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Privado Clientes – Associação de Defesa dos Clientes

do BPP

Exmo. Senhor Primeiro-Ministro

Engº José Sócrates

S. Bento – Lisboa

Lisboa, 22 de Junho de 2009

Exmo. Senhor Primeiro-Ministro,

A Privado Clientes é uma Associação legalmente constituída, contribuinte número


508 899 311, que tem como objectivo a defesa dos interesses dos clientes de
Retorno Absoluto do BPP.

É de longe a Associação mais representativa deste segmento de clientes, contando


actualmente com 512 clientes inscritos.

Como o Governo sabe, os clientes do BPP dividem-se essencialmente em três


grandes grupos: os clientes que investiram em produtos de Private Equity,
basicamente constituídos por veículos de acções; os clientes das estratégias de
Retorno Relativo, constituídas por gestão de carteiras, em que o BPP geria activos
variados por conta dos clientes e por fim os de Retorno Absoluto, clientes que
nunca quiseram tomar riscos inerentes aos investimentos no mercado de capitais e
por isso centraram as aplicações das suas poupanças em produtos de capital e
juros garantidos, com prazos de reembolso fixos e curtos, normalmente seis meses
ou um ano.

Relativamente aos clientes de Private Equity e aos de Retorno Relativo ninguém


tem aparecido a pedir qualquer tipo de intervenção do Estado. Diferente é a
situação dos clientes de Retorno Absoluto.

Toda a gente no mercado sabe, o Governo e as entidades de supervisão sabem,


têm de saber, que este tipo de produtos que o BPP chamou de Retorno Absoluto
existe em todos os bancos em Portugal, com pequenas nuances de um banco para
outro.

O BPP anunciou durante anos seguidos na comunicação social os produtos


de Retorno Absoluto. A revista “Única” do jornal “Expresso” publicou
durante anos todas as semanas uma página dupla de publicidade a estes
produtos. A forma dessa publicidade normalmente contava com um texto
assinado por personalidades da sociedade portuguesa, como aconteceu
com o Deputado Manuel Alegre.

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Sendo o BPP um banco legalmente constituído em Portugal, sujeito à supervisão do


Banco de Portugal e da CMVM, com uma multinacional como auditores, a Delloite,
com publicidade dos produtos de Retorno Absoluto todas as semanas no jornal líder
em Portugal, é normal que os clientes de baixo risco confiassem em tal entidade
para rentabilizarem as suas poupanças.

De um momento para o outro, em Novembro de 2008, todas estas verdades deixam


de existir e os clientes de Retorno Absoluto, muitos deles haviam aplicado as
poupanças de uma vida, são confrontados com a intervenção do Estado, através do
Banco de Portugal no BPP e com o congelamento das suas poupanças, situação que
já se arrasta há mais de sete meses.

Nestes sete meses, os clientes de Retorno Absoluto têm sido vítimas de todas as
injustiças possíveis:

1) Foram discriminados pelo Governo relativamente aos clientes do BPN. Os


produtos de Retorno Absoluto também existiam no BPN e foram convertidos
em depósitos, os quais foram garantidos pela nacionalização do Banco, paga
com o dinheiro dos contribuintes. Os clientes do BPN com produtos iguais
aos do BPP foram protegidos e os do BPP foram abandonados;

2) Os clientes do BPP têm as poupanças congeladas há mais de sete meses e


não sabem quando nem como poderão reaver o seu dinheiro. As carteiras
dos clientes estão a pagar os custos de funcionamento do BPP, administrado
pelo Estado desde final de Novembro de 2008. Até ao momento o Estado
não apresentou contas nem deu conhecimento justificado para uma tal
intervenção tão longa. Para fazer um Fundo ou uma Sociedade de
Titularização de Créditos e abandonar os clientes à sua sorte, já poderia ter
sido concretizado há cinco ou seis meses. Nos extractos de Maio de 2009, os
clientes de Retorno Absoluto do BPP têm menos valor do que tinham quando
o Banco de Portugal nomeou uma administração, apesar da valorização
entretanto ocorrida nos mercados financeiros. Ou seja, o Estado está gerir
um Banco que não tem negócio e limita-se a gastar o dinheiro dos clientes.

3) Não bastou o Governo abandonar os clientes à sua sorte; Não basta o BPP
estar a funcionar sob administração do Estado há sete meses gastando o
dinheiro dos clientes; Agora o BPP, administrado pelo Estado, prepara-se
para praticar um acto de roubo aos clientes ao colocar nas carteiras,
extractos de Maio, centenas de milhões de dívida contraída pelo BPP junto
de bancos internacionais, nomeadamente junto do Citibank e do Fortis. Tal
dívida foi contraída pelo BPP para obter liquidez nas carteiras e pagar os
resgates dos clientes que iam saindo. É uma dívida que não pertence aos
clientes nem eles tiveram qualquer conhecimento da sua existência até esta
altura.

4) Seria irónico se não fosse trágico para os clientes de Retorno Absoluto do


BPP: Fizeram uma aplicação das suas poupanças em produtos garantidos,
num banco legal e supervisionado pelo Estado, com publicidade semanal na
imprensa de referência e agora vêem as poupanças congeladas a partir de
Novembro de 2008, delapidadas a seguir para sustentar uma estrutura que

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não serve os clientes e agora o Estado através da Administração que


nomeou para o Banco prepara-se para colocar às costas dos clientes um
fardo de mais de 200 milhões de euros de dívidas contraídas pelo BPP, a que
os clientes são totalmente alheios.

5) Se a supervisão do Estado tivesse funcionado, os 1200 milhões de euros dos


clientes de Retorno Absoluto teriam sido devidamente contabilizados e
evidenciados no balanço do BPP. Se tal tivesse sido feito, imediatamente
todo o mercado veria que os capitais do BPP seriam insuficientes para
suportar as responsabilidades que o Banco estava a assumir para com os
clientes. Ou seja, se o Estado tivesse desempenhado cabalmente a sua
função de regulador e fiscal, o Retorno Absoluto do BPP não teria sequer
existido. No mínimo não teria existido com esta dimensão.

Senhor Primeiro-Ministro,

Até ao momento o Governo sempre recusou dialogar com os clientes de


Retorno Absoluto do BPP. O Senhor Ministro das Finanças só recebeu um
pequeno grupo de clientes que ocupou a sede do BPP em Lisboa mas nunca
dialogou com as Associações representativas dos clientes, onde claramente
se destaca a Privado Clientes.

A nossa associação sempre esteve disponível para estabelecer com o


Governo um canal de negociações para encontrar soluções, as mais
favoráveis possíveis, para acabar de vez com o conjunto de injustiças que
têm penalizado os clientes de Retorno Absoluto do BPP.

A Privado Clientes não irá ocupar a sede do banco para ser recebida pelo
senhor Ministro das Finanças.

No entanto, se o Governo persistir em não actuar no sentido de acautelar os


legítimos direitos dos clientes de Retorno Absoluto do BPP, então a Privado
Clientes terá de fazer uma campanha de comunicação para explicar aos
portugueses a discriminação de que somos vítimas e explicar que a posição
do Governo significa um sinal no sentido de os portugueses não confiarem
as suas poupanças nos pequenos bancos porque, não tendo dimensão para
provocar risco sistémico, o Governo entende que os clientes dos pequenos
bancos devem ser abandonados à sua sorte.

A Privado Clientes, perante o quadro atrás descrito, vem junto de V.Exa.


solicitar que o Governo abra uma via de negociação, recebendo a Privado
Clientes para, num ambiente de diálogo, evitar uma intolerável penalização
das famílias dos clientes de Retorno Absoluto, muitas delas a viver em
situação muito difícil devido ao congelamento das suas poupanças.

Na expectativa de que o Senhor Primeiro-Ministro atenda este apelo e


ficando a aguardar a marcação de uma reunião para analisar toda a
situação, apresento os melhores cumprimentos

O Porta-voz da Privado Clientes

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Jaime Antunes

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