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A SEGUNDA VINDA DE JESUS

O uso do termo parousi,a no Novo Testamento


Nos Sinóticos, apenas em Mateus: Mt 24.3, 27,37,39
Em Paulo:
1 Co 15.23; 16.17
2 Co 7.6,7; 10.10
Fp 1.26; 2.12
1 Ts 2.19; 3.13; 4.15; 5.23
2 Ts 2.1,8,9
Em Tiago: Tg 5.7,8
Em Pedro: 2 Pe 1.16; 3.4,12
Em João: 1 Jo 2.28

O ENSINO BÍBLICO1
(Baseado em “The End Times” - Documento da CTRE2 - LC-MS, p. 36)

1. A VOLTA DE CRISTO SERÁ VISÍVEL - TODOS OS VERÃO.

Mt 24.27,30: “Porque assim como o relâmpago sai do oriente e se mostra


até no ocidente, assim há de ser a vinda do Filho do homem. ... então aparecerá
no céu o sinal do Filho do homem; todos os povos da terra se lamentarão e verão o
Filho do homem vindo sobre as nuvens do céu com poder e muita glória.”
Ap 1.7: “Eis que vem com as nuvens, e todo olho o verá, até quantos o
traspassaram. E todas as tribos da terra se lamentarão sobre ele. Certamente.
Amém.

- não há uma vinda secreta de Jesus, como propõe alguns milenistas (Pré-
milenismo dispensacional: Cristo voltaria primeira vez para o arrebatamento dos
justos)

2. CRISTO VOLTARÁ EM GLÓRIA, ACOMPANHADO PELOS SEUS ANJOS.

Mt 16.27: “Porque o Filho do homem há de vir na glória de seu Pai, com os seus
anjos, e então retribuirá a cada um conforme as suas obras.”

3. QUANDO CRISTO VOLTAR, OS MORTOS - BONS E MAUS - RESSUSCITARÃO.

Jo 5.28,29: “Não vos maravilheis disto, porque vem a hora em que todos os
que se acham nos túmulos ouvirão a sua voz e sairão: os que tiverem feito o bem,
para a ressurreição da vida; e os que tiverem praticado o mal, para a ressurreição
do juízo.”
Jo 6.40: “De fato a vontade de meu Pai é que todo homem que vir o Filho e
nele crer, tenha a vida eterna; e eu o ressuscitarei no último dia.”

1
O comentarista (milenista) Russel Norman Champlin (em o Novo Testamento Interpretado) faz um
interessante comentário sobre a importância do ensino da  na Escritura: “É acontecimento
predito nas páginas do AT (Dn 7.13); e figura tão freqüentemente no NT que é mencionado numa média de
um versículo a cada vinte e três.” (5: 202)
2
CTRE - Comissão de Teologia e Relações Eclesiais
Não há base para afirmar uma ressurreição antes do . A
ressurreição de todos os mortos se dará no fim dos tempos. Não há um espaço
entre a volta de Cristo, a ressurreição dos mortos e o destino eterno destes, como
bem mostram as palavras de Jesus em João.

4. QUANDO CRISTO VOLTAR PARA O JUÍZO, OS CRENTES SERÃO ARREBATADOS E SE


3
ENCONTRARÃO COM O SENHOR NOS ARES.

1 Ts 4.14-17: “(14) Pois se cremos que Jesus morreu e ressuscitou, assim também
Deus, mediante Jesus, trará juntamente em sua companhia os que dormem.
(15)
Ora, ainda vos declaramos, por palavra do Senhor, isto: nós, os vivos, os que
ficarmos até a vinda do Senhor, de modo algum precederemos os que dormem. (16)
Porquanto o Senhor mesmo, dada a sua palavra de ordem, ouvida a voz do
arcanjo, e ressoada a trombeta de Deus, descerá dos céus, e os mortos em Cristo
ressuscitarão primeiro; (17) depois nós, os vivos, os que ficarmos, seremos
arrebatados juntamente com eles, entre nuvens, para o encontro do Senhor nos
ares, e assim estaremos para sempre com o Senhor.”

Os milenistas, conforme o demonstra Champlin no seu comentário,


entendem este texto como sendo a vinda de Jesus para a Igreja,
arrebatando a Igreja, antes da grande tribulação e da vinda para o Juízo.
Uma interpretação assim é problemática, tendo em vista que em todos os
textos bíblicos em que se relata a volta de Jesus há uma identificação
imediata daquele acontecimento com o julgamento de todas as pessoas,
vivos e mortos, bons e maus. Somente com “proezas” exegéticas, jogando
um texto contra o outro (não interpretando os mais difíceis à luz dos mais
simples) é que se chega àquela interpretação equivocada.
No que tange ao texto específico de 1 Ts 4, fica realmente muito
difícil sustentar um tempo entre uma vinda de Cristo para a Igreja e o Juízo.
O contexto aponta noutra direção. No início do cap. 5 (v. 2) Paulo fala do
“dia do Senhor”, que vem “como ladrão de noite”. A mesma expressão é
usada por Jesus no seu discurso escatológico (Mt 24.42-44), num contexto
onde claramente se fala do fim dos tempos, quando “todos os povos da terra
se lamentarão e verão o Filho do homem vindo sobre as nuvens”(v. 30). No
mesmo contexto, no capítulo 25 de Mateus, Jesus fala da vinda do Filho do
homem (deixando claro que está falando do mesmo acontecimento relatado
no cap. 24), quando acontecerá que “todas as nações serão reunidas em
sua presença e ele separará uns dos outros...“ (Mt 25.31,32).
O Documento da CTRE LC-MS sobre “Os Tempos do Fim” tem um
comentário importante sobre o texto, especialmente para o v. 17:
O propósito do “arrebatamento” que Paulo descreve em 1 Ts 4.17 é
evidente, a partir da linguagem que ele emprega neste versículo. A
palavra traduzida por “encontro” é um termo técnico usado no tempo
do Novo Testamento para descrever uma recepção pública dada por
uma cidade a um visitante ilustre. Os principais cidadãos da cidade
normalmente deixariam a cidade para “encontrarem-se” com o distinto
visitante e então acompanhá-lo para dentro da cidade (cf. At 28.15).

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É ponto básico na doutrina milenista a diferenciação entre a vinda de Jesus “para a Igreja” e “para o juízo”.
Os milenistas colocam entre estes (segundo eles) dois acontecimentos o período da “grande tribulação”.
Russel N. Champlin cita John F. Walvoord, presidente do Dallas Theological Seminary, que aponta
“cinqüenta razões pelas quais cria no arrebatamento antes da tribulação, o que significa que a Igreja nào
passaria pelo período da grande tribulação.” (Champlin, 5: 203; meu grifo)
Paulo parece estar dizendo, portanto, que os cristãos irão se
encontrar com o Senhor nos ares para acompanhá-lo em honra para
a Terra para o Julgamento., Os cristãos estarào incluídos em Sua
gloriosa companhia de anjos enquanto ele desce para a Terra. (40)

Mt 24.40,41: “Então dois estarão no campo, um será tomado, e deixado o outro;


duas estarão trabalhando num moinho, uma será tomada, e deixada a outra”.
Antes de mais nada, é preciso entender este texto à luz do contexto
mais amplo. No início do capítulo 24, os discípulos perguntam a Jesus “que
sinal haverá da tua vinda e da consumação do século” (v. 3). No sermão
escatológico Jesus fala de dois eventos, a queda de Jerusalém e a
consumação do século, isto é, o fim do mundo. Ao referir-se ao segundo
evento, deixa claro que ocorrerá na sua segunda vinda, que acontecerá de
forma visível, com os anjos de Deus, em grande glória (v. 27-31).
Depois, note-se que o versículo 31 trata do mesmo assunto que os
versículos 40 e 41, ao dizer: “E ele enviará os seus anjos, com grande
clangor de trombeta, os quais reunirão os seus escolhidos, dos quatro
ventos, de uma a outra extremidade dos céus”.
Comentando sobre os versículos 30 e 31 do mesmo capítulo,
Frederick D. Bruner faz importantes ressalvas à interpretação milenista:
Este encontro é o que a Igreja chama de arrebatamento. É importante
notar que este arrebatamento ocorre depois da vinda cósmica,
pública, visível do Filho do homem. Não há na Escritura algo como
um arrebatamento secreto. O arrebatamento não é um misterioso
rapto por um Filho do homem invisível antes de uma última vinda. A
vinda e o arrebatamento acontecem juntos e nesta ordem, aqui e em
toda a parte na Escritura. ...
A Escritura não sabe nada de duas vindas futuras de Cristo -
uma secreta, para a Igreja, e uma pública, para o mundo. Antes, o
Filho do homem volta uma vez - cósmica, visível e publicamente -
para reunir os seus eleitos e condenar os impenitentes. ...
A decisão sobre escatologia dispensacionalista pode ser feita
pela decisão de entender a Escritura ou como evangelho ou como um
quebra-cabeças. (Matthew, vol. 2: 873)4
Sobre os versículos 40 e 41, Bruner aponta para o fato de que o
arrebatamento não está ocorrendo com pessoas especiais (pastores,
líderes), que estejam em lugares ou situações especiais (na Igreja, em
oração), mas pessoas no seu lugar de trabalho. Ele completa:
Este fato honra as vocações seculares e os cristãos sendo fiéis nelas
(este ponto será enfaticamente trazido nas parábolas e julgamento no
capítulo 25) Assim levar a sério a vinda do Senhor para o julgamento
não significa levar menos a sério o trabalho. (882)

5. EM NENHUM LUGAR NAS ESCRITURAS A VOLTA DE CRISTO ESTÁ ASSOCIADA A UM


ESTABELECIMENTO DE UM REINO TERRENO, POLÍTICO, O “MILÊNIO”.

O professor Walter Kunstmann, em um estudo sobre o “Quiliasmo”, faz um


desafio interessante:

4
Bruner comenta neste ponto a asserção de Hal Lindsay, de que as profecias sobre a volta de Jesus são
como peças de um quebra-cabeças espalhadas pelo Antigo e Novo Testamentos. A “figura” completa só
poderia ser encontrada a partir de uma decodificação realizada por mestres especialmente dotados! (873)
Desafiamos os quiliastas de nos apresentar uma só passagem clara
que fala de uma dupla volta visível do Salvador, de uma dupla
ressurreição dos mortos e de um reino de Cristo de mil anos aqui na
terra.5
Os textos bíblicos que falam da volta de Jesus mostram que Ele virá para o
julgamento e para levar os crentes para a vida eterna. Ver Mt 16.27; 25.31;
Jo 14.3; 2 Ts 1.7. O Dr. Kunstmann conclui:
Não há lugar para introduzir entre estes dois acontecimentos
indissolúveis a volta de Cristo e o juízo, um intervalo de 1000 anos.
(123)
No seu estudo, o Dr. Kunstmann utiliza Ap 20 - texto base para os
milenistas - para comprovar sua tese. Para tanto, compara 6 aquele texto
com outros textos no NT, mostrando que os “mil anos” são o que no restante
do NT se caracteriza como o tempo da graça:

Apocalipse 20.6 Textos no NT Significado


“bem-aventurados” Mt 5.3; 16.17; Lc assim são chamados os que
11.28; Jo 20.29 ouvem a Palavra de Deus e
vivem vida cristã.
“primeira ressurreição” Ef 5.14; Jo 5.25 é a ressurreição espiritual da
morte espiritual [conversão]
“santos” Rm 1.7; 1 Co 1.2; 2 assim são chamados os
Co 1.1; 1 Pe 2.9; Ef crentes em Cristo
5.27; Hb 3.1
“sobre estes não tem Jo 3.36; 10.27; os crentes todos estão livres
poder a segunda morte” 11.26 da morte eterna
“serão sacerdotes de Is 61.6; 1 Pe 2.5,9; todos os crentes da era
Deus e de Cristo” Ap 1.5 messiânica são assim
chamados

Kunstmann conclui corretamente:


Não é possível restringir o acima testificado apenas a poucos mártires ressuscitados, mas
claro é que estes privilégios dizem respeito a todos os fiéis em comum. (125)

5
Igreja Luterana Julho, Agosto/ 1950: 121.
6
Kunstmann, “Quiliasmo”, 124,125.
Como Jesus podia desconhecer a data de Sua volta? (Mt 24.36)

Fórmula de Concórdia Epítome VIII 16:


Segundo a união pessoal, sempre teve esta majestade; todavia, em seu estado de
humilhação abriu mão dela, e por isso verdadeiramente cresceu em idade,
sabedoria e graça diante de Deus e dos homens. Razão porque não mostrou esta
mejestade sempre, mas quando assim lhe agradava, até que, depois de Sua
ressurreição, pôs inteiramente de lado a forma de servo, e não a natureza
[humana], e foi estabelecido no pleno uso, revelação e manifestação da majestade
divina, e assim entrou em sua glória, de modo que agora, não só como Deus, mas
também como homem, sabe tudo, pode fazer tudo, está presente a todas as
criaturas ...7

Mueller, Dogmática Cristã:


A Fórmula de Concórdia emprega como sinônimos as expressões encobrimento
(krypsis) e não-uso da majestade divina de Cristo comunicada à natureza humana.
(Decl. Sól., VIII, 26, 65: “Esteve encoberto e retido [para a maior parte] ao tempo
da humilhação.”). Este emprego dos dois termos é escriturístico; pois a humilhação
de Cristo encerrava um verdadeiro encobrimento da majestade divina de Cristo,
por isso que era verdadeira e efetivamente Deus, Cl 2.9, e não obstante aparecia
como simples homem, Jo 19.5. Por outra parte, a humilhação de Cristo encerrava
também uma renúncia de fato, na verdade não dos atributos segundo a sua
natureza divina, porém da aparição na forma de Deus (morphée Theou), ou seja,
do pleno uso dos atributos divinos a ele comunicados; pois que positivamente
apareceu na forma de servo (morphée doulou).8

7
Livro de Concórdia, p. 525. (Ênfase acrescentada)
8
John Theodore Mueller, Dogmática Cristã, I: 300.
A Volta de Jesus

As Escrituras do Novo Testamento ensinam que um dia Cristo retornará


visivelmente em glória. Um estudo dos textos onde estes termos aparecem revela que o
segundo advento de Cristo é um evento ao final da história. Com a segunda vinda de
Cristo, será o fim deste mundo, acontecerá o juízo final e serão criados novos céus e
nova terra. Vejamos com mais detalhes os que as Escrituras ensinam a respeito da
segunda e derradeira vinda de Cristo:

1. Cristo virá visivelmente e todos os povos o verão (At 1.11; Mt


24.27,30; Ap 1.7).
2. Cristo voltará em glória na companhia de Seus anjos (Mt 24.30,31;
25.31).
3. Quando Cristo voltar, os mortos irão ressuscitar. Crentes
ressuscitarão para a salvação e descrentes para a condenação (Jo
6.39,40,44,54; Dn 12.1,2). Todos os crentes, vivos e mortos, serão
"arrebatados" (levados) para "o encontro do Senhor nos ares" (1 Ts 4.13-17).
A morte será destruída (1 Co 15.26,54-57; Ap 20.14).
4. Quando Cristo retornar, Ele julgará todas as pessoas, vivos e mortos
(At 10.42; Ap 20.12).Os crentes receberão salvação eterna e os descrentes,
eterna condenação (Mt 25.31-34,41). Satanás e o Anticristo serão totalmente
derrotados e condenados (2 Ts 2.8; Ap 20.10).
5. Quando Cristo retornar, serão criados "os novos Céus e a nova
Terra" (2 Pe 3.10-13).

A data do segundo advento de Cristo não é conhecida (Mt 24.42,44). O próprio


Jesus ensinou: "Mas a respeito daquele dia e hora ninguém sabe, nem os anjos dos
céus, nem o Filho, senão somente o Pai" (Mt 24.36). Os tempos e épocas fixados pela
autoridade do Pai "não vos compete conhecer" (At 1.7). Portanto, Deus espera que não
nos preocupemos com cálculos quanto ao tempo do fim. Uma coisa é verdade: o fato de
que Deus retardou o fato por quase dois milênios até agora é devido à Sua paciência e
misericórdia, pois "Não retarda o Senhor a Sua promessa, como alguns a julgam
demorada; pelo contrário, Ele é longânimo (paciente) para convosco, não querendo que
nenhum pereça, senão que todos cheguem ao arrependimento" (2 Pe 3.9).
O ensino bíblico sobre a segunda vinda de Cristo tem um propósito muito prático.
Deus quer que todos venham a crer no Evangelho, levar uma vida santa em serviço a
Cristo e ansiosamente esperar o último dia, com paciência (Rm 13.12-14).

Texto original escrito pelo rev. Gerson Luís Linden9

Luiz Carlos da Silva Filho


Teólogo

9
Professor adjunto da Universidade Luterana do Brasil e professor titular - Seminário Concórdia. Tem
experiência na área de Teologia, com ênfase em Exegese do Novo Testamento e Teologia Sistemática,
atuando principalmente nos seguintes temas: escatologia, igreja, ministério, luteranismo e apocalipse.

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