Considerações sobre: A posição da mulher no par de tango
Afonso Vieira
Acredito ser possível tecer considerações da posição da mulher no par de
tango sob vários aspectos, contudo vou evidenciar brevemente dois aspectos. O primeiro do ponto de vista topográfico, isto é, de como está seu corpo em relação ao seu par quer estático e dinâmico; e segundo seria sob o ponto de vista existencial.
Quanto ao primeiro aspecto a mulher segue as regras – como o homem – do
abraço ao seu par. Se utiliza das regras individuais, de inter-relação e do desenho coreográfico como o homem onde a forma de utilizá-la é que vai evidenciar seu caráter feminino. Ela adéqua seu abraço, calibra seu passo adaptando suas características físicas ao de seu companheiro, quer quando estão parados ou quando estão se deslocando, para que haja também uma comunhão com seu par, pois essa é a exigência do tango. Essa adequação ocorre utilizando toda a técnica e estética usada no aparato expressivo (tensão articular, pivot, adornos, caminhadas, passagem de peso, calibre, compasso de dança) – da cintura ao piso – e dramático (posição dos braços, mãos, cabeça, pressão, dissociação e torção) – da cintura a cabeça.
Quanto ao segundo aspecto, o existencial, gostaria de dizer que a mulher no
tango constrói sua existência e busca sua liberdade. Ela se torna livre a medida que pode optar em se deixar levar, em aceitar as propostas do homem e responder ativamente a elas com seu corpo e sua alma. Ela se torna um sujeito ativo, uma protagonista da dança, podendo também sugerir movimentos que fazem o tango improvisado. Ela constrói seu projeto existencial com toda sua sesibilidade e sensualidade corporal, sua característica particular de sentir o que deseja o seu par e saber escutar suas propostas, sabendo discernir o que lhe convém ou não fazer, e podendo assim inventar a arte da dança do tango. Ela cria, inventa, quando se entrega totalmente ao encontro. Encontro de opostos que faz a riqueza dessa dança.
Enfim termino essas considerações dizendo que a mulher ocupa um lugar
privilegiado na dança do tango, pois ela cria com o homem o baile dando sua contribuição com sua beleza, sua graça, sensibilidade, e sem sua presença o tango seria apenas uma dança vazia, uma geometria sem sentido.