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A Questão do Mercúrio em Lâmpadas Fluorescentes

Walter Alves Durão Júnior e Cláudia Carvalhinho Windmöller

A iluminação artificial teve seu início ao longo do século XIX e foi sem dúvida um marco importante na vida
do homem. Este artigo discute alguns aspectos da relação entre mercúrio, lâmpadas fluorescentes e métodos
de descontaminação de seus resíduos. Lâmpada fluorescente é um tema ligado à importante preocupação
ambiental devido ao seu alto teor de mercúrio, um metal reconhecidamente tóxico. Empresas maiores que as
utilizam têm se adequado às legislações ambientais e as remetem, depois de usadas, a empresas habilitadas
a realizar reciclagem. Já as de uso residencial são descartadas sem quaisquer cuidados ou são misturadas
com os demais resíduos não inertes.

lâmpadas fluorescentes, contaminação por mercúrio, descontaminação

Recebido em 26/7/06, aceito em 7/3/08

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O
mercúrio tem uma grande cimento etc. Esses aportes podem e lâmpadas de descarga (mista, vapor
capacidade de se acumular causar a contaminação de rios, la- de mercúrio, vapor de sódio e vapor
nos organismos vivos ao gos e mares, principalmente quando metálico); b) e ainda as lâmpadas que
longo da cadeia alimentar, processo essa contaminação decorre de um não contêm mercúrio (lâmpadas incan-
esse conhecido como biomagnifica- acidente industrial, podendo ser um descentes e halogenadas/dicróicas).
ção. Sua toxicidade já é conhecida risco potencial para a saúde humana Dentre as lâmpadas que não
de longa data, sendo que não se (Souza e Barbosa, 2000). contêm mercúrio, destacam-se as
conhece qualquer função do mercú- lâmpadas incandescentes. Elas são
rio que seja essencial ao organismo Lâmpadas de mercúrio compostas de uma ampola de vidro
humano. Dentre as espécies alquila- Existem diversos tipos de lâmpadas bastante fino preenchido com um gás
das do mercúrio, as de cadeia curta para fins de iluminação. A Figura 1 inerte, em geral o argônio, e um fino
são mais comumente acumuladas representa alguns tipos de lâmpadas filamento constituído de tungstênio
em organismos vivos, devido à utilizadas. Elas são diferenciadas em que, ao ser percorrido por uma cor-
sua maior facilidade de transporte dois grupos: a) as lâmpadas que con- rente elétrica, se aquece até a incan-
através de membranas celulares. O têm mercúrio, que são as lâmpadas descência, emitindo uma luz branca
acúmulo do mercúrio, em especial fluorescentes (tubulares e compactas) de tom levemente amarelado.
do metilmercúrio em peixes de águas
contaminadas, pode resultar em risco
para o homem, além dos pássaros (A)
e mamíferos que se alimentam dos (C)
peixes (UNEP, 2007).
Derrames de mercúrio no am- (B)
biente podem ocorrer por processos
naturais ou antrópicos. Os processos
naturais são a gaseificação da crosta
terrestre, emissões vulcânicas e eva-
poração natural de corpos d’água;
os antrópicos são a mineração de
ouro e prata, a produção de mercú-
rio a partir do cinábrio, a queima de Figura 1: Alguns tipos de lâmpadas: (A) lâmpada incandescente; (B) lâmpadas fluores-
combustíveis fósseis, a fabricação de centes tubulares; (C) lâmpada fluorescente compacta (Apliquim, 2007).

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Tabela 1. Porcentagem de produtos que contêm mercúrio em resíduos sólidos urba-
nos (DPPEA, 2004)

PRODUTOS PORCENTAGEM
Pilhas e baterias 71,99
Equipamentos elétricos (lâmpadas de mercúrio etc.) 13,70
Termômetros 6,89
Figura 2: Principais constituintes de uma
Termostatos 3,30 lâmpada fluorescente (André, 2004).
Pigmentos 1,22
Uso odontológico 1,18 luminescente de pó de fósforo, um
Resíduos de pintura 0,94 pré-revestimento de alumina. O tubo
Interruptores de mercúrio 0,77 é preenchido com gás inerte (argô-
Total 100,00 nio, neônio, criptônio e/ou xenônio)
à baixa pressão (0,003atm) e vapor
Dentre as lâmpadas que contêm destas se agrava enormemente. Isso de mercúrio à baixa pressão parcial.
mercúrio, destacam-se as lâmpadas sem contar que as indústrias de reci- Nos extremos das lâmpadas, há os
fluorescentes como grandes poluido- clagem de lâmpadas de mercúrio são eletrodos, feitos de tungstênio ou aço
ras. A Tabela 1 mostra os principais responsáveis pelo controle de apenas inox (na Figura 2, está apresentado
produtos que contêm mercúrio em aproximadamente 6% do estoque de apenas o catodo, pois o anodo se
resíduos sólidos (DPPEA, 2004). lâmpadas queimadas no país (Lu- encontra na extremidade direita, o
Existem vantagens das lâmpadas mière, 2007). Além disso, o custo da que é não apresentado na figura).
que contêm mercúrio sobre as que reciclagem e a conseqüente descon- Nessas condições, o tubo está em
não o contêm. Em relação às lâmpa- taminação para o gerador de resíduo vácuo parcial (André, 2004).
das incandescentes, as lâmpadas ainda são muito caros. No Brasil, uma Quando a lâmpada é ligada, uma
que contêm mercúrio têm eficiência tradicional empresa do ramo cobra corrente elétrica aquece os cátodos
16 luminosa de 3 a 6 vezes superior, têm pelos serviços de descontaminação que são recobertos com um material
vida útil de 4 a 15 vezes mais longa em torno de R$ 0,60 a R$ 0,70 por lâm- emissivo especial, os quais emitem
e 80% de redução de consumo de pada (Webresol, 2005). A esse preço, elétrons. Os elétrons passam de um
energia. Dessa forma, elas geram devem-se acrescentar os custos de eletrodo para outro, criando uma
menos resíduos e reduzem o con- frete (transporte), que podem variar corrente elétrica. O fluxo de elétrons
sumo de recursos naturais para a de acordo com a distância e o volume. entre os eletrodos ioniza os gases de
iluminação, diminuindo dependência Dependendo da localização em que enchimento, o que cria um fluxo de
da termeletricidade (ABILUX, 2005). as lâmpadas estejam, o transporte corrente entre os eletrodos. Os elétrons
Há de se destacar, também, que as pode elevar significativamente o preço por sua vez colidem com os átomos
lâmpadas de mercúrio, em especial da reciclagem, desmotivando, e muito, do vapor de mercúrio excitando-os,
as lâmpadas fluorescentes e de va- tanto a indústria recicladora quanto a causando assim a emissão de radiação
por, são utilizadas para criar melhores geradora do resíduo. A embalagem ultravioleta (UV). Quando os raios ul-
e efetivas fontes de luz artificial e vêm e o seguro contra acidentes também travioleta atingem a camada fosforosa
substituindo amplamente as lâmpa- são acrescentados ao preço. Logo, que reveste a parede do tubo, ocorre a
das incandescentes. pode-se deduzir que as empresas que fluorescência, emitindo radiação eletro-
O uso de lâmpadas fluorescentes, arcam com o ônus envolvido no pro- magnética na região do visível.
então, pode representar uma significa- cesso de reciclagem são aquelas que,
Legislação ambiental sobre o descarte
tiva economia doméstica, comercial e no presente momento, se encontram
de lâmpadas de mercúrio
industrial. Se por um lado a natureza mais organizadas, ou seja, possuem
agradece a economia no uso dos um programa de controle ambiental Pelas normas brasileiras (ABNT,
recursos naturais pelo uso de lâm- mais definido. 1987a), um resíduo será “perigoso”
padas fluorescentes na iluminação, a Uma lâmpada fluorescente é (classe I) quando este ultrapassar os
proliferação do seu uso está gerando constituída, basicamente, por um seguintes parâmetros:
uma nova demanda ambiental: O que tubo de vidro recoberto interna- — Limite máximo de mercúrio em
fazer com as lâmpadas queimadas? O mente por pós de fósforo que são teste de lixiviação de 0,1 mg L–1.
mercúrio contido nas lâmpadas, como compostos por halofosfato de cálcio — Limite máximo de mercúrio no
já sabemos, pode contaminar o solo, [Ca5(F,Cl)(PO4)3:Sb,Mn]. Os compos- resíduo total de 100 mg kg–1.
as plantas, os animais e a água. O ris- tos (Y2O3:Eu), [(Ce,Tb)MgAl11O19)] e O teste de lixiviação, descrito na
co oferecido por uma única lâmpada (BaMgAl10O17:Eu) são adicionados Norma ABNT NBR 10.005 de 1987
é quase nulo. No entanto, levando em ao fosfato, formando os chamados (ABNT, 1987b), consiste em simular
consideração que o Brasil comerciali- fósforos vermelho, verde e azul res- em laboratório as condições mais ina-
za cerca de 100 milhões de lâmpadas pectivamente. Encontra-se também, dequadas possíveis nos processos
por ano, o problema do descarte entre o tubo de vidro e a camada de deposição (quando os resíduos

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das lâmpadas são misturados com fluorescente de 40 W, segundo a U.S. aquecimento para a cela de detecção
outros resíduos) e verificar o quanto EPA (United States Environmental de um Espectrofotômetro de Absorção
de mercúrio é extraído do resíduo Protection Agency) está em torno de Atômica. Um termopar é colocado
nessas condições. A fase líquida usa- 21mg. Existe controvérsia quanto à acima da amostra para monitorar seu
da como extrator constituirá o lixiviado quantidade das espécies de mercúrio aquecimento. Dessa forma, o mercúrio
que será submetido a análises quí- nas lâmpadas. Dados fornecidos pela que sai da amostra pelo aquecimento
micas para verificar a periculosidade NEMA indicam que 0,2%, ou seja, 0,042 vai para o espectrofotômetro onde
do resíduo. Caso a concentração do mg estão sob a forma de mercúrio ele- é detectado. No caso das espécies
mercúrio no lixiviado esteja acima do mentar, no estado de vapor. Os outros de Hg2+, elas sofrem volatilização e
limite máximo, ele deve ser disposto 99,8% (20,958 mg) estão sob a forma redução para Hg0 pelo calor antes
em instalações adequadas. de Hg2+, adsorvido sobre a camada de alcançarem o detector. Obtêm-se
Com relação aos resíduos gerados fosforosa e o vidro (Raposo, 2001). registros de unidade de Absorvância
pelas lâmpadas fluorescentes, o bulbo A complexidade na quantificação em função da temperatura acima da
de vidro de uma lâmpada apresenta das espécies de mercúrio pode ser amostra, denominados termogramas.
70% da massa total de uma lâmpada de explicada por meio de possíveis inte- A Figura 3 ilustra o esquema do equi-
vapor de mercúrio. O chumbo, presente rações do mercúrio que resultem na pamento montado para termodessor-
no vidro, excede os limites estabelecidos formação de novas espécies. ção de mercúrio de matrizes sólidas
pela ABNT. Logo, esse resíduo é clas- A determinação de diferentes e detecção por Absorção Atômica
sificado como perigoso, ou seja, um espécies de Hg em resíduo de lâm- (Windmöller, 1996). O que se observa
resíduo de classe I. O pó de fósforo, que pada fluorescente foi descrita em com esse sistema é que diferentes
representa 2% da massa total de uma trabalho recente (Raposo e cols., espécies de mercúrio termodessorvem
lâmpada fluorescente, contém mercúrio 2003). Nesse estudo, foi usada a em diferentes faixas de temperatura,
e cádmio. Concentrações elevadas do técnica de termodessorção aco- como é mostrado na Figura 4.
mercúrio, que podem variar de lâmpada plada à absorção atômica (TDAAS)
para lâmpada, também qualificam esse para determinação dos estados de
resíduo como perigoso. oxidação do mercúrio presentes no 17
O Projeto de Política Estadual resíduo de pó de fósforo de lâmpada
para Resíduos Sólidos da Secretaria usada e no vidro. A termodessorção,
do Meio Ambiente do Estado de São ou seja, a dessorção térmica, é uma
Paulo determina que fabricantes se- técnica que usa energia térmica para
jam responsáveis pela destinação de separar fisicamente compostos volá- Figura 3: Desenho esquemático do
seus resíduos, mesmo após o consu- teis de suas matrizes, como é o caso sistema TDAAS (Windmöller, 1996).
mo. Em relação às lâmpadas fluores- do mercúrio que é dessorvido pelo
centes, o projeto de nº 301/97 dispõe aquecimento das amostras como os
sobre seu descarte e destinação final, solos, sedimentos e o fosfato, que são
determinando que os revendedores matrizes muito utilizadas em análises
exijam dos consumidores, no ato de no sistema TDAAS. A espectroscopia
compra de lâmpadas novas, lâm- de absorção atômica (AAS) baseia-se
padas usadas. Estas seriam, então, no princípio de que átomos gasosos
recolhidas periodicamente pelos no estado fundamental absorvem ra-
fabricantes (USP Recicla, 2007). diação eletromagnética em determina-
dos comprimento de onda. O conjunto
de linhas de absorção é específico de
Quantificação de mercúrio em lâmpadas
cada elemento químico, e sempre há Figura 4: Termogramas de amostras do-
fluorescentes
uma linha onde a absorção é mais padas com padrões de mercúrio (Raposo
A quantidade de mercúrio em uma intensa, muitas vezes escolhida para e cols., 2003).
lâmpada fluorescente pode variar medidas.
de acordo com o tipo de lâmpada, No sistema TDAAS, as amostras Pela análise de várias amostras
o fabricante e o ano de fabricação. são submetidas a aquecimento contro- de pó de fósforo e comparação com
Essa quantidade vem diminuindo lado de temperatura, com uma razão esses padrões, os autores identi-
significativamente com o decorrer dos de aquecimento de 33ºC/min, da tem- ficaram as espécies de mercúrio
anos. Segundo a National Electrical peratura ambiente até cerca de 550ºC, presentes nos resíduos de lâmpadas
Manufacturers Association (NEMA), a em um forno constituído de um tubo de fluorescentes de várias marcas, tanto
quantidade de mercúrio em lâmpadas quartzo envolto por uma bobina de Ni- novas quanto usadas. Esses estudos
fluorescentes, entre 1995 e 2000, foi Cr. Durante o aquecimento, um fluxo de revelaram que tanto o Hg0, que foi
reduzida em cerca de 40% (Raposo e nitrogênio passa constantemente pela a espécie inicialmente adicionada à
cols., 2003). Atualmente, a quantidade amostra, funcionando como gás de ar- lâmpada, como as espécies Hg1+ e
média de mercúrio em uma lâmpada raste que leva os vapores gerados pelo Hg2+ foram encontradas nos resíduos

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de pó de fósforo. Houve casos que é a chamada fase preparatória, na qual,
apenas Hg2+, em quantidade grande, por meio de um processo físico, as lâm-
foi encontrado. Na Figura 5, são apre- padas são implodidas e quebradas em
sentados termogramas de algumas pequenos fragmentos. As lâmpadas
amostras de pós de fósforo de lâmpa- são introduzidas em processadores
das fluorescentes desse trabalho. especiais e, por meio de separadores
gravimétricos e eletromagnéticos,
latão, terminais de alumínios e pinos
são separados (Figura 7). Um sistema
de exaustão permite separar a poeira
Figura 6: Termograma de uma amostra de fosforosa juntamente com a maioria do
vidro de lâmpada fluorescente (Raposo e
mercúrio. O pó de fósforo e particula-
cols., 2003).
dos são então coletados em um filtro.
Por fim, os materiais constituintes das
espectroscopia de raios-X, na tentativa lâmpadas fluorescentes são separa-
de elucidar as diferentes interações do dos em quatro grupos: os terminais
mercúrio com os componentes das de alumínio com seus componentes
lâmpadas fluorescentes, resultaram ferro-metálicos; o vidro; o pó de fós-
em conclusões na maioria das vezes foro rico em mercúrio; e o isolamento
vagas, sem ser possível inferir o es- baquelítico que existe nas extremida-
tado de oxidação ou ainda o tipo de des das lâmpadas. Dentre todos os
ligação que ocorre. constituintes, somente o isolamento
baquelítico não é reciclado. Os vidros
Descontaminação de resíduos de lâmpa-
podem ser recuperados para produção
das fluorescentes
de novas lâmpadas ou novos vidros em
18 Para a descontaminação de resídu- aplicação não alimentar. O alumínio e
os de lâmpadas fluorescentes, existem os pinos de latão, após limpeza, podem
Figura 5: Termogramas de amostras de
os processos térmicos, a lixiviação ser fundidos e utilizados para produção
pó de fósforo de lâmpadas fluorescentes
usadas/queimadas. ácida, a estabilização e a incineração de novos materiais. O pó de fósforo,
(Raposo, 2001). Essa última não é quando livre do mercúrio, pode ser
Os resultados mostraram que nes- recomendada, pois pode gerar sérios reutilizado em fábricas de cimento.
se tipo de matriz ocorreu a oxidação do problemas ambientais devido à emis-
Hg0 adicionado na confecção da lâm- são de mercúrio para a atmosfera.
pada. Como Hg2+, no meio ambiente, Os dois primeiros processos,
o mercúrio pode ser metilado e formar tratamento térmico e lixiviação áci-
as espécies mais tóxicas do metal ou da, são, até o momento, as formas
ainda formar espécies mais solúveis, de tratamento mais indicadas am-
podendo ser lixiviado para sistemas bientalmente, pois permitem a re-
aquosos. Esses resultados apontam cuperação do mercúrio por meio da
para uma maior preocupação com re- reciclagem.
lação ao descarte dessas lâmpadas. A reciclagem de lâmpadas refere-
Outro grave problema ambiental se à recuperação de alguns de seus
são os resíduos de vidro dessas materiais constituintes e a sua reutili-
lâmpadas. Análises do vidro de zação em indústrias ou nas próprias Figura 7: Componentes de lâmpadas
lâmpadas usadas/queimadas mos- fábricas de lâmpadas. Existem vários fluorescentes separados (MRT, 1998).
traram a dessorção do mercúrio em sistemas de reciclagem em operação
intervalos de 240 a 800°C, conforme em diversos países da Europa, EUA e A segunda fase consiste na recu-
apresentado na Figura 6. Esses resul- Japão. No Brasil, existem empresas peração do mercúrio contido no resí-
tados mostram que o mercúrio está como a Recitec (Pedro Leopoldo, duo de pó de fósforo. Esta, como já
fortemente ligado a ela, o que pode MG), Apliquim (Paulínia, SP), Mega foi dito, envolve um processo químico
causar um problema de perda de Hg Reciclagem (Curitiba, PR), Brasil Re- ou um processo térmico. No proces-
no processo de reciclagem desse cicle (Indaial, SC) e Sílex (Gravataí, so térmico, o material é aquecido a
vidro (Raposo e cols., 2003). RS) que atuam na reciclagem de temperaturas muito altas (maiores
Outros trabalhos como, por exem- lâmpadas fluorescentes (Naime e que 600°C). O material vaporizado a
plo, de Thaler e colaboradores (1995); Garcia, 2004). partir desse processo é condensado
Lankhorst e colaboradores (2000); O processo de reciclagem de lâm- e coletado em recipientes especiais
e Dang e colaboradores (2002), uti- padas de mercúrio mais utilizado envol- ou decantadores. O mercúrio assim
lizando principalmente a técnica de ve duas fases de tratamento. A primeira obtido pode passar por nova destila-

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ção para se removerem impurezas. em resíduos de pó de fósforo traz a apesar de essencial para o funciona-
Emissões fugitivas durante esse pro- expectativa de uma resolução para mento das lâmpadas fluorescentes, é
cesso podem ser evitadas usando-se o problema do lixo tóxico gerado altamente tóxico.
um sistema de operação sob pressão pelo descarte descontrolado das
negativa (PCEPC, 2007). lâmpadas fluorescentes. É de suma Walter Alves Durão Júnior (juniordurao@yahoo.com.
No caso do processo químico, importância que a reciclagem esteja br) é mestre em Química, Departamento de Química,
ou lixiviação, o resíduo é tratado por amparada por recursos tecnológicos ICEx, Universidade Federal de Minas Gerais. Cláudia
Carvalhinho Windmöller (claucw@netuno.lcc.ufmg.
processo de extração, envolvendo que permitam a recuperação eficaz
br) é doutora em Ciências e professora do Depar-
algum líquido extrator e a solução desses constituintes, em especial o tamento de Química, ICEx, Universidade Federal de
resultante precisa então passar por mercúrio, uma vez que esse metal, Minas Gerais.
algum outro tratamento para recupe-
rar o mercúrio. Referências gens Pós Consumo. Disponível em
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dos de descontaminação do mercúrio
Abstract: The Question of Mercury in Fluorescent Lamps. Artificial illumination was first used in the 19th century and was without doubt an important mark in human life. This article discuss some
aspects of the relationship among mercury, fluorescent lamps and the descontamination methods of its residues. The fluorescent lamp is of extreme environmental concern because of its high
mercury content, a recognized toxic metal. Large companies who use fluorescent lamps have adjusted themselves to the environmental legislation and send them, after used, to recycling companies.
However, the lamps that are being used in residences are discarded carelessly or are mixed to non-inert residues.

Keywords: fluorescents lamps, mercury contamination, decontamination

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