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Escola Judiciária Eleitoral – TRE/PI

Curso: Linguagem Jurídica e redação


Prof. João Benvindo de Moura

Flexão nominal e verbal


(conteúdo para o dia 30.05.07)

Flexão do substantivo

O substantivo é a palavra variável que pode ser flexionada em gênero, número e grau.

Flexão de gênero

Todo substantivo, incluindo aqueles que designam objetos, pertence ou ao gênero masculino
ou ao feminino. Essa é uma classificação puramente gramatical, que não tem, necessariamente, relação
com o sexo.

o lápis o caderno a borracha


a caneta a vítima

Dependendo da forma que assumem, os substantivos podem ser classificados em biformes ou


uniformes.

Substantivos biformes

São aqueles que apresentam uma forma para o masculino e outra para o feminino:
Masculino feminino masculino feminino
aluno aluna bode cabra
menino menina carneiro ovelha

Substantivos uniformes

São os que apresentam uma única forma, tanto para masculino como para o feminino. Subdividem-
se em:
• Epicenos – são os substantivos uniformes que designam alguns animais: onça, jacaré, tigre,
borboleta, foca.
Caso se queira especificar o sexo do animal devem-se acrescentar as palavras macho ou fêmea.
a onça macho, a onça fêmea
(o substantivo onça será sempre feminino)
o jacaré macho, o jacaré fêmea
(o substantivo jacaré será sempre masculino)

• Comuns de dois gêneros – são os substantivos uniformes que designam pessoas. Neste caso,
a diferenciação de gênero é feita pelo artigo ou outro determinante qualquer: o artista, a artista;
o estudante, a estudante; jornalista recém-formado, jornalista recém-formada.

• Sobrecomums – são substantivos uniformes que designam pessoas. Neste caso, o gênero é
fixo (sempre masculino ou sempre feminino) e os artigos e outros determinantes permanecem
invariáveis: a criança, o cônjuge, a pessoa, a criatura.

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Mudança de sentido com mudança de gênero

Há substantivos idênticos na forma, porem de gêneros diferentes e significados diferentes. Veja


alguns exemplos:

substantivo masculino significado


o cabeça o chefe, o líder
o capital o dinheiro, os bens
o rádio aparelho receptor
o lotação veículo

substantivo feminino significado


a cabeça parte do corpo
a capital cidade principal
a rádio estação transmissora
a lotação capacidade

É importante observar que, muitas vezes, não ocorre a flexão de gênero. Os substantivos o
grama/ a grama, por exemplo, embora sejam idênticos na forma, são duas palavras de origens
diferentes, duas palavras distintas.

Flexão de número

Quanto ao número, o substantivo pode ser singular ou plural.

Singular aluno, relógio, mãe


Plural alunos, relógios, mães

Há, no entanto, alguns substantivos que só aparecem no plural, como: os afazeres, as fezes, os
parabéns, as núpcias, os pêsames, os óculos, as férias, os víveres.

Plural dos substantivos compostos

Não é fácil sistematizar o plural dos substantivos compostos, uma vez que ocorre muitas
oscilações, mesmo no padrão culto da língua. Cumpre, no entanto, observar as seguintes regras:
1. Os substantivos compostos ligados sem hífen formam o plural como se fossem substantivos
simples.
aguardente aguardentes
passatempo passatempos
vaivém vaivens

2. Nos compostos formados de palavras repetidas (ou muito semelha nte), só o segundo elemento
varia.
teco-teco teco-tecos
reco-reco reco-recos
pingue-pongue pingue-pongues

3. Nos compostos cujos elementos venham unidos por preposição, só o primeiro elemento varia.
pão-de-ló Pães-de-ló
mula-sem-cabeça mulas-sem-cabeça

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4. Nos compostos formados por dois substantivos, se o segundo elemento limita ou determina o
primeiro, indicando tipo ou finalidade, a variação ocorre somente no primeiro elemento.
banana-maçã bananas-maçã
salário-familia salários-família
peixe-espada peixes-espada
caneta-tinteiro canetas-tinteiro
manga-rosa mangas-rosa

Flexão de grau

Além do grau normal, o substantivo pode apresentar-se no grau aumentativo e no grau


diminutivo.
A indicação do grau do substantivo pode ser feita de duas maneiras:

• Analiticamente – determina-se o substantivo por um adjetivo que indica aumento ou


diminuição.
Menino grande (aumentativo analítico)
Menino pequeno (diminutivo analítico)

• Sinteticamente – anexam-se ao substantivo sufixos indicadores de grau.


Meninão (aumentativo sintético)
Menininho (diminutivo sintético)

É importante ressaltar que alguns substantivos, originalmente aumentativos ou diminutivos, não


mais dão idéia de aumento ou diminuição. São, por isso mesmo, chamados de aumentativos e
diminutivos formais. É o que ocorre em palavras como: cigarrilha, folhinha (calendário), cartão,
portão, caldeirão.

Há casos, também, em que os sufixos aumentativos e diminutivos são utilizados com valor
afetivo (paizinho, amorzinho) ou pejorativo (livreco, gentinha).

Flexões do verbo

Flexão de pessoa
O verbo flexiona-se em pessoa concordando com o seu sujeito. São três as pessoas do verbo:
• Primeira pessoa – a que fala:
Eu aprecio a natureza.
Nós apreciamos a natureza.
• Segunda pessoa – com quem se fala:
Tu aprecias a vida.
Vós apreciastes a vida.
• Terceira pessoa – de quem ou do que se fala:
Ele aprecia a vida.
Elas apreciam a vida.
A vida é bela.
As horas de amor são encantadoras.

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Flexão de número
O verbo pode se apresentar no singular ou no plural, concordando com o sujeito da oração.

Joaquim aprecia a vida. (Sujeito e verbo no singular)

Joaquim e Pedro apreciam a vida. (Sujeito e verbo no plural)

Como se pode observar, o verbo sempre concorda em pessoa e número com o sujeito da oração.
Isso ocorre mesmo quando o sujeito, representado pelos pronomes pessoais retos, estiver implícito.
Ressuscitaremos a qualquer custo. (sujeito implícito: nós, primeira pessoa do plural)
“Estou com ome. Já comi o f.” (sujeito implícito: eu, primeira pessoa do singular)

Nesses exemplos, os verbos ressuscitar, estar e comer flexionam-se em pessoa e número,


concordando com os sujeitos que estão implícitos.

Flexão de tempo

Sabemos que o verbo indica um processo localizado no tempo. Podemos distinguir três situações
básicas: presente, pretérito e futuro.
• Se o processo ocorre no momento da fala, temos o tempo presente.
Aprecio a natureza.
• Se o processo já ocorreu, temos o tempo pretérito.
Apreciava a natureza.
• Se o processo ainda vai ocorrer, temos o tempo futuro.
Apreciarei a natureza.

Flexão de modo

Entende-se por modo a atitude que o falante assume em relação ao processo verbal (de certeza,
de dúvida, de ordem, etc.). São três os modos verbais: indicativo, subjuntivo e imperativo.

• Modo indicativo – apresenta o fato como certo, preciso, seja ele pretérito, presente ou futuro.
Respeitamos a natureza.
Respeitávamos a natureza.
Respeitaremos a natureza.

• Modo subjuntivo – apresenta o fato como incerto, duvidoso.


Se respeitássemos a natureza, o mundo ficaria melhor.
Se respeitarmos a natureza, o mundo ficará melhor.

• Modo imperativo – exprime uma ordem, um pedido ou um conselho.


Respeite a natureza.
Passe-me o açúcar, por favor.
Evite tomar sol depois das 10 horas da manhã.

Flexão de voz

A flexão de voz indica a relação estabelecida entre o verbo e o seu sujeito. Conforme o tipo dessa
relação, o verbo pode apresentar-se na voz ativa, na passiva ou na reflexiva.

• Voz ativa – quando o sujeito é o agente, isto é, aquele que executa a ação expressa pelo verbo:

O gorila comeu a banana.


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O conceito de voz ativa é um conceito gramatical. Na oração “O menino levou uma surra”,
gramaticalmente temos o verbo na voz ativa, embora o sujeito (o menino) tenha sofrido a ação.

• Voz passiva: quando o sujeito é o paciente, ou seja, o receptor da ação expressa pelo verbo. Há
dois tipos de voz passiva:
- Voz passiva analítica – formada por verbo auxiliar conjugado mais particípio do verbo
principal.

sujeito
A banana foi comida pelo gorila.

verbo auxiliar verbo principal

- voz passiva sintética (ou pronominal) – formada por verbo na terceira pessoa mais a
partícula apassivadora se.
sujeito
Comeu-se a banana.

• Voz reflexiva: quando o sujeito é ao mesmo tempo agente e paciente, ou seja, executor e
receptor da ação expressa pelo verbo. A voz reflexiva apresenta sempre a seguinte construção:
sujeito + verbo na voz ativa + pronome oblíquo reflexivo.

sujeito
O gorila cortou-se

Verbo na voz ativa pronome reflexivo

Fonte:
FIORIN, José Luiz & PLATÃO F. Lições de texto: leitura e redação. 4a ed. São Paulo: Ática, 2003.
MESQUITA, Roberto Melo. Gramática da língua portuguesa. 8a ed. São Paulo: Saraiva, 2001.
NICOLA, José de & TERRA, Ernani. 1001 dúvidas de português. 11 a ed. São Paulo: Saraiva, 2000.
__________ . Gramática, literatura e produção de textos. São Paulo. Scipione, 2003.

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Curso: Linguagem jurídica e redação – Prof. João Benvindo de Moura
Exercício sobre flexão nominal e verbal

1. Assinale a alternativa onde todos os 7. O verbo propor na primeira pessoa do singular


substantivos são biformes: do pretérito imperfeito do subjuntivo é:
a) elefante, príncipe, abade, mestre a) proponha
b) conde, carrasco, imigrante, onça b) propusesse
c) perdigão, monge, hebreu, paciente c) propuser
d) bacharel, presidente, parente, cliente d) proposse
e) algoz, ator, profeta, duque e) propusera

2. Assinale a alternativa que apresenta Leia o texto abaixo e responda às questões de 8 a 10


respectivamente: um substantivo biforme, um
sobrecomum, um comum-de-dois e um epiceno: Aí, galera
a) aluno, testemunha, paciente, elefante
b) marechal, criança, indígena, tigre Jogadores de futebol podem ser vítimas
c) selvagem, frei, vítima, folião de estereotipação. Por exemplo, você pode
d) cadáver, bebê, colega, rival imaginar um jogador de futebol dizendo
e) herói, artista, membro, poeta “estereotipação”? E, no entanto, por que não?

3. Assinale a alternativa onde o plural do - Aí, campeão. Uma palavrinha para a


substantivo está correto: galera.
a) cristão – cristães - Minha saudação aos aficionados do
b) o tórax – os tóraxes clube e aos demais esportistas, aqui presentes
c) cidadão – cidadãos ou no recesso dos seus lares.
d) chapéu – chapéis - Como é?
e) pão, pãos - Aí, galera.
- Quais são as instruções do técnico?
4. A alternativa em que o plural dos substantivos - Nosso treinador vaticinou que, com um
compostos está correta é: trabalho de contenção coordenada, com energia
a) pisca-pisca – piscas-piscas otimizada, na zona de preparação, aumentam as
b) pé-de-moleque – pés-de-moleques probabilidades de, recuperado o esférico,
c) navio-escola – navios-escolas concatenarmos um contragolpe agudo com
d) bom-dia – bons-dias parcimônia de meios e extrema objetividade,
e) ultra-som – ultras-sons valendo-nos da desestruturação momentânea do
sistema oposto, surpreendido pela reversão
5. Marque a alternativa onde o aumentativo está inesperada do fluxo da ação.
incorreto: - Ahn?
a) barco - barcaça - É pra dividir no meio e ir pra cima pra
b) buraco - buracão pegá eles sem calça.
c) festa - festança - Certo. Você quer dizer mais alguma
d) perna - pernona coisa?
e) fogo – fogão - posso dirigir uma mensagem de caráter
sentimental, algo banal, talvez mesmo previsível
6. A nota dos alunos, desde ontem, ... no mural, e piegas, a uma pessoa à qual sou ligado por
e o professor atenderá pessoalmente só os razões, inclusive, genéticas?
estudantes que, por acaso, ... alguma dúvida. - pode.
a) está afixado, tiverem - Uma saudação para minha progenitora.
b) está afixado, tiver - Como é?
c) está afixada, tiverem - Alô, mamãe!
d) está afixada, tiver - Estou vendo que você é um, um...
e) estão afixadas, tiver
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- Um jogador que confunde o nos lares brasileiros” – um professor universitário
entrevistador, pois não corresponde à em um congresso internacional.
expectativa de que o atleta seja um ser algo
primitivo com dificuldade de expressão e assim 10. A expressão “pegá eles sem calça” poderia
sabota a estereotipação? ser substituída, sem comprometimento de
- Estereoquê? sentido, em língua culta, formal, por:
- Um chato? a) pegá-los na mentira.
- Isso. b) Pegá-los desprevenidos.
c) Pegá-los em flagrante.
8. O texto retrata duas situações relacionadas d) Pegá-los rapidamente.
que fogem à expectativa do público. São elas: e) Pegá-los momentaneamente.
a) A saudação do jogador aos fãs do clube, no
início da entrevista, e a saudação final dirigida à 11. Leia um texto publicado no jornal Gazeta
sua mãe. mercantil. Esse texto é parte de um artigo que
b) A linguagem muito formal do jogador, analisa algumas situações de crise no mundo,
inadequada à situação da entrevista, e um entre elas, a quebra da bolsa de Nova Iorque em
jogador que fala, com desenvoltura, de modo 1929, e foi publicado na época de uma iminente
muito rebuscado. crise financeira no Brasil.
c) O uso da expressão “galera”, por parte do
entrevistador, e da expressão “progenitora”, por “Deu no que deu. No dia 29 de outubro de 1929,
parte do jogador. uma terça –feira, praticamente não havia
d) O desconhecimento, por parte do compradores no pregão de Nova Iorque, só
entrevistador, da palavra “estereotipação”, e a vendedores. Seguiu-se uma crise incomparável:
fala do jogador em “é pra dividir no meio e ir pra o produto Interno Bruto dos estados Unidos caiu
cima pra pegá eles sem calça”. de 104 bilhões de dólares em 1929, para 56
e) O fato de os jogadores de futebol serem bilhões em 1933, coisa inimaginável em nossos
vítimas de estereotipação e o jogador dias. O valor do dólar caiu a quase metade. O
entrevistado não corresponder ao estereótipo. desemprego elevou-se de 1,5 milhão para 12,5
milhões de trabalhadores – cerca de 25% da
9. O texto mostra uma situação em que a população ativa – entre 1929 e 1933. A
linguagem usada é inadequada ao contexto. construção civil caiu 90%. Nove milhões de
Considerando as diferenças entre língua oral e aplicações, tipo caderneta de poupança,
língua escrita, assinale a opção que representa perderam-se com o fechamento dos bancos.
também uma inadequação da linguagem usada Oitenta e cinco mil firmas faliram. Houve saques
ao contexto. e norte-americanos que passaram fome.”
a) “O carro bateu e capotô, mas num deu pra vê (Gazeta Mercantil, 5 jan. 1999.)
direito” – um pedestre que assistiu ao acidente
comenta com o outro que vai passando. Na sua opinião o objetivo do texto no contexto
b) “E aí, ô meu! Como vai essa força?” – um em que foi publicado é:
jovem que fala para um amigo.
c) “Só um instante, por favor. Eu gostaria de a) Questionar a interpretação da crise.
fazer uma observação” – alguém comenta em b) Comunicar sobre o desemprego.
uma reunião de trabalho. c) Instruir o leitor sobre aplicações em bolsa de
d) “Venho manifestar meu interesse em valores.
candidatar-me ao cargo de secretária executiva d) Relacionar os fatos passados e presentes.
desta conceituada empresa” – alguém que e) Analisar dados financeiros e americanos.
escreve uma carta candidatando-se a um
emprego. 12. Quem não passou pela experiência de estar
e) “Porque se a gente não resolve as coisas lendo um texto e defrontar-se com passagens já
como têm que ser, a gente corre o risco de lidas em outros? Os textos conversam entre si
termos, num futuro próximo, muito pouca comida em um diálogo constante. Esse fenômeno tem a
denominação de intertextualidade. Leia os
seguintes textos:
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I – Quando nasci, um anjo torto Adélia Prado e Chico Buarque estabelecem
Desses que vivem na sombra intertextualidade, em relação a Carlos
Disse: Vai Carlos! Ser “gauche” na vida Drummond de Andrade, por:
(ANDRADE, Carlos Drummond de. Alguma a) Reiteração de imagens.
poesia. Rio de Janeiro: Aguilar, 1964.) b) Oposição de idéias.
c) Falta de criatividade
II – Quando nasci veio um anjo safado
d) Negação dos versos.
O chato dum querubim
e) Ausência de recursos.
E decretou que eu tava predestinado
A ser errado assim
Gabarito
Já de saída a minha estrada entortou
Mas vou até o fim.
(BUARQUE, Chico. Letra e música. São 1 2 3 4 5 6
Paulo: Cia. Das Letras, 1989.) A B C D E C
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III – Quando nasci um anjo esbelto B B E B A A
Desses que tocam trombeta, anunciou:
Vai carregar bandeira.
Carga muito pesada pra mulher
Esta espécie ainda envergonhada.
(PRADO, Adélia. Bagagem. Rio de Janeiro:
Guanabara, 1986.)

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