabar com o
processo civilizacional tal como o conhecemos. Contudo esta situação não é uma
inevitabilidade. Encontramo-nos numa altura onde mais uma vez o engenho e a
capacidade de adaptação da espécie humana se preparam para reagir à adversidade.

No campo da Arquitectura, nos últimos 20 anos começam a aparecer novas atitudes.


A resposta a problemas ambientais começa a fazer parte do léxico da profissão. A
profusão de exemplos de arquitecturas bioclimáticas, as tentativas de formular
arquitecturas de urgência têm uma presença cada vez mais significativa na produção
arquitectónica. A necessidade deste tipo de respostas tem vindo a ter um lugar de
maior destaque nas preocupações da produção arquitectónica, e isso deve-se à
consciência de que o objecto arquitectónico não é um mero elemento isolado, mas sim
parte de uma realidade complexa e interdependente.

Fig.- 26- Pavilhão Vasarely, Aix-en-provence, 2006, de Shigeru Ban. A utilização de materiais reciclados marca a obra
de Shigeru Ban de modo notável, neste caso vemos o aproveitamento de tubos de cartão, resíduos de cartão da
indústria têxtil.

Por outro lado, o actual estado das cidades, autênticos sorvedouros de recursos e
produtoras em massa de resíduos, tem proporcionado uma incessante investigação
por parte de urbanistas e arquitectos para reformular este paradigma. A realidade das
cidades actuais, expoentes máximos da sociedade liberal de consumo, tem criado
numerosos conflitos sociais e ambientais. Boa parte da população urbana, apesar de
ter beneficiado enormemente em termos materiais e civilizacionais com o
desenvolvimento da cidade pós industrial, encontra-se num estado de insatisfação
generalizado. A visão materialista de que o acesso a bens e serviços de um modo fácil
e generalizado compensaria a perda de partes significantes que integravam parte da
vida das pessoas, começa a ser questionada.

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A recente crise financeira que afecta o mundo desde final de 2008 é resultado desta
visão do mundo. Richards Meadows, o coordenador do estudo "Os Limites do
Crescimento", na conferência de atribuição do Japan Prize, afirma que as piores
consequências da crise da falta de recursos que o mundo atravessa, não se
verificarão quando os recursos começarem a diminuir drasticamente, mas sim quando
nos aproximarmos do pico da sua utilização. Ou seja é antes do decréscimo que as
piores convulsões se vão sentir na vida das pessoas, pois é nessa altura que as
principais tensões do esgotamento dos actuais modelos económico e de
desenvolvimento se vão manifestar. Segundo Meadows é esse o momento em que
vivemos.

Estas tensões motivam também um grande sentimento de descontentamento nos


cidadãos. John Pawson, conceituado arquitecto britânico, a respeito dos actuais
modelos arquitectónicos, afirma que a implementação de novos modelos de vida
sustentáveis é imperiosa, não só por causa da problemática ambiental, mas também
porque o sentimento generalizado de insatisfação que as pessoas sentem em relação
ao seu actual modo de vida, gerador de infelicidade, deve ser posto em causa, pois
desenvolvimento humano e felicidade estão intrinsecamente ligados.

Fig.- 27- Malmo's Western Harbour, 2004. Começam a ser numerosos os exemplos de cidades que se lançam em
experiencias de sustentabilidade, aqui em Malmo, nesta antiga e poluída zona portuária cresce agora uma nova porção
de cidade, sustentável, com um impacto mínimo na emissão de resíduos e fomentadora da bio-diversidade.

Logo verificamos que a produção arquitectónica, tal como o tem repetidamente feito
nos últimos duzentos anos, encontra-se num momento de charneira e mudança de
paradigmas. Para os arquitectos esta é uma altura única de poder contribuir para a
resolução dos problemas com que nos defrontamos. Reflectindo sobre as reais
necessidades das pessoas, das edificações e das cidades e com a criatividade que
historicamente temos tido, criando novos paradigmas arquitectónicos. Cumprindo
desse modo a função ética e primordial do arquitecto, ser “criador de felicidade”.

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32
2.3-A RESPONSABILIDADE SOCIAL DO ARQUITECTO:

No seguimento desta mudança de hábitos de consumo, os Arquitectos têm um papel a


desempenhar.

Existe a nível global uma grande parte da população que ainda não dispõe de
habitação salubre e digna. Por outro lado, o desenvolvimento económico de algumas
nações, nomeadamente as designadas nações BRIC (Brasil, Rússia, Índia e China),
irá aumentar o nível de consumo das respectivas populações.

A isto ainda teremos de somar a resposta que irá ser dada às necessidades dos fluxos
migratórios. Com este quadro futuro, podemos deduzir que uma enorme quantidade
de recursos naturais e energia serão consumidos na resposta a esta situação.

Fig.- 28- Gráfico da evolução da população humana desde 1750 com previsão de crescimento até 2150. Fonte: World
Populations Propects, United Nations Population Division

Boa parte destes recursos será dispendida nas construções indispensáveis para
responder a esta necessidade. Falamos de construção, a um nível sem precedentes,
de novas cidades e partes de cidade, com a sua panóplia de infra-estruturas,
habitações e equipamentos. Falamos também de um enorme fluxo de energia que
alimentará esta nova realidade.

Como intervenientes neste processo, os arquitectos devem ter a consciência clara que
a sua prática irá ter consequências globais. O somatório das diferentes opções de
projecto irá pesar de um modo claro no resultado final. Tem de existir uma clara
percepção de que todas as obras, das mais insignificantes às mais notórias, têm de
ser tratadas com a mesma preocupação. Cada projecto que realizarmos deve encarar
a sustentabilidade como parte fundamental da sua génese.

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Claro que a Arquitectura, como actividade humana imprescindível, reflecte os
condicionalismos da História, não sendo de estranhar que numa época de excessos,
boa parte da história recente da arquitectura tenha sido marcada pelo chamado Star
System. Durante as últimas décadas, o papel e a responsabilidade social do arquitecto
perderam notoriedade face às questões de autoria. Numa altura de mudanças globais
e de uma grave crise ambiental é de esperar que a ética e a responsabilidade social
do arquitecto voltem à da prática.

Fig.- 29- Vista de do centro de Xangai, 2009. A pressão populacional e desenvolvimento económico das cidades dos
países em via de desenvolvimento vão criar enormes necessidades de construção nas cidades, o processo de
urbanização ainda não estabilizou e os recursos necessários para o concluir serão imensos. Foto: Planet Shanghai

No artigo nº 47 do estatuto da Ordem do Arquitectos lemos que “O arquitecto, no


exercício da sua profissão, deve: a) Actuar de forma que o seu trabalho, como criação
artística e técnica, contribua para melhorar a qualidade do ambiente e do património
cultural; b) Utilizar os processos e adoptar as soluções capazes de assegurar a
qualidade da construção, o bem-estar e a segurança das pessoas;” (O. d. Arquitectos
s.d.).

No artigo nº 3 do Regulamento de Deontologia da Ordem dos Arquitectos lemos que


“Constituem deveres do arquitecto para com a comunidade: a) Orientar o exercício da
sua profissão pelo respeito pela natureza, bem como pela atenção pelo edificado pré-
existente, de modo a contribuir para melhorar a qualidade do ambiente e do património
edificado.” (O. d. Arquitectos s.d.)

Como acabamos de ler, na regulação da profissão, a responsabilidade ética do


Arquitecto, enquanto elemento responsável pelas consequências ambientais da obra,
está claramente considerada. A responsabilidade ética do arquitecto nada mais é do

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que um prolongamento da sua responsabilidade enquanto cidadão. Nesta urgência em
que procuramos encontrar um equilíbrio sustentável entre o ser humano e o seu
planeta, cada cidadão tem a sua cota parte de responsabilidade e o arquitecto tem
responsabilidades acrescidas, pois no edificado está uma grossa fatia do nosso
consumo de recursos.

Fig.- 30- Pavilhão de Espanha, 2008, Francisco Mangado. Reinventando a cerâmica, Francisco Mangado, cria um bio
mimetismo com o bambu, utilizando os elementos cerâmicos como depuradores de águas, climatizando o edifício e
minimizando o consumo de recursos. Foto: http://www.fmangado.com

Lembremo-nos que na edificação actualmente são dispendidos cerca de 40% dos


recursos e da energia consumida a nível mundial, e que, com as necessidades
previstas para alojar o aumento populacional com que nos deparamos, elas serão
muito maiores. Daí a urgência em aumentar exponencialmente as respostas eficazes a
estas necessidades, pois caso não tenhamos o rigor e a imaginação de encontrar
estas respostas, assistiremos a tragédia de dimensões inimagináveis.

Torna-se igualmente necessário, para além de encontrar processos de construir


sustentavelmente, que o projecto de arquitectura encontre meios de iniciar a
regeneração de habitats danificados. Quer eles sejam na reconstrução de zonas de
catástrofes, quer os mesmos tratem de recuperar a biodiversidade, reconstruindo
inteligentemente ecossistemas ou promovendo habitats artificialmente naturais nos
nossos edifícios e cidades.

Cada vez menos se pode encarar o fenómeno da construção como algo distinto do
ecossistema do planeta. A visão da criação arquitectónica como um mero objecto
técnico e criativo, separado do meio onde se encontra e desligado das consequências
que provoca é uma ideia ultrapassada e perigosa. Hoje em dia não chega cumprir o
triunvirato vitruviano da Fermitas, Utilitas e Venustas pois a complexidade da

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crescente exigência de solicitações a que o projecto arquitectónico deve responder
não para de aumentar. Entre essas novas solicitações destacamos a capacidade do
edificado em produzir e economizar energia, ser eficiente na utilização de recursos,
salvaguardar o solo, ter a possibilidade de alojar várias funções, constituir-se para
regenerar o ambiente, quer do ponto de vista da biodiversidade, quer do ponto de vista
da regeneração social e económica, entre outras e cada vez mais complexas
solicitações. Estas são tarefas que se impõem atendendo à responsabilidade social e
a ética da profissão actual. E esta deverá utilizar as técnicas e os saberes que a
humanidade vem desenvolvendo para desvendar novas arquitecturas.

Fig.- 31- Pavilhão Médico em Khartoun, Sudão , 2008, TAMassociati. As arquitecturas da emergência concretizam
plenamente a responsabilidade social que se espera dos arquitectos. Estas resposta não invalidam que se obtenham
resultados de grande valia arquitectónica com orçamentos mínimos e respeitando exigentes critérios de
sustentabilidade. Neste centro médico a construção utiliza contentores reciclados e materiais locais e sustentáveis.
Foto: http://www. tamassociati.org

Cada vez mais as opções do projecto deverão incluir uma análise dos custos
energéticos e ambientais das nossas escolhas. Obviamente que esta obrigação ética e
social, não se deverá sobrepor a todas as outras obrigações da praxis, devendo o
carácter artístico, estético e autoral da prática continuar a ser valor fundamental. Tal
como o deverão ser a integração urbana, o respeito pelo património cultural, a
adaptação do projecto aos hábitos sociais e culturais das populações, a acessibilidade
dos espaços, a economia da construção, etc.

A componente ambiental das opções de projecto será mais uma das diversas
solicitações a que um projecto deverá responder. A resposta ambiental do projecto
deverá ser alicerçada em duas componentes. Em primeiro lugar deverá minimizar os
custos ambientais da vida útil do edificado, em segundo lugar deverá minimizar a
utilização de recursos no acto da construção. Ou seja, a necessidade de resposta a
estes novos desafios, irá aumentar a complexidade e a exigência da prática

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arquitectónica. Esse aumento de solicitações irá com certeza provocar novos
paradigmas no fenómeno arquitectónico. Esses novos paradigmas irão sem dúvida
enriquecer a história da arquitectura pois são motivados por novas respostas a novas
necessidades, e sempre que tal aconteceu, tivemos revoluções no modo em como se
pensa e executa a prática arquitectónica.

Fig.- 32- Pavilhão de Oração no Darfur, Sudão , 2007, TAMassociati. Programa complexo e significante, um centro de
oração inter-religioso para um campo de refugiados. Construído apenas com materiais locais, taipa e madeira,
edificado pela população refugiada. Foto: http://www. tamassociati.org

O Arq. João Belo Rodeia, Presidente da Ordem dos Arquitectos escreve a esse
respeito o seguinte “ Num planeta cada vez mais pequeno, morada definitiva da
aventura humana, a finitude abre novas oportunidades a uma Arquitectura com
responsabilidade ética, relevância social e significado físico.” (Rodeia 2006) e
Fernando Távora, na sua teoria geral da organização do espaço, dissertando acerca
do papel do arquitecto, afirma “ Para além da sua formação especializada e porque ele
é homem antes de arquitecto que ele procure conhecer não apenas os problemas dos
seus mais directos colaboradores, mas os do homem em geral. Que a par de um
intenso e necessário especialismo ele coloque um profundo e necessário humanismo.
Que seja assim o arquitecto - homem entre os homens - organizador do espaço -
criador de felicidade” (Távora 1962). Em suma, apesar de proferidas em tempos
diferentes, ambos apontam o caminho seguir. Caminho esse que na prática, nada
mais é do que sempre foi ser Arquitecto, praticando a arquitectura de um modo
consciente e responsável. Utilizando o ofício engenhosamente em favor do bem
comum, seja “ criador de felicidade”.

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2.4- CONSTRUÇÃO SUSTENTÁVEL:

O modo como temos construído nos últimos 100 anos contribui muito para o actual
estado do planeta. A indústria da construção, com todas as suas exigências
energéticas, de recursos e de resíduos esgotou e danificou seriamente a
sustentabilidade dos mesmos. Por outro lado as exigências do edificado vão aumentar
brutalmente nas próximas décadas.

Convêm relembrar que durante 100 anos beneficiámos dos méritos da


industrialização. Os sistemas de construção embarateceram substancialmente face
aos sistemas tradicionais, democratizando a edificação.

O mesmo se passou com a energia, o que permitiu uma enorme melhoria na vida de
milhões de seres humanos, melhorando os sistemas de produção, permitindo
armazenamento de víveres em melhores condições, alterando por completo os modos
de distribuição dos produtos e climatizando o edificado, entre outros inúmeros
benefícios civilizacionais.

Fig.- 33- A epidemia de obesidade que a nossa sociedade presencia é consequência do consumo desregrado, ela é
mais um sinal em como devemos mudar os nossos comportamentos
Fonte: http://www.abc.net
Fig.- 34- Boa parte das nossas cidades estão edificadas para fomentar um consumo desenfreado de recursos, tanto
elas como a epidemia de obesidade são consequência da sociedade de consumo.
Fonte: http:// www.intelligenteconomy.com

Face ao seu baixo custo, a eficácia na utilização dos recursos e da energia não era
critério a ter em conta na altura de construir. Se era necessário climatizar um edifício,
o ar condicionado ou o aquecimento resolviam, o custo da energia dispendida para o
efeito era negligenciável. O mesmo se passava em relação aos desperdícios e aos

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materiais empregues. O emprego destes critérios, ao contrário do que seria lógico,
valorizava o edificado.

Contudo apesar do custo dos recursos e da energia ser baixo, isso não implica que
como espécie, não tenhamos de o pagar. Hoje estamos no início de um processo
onde o verdadeiro custo das coisas tende para a verdade. Logo cada vez mais vamos
pagar o preço da insustentabilidade.

Devidos aos custos da insustentabilidade encontramo-nos na altura de alterar este


modelo. As principais mudanças que devemos implementar estão no modo como
pensamos a construção. Em vez da resposta imediata, devemos aprofundar o projecto
no sentido de perceber os seus reais impactos ao longo da sua vida útil e
consequentemente diminui-los.

Para atingir esse objectivo, o projecto deverá ser objecto de uma análise de ciclo de
vida, (ACV). Esta metodologia permite aferir as opções de projecto em termos
energéticos e ambientais. Para entender o que é uma análise de ciclo de vida temos
de considerar em primeiro lugar a vida expectável do edifício. De seguida
consideraremos os custos energéticos dispendidos com a sua execução, designado
de energia incorporada. A estes custos teremos de realizar o somatório dos custos
energéticos do edificado relativamente às suas necessidades de iluminação,
climatização, ventilação e manutenção.

Diferentes opções conduzem a diferentes resultados, por norma as situações mais


eficientes conduzem a poupanças monetárias efectivas, se bem que em algumas
situações exijam investimentos iniciais mais elevados. O importante nestas análises é
ter um instrumento que permita medir de um modo rigoroso quais as consequências
das opções de projecto.

Parte deste análise já se reflecte nos nossos projectos, a certificação energética,


instituída nos países da Comunidade Europeia. Contudo os custos da energia
incorporada e da manutenção do imóvel ainda não são reflectidos na informação
prestada ao utilizador.

Relativamente à Análise de Ciclo de Vida (ACV), ainda não existem parâmetros e


métodos padrão que sejam claramente aceites por todos. Contudo, a breve prazo,
teremos esta situação mais clarificada, dado que as normativas a implementar da CE

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irão clarificar esta situação. Existem contudo numerosos programas implantados, ou
em vias de serem implantados em vários países: método Viiki na Noruega, Breeam no
Reino Unido, o LiderA desenvolvido pelo Instituto Superior Técnico, o sistema Cradle
to Cradle desenvolvido pelo Hamburger Umweltinstitut (Instituto do Ambiente de
Hamburgo), LEED (U.S. Green Building Council), a norma ISO 14000 entre outros.

São sistemas muito complexos, de carácter fortemente burocratizado, adequados para


a certificação, mas não dispondo da ligeireza e agilidade necessárias para
constituírem um instrumento ágil que permita ao arquitecto ir aferindo a
sustentabilidade do projecto durante o seu desenvolvimento. Tal apenas se torna
possível com equipas pluridisciplinares, vastas e de grandes estruturas, o que no caso
da maioria dos ateliês, caracterizados por serem pequenas estruturas, torna inviável a
sua utilização em projectos de pequena e media dimensão, projectos esses que
constituem a maioria do edificado. Tem portanto o arquitecto de socorrer-se de
estratégias alternativas para conseguir atingir esse propósito.

De um modo simples, pois esta dissertação não pretende analisar ou comparar


métodos de ACV, podemos afirmar que se o projecto procurar seguir as seguintes
directrizes, ele estará a contribuir para mudar o paradigma construtivo:

“1- É melhor não construir.


2-Se é necessário construir, é preferível reabilitar.
3-É melhor construir com materiais renováveis, estejam perto ou longe.
4-É mais ecológica uma construção leve do que uma construção pesada.
5-É preferível montar do que construir, sobretudo para se poder desmontar facilmente.
6-É necessário diminuir a procura energética. E depois de a limitar, o ideal seria
produzi-la através de fontes renováveis.” (Arnal, Eco productos 2008).

Com seis princípios, Ignaci Perez Arnal delineia um conjunto de pressupostos


facilmente conciliáveis com a prática do projecto. No seu papel, o arquitecto concilia os
mais diversos saberes para conceptualizar um projecto. Esse processo é complexo e
atreito a muitas solicitações, sendo que um somatório de solicitações não faz um
projecto, mas a conceptualização de uma ideia que concilie e hierarquize as diferentes
solicitações é o projecto.

Mais que responder a uma longa lista de solicitações, o arquitecto, necessita de


incorporar na sua raiz genética a necessidade de construir sustentavelmente. Para

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isso, e na ausência de instrumentos intuitivos de projecto que permitam realizar essa
avaliação, ele precisa de princípios óbvios que lhe apresentem estratégias viáveis e
intuitivas. Estratégias que não colidam com o acto criador do projecto, mas que o
complementem, sem constituir uma interrupção burocrática no processo criativo.
Nesse sentido, os seis pressupostos que Ignaci Perez Arnal enunciou, são uma boa
base de partida para caminhar para a sustentabilidade de qualquer projecto.

Convêm acima de tudo encarar a construção como um organismo vivo. O ser humano,
e em especial os arquitectos, deverão compreender, que tal como um organismo vivo,
o edificado deverá subsistir com os recurso de que dispõe à sua volta. Deverão ainda
compreender, que tal como as folhas das árvores quando morrem, caem ao solo e vão
passar a alimentar as gerações futuras, num magistral ciclo biológico, igual ao que a
natureza pratica desde tempos imemoriais.

Claro que não depende apenas do Arquitecto esta mudança, depende dos extractores
de matérias-primas, depende dos fabricantes, depende dos consumidores, dos
políticos, das famílias, enfim depende de todos nós. Mas imperativamente o faremos,
podemos faze-lo à posteriori, e nesse caso não controlando o paradigma e não
acautelando as consequências. Ou podemos realiza-lo acautelando o futuro, e nesse
caso, alterando estruturas e métodos de construir e acima de tudo mudando modos de
vida, mudando o paradigma civilizacional onde nos encontramos. Caso tal não
aconteça, podemos correr o risco de interromper este ciclo virtuoso que permitiu o
florescimento do Homem a da civilização na Terra. Essa é a urgência de nos
tornarmos sustentáveis.

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2.5 – ENTENDIMENTO DO ECO MATERIAL.

Antes de começarmos a explorar a qualidades expressivas dos eco-materiais,


devemos definir com exactidão o que é um eco-material. Temos correntes de
pensamento, nomeadamente os anarco ecologistas que na sua visão de rejeição da
sociedade industrial, advogam por uma definição estreita do que é um eco-material,
aceitando apenas que materiais sustentáveis de génese não tecnológica nessa
categoria. Claro que na sua coerência, advogam também a rejeição de todos os
avanços tecnológicos da humanidade, atitude extremista e contraproducente.

Temos a noção que estas visões mais extremadas podem ter sido úteis a determinada
altura da tomada de consciência da problemática ecológica. Contudo, acreditamos que
a fase panfletária desta questão está ultrapassada. A tomada de consciência para os
problemas ambientais já se encontra numa fase onde as questões pragmáticas
impõem a sua lógica. E essa lógica não se atinge com mudanças instantâneas de
modelo, elas serão conquistadas gradualmente, sendo obvio que essa conquista é
coisa de muita urgência.

Hoje a premência está do lado das medidas de mitigação da nossa pegada de


carbono e na progressiva sustentabilidade do nosso modelo produtivo. Para atingirmos
esse objectivo não existem respostas rápidas nem soluções instantâneas. A
reformulação do processo de produção linear para um modelo circular atinge-se pela
junção de numerosos e diversificados esforços.

A certificação ambiental dos materiais que dispomos ainda se encontra numa fase de
implementação. Existem, tal como nas Analises de Ciclo de Vida, numerosos sistemas
de avaliação, de certificação ambiental dos materiais de construção, a exemplo a ISO
14020, ISO 21930, Cradle to Cradle, CEN BT 14/2005, PEFC (Programme for the
Endorsement of Forest Certification), entre outros, que estabelecem critérios e
abordagens distintas para emitir declarações de impacto ambiental. Estas declarações
devem ser formuladas pelos fabricantes dos diversos materiais de construção de
modo a servirem de instrumento na escolha dos que elegemos para os nossos
projectos. Existem organizações de produtores que certificam a sustentabilidade dos
seus produtos. Em boa parte dos catálogos de materiais que habitualmente
acompanham o acto do projecto, o arquitecto deve começar a encarar os indicadores

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ambientais, do mesmo modo que encara a categoria de resistência ao desgaste de um
pavimento. Estas declarações são um dos instrumentos mais eficazes de que
dispomos na aferição da sustentabilidade das nossas escolhas.

Contudo devemos realçar que, mais do que comparar exaustivamente as


características dos materiais, é necessário ter uma visão estratégica dos conceitos de
sustentabilidade que nos permita balizar as orientações gerais das nossas escolhas no
projecto, quer ao nível da sustentabilidade, quer ao nível da abordagem inicial da
escolha dos materiais dos nossos projectos.

Perante esta situação deparamo-nos com muita investigação que afere a


mensurabilidade da sustentabilidade, nomeadamente ao nível das questões da
certificação ambiental, das análises de ciclo de vida e desenvolvimento de eco-
materiais particulares, existindo poucos documentos científicos que proponham
estratégias de sustentabilidade para a construção no âmbito dos eco-materiais.

Contudo podemos destacar as investigações desenvolvidas pela Escola d’Arquitectura


de Barcelona da Universidade Internacional da Catalunya que tem produzido uma
série de investigação muito centrada na questão dos eco-materiais. Um dos mentores
destas investigações é o Arq. Ignasi Perez Arnal. No livro “Eco Productos, en la
arquitectura e el deseño” (Arnal, Sauer, et al. 2008), encontramos uma definição lata
do que são eco-materiais. Esta definição é extraordinariamente útil pois consegue
sintetizar em linhas gerais critérios de escolha para a questão dos eco-materiais.
Na sua visão estratégica, o Arq. Ignasi Perez Arnal sintetiza um conjunto de 10
pressupostos que nos permitem um bom enquadramento na problemática do que são
os eco-materiais.

“ 1- Material absorvente de CO2: A escolha de um material que participe activamente


na solução de uns dos mais complicados problemas actuais. A mitigação do
aquecimento global é a melhor opção que a construção pode dar ao meio ambiente.
2- Material sustentável: Se utilizarmos as matérias-primas que a natureza nos oferece
de maneira inesgotável, não condicionamos o futuro das nossas reservas.
3- Materiais recicláveis: O destino de um material reciclável encontrasse na
reutilização, não acaba no aterro.
4- Material reciclado: Evitamos a contaminação e o consumo de energia necessários
para a fabricação nova do mesmo material, consequentemente reduzimos a
quantidade de resíduos.

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5- A pureza compositiva: Quanto mais matérias-primas sejam necessárias para obter
um material, mais complicada se torna a sua separação e a sua reciclagem.
6- Energia incorporada: Para além de dos custos energéticos iniciais (extracção,
transporte, fabricação…), é importante compreender a dependência energética do
material ao longo do seu ciclo de vida (inércia térmica, manutenção, rupturas e
desgaste, possibilidade de ser reciclado ou reutilizado).
7-Grau de industrialização: Apenas para projectos de muito pequena escala se justifica
a utilização de um material artesanal que exija muita mão-de-obra e a utilização
intensiva de recursos em obra (água e energia). Em todos os restantes projectos
deveria-se utilizar materiais industriais onde existe um consumo controlado de
recursos e energia.
8- Materiais saudáveis: Evitar o uso de produtos que possam afectar a saúde do
fabricante, do utilizador e do trabalhador no processo de reciclagem. Principalmente
no que se refere a partículas tóxicas ou cancerígenas.
9- Exigências de manutenção: Materiais com baixa manutenção favorecem o conforto
do utilizador e diminuem a utilização de pinturas, lubrificantes e vernizes.
10- Materiais com certificação ecológica: Poucos materiais tem certificação que
garanta uma boa utilização dos recursos, os que a têm merecem um tratamento
privilegiado (Sauer 2008)”.

Para além de uma noção estratégica inicial da problemática dos eco-materiais, deverá
o arquitecto com o desenvolvimento do projecto, investigar mais profundamente as
suas características, quer em termos de extracção/fabrico, quer em termos de
desempenho e reciclagem no final da sua vida útil. Esta é uma postura que em certa
medida pode ser encarada como um regresso ao passado. Na altura dos mestres
construtores, a materialidade da edificação era escolhida com um rigor extremo.

Hoje em dia parte dessa metodologia saiu da alçada do arquitecto. Os materiais são
escolhidos por catálogo durante o projecto, sendo escrutinados pelas exigências
regulamentares que constroem os cadernos de encargos. Posteriormente é a
fiscalização da obra que afere se realmente os materiais apresentados cumprem as
exigências técnicas descritas nos cadernos de encargos. Por via dessa repartição de
trabalho a relação entre o arquitecto e a materialidade da coisa construída perdeu
profundidade. O arquitecto prima mais a pele do edificado do que a sua essência e
essa é uma tendência que urge combater.

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Com as novas solicitações que a sustentabilidade levanta em relação à materialidade
da obra, o arquitecto enquanto autor do projecto, deverá recuperar um pouco desse
espírito de mestre construtor. A elaboração de um projecto sustentável não se
coaduna com um conhecimento superficial das matérias que o edificam. Esse
conhecimento acrescido, pode e deve contribuir para a elaboração de obras mais
complexas, pois a consonância entre as matérias e os conceitos do projecto, são
questões primordiais para atingir a excelência de uma obra. E essa é procura
essencial que o arquitecto deve ter em todos os projectos em que participa.

Por outro lado, a procura de sustentabilidade levada a cabo sem critérios de qualidade
arquitectónica é contraproducente. Verificamos nesta investigação que existem
numerosas obras que atingem critérios óptimos de sustentabilidade, mas como são
resultado de um conjunto de situações óptimas, agregadas sem critério ou conceito
arquitectónico, elas resultam num retrocesso, pois em numerosas ocasiões, elas são
publicitadas como sendo exemplo a seguir. Ora o arquitecto que se inicie nas
questões da sustentabilidade e as encontre no seu caminho, verifica imediatamente,
que se trata de arquitectura pouco apelativa, de desenho sofrível e pouca relevância
arquitectónica, logo, coisa a evitar. Mais, estas situações, obras sem qualidade, pois
nada mais se trata do que uma colecção de técnicas agrupadas sem critério
arquitectónico, contribuem para a associação negativa da imagem de arquitectura
sustentável, não só pelos arquitectos, como pelo publico em geral. E essa é uma
questão fundamental: urge cativar público, arquitectos, produtores de materiais,
promotores e demais intervenientes nas questões da edificação para a necessidade
de edificar sustentavelmente. Tal não se atinge sem a sedução da boa obra.

Consequentemente é indispensável construir a sustentabilidade arquitectónica com


qualidade, pois só deste modo poderemos alargar a utilização dos critérios de
sustentabilidade, pois para além dos claros ganhos energéticos e ambientais que
essas obras garantem, elas serão igualmente referência de qualidade, quer para os
profissionais da arquitectura, quer cativando o público em geral, pois essas obras
serão igualmente objectos de desejo. Acreditamos que estas mudanças, que a nossa
a ética de cidadãos arquitectos impõem, irão provocar novos paradigmas
arquitectónicos. A introdução de novos materiais e os novos modos de utilizar os
materiais e técnicas tradicionais irão, com certeza, subverter o carácter e a imagem
das novas arquitecturas. Esse é sem sombra de dúvida um dos mais aliciantes
desafios que se coloca os arquitectos no seu futuro próximo, utilizar a sua criatividade
para responder aos desafios do mundo.

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2.6 – OS ECO-MATERIAIS VERNACULARES.

Os materiais vernaculares estão presentes desde tempos imemoriais nas nossas


construções, eles foram a nossa primeira resposta para nos abrigarmos. Essa
resposta foi alicerçada nos recursos que o nosso habitat próximo tinha para nos
oferecer, fossem eles florestas, montanhas, deserto ou gelo. Com esses parcos
recursos o ser humano aprendeu a conceber abrigos e começou a construir.

Estes materiais foram descobertos e utilizados pelo homem durante milénios. Durante
esses milénios o homem viveu num ambiente de escassos recursos energéticos. A
construção tradicional tem na sua génese uma utilização muito cuidada desses
recursos. Exceptuando para algumas edificações simbólicas, a construção apenas
podia concretizar-se com os meios que o homem tinha na sua proximidade. Isso
desenvolveu nas culturas humanas respostas eficazes para as suas necessidades de
edificação.

Para além da eficiência, esses materiais, a pedra, o adobe, a palha, o tijolo de terra
seca, a madeira, o têxtil, as peles etc., faziam parte do meio onde eram edificados, de
igual modo, as soluções arquitectónicas adoptadas também se encontravam em
simbiose com o habitat, adquirindo assim uma linguagem muito vincada na sua
relação com a mãe natureza. Por esse motivo encontramos nestes materiais,
características tectónicas na sua expressividade, dado que nascem da terra, e
normalmente se encontram em harmonia com o território.

Fig.- 35 Tijolos de cânhamo. Elaborado á base de cânhamo, cal hidráulica e inertes seleccionados, apresentam
excelentes características térmicas e acústicas, permitem a transpiração das paredes, dispõem de grande resistência
ao fogo, não emitem nenhum gás tóxico para o ambiente interior e respondem a grandes solicitações mecânicas, eles
são um exemplo de como técnicas ancestrais foram adaptadas com recurso a investigação científica.
Fonte: www.cannabric.com

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Parte desses métodos construtivos tendeu a desaparecer com a massificação da
construção. Em parte porque limitavam a rapidez da construção e tinham na sua
origem processos de manufactura que eram incompatíveis com a produção industrial,
por outro lado, a génese da arquitectura industrial e moderna adoptou linguagens
distintas das que eram concretizadas pela construção tradicional.

Contudo, com a urgência da crise ambiental com que nos confrontamos, começaram a
encontrar virtudes na sua utilização. A atitude vernacular de habitar apenas com os
recursos do habitat, proporcionou lições valiosas. Hoje em dia muitos materiais
tradicionais estão a ser encarados como possíveis respostas a este nosso habitat
esgotado. E estas respostas têm-se desenvolvido com a recuperação e melhoramento
de numerosas técnicas e tecnologias inspiradas nas materialidades ancestrais de
construir.

Fig.- 36 Blocos de terra compactada, vulgarmente conhecidos por BTC. Resultam da compactação de terra não
vegetal com argamassas pozolânicas (compósitos de cal ou cimento com pozolana), apesar da sua eficiência
ambiental, necessitam de pouca energia incorporada no seu fabrico. São um material adequado para situações de
pequena escala ou de autoconstrução. Fonte: http://repositorium.sdum.uminho.pt/handle/1822/7584

Estas respostas também foram despoletadas porque a indústria da construção é um


dos principais sectores na economia dos países. Os industriais ligados a este sector
procuram maximizar as suas potencialidades económicas. Graças ao aumento da
concorrência, todos eles procuram sempre adquirir vantagens competitivas face aos
seus concorrentes. Os materiais vernaculares tiveram na sua génese critérios de
escassez, tendo consequentemente desenvolvido respostas eficazes, quer do ponto
de vista económico, de modo geral são de fácil extracção e execução, quer energético,
pois lidamos com produtos que normalmente não requerem muita energia incorporada
para se concretizarem.

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Estas qualidades permitem, com investigação e criatividade, se adapte esses produtos
eficazmente para o mercado da construção. Elas são especialmente notórias que
pelas suas baixas emissões de carbono, quer com a consequente diminuição de
custos motivados pelas cotas de carbono, quer pela capacidade que têm de apelar a
um grupo cada vez maior de consumidores com consciência ecológica que querem
diminuir a sua pegada ecológica, e finalmente, porque, com o desenvolvimento de
processos normativos e de certificação do edificado, as construções que os utilizarem
terão mais facilidade em responder a estas solicitações

A sua elevada capacidade de resposta a solicitações ambientais e energéticas deve-


se ao facto de muitos dos eco-materiais tradicionais serem renováveis,
nomeadamente as madeiras e os elementos vegetais e animais. Os materiais não
renováveis, tais como a extracção de inertes e as pedreiras, quando explorados com
precaução e simultaneamente próximos do local da construção, devem ser utilizados,
pois apresentam um baixo custo de transporte, com consequente diminuição de
emissões de CO2.

Fig.- 37 Isolamentos térmicos em lã. Uma boa alternativa aos tradicionais isolamentos térmicos, com a vatangem de
provir de um recurso renovável, não depender dos hidrocarbonetos e não necessitar de Hidrofluorcarbonetos (Hfc)
como agente expansivo. Os Hfc’s são um potente gás de efeito de estufa.
Fonte: http://www.domus-materiaux.fr/DOSSIER_DAEMWOOL.pdf

Estes materiais apresentam grandes vantagens na sua utilização, nomeadamente


devido ao seu desempenho térmico e bioclimático, e ao nível do seu ciclo de vida.
Uma construção em adobe é naturalmente reciclada no final da sua vida útil, o solo ao
solo retorna, sem causar problemas de resíduos ou contaminações. Muitos destes
materiais tradicionais têm também uma outra enorme vantagem, são materiais que
acumulam e armazenam CO2, nomeadamente a madeira e os seus derivados, as
fibras animais, as fibras vegetais e alguns compostos químicos, por exemplo as
argamassas de cal aérea, onde a reacção química da argamassa se prolonga no

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tempo, transformando o carbono atmosférico em carbonato de cálcio devido à reacção
do hidróxido de cálcio presente na argamassa.

Esta reutilização de métodos e materiais tradicionais tem sido caracterizado por duas
estratégias de acção: se por um lado se tem recuperado as tecnologias tradicionais,
como o adobe, a construção em madeira sustentável, as argamassas e ligantes
tradicionais, como a cal aérea e as argamassas de terra com fibras vegetais, a
construção em palha entre outros; por outro lado alguns destes materiais tradicionais
sofreram updates tecnológicos. Encontramos nesta situação o super adobe, os blocos
de terra compactada, as coberturas em terra vegetal, os derivados do bambu entre
muitos outros. Esta actualização tecnológica veio suprir algumas das desvantagens
dos materiais tradicionais, como o risco sísmico, a propensão para incêndios, a
resistência à água, a facilidade de construção e a durabilidade (Studio 2010).

Fig.- 38 Bambu na primeira etapa de processamento. As novas tecnologias revolucionaram a utilização de materiais
tradicionais. Deste modo o bambu passou a ser utilizado como elemento laminado, permitindo a sua utilização como
pavimento, caixilharias e elementos estruturais, em vigas, pilares e paredes portantes. Fonte: www. Lamboo.us

A existência de mercados que apelam à sustentabilidade como valor de construção,


veio permitir que as indústrias produtoras de alguns destes materiais antigos, como a
indústria da cortiça e do bambu, reformulassem métodos de produção e
desenvolvessem novos produtos. No caso da cortiça, material sustentável por
excelência, a multiplicação de aplicações, é evidente: dos aglomerados de cortiça
expandida, em painéis e a granel, passando pelos pavimentos, em parquet, simples ou
compostos, até à sua utilização em mobiliário ou em juntas. A industria tem expandido
consistentemente a sua oferta, tendo iniciado os estudos de aproveitamento de cortiça
reciclada (Gil 2007).

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Um outro factor determinante no ressurgimento destes materiais vernaculares, deve-
se ao facto de eles passarem a estar inseridos em estratégias de mitigação dos efeitos
da crise ambiental. Por esse motivo, para além da tradicional utilização destes
materiais, passaram a existir novas reinterpretações, a investigação dá-nos novos
usos e formas de utilização este recursos.

As fibras animais, nomeadamente a lã começam a substituir em alguns casos os


isolamentos térmicos, os resíduos agrícolas surgem incorporados em novos materiais
de construção, desde a palha ao cânhamo ( painéis térmicos ou então em blocos de
alvenaria), passando igualmente pela juta para pavimentos, tapetes ou então pelas
novas tecnologias do bambu e da cortiça, que nos fornecem uma vasta gama de
materiais, pavimentos, isolamentos etc.

Apesar de terem sofrido reformulações tecnológicas recentes, muitos destes materiais


ainda retêm na sua génese um carácter expressivo muito próximo dos valores das
materialidades ancestrais, quer seja pela sua textura, ou pelo modo como ainda têm
na sua composição uma proximidade matérica à da matéria-prima que lhes deu
origem. Esta proximidade matérica permite que na sua utilização arquitectónica, o
projecto ganhe uma riqueza tectónica e uma verdade construtiva, ao mesmo tempo
que mostra uma modernidade concreta, pois é construído com materiais do nosso
tempo.

Fig.- 39 Pavilhão de Portugal, Expo 2010, Xangai, Carlos Couto. A utilização da cortiça como elemento de
revestimento exterior, só se tornou possível devido aos avanços tecnológicos da indústria. Apesar de ter uma
expressão inovadora na nossa tradição arquitectónica, a cortiça, tal como os outros materiais ancestrais, quando
sujeitos a inovações tecnológicas, ainda mantém parte da sua expressividade vernacular. Fonte: Archdaily.com

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2.6 – OS ECO-MATERIAIS RECICLADOS.

A existência de uma indústria de gestão de resíduos leva a índices de reciclagem cada


vez mais elevados. Consequentemente passamos a dispor de recursos que podemos
utilizar sem por em causa os recursos naturais de que ainda dispomos. Com a
vantagem adicional de contribuirmos para minorar o problema dos resíduos que nos
contaminam o ambiente.

Em tempos antigos, a reciclagem de materiais de construção era uma prática corrente.


Essa reciclagem envolvia quase todos os elementos construtivos e materiais
utilizados. Quando uma muralha ou templo perdiam a sua função, utilizavam-se as
suas cantarias e demais elementos na construção nova. Parte do Cairo actual foi
edificada com as pedras das antigas pirâmides e templos dos Faraós. Na Europa, as
cidades, quando atingiam os limites das muralhas, alimentavam parte da construção
da nova cidade que crescia com os materiais sobrantes da sua demolição. No mundo
rural estas práticas ainda se mantiveram até tempos relativamente recentes. Devido à
escassez de recursos, as populações rurais aproveitavam regularmente os restos de
construções desactivadas para novas edificações. É frequente ao realizar trabalhos de
restauro e reabilitação de construções antigas, encontrar partes de alvenarias e outros
elementos reaproveitados de construções ainda mais ancestrais.

Fig.- 40 Muralha Bizantina de Selçuk, Tuquia, Sec. VI. A muralha Bizantina, apresenta o reaproveitamento de
elementos romanos, criando uma textura sui generis neste pano da muralha da cidadela de Selçuk. A tradição de
reaproveitamento de elementos construtivos em desuso ou em ruína foi uma constante durante séculos. Só após a
industrialização é que este hábito se perdeu. Foto: Maria Fremlin

Contudo com o advento da industrialização e do consequente processo de


crescimento populacional e urbano, a indústria da construção abandonou estas
práticas. A rapidez e a facilidade com que a industrialização disponibiliza materiais de
construção, aliada à crescente mecanização da construção, tornavam os resíduos da

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construção como elementos pouco competitivos na paleta de materiais que utiliza.
Apesar deste grande desprezo com que os materiais resultantes das demolições eram
encarados pela indústria, ainda existia uma tradição residual de reciclagem,
nomeadamente ao nível dos materiais com valor comercial mais elevado, como o
ferro, o alumínio, o cobre e o chumbo.

Hoje em dia essa postura de encarar os desperdícios como uma consequência normal
dos métodos de produção está a desaparecer. Por um lado, devido ao aumento dos
custos de matérias-primas e energia ligados à transformação, armazenagem e
transporte dos materiais utilizados e, por outro lado, devido à exaustão dos recursos
naturais e energéticos. Este aumento de custos de produção leva a que muitos
materiais que não tinham valor económico passem a ser apelativos de um ponto de
vista económico.

Fig.- 41 Parede de Polly-brics, sistema de encaixe translúcido, realizado a partir da reciclagem de garrafas de plástico
(PET), graças ao seu funcionamento, inspirado no Lego, este material permite a sua remontagem múltiplas vezes.
Neste caso, construiu o Pavilhão da Moda para a Taipei International Expo. Um edifício provisório de 130 m.
Fonte: http://inhabitat.com/

Outro factor determinante nesta alteração é a aplicação, cada vez mais intensa, por
partes dos governos do princípio do poluidor e da política dos RRR (Reduzir,
Reutilizar, Reciclar). Deste modo a criação de resíduos tem sido fortemente
penalizada. Para além das desvantagens económicas e operacionais que a
penalização regulamentar impõe, a existência de resíduos é encarada como indicador
do grau de eficiência e competitividade das indústrias e isso tem forte reflexo na sua
capacidade de atrair investidores e clientes. Quando forçosamente existem resíduos
resultantes de um qualquer processo de fabrico, as indústrias começam a estudar
processos de reutilizar e valorizar esses resíduos num produto que possam
comercializar. Basta lembrar que actualmente parte das cinzas das centrais
energéticas a carvão já são utilizadas no fabrico de betão armado, reduzindo

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consideravelmente a utilização de cimento Portland, e tornando a aplicação de betão
armado num processo menos agressivo para o ambiente e mais económico.

Esta procura da eficiência, que levou à investigação de produtos derivados de


reciclados, quer por via da reutilização directa dos recursos existentes, quer por via do
desenvolvimento de novos produtos que valorizem o resíduo, tendo aumentado de um
modo exponencial nos últimos 20 anos.

Hoje a paleta de materiais reciclados com que podemos construir aumentou


significativamente. Quer ao nível dos materiais tradicionalmente reciclados, como o
ferro e o alumínio entre outros, que viram a sua percentagem de reciclagem
aumentarem vertiginosamente, no caso de aço para a construção civil a percentagem
de material incorporado situa-se nos 80% (Gervásio 2008), quer ao nível dos produtos
derivados de novos processos de reciclagem, como é o caso do vidro e dos plásticos.

Fig.- 42 Sucata de Ferro. Cerca de 80% do aço consumido na construção civil provém da reciclagem de sucata. Esta
taxa de reaproveitamento deste recurso deve-se à eficácia económica do processo. O aço reciclado consome cerca de
20% da energia que a fundição do aço requereria a partir do processamento do minério de ferro. Foto: Filipe Borges de
Macedo

Temos várias estratégias presentes na reciclagem de produtos, mas o princípio geral


que as rege é o princípio da separação e valorização. O resíduo é recolhido, separado
e depois segue dois caminhos distintos. Em menor escala temos um grupo de
produtos que retoma a tradição milenar de reaproveitamento de elementos e materiais
de construções antigas. Esses materiais são recolhidos na demolição e depois de
separados vão directamente para o mercado. Encontramos no mercado uma oferta
cada vez maior de empresas que separam e revendem elementos de construções
demolidas, desde portas, vãos, pavimentos em madeira, antigas coberturas, vigas de
madeira etc. Estes elementos são residuais no nosso mercado mas permitem
encontrar soluções onde podemos tirar partido expressivo da antiguidade desses
materiais. É relativamente corrente na reconstrução e na reabilitação utilizar esses

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materiais. Um pavimento de tábuas de Riga com 200 anos, tem uma qualidade
expressiva excepcional, e hoje em dia é impossível encontrar pavimentos novos com
essas características, o que numa recuperação de edifício com história e carácter
pode ser factor de valorização do património, para além do mais, com a utilização
desses produtos estamos a evitar a exploração dos nossos recursos.

Infelizmente no mercado português essas práticas ainda não estão muito


implementadas, e com frequência verificamos que numerosas empresas estrangeiras
se dedicam a comprar esses resíduos em Portugal para depois os comercializarem
nos seus países, onde são devidamente valorizados. A principal vantagem expressiva
que este grupo de materiais pode trazer à arquitectura que projectamos reside na
história que lhes está inerente, desse modo juntamos novos significados expressivos à
narrativa que são os nossos projectos.

Fig.- 43, Atelier, Quito, Equador, Arq. David Moreno. O aproveitamento das madeiras provenientes de demolição traz
as complexidades expressivas do tempo à obra. O contraste entre o novo e o antigo constrói riqueza expressiva. Fonte:
www.archdaily.com

Um segundo grupo de materiais reciclados que tem vindo a crescer no nosso mercado
de materiais de construção são os materiais derivados de resíduos de produtos de
grande consumo. Este conjunto de materiais é resultado da separação e recolha
desses resíduos, que posteriormente são transformados em novos produtos. Esses
materiais resultantes da transformação dos resíduos do papel, das embalagens (Tetra
Pack, PET etc.), dos resíduos da indústria de madeira, de têxteis fora de uso, de
resíduos sobrantes das pedreiras e das indústrias exploradoras, etc., e que hoje em
dia são hoje em dia utilizados como matéria-prima de novos materiais de construção,
originam toda uma recente panóplia de soluções que responde às mais diversas
solicitações da construção.

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Desde materiais de isolamento térmico que diminuem a utilização de produtos
petrolíferos e requerem menos recursos energéticos (papel e têxteis projectados, lã de
vidro vinda da reciclagem do vidro, etc.), a pavimentos técnicos (aproveitamentos da
borracha de pneus para parques infantis, decks e pavimentos sobrelevados derivados
da reciclagem de plásticos, numerosos inertes com as mais diversas origens, etc.),
passando por elementos de mobiliário urbano, blocos de construção, tijolos e painéis
que aproveitam resíduos de madeira e da industria agrícola entre outras numerosas
aplicações. Dentro deste tipo de materiais destacamos os plásticos, pois a sua
versatilidade e capacidade de reaproveitamento é enorme, onde do mobiliário urbano,
às coberturas, à exploração das suas capacidades como elemento portatante,
passando pela sua utilização como película em estruturas geodésicas, ou pelo seu uso
como enquanto inerte. Umas das grandes vantagens dos plásticos reciclados reside
na sua durabilidade. A outra vantagem dos plásticos reciclados deve-se ao facto de
necessitarem de pouca manutenção ao longo da sua vida útil tornando o seu ciclo de
vida muito concorrencial. Veja-se o caso dos decks ou do mobiliário urbano: se forem
realizados em madeiras exóticas, vão contribuir para a destruição de florestas e
habitats tropicais que se encontram muito delapidados e em grande perigo, para além
do mais, estas madeiras necessitam de manutenção, habitualmente realizada através
da utilização de óleos e vernizes, cujos processos de fabrico são fortemente
poluidores. Utilizando decks e mobiliário urbano de plástico reciclado, tem-se um
material que reduz o problema dos resíduos, não destrói floresta tropical, e tem um
ciclo de vida muito eficiente, pois não necessita de manutenção.

Fig.- 44 The Ricyclops, Utrech, Holanda, 2012 Architeten. Aproveitamento de cubas de cozinha provenientes de
demolição para a construção de depósito de aproveitamento de águas pluviais. Fonte: http://www.2012architecten.nl

Neste grupo de materiais, os materiais derivados da reciclagem de resíduos, existe


uma contínua investigação e a cada ano que passa os materiais que nos são
oferecidos pela indústria não pára de aumentar. A utilização destes materiais tem uma

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mais-valia enorme, pois diminui o nosso grau de desperdício substancialmente e
permite que estes materiais possam ser reutilizados múltiplas vezes sem esgotar as
nossas reservas de recursos naturais.

Existe ainda um terceiro grupo destes materiais reciclados que prima pela
experimentação e pela busca de novas soluções. Este grupo de materiais tem como
principal particularidade o facto de utilizar os resíduos directamente sem nenhuma
transformação industrial. Vamos passar a designá-los com materiais directamente
reciclados. Neste grupo de materiais podemos encontrar algumas das soluções mais
imaginativas e surpreendentes com que os arquitectos e construtores nos têm
brindado. A reutilização de contentores marítimos, a utilização de tubos de cartão, a
construção em papel e utilização de garrafas de plástico são alguns dos modos como
que se tem marcado a procura de aproveitamento para os resíduos que a sociedade
actual produz. Esta reutilização e adaptação, sem a intervenção de processos
industriais de transformação, tem especial relevância, pois na maioria dos casos ela
revela uma grande capacidade de reformulação dos princípios de construção. Estas
construções constituem casos emblemáticos na capacidade de redesenhar um
material conferindo-lhe novos usos e significados expressivos. Mais, com estas
estratégias de reutilização de materiais provenientes directamente de reciclagem, a
obra ganha uma vantagem inédita, a surpresa das coisas novas, pois no seu
reaproveitamento, este materiais ganham materialidades surpreendentes.

Fig.- 45 Platoon Kunsthalle, Seul, Coreia do Sul, 2009 Platoon+ Graft Architects. Passada uma vida útil de 20 anos, os
contentores marítimos normalmente são desactivados. Hoje em dia encontramos cerca de 20 milhoes de contentores
desactivados à espera de uso. Este centro cultural, construído recorrendo a 28 contentores ISO High Cube
devidamente recuperados, demonstra como o desenho arquitectónico consegue trazer novos significados e usos aos
desperdícios da sociedade de consumo. Este é apenas um dos muitos exemplos de arquitectura que recorre a estes
elementos, que constroem arquitecturas de emergência, residências de estudantes, habitações e muitos outros usos
com as mais variadas expressões. http://www.archdaily.com/27386/platoon-kunsthalle-graft-architects/

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2.7 – OS MATERIAIS DE NOVA TECNOLOGIA.

Nesta procura de materialidades ecologicamente correctas, temos de ter em


consideração que a vontade do ser humano em realizar novas resposta é algo
intrínseco à espécie. Face às necessidades actuais de mitigar a crise ambiental, a
comunidade científica tem desenvolvido novos materiais e novos métodos de
adaptação de produtos existentes. Deste modo começa a estar ao dispor da indústria
da construção de toda uma serie de novos materiais amigos do ambiente. Estes
materiais são em parte resultado de um apuramento de materialidades existentes no
mercado, substituindo produtos já existentes. Simultaneamente, começam a existir
produtos amigos do ambiente que nos proporcionam respostas radicalmente novas
face às solicitações dos dias que correm.

Fig.- 46 Solar Ivy, Smit- Sustainable Design, 2009. A Solar Ivy é um novo modo de produção de energia solar por
através de elementos foto voltaicos. Composto por numerosas células individuais, com os elementos foto voltaicos e
circuitos eléctricos impressos em folhas de Polietileno reciclado, com um baixo custo económico e um impacto
ambiental mínimo. Este material comporta-se de um modo flexível, mimetizando as folhas de uma hera, pode ser
disponibilizado com vários graus de transparência e em várias cores. Tem ainda como vantagem adicional o seu baixo
custo e a possibilidade de se substituir as folhas que se danificam. Expressivamente, este material reage às correntes
de ar, provocando efeitos cinéticos surpreendentes. Fonte: http://solarivy.com/#

Sumariamente podemos distinguir dois campos de resposta em que estas novas


materialidades se têm distinguido. Temos a optimização de produtos tradicionais de
construção, em que um produto habitualmente poluente e gastador de recursos
energia, vê a sua configuração alterada de modo a tornar-se amigo do ambiente. Por
outro lado temos novos produtos que são criados de raiz de modo a responder a
novas solicitações que são identificadas.

No campo do melhoramento das tecnologias existentes aparecem numerosos


avanços, sendo um dos mais significativos, pois trata-se de um material que edifica a
maior parte da edificações e infra-estruturas do mundo inteiro, o cimento Portland, que
com a aplicação de novas tecnologias de sequestro de carbono deixa de emitir 900k

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de CO2 por tonelada de cimento, para passar a ser um material com carbono neutro.
Com a vantagem de utilizar cinzas provenientes de centrais energéticas de carvão,
diminuir a quantidade de calcário e simultaneamente tornar um dos materiais
primordiais da construção mundial e que actualmente causa cerca 9% das emissões
de Gases de efeito de Estufa no mundo, num material muito menos agressivo para o
meio ambiente (Calera 2010).

Esta estratégia passa na maior parte dos casos pela alteração de processos de
produção, reduzindo os gastos energético e diminuindo a utilização de matérias-
primas e tornando-os mais eficientes, quer mecânica quer termicamente. Caso
paradigmático destas estratégias são as alvenarias cerâmicas, o vulgar tijolo, existindo
numerosas investigações que tentam melhorar a sua eficiência. Desde a produção e
tijolo utilizando gás natural, menos poluente que os fornos eléctricos, muito
dependentes das centrais térmicas, pois o gás natural emite muito menos gases de
efeitos de estufa (Ceranor 2010), passando pelo redesenho da sua estrutura de modo
a melhorar a sua eficiência térmica e mecânica, até ao fabrico de tijolos utilizando
cinzas provenientes de centrais térmicas, o que aumenta a suas características físicas
e térmicas, sequestrando carbono e evitando as explorações de barro que destoem a
camada superior do solo fértil. (Kayali 2008).

Fig.- 47 Flash Bricks, na foto o Dr. Obada Kayali, da University of New South Wales que desenvolveu este tijolo a
partir das cinzas de carvão das centrais térmicas, tornando um desperdício tóxico das centrais energéticas, num
recurso construtivo. Este tijolo substitui as alvenarias cerâmicas habituais, criando um produto com mais 24% de
resistência mecânica, quando comparado com o tijolo cerâmico, poupando emissões de CO2 e transformando um
resíduo tóxico num material sem emissões tóxicas. Fonte: http://www.unsw.edu.au/research/res/resm/Turning_ash.pdf

Uma outra tendência nos materiais de nova tecnologia provém da nano tecnologia, a
manipulação a nível molecular permite o desenho de produtos de modo inovador. Esta
tecnologia permite o desenho de materiais de acordo com a utilização final que lhe
desejamos dar. O desenho da materialidade adquire assim novo significado, nunca
antes na história da humanidade tivemos tecnologia que nos permitisse criar produtos
tão eficientes. Habitualmente a noção que temos de nano tecnologia não entra no
léxico habitual do fenómeno arquitectónico. Contudo o controle de materiais a nível

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molecular não é coisa nova no âmbito da arquitectura, basta lembrarmo-nos dos vitrais
das catedrais europeias, a diferenciação da cor era controlada pela intensidade da
cozedura do vidro. Esse controle da temperatura permitia que os cristais dos
pigmentos adquirissem a sua cor final, ou seja, o controle de temperatura interagia
com a disposição molecular dos pigmentos e foi um dos primeiros modos de utilizar a
nano tecnologia de um modo consistente. Claro que os artífices medievais não sabiam
o que utilizavam nano tecnologia, mas sabiam executá-la (KQED 2008).

Fig.- 48 Thermeleon. Um novo material de revestimento, desenvolvido pelo MIT, que pode ser aplicado em telhas ou
em vidro, permite controlar os ganhos solares térmicos alterando a sua coloração. Na fotografia temos o exemplo da
telha. No caso do vidro, a baixas temperaturas o material fica transparente, permitindo ganhos térmicos no interior,
tornando-se opalino quando a temperatura aumenta, reflectindo o calor desse modo. Fonte:
http://www.guiadastecnologias.com/index/2009/12/04/telhas-thermeleon-mudam-de-cor-para-regular-a-temperatura-no-
interior-da-casa/

Hoje em dia não é a natureza do divino que interessa à nano tecnologia, mas esta
interessa-se em realizar tintas e vernizes que nos permitam utilizar madeiras sem que
a sua manutenção dependa de produtos tóxicos derivados do petróleo, que têm um
pequeno ciclo de vida. Hoje com a nano tecnologia podemos ter tintas e vernizes
ecológicos, com especificações únicas, e com ciclos de vida mais prolongados
(rubiomonocoat 2010). Interessa também aos materiais que possam alterar as suas
materialidades de acordo com as condições climáticas, por exemplo as tecnologia
Thermeleon, desenvolvida no MIT, que permite a alteração cromática de um gel. Essa
alteração caracteriza-se pelo facto de a altas temperaturas exteriores a cor do material
ser branca, consequentemente reduzindo a sua capacidade de acumular calor,
quando a situação se inverte, e as temperaturas exteriores ficam frias, o material
passa a cor negra, acumulando energia e calor (MADMEC, et al. 2009), estando
vocacionada para ser aplicada em coberturas, nomeadamente em telhas, ou em
vidros, regulando trocas térmicas que os envidraçados efectuam com o interior das
construções.

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As nano tecnologias têm como grande virtude uma outra característica, a partir do
momento em que podemos manipular as moléculas para criar materiais, podemos
estudar os materiais naturais e observar o modo como eles respondem às diversas
solicitações. Olhemos para o osso humano, a sua largura e geometria não são
uniformes, onde é necessária mais rigidez o osso é mais espesso, onde a flexibilidade
é precisa, o cálcio organiza-se de outro modo. Qualquer estrutura ou material natural
responde a especificações exactas, nunca desperdiçando recursos ou energia. Com a
nano tecnologia e atitudes de desenho bio miméticas, podemos tentar replicar essa
eficiência para materiais e estruturas desenhadas pelo homem. Estas linhas de
investigação prometem materiais revolucionários, materiais que vão alterar o desenho
arquitectónico das coisas.

Fig.- 49 PORO, Arq. Miguel Veríssimo. Estudo de material bio mimético, utilizando nano tecnologia, de modo a
comportar-se como a pele humana, reagindo às necessidades energéticas da edificação. Poderá vir a ser utilizado na
câmara-de-ar dos vidros duplos ou como revestimento. Fonte: http://www.revarqa.com/uploads/docs/dossier/78-79-
Dossier.pdf

Esta tendência de ir procurar respostas nas soluções que a natureza gera na sua
infinita criatividade, tem permitido a abertura de múltiplas linhas de investigação, não
só no desenvolvimento de novas materialidades, mas também na procura de novas
soluções arquitectónicas. As possibilidades que estas estratégias abrem já estão a ser
exploradas pelos arquitectos: podemos referir as investigações do Arq. Miguel
Veríssimo (Premio BES Inovação 2007) que procura desenvolver uma parede
inspirada na pele humana, PORO (Verrissimo 2010), onde os poros serão substituídos
por células reguladoras de ventilação e de ganhos solares. Outros arquitectos levam o
desenvolvimento destas noções ao nível dos próprios conceitos da matéria,
procurando atingir novos paradigmas arquitectónicos, como a arquitecta Nery Oxman,
que explora a hiper-modernidade do fenómeno arquitectónico, criando novos

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materiais, que resultam da adaptação do desenho de materiais naturais ao nível do
seu desenho estrutural. (Oxman, http://www.materialecology.com/ 2010).

Com a implementação de novas tecnologias o nível de eficiência ecológica do


edificado tenderá a aumentar. As soluções matéricas que estas materialidades
originam prometem grandes alterações na arquitectura dos dias que virão. E não se
trata apenas de uma simples substituição de materiais, onde matérias menos
eficientes são substituídas por materiais mais eficientes, trata-se acima de tudo de
uma alteração radical no modo como o edificado se relacionará com a sua envolvente
e com o ser humano. Esta alteração proporcionará enormes mudanças a todos os
níveis. O edificado deixará de ser um ser inanimado e passará a aproximar-se, em
termos de conceito e performance, de um ser biológico que reagirá com a sua
envolvente do mesmo modo que os seres vivos. Esta constituirá provavelmente uma
das maiores alterações de conceito com que o fenómeno arquitectónico alguma vez se
deparou. Sendo portanto de esperar novas e excitantes arquitecturas num futuro.

Fig.- 50 Monocoque, Arq.Neri Oxman. Bio mimetismo. O principio na esquerda, o osso humano, e o protótipo na
direita. O osso humano distribui a sua densidade e flexibilidade à medida das solicitações, Neri Oxman propõe replicar
a mesma performance utilizando dois materiais distintos, a negro o material rígido e a branco o material flexível. Esta
Arquitecta lidera projectos de investigação para a criação de materiais de nova tecnologia, socorrendo-se de algoritmos
e tecnologias de ponta. Através destas investigações procura uma hiper-modernidade que replique a sofisticação com
que natureza responde às mais diversas solicitações. Fonte: http://www.materialecology.com/

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2.8 – OS MATERIAIS BIO-CONSTRUIDOS.

Uma das facetas mais interessantes que tem surgido nas últimas décadas da
arquitectura mundial tem a ver com a utilização de elementos biológicos na
construção. A presença de elemento naturais na construção de edifícios tem vindo a
aumentar progressivamente.

Em primeiro lugar temos de apontar o enorme sucesso que as coberturas ajardinadas


têm vindo a conquistar, quer pela vontade dos promotores e projectistas em aumentar
a eficiência bioclimática dos seus edifícios, quer pela sua vontade em devolver solo à
natureza, compensando-a assim pela perda de solo natural em favor da construção.
Existe ainda um aumento da qualidade do ar exterior assim como uma diminuição da
temperatura circundante, quando comparada com uma cobertura clássica. Este tipo de
coberturas têm cumpre igualmente uma importante função como armazenadora de
águas pluviais, retendo cerca de 30% do seu volume na terra, e contribuindo para a
sua filtragem para posterior utilização em sistemas secundários de água canalizada
(regas e águas sanitárias) ou para reabastecer lençóis freáticos exauridos.

Fig.- 51 Ford Rouge Centre, Dearborn, Michigan, William McDonough, 1998. Projecto de reconversão da Ford Motor
Company, onde, por proposta do Arq, William McDonough, a cobertura do principal edifício fabril, foi ajardinada com
plantas autóctones. Para além dos enormes ganhos económicos decorrentes das poupanças energéticas, verificaram-
se ganhos consideráveis na qualidade do ar e das aguas pluviais e culminando essa experiência, verificou-se que a
cobertura passou a ser utilizada por numerosas espécies para nidificação. Aqui temos um ninho de ave que nidificou,
apenas 5 dias após a conclusão da obra. Fonte: www.mcdonoughpartners.com

Estas estratégias dispõem igualmente de uma resposta para as fachadas dos


edifícios, a das fachadas verdes. Como no centro cultural La Caixa em Madrid de
Herzog & de Meuron, estas fachadas permitem igualmente reforçar a qualidade do ar
exterior, diminuir temperaturas na proximidade do edifício, melhorando a eficiência
térmica e acústica do edifício e reter águas pluviais (www.biotecture.uk.com 2010).

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Existe ainda um valor intrínseco à utilização destes elementos biológicos no exterior
dos edifícios, e esse valor reside no facto que estas estratégias estarem a devolver
espaço à natureza. Estas coberturas ajardinadas e as fachadas verdes criam
condições para nelas habitarem insectos, aves e outros pequenos animais, criando
assim circunstâncias para a natureza florescer em ambientes, que sem estas
estratégias, nada mais seriam do que espaços estéreis de vida.

Fig.- 52 La Caixa, Madrid, Herzog de Meuron, 2007. A utilização de elementos bio-construídos, neste caso um jardim
fachada, para além de aumentar as capacidades bioclimáticas do imóvel, e acrescentar biomassa às zonas urbanas,
contribui significativamente para expressividade deste projecto. Os contrastes entre o aço Corten, a alvenaria de tijolo e
a fachada verde alteram a lógica habitual do objecto arquitectónico. Fonte: www.swissmade-architecture.com

O mesmo se passa em relação aos interiores dos edifícios, onde a presença de


plantas pode contribuir significativamente para a qualidade do espaço tornando assim
o seu interior muito mais agradável e saudável para os seus utilizadores. A utilização
destas estratégias, para além da sua agradabilidade, tem resultados práticos muito
eficientes ao nível da climatização interior e da qualidade do ar, diminuindo os custos
energéticos dos sistemas de ventilação e de climatização. Estas estratégias de
implementação de elementos vegetais e biológicos em espaço interiores conseguem
que edifícios de escritórios e serviços diminuam a níveis residuais a existência de
equipamentos de ar condicionado e de ventilação forçada, pois através da selecção
adequada de espécies vegetais próprias para o interior consegue-se que o tratamento
e climatização do espaço sejam realizados pelas plantas. No Paharpur Business
Centre and Software Technology Incubator Park em Nova Deli, temos um exemplo de
como, num clima tropical, onde as questões de climatização e ventilação do interior de
edifícios são de profunda premência, se conseguiu atingir esse objectivo. O Dr Karmal
Meatle director do Paharpur Business Centre e antigo professor do MIT, através desta
estratégia atingiu esse objectivo, recorrendo apenas a três plantas de interior vulgares,
(a Areca (Chrysalidocarpus lutescens), a Espada de S. Jorge (Sansevieria trifasciata)

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e a Erva do diabo (Epipremnum Aureum)) (Meattle 2009) e mantendo a qualidade do
ar interior com os mesmos parâmetros exigidos nas nações desenvolvidas.

Fig.- 53 Institut for Forest na Nature Research, Wageningen, Holanda, Günther Behnisch, 1998. A utilização de
elementos vegetais no interior do edifício contribui para melhorar significativamente a qualidade do ar, o que, aliado ao
grande pátio central arquitectónico, contribui para optimizar a performance bio climática do projecto.
Fonte: www. www.behnisch.com

Neste complexo, encomendado pelo governo indiano para servir de modelo a


repartições, serviços públicos e escritórios na Índia, o ar é monitorizado diariamente.
Com esta simples estratégia conseguiram superar os parâmetros exigidos em edifícios
com pesados equipamentos de ventilação e ar condicionado, como os edifícios nos
E.U.A. e na União Europeia, minimizando o uso de energia a níveis de consumo
impensáveis de atingir com os sistemas habitualmente utilizados nas nações
desenvolvidas. Como vantagem suplementar, este sistema ecológico de renovação e
climatização do ar diminui drasticamente os níveis de poluentes interiores, devido ao
efeito de filtragem do ar que as plantas executam. Aumentam também os níveis de
produtividade dos seus utilizadores em cerca de 20% face aos habituais standards de
edifícios de escritórios tradicionais. (Paharpur Business Centre 2010) .

A bio-construção tem em si um paradigma novo, ao longo dos séculos cada vez que o
ser humano urbanizava uma zona, esta deixava de albergar habitats naturais. Hoje em
dia, com a utilização de elementos bio construídos, sejam coberturas ou fachadas,
podemos começar a devolver à natureza espaços que lhe eram interditos. Deste modo
com e através destas técnicas podemos contribuir para uma regeneração dos habitats.
Basta lembrarmo-nos que a vida está assente no ciclo do carbono. Cada ser vivo, ou
habitat funcional é um reservatório de carbono. A implementação de sistemas que
multipliquem a proliferação de seres vivos retira carbono da atmosfera e contribui para
a sustentabilidade trazendo uma nova expressividade no fenómeno arquitectónico, e
essa nova expressividade é o retorno da natureza à coisa construída.

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3- DESENVOLVIMENTO

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3.1- A EXPRESSIVIDADE

Entramos no âmbito restrito desta dissertação: dissertar acerca das qualidades


expressivas dos eco-materiais. Temos em mente muitos dos catálogos de materiais
com que nos cruzamos amiúde no decurso da profissão e neles detectamos uma
seriação das características físicas e técnicas das suas virtudes, vemo-los quase
como uma colecção de cromos de futebol, onde nos aparecem as fotografias dos
jogadores, cada um delas com a sua pose, transmitindo um olhar viril, ou então
mostrando orgulho na camisola dos seu clube. No final corremos essas colecções e
vemos uma seriação de rostos e cores de camisola, mas nada disso nos transmite a
beleza do jogo, a sua expressividade ou a atmosfera que eles proporcionam no
estádio. Em relação aos materiais a maioria dos trabalhos que se dedicam ao seu
estudo pecam do mesmo mal, falam-nos da sua textura, ou do seu comportamento
térmico, ou da economia de construção que proporcionam, mas no fundo não
explanam sobre a relação intrínseca com que eles colaboram na essência da obra.

Fig.- 54- Material sustentável por excelência, o bambu, quando cultivado em floresta sustentável, constitui um material
com inúmeras possibilidades, do pavimento, à estrutura, passando pelo mobiliário. Traz-nos uma multiplicidade de
expressividades fabulosas. Aqui empregue como estrutura de uma escola, mostra como os sistemas tradicionais
podem ter um update com a introdução de elementos industriais ou de nova tecnologia. Foto: Boris Zeisser

Aqui, nesta dissertação, e porque falamos de materiais que nos vão permitir construir
um futuro melhor, corrigindo erros passados, queremos mostrar como eles podem dar
origem a projectos inovadores. Queremos atingir esse propósito mostrando como uma
consciência ética do projecto aporta novas significâncias ao edificado, como a
utilização destes materiais vai alterar linguagens, por vezes repescando significâncias
do passado, outras vezes construindo significâncias futuras.

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O relacionamento entre os materiais e a arquitectura não se confina às condicionantes
físicas que estes impõem aos limites da construção. Mais significativamente, os
materiais condicionam e moldam a expressividade da forma arquitectónica. A
utilização de eco-materiais e de uma arquitectura bioclimática enriquecem o projecto,
pois permitem que a construção complemente e melhore o habitat. Simultaneamente
os eco-materiais conseguem responder aos mesmos desafios que os materiais
habituais da construção concretizam. É desígnio de uma postura ética responsável
construir de um modo a não esgotar ou destruir o habitat.

Por outro lado, é com a junção do desenho do projecto e da materialidade da


construção, que a coisa arquitectónica se torna um todo. Esse fenómeno é
perfeitamente perceptível quando vamos visitar uma obra que já conhecíamos, quer
por fotografia, desenho ou vídeo. O conhecimento da obra que pensávamos que
tínhamos é transformado pela vivência que passamos a ter da mesma. Percorrer um
espaço, percepcionando-o com todos os nossos sentidos, permite-nos entrar em toda
sua complexidade e esse conhecimento não se pode adquirir através de meios que
nos distanciem da obra. A percepção do espaço é um acto pessoal e intransmissível.

Fig.- 55- Centro Cultural Tjibaou, Renzo Piano, 1998. Neste projecto Renzo Piano materializa uma homenagem à
cultura Karnak da Nova Guiné, reinterpretando a construção tradicional, adicionando-lhe a eficiência tecnológica e
energética que o caracteriza. Este projecto reinventa a atmosfera da comunidade que pretende celebrar. O projecto,
com sua a utilização dos materiais tradicionais, enaltece a significância do modo de vida sustentável característico da
cultura Karnak. A atmosfera, tal como Zumthor a descreve, está enfatizada pela harmonia entre o construído e a
natureza circundante. Foto: Archenova

Peter Zumthor define muito bem essa essência quase intangível do fenómeno
arquitectónico. Ele estabelece um nexo entre a qualidade da obra arquitectónica e a
sua capacidade se relacionar com o utente, transmitindo significados por via da
atmosfera que cria. Este conceito quase etéreo, a atmosfera de uma obra, é resultado
da nossa percepção intuitiva do espaço. Esta percepção está intrinsecamente

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relacionada com o instinto emocional embutido na nossa formatação genética. Foi
através desse instinto que nos relacionámos intuitivamente com a natureza, e é esse
instinto que nos leva a ter uma empatia com um local ou espaço que acabamos de
percepcionar. Segundo Zumthor, é também a qualidade da atmosfera para qual o
espaço nos remete, que constitui factor qualificador do mesmo.

Zumthor define a atmosfera do edifício como um conjunto de várias singularidades. A


atmosfera de um edifício está contida no corpo da arquitectura, formatado pela
consonância dos materiais. Eles por sua vez estabelecem o som e a temperatura
do espaço que dialoga com as coisas que o rodeiam. Estas características por sua
vez interagem com a nossa percepção, criando em nós sentimentos de serenidade e
sedução, enfatizados pelas tensões entre o interior e o exterior que delimitam os
degraus de intimidade do objecto arquitectónico. Por fim é a luz sobre as coisas
que une e hierarquiza a atmosfera do objecto arquitectónico.

Fig.- 56- Termas de Vals, Peter Zumthor, 1996. O fenómeno arquitectónico ganha consistência estética e espiritual
quando existe uma coerência entre a matéria e os conceitos. Neste caso o projecto utiliza a pedra de uma pedreira das
proximidades, e reinventa o modo como ela era tradicionalmente utilizada. A ligação do conceito à realidade do sítio,
constrói uma atmosfera significante e ecologicamente correcta. Foto: Pablo Echávarri

Através deste discurso Zumthor consegue enunciar uma série de qualidades, que no
seu todo, definem a sua visão do fenómeno arquitectónico. Esta visão está muito
ligada a uma visão poética e introspectiva do mundo, que não dispensa a sedução.

A poesia e a sedução são termos fundamentais na compreensão da expressão da


coisa artística. Refere Arnhein que “… assim definimos expressão como maneiras de
comportamentos orgânicos ou inorgânicos revelados na aparência de objectos
preceptivos. As propriedades estruturais destas maneiras não são limitadas ao que é
captado pelas sensações externas, elas são visivelmente activas no comportamento
da mente humana e são metaforicamente usadas para caracterizar uma infinidade de

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fenómenos não sensoriais” (Arnhein 1954). Refere ainda Arnhein que “as nossas
sensações não são dispositivos de registo autónomo, operando para si próprias. Elas
foram desenvolvidas como um auxiliar para reagir ao meio, e o organismo está
interessado prioritariamente em forças activas circundantes, seu lugar, sua força, sua
direcção. Hostilidade e amabilidade são atributos das forças. E a percepção dos
impactos das forças conduz ao que chamamos de expressão.” (Arnhein 1954).

A expressão das coisas é um elemento crucial na nossa relação com o meio físico que
nos rodeia. Esta capacidade humana de complementar a informação que os nossos
órgãos sensoriais nos transmitem do entorno, adicionando-lhe significados
expressivos, é um processo primordial da nossa conceptualização do meio. A
capacidade de nos seduzirmos, de nos repugnarmos, de sentirmos o sagrado, ou o
sublime no entorno onde vivemos, resultam da nossa aptidão de percepcionarmos a
expressividade e com ela formularmos emoções, que fazem parte da nossa
formatação biológica enquanto espécie, e é esta capacidade que nos torna a única
espécie produtora e consumidora do fenómeno artístico.

Fig.- 57- Loblolly House, Chesapeake Bay, Maryland Kieran Timberlake, 2007. Casa pré fabricada, a integração do
projecto encontra inspiração na floresta que circunda a baía de Chesapeake, A utilização de madeira mimetiza o ritmo
vertical da floresta, esta simbiose de ritmos transmite uma vontade de integração e respeito pela natureza. A
contemporaneidade convive e inspira-se no meio, ganhando expressividades telúricas e proporcionando um ambiente
crítico à artificialidade da cidade consumista. Fonte: http://kierantimberlake.com

Zumthor retoma estes processos primordiais de relacionamento com o meio e dá-lhes


uma importância perdida. A relação de proximidade física entre o homem e o edificado
é recuperada pela poesia e pela sedução que o edificado consubstancia nas emoções
que o homem apreende. Zumthor traduz as emoções com que se unifica este
processo numa reflexão dos significados íntimos da vida. Esses elementos criadores

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de felicidade, que Zumthor enaltece, criam um enquadramento físico reconfortante por
onde o percurso da vida possa decorrer de modo mais harmonioso.

Esta visão, de valorizar esses elementos significantes, essas relações íntimas que
Zumthor estabelece da experiência do objecto arquitectónico, encontra-se
profundamente dissociada da fruição imediata que a artificialidade da sociedade de
consumo apregoa. A lógica deste discurso remete-nos para uma fruição e concepção
do objecto arquitectónico ligada a significados intemporais. Estes significados
intemporais que se enaltecem neste discurso, não pretendem renunciar a uma
contemporaneidade. A contemporaneidade que aqui se apregoa é consequência de
uma reflexão mais profunda. Ela é resposta à massificação que a sociedade de
consumo impõe. Em suma, Zumthor retoma a individualização das emoções como
resposta à massificação.

Fig.- 58- Plastic House, Tokio, Kenso Kuma, 2005. A paleta que os eco-materiais nos fornecem é enorme, isso permite
desenvolver numerosas e diversas respostas na sua utilização. Neste caso Kenso Kuma constrói um ensombramento e
recobre a cobertura com granulado de plástico reciclado. O plástico reciclado é um dos muitos eco-materiais que temos
ao nosso dispor. Fonte: http://www.kkaa.co.jp

A individualização do objecto arquitectónico, assente nas especificidades do sítio, do


programa e das suas expressividades, é um claro contraponto à tipificação das
respostas da sociedade de consumo. Esta visão do fenómeno arquitectónico
enquadra-se de um modo muito eficiente nos novos paradigmas que precisamos de
implantar de modo a responder à crise ambiental em que vivemos. A construção deve
passar a relacionar-se de modo muito mais intenso como o sítio, quer de um ponto de
vista bioclimático, quer em relação à sua materialidade. A escolha de materiais é parte
fundamental para atingir esse objectivo. A sua proximidade com o local de construção
é um dos factores a ter em conta na sua selecção. Tudo isto se pode relacionar com o
discurso de Zumthor, e desse modo, passar a fazer parte de uma estratégia, onde
para além das respostas necessárias à crise ambiental, se cultive a realização de uma

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arquitectura individualizada nas suas respostas, significante para o utilizador e para a
praxis, respeitadora do homem e do mundo e que transmita a expressividade das suas
matérias.

Metodologicamente, vamos realizar a abordagem à expressividade dos eco-materiais,


utilizando as premissas que Zumthor aborda no seu livro “Atmosferas”: o corpo da
arquitectura, a consonância dos materiais, o som e a temperatura do espaço, coisas
que o rodeiam, serenidade e sedução, as tensões entre o interior e o exterior, os
degraus de intimidade e a luz sobre as coisas

Iremos seleccionar obras que utilizem eco-materiais e que cumpram esse desejo de
sustentabilidade, demonstrando a eficiência expressiva da utilização de eco-materiais.
Obviamente, a selecção será realizada de acordo com a significância da obra. Esta
significância está estruturada em dois pressupostos de igual importância. Em primeiro
lugar temos que todas as obras seleccionadas são obras sustentáveis onde a
utilização dos eco-materiais marca profundamente a sua concretização. O segundo
pressuposto, é que estas obras apresentem, na medida da sua especificidade e
salvaguardando a individualidade do autor, espaços enquadráveis na leitura que
fazemos da reflexão de Zumthor. Deste modo iremos tentar encontrar características
próprias na materialidade dos eco-materiais, características essas que os notabilizem
na sua expressividade e demonstrando que a sua utilização pode trazer significados
enriquecedores ao projecto.

Simultaneamente, esses significados, ao estarem fundamentados na obra de Zumthor,


reflectem uma visão crítica do imediatismo da sociedade de consumo, e essa crítica é
crucial para que os modelos arquitectónicos dum passado recente, sejam postos em
causa, pois foi nestas arquitecturas que a sociedade de consumo floresceu. E foi essa
sociedade de consumo imediato e impensado que deu origem a à crise ambiental e de
recursos com que nos deparamos. Urge criticá-lo e apresentar alternativas
sustentáveis, quer em termos ambientais, quer em termos vivenciais.

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71
3.2- O CORPO DA ARQUITECTURA

“O que considero o primeiro e maior segredo da arquitectura, é que consegue juntar as


coisas do mundo, os materiais do mundo e criar este espaço. Porque para mim é
como uma anatomia. É verdade, tomo o conceito de corpo quase literalmente. Tal
como nós temos o nosso corpo e coisas que não se vêem e uma pele... etc., assim
funciona também a arquitectura e assim tento pensá-la. Corporalmente, como uma
massa, como um tecido ou invólucro, pano, veludo, seda, tudo o que me rodeia. O
corpo! Não a ideia do corpo - o corpo! Que me pode tocar.” (Zumthor, Atmosferas
2006).

O corpo da arquitectura, o modo como ele se constrói e articula, reflecte a resposta à


necessidade de abrigo, de construção, e é ele que materializa a resposta ao habitat
insatisfatório. É esse corpo que estrutura a realidade construída, e é essa construção
que nos dá significados e conforto. A sua anatomia edifica as respostas com que se
confronta. Essas respostas interagem com a nossa percepção do espaço e dão-nos
respostas à nossa necessidade de ler e compreender o meio onde nos encontramos.
É esse prolongamento artificial do nosso corpo, que nos abriga e nos traz conforto,
perante o entorno que nos circunda. É esse corpo que materializa os conceitos de
vivência dos espaços e da sociedade onde nos enquadramos.

Fig.- 59- Meti Handmade Schol, Rodrapur, Bangladesh, Anna Heringer, 2006. A construção é a necessidade de
complementar o meio, criando cultura e reforçando os laços da comunidade. As necessidades em países e
comunidades necessitadas implicam muitas vezes um esforço comum na construção. Aqui a comunidade constrói uma
escola contemporânea, utilizando tecnologias ancestrais: a roda de bois mistura a terra e a palha para as paredes de
taipa. Fonte: http:// http://www.anna-heringer.com

A materialização do homem, enquanto animal social, está alicerçada nessas


construções onde se desenrolam os rituais sociais, culturais e económicos. O corpo da

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arquitectura, por sua vez, está adaptado a essas vicissitudes que são a satisfação das
necessidades individuais dos cidadãos e da sociedade. A construção reflecte e
conceptualiza esse entorno social e civilizacional. Se uma sociedade reflecte
insatisfação e entra num processo de crise, o corpo da arquitectura reflecte essas
idiossincrasias e procura dar novas respostas a esse habitat insatisfatório.

Os processos de industrialização constituíram um marco fundamental na criação de


bem-estar global, contudo, esse processo originou problemas que urge resolver.
Esses problemas, para além da crise ambiental com que nos confrontamos, estão
presentes no grau de insatisfação pessoal dos cidadãos. Ambos os fenómenos estão
ligados, a mesma sociedade que criou a crise ambiental, criou um ambiente de grande
insatisfação psicológica nos seus cidadãos. A feroz concorrência pessoal, o
desenraizamento de grandes franjas da população, o alheamento dos rituais sociais
de comunhão com a natureza e a quebra de laços de solidariedade social, entre
muitos outros fenómenos sociais e psicológicos que a sociedade de consumo deixou
para trás, consolidaram essa insatisfação.

Fig.- 60- Meti Handmade Schol, Rodrapur, Bangladesh, Anna Heringer, 2006. O resultado final, apresenta uma
linguagem de fusão, se por um lado temos valores da arquitectura tradicional, por outro lado, a contemporaneidade
acrescenta-lhe um carácter distinto. A harmonia do conjunto resulta dessa fusão, acrescida por dois factores
qualitativos, a sustentabilidade da construção e o esforço colectivo da comunidade em erguê-la. Fonte: http://
http://www.anna-heringer.com

O fenómeno arquitectónico na sua réplica à crise ambiental, deve incorporar a


conceptualização do corpo da arquitectura na resposta a essas insatisfações. Não
cabe ao fenómeno arquitectónico conceptualizar a solução de todos os problemas com
que a sociedade se confronta. Deve o fenómeno arquitectónico criar conceitos
concretizáveis que procurem responder aos problemas que se nos apresentam e que
estão ao seu alcance resolver, tornando-se assim, o fenómeno arquitectónico, em

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mais um elemento de transformação que, em conjunto com os esforços que as outras
áreas de conhecimento e da sociedade estão a realizar, procurará atingir um novo
modo de alcançar uma sustentabilidade perdida.

Do mesmo modo que o nosso corpo procura responder aos problemas com que se
confronta, o projecto arquitectónico será tanto mais válido quanto melhores respostas
concretizar na edificação. Não se limitando a responder quantitativamente aos
problemas, mas qualificando as suas respostas com significados prementes. A
resposta arquitectónica à crise ambiental, não se pode resumir ao desenho
bioclimático eficiente, nem à utilização inteligente dos eco-materiais. Ela deverá incluir
também uma reflexão sobre os modos de vida e sobre a sua importância na felicidade
das pessoas.

No centro desta procura pela felicidade das gentes, o corpo da arquitectura, deverá
adicionar significados qualitativos à coisa construída. A responsabilidade social, a
reflexão humanista sobre as respostas arquitectónicas, o respeito pelo ambiente,
natural e edificado, a poupança de recursos e a significância poética do edificado,
devem consubstanciar a qualidade da resposta desenhada pelo arquitecto. O corpo da
arquitectura é o resultado equilibrado destas premissas, pois só assim se atinge o
equilíbrio delicado entre o artifício e a natureza, sendo que a edificação deve ser
complemento da natureza. A edificação como substituição artificial da natureza é um
erro que não devemos repetir.

Fig.- 61- Meti Handmade Schol, Rodrapur, Bangladesh, Anna Heringer, 2006. O objecto arquitectónico torna-se corpo,
corpo da arquitectura, fundação da sociedade, preparando o seu futuro e garantindo a sua sustentabilidade. A
materialidade da construção personifica todas essas intenções, elevando a expressividade da obra e construindo uma
poesia concreta e significante.
Fonte: http:// http://www.anna-heringer.com

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3.3- A CONSONÂNCIA DOS MATERIAIS

“Existe uma proximidade crítica entre os materiais que depende dos próprios materiais
e do seu peso. Ao conciliar materiais numa obra existe um ponto em que estão
demasiado próximos, e outro ainda em que estão mortos.” (Zumthor, Atmosferas
2006).

A consonância dos materiais é o equilíbrio delicado das partes que constroem a forma
do objecto arquitectónico. A materialidade consubstancia a expressão da forma
equilibrando as tensões, complementando a composição, formatando o tacto e o sentir
da edificação que construímos.

A arquitectura é coisa matérica, assente no objecto edificado. Esse objecto adquire


carácter e significado, não só através da forma como se constrói, mas também através
da matéria que o estrutura. Essa matéria dialoga e interage com o solo onde cresce.
Essa matéria, para além da sua aplicação directa na construção, traz atrás de si, toda
uma história intemporal. Essa história começou no Big Bang, onde energia e matéria,
nas suas formas mais básicas se envolveram em transformações constantes. Do
hidrogénio ao urânio, todos os elementos se transfiguraram em núcleos de estrelas e
outros fenómenos cósmicos.

Fig.- 62- Hamadera House, Sakai, Japão, Coo Planing, 2010. Numa zona de enormes riscos sísmicos, uma casa
integralmente construída em contraplacado, contudo, apesar da espartana escolha de materiais, todo o espaço da
habitação está qualificado, criando uma atmosfera que reinterpreta a tradição nipónica de um modo contemporâneo.
Fonte: http://www.floornature.com

Na Terra, todos esses elementos se juntaram, criaram a vida e transfiguram-se em


modos de complexidade crescente. A matéria é elemento da vida e do planeta, e o
planeta e a vida são a génese da humanidade. Matéria e materialidade são coisa

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complexa. São coisa ainda mais complexa pois para além da sua física, da sua
biologia, são os recursos que permitiram ao Homem criar civilização. É com essas
matérias e materiais que complementamos o nosso habitat, criamos os nossos
abrigos, albergamos as nossas actividades, e é também com elas, que construímos o
palco das nossas vidas.

A construção é processo difícil pois é o culminar de múltiplas complexidades; a


complexidade da matéria; a complexidade do meio; a complexidade social; a
complexidade dos significados e a complexidade do ecossistema resultante da
construção final. O controlo destas interacções está na natureza do projecto e é razão
da sua dificuldade. Essa dificuldade é crescente, pois a resposta com que nos últimos
cinquenta anos encaramos a necessidade de construir, edificando sem compreender
todas as implicações desse acto, contribui significativamente para o esgotamento de
recursos e para a crise ambiental com que nos confrontamos.

Fig.- 63- The Trufle, Costa da Morte, Galiza, Espanha, 2010. Abrigo Inspirado no Cabanon de Le Coubusier, utilizando
um programa similar, desta feita explorando os limites expressivos do betão, na sua construção foram utilizados fardos
de palha que serviram de alimento a um vitelo durante um ano. Esta atitude exploratória, a utilização de fardos de
palha como cofragem e o seu consumo pelo vitelo, procurou explorar a capacidade expressiva do betão, atingindo
assim a matéria construtiva uma expressividade única, fortemente realçada pelos delicados contraste entre a textura do
betão, os tecidos e o pavimento em cortiça, Fonte: http://www.archdaily.com

A compreensão entretanto adquirida acerca da finitude da Terra implica uma utilização


cautelosa dos recursos limitados do planeta. O equilíbrio ecológico da materialidade
do projecto terá de ser uma das suas grandes preocupações. Esse equilíbrio deve ser
atingido através de uma rigorosa compreensão da natureza dos materiais. Essa
compreensão deve resultar da mensurabilidade dos materiais utilizados de acordo
com critérios científicos. Contudo, a génese da compreensão não deve começar
apenas na mensurabilidade das consequências ambientais dos materiais utilizados.
Essa atitude poderia levar que o acto do projecto, em determinada altura, fosse

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determinado pela medição desses parâmetros, levando à substituição de elementos
do projecto por outros ecologicamente mais eficientes, descorando os outros
significados do projecto.

A génese dessa compreensão deve começar pela implementação de princípios


genéricos de sustentabilidade tais com a utilização de materiais reciclados, materiais
sustentáveis, materiais de proximidade entre outros. Contudo esta génese do projecto
pode consubstanciar uma atitude poeticamente relevante, construir é colaborar com a
Terra. Passar a conceber o projecto como um prolongamento dos processos
biológicos de crescimento acrescentará nova riqueza ao léxico do projecto. O projecto
pode ser encarado como um ser vivo, nascendo do solo, vivendo com o seu entorno e
quando terminar o seu ciclo de vida, que ele contribua para o seu renascimento dentro
dos ciclos da natureza.

Fig.- 64- Rauch House, Schlins, Austria, Boltshauser Architekten, 2008. Paredes estruturais em taipa aparente,
degraus de betão pré fabricados, guarda em aço e mosaicos hidráulicos no pavimento, delicadamente equilibrados
para atingir a atmosfera imaginada para a casa. Fonte: http://www.architonic.com

A compreensão das matérias construtivas também não se resume um mero equilíbrio


ecológico da edificação, a escolha da matéria deve sempre ser feita de acordo com os
conceitos do projecto. Esta escolha deve ser coerente consubstanciada, não se
limitando à pele do edificado.

O projecto, e a consequente edificação, resultam de um complexo processo de


conceptualização. Esta conceptualização deve resultar num todo coerente e
significante. Coerente pois ele deve transmitir em toda a sua construção uma linha de
raciocínio una, que se interligue, das suas linhas gerais de volumetria, ao seu
pormenor mais ínfimo. Este raciocínio deve reflectir, para além das questões técnicas
inerentes ao programa, a economia de construção, a facilidade de manutenção, os

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impactos ecológicos e o conforto dos seus utilizadores e as outras solicitações do
projecto, concretizando uma reflexão que permita ao arquitecto conceptualizar um
conceito coerente que una a obra.

A conjunção destes pressupostos, pode então proporcionar um ambiente propício para


a criação de uma linguagem arquitectónica mais poética, onde o gesto da construção
se possa aproximar, em termos de conceito, dos momentos da vida, nascer, crescer,
mudar nas estações e renascer na terra.

Onde o projecto seja também contraponto à vida contemporânea, que combata a


ansiedade, promovendo uma ligação mais profunda e pacífica aos ciclos naturais,
onde ao imediatismo da vida dos dias que correm se contrabalancem espaços que
promovam a reflexão. E onde a vida possa decorrer de modo menos artificial e em
maior harmonia com a Natureza.

Esta não é uma postura de retorno ao passado, esta terá de ser uma postura de
reequilíbrio entre a vida imposta pela sociedade de consumo e a nossa vontade de
reconstruir um novo equilíbrio.

Fig.- 65- Casas na Areia, Comporta, Portugal, Aires Mateus, 2010. A consonância dos materiais apela a um conceito
diferente de vida, apela a um retorno ao ritmo dos ciclos natureza. Parte da sedução que este tipo de atmosferas cria
reside na insatisfação e no estado de ansiedade generalizado que a sociedade de consumo pós-industrial provoca.
Fonte: http://www.dezeen.com

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3.4- O SOM DO ESPAÇO

“Cada espaço funciona como um instrumento grande, colecciona, amplia e transmite


sons. Isso tem a ver como a sua forma, com a superfície dos materiais e com a
maneira como estão fixos” (Zumthor, Atmosferas 2006).

O espaço e o som que nele se propaga estão intimamente ligados, do som que a
matéria reflecte, ao modo como ele ressoa, passando pelas sonoridades, ou ruído,
que chega da envolvente, som e espaço condicionam-se mutuamente. Está na
natureza dos espaços que a sua caracterização sonora altere o modo como
interagimos e nos percepcionamos com ele. O contrário também é verdade, a
caracterização do espaço altera a natureza dos sons.

Fig.- 66- Great Bamboo Wall, Bejing, Kenso Kuma, 2002. A serenidade é coisa construída de maneira delicada e
complexa. Três pavimentos, duas pedras, uma polida a outra amaciada, e um pavimento em bambu, uma cortina,
também em bambo, a complexidade de sons emitidos e absorvidos pelas diferentes matérias constroem complexa
serenidade de um local de contemplação. Fonte: http://www.kkaa.co.jp

A título de experiência, podemos tentar reproduzir o mesmo som ou melodia em


espaços de características diversas. A audição de um som, num espaço revestido com
superfícies reflectoras, é muito distinta da do mesmo do som ou melodia emitida num
espaço onde as suas superfícies o absorvem. Mais diferente será ainda se as
superfícies que delimitam o espaço funcionem como caixas de ressonância, ampliando
a frequência sonora.

A percepção humana do som é outra componente essencial nesta relação íntima entre
som e espaço. A audição é um sentido humano crucial para a percepção espacial do
meio. Não é por acaso que a nossa audição é estereofónica, pois graças aos nossos

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dois ouvidos conseguimos identificar no espaço a origem do som. Esta configuração
biológica torna a audição no sentido mais importante de percepção espacial a seguir à
visão. Podemos então começar a compreender a importância do fenómeno acústico
nas questões do espaço.

Por norma, estas questões são colocadas em três níveis de solicitações no projecto. O
primeiro nível é a questão do conforto acústico do edificado, controlando o nível de
isolamento, ou interacção acústica dos espaços interiores face à envolvente. A
segunda questão que se coloca é a adequação do nível de reverberação do espaço,
sendo que cada espaço, de acordo com as funções e as actividades nele exercidas,
deverá ter o nível adequado de reverberação, sendo esta controlada em conjunto pela
sua geometria e pelo mix de materiais, absorventes e reflectores de som, que
constroem o espaço. A terceira preocupação que deverá ponderar o projecto
relaciona-se com o som produzido pelos materiais aplicados, sendo que os materiais
não produzem som directamente, mas a actividade exercida pelos utentes sobre os
mesmos, produz som. Contudo estas são questões técnicas a que o projecto
arquitectónico deverá responder.

Fig.- 67- Restaurante Yellow Tree House, Workworth, Nova Zelândia, Pacific Environment Architects, 2008. Situado
num parque natural, este restaurante inspirado nos casulos de insectos, agarra-se às arvores, mimetizando um
processo natural. A sua integração na natureza é complementada pela sua abertura aos sons da floresta. Apenas
deste modo a sua atmosfera fica completa, do mesmo modo que o som da natureza percorre a floresta, ele atravessa a
madeira que constrói o espaço onde nos encontramos. Fonte http://www.contemporist.com

A nível expressivo o som tem sido um dos instrumentos primordiais de caracterização


do espaço, na arquitectura do sagrado, sempre desempenhou papel fundamental na
sua concepção. No modo como as igrejas e templos são edificados, o som reflecte e
reverbera, moldando o carácter dos espaços. Este característica é fortemente
condicionada pela forma e pelos materiais que constroem o espaço religioso e é um
exemplo de como a utilização cuidada de formas e materiais pode transformar um

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fenóm
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e acústica plenas de
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divisão forrada a madeirra, um chã
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dra, o som
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diano criam
m uma
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essão digita
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e não nos a
apercebemo
os da
sua existência. Cada consstrução tem
m a sua harrmonia, ou cacofonia, dependend
do do
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ecto.

Fig.- 68-
6 Papertainerr Museum, Seo
oul, Korea do Sul,
S Shigeru Ban, 2006. Nestte átrio central, local de rece
epção e
distribu
uição do Paperrtainer Museum, a reverberaçã
ão é cuidadosam
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omplementam. Perde
P carácter e eficácia um espaço
deste tipo
t n tiver a reverrberação correccta. Na nossa herança cultural,, e no nosso imaginário associamos a
se o som não
este tipo de espaços a existência de
e um certo eco//ruído de fundo a a encontrar a atmosfera certa
o que nos ajuda a deste
tipo de
e espaço Fonte:: http://www.shig
gerubanarchiteccts.com

Os eco-materia
e ais nesse campo
c não
o se disting
guem dos restantes m
materiais, a sua
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pende da sabedoria
s com
c que sã os, contudo uma
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guir-se. O cuidado com
c uímos no meio,
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peitando-o, terá
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c n harmonia
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e uma
edificcação.

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81
3.5- A TEMPERATURA DO ESPAÇO

“O facto de que os materiais retiram mais ou menos do nosso calor corporal é


conhecido. Histórias de como o aço é frio e por isso retira calor. Mas ao falar disto,
ocorre-me a palavra temperar. É semelhante a temperar pianos, ou seja encontrar o
ambiente certo. No sentido literal e figurativo. Quer dizer que esta temperatura é física
e provavelmente psicológica ” (Zumthor, Atmosferas 2006).

O projecto arquitectónico responde a vários tipos de exigências; funcionais,


estruturais, de acessibilidade, da integração no sítio ou na cidade, da acessibilidade,
do conforto, da segurança, da hierarquização dos espaços, da composição e da
criatividade entre outras. Essas solicitações são ponderadas e conjugadas pelo
arquitecto de modo a encontrar uma solução equilibrada e criativa. Uma das
solicitações a que os projectos devem responder é ao conforto térmico e ao equilíbrio
bioclimático do projecto.

Fig.- 69- Alila Villas Uluwatu, Tokio, Woha Architects, Bali, Indonesia, 2009. A materialidade da cultura reflecte as
condicionantes bioclimáticas, as transparências permitem a ventilação. Uma textura expressiva reforçada por uma
riqueza matérica, sombra e ventilação são parte da cultura local, aqui acentuadas pela herança da cultura islâmica de
Bali. Fonte: http://www.archdaily.com/59740/alila-villas-uluwatu-woha/

Esse tipo de solicitações não aparecem de modo anónimo no projecto, a sua resposta
implica um conhecimento profundo do sítio e do clima onde se desenvolverá a
construção. A consubstanciação deste conhecimento garante ao projecto uma
harmonia profunda com as condicionantes climáticas do sítio, consequentemente a
eficácia de resposta do projecto aumenta. A procura desta eficácia não implica só um
refinado desenho do projecto, encontrando o equilíbrio entre as solicitações
programáticas do projecto e as necessidades de respostas bioclimáticas, conjugando

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ganhos solares com ensombramento, ou equilibrando as necessidades de
aproveitamento, ou protecção, de ventos dominantes. Implica igualmente a escolha de
materiais que se adeqúem às inércias térmicas desejadas.

Por norma as arquitecturas tradicionais dispõem de uma paleta de materiais, que em


conjunto com o seu desenho, respondem eficazmente a estas necessidades. Contudo
o projecto não se resume a um somatório de respostas. O projecto deve também
consubstanciar, a criatividade e a busca de originalidade do seu autor. O arquitecto,
enquanto autor criativo, utiliza uma vasta paleta de soluções e materiais que deve
adequar à resposta criativa que procura.

Essa resposta utiliza o objecto arquitectónico como meio expressivo. A expressividade


desse objecto, com as respostas que ele consubstancia, procura contar uma história
que se desenrola à medida que o utilizador deambula pelo espaço. Essa história é o
verdadeiro significado do projecto, ela só se revela com toda a envolvência da obra.

Fig.- 70- Maison à Marrakech, Marrocos, Guilhem Eustache, 2008. Num clima desértico, uma casa construída em
taipa, pavimento em tijoleira artesanal e a visão da piscina no seguimento da sala. A temperatura refresca-se pela
materialidade da construção, tal não é apenas fenómeno físico, é também fenómeno perceptivo. É a materialidade da
obra constrói essa temperatura psicológica que nos conforta. Fonte: http://www.amush.org

A envolvência em que nos posicionamos, quando abordamos o espaço, remete-nos


para uma experiencia multissensorial. Esta multiplicidade de feedbacks sensórios
provoca no utilizador uma abundância de emoções que acentuam os conceitos do
projecto.

A temperatura do espaço, física e psicológica, acentua o dramatismo da resposta


arquitectónica. A utilização da temperatura começa desde logo com a utilização da
cor, lembremo-nos das casas marroquinas como interior pintado de azul, cor fria, ou
das casas nórdicas, pintadas de encarnados escuros e outras cores quentes. Em

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ambas as utilizações, revela-se uma vontade de complementar a realidade ambiental,
em climas quentes cores frias, em climas frios cores quentes. Esta prática não traduz
apenas um meio de adquirir ganhos ambientais, no calor do deserto as cores frias
reflectem as radiações solares, permitindo que as superfícies expostas fiquem mais
frescas, o contrário acontecem nos países nórdico, onde as cores quentes acumulam
as radiações e aquecem as superfícies. Esta prática ganha eficácia adicional, pois a
nossa percepção psicológica da cor, permite-nos um maior conforto face aos climas
extremos.

A utilização da temperatura como elemento expressivo não termina na cor. A


condutibilidade térmica dos materiais também é factor que marca a temperatura de um
espaço. A utilização de materiais cerâmicos, ou de pedra, ou de elementos metálicos,
todos eles materiais com grande condutibilidade térmica, arrefece a temperatura de
um espaço. Por outro lado as madeiras, o gesso, paredes de terra, tapeçarias ou
alcatifas, peles animais, alguns polímeros plásticos ou elementos têxteis, materiais de
fraca condutibilidade térmica, tornam o espaço mais quente.

Fig.- 71- Igreja de Kärsmäki, Finlândia, Lassila Hirvilammi, 2005. O calor da madeira não é apenas táctil, a sua cor e a
sua textura são fortemente percepcionados pelo ser humano como algo reconfortante e quente. O espaço desta igreja
reflecte essa realidade, o calor não é apenas físico. Fonte: http://www.architonic.com

Outro factor que condiciona a temperatura é a ventilação do espaço. Uma aragem


fresca numa varanda ou numa caixa de escadas, o calor duma cozinha, entre outros
exemplos, condicionam o carácter do espaço, tornando esse local do projecto
aprazível, ou então ligeiramente desconfortável, consoante a intenções do projecto.

Estas situações quando acontecem em sintonia com a espacialidade do sítio


arquitectónico, não são questões menores, são questões primordiais na complexidade
da resposta arquitectónica. Os eco-materiais por norma não se comportam de modo

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diferente dos outros materiais. Os materiais de modo genérico são instrumentos de
consubstanciação do projecto. A expressividade da temperatura do projecto é uma
questão transversal à materialidade, eco materialidade, ou materialidade de modo
genérico.

A temperatura do espaço é coisa mais próxima da arquitectura bioclimática. Certo é


que dessa temperatura induzida, psicológica ou real, construímos emoções e
sensações, de conforto ou repulsa, e com elas condicionamos a reacção das pessoas
perante cada situação espacial.

Contudo, a utilização de eco-materiais vernaculares em particular, ganha uma


expressividade especial. Através da sua utilização, a temperatura física e psicológica
do espaço, ganha novos significados. Esses significados são adquiridos pois a sua
ligação com as coisas da natureza e do solo, permite construir espaços onde a
temperatura é percepcionada como um prolongamento amenizado da coisa natural.
Quase como um micro clima criado por uma floresta ou por um vale. Esse micro clima
nasce da natureza e é uma dádiva natural da sua materialidade, essa expressão
poética da construção é uma expressividade peculiar dos eco-materiais vernaculares.

Fig.- 72- Dragspelhuset, Lago Ovre Gla, Suécia, 24h Architecture, 2001. Num clima nórdico, onde os longos invernos
marcam a vida das pessoas e dos edifícios, existe uma necessidade real de exacerbar a temperatura dos espaços.
Neste caso de um modo surpreendente, somos aconchegados por peles a revestir a nossa envolvente. Fonte:
http://www.inhabitat.com

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3.6- AS COISAS QUE ME RODEIAM.

“Esta ideia, de que entrarão necessariamente coisas num edifício que eu como
arquitecto concebo, mas nas quais não penso, dá-me de certa forma uma visão futura
dos meus edifícios. Este facto faz-me bem, ajuda-me muito imaginar este futuro dos
espaços, das casas, de como serão uma vez utilizadas ” (Zumthor, Atmosferas 2006).

O projecto, actividade maior da profissão, é acto criador. Este acto criador é


impulsionado pelo programa, habitualmente definido pelo cliente, balizado pelas
exigências técnicas e regulamentares impostas pelo mundo real e pela sociedade. O
projecto é acima de tudo acto de autoria do seu criador, o Arquitecto. Como muitos
actos criadores, o sofrimento e o amor empregues na sua génese, criam imensas
afectividades na alma do seu criador. Em numerosas ocasiões o criador tem
dificuldade em libertar-se da imagem que idealiza da sua criação. Essa ligação entre
criador e criação é sempre coisa complexa, contudo, a criação, quando saudável e
madura, autonomiza-se do criador, ganhando vida própria.

Fig.- 73- Alila Villas Uluwatu, Tokio, Woha Architects, Bali, Indonesia, 2009. A utilização de materiais locais, guiados
por um desenho inteligente, constrói texturas que complementam os ritmos da floresta tropical de Bali. Um resort , tal
como qualquer edificação, deve complementar o meio que o rodeia. Fonte: http://www.archdaily.com/59740/alila-villas-
uluwatu-woha/

Quando a obra ganha autonomia e vida própria segue o seu percurso. Este percurso é
marcado pelos diferentes utilizadores e usos que se seguem ao longo da sua vida.
Cada um dos seus utilizadores vai caracterizar a obra à sua imagem, adaptando-a e
dando-lhe uma vida que transcende a criação original. Quando a construção tem um

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fim demasiado rígido com um formulação que não permite adaptações, essa
construção está destinada à demolição, Assim se passou com numerosos templos,
cuja liturgia não permitiu adaptações a novos credos religiosos, o mesmo se passará
com construções cujos programas são de tal modo rígidos que não permitem outro
uso.

O mesmo se passa com a habitação, independentemente do suporte arquitectónico, o


espaço habitado é sempre marcado pelos seus habitantes. Por vezes encontramos
alguns exemplos de arquitectos que se insurgem contra a intervenção dos habitantes
nas suas obras. Lembremo-nos de Frank Loyd Wright, que numa das suas casas,
processou os habitantes, pois as cadeiras por ele desenhadas para a sala se
encontravam noutra divisão. Contudo as construções destinam-se aos homens e a
eles devem proporcionar espaço para a vida se desenrolar. Em alguns casos
especiais os clientes pedem uma obra integral ao arquitecto, mas estes casos são a
excepção. E mesmo nestas obras, a não ser que sejam mesmo muito importantes e
constituam património pela sua valia extraordinária, o mais normal é que os seguintes
ocupantes destes espaços já tenham ideias diversas acerca dos mesmos. É boa
prática arquitectónica conceber o projecto para as pessoas, logo torna-se necessário
encontrar um equilíbrio delicado entre a individualidade do projecto e a necessária
flexibilidade do mesmo.

Fig.- 74- Vista de Nova Iorque, 2010. Num edifício anónimo da grande metrópole, os seus habitantes marcam uma
posição, querem contribuir para salvar o planeta, A capacidade do clássico prédio nova-iorquino em se adaptar aos
seus habitantes, é notável. Nem sempre tal acontece nos edifícios com grande individualidade. Fonte:
http://www.inhabitat.com

Zumthor refere-se em particular ao encanto que espaços profundamente marcados


pela vivência dos seus habitantes exercem sobre quem os visita. Estes espaço
povoados de objectos com história e significado são contagiados na qualidade
espacial por essa riqueza de individualidade dos seus habitantes. É pela capacidade

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dos espaços serem profundamente marcados pelo carácter dos seus habitantes, que
Zumthor considera que os espaços por ele desenhados devem ter flexibilidade de
abraçar.

Zumthor sugere, implicitamente, que o projecto deve conciliar a sua vontade de


afirmação com alguma humildade. Pois caso a afirmação de autoria se transforme em
sobranceria, a obra perde uma das suas principais funções, ela deixa de ser espaço
de vida e retira individualidade aos seus habitantes, não cumprindo desse modo a sua
função de ser espaço de harmonia e felicidade. Mais, quando o projecto afirma a sua
vontade de autoria de um modo desmesurado, ele fica inevitavelmente datado,
perdendo igualmente capacidade de se adaptar aos tempos que virão.

Esta questão de adequar o projecto aos seus tempos, e em simultâneo, garantir uma
certa aura de intemporalidade é problema significativo no uso expressivo com que
utilizamos a expressividade dos materiais na composição arquitectónica. Uma dose
necessária de expressividade é fundamental para afirmar a qualidade da obra,
contudo o seu excesso pode ditar-lhe uma curta vida.

Fig.- 75- Casa Manifesto, Curacavi, Chile, James & Mau for Infiniski, 2009. Apesar de integralmente construída com
elementos reciclados, contentores, paletes usadas, etc., esta habitação não dispensa um desenho forte, que apesar
disso, permite aos seus habitantes personalizar o espaço à medida das suas individualidades. Fonte:
http://www.archdaily.com

A capacidade do edificado prolongar a sua vida útil, e de ser passível de múltiplas


ocupações e utilizações ao longo da sua vida, é uma vantagem, pois quando uma
edificação consegue realizar esse feito, ela poupa recursos futuros e torna-se mais
sustentável. O que em relação à utilização de eco-materiais se torna num problema
delicado. Se por um lado estamos numa altura da nossa história em que o seu uso
deve ser promovido, enfatizando as suas vantagens, quer em termos de

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sustentabilidade, quer em termos de expressividade, por outro lado a enfatização
excessiva das suas expressividades pode ser contraproducente, pois pode datar as
obras e comprometer o seu uso prolongado.

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3.7- Entre serenidade e sedução

“É também o que tento fazer nos meus edifícios. De forma que eu goste e que vocês
gostem, e sobretudo, que corresponda à utilização do edifício. Conduzir, preparar,
iniciar, alegre surpresa, descontracção, mas sempre de forma que, já nada tem de
didáctico, mas sim de parecer natural ” (Zumthor, Atmosferas 2006).

A construção e a coisa arquitectónica são produto do homem, nascendo da resposta a


uma necessidade funcional, seja uma habitação, uma oficina, um armazém, uma
fábrica, um templo ou qualquer outro tipo de edificação, mas não se resumem a essa
resolução técnica. A resposta edificada, normalmente resultado de grande esforço,
necessita de atingir elevados graus de eficácia. Para conquistar essa eficácia a
resposta arquitectónica, para além das exigências programáticas, necessita de
interagir com três realidades distintas; ela tem de responder às necessidades
ambientais, tem de se adequar às contingências culturais e tem de interagir
eficazmente com os seus utilizadores.

Fig.- 76- Alila Villas Uluwatu, Tokio, Woha Architects, Bali, Indonesia, 2009. Serenidade e sedução, um equilíbrio
delicado, entre a vontade de sugerir um percurso e um convite para ficar, cada espaço deverá construir o seu carácter,
aqui fica-se, observando o que nos espera no exterior. Fonte: http://www.archdaily.com/59740/alila-villas-uluwatu-woha/

Quando Zumthor enuncia as qualidades de serenidade e sedução que emanam da


boa obra, ele refere-se à capacidade da obra interagir de naturalmente com os seus
utilizadores. Esta capacidade resulta do modo com a construção anuncia as suas
intenções de um modo perceptível a todos, sem se socorrer de mais nenhum elemento
alheio a si mesma. Essa enunciação resulta da expressividade com que as diversas
situações espaciais da construção se consubstanciam. É através da percepção deste
carácter expressivo que os espaços dialogam com o seu utilizador.

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Essas expressividades motivam no utilizador dos espaços diversas emoções que
complementam a sua percepção da realidade tridimensional do espaço. A percepção
destas emoções permite ao utilizador apreender o carácter do espaço, seja ele um
sereno espaço de estar, ou uma circulação vibrante, ou a introspecção de um local de
culto. São as expressividades da resposta arquitectónica que permitem clarificar o
sentido de orientação do espaço, caracterizando os espaços de acordo com as
funções e o conceito, anunciando acontecimentos, conjugando as realidades
exteriores com as necessidades do programa.

Para além de nos proporcionarem um entendimento mais completo do espaço, a


capacidade dos diversos espaços emanarem estas emotividades, entre a serenidade e
a sedução, passando pela excitação, a alegria, a surpresa ou pela solenidade,
constroem a relação psicológica que o homem estabelece com o edificado.

Fig.- 77- Capela em Tarnow, Polónia, Beton Architekt, 2009. Cada espaço deve adquirir a sua atmosfera de acordo
com a função. Neste caso um conhecido escritor polaco decidiu financiar uma capela na sua propriedade para os seus
vizinhos. Construída com madeira local e executada pela população. A atmosfera de recolhimento e introspecção é
reforçada pelo desenho da estrutura da capela e pelo modo como dialoga com a paisagem. Fonte:
http://www.archdaily.com

É esta relação psicológica, que permite aos edifícios dialogarem com o homem,
transmitindo os seus conceitos e, quando a obra se destaca, propagar a poesia com
que a edificação nos pode brindar. Quando Zumthor nos alicia a utilizar essas
capacidades expressivas dos espaços, de modo a proporcionar as diferentes emoções
que complementam a resposta funcional do projecto, ele apela a que essas respostas
surjam com naturalidade.

Na sua, e na nossa óptica, é essa naturalidade que caracteriza a intemporalidade


poética com que nos brinda em muitas das suas obras. Esse apelo é consubstanciado

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na materialidade da construção e na ligação ao sítio. As matérias utilizadas na
construção, de forte carácter tectónico, aliando as tradições locais a uma profunda
reflexão da vida contemporânea, que concretizam o apelo a uma nova vontade de ver
o mundo, mais humana, mais ligada ao sitio e aos rituais naturais, menos consumista
e mais poética.

Tal como na poesia escrita, são os sentimentos de acolher, esperar, correr, ansiar,
amar, sugerir, descansar, compartilhar, solidão, comunhão, reflexão entre outros que
nos permitem construir uma narrativa poética. No caso da obra, essa narrativa poética
é concretizada através da implantação, da orientação, do desenho e hierarquização
dos espaços, das significâncias culturais, do sítio, que nos permitem, como
arquitectos, transmitir os conceitos da obra, na esperança de criar espaços onde a
vida possa florescer em felicidade. Sempre na esperança, desse modo podermos
contribuir para um mundo onde um homem melhor possa crescer e ser feliz.

“Belief in the significance of architecture is premised on the notion that we are, for
better or for worse, different people in different places- and on the conviction that is
architecture’s task to render vivid to us who we might ideally be” (Botton 2006)

Fig.- 78- Bamboo House, Osaka, Japão, Katsuhiro Miyamoto, 2009. Por entre o ritmo vertical do bambo que marca o
espaço da habitação, aparece um vislumbre da rua, a luz atravessa a verticalidade do bambo, a escada realça a
horizontalidade dos seus degraus. A serenidade preenche a atmosfera interior, contudo a sedução do exterior e do
resto da habitação são serenamente anunciadas. Fonte: http://www.archdaily.com

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3.8- TENSÃO ENTRE O INTERIOR E O EXTERIOR

“Na arquitectura retiramos um pedaço do globo terrestre e colocamo-lo numa pequena


caixa. E de repente existe um interior e um exterior. Estar dentro e estar fora.
Fantástico. E isto implica outras coisas igualmente fantásticas: soleiras, passagens,
pequenos refúgios, passagens imperceptíveis entre interior e exterior, uma
sensibilidade incrível para o lugar.” (Zumthor, Atmosferas 2006).

O gesto de retirar um pedaço do globo terrestre e com ele construir uma nova
realidade inexistente, é uma analogia poderosa e assertiva. A poesia da analogia,
reflecte uma profunda reflexão acerca do acto de construir e essa analogia
corresponde a uma realidade inquestionável. Construir implica sempre retirar algo
matérico de algum lugar, utilizando essa matéria para edificar. Esse aparentemente
gesto simples de retirar, transformar e construir é coisa complexa. Em primeiro lugar,
para construir retiramos sempre algo, extraímos e destruímos uma realidade natural,
seja uma montanha para retirarmos a sua pedra, seja uma floresta onde abatemos as
suas árvores, ou uma praia de onde extraímos a sua areia, enfim, quer seja para
materiais de construção, quer para recursos energéticos, existe sempre uma
destruição do meio natural. A destruição continua para além da extracção dos
recursos, o sítio onde construímos, provavelmente um campo, floresta, sapal, estuário,
etc., deixa de ser um local naturalmente produtivo, e transforma-se num sítio onde a
natureza tem dificuldade em persistir.

Fig.- 79- Plasticamente, Riccardo Giovaneti, 2009. Discos e pratos em plástico reciclado, constroem uma cúpula quase
fechada. Contudo as transparências que restam entre os elementos, criam uma tensão que convida ao usufruto do
espaço. Fonte: http://www.contemporist.com

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Quando Zumthor apela a uma sensibilidade incrível para o lugar, está a dar-nos pistas
sobre a sua importância. Sobre a importância de construir respeitando e colaborando
com a terra, procurando que a construção seja um complemento da natureza. Zumthor
faz esse apelo maximizando a importância arquitectónica das tensões entre o interior e
o exterior do construído. Tensões essas que alargam o limite do projecto. Tensões que
poética e simbolicamente, representam a interacção que o edificado tem com o meio.
O exterior e o interior do construído são partes complementares de uma mesma
realidade, a essa realidade podemos referir o ecossistema onde a espécie humana
vive e floresce.

O fascínio que a arquitectura dedica a esse momentos tensos do projecto, os limites


da interacção entre o interior e o exterior, constituem instantes delicados e tensos do
projecto. É nesses apontamentos, que interior e exterior se fundem e interagem,
criando ambiguidades e convites de interacção, inserindo os conceitos do projecto na
envolvente e trazendo a envolvente para o conceito do projecto.

Fig.- 80- Centro médico, Khartoum, TAMassociati, 2009. Centro médico para refugiados, paradigma de inserção e
respeito pelo local, pois apesar de ter sido construído reaproveitando contentores marítimos, consegue reinventar o
sítio, adoptando materiais locais no ensombramento. Parte da reconstrução do sítio resulta da forte ambiguidade entre
o seu espaço interior e a adjacência. A estrutura de ensombramento reforça essa ambiguidade e complementa essa
diluição de fronteiras. Fonte: http://www.tamassociati.org

Encontramos essas tensões em toda a arquitectura, da vernacular à moderna, contudo


em todas essas tendências e movimentos arquitectónicos, não existem fórmulas para
atingir a poesia inerente a essa zona indefinida da coisa arquitectónica. Pode
acontecer num alpendre de uma casa minhota, ou na janela de casa japonesa, ou no
prolongamento de uma cobertura modernista, certo é que essa magia do espaço
acontece sempre quando a coisa arquitectónica dilui as suas fronteiras entregando-se
ao mundo.

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Terá de existir na procura destes momentos uma reflexão e conhecimento profundo do
meio onde edificamos, principalmente a um nível bioclimático, pois sem esse
conhecimento a interacção torna-se inútil. Expor uma varanda aos ventos dominantes
num clima frio, torna-se num desperdício inútil, pois a sua fruição não é possível. O
mesmo acontece com um grande envidraçado voltado ao sol num clima desértico. A
eficácia destes momentos está profundamente interligada no meio e na relação que a
obra estabelece com ele.

A sua poesia está ligada a dois factores, em primeiro lugar são momentos de convite e
prolongamento do espaço, convidam-nos a perceber o interior e apropriam-se do
exterior, dependendo da nossa posição relativa face objecto arquitectónico. Em
segundo lugar, ao compreenderem o habitat, estas situações criam na coisa
arquitectónica uma magia, a coisa arquitectónica passa comportar-se como um
elemento natural, em vez de estar construída no sítio, como um objecto indiferenciado,
ela nasce da terra, passando a ganhar características expressivas que a ligam ao
meio, pois a ele está intimamente ligada. A coisa arquitectónica passa a crescer da
terra e colabora com ela do mesmo modo que uma arvore cresce adequando-se ao
local preciso onde nasce, vivendo do que a terra lhe dá e alimentando o solo.

Fig.- 81- Casas na Areia, Comporta. Portugal, Aires Mateus, 2010. Construir colaborando com a terra, a poesia da
sugestão convida a entrar e reforça o desejo de uma nova harmonia. O projecto procura sempre coisa delicada que
nos faça sonhar com um futuro melhor. Fonte: http://www.dezeen.com

A utilização de eco-materiais amplia o significado desta atitude, pois o respeito com


que estes materiais tratam o meio enfatiza essa relação. Esse significado, por vezes
ausente na imagem da construção, não deixa de trazer riqueza acrescida ao acto de
construir, complementando o meio, em vez de o esgotar. Pode-se constatar que os
eco-materiais vernaculares, o adobe, a madeira, a pedra do local da construção entre
outros, podem traduzir esses significados de um modo mais expressivo, anunciando
visualmente essa atitude de construir colaborando com a terra.

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3.9- DEGRAUS DA INTIMIDADE

“Relaciona-se com proximidade e distância, um arquitecto clássico diria: escala. Mas


isso soa muito académico, estou a falar num sentido mais corporal de escala e
dimensão. O que abrange vários aspectos que se relacionam comigo, o tamanho, a
dimensão, a escala e a massa da obra. Por vezes são elementos maiores do que eu e
noutras são objectos mais pequenos. ” (Zumthor, Atmosferas 2006).

A intimidade, essa relação entre o nosso corpo e a obra, é factor primordial no modo
como nos relacionamos com o edificado. Essa intimidade, ou relação corporal entre
nós e a massa do edificado, constitui igualmente um dos modos principais como os
conceitos do edificado se percepcionam. A escala do edificado e dos seus espaços é
um dos factores primordiais de qualificação do edificado. É esta gradação da
intimidade que vai marcar o modo como o edifício se apresenta face ao utilizador.

Fig.- 82- Abrigo de montanha, Kamounamoto, Japão, Sou Fujimoto, 2008. A escala mínima do abrigo potencia a
construção de uma atmosfera protectora e única. A utilização de madeira compacta como módulo construtivo cria o
aconchego que nos retempera depois de uma longa caminhada. O seu uso excessivo cria expressividades únicas,
relacionando-se com a floresta envolvente e dispensando o mobiliário. A aparente brutalidade do módulo construtivo é
dissolvida pelo desenho delicado da obra. Fonte: http://www.archdaily.com

Um edifício institucional num regime autoritário apresenta-se normalmente com uma


escala que esclarece o carácter do regime. Olhemos para dois exemplos no mesmo
país. Por um lado encontramos o estádio de olímpico de Berlim de Speer de 1936 em
pleno nazismo, com as suas colunatas monumentais de granito, e uma escala que
vincava o carácter ditatorial do nazismo. Por outro lado o estádio olímpico de Munique
de 1972 de Günther Behnisch e Frei Otto com a sua cobertura tênsil, leve e
transparente anuncia o optimismo da democracia.

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É a capacidade do edificado se relacionar com o ser humano, através da escala, e do
modo como se ela se adapta e respeita o homem, que marca a diferença de atitude
política entre ambas as obras. Na ditadura nazi o cidadão é diminuído na sua posição,
ele é transformado num servidor/admirador do estado. Na democracia da Alemanha
Federal dos anos 70, a obra está ao serviço do cidadão.

Nos dias que correm, onde a crise ambiental e a escassez de recursos marcam o
nosso dia-a-dia, as questões de escala continuam prementes, tal como na sua
associação a ideais políticos, a escala também reflecte as condicionantes da nossa
sociedade. As catedrais do consumo, os centros comerciais, talvez os edifícios mais
representativos desta era de excessos, utilizam a escala de um modo muito particular.
Misto de templo e de arquitectura institucional, com disfarces de playground, o homem
e natureza são subjugados pela escala do edifício. Os múltiplos pés direitos com as
suas varandas sobrepostas remetem-nos para a imagética das naves centrais de uma
catedral gótica. As suas fachadas imponentes com entradas fortemente marcadas
podem ser comparadas à enormidade da arquitectura estalinista. Nestes templos o
homem é separado da natureza e da cidade. Os ciclos naturais são cortados na nossa
permanência no seu interior para prolongar os impulsos consumistas.

Fig.- 83- Instalação, Victoria & Abert Museum, Londres, Rintala Eggertsson Architects, 2010. Nesta instalação, Rintala
Eggertsson, desenha uma biblioteca controlando a sua escala e adequando-a à magnificência do espaço disponível,
sobressai a obra pelo desenho requintado. Fonte: http://www.archdaily.com

Igual atitude encontramos em numerosas outras construções desta nossa sociedade


consumista. Por exemplo, os condomínios fechados com os seus muros e uma
artificialidade contida que nos separam da cidade e da natureza, criando uma
artificialidade assente num infindável consumo recursos, seguem uma lógica idêntica.
A escala doméstica reflecte igualmente essa perda de escala humana, os vestíbulos
com enormes escadarias e a salas enormes que servem micro famílias, apenas se

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destinam a impressionar o visitante ocasional. Esta utilização da escala na construção
é reflexo dos excessos da sociedade de consumo.

A escala da edificação é coisa da sustentabilidade, é-o pois a escala reflecte o uso de


recursos e numa época de escassez eles devem ser utilizados parcimoniosamente. É-
o igualmente, pois a escala reflecte o ideal de vida que está subjacente ao projecto.
Nas palavras de Zumthor, a escala é traduzida pela expressão os degraus da
intimidade, através dessa expressão Zumthor tenta ilustrar um modo de conceber a
construção que proporcione um ideal de vida, mais reflectivo, mais próximo da
natureza, menos consumistas e menos imediato. Nesse ideal vida, a beleza e poesia,
consubstanciados na sua arquitectura, procuram construir palcos onde a vida possa
encontrar a felicidade através de valores qualitativos. Onde a significância do espaço
se reflicta na harmonia entre o homem e a natureza.

A expressividade da matéria aliada à escala das coisas construirá essa harmonia.


Mais uma vez é através dessa expressividade, resultado da forma e da matéria que o
edificado comunicará com o ser humano, pois a matéria nada é sem forma, e a forma
sem matéria não existe, e é através desta capacidade de comunicar com o homem
que a arquitectura concretizará um dos seus grandes desígnios, procurar
consubstanciar a visão de um homem melhor.

Fig.- 84- Apartamento transformável, Hong Kong, Gary Chang, 2009. Com a densidade populacional de Hong Kong, o
espaço torna-se em bem valioso, neste apartamento de 40m2, e graças a um imaginativo sistema de paredes móveis,
a divisão única vai-se transformando de acordo com as diferentes necessidades. Esta condensação de funções e de
espaço não pôs em causa qualidade da habitação, nem a qualidade de vida do habitante. Os espaços estão
qualificados sem esbanjamento de recursos. Fonte: http://www.nytimes.com

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3.10- A luz sobre as coisas.

“Uma das ideias é a seguinte: pensar o edifício como uma massa de sombras e a
seguir, como num processo de escavação, colocar luzes e deixar a luminosidade
infiltrar-se. (…). A segunda ideia preferida é colocar os materiais e superfícies,
propositadamente, à luz e observar como reflectem. É necessário, portanto, escolher
os materiais tendo presente o modo como reflectem a luz e afiná-los ” (Zumthor,
Atmosferas 2006).

A luz é responsável em última análise por toda a matéria, é das estrelas e das
constelações que toda a matéria provém. Quando os textos sagrados dizem, “fez-se
luz”, dizem-no num sentido metafórico, no sentido do inicio dos tempos e da vida, mas
o nosso actual conhecimento científico constata que na realidade existe um relação
indesmentível entre luz e matéria. A luz provém dos actos cósmicos e nucleares que
são responsáveis pela criação da matéria e da energia. É o seu reflexo ténue, que
depois de uma viagem intemporal, nos permite situarmo-nos no cosmos. A vida em
termos genéricos é indissociável da luz, a maioria da vida à face da terra assenta no
ciclo do carbono, e este ciclo está dependente da existência de luz solar.

Fig.- 85- Mapungubwe visitors Centre, Africa do Sul, Peter Rich, 2008. Esta estrutura de ensombramento, cria com a
sua sombra ritmos surpreendentes realçados pela irregularidade das matérias vernaculares que usa. A sombra
percorre os pavimentos e as paredes de taipa, com ritmos e texturas únicos a cada hora do dia. A textura rica da taipa
e a irregularidade da madeira potenciam expressões únicas que constroem uma poesia mutante, filha do ciclo natural
da luz e da textura das coisas da terra. Fonte: http://www.peterricharchitects.co.za

Para além da sua responsabilidade na criação original da matéria, a luz representa


para a Terra o nosso suprimento primordial de energia. Todo o petróleo e carvão que
consumimos são resultado do ciclo do carbono, por sua vez alimentado pela luz. A luz
é em última análise responsável pela existência de vida na Terra. Luz é energia e
calor. Luz influencia todos os ciclos naturais, é a sua duração que marca as estações

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determinando os ciclos da vida e da reprodução. É a sua reflexão na Lua que nos
mostra as suas fases.

A luz é coisa primordial, pois é ela que corre sobre toda a coisa construída, corre
sobre toda a coisa não construída, corre igualmente sobre a maior parte da coisa viva.
É ela que marca a sombra e que se reflecte em tudo, permitindo-nos construir uma
imagem da realidade. Na coisa arquitectónica, é a luz que nos realça a expressividade
da sua forma. Não o faz directamente, mas realiza-o pela sua ausência, é pela sombra
que a forma arquitectónica ganha os seus maiores momentos de expressividade.

É essa ausência de luz, a sombra, que determina algumas das diferenças entre as
arquitecturas das nações meridionais e as arquitecturas dos países mais próximos do
dos círculos polares. Basta um pequeno relevo, seja um friso ou uma cornija, para que
com o sol do Mediterrâneo se expresse uma sombra dramática na fachada. Tal não se
passa nos países nórdicos, onde por seu lado a uma cor forte e quente realça a luz
suave dos países sem sombra. A luz dramatiza também a matéria, quer reflectindo-se
nas superfícies espelhadas, quer dando espessura às matérias de textura vincada, ou
então mostrando a manualidade de um reboco ancestral.

Fig.- 86- Rauch House, Schlins, Austria, Boltshauser Architekten, 2008. Ao longo do dia as texturas, o brilho, a luz e as
sombras vão metamorfosear -se, revelando toda a sua riqueza expressiva. Fonte: http://www.architonic.com

A luz desempenha igualmente papel fundamental na caracterização interior dos


espaços, realçando-lhes o carácter, quer seja realçando o seu cunho etéreo com uma
luz zenital ou com os vitrais de uma igreja, ou então criando sombras dramáticas que
mudam visualmente o ambiente do espaço ao longo do dia.

Luz e matéria são indissociáveis, e matéria e espaço constituem a coisa construída.


Coisa construída que para além das luzes e sombras do seus grandes gestos,

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volumes, planos e espaços, vive da expressividade da matéria. Essa expressividade,
na sua textura, brilho ou forma construtiva ganha diferentes consistências ao longo do
percurso da luz. Seja ela a luz solar, ou os nossos substitutos artificiais.

Com a ligação intrínseca que existe entre a luz e a expressão da matéria a obra ganha
inúmeros significados diferentes consoante a viagem que a luz realiza sobre a coisa
construída. Textura, sombra, brilho, reflexo, penumbra e contraste variam minuto a
minuto durante o dia, variam pela posição solar, variam pelas variantes atmosféricas,
pela estação do ano e variam pela utilização que fazemos da luz artificial. A obra
ganha vida com essas interacções luminosas, as expressividades constroem emoções
diversas que fazem da vivencia arquitectónica coisa complexa. A obra relaciona-se
com a natureza de modo inequívoco, passa a ser parte de realidade superior, a
realidade da luz que comanda o cosmos.

Fig.- 87- Nk’Mip Desert Cultural Centre, Osoyoos, Canada, HBBH Architecs, 2006. A diferença entre a iluminação
natural e a luz artificial marca a entrada neste centro cultural. A primeira flui naturalmente, marcando a entrada,
contudo, e sem perca de luz, o carácter da iluminação artificial, com a sua luz quente e os seus focos mais limitados,
anunciam a entrada no espaço museológico. Fonte: http://www.archdaily.com

Os eco-materiais não são distintos dos restantes materiais, contudo a sua relação de
respeito pela sacralidade da coisa natural, dá-lhes especial significado. Com eles, o
sentido de construir colaborando com a Terra ganha um significado concreto. Com
eles, a materialidade da construção concretiza o desígnio de complementar e melhorar
o meio existente.

Obviamente, perante a forma arquitectónica, as materialidades não se distinguem,


sejam ou não respeitadoras do meio. Um vidro é um vidro, seja ele proveniente da
reciclagem ou seja ele novo, um tijolo que gaste menos energia não se destaca de
outro que seja muito consumidor da mesma no seu fabrico, e por aí fora. Contudo os
materiais vernaculares, com as suas texturas muito ligadas ao lado telúrico da

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expressividade construída, ganham uma expressividade diferenciada. A sua intrínseca
ligação à intemporalidade matérica da natureza, com suas texturas ainda próximas da
sua criação natural, reforça esse carácter, pois essas texturas vão expressar-se como
os elementos da natureza na sua relação com a luz que os ilumina.

Outro grupo de materiais que ganha expressividades únicas na sua relação com a
luminosidade, são alguns dos materiais de nova tecnologia, uma parede que se
comporte como um ser vivo, adaptando-se á realidade existente, alterando a sua
forma ou cor de acordo com a luz que recebe e precisa, vais sem dúvida reforçar esse
lado de ligação e aceitação da realidade natural como parte fundamental da nossa
vida.

Dado imutável na criação arquitectónica continuará a ser a realidade que as obras por
nós concebidas só ganharão todo o seu sentido quando devidamente iluminadas. É
essa luz que permite que o edificado dialogue com o homem, contando-lhe a sua
história e transmitindo-lhe as suas emoções e a sua poesia. É através da luz que a
obra nos permite, enquanto autores, consubstanciar a nossa vontade de mostrar que
podemos construir essa nova realidade que conceptualizamos para um Homem
melhor e mais feliz.

Fig.- 88- I’m lost in Paris, Paris, França, R&S(ien), 2008. Luz e natureza, entidades inseparáveis, aqui na reformulação
de um laboratório, equipamento de artificialidade intrínseca à nossa era tecnológica, o colectivo de arquitectos
R&S(ien) desenvolve a natureza, equilibrando a artificialidade do sitio, banhando-o com uma luz coada pela vegetação.
A atmosfera criada equilibra então natureza e artificialidade, quase como metáfora do que pretendemos como para o
nosso futuro. Fonte: http://www.archdaily.com

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4- CONCLUSÃO

F I L I P E H U M B E R T O T O R R E S M E S Q U I T A B O R G E S D E M A C E D O

103
4.1- DA EXPRESSIVIDADE.

A utilização cada vez mais frequente de eco-materiais é consequência de múltiplas


solicitações, desde as crescentes necessidades motivadas pelo aumento populacional,
à expansão dos níveis de conforto e consumo originados pelo incremento da
industrialização, passando pela globalização dos processos de consciencialização
ambiental, grandemente alicerçados pela evidência da crise climática e profundamente
reforçados pelas consequências económicas da progressiva exaustão dos recursos
naturais e energéticos.

A implementação do uso de eco-materiais é igualmente consequência da capacidade


humana em responder aos desafios de um modo imaginativo. Este uso da criatividade
humana para resolver desafios, não nos conduz apenas a novas soluções matéricas,
mas leva-nos a reutilizar técnicas ancestrais. Esta capacidade de reutilizar e inventar
soluções, consubstancia uma resposta em termos das materialidades construtivas,
muito próxima daquilo que tem sido a resposta global às consequências da crise
ambiental.

Tal como na resposta à crise energética, onde no passado dependemos quase


exclusivamente do carvão e do petróleo, agora encontramo-nos perante uma
tendência que procura a resposta ao problema energético em múltiplas fontes: do
eólico, ao hídrico, passando pelo solar, pelo nuclear, quer com a tradicional fissão
nuclear ou então na procura da fusão nuclear, pelos hidrocarbonetos com captura e
sequestro do CO2 emitido sem descurar a biomassa e os aproveitamentos de
resíduos. Na resposta às necessidades matéricas da edificação, conforme vimos, a
resposta tem sido alicerçada numa multiplicidade de diferentes estratégias.

Sucintamente encontramos cinco situações distintas: em primeiro lugar podemos


constatar que numerosos eco-materiais não trazem novas expressividades no seu uso
no fenómeno arquitectónico pois eles resultam de um update tecnológico de materiais
tradicionais de construção, sendo que essa actualização tecnológica não alterou as
características perceptíveis das matérias originais. Uma alvenaria cerâmica que utilize
uma cozedura energeticamente eficiente, ou cujas matérias-primas provenham de
reciclagem, não se apresenta uma expressividade distinta das alvenarias cerâmicas
menos eficientes de um ponto de vista sustentável. O mesmo se passa em relação a
numerosos outros materiais como o vidro, o alumínio o aço ou betão. Contudo, apesar

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104
da expressividade visual e da textura de tais materiais não se distinguir dos originais, a
sua utilização é elemento significante. Essa significância é atingida porque na
conceptualização da obra, a importância de projectar tendo em mente um futuro
melhor foi considerada, e isso é factor de enriquecimento da complexidade e
expressividade do projecto e da obra.

Outra estratégia de utilização de eco-materiais tem sido caracterizada pela


recuperação da utilização de materiais ditos vernaculares. Esta reabilitação no uso de
materiais vernaculares tem assentado na essência comum de todas as arquitecturas
vernaculares. Todas as arquitecturas vernaculares são por norma arquitecturas
alicerçadas na escassez de recursos e profundamente embrenhadas no seu habitat. A
eficiência com que as arquitecturas tradicionais e vernaculares lidam com essa
escassez, quer por via da sua eficácia bioclimática, quer por via do uso regrado com
utilizam os materiais, tem sido inspiradora de respostas sustentáveis para a
problemática da construção.

Esta classe de materiais tem uma expressividade peculiar, pois a sua proximidade
com o meio, enfatiza sua ligação ao habitat onde se inserem. Esta relação de
adjacência com o habitat envolvente, aliada a uma eficiência espartana na utilização
de recursos naturais, fornece às obras construídas com os eco-materiais vernaculares,
uma característica única, elas constroem-se colaborando com a terra.

Esta expressividade consubstancia uma das mais relevantes mudanças políticas e


filosóficas que o progressivo processo de consciencialização ambiental tem
implementado, ela concretiza o desejo de respeitar o planeta e construir em harmonia
e complementando o meio. Neste caso a eficiência expressiva dos eco-materiais
vernaculares também é reforçada por motivos culturais. A utilização de matérias
habitualmente associadas a um passado, que no nosso imaginário colectivo era tempo
de harmonia perdida, reforça na nossa percepção, a vontade de criar um futuro que
recupere essa harmonia perdida. Pelos motivos atrás expostos os eco-materiais
vernaculares constroem expressividades significantes, marcando a imagem das
construções que o utilizam de um modo fortíssimo.

Em terceiro lugar, em alguns dos eco-materiais reciclados, como na utilização para


construção de garrafas PET, reaproveitamento de contentores, ou na reutilização de
materiais reciclados de construção, como na utilização de madeiras antigas ou no
aproveitamento genérico de elementos reciclados de construção, podemos presenciar
duas classes de expressividades diferentes. A utilização de resíduos da sociedade de
consumo aproveitados como recursos para construir sem processamento industrial,

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105
descobrimos imaginativas soluções construtivas. Sendo que estas adquirem um
carácter totalmente novo, pois a sua utilização é recente a sua utilização
arquitectónica, e as soluções encontradas proporcionam a surpresa das coisas quase
novas. Digo quase novas pois desde meados do Sec XX numerosos artistas plásticos
já exploravam este tipo de expressividade.

Por outro lado a utilização de resíduos de construção, pavimentos, caixilharias,


alvenarias, etc., não sendo fenómeno recente, aporta à obra a complexidade da
passagem do tempo de alguns dos elementos nela utilizados, atingindo assim a obra,
uma complexidade acrescida que multiplica a expressividade com que obra dialoga
com o homem.

Em quarto lugar verificamos que expressividades fortíssimas são atingidas pelos


materiais de nova tecnologia. Em boa parte, essas expressividades, por mais
paradoxais que se possam apresentar, são atingidas porque esses materiais
mimetizam processos naturais. A adopção destes processos, quer seja ao nível da sua
estrutura, muitas vezes inspirada em elementos biológicos, quer pela adaptação com
que reagem às condicionantes atmosféricas, regulando a sua forma, cor ou estrutura
interna para proporcionarem níveis de conforto e segurança adequados aos seus
utilizadores é resultado de investigações, onde a tecnologia que é desenvolvida
reflecte um reconhecimento e valorização dos processos que a natureza nos oferece.

Com a utilização destes novos materiais, que devido à sua capacidade de adaptação
às necessidades, minimizam a utilização de recursos e de energia, atinge-se níveis de
expressividade singulares. Por um lado, e em simultâneo, eles afirmam a sua
sofisticação tecnológica, materializando o engenho do ser humano em resolver os
problemas e inovar, por outro lado, pela sua eficiência e respeito pelo ambiente, eles
afirmam a vontade de construir um futuro melhor.

Em quinto lugar, temos o caso singular dos materiais bio-construídos, que se


distinguem de toda a construção tradicional, pois a matéria construtiva não é
manufacturada, ela é cultivada, logo é ser vivo. A sua principal característica
expressiva reside na incorporação de elementos biológicos na artificialidade da
construção. Estes elementos quando cultivados, começam por constituir uma espécie
de jardins ou cultura de inegável artificialidade, mas pouco tempo depois da sua
cultura, estes espaços são rapidamente apropriados por numerosas espécies de
insectos, répteis, aves e pequenos mamíferos criando assim ecossistemas
autónomos, onde a vida floresce.

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106
Esta característica altera o paradigma da construção, pois por norma cada vez que
edificávamos, retirávamos espaço ao entorno natural ou agrícola. E essa alteração de
modelo, é per sí, uma expressão grandiloquente, profundamente revolucionária no
modo como encaramos o fenómeno arquitectónico, sendo uma das respostas mais
expressivas e significantes que o campo dos eco-materiais nos apresenta.

A variedade com que nos podemos expressar utilizando eco-materiais, criando


arquitecturas plenas de emoções e significados é quase ilimitada. A sua variedade
ultrapassa a multiplicidade dos materiais não ecológicos, muitos eco-materiais
ultrapassam igualmente as solicitações dos materiais não ecológicos. Mas a
derradeira diferença, encontra-se na capacidade dos eco-materiais nos possibilitarem
a esperança de continuar a construir sem exaurir recursos. Esta é, em última análise,
a grande expressividade dos eco-materiais. A sua utilização permite-nos projectar
obras complexas de expressividade que reflectem a formação humanista dos
arquitectos, pois no conceito do projecto e da obra, encontramos a vontade de
respeitar as gerações que virão.

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107
4.2- DA SUSTENTABILIDADE.

Contudo, e apesar destas múltiplas e variadas expressividades que a introdução de


eco-materiais no projecto de arquitectura proporciona, retemos um conceito, a
utilização de eco-materiais per sí não garante a sustentabilidade de uma edificação. A
sustentabilidade na construção é fenómeno mais complexo, ele depende de múltiplos
factores, que vão do desenho bioclimático, à eficiência no uso da água, produção
energia, aproveitamento de águas residuais, da sua localização, do uso do solo, da
inserção em redes de transporte, dos sistemas de aproveitamento de resíduos, da
envolvente social, toxidade das matérias da construção, acessibilidades, etc., etc.

A procura de uma arquitectura sustentável implica também que devamos acrescentar


novas e complexas funções à tríade Virtrúviana, pois para além Firmitas, Utilitas e
Venustas, o projecto sustentável deve produzir e economizar energia, ser eficiente na
utilização de recursos, salvaguardar o solo, ter a possibilidade de alojar várias
funções, constituir-se para regenerar o ambiente, quer do ponto de vista da
biodiversidade, quer do ponto de vista da regeneração social e económica, entre
outras e cada vez mais complexas solicitações.

Para atingir estes objectivos, o projecto deve incorporar novas metodologias, ele deve
medir e contabilizar todos os seus custos, utilizando análises do ciclo de vida, apostar
na utilização de produtos certificados quer na construção, quer na manutenção do
edificado, quer do seu desmembramento quando o seu ciclo de vida terminar. Isto
implica que o arquitecto, e as equipas pluridisciplinares que integram o projecto,
devem aferir, medir e comparar as diversas opções que tomam para atingirem as
soluções mais sustentáveis, pois de outro modo as intenções podem não passar disso
mesmo. Devem começar a preparar o futuro pois parte destas medidas começarão a
ser implementadas progressivamente por via legislativa.

Deve acima de tudo o arquitecto encarar estas questões como parte integrante da
razão de ser da sua profissão, pois será sempre essência da arquitectura resolver
problemas do habitar, logo na equação inicial do problema que qualquer projecto
constitui, a sustentabilidade é problema maior dos nossos tempos.

É igualmente problema ético da praxis da arquitectura, pois os nossos actos sempre


perduraram durante um espaço de tempo longo. Tal implica que as consequências dos
nossos erros e omissões, não se extinguem na obra. Erros e omissões que cada vez
mais implicam consequências que interferirão na vida dos que nos seguirão.

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Dadas as necessidades de construção a nível mundial, motivadas pelo exponencial
aumento populacional do planeta e consequente acréscimo das pressões urbanas, as
edificações que projectarmos irão em boa parte determinar o futuro do nosso planeta.
Uma postura como tem sido a de boa parte dos arquitectos, baseada num sistema
onde as afirmações de individualismo criativo sem preocupações de sustentabilidade
alicerçam os role models da profissão, constitui claramente um sintoma da doença que
urge combater. Urge combater, pois essa situação constitui um reflexo doentio de uma
sociedade de consumo imediato, onde a satisfação imediata se sobrepõem a
considerações de ordem mais substancial. Sociedade essa, que em ultima analise é a
responsável pela vertiginosa insustentabilidade em que vivemos.

No fundo as questões da sustentabilidade são de ordem política, económica e social,


mas tal não deve servir de desculpa para a inacção. As sociedades são um reflexo de
múltiplas e complexas partes, são igualmente fenómeno mutável, sendo que essa
mutação é originada gradualmente pelas acções individuais das suas partes. Se as
dificuldades causadas pela complexidade das situações fossem impeditivas de tomar
medidas e combater por elas, ainda viveríamos num mundo ditatorial. Mas a história
conta-nos que as grandes ideias, como a democracia, ou os direitos do homem,
contêm em si uma força que paulatinamente vai derrubando os obstáculos.

Conforme já abordámos, as tendências de mudança já se fazem sentir no nosso tecido


político, económico e social, sendo que agora se começam a anunciar lentamente na
esfera da produção arquitectónica. Esta lentidão na resposta dos arquitectos também
não é fenómeno novo, basta lembrarmo-nos que a resposta arquitectónica à revolução
industrial começou cerca de 150 anos após o inicio da mesma, e começou no seu
início muito a reboque de obras de engenharia. Lembremo-nos que enquanto os
arquitectos discutiam as virtudes dos neo-revivalismos, em 1851 o Eng. Joseph
Paxton desenhava o Palácio de Cristal, revolucionando o desenho da coisa
arquitectónica e lançando pistas para as arquitecturas que haveriam de vir.

Contudo, passadas poucas décadas, e num mundo que vivia o tempo de modo mais
vagaroso, a resposta da arquitectura foi fulgurante, modificando o mundo que
conhecíamos. Esta resposta alicerçada no irromper do movimento moderno, absorveu
as conquistas que as engenharias haviam desenvolvido, aglutinando-as numa reflexão
humanista que ultrapassou a mera conquista técnica.

Tal como nos finais do Sec XIX, hoje espera-se da arquitectura uma resposta
semelhante, que construa uma resposta humanista para este difícil desafio. Esta
resposta terá, como habitualmente, de se alicerçar, por um lado no desenvolvimento

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109
científico e tecnológico a que se assiste, e por outro lado complementando-o com o
seu desígnio criativo por excelência, sendo esse motivado pela necessidade de
conceptualizar a visão de um futuro melhor e mais feliz nos projectos que elaboramos.

Conforme vimos, hoje em dia as questões da sustentabilidade estão muito centradas


em áreas que habitualmente encontramos longínquas da esfera de preocupações da
maior parte dos arquitectos, sendo notórios esforços que as diversas áreas das
engenharias têm dedicado a esta problemática.

Por vezes, a complexidade da aferição da sustentabilidade, pode afigurar-se ao


arquitecto de formação tradicional como uma perda de poder no desenrolar do
processo criativo, pois a mensurabilidade das consequências é etapa complexa e que
muitas vezes foge ao domínio técnico do arquitecto. Convém argumentar perante tal
posição, que o mesmo tipo de argumentação foi proferido no passado em relação a
numerosos aspectos do projecto que hoje consideramos imprescindíveis na resposta
do mesmo, tais como as questões de segurança, acessibilidade, respeito e
preservação do património, entre outras solicitações.

Verificamos que a adopção, quer por via voluntária, quer por via legislativa, dessas
condicionantes de projecto, não interferirá na capacidade do fenómeno arquitectónico
nos continuar surpreender com obras inovadoras de elevada qualidade.

Sendo o acto do projecto, a nível conceptual, um modo de projectarmos o ideal de um


futuro melhor, para um Homem mais ditoso, as questões da sustentabilidade cumprem
e complementam esse desígnio ético do projecto. Questões essas, da
sustentabilidade, que traduzirão a continuação de uma nobre tradição da história da
arquitectura, a tradição de responder a habitats insatisfatórios, com respostas que
criem novas linguagens, desenvolvam novas complexidades e construam a sedutora
história da arquitectura.

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110
4.3- DOS LIMITES DA INVESTIGAÇÃO.

No decorrer desta dissertação, procurámos encontrar fontes directas para elaborar a


nossa investigação. Tal estratégia encontrou tanto de eficácia como dificuldades;
Passemos a explaná-las;

Em relação às questões da sustentabilidade encontrámos numerosa bibliografia, com


um fácil acesso a numerosos artigos, teses científicas e relatórios de organizações
multinacionais que se debruçam sobre a temática, pois trata-se de uma área onde a
premência da crise ambiental, climática e de recursos tem motivado numerosas
investigações. Neste campo o acesso à informação de relevância científica foi
bastante facilitado, devendo contudo ressalvar que face aos esforços científicos que
as questões da sustentabilidade motivam, deve este ser um campo onde a
actualização de conhecimentos deve ser permanente.

Relativamente às questões da aplicação e desenvolvimento de eco-materiais na


construção e na arquitectura, encontrámos igualmente numerosa investigação
publicada. Devemos ressalvar que a maioria destas publicações tratam a questão dos
eco-materiais de um ponto de vista meramente técnico, enunciando as suas
qualidades térmicas, económicas, ambientais, energéticas ou de poupança de CO2.

Quanto às estratégias de sustentabilidade no projecto, a produção científica é vasta e


está acessível. Mais uma vez recordamos que este é um campo de conhecimento em
desenvolvimento acelerado e como tal é fundamental uma actualização permanente
dos nossos conhecimentos.

Relativamente aos meios de pesquisa e informação acerca das obras, a internet


revelou-se de máxima utilidade. A existência de páginas dedicadas à arquitectura e à
sustentabilidade permite uma actualização diária da produção arquitectónica mundial.
Esta circunstância facilitou imenso esta investigação.

A parte mais complexa e de maior dificuldade nesta investigação foi a parte relativa às
questões da expressividade do fenómeno arquitectónico, pois a produção cientifica é
escassa, o que nos obrigou a construir o nosso discurso baseando-nos em poucas
fontes. Encontrámos que esta questão, profundamente relacionada com as questões
das linguagens arquitectónicas deveria merecer um maior aprofundamento, pois das
expressividades da coisa, nascem as emoções com que nos relacionamos em
primeira instância com o meio que nos circunda, quer seja ele o meio natural, ou o
edificado.

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111
4.4- DOS DESENVOLVIMENTOS FUTUROS.

A premência da sustentabilidade tem conduzido a muitas alterações no modo como


encaramos a nossa presença no planeta. Estas mudanças tem sido precedidas por
numerosos avanços técnicos, quer ao nível dos materiais, quer do desenho
bioclimático, quer ao nível das funções do edificado. Estes avanços contêm em si uma
enorme vontade de alterar a actual situação ambiental, propondo novos modos de
encarar o planeta, propondo modificar o nosso consumo de recursos, alterando
conceitos económicos, políticos e modelos de produção de modo a resolver este
importante desafio da humanidade.

No seu âmago a resposta a este desafio procura a reinvenção de um mundo melhor,


onde a humanidade possa prosperar de maneira mais harmoniosa. Esta vontade está
presente em todo o projecto de arquitectura, pois nesse acto, o acto de projectar, e
para além das soluções técnicas, o arquitecto conceptualiza essa vontade no seu
labor. Nos dias que correm, a sustentabilidade entra recorrentemente na génese dos
conceitos que nos guiam no projecto.

A vontade de construir um mundo sustentável começa a alterar o modo com que se


projecta, e tal, na nossa opinião, não resulta apenas na resolução de problemas
técnicos. As estratégias, métodos, técnicas e matérias que consubstanciam a
arquitectura sustentável, para além dos óbvios ganho ambientais, potenciam tanto a
sua riqueza expressiva como a complexidade do projecto arquitectónico. Ambas,
complexidade e riqueza expressiva, são reflexo dos desafios que se colocam à
humanidade e que o arquitecto tenta responder na medida da sua responsabilidade
social e ética.

Esta resposta está a ser dada de modo cada vez mais consistente, cada vez mais os
arquitectos desenvolvem o seu labor com essa intenção. E este fenómeno corre todos
os continentes, e atravessa arquitectos com as mais variadas formações. Nas obras
que seleccionámos para esta investigação podemos aferir isso mesmo.

No decorrer da investigação que realizámos durante a elaboração desta dissertação,


observámos pistas que nos levam a crer que a implementação de práticas
arquitectónicas sustentáveis, estão a desenvolver linguagens arquitectónicas
especificas e que esse poderá ser um campo de investigação a desenvolver.

Pelo que é nossa vontade desenvolver essa pesquisa em investigações futuras, no


sentido de documentar as profundas alterações que as questões da sustentabilidade
trazem aos conceitos e à linguagem da arquitectura.

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F I L I P E H U M B E R T O T O R R E S M E S Q U I T A B O R G E S D E M A C E D O

117
.

F I L I P E H U M B E R T O T O R R E S M E S Q U I T A B O R G E S D E M A C E D O

118
DECLARAÇÃO

A dissertação “ As qualidades expressivas do eco-materiais” foi escrita utilizando trinta


e duas mil e cinquenta e quatro palavras escritas em cento e catorze páginas

F I L I P E H U M B E R T O T O R R E S M E S Q U I T A B O R G E S D E M A C E D O

119
ANEXOS:

F I L I P E H U M B E R T O T O R R E S M E S Q U I T A B O R G E S D E M A C E D O

120
Nota
Neste anexo estão reunidas as 50 obras que reúnem as seguintes condições:
Utilizam eco-materiais.
Cumprem critérios latos de sustentabilidade.
Contém uma qualidade arquitectónica relevante.
No decurso desta investigação foram visionadas centenas de obras de produção
recente, construídas após 2000, sendo estas as obras que encontramos com maior
relevância, tal não impede que não possam existir outras obras com igual ou maior
relevância.

A-1
Ficha de Obra: 1
Autor: Obra: Localização: Ano:
Shigeru Ban & Frei Otto Pavilhão do Japão Hanover, Alemanha 2000
Expo 2000
Breve descrição:
Obra icónica de Shigeru Ban & Frei Otto para a Expo de Hanover, caracterizada pela sua cobertura,
misto de copula geodésica e de cobertura tênsil, representa apropriadamente a capacidade do
engenho humano em encontrar novas e surpreendentes soluções.
Fotografias:

Ficha de Obra: 2
Autor: Obra: Localização: Ano:
Nicholas Lacey & Partners Container city Londres, Reino Unido 2001
Breve descrição:
Primeiro dos projectos da Container city, construídos reciclando contentores marítimos, propõem
soluções rápidas e económicas de habitação, escritórios e turismo. (05 das matérias utilizadas são de
origem sustentável e a eficiência energética é admirável.
Fotografias:

A-2
Fic
cha de Obrra: 3
Auttor: Obra: Localiza
ação: Ano:
Gulia
ani Mauri Tree Ca
athedral Bergamo, Itália 2001-?
?

Bre
eve descriç
ção:
Cateedral bio consstruída, peça de
d Land Art, onde
o o paradigma da consttrução é inverrtido, fazer cre
escer
coisa
a viva e mutávvel como méto odo construtivvo.
Fotografias:

Fic
cha de Obrra: 4
Auttor: Obra: Localiza
ação: Ano:
24h--Architecture Dragspe
elhuset Lago Ovre
e Gla, Suécia 2001

Bre
eve descriç
ção:
Interrpretação radical do desen
nho biomiméttico, uma cab
bana integralm
mente constru
uída em mateeriais
suste entáveis, inspirada no de
esenho de casulo.
c Tem a particularid
dade de serr uma constrrução
expaansível, no invverno assume
e o seu taman
nho menor, no
o verão, sem necessidadess de aquecim
mento,
cresce sobre um ribeiro
r
Fotografias:

A-3
Ficha de Obra: 5
Autor: Obra: Localização: Ano:
Kenso Kuma Plastic House Meguro-ku, Tokyo , Japão 2002

Breve descrição:
Moradia construída com utilização intensiva de plásticos reciclados, das caixilharias, passando por
revestimentos de fachadas, até ao ensombramento.
Fotografias:

Ficha de Obra: 6
Autor: Obra: Localização: Ano:
Kenso Kuma Great bamboo Wall Bejing, China 2002

Breve descrição:
Moradia para hóspedes do corpo diplomático, construída com bambu de floresta sustentável, estrutura
parcial em aço reciclado (perfis soldados) e com utilização intensa de materiais locais.
Fotografias:

A-4
Ficha de Obra: 7
Autor: Obra: Localização: Ano:
Atelier kempe Thil Pavilhão da Holanda Rostock, Alemanha 2003

Breve descrição:
Pavilhão da Holanda na International Garden Exhibition IGA 2003 explora a integração de elementos
vegetais no projecto arquitectónico.
Fotografias:

Ficha de Obra: 8
Autor: Obra: Localização: Ano:
Lassila Hirvilammi Igreja Kärsmäki, Finlândia 2004
Breve descrição:
Igreja edificada no mesmo local onde em 1841 tinha existido o local de culto da comunidade, tendo
sido construída utilizando técnicas construtivas do Sec. XIX na Finlândia. É notável a expressividade
que as diferentes técnicas utilizadas dão á madeira.
Fotografias:

A-5
Ficha de Obra: 09
Autor: Obra: Localização: Ano:
Donovan Hill, Architects F2 House Fingal, Austrália 2006

Breve descrição:
Moradia multifamiliar com forro exterior e caixilharias em madeira de floresta sustentável, estrutura
parcial em madeira de floresta sustentável e reutilização de materiais locais.
Fotografias:

Ficha de Obra: 10
Autor: Obra: Localização: Ano:
Kieran Timberlake Loblolly House Chesapeake Bay, 2006
Maryland, EUA
Breve descrição:
Casa de férias, com fundação em madeira de pinho, estrutura superior em alumínio reciclado, madeira
de floresta sustentável, casa auto-suficiente energeticamente, uma das obras paradigmáticas da
arquitectura sustentável nos E.U.A.
Fotografias:

A-6
Ficha de Obra: 11
Autor: Obra: Localização: Ano:
Anna Heringer Meti School Rodrapur, Bangladesh 2006

Breve descrição:
Parede em taipa, estrutura em bambu, tecidos e tapeçaria local, tintas artesanais, A escola foi
construída pela população local., premio de arquitectura Fundação Aga Khan 2007
Fotografias:

Ficha de Obra: 12
Autor: Obra: Localização: Ano:
Shigeru Ban Papertainer Seoul, Korea do Sul 2006
Museum

Breve descrição:
Nesta obra, como é característico no trabalho de Shigeru Ban, a edificação é sustentável pois é esse o
desígnio do arquitecto, Tubos de papel e contentores constroem, a genialidade do autor, faz o resto.
Fotografias:

A-7
Ficha de Obra: 13
Autor: Obra: Localização: Ano:
HBBH Architects Centro Cultural do Osoyoos, Canada 2006
Deserto Mk’Mip.
Breve descrição:
Este centro cultural do deserto Mk’Mip procura preservar a herança dos povos nativos, A utilização
extensiva de muros em taipa, confere uma enorme capacidade de integração, quer na paisagem, quer
pelo respeito pelas tradições que pretende preservar.
Fotografias:

Ficha de Obra: 14
Autor: Obra: Localização: Ano:
2012 Architechten The Recyclops Amsterdam, Utrecht, 2007
Vlaardinger, Holanda

Breve descrição:
Reaproveitamento de cubas de cozinha provenientes de demolição para instalações temporárias de
arte pública, depósito de aproveitamento de águas pluviais e apoios em parque público.
Fotografias:

A-8
Ficha de Obra: 15
Autor: Obra: Localização: Ano:
IwamotoScott Architecture Voussoir Cloud Los Angeles, EUA 2008

Breve descrição:
Estrutura portante em madeira laminada ultra leve, de origem certificada, explora as potencialidades de
uma construção leve, tecnologicamente avançada.
Fotografias:

Ficha de Obra: 16
Autor: Obra: Localização: Ano:
E.B. Min, J. L.Day Architects Lake Okoboji House Lake Okoboji, Iowa,, EUA 2008

Breve descrição:
Moradia unifamiliar utilizando de madeiras em forros (OSB) e pavimento de floresta sustentável,
estrutura em betão com incorporação de 30 % de cinzas de centrais térmicas de carvão.
Fotografias:

A-9
Ficha de Obra: 17
Autor: Obra: Localização: Ano:
Peter Rich Mapungubwe Mapungubwe, 2008
Interpretation Centre Africa do Sul
Breve descrição:
Totalmente construído com materiais sustentáveis, taipa, adobe e madeira
Holcim Award for Sustainable Construction
Prémio World Building of the Year 2009. Durante o World Architectural Festival de Barcelona
Fotografias:

Ficha de Obra: 18
Autor: Obra: Localização: Ano:
Peter Rich Mapungubwe visitors Mapungubwe, 2008
Centre Africa do Sul
Breve descrição:
Totalmente construído com materiais sustentáveis e técnicas tradicionais, taipa e madeira

Fotografias:

A-10
Ficha de Obra: 19
Autor: Obra: Localização: Ano:
Architects C-Laboratory Chen House Sanjhih, Taiwan 2008

Breve descrição:
Casa de apoio para trabalhadores agrícolas, construída em madeira sustentável.

Fotografias:

Ficha de Obra: 20
Autor: Obra: Localização: Ano:
Sou Fujimoto Abrigo de montanha Kamunamoto, Japão 2008
Breve descrição:
Abrigo de apoio para caminhantes, construído em madeira de proveniência certificada.

Fotografias:

A-11
Ficha de Obra: 21
Autor: Obra: Localização: Ano:
Pacific Environment Architects Yellow Tree House Workworth, 2008
Restaurante Nova Zelândia
Breve descrição:
Restaurante de inspiração biomimética, construído numa sequóia secular, utiliza madeira laminada em
toda a sua construção.
Fotografias:

Ficha de Obra: 22
Autor: Obra: Localização: Ano:
Plano B Casa Arruda dos Arruda dos Vinhos 2008
vinhos Portugal
Breve descrição:
Casa unifamiliar integralmente construída estrutura de madeira, paredes exterior em taipa, com
isolamento de cortiça, paredes interiores em tabique, rebocos de cal aérea, aproveitamento de
resíduos de construção, Apesar do recurso a tecnologias tradicionais, a linguagem é claramente
contemporânea.
Fotografias:

A-12
Ficha de Obra: 23
Autor: Obra: Localização: Ano:
Guilhem Eustache Casa em Marakesh Marrakesh, Marrocos 2008
Breve descrição:
Casa unifamiliar integralmente construída em taipa, com isolamento de cortiça, paredes interiores em
tabique, rebocos de cal aérea, tijoleiras artesanais, Mais uma vez o recurso a tecnologias tradicionais
permite linguagens contemporâneas.
Fotografias:

Ficha de Obra: 24
Autor: Obra: Localização: Ano:
Boltshauser Architekten Rauch House Schlins,Austria, 2008

Breve descrição:
Casa construída em taipa aparente, quer no exterior, quer no interior, procurando explorar toda a sua
expressividade, obra notável pela atmosfera criada.
Fotografias:

A-13
Ficha de Obra: 25
Autor: Obra: Localização: Ano:
R&S(ien) I’m lost in Paris Paris, França 2008

Breve descrição:
Reformulação de laboratório num saguão de Paris, O colectivo R&S(ien) devolve a natureza a esse
ícone do nosso desenvolvimento civilizacional, o laboratório.
Fotografias:

Ficha de Obra: 26
Autor: Obra: Localização: Ano:
Skene Catling, de La Peña, The Dairy House Somerset, Reino Unido 2009
Architects
Breve descrição:
Acrescento a casa existente, utilizando madeira de floresta sustentável não tratada e reaproveitamento
de resíduos de construção.
Fotografias:

A-14
Ficha de Obra: 27
Autor: Obra: Localização: Ano:
Make Architecs Casa Gary Neville Bolton, Reino Unido 2009

Breve descrição:
Baseado em estruturas megalíticas da vizinhança, este projecto constrói uma casa enterrada, onde
para além dos materiais locais e da eficiência energética, se constroem espaço qualificados
homenageando o património local.
Fotografias:

Ficha de Obra: 28
Autor: Obra: Localização: Ano:
Passivhaus Bessancourt, França 2009
KARAWITZ , Architects

Breve descrição:
Moradia unifamiliar em madeira de floresta sustentável, Bambu floresta sustentável para
ensombramento exterior, estrutura em madeira laminada, casa com saldo energético positivo.
Fotografias:

A-15
Ficha de Obra: 29
Autor: Obra: Localização: Ano:
TAMassociati, achitecture Centro médico Soba, Khartoum, Sudão 2009

Breve descrição:
Centro médico de apoio a refugiados, construído com contentores marítimos e materiais locais.

Fotografias:

Ficha de Obra: 30
Autor: Obra: Localização: Ano:
Coo Planing Hamadera House Sakai, Japão 2010

Breve descrição:
Casa unifamiliar integralmente construída com contraplacado de madeira, incluído estrutura,
revestimentos exteriores e interiores, pavimentos e mobiliário
Fotografias:

A-16
Ficha de Obra: 31
Autor: Obra: Localização: Ano:
Daniel Moreno, Arquitecto Atelier Quito, Equador 2009

Breve descrição:
Recuperação económica de espaço utilizando resíduos de demolições, tais como varões de aço, e
madeira usada.
Fotografias:

Ficha de Obra: 32
Autor: Obra: Localização: Ano:
James & Mau for Infiniski Casa Manifesto Curacavi, Chile 2009
Breve descrição:
Casa unifamiliar notável, integralmente construída com contentores, paletes usadas e outros elementos
reciclados, edificada em 90 dias, é prova que economia de construção, sustentabilidade e qualidade
arquitectónica são possíveis e desejáveis.
Fotografias:

A-17
Ficha de Obra: 33
Autor: Obra: Localização: Ano:
Murman Arktitekter Restaurant Tusen Ramundberget , Suécia 2009

Breve descrição:
Construído com troncos da floresta circundante, adopta a forma de um cone seccionado,.
Fotografias:

Ficha de Obra: 34
Autor: Obra: Localização: Ano:
Woha Architects Alila Villas Uluwatu Bali, Indonésia 2009

Breve descrição:
Resort com forro exterior e caixilharias em madeira de floresta sustentável, estrutura parcial em
madeira de floresta sustentável, reutilização de materiais locais.
Fotografias:

A-18
Ficha de Obra: 35
Autor: Obra: Localização: Ano:
Riccardo Giovaneti Plasticamente Varias 2009
Paviion
Breve descrição:
Estrutura portátil para promoção de filme da Disney, totalmente realizada com elementos de plástico
reciclado.
Fotografias:

Ficha de Obra: 36
Autor: Obra: Localização: Ano:
Pieta-Linda Auttila Wisa Hotel Helsínquia, Finlândia 2009
Breve descrição:
Projecto de Design Hotel integralmente construído em madeira, explorando a tradição Escandinávia da
madeira laminada. Trabalho de grande virtuosismo, que tira partido de um modo surpreendente da
possibilidades construtivas madeira laminada.
Fotografias:

A-19
Ficha de Obra: 37
Autor: Obra: Localização: Ano:
Ateliereen Arcgitecten Viewing Tower Reusel, Holanda 2009

Breve descrição:
Torre de apoio a zona de lazer numa floresta pública, realizada em estrutura de aço, e toros de
madeira de floresta sustentável, serve igualmente como torre de escalada.
Fotografias:

Ficha de Obra: 38
Autor: Obra: Localização: Ano:
Bouman Architects Expansão de centro Delft, Holanda 2009
de dia.
Breve descrição:
Ampliação de centro de dia para idosos, sendo que a ampliação reinventou a utilização do colmo.
Nesta obra ele é empregue como revestimento de paredes, isolando termicamente a ampliação e
tirando partido expressivo da sua singular textura.
Fotografias:

A-20
Ficha de Obra: 39
Autor: Obra: Localização: Ano:
Shigeru Ban Pavilhão Artek Milão, Itália 2009

Breve descrição:
Mais possibilidades expressivas para construir em papel, desta feita sem tubos, apenas com papel e
cartão, Shigeru Ban continuam a explorar os limites da leveza.
Fotografias:

Ficha de Obra: 40
Autor: Obra: Localização: Ano:
Beton Architekt Capela em Tarnow Tarnow, Polónia 2009
Breve descrição:
Neste caso um conhecido escritor polaco decidiu financiar uma capela na sua propriedade, construída
com madeira local e executada pela população. Pelo exterior a madeira não é tratada, apresentando
deste modo um expressivo cinzento.
Fotografias:

A-21
Ficha de Obra: 41
Autor: Obra: Localização: Ano:
Kutsuhiro Miyamoto Gather House Tokio, Japão 2009

Breve descrição:
Reabilitação de casa em madeira, mantendo-se os principais elementos construtivo, a casa foi
reformulada requalificando as fachadas e os interiores utilizando o bambo como elemento principal.
O Arq. procurou explorar os ritmos do bambo e das tensões que provoca na fachada
Fotografias:

Ficha de Obra: 42
Autor: Obra: Localização: Ano:
Gary Chang Apartamento Hong Kong, China 2009
Com 24 divisões
Breve descrição:
Num apartamento de 40m2 e através de um engenhoso sistema de paredes moveis, e moveis
reclináveis, o proprietário consegue todas as comodidades da vida moderna, sem consumir espaço e
recursos.
Fotografias:

A-22
Ficha de Obra: 43
Autor: Obra: Localização: Ano:
Mark Merer Welham Studios Welham, Reino Unido 2009

Breve descrição:
Neste projecto Mark Merer, procura uma simbiose entre o prado que circunda a propriedade e a
construção, para o efeito utiliza uma cobertura verde que asseguram essa continuidade, a utilização de
madeira no revestimento, reforça essa vontade de integração.
Fotografias:

Ficha de Obra: 44
Autor: Obra: Localização: Ano:
Miralles Tagliabue Pavilhão da Espanha Shangai, China 2010

Breve descrição:
Pavilhão da Holanda na Expo 2010, exploração expressiva dos ritmos do trabalho em vime.
Fotografias:

A-23
Ficha de Obra: 45
Autor: Obra: Localização: Ano:
Aires Mateus Casas da Areia Comporta, Portugal 2010

Breve descrição:
Casas de exploração turística em zona protegida, construídas socorrendo-se de técnicas e materiais
tradicionais, A utilização da areia como pavimento das zonas de estar conferem-lhe uma atmosfera
única. A utilização da cana como elemento de construção reforça-lhes a integração com a paisagem.
Fotografias:

Ficha de Obra: 46
Autor: Obra: Localização: Ano:
José Maria Chofre Qualificação de San Vicente del Raspeig , 2010
empena Espanha
Breve descrição:
Uma empenha desolada e inóspita é transformada numa parede com vida. Este tipo de intervenções
devolve a natureza à urbe.
Fotografias:

A-24
Ficha de Obra: 47
Autor: Obra: Localização: Ano:
Ensemble Studio The Trufle Costa da Morte, Galiza 2010
Anton Garcia- Abril Abrigo de montanha Espanha
Breve descrição:
Abrigo inspirado no Cabanon de Le Coubusier, ao nível do seu programa, desta feita explorando as
qualidades expressivas do betão, com adição de 30% cinzas de centrais térmicas, na sua cofragem
foram utilizados fardos de palha que depois serviram de alimento a um vitelo durante um ano.
Fotografias:

Ficha de Obra: 48
Autor: Obra: Localização: Ano:
Rintala Eggertsson Architects Victoria & Abert Londres, Reino Unido 2010
Museum
Breve descrição:
Sobre o tema, arquitectos desenham pequenos espaços, surge uma biblioteca numa escadaria,
brilhantemente integrada no Museu, totalmente construída com madeira sustentável.
Fotografias:

A-25
Ficha de Obra: 49
Autor: Obra: Localização: Ano:
Heatherwick Studio Aberystwyth Creative Aberystwyth , 2010
Units Reino Unido
Breve descrição:
Conjunto de ateliers para industrias criativas, construído em estrutura de madeira, isolamentos térmico
sem CFC, revestido com uma finíssima capa em aço inox enrugado. Este revestimento fora do vulgar
procura reflectir a floresta circundante, criando um expressivo efeito visual.
Fotografias:

Ficha de Obra: 50
Autor: Obra: Localização: Ano:
BCHO Architects Hearth House Seoul, Korea 2010

Breve descrição:
Obra de atmosfera serena, construída com muro de contenção em betão, restantes paredes em taipa,
utilizando madeiras recicladas.
Fotografias:

A-26

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