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Ji-Paraná
2010
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Ji-Paraná
2010
CIP-Brasil. Catalogação na Fonte
Biblioteca Central CEULJI/ULBRA
CDU 343:34:336
Ficha Catalográfica: Ana Cláudia da Silva Rodrigues – CRB11/604
MARCOS COELHO PEDROSO
AVALIADORES
______________________________________________ - __________
Ms. Mariana Secorun Inácio – CEULJI – ULBRA Nota
______________________________________________ - __________
Ms. Oscar Francisco Alves Jr. – CEULJI – ULBRA Nota
______________________________________________ - __________
Ms. Celito de Bona – CEULJI – ULBRA Nota
__________________
Média
Ji-Paraná
2010
3
RESUMO
O cenário atual mundial aponta para uma crise ética que afeta todas as profissões. E
dentro da profissão contábil, isso é percebido pelo crescimento da chamada contabilidade
criativa. O presente trabalho foi feito através de pesquisa bibliográfica, da qual são estudados
e apresentados alguns conceitos fundamentais relacionados com a profissão do auditor
independente, da contabilidade criativa e os erros e fraudes realizados pelas empresas,
permeando a responsabilidade penal dos auditores independentes frente à não detecção ou
omissão, seja por culpa ou dolo desses profissionais. Assim, esse trabalho faz uma reflexão
sobre a responsabilidade penal dos auditores frente a este fenômeno, concluindo-se que as
referidas responsabilidades penais, devem ser pulverizadas entre os administradores,
funcionários da empresa, auditores internos e externos, na medida da culpabilidade de cada
um. Ademais, o presente trabalho conclui ao final que o auditor independente que não aponta
em seus pareceres as fraudes ou erros, deve responder solidariamente com os responsáveis
pelo uso da contabilidade criativa, quando tais fraudes ou erros forem passíveis de serem
detectados nos trabalhos de auditoria. Por fim, uma mudança na legislação penal é necessária
no sentido de alcançar uma maior efetividade na punição dos responsáveis pelo uso da
contabilidade criativa. Para tanto, verifica-se que uma das soluções seria a adequação da “Lei
do Colarinho Branco”, ou seja, Lei 7.492/86, no sentido da mesma ter uma abrangência maior
com relação aos responsáveis pelo uso da contabilidade criativa, inclusive legitimando o
auditor independente que comete ilícitos como incurso em suas penas.
ABSTRACT
World-wide the current scene points with respect to an ethical crisis that affects all the
professions. Inside of the countable profession, this is perceived by the growth of the call
creative accounting. The present work was made through bibliographical research, of which
they are studied and presented some related basic concepts with the profession of the
independent auditor, the creative accounting and the errors and frauds carried through for the
companies, passing for the criminal liability of the independent auditors front to not the
detention or omission, either for guilt or deceit of these professionals. Thus, this work makes
a reflection on the criminal liability of the auditors front to this phenomenon, concluding itself
that the related criminal liabilities, must be sprayed between the administrators, internal and
external employees of the company, auditors, in the measure of the culpability of each one.
More still, the present work concludes to the end that the independent auditor who does not
point in its to seem the frauds or errors, must answer solidarily with the responsible ones for
the use of the creative accounting, when such frauds or errors will be possible to be detected
in the auditorship works. Finally, a change in the criminal legislation is necessary in the
direction to reach a bigger effectiveness in the punishment of the responsible ones for the use
of the creative accounting. For in such a way, it is verified that one of the solutions would be
the adequacy of the “Law of the White Collar”, that is, Law 7,492/86, in the direction of the
same one to have a bigger application with regard to the responsible ones for the use of the
creative accounting, also legitimizing the independent auditor who commits illicit as subject
to a penalty in its penalty.
SUMÁRIO
INTRODUÇÃO.................................................................................................................... 6
4 CONCLUSÃO................................................................................................................ 48
5 REFERÊNCIAS ............................................................................................................. 51
6 ANEXO 1........................................................................................................................ 55
7 ANEXO 2........................................................................................................................ 66
8 ANEXO 3........................................................................................................................ 72
9 RECOMENDAÇÕES .................................................................................................... 93
6
INTRODUÇÃO
Percebe-se no mundo atual uma desenfreada crise ética que afeta todas as profissões,
principalmente no mundo corporativo.
As empresas estão cada vez mais globalizadas, sendo normal, a cada dia que passa,
que as empresas tornem-se grupos transnacionais, em escala mundial.
Através deste fenômeno, as grandes organizações conseguem captar recursos
praticamente em todos os lugares do planeta, principalmente pela facilitação do uso da
tecnologia. Assim, através da rede mundial de computadores, investidores de qualquer lugar
do mundo podem adquirir ações de empresas de todos os lugares.
Com isso, ressalta a importância dos auditores independentes, pois estes são os
profissionais responsáveis por emitir um parecer, ou opinião acerca das demonstrações
contábeis das empresas auditadas, no sentido de averiguar se tais demonstrações refletem a
verdadeira posição patrimonial da empresa, se estão de acordo com os princípios contábeis,
dentre outras averiguações.
Neste sentido, os investidores, credores, empregados, administradores e quaisquer
outros interessados nas empresas às quais tenham algum tipo de relação, possuem uma
importante ferramenta de decisão, qual seja, a opinião do auditor independente acerca dos
demonstrativos contábeis da empresa.
Assim, no primeiro capítulo do presente trabalho, procurar-se-á definir a figura do
auditor independente, comentando-se a respeito do que faz esse profissional, qual é o seu
perfil, quais são as suas atribuições e qual a legislação que regula essa profissão.
Ainda no primeiro capítulo, comentar-se-á sobre a “contabilidade criativa”, espécie de
fraude utilizada pelas empresas com o fim de “maquiar” seus demonstrativos contábeis, de
modo a espelhar de forma diversa a situação patrimonial da empresa, geralmente com o fim
de obter vantagens econômicas escusas, lesando interesses, na maioria das vezes, dos
acionistas da própria empresa.
Para melhor entender qual a responsabilização penal do auditor independente, no
segundo capítulo, comentar-se-á, genericamente, sobre como se dá a responsabilização penal,
passando pela teoria clássica do delito, conceitos de crime, evolução do conceito analítico de
crime, os elementos do crime e a definição de culpabilidade, dolo e culpa.
7
sofrido pena impeditiva de acesso a cargo público, ou perda de capacidade civil julgada por
sentença.
Além do mais, o art. 29 da Instrução em comento elenca os deveres do auditor no
exercício de suas atividades1.
O profissional que executa a Auditoria Independente é independente, sem ligação com
o quadro de funcionários da empresa, sendo que esta celebra um contrato de prestação de
serviços com o referido profissional. Assim, o auditor externo, também denominado de
auditor independente, é contratado pela empresa para determinada tarefa de auditoria, ou seja,
as tarefas desse profissional são delimitadas no contrato, tendo, portanto, caráter de trabalho
eventual (CREPALDI, 2002, p. 46).
As empresas que possuem suas ações negociadas em bolsa de valores, em especial as
Sociedades Anônimas, possuem a obrigatoriedade de prestar contas para os seus diversos
acionistas. Geralmente, tais empresas mantêm grande volume de operações e são dirigidas por
um complexo quadro de gerentes e diretores. Dessa forma, vêem-se na necessidade de
contratar auditores completamente independentes, isto é, não-empregados e sem qualquer
vínculo ou dependência com a empresa (FLORENTINO, 1987, p. 142).
1
Art. 29. São deveres do auditor independente no exercício de suas atividades no âmbito do mercado de valores
mobiliários:
I - verificar se as informações e análises apresentadas no relatório da administração estão em consonância com as
demonstrações contábeis auditadas e informar à Comissão de Valores Mobiliários - CVM caso não estejam;
II - elaborar relatório circunstanciado, a ser endereçado à administração da entidade auditada, contendo
observações a respeito das deficiências ou da ineficácia dos controles internos e procedimentos contábeis da
entidade auditada;
III - comunicar à Comissão de Valores Mobiliários - CVM circunstâncias que possam configurar atos praticados
pelos administradores em desacordo com as disposições legais e regulamentares aplicáveis às atividades da
entidade auditada e/ou relativas à sua condição de entidade integrante do mercado de valores mobiliários, atos
estes que tenham, ou possam vir a ter reflexos sobre as demonstrações contábeis auditadas e eventuais impactos
nas operações da entidade;
IV - conservar em boa guarda, pelo prazo de 5 (cinco) anos, toda a documentação, correspondência, papéis de
trabalho, relatórios e pareceres relacionados com o exercício de suas funções;
V - dar acesso à fiscalização da Comissão de Valores Mobiliários - CVM a todos os documentos que tenham
servido de base à emissão do parecer de auditoria;
VI - possibilitar, no caso de substituição por outro auditor, resguardados os aspectos de sigilo e obtida a prévia
concordância da entidade auditada, o acesso do novo auditor contratado aos documentos e informações que
serviram de base para a emissão do último parecer de auditoria;
VII - comunicar à Comissão de Valores Mobiliários - CVM, no prazo máximo de 10 (dez) dias a contar do fato
ocorrido, os casos em que as demonstrações contábeis ou o parecer de auditoria, divulgados nos jornais em que
seja obrigatória a sua publicação, estejam em desacordo com as demonstrações contábeis auditadas ou com o
parecer originalmente emitido;
VIII - ao emitir parecer adverso ou com ressalva, indicar com clareza quais as contas ou subgrupos específicos
de ativo, passivo, resultado e patrimônio líquido que estão afetados e em quanto, bem como os efeitos nos
dividendos e no lucro/prejuízo por ação.
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Porém, além dessa imposição legal, existem outros motivos que levam uma empresa a
contratar um auditor independente. A empresa pode, por exemplo, valer-se da auditoria
independente: a) como medida de controle interno, requisitada pelos acionistas, proprietários,
sócios ou administradores; b) por imposição de um banco para ceder empréstimos, ou por
fornecedores para financiar a compra; c) para atender às exigências do estatuto ou contrato
social da própria empresa; d) para efeito de compra de outra empresa, fusão, incorporação e
cisão; e) e ainda para fins de consolidação das demonstrações contábeis (ALMEIDA, 1996).
Os trabalhos de auditoria independente são divididos em diferentes tipos de serviços,
podendo ser agrupados em três blocos, quais sejam: a) os trabalhos de auditoria de balanço; b)
os relativos à auditoria especial para levantamento de passivos ocultos (due diligence),
geralmente elaborados com o auxílio de advogados de diversas outras especialidades, como os
trabalhistas e os tributaristas; 3) os referentes à prestação de consultoria (JUNIOR, 2002, p.
28).
A auditoria de balanço é o serviço realizado mais comum pelas empresas de auditoria.
Este serviço é obrigatório, conforme já visto, para as empresas de capital aberto, segundo a lei
6.404/76, e tem o objetivo de emitir um parecer ou opinião sobre as demonstrações contábeis,
verificando se estas espelham a realidade e se estão de acordo com os Princípios
Fundamentais de Contabilidade (PFC). Esta auditoria tem um grau elevado de planejamento e
supervisão, através do uso intensivo de papéis de trabalho, e é dividida em duas fases
denominada fase preliminar e fase final (ALMEIDA, 1996).
A fase preliminar constitui a avaliação dos controles internos. Esta avaliação
determina a aplicação dos procedimentos de auditoria, ou seja, quanto menos efetivos forem
os controles internos, mais intensos deverão ser os testes de auditoria (ALMEIDA, 1996).
A fase final compreende a visita que o auditor faz à empresa, após o encerramento do
exercício social, e depois de analisadas as demonstrações contábeis, emite uma opinião, ou
seja, o parecer (ALMEIDA, 1996).
As etapas para a execução do programa de auditoria são divididos em três, quais
sejam: a visita de ínterim, a visita preliminar e a visita final (CREPALDI, 2002, p. 307).
A visita de ínterim tem o objetivo de testar e avaliar os sistemas de controles internos
da empresa, como base para quantificar a extensão, profundidade e oportunidade do trabalho
de auditoria independente (CREPALDI, 2002, 307).
A segunda visita do auditor independente, denominada visita preliminar, ou também
conhecida como visita de pré-balanço, é concretizada perto da data de encerramento do
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balanço do final do exercício, podendo ocorrer nos meses de novembro e dezembro, no caso
de empresas que encerram o exercício em 31 de dezembro (CREPALDI, 2002, p.308).
Por fim, a visita final, como o próprio no supõe, é a última visita efetuada pelo auditor
independente. Esta visa a emissão, por parte deste profissional, de um parecer acerca da
fidedignidade das demonstrações contábeis da empresa (CREPALDI, 2002, p.309).
Os serviços de auditoria especial tem o objetivo de apurar a integridade dos valores
dos ativos e passivos, procurando saber se eles estão corretamente avaliados, no sentido de
verificar se os seus valores encontram-se defasados ou avultados. Geralmente, esse
procedimento é feito previamente em operações de privatização, aquisição, fusão ou
incorporação (ALMEIDA, 1996).
Como esse tipo de serviço procura garantir a integridade patrimonial espelhada nas
demonstrações contábeis, ou seja, procura obter a comprovação integral dos ativos e passivos
avaliados na empresa, os controles internos não são amplamente avaliados, como seria na
auditoria de balanços. Também, na execução deste trabalho de auditoria especial, as fraudes
são avaliadas com importante aprofundamento, objetivando dimensionar o seu volume com
relação ao total dos ativos.
A Instrução CVM 308, emitida em 14 de maio de 1999, artigo 23, incisos I e II
estabelece regras de impedimento aos auditores independentes, vedando a realização de
auditoria quando este adquirir ou manter valores mobiliários da entidade, suas controladas,
controladoras ou integrantes de um mesmo grupo econômico, bem como se prestarem
serviços de consultoria, o que caracteriza a perda da sua objetividade e independência.
A instrução CVM 308 significa um avanço das normas brasileiras, no que concerne à
diminuição dos conflitos de interesses entre auditores e empresas auditadas.2
Outras regras da mesma instrução estão em vigor e são abrangentes. Dentre elas, pode-
se destacar a exigência do controle interno e externo de qualidade e a implantação de
programa de educação continuada.
2
A instrução CVM 308, no seu artigo 31, dispõe sobre a rotatividade dos auditores: a empresa de auditoria não
pode prestar serviços a uma mesma instituição por um prazo de cinco anos consecutivos, sendo estabelecido um
prazo de intervalo de três anos para a recontratação. Dessa forma, a referida instrução representa um avanço na
legislação brasileira, especificamente neste quesito da rotatividade dos auditores independentes, visto que a
convivência próxima e longa entre auditores independentes e seus clientes pode gerar resultados viciados,
comprometendo a própria independência do profissional da auditoria. Destarte, um dos maiores benefícios da
Instrução CVM 308 é justamente o rodízio de firmas de auditoria, que propicia um incentivo para se resistir às
pressões. (OLIVEIRA, 2005). Tal medida disposta na referida instrução, a respeito da rotatividade dos auditores,
visa especificamente o não comprometimento da qualidade do serviço de auditoria através da garantia da real
independência do auditor.
13
3
Neste tipo de auditoria, a extensão e a profundidade dos procedimentos de auditoria que serão empregados
dependerão da investigação e da qualidade da prova a ser obtida. Estes procedimentos compreendem a
comprovação física e contagens, a confirmação de terceiros, o exame dos documentos de suporte das operações,
a conferência de cálculos, o rastreamento de escrituração, a análise crítica e minuciosa, o inquérito, que consiste
na formulação de perguntas e na obtenção de respostas satisfatórias, o exame de registros auxiliares, a correlação
entre saldos e informações e a observação das atividades. (CREPALDI, 2002, p.151)
14
Segundo Mayoral (1997) apud Cordeiro (2003, p. 2), contabilidade criativa objetiva:
“transformar as contas anuais do que tem que ser no que se prefere que seja, onde para a
implantação deste tipo de prática se requer encobrir os princípios e normas contábeis, ou
abandonar a uniformidade na sua aplicação.”
A contabilidade criativa pressupõe uma ação má intencionada, que visa obter uma
vantagem indevida através da manipulação contábil, eivando de vício as demonstrações
contábeis, fazendo-as, portanto, com que não espelhem a realidade da empresa.
Contudo, deve-se diferenciar o que seria fraude e erro, visto que pode ocorrer de
alguma demonstração contábil estar eivada de vício causado por um erro não intencional.
Mister, nesse ínterim, discorrer sobre fraudes e erros, distinguindo-os e verificando o seu uso
dentro do contexto da Contabilidade criativa.
A fraude e o erro nas empresas devem ser definidos para que se possa distingui-los
para saber o que se enquadra dentro da contabilidade criativa.
Mister reproduzir parte da Resolução nº 820/1997, do Conselho Federal de
Contabilidade, in verbis:
Paulo Henrique Teixeira (2010, p.5) afirma que o conceito de fraude e erro, segundo o
Conselho Federal de Contabilidade – CFC, define, para o Contador, o que se enquadra como
fraude. Assim, o profissional que agir de forma intencional adulterando, falsificando,
suprimindo, manipulando e alterando documentos, lançamentos contábeis e as demonstrações
contábeis, sabe que está agindo fraudulenta e criminosamente contra a empresa, sócios
minoritários, fornecedores, instituições financeiras, governo, sociedade e outras partes
interessadas. Atuando fraudulentamente assume responsabilidade, responde perante a
empresa, os sócios, fornecedores, bancos, etc. com seus bens.
O Instituto dos Auditores Internos do Brasil – AUDIBRA (1992, p.228-229), define a
fraude como uma forma de irregularidade envolvendo práticas criminosas para obter uma
injustiça ou vantagem ilegal. Refere-se a atos cometidos com a intenção de enganar,
envolvendo mau uso dos ativos ou irregularidades intencionais de informação financeira, ou
para ocultar mau uso dos ativos ou para outros propósitos por meio de: manipulações,
falsificações ou alterações de registros e documentos; supressão de informações dos registros
ou documentos; registro de transações sem substância; e mau uso de normas contábeis.
Fraude, no Direito Internacional, no seu sentido etimológico e jurídico, compreende a
tergiversação 4 da verdade tendo como intenção enganar terceiros, causando-lhe danos, que
normalmente são de caráter econômico (SANTOS, 2003, p. 11).
Ainda segundo o autor, “qualquer manipulação da informação contábil que contenha
uma distorção na conformação correta desta deve ser entendida como uma espécie de fraude”
(SANTOS, 2003, p.11).
Fraude é definida como “um ato intencional por parte de um ou mais indivíduos dentre
os membros administrativos, empregados ou terceiros, que resulta em declarações falsas das
demonstrações contábeis” (International Federation of Accountants – IFAC, Tema 240,
p.53).
As fraudes são preparadas ou manipuladas de modo que o fraudador obtenha
benefícios, para apresentar situações contábeis artificiais, ou para lesar os cofres públicos na
questão tributária (FLORENTINO, 1987, p. 131).
Muitos erros e fraudes são dissimulados na escrituração contábil. Porém, há fraudes
que são executadas pela não escrituração de determinados atos, ou seja, são irregularidades
praticadas contra o patrimônio, sendo que as mesmas não são contabilizadas, podendo ser
4
Tergiversar no sentido de voltar as costas, usar de evasivas, procurar rodeios, empregar subterfúgios, hesitar.
(Dicionário MICHAELIS on-line, Editora Melhoramentos Ltda, UOL, 2009)
16
apuradas somente pela apuração física dos bens e valores patrimoniais (FRANCO, 2001, p.
215).5
É certo que as fraudes cometidas pelas empresas com a ajuda dos contadores e com a
conivência dos auditores independentes, certamente pode ser considerada uma conduta
passível de ser responsabilizada, inclusive no campo penal, conforme será abordado
posteriormente.
Diante de todo o exposto, pode-se afirmar que a contabilidade criativa é uma espécie
de fraude, pois, é uma técnica utilizada para manipular os demonstrativos contábeis de uma
empresa, com vistas a não espelhar a real situação patrimonial da mesma, objetivando obter
alguma vantagem indevida, conforme já comentado.
Evidenciada a contabilidade criativa como espécie de fraude, mister discorrer sobre a
relação entre esse tipo de prática e o erro.
5
Algumas empresas que não têm auditoria permanente costumam contratar auditores independentes para prestar
serviços de auditoria específica para detecção de erros ou fraudes. Neste caso, a administração da empresa sabe
que existem irregularidades, como, por exemplo, de desvios de estoques ou de valores; falta de prestação de
contas de cobradores e responsáveis pelos valores a receber; ou outros casos que prejudicam patrimonialmente a
empresa. Porém, os administradores desconhecem a causa da irregularidade ou não sabem quantificar os valores
desviados e nem identificar a autoria dos envolvidos nas práticas ilícitas. Esse é o caso da auditoria específica,
eventual e parcial, mas efetuada com profundidade, visando ao exame integral dos registros e controles relativos
a determinado elemento patrimonial. (FRANCO, 2001, p. 215).
17
6
São exemplos de erros: a) erro de execução na compilação da linguagem de inventário; b) contabilização do
benefício fiscal pela compensação de prejuízo existente anteriormente à data de aquisição da subsidiária ou
coligada como redução do imposto de renda em vez de redução no preço de aquisição do investimento; c) deixar
de considerar duplicatas entregues ao departamento jurídico para cobrança ao estimar a provisão para créditos de
liquidação duvidosa. (CREPALDI, 2002, p.115-116)
18
2 A RESPONSABILIZAÇÃO PENAL
A responsabilização penal passou por uma evolução histórica e teórica, sendo que o
conceito de crime foi influenciado diretamente pela Escola Clássica, movimento que teve
início em meados do século XIX.
Para que se possa entender a responsabilização penal, importante discorrer sobre a
referida Escola Clássica, passando pelo sistema causal-naturalista, sistema neoclássico,
finalista, social e até o momento em que o crime é concebido na atualidade.
7
As principais inovações deste anteprojeto foram: 1) a reformulação do instituto de erro, adotando-se a distinção
entre erro de tipo e erro de proibição como excludentes da culpabilidade; 2) a norma especial referente aos
crimes qualificados pelo resultado para excluir-se a responsabilidade objetiva; 3) a reformulação do capítulo
referente ao concurso de agentes para resolver o problema do desvio subjetivo entre os participantes do crime; 4)
a extinção da divisão entre penas principais e acessórias e a criação das penas alternativas (restritivas de direito)
para os crimes de menor gravidade; 5) a criação da chamada multa reparatória (retirada do anteprojeto antes de
transformar-se em Lei); 6) o abandono do sistema duplo-binário das medidas de segurança e a exclusão da
presunção de periculosidade. (MIRABETE, 2003, p. 44)
21
O crime é concebido por três correntes, quais sejam, o conceito formal, o conceito
material e o conceito analítico (ou dogmático) (CALLEGARI, 2009).
Pelo conceito formal, o crime é definido como todo o fato humano que é proibido pela
lei penal, ou seja, o fato tipificado na lei penal a qual atribui a respectiva pena. É o mais
simples dos conceitos, visto que considera apenas o aspecto externo do fato criminoso e não o
seu conteúdo (CALLEGARI, 2009).
Dentro do aspecto formal, considerar a existência de um crime sem levar em conta sua
essência ou lesividade material afronta o princípio constitucional da dignidade humana
(CAPEZ, 2005, p.112).
Portanto, é preciso complementar o conceito formal de crime. O autor Mirabete ensina
que para constituir-se crime, o ato deve infringir uma lei (princípio da legalidade) promulgada
(disposta em lei positivada, desconsiderando, portanto, leis morais ou religiosas), porém
também visa proteger a segurança dos cidadãos (tutela dos bens jurídicos). O crime é um ato
que viola a tutela do Estado, sendo que, a cogitação ou intenção do ato criminoso não é
punível. Tal ato pode ser “positivo” (quando feito por ação), ou “negativo” (quando não é
feito o que se devia fazer). Esses são os ensinamentos de Carrara (MIRABETE, 2003, p. 39).
No conceito material, o crime é todo fato humano que lesiona um interesse de forma a
comprometer as condições de existência, conservação e desenvolvimento da sociedade.
Assim, tal conceito preocupa-se com o conteúdo do crime, considerando o caráter danoso da
ação ou o seu desvalor social, no sentido da importância que uma determinada sociedade dá
àquilo que considera que deva ser proibido pela legislação penal. Contudo esse conceito
perdeu o seu valor a partir do advento da reserva legal, a qual alguém somente pode ser
punido se existir uma lei que tipifique a ação. Destarte, uma ação é considerada criminosa
somente se estiver disposta em lei penal. O desvalor da ação servirá apenas como parâmetro
ao legislador na fase pré-legislativa (CALLEGARI, 2009).
Finalmente, dentro do conceito analítico ou dogmático, o crime é concebido em duas
teorias, quais sejam, a bipartida e a tripartida.
22
Dentre alguns autores que defendem a teoria bipartida, pode-se citar, por exemplo,
Battaglini, Mezger, Schönke, Basileu Garcia, Rene Ariela Dotti, Damásio de Jesus, Júllio
Fabbrini Mirabete, Luiz Flávio Gomes, Juarez Tavares e Fernando Capez. 8
Já na teoria tripartida, o crime é toda ação típica, antijurídica e culpável, sendo estes
requisitos exigíveis para que a ação seja considerada criminosa (CALLEGARI, 2009).
Dentre alguns autores que defendem a teoria tripartida, pode-se citar, por exemplo,
Heleno Cláudio Fragoso, Cezar Roberto Bitencourt, Francisco de Assis Toledo e André Luis
Callegari9.
Adentrando apenas no conceito analítico, que, como comentado acima, divide-se nas
duas teorias, quais sejam, a bipartida e a tripartida, importante investigar sobre a sua
evolução.
O conceito analítico surge com o advento dos avanços científicos do final do século
XIX e início do século XX, com a finalidade de aprofundar-se no estudo do desenvolvimento
das normas penais através do isolamento das partes componentes do delito, facilitando a
aplicação do direito com o consequente enquadramento lógico dos fatos concretos nas
8
A teoria bipartida defende que o crime é toda conduta típica e antijurídica, não se incluindo neste conceito a
punibilidade da conduta, isto porque, na realidade, a mesma não faz parte do delito, constituindo, na verdade, a
sua consequência. (TAVARES, 1980, p.12)
Seguindo o mesmo enfoque, Fernando Capez aponta que a culpabilidade não integra o conceito de crime. Sob
esse prisma, crime é todo fato típico e ilícito. Assim, em primeiro lugar, deve-se observar a tipicidade da
conduta. Caso positivo, e só nesse caso, averigua-se se a conduta é ilícita ou não. Sendo fato típico e ilícito já
surge a infração penal. A partir daí, averiguar-se-á se o autor foi culpado ou não da sua prática, isto é, se deve ou
não sofrer um juízo de reprovação pelo crime que cometeu. (CAPEZ, 2005, p.112)
Ademais, o referido autor esclarece que a culpabilidade não pode ser um elemento externo de valoração exercido
sobre o autor do crime e, ao mesmo tempo, estar dentro dele. Segundo o autor, não existe crime culpado, mas
autor de crime culpado. (CAPEZ, 2005, p.113)
9
Parte da doutrina no Brasil adota a teoria bipartida do crime, segundo a qual crime é a ação típica e antijurídica,
admitindo a culpabilidade somente como mero pressuposto da pena. Porém, outros doutrinadores adotam a teoria
tripartida, na qual, dentro do conceito analítico, o crime é uma ação típica, antijurídica e culpável.
(BITENCOURT, 2004, p.192)
Tipo é o conjunto dos elementos do fato punível descrito na lei penal. Dessa forma, o tipo é um modelo abstrato
que descreve um comportamento proibido. Destarte, o tipo é uma figura puramente conceitual. Antijuridicidade
é a valoração da conduta proibida, ou seja, tipificada. Por sua vez, o injusto é a conduta valorada de antijurídica.
Assim, injusto é toda e qualquer conduta típica e antijurídica, mesmo que não seja culpável. Voltando para o
crime, este é o injusto culpável. Logo, o injusto, ainda que seja uma conduta antijurídica, pode não se completar
como crime efetivamente, pela falta da culpabilidade. (BITENCOURT, 2004, p.246)
O presente trabalho acompanha o entendimento da teoria tripartida, mesmo porque as colocações do terceiro
capítulo apontam para a questão de que para constituir-se crime, o mesmo deve conter o elemento culpável.
Destarte, entende-se que o crime é uma conduta típica, antijurídica e culpável.
23
Como visto, a conduta é o primeiro requisito exigido para que um fato possa ser
considerado criminoso. Assim, sem uma conduta humana, não há crime. Contudo, a conduta
pode ser comissiva (uma ação positiva) ou omissiva (uma não-ação, uma abstenção, portanto,
negativa) (CALLEGARI, 2009, p.45).
Tipicidade é outro elemento do crime. Este é considerado nas teorias bipartida e
tripartida. Trata-se da correspondência da conduta concreta praticada à descrição abstrata
contida na norma penal. Assim, uma conduta humana, comissiva ou omissiva, será um fato
típico quando prevista na norma penal como proibida (CALLEGARI, 2009, p.45).
Antijuridicidade, considerado nas teorias bipartida e tripartida, é elemento do crime.
Importante, neste prisma, esclarecer que antijuricidade e ilicitude são sinônimos. Dessa forma,
deve-se investigar se a ação, mesmo sendo típica, reveste-se de contrariedade ao ordenamento
jurídico. Ocorre que a regra do Direito Penal é que todo fato típico é também antijurídico, a
não ser que a conduta foi praticada em razão de uma causa de justificação, ou seja, uma
excludente de ilicitude (legítima defesa, estado de necessidade etc.). Destarte, a conduta típica
pode não ser antijurídica quando a mesma é praticada em virtude de alguma causa de exclusão
da antijuridicidade. Nesse caso, mesmo a conduta sendo típica, não há crime por ausência de
um de seus requisitos, qual seja, a antijuridicidade (CALLEGARI, 2009, p.46).
Superados os elementos da tipicidade e antijuridicidade, passa-se a analisar a
culpabilidade do agente. Sobre este assunto, explanar-se-á no tópico seguinte.
24
2.3 Culpabilidade
2.4 Dolo
10
Damásio E. de Jesus adota a teoria finalista da ação. Tal teoria integra a conduta, pois, segundo o autor, a ação
e a omissão não constituem simples formas naturalísticas de comportamento, mas ações ou omissões dolosas.
Assim, dolo é a vontade de concretizar as características objetivas do tipo, constituindo elemento subjetivo
implícito do tipo. Destarte, para o autor, dolo não é espécie ou elemento da culpabilidade, mas sim, integra a
conduta. (JESUS, 2003, p.287)
Fernando Capez, adotando a mesma teoria, faz um silogismo à respeito do dolo. Para o autor, dolo é o elemento
psicológico da conduta. Esta é um dos elementos do fato típico. Portanto, dolo é um dos elementos do fato típico.
Concluindo, dolo é a vontade e a consciência de realizar os elementos do tipo legal. Ampliando o conceito, dolo
é a vontade manifestada pela pessoa humana de realizar a conduta. (CAPEZ, 2005, p.198)
26
com o objeto ao qual ele se refere. Dolo é conceito construído pela doutrina, existindo na
qualidade de conceito classificatório no mundo das construções jurídicas. Já a vontade
(intenção) de praticar algum comportamento é dado da realidade natural. Por fim, infere-se
que dolo é concepção jurídica do magistrado, enquanto que intenção é a vontade de agir do
réu (GALVÃO, 2009, p.173).
Ressalte-se que nem toda intenção é objeto de apreciação do Direito Penal. Somente a
intenção que se correlaciona com uma conduta tipificada é que interessa ao Direito Penal
(GALVÃO, 2009, p.173-174).
Callegari considera o dolo sob dois aspectos, quais sejam, o elemento intelectual e o
elemento volitivo (CALLEGARI, 2009, p.103-104).
O elemento intelectual é aquele em que o agente conhece os elementos e todas as
circunstâncias objetivas do tipo penal. Assim, para agir dolosamente, o agente sabe o que faz
e conhece os elementos que caracterizam sua ação como ação tipificada. Neste prisma, é
dizer, por exemplo, que, no homicídio, o agente sabe que matou outra pessoa e que matar
alguém é tipificado como crime no Código Penal (CALLEGARI, 2009, p.103-104).
Já o elemento volitivo, é a vontade do agente em realizar a conduta tipificada. Não se
trata da vontade genérica da ação, mas precisamente a vontade de realizar a conduta típica, o
querer realizar todos os elementos objetivos do tipo em que se conhece (CALLEGARI, 2009,
p. 104).
O dolo possui diferentes teorias, quais sejam, teoria do consentimento ou da
aprovação; teoria do assentimento e teoria do conhecimento. Dentro desta última, há a teoria
da representação e a teoria da probabilidade (CALLEGARI, 2009, p.104-106).11
A teoria do consentimento ou da aprovação considera que o agente aceitou ou aprovou
a previsão do resultado. Assim, no seu interior, o sujeito que praticou um ato tipificado,
aprovou a produção do mesmo anteriormente à sua conduta, ou seja, já concordou com o
resultado antes da prática delituosa (CALLEGARI, 2009, p.104).
A teoria do assentimento coaduna-se com a indiferença do agente em praticar o ato
delituoso. Em outras palavras, o agente aceita as consequências de sua conduta com
indiferença (CALLEGARI, 2009, p.105).
11
Fernando Capez não menciona a teoria do conhecimento. Porém, explica sobre a teoria da representação sem,
contudo, mencionar sobre a teoria da probabilidade. Este autor menciona apenas três teorias, quais sejam, a
teoria da vontade (onde o dolo é a vontade de realizar a conduta e produzir o resultado), a teoria da representação
e a teoria do assentimento ou consentimento, essas últimas apresentadas no presente trabalho. (CAPEZ, 2005,
p.200).
27
No dolo direto, o agente deseja o resultado de sua ação. Assim, a vontade do agente é
dirigida à realização do fato típico. O objeto do dolo direto é o fim proposto, os meios
escolhidos (estes dois classificados como dolo de primeiro grau) e os efeitos colaterais
(classificado como dolo de segundo grau) representados como necessários à realização do fim
pretendido (BITENCOURT, 2004, p.260).
Como exemplo do dolo de primeiro grau, pode-se citar o caso do agente que mata
alguém, desferindo-lhe um tiro para atingir o resultado pretendido (BITENCOURT, 2004,
p.260).
Cita-se outro exemplo de dolo direto de primeiro grau, mais voltado para o escopo do
presente trabalho. Imagine uma grande empresa que está sendo oferecida para venda. Para
facilitar a venda, esta empresa confeccionou os demonstrativos contábeis dos últimos três
anos demonstrando que apresentou lucros excepcionais. A atual administração da referida
empresa contrata um auditor independente e promete pagar-lhe um determinado percentual
sobre o valor da venda para que o mesmo emita um parecer sem ressalvas sobre os referidos
demonstrativos contábeis, com o fim de esconder uma fraude grave, qual seja, a de que a
empresa, nos últimos três anos apresentou, na realidade, prejuízos reiterados. Ao analisar os
demonstrativos contábeis com o parecer sem ressalvas do auditor independente, o potencial
comprador é induzido a pagar um valor muito maior do que a empresa valeria na realidade.
Concretizada a venda, o auditor independente recebe o seu percentual sobre o valor da venda,
alcançando o resultado almejado através do ilícito praticado. Portanto, o auditor agiu com
dolo classificado como de primeiro grau.
Já no dolo de segundo grau, por exemplo, o agente que, visando matar uma pessoa
definida, coloca uma bomba em um trem, que explode, matando todos que lá estão. Neste
caso, com relação à vítima visada, há o dolo de primeiro grau. Já com relação às outras
vítimas, o dolo é de segundo grau (BITENCOURT, 2004, p.260).
Agora, imagine uma empresa que vai lançar no mercado as suas primeiras ações para
serem negociadas na bolsa de valores. Essa empresa confecciona seus demonstrativos
contábeis dos últimos três anos totalmente eivados de fraudes de toda espécie, de forma que
os lucros líquidos no final de todos os exercícios demonstrem um crescimento exponencial. A
empresa contrata um auditor independente para que emita um parecer sem ressalvas, de modo
a esconder as referidas fraudes, prometendo-lhe pagar um percentual sobre a venda de suas
ações iniciais. O potencial mercado investidor, ao analisar os demonstrativos contábeis da
empresa, verifica que fora emitido um parecer sem ressalvas por parte da auditoria
independente. Assim, investidores compram as ações iniciais da empresa, resultando em um
29
sucesso de vendas. O auditor independente recebe o seu percentual prometido, apesar de não
saber quais investidores compraram as ações da empresa. Dessa forma, o auditor
independente cometeu um ilícito, chegando ao resultado almejado, causando um efeito
colateral aos investidores lesados, ou seja, agindo com dolo classificado como de segundo
grau em relação aos investidores lesados.
Nesse contexto, o dolo direto contém três aspectos, quais sejam: a representação do
resultado, dos meios necessários e das consequências secundárias; o querer o resultado, bem
como os meios escolhidos para a sua consecução; o anuir na realização das consequências
previstas como certas, necessárias ou possíveis, decorrentes do uso dos meios escolhidos para
atingir o fim proposto ou da forma de utilização desses meios (BITENCOURT, 2004, p.260).
No dolo eventual, o agente não quis a realização do tipo, mas o aceita como possível
ou até provável, assumindo o risco da produção do resultado (BITENCOURT, 2004, p.260).
Ressalte-se que a consciência e a vontade, que integram o dolo, devem estar presentes
no dolo eventual. Afinal, é imprescindível que haja uma relação de vontade entre o resultado e
o agente, pois é exatamente esse elemento volitivo que diferencia o dolo da culpa
(BITENCOURT, 2004, p.262).
Em síntese, distingue-se o dolo direto do eventual afirmando-se que “o primeiro é a
vontade por causa do resultado; o segundo é a vontade apesar do resultado” (BITENCOURT,
2004, p.263).
Contudo, como o objetivo deste trabalho não é aprofundar no estudo do dolo, não se
discorrerá a respeito de todas as espécies, mesmo porque, não há diferenciação de pena
conforme a espécie de dolo. Assim, independente da espécie de dolo que o agente se submeta,
a pena será a mesma para o crime que o agente cometeu (CALLEGARI, 2009, p. 107).
2.5 Culpa
Culpa constitui uma conduta voluntária, sem intenção de produzir o resultado ilícito,
porém, previsível. Trata-se, portanto, da inobservância do dever de cuidado, de diligência ao
realizar condutas de forma que estas não causem danos aos bens jurídicos de outras pessoas.
Em outras palavras, é a ausência do chamado cuidado objetivo exigível nas relações em
sociedade (CALLEGARI, 2009, p.108).
30
[...] os elementos do fato típico culposo são: conduta humana e voluntária, de fazer
ou não fazer, inobservância do cuidado objetivo, manifestada por meio da
imprudência, negligência ou imperícia, previsibilidade objetiva, ausência de
previsão, resultado involuntário, nexo de causalidade e tipicidade (CALLEGARI,
2009, p.108).
atitude negativa praticada pelo agente, que não faz algo que deveria ter feito (CALLEGARI,
2009, p.110).
Imperito é o que pratica o ato com falta de aptidão, habilidade técnica para o exercício
de arte ou profissão a ser praticada. Portanto, a culpa por imperícia materializa-se a partir do
momento em que o agente, não considerando o que sabe, ou deveria saber, causa prejuízo a
outrem (CALLEGARI, 2009, p.110).
A diferença primordial entre o tipo doloso e o tipo culposo está na reprovabilidade
social da conduta. Assim, pode a conduta dolosa ou culposa ter o mesmo resultado
naturalístico, como por exemplo, o agente que mata alguém. Contudo, a reprovação jurídica
do fato praticado com dolo será mais grave. Em outras palavras, se satisfeitas as exigências do
tipo culposo, a reprovação jurídica dar-se-á com menor intensidade do que a reservada ao fato
doloso (GALVÃO, 2009, p.182).
Ressalte-se que o parágrafo único do artigo 18 do Código Penal de 1940 dispõe que só
pode ser punido o agente que pratica o ato por dolo, a não ser que a lei preveja o contrário.
Dessa forma, para que um crime seja considerado culposo, é necessário que seu tipo penal
expressamente preveja tal modalidade (CALLEGARI, 2009, p.110).
Entretanto, Fernando Capez (2005, p.206) destaca que a culpa não está descrita, nem
especificada, mas apenas prevista genericamente no tipo penal. Tal fato explica-se pelo
motivo da impossibilidade do legislador prever todas as possíveis maneiras de se praticar um
ato de forma culposa. Ou seja, é impossível, por exemplo, tentar elencar todas as maneiras de
se matar alguém culposamente. Dessa forma, é imprescindível que se proceda a um juízo de
valor sobre a conduta praticada pelo agente no caso concreto, comparando-a com a que o
“homem médio” teria na mesma situação.
Portanto, a culpa é concebida pela comparação que se faz entre o comportamento
realizado pelo agente no plano concreto e aquele que uma pessoa de prudência normal,
mediana, teria naquelas mesmas circunstâncias (CAPEZ, 2005, p.206).
Por fim, importante destacar que não existe no nosso ordenamento jurídico penal a
compensação de culpas. Assim, quando ocorrer concorrência de culpas, responderão ambos
os agentes pelos delitos que tiverem ocasionado (CALLEGARI, 2009, p.110).
32
12
Conforme dispõe o art. 4º, da Lei nº 6.385/76, a Comissão de Valores Mobiliários exercerá suas funções, a
fim de: assegurar o funcionamento eficiente e regular dos mercados de bolsa e de balcão; proteger os titulares de
valores mobiliários contra emissões irregulares e atos ilegais de administradores e acionistas controladores de
33
O art. 26 da Lei 6.385,76, que criou a Comissão de Valores Mobiliários, dispõe que
somente as empresas de auditoria ou auditores independentes registrados na Comissão de
Valores Mobiliários poderão auditar as demonstrações contábeis das empresas que operam
com valores mobiliários.13
Por sua vez, o artigo 11 da referida Lei, dispõe sobre as penalidades administrativas
aplicadas aos infratores da mesma Lei, incluindo os auditores independentes.
As referidas penalidades administrativas englobam, além de advertência e multa, a
suspensão, inabilitação temporária e cassação de registro de cargo que dependa de registro na
Comissão de Valores Mobiliários. Ressalte-se que o auditor independente, como já visto,
necessita de registro na referida Comissão de Valores Mobiliários.
No caso da aplicação de multa, esta não pode ultrapassar o valor de R$ 500.000,00.
Contudo, se o infrator for reincidente, a multa poderá ser aplicada até o triplo do referido
valor, conforme disposto em Lei.14
Apesar de toda essa regulamentação, os investidores ainda não estão protegidos na sua
plenitude, visto que a todo momento surgem novos casos de fraudes envolvendo a emissão de
ações de empresas que usam da contabilidade criativa para modificar seus demonstrativos
contábeis.
Nesse contexto, os investidores, melhor dizendo, a sociedade vive uma sensação de
insegurança, ou como o autor Sanches prefere denominar, a população vive a era da
“sociedade do medo”. Com efeito, uma das características mais importantes das sociedades da
era pós-industrial é a sensação generalizada de insegurança, isto é, o surgimento de uma
forma especial de viver com riscos elevados. Assim, é certo que os novos riscos tecnológicos
e não tecnológicos existem. Mas, a própria diversidade e complexidade social, com sua
enorme pluralidade de opções, com a existência de uma gama de informações somada à falta
VIII - proibição temporária, até o máximo de dez anos, de atuar, direta ou indiretamente, em uma ou mais
modalidades de operação no mercado de valores mobiliários.
§ 1º A multa não excederá o maior destes valores:
I - R$ 500.000,00 (quinhentos mil reais);
II - cinquenta por cento do valor da emissão ou operação irregular; ou
III - três vezes o montante da vantagem econômica obtida ou da perda evitada em decorrência do ilícito.
§ 2º Nos casos de reincidência serão aplicadas, alternativamente, multa nos termos do parágrafo anterior, até o
triplo dos valores fixados, ou penalidade prevista nos incisos III a VIII do "caput" deste artigo.
§ 3º Ressalvado o disposto no parágrafo anterior, as penalidades previstas nos incisos III a VIII do "caput" deste
artigo somente serão aplicadas nos casos de infração grave, assim definidas em normas da Comissão de Valores
Mobiliários.
§ 4º As penalidades somente serão impostas com observância do procedimento previsto no § 2º do art. 9º desta
Lei, cabendo recurso para o Conselho de Recursos do Sistema Financeiro Nacional.
§ 5º A Comissão de Valores Mobiliários poderá, a seu exclusivo critério, se o interesse público permitir,
suspender, em qualquer fase, o procedimento administrativo instaurado para a apuração de infrações da
legislação do mercado de valores mobiliários, se o investigado ou acusado assinar termo de compromisso,
obrigando-se a:
I - cessar a prática de atividades ou atos considerados ilícitos pela Comissão de Valores Mobiliários; e
II - corrigir as irregularidades apontadas, inclusive indenizando os prejuízos.
§ 6º O compromisso a que se refere o parágrafo anterior não importará confissão quanto à matéria de fato, nem
reconhecimento de ilicitude da conduta analisada.
§ 7º O termo de compromisso deverá ser publicado no Diário Oficial da União, discriminando o prazo para
cumprimento das obrigações eventualmente assumidas, e constituirá título executivo extrajudicial.
§ 8º Não cumpridas as obrigações no prazo, a Comissão de Valores Mobiliários dará continuidade ao
procedimento administrativo anteriormente suspenso, para a aplicação das penalidades cabíveis.
§ 9º Serão considerados, na aplicação de penalidades previstas na lei, o arrependimento eficaz e o
arrependimento posterior ou a circunstância de qualquer pessoa, espontaneamente, confessar ilícito ou prestar
informações relativas à sua materialidade.
§ 10. A Comissão de Valores Mobiliários regulamentará a aplicação do disposto nos §§ 5º a 9º deste artigo aos
procedimentos conduzidos pelas Bolsas de Valores, Bolsas de Mercadorias e Futuros, entidades do mercado de
balcão organizado e entidades de compensação e liquidação de operações com valores mobiliários.
§ 11. A multa cominada pela inexecução de ordem da Comissão de Valores Mobiliários, nos termos do inciso II
do "caput" do art. 9º e do inciso IV de seu § 1º não excederá a R$ 5.000,00 (cinco mil reais) por dia de atraso no
seu cumprimento e sua aplicação independe do processo administrativo previsto no inciso V do "caput" do
mesmo artigo.
§ 12. Da decisão que aplicar a multa prevista no parágrafo anterior caberá recurso voluntário, no prazo de dez
dias, ao Colegiado da Comissão de Valores Mobiliários, sem efeito suspensivo."
35
de critérios para uma decisão sobre o que é mal e sobre em quem se pode confiar, constitui
uma série de dúvidas, incertezas, ansiedades e insegurança (SANCHES, 2001, p.32).
Neste prisma, à vista de todos os acontecimentos dos últimos anos, resulta em uma
relação de sensação social de insegurança frente aos novos delitos (leia-se fraudes) praticados
pelas empresas e pelos diversos profissionais e encobertos pelos meios de comunicação.
Ressalte-se que os meios de comunicação pertencem aos níveis privilegiados e, por
consequência, podem ser manipulados, transmitindo uma imagem de “realidade”, em que
determinadas empresas mostram-se fiéis à sociedade como um todo. Tal efeito pode dar lugar
à percepções inexatas, ou, para os que percebem que poderão ser atingidos, causa uma
sensação de impotência, pois não há o que fazer (SANCHES, 2001, p.38).
Nesse aspecto, a sensação de insegurança da sociedade sofre um impulso devido aos
fenômenos que se mostram típicos das sociedades pós-industriais: a globalização econômica e
a integração supranacional. Com efeito, as peculiaridades exigidas da reação jurídico-penal
frente à delinquência própria das empresas parecem acentuar substancialmente as tendências
que modificarão os ordenamentos jurídicos nacionais, havendo, portanto, uma desconstrução
da concepção da teoria do delito, assim como a constituição mais adequada de garantias
formais e materiais do Direito Penal e do Direito Processual Penal (SANCHES, 2001, p.81).
Com efeito, o prognóstico do autor Sanches é que o Direito Penal da globalização
econômica e da integração supranacional será um Direito desde logo crescentemente
unificado, mas também menos garantista, no qual se flexibilizarão regras de imputação e se
relativizaram as garantias político-criminais, materiais e processuais. Neste ponto, portanto, o
Direito Penal da globalização acentua a tendência que já se percebe nas legislações nacionais,
de modo especial, nas últimas leis em matéria de luta contra a criminalidade econômica, o
crime organizado e a corrupção (SANCHES, 2001, p.82).
Esta hipótese se baseia em algumas constatações básicas. Por um lado, a globalização
envia ao Direito Penal demandas fundamentalmente práticas, em sentido de uma abordagem
mais eficaz da criminalidade. De outro lado, no ponto da reflexão científica, surge como
produto de uma aspiração intelectual de unidade ou de perfeição teórica. Assim, trata-se de
responder às exigências do poder político ou de instâncias de aplicação judicial do Direito,
impotentes na luta dos ordenamentos nacionais contra a criminalidade transnacional.
O resultado de toda essa insegurança vivida pela sociedade corresponde-se de modo
exato com a existência objetiva de riscos dificilmente controláveis, ou sensivelmente
controláveis que afetam cada indivíduo de modo imediato (SANCHES, 2001, p.32).
36
Como exemplo disso, pode-se citar o caso da quebra de várias empresas nos Estados
Unidos quando do estouro da bolha especulativa imobiliária que resultou na liquidação de
várias instituições financeiras e uma demissão em massa dos funcionários de diversas
organizações.
É certo que a sociedade vive momentos contínuos de transformação, principalmente
pelo aparecimento constante de novas modalidades de condutas que provocam danos à
sociedade.
O auditor independente está inserido neste contexto, visto que este profissional é
fundamental para que a sociedade sinta-se segura no aspecto de confiar ou não em
determinada empresa. Neste sentido, a sociedade (em especial os investidores) utiliza os
pareceres dos auditores independentes como instrumento de tomada de decisão de
investimentos, visto que o parecer averigua a veracidade dos demonstrativos contábeis das
empresas.
Destarte, o auditor é uma figura fundamental na sociedade moderna e no contexto
econômico atual, sendo imprescindível que tal profissional tem o dever principal de ser probo
e ter uma conduta absolutamente ilibada. Desta feita, o auditor deve ser responsabilizado
penalmente pelas suas condutas, mesmo porque qualquer ilicitude por parte deste profissional
pode causar desde uma lesão a um investidor até um colapso econômico mundial, como o que
ocorreu nos Estados Unidos, onde várias empresas utilizaram-se da contabilidade criativa e
com o respaldo de auditores independentes, causaram prejuízos astronômicos na economia
mundial.
Ademais, ressalte-se que no Brasil, para amenizar o nível de insegurança sentido pela
sociedade, em especial pelos investidores, à eles é assegurado o acesso às informações
financeiras e contábeis das empresas às quais sejam acionistas, tendo, dessa forma, direito ao
acesso às informações constantes do trabalho de auditoria independente, não importando em
quebra de sigilo profissional. Para corroborar tal assertiva, cita-se o julgado abaixo.
Sobre os crimes de “Colarinho Branco”, o assunto foi discutido, ainda em 1940, por
Edwin H. Sutherland. Este autor escreveu um artigo sobre o crime relacionado aos negócios,
dando origem ao nome “White-Collar Criminality”, ou seja, “Crime do Colarinho Branco”
(SUTHERLAND, 1940, p. 1).
Sutherland, no final do seu artigo, apresentou as proposições de que o crime do
“Colarinho Branco” é um crime real, estando em todos os casos de violação da lei criminal.
Também propôs que esse crime difere da criminalidade realizada por indivíduos pertencentes
às classes sociais mais baixas, necessitando, portanto, da implementação de uma lei criminal
especialmente feita para sancionar os crimes de “Colarinho Branco”, tendo, assim, um
tratamento diferenciado com relação aos outros crimes (SUTHERLAND, 1940, p.11-12).
38
O autor também traz no seu trabalho que as teorias dos criminólogos daquela época
apontavam que o crime era cometido devido à pobreza ou às circunstâncias psicopatas e anti-
sociais dos agentes. Porém, as estatísticas da época, segundo o autor, apontavam que a
pobreza não era a causa dos crimes, primeiramente porque tais estatísticas eram derivadas de
amostras grosseiras, realizadas somente nas classes mais baixas da sociedade, não se
aplicando, portanto, aos criminosos do “Colarinho Branco”.
Em última colocação, o autor aponta que a pobreza realmente não é causa da
criminalidade, pois tais estatísticas não explicam mesmo a criminalidade das classes mais
baixas, em todos os seus fatores, pois estes não são relacionados a um processo característico
de toda a criminalidade existente (SUTHERLAND, 1940, p.12).
Ademais, concluiu o autor que era necessário formular teorias a respeito dos
comportamentos criminosos que expliquem o crime do “Colarinho Branco”, bem como a
criminalidade realizada nas classes mais baixas. Uma hipótese apresentada pelo autor foi
sugerida em termos de uma associação diferencial e desorganização social (SUTHERLAND,
1940, p.12).
A partir dessa publicação do autor Sutherland, os estudos sobre os crimes de
“Colarinho Branco” tomaram importante impulso e passaram a ser realizados amplamente por
vários estudiosos, até os dias atuais.
Analisando o estudo de Sutherland, infere-se que o crime do “Colarinho Branco” é
praticado por agente de alta posição social e respeitabilidade no exercício de sua atividade
profissional. Assim, essa definição aparece em contraposição aos outros demais delitos
existentes, denominados crimes convencionais.
Ocorre, portanto, que esse tipo de crime não pode ser explicado por razões de pobreza,
falta de educação, ínfima inteligência, nem mesmo por instabilidade emocional. Pelo
contrário, os agentes que cometem esse tipo de crime são detentores de um elevado status
social (MACEDO, 1998).
Pois bem, os crimes de “Colarinho Branco”, geralmente, são cometidos por agentes de
elevado status social e, por consequência, com possibilidades reais de contratar excelentes
advogados para defenderem suas causas, operando, assim, todo tipo de recurso existente no
Direito, e, postergando, de forma legal, a punição desse privilegiado criminoso.
Isso não acontece com os criminosos das classes mais baixas da sociedade, que
geralmente são atendidos por defensores públicos quase sempre atribulados de inúmeros
processos e assoberbados de incontáveis atividades.
39
Neste sentido, com relação às classes mais baixas, Maria Lucia Karam aponta o
seguinte.
...isolando, estigmatizando e ainda submetendo aqueles que seleciona ao inútil e
desumano sofrimento da prisão, o sistema penal faz destes selecionados
(marginalizados, humildes) pessoas mais desadaptadas ao convívio social e,
consequentemente, mais aptas a cometer novos crimes e agressões à sociedade,
funcionando, já por isso, como um alimentador da violência, o que faz da demanda
de maior repressão penal uma atitude um tanto sadomasoquista” (KARAM, 1991,
p.204).
3.2 Responsabilidade Penal dos Auditores Independentes que por Dolo ou Culpa não
Apontam Fraudes/Erros em seus Pareceres
O art. 171 do Código Penal tipifica o crime de estelionato no seu caput: “Obter, para si
ou para outrem, vantagem ilícita, em prejuízo alheio, induzindo ou mantendo alguém em erro,
mediante artifício, ardil, ou qualquer outro meio fraudulento”
40
Art. 1º Considera-se instituição financeira, para efeito desta lei, a pessoa jurídica de
direito público ou privado, que tenha como atividade principal ou acessória,
cumulativamente ou não, a captação, intermediação ou aplicação de recursos
financeiros (Vetado) de terceiros, em moeda nacional ou estrangeira, ou a custódia,
emissão, distribuição, negociação, intermediação ou administração de valores
mobiliários.
Parágrafo único. Equipara-se à instituição financeira:
I - a pessoa jurídica que capte ou administre seguros, câmbio, consórcio,
capitalização ou qualquer tipo de poupança, ou recursos de terceiros;
II - a pessoa natural que exerça quaisquer das atividades referidas neste artigo, ainda
que de forma eventual.
Em análise ao inciso II do citado artigo, importante ressaltar que a pessoa física que
exerça as atividades descritas no caput do artigo, mesmo que eventualmente, estará legitimada
a incorrer nas penas da Lei em questão.
Outra questão importante de ser ressaltada é que, indiretamente, as empresas de capital
aberto, que negociam suas ações na bolsa de valores, estão incluídas na Lei em comento. Isto
porque o inciso I do artigo 1º equipara à uma instituição financeira, a pessoa jurídica que
capta ou administra recursos de terceiros.15
Voltando para o auditor independente, o mesmo pode concorrer para o crime, no caso
da empresa auditada que incorre nas penas da legislação criminal. Com efeito, pode o auditor
15
Analisando ainda mais profundamente o referido inciso I, pode-se inferir que qualquer empresa que possui
endividamento, ou seja, disponibilidade de capital de terceiros, enquadra-se nesta Lei. Ora, o inciso I equipara a
pessoa jurídica que capta ou administra recursos de terceiros. Infere-se que a conjunção “ou” não atrela o ato de
captar ao de administrar. Portanto, o simples ato de captar recursos de terceiros, por si só, coloca a pessoa
jurídica em condição de ser equiparada à uma instituição financeira. Portanto, qualquer empresa, seja de
qualquer forma constituída, pode ser incursa nas penas dessa Lei. Ressalte-se que esse entendimento é particular
e não foi encontrado em nenhum tipo de jurisprudência ou doutrina.
41
independente ser incurso na “Lei do Colarinho Branco”, qual seja, Lei 7.492/86, como
partícipe, na medida de sua culpabilidade, conforme dispõe o artigo 29 do Código Penal
Brasileiro.
Ademais, o artigo 13 do Código Penal Brasileiro dispõe sobre a relação de
causalidade, na qual “o resultado, de que depende a existência do crime, somente é imputável
a quem lhe deu causa”. O artigo ainda dispõe que “considera-se causa a ação ou omissão sem
a qual o resultado não teria ocorrido”.
O parágrafo 2º do artigo em comento dispõe que “a omissão é penalmente relevante
quando o omitente devia e podia agir para evitar o resultado”.
Ora, o auditor independente é obrigado, por lei, a apontar as fraudes encontradas em
seus papéis de trabalho, divulgando-as em seus pareceres de auditoria. Com efeito, sua
omissão em não apontar as fraudes encontradas pode dar resultado à existência dos crimes
tipificados na “Lei do Colarinho Branco”, agindo o auditor independente como partícipe.
A jurisprudência nacional já aponta neste sentido, sendo importante citar julgado
recente do Superior Tribunal de Justiça, que manteve a condenação do auditor independente,
como partícipe, no processo abaixo.
fraudulenta). A norma do artigo 4º, caput, da Lei 7.492/86, não incrimina resultado
material, naturalístico, que porventura venha a ocorrer e que, por lógico, diz respeito
à obtenção de alguma vantagem indevida - patrimonial, ainda que indireta. Se,
porém, a vantagem patrimonial indevida é consequência da própria gestão, o
resultado material não demandaria outra classificação de conduta, sendo suficiente
para a punição a norma definidora da gestão fraudulenta. O crime definido no artigo
4º, in casu, absorveu os delitos de apropriação/desvio e de fraude a investidor. A
mesma relação consuntiva há de ser negada entre a norma do artigo 4º e a do artigo
7º, inciso IV.
7. Recurso parcialmente provido para reconhecimento quanto à absorção dos
delitos de desvio/apropriação (art. 5º, caput) e fraude à fiscalização ou ao investidor
(art. 9º) pela norma incriminadora da gestão fraudulenta (artigo 4º, caput) e
consequente modificação no quantum de pena aplicada a cada um dos Recorrentes.
Em outro julgado, tem-se o caso da decisão proferida pelo Tribunal Regional Federal
da 2º Região, sobre o processo criminal nº 2002.02.01.012109-6, que manteve a condenação
dos responsáveis pela administração, inclusive do auditor independente do famigerado Banco
Nacional. Na decisão da Turma, a pena atribuída a um dos condenados, o auditor
independente Marco Aurélio Diniz Maciel, foi fixada em sete anos e um mês, em regime de
semi-liberdade. Abaixo, a notícia extraída do site do próprio Tribunal em comento.
sustentaram que seus clientes não tinham conhecimento do esquema criminoso. Para
o magistrado, suas posições na cúpula da instituição e seus conhecimentos técnicos
tornavam impossível a verossimilhança desses argumentos. Apenas Clarimundo
Sant'Anna admitiu participação na fraude.
Proc. 2002.02.01.012109-616
O art. 26, § 2º, da Lei 6.385,76, dispõe que o auditor independente responderá,
civilmente, pelos prejuízos que causar a terceiros em virtude de culpa ou dolo no exercício de
suas funções.
Alguém pode até afirmar que o auditor independente que emita um parecer sem
ressalvas, quando deveria apontar fraudes ou erros evidentes, ou seja, passíveis de serem
encontrados nos testes de auditagem, age, no mínimo com negligência.
Contudo, não se pode conceber que um profissional de tal envergadura como um
auditor independente possa agir com negligência no caso acima citado. Em tal situação, age o
profissional, na verdade, de forma comissiva por omissão.
Ora, não se concebe a um auditor independente, profissional com tamanha habilitação
técnica, agir com culpa, seja ela por negligência, imprudência ou imperícia, no exercício de
suas atividades. Afinal, como comprovado acima, este é um profissional de alto status, com
todos os requisitos de experiência profissional comprovada, conduta ilibada, dever legal de
agir com zelo e imparcialidade. Destarte, infere-se que o auditor independente que não aponta
16
TRIBUNAL REGIONAL FEDERAL, 2ª Região. 1ª Turma especializada do TRF mantém condenação de seis
dos acusados no caso Banco Nacional. Disponível em:
<http://www2.trf2.gov.br/noticias/materia.aspx?id=1585>. Acesso em: 31 de out de 2010.
45
em seu parecer, fraudes ou erros passíveis de serem detectados nos testes de auditoria, não age
com culpa, mas sim com dolo, seja ele direto ou eventual, conforme já visto.
Ressalte-se aqui que o trabalho do auditor independente é a averiguação da veracidade
dos demonstrativos contábeis emitidos pela empresa auditada, sendo dever do referido
auditor, ao final dos trabalhos, emitir um parecer, ou seja, uma opinião acerca das referidas
demonstrações.
Com isso, infere-se que as responsabilidades do auditor independente derivam da
opinião que for expressa no seu parecer. Destarte, referido profissional deve responder sempre
que expressar uma opinião incorreta.
Dito isto, se o auditor independente deve responder pela sua opinião emitida no
parecer de auditoria, é certo que referido profissional deve ser incurso na legislação penal.
Porém, ao que parece, a única legislação penal especial que pode ser aplicada a este
profissional é a Lei do “Colarinho Branco”, ou seja, a Lei nº 7.492/86, desde que o auditor
seja considerado partícipe ou co-autor. Dessa forma, infere-se que se de algum modo o
auditor independente provar que não participou da fraude, não há como aplicar a legislação
penal em comento.
Além disso, ressalte-se que qualquer tipo de empresa pode contratar um auditor
independente. Ocorre, porém, que a Lei do “Colarinho Branco” limita-se aos administradores
de instituições financeiras ou à estas equiparadas, conforme já comentado no presente
trabalho. Sendo assim, nas empresas que não sejam instituições financeiras ou à estas
equiparadas, os administradores que utilizam-se da “Contabilidade criativa”, bem como seus
partícipes ou co-autores, incluindo os auditores independentes, não poderão ser incursos nas
penas da Lei do “Colarinho Branco”.
Dessa forma, a legislação penal tem uma brecha, ou escapatória para tais criminosos.
Deve-se, portanto, considerar a alteração da legislação penal.
Neste sentido, uma das hipóteses é a criação de uma lei penal especial aplicada ao
auditor independente. Contudo, acredita-se que as penas da Lei do “Colarinho Branco” são
adequadas à punição dos profissionais de auditoria, de forma que haja inibição destes
profissionais no sentido de cometerem ilícitos penais quando da emissão de seus pareceres.
Dessa sorte, poder-se-ia alterar a referida Lei, no sentido de colocar o auditor
independente como legitimado a estar incurso em suas penas, não limitando sua aplicação
somente nos casos do auditor ser considerado partícipe ou co-autor.
46
Verifica-se que a sociedade vive momentos de desvios éticos que são motivados pela
obtenção de lucros exacerbados, contaminando por vezes os profissionais da contabilidade,
não ficando de fora os auditores independentes.
Corrobora neste sentido a opinião de Rogério Greco, que alega que na criminalidade
não aparente, ou seja, naquela praticada pelas classes mais altas da sociedade, a questão é de
caráter moral, não tendo o Estado condições para impor tais atributos às pessoas que não
pensam no seu próximo, não se preocupam com as cenas veiculadas pelos meios de
comunicação de massa, que anunciam crianças morrendo de fome, idosos padecendo em filas
de hospitais em busca de atendimento; enfim, cidadãos destituídos de dignidade porque o
Estado retirou aquilo que lhes restava (GRECO, 2009).
O Direito Penal tem como missão proteger os valores fundamentais para a subsistência
da sociedade, tais como a vida, a saúde, a liberdade, a propriedade etc. Estes são denominados
bens jurídicos (CAPEZ, 2005, p. 1).
Tal proteção é exercida pela intimidação coletiva, também conhecida por prevenção
geral, esta exercida mediante a difusão do temor aos possíveis infratores do risco da sanção
penal (CAPEZ, 2005, p. 1).
Contudo, esta proteção não é exercida somente pela prevenção geral, mas
principalmente pela celebração de compromissos éticos entre os indivíduos e o Estado, com o
fito de conseguir alcançar o respeito às normas, não tanto pelo receio de punição, mas pela
convicção da sua necessidade e justiça (CAPEZ, 2005, p. 1).
Quando um agente perpetra uma ação anti-social, o desvalor material do resultado
dessa ação só pode ser coibido na medida em que evidenciado o desvalor da própria ação.
Assim, é estabelecido um compromisso de lealdade entre o cidadão e o Estado, pelo qual as
regras são cumpridas não apenas pela coerção, mas pelo compromisso ético-social que é
estabelecido, ou seja, mediante a vigência de valores como o respeito aos direitos
fundamentais, incluído aí o direito à propriedade (CAPEZ, 2005, p. 2).
Desta feita, ao prescrever e punir qualquer lesão aos deveres ético-sociais, o Direito
Penal exerce uma função de formação do juízo ético dos cidadãos, passando a delinear quais
os valores essenciais para o convívio dos homens em sociedade (CAPEZ, 2005, p. 2).
O Estado deve ser firme na proteção dos direitos fundamentais. No caso de lesão de
algum desses direitos, o Estado deve acionar prontamente os seus mecanismos legais para a
47
efetiva imposição da sanção penal, revelando à sociedade o valor que dedica ao interesse
violado (CAPEZ, 2005, p. 2).
Se, por outro lado, no aspecto da punição do agente que lesiona interesse fundamental,
o Estado omite-se em punir, ou age com morosidade ou injustiça, acaba incutindo na
consciência coletiva a pouca importância que dedica aos direitos fundamentais e, por
consequência, aos valores ético sociais, afetando a crença na justiça penal e propiciando que a
coletividade deixe de respeitar referidos valores (CAPEZ, 2005, p. 2).
Agindo o Estado dessa forma, de pouco adiantará o agravamento das sanções penais
tipificadas, posto que o indivíduo tenderá sempre ao descumprimento, adotando uma postura
individualista e voltando sua força intelectual para esquivar-se dos mecanismos de coerção
(CAPEZ, 2005, p. 3).
Destarte, tem-se que o Direito Penal é o mecanismo mais eficaz que Estado detém
para coagir a coletividade no sentido de acatar as normas sociais estabelecidas, punindo os
infratores de tais normas, inclusive privando-os da sua liberdade. Contudo, deve o Estado agir
com rapidez, eficiência e justiça para que a sociedade continue a respeitar os valores ético-
sociais estabelecidos entre o Estado e a própria sociedade.
Eugenio Raúl Zaffaroni e Jose Henrique Pierangeli alegam que o sistema penal
cumpre uma função substancialmente simbólica frente aos marginalizados ou aos próprios
setores hegemônicos (contestadores e conformistas). Ressaltam, então, os autores que a
sustentação da estrutura do poder social através da via punitiva é fundamentalmente simbólica
(ZAFFARONI; PIERANGELI, 2006, p. 71).
Dessa sorte, se a punição tem uma função simbólica, o sistema penal deve ser
completo, não devendo haver margens ou brechas na lei de modo que criminosos possam sair
impunes dos seus delitos, ainda mais quando tais delitos causam graves danos à sociedade.
Por fim, conclui-se que o sistema penal existe para amenizar as consequências dos
desvios éticos acima levantados, que são exteriorizados através do crime. E o sistema penal
serve como exemplo ou símbolo para reprimir condutas ilícitas de agentes que tenham
pretensão de agir delituosamente, incluindo aí os auditores independentes que não apontam
em seus pareceres as fraudes e erros detectados nos demonstrativos contábeis das empresas.
48
4 CONCLUSÃO
atribuições, seja incurso em uma pena adequada, principalmente como forma de exemplo para
que outros ilícitos sejam evitados.
O ato ilícito mais grave cometido pelo auditor independente traduz-se no não
apontamento, em seus pareceres, de fraudes ou erros contábeis passíveis de serem detectados
nos trabalhos de auditoria. Tais fraudes ou erros dão ensejo ao uso da contabilidade criativa,
que traduz-se na maquiagem de demonstrativos contábeis com o fim de que as empresas
possam obter benefícios escusos através deste meio fraudulento.
É certo que o trabalho do auditor independente não é encontrar fraudes ou erros na
contabilidade das empresas. Contudo, esse profissional deve emitir um parecer, ou seja, uma
opinião a respeito dos demonstrativos contábeis emitidos pela empresa auditada. Ora, se
existirem fraudes ou erros relevantes, ou seja, que possam alterar substancialmente os
demonstrativos contábeis, então o auditor independente tem o dever de apontar tais alterações
no seu parecer.
Com relação aos atos ilícitos, especificamente ao uso da contabilidade criativa,
conclui-se que as responsabilidades pelo uso desse artifício contábil, devem ser pulverizadas
entre os administradores, funcionários da empresa, auditores internos e externos, na medida
da culpabilidade de cada um.
Dessa sorte, se os responsáveis são punidos pelo uso da contabilidade criativa, os
auditores independentes que não apontaram tal fraude nos seus pareceres, devem responder
solidariamente com aqueles.
Conforme estudado no segundo capítulo, o dolo eventual é aquele em que o agente,
apesar de não querer o resultado, assume o risco do mesmo. Ademais, viu-se que o dolo de
segundo grau é aquele que provoca efeitos colaterais.
Ora, os demonstrativos contábeis das empresas são as ferramentas mais importantes
que a sociedade, em especial o investidor, utiliza para decidir se investe ou não na empresa
em estudo.
Assim, se o público investe motivado por demonstrativos contábeis fraudados, ou seja,
que contenham contabilidade criativa, os investidores certamente terão prejuízos.
Ademais, se os demonstrativos contábeis de uma empresa que possui problemas
financeiros, refletissem a realidade da mesma, também é certo que não haveria investimentos
na referida empresa por parte dos investidores.
Dessa forma, infere-se que o auditor independente que não aponta fraudes em seu
parecer de auditoria, assume o risco de causar prejuízos aos investidores, mesmo que não
deseje tal resultado.
50
5 REFERÊNCIAS
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1990.
BITENCOURT, Cezar Roberto. Tratado de Direito Penal: parte especial, volume 2. 7. ed.
rev. e atual. São Paulo: Saraiva, 2007.
BITENCOURT, Cezar Roberto. Tratado de Direito Penal: parte geral, volume 1. 9º ed.
rev. e atual. São Paulo: Saraiva, 2004.
BRASIL, Instrução CVM 308, emitida em 14 de maio de 1999. Dispõe sobre o registro e o
exercício da atividade de auditoria independente no âmbito do mercado de valores
mobiliários, define os deveres e as responsabilidades dos administradores das entidades
auditadas no relacionamento com os auditores independentes, e revoga as Instruções CVM
nos. 216, de 29 de junho de 1994, e 275, de 12 de março de 1998
BRASIL, Lei 6.404, de 15 de dezembro de 1976. Dispõe sobre as Sociedades por Ações.
Diário Oficial da República Federativa do Brasil, DF, 17 de dezembro de 1976.
CALLEGARI, André Luís. Teoria geral do delito e da imputação objetiva. 2. ed. rev. e
ampl. Porto Alegre: Livraria do Advogado Editora, 2009.
CAPEZ, Fernando. Curso de Direito Penal, volume 2: parte especial: dos crimes contra a
pessoa a dos crimes contra o sentimento religioso e contra o respeito aos mortos (arts.
121 a 212). 7. ed. rev. e atual. São Paulo: Saraiva, 2007.
http://www.crcpr.org.br/publicacoes/downloads/revista136/contabilidade_criativa.htm Acesso
em: 01 de set. 2010.
CREPALDI, Silvio Aparecido. Auditoria Contábil: teoria e prática. 2º Ed. São Paulo:
Atlas, 2002. 468 p.
FRANCO, Hilário. Auditoria contábil. 4º Ed., São Paulo: Atlas, 2001. 607 p.
GRECO, Rogério. Direito Penal do Equilíbrio: uma visão minimalista do Direito Penal.
4. Ed. Niterói, RJ: Impetus, 2009.
JESUS, Damásio E. de, Direito Penal. Parte Geral. 26. ed. revista e atualizada, São Paulo:
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KARAM, Maria Lúcia. De Crimes, Penas e Fantasias. Rio de Janeiro: Luam, 1991.
KPMG BRASIL. A fraude no Brasil - Relatório da Pesquisa 2009. São Paulo: KPMG,
2009. 35 p.
MAUTZ, Robert Kuhn. Princípios de auditoria. 4º Ed. São Paulo: Atlas, 1985. 685 p.
NUCCI, Guilherme de Souza. Leis penais e processuais penais comentadas. 4. ed. rev.
atual. e ampl. – São Paulo: Editora Revista dos Tribunais, 2009.
53
OLIVEIRA, Alexandre Queiroz de. O rodízio de firmas de auditoria e seus impactos nas
Demonstrações Contábeis. São Paulo: PUC, 2005.
ROCHA, Fernando A. N. Galvão da. Direito Penal. Parte Geral. 3. ed, rev. atual. e ampl.,
Belo Horizonte: Del Rey, 2009. 994 p.
TAVARES, Juarez. Teorias do Delito (Variações e Tendências). São Paulo: Editora Revista
dos Tribunais, 1980.
TEIXEIRA, Paulo Henrique. Blindagem Fiscal e Contábil. Editora Portal Tributário. 2010.
ANEXOS
55
6 ANEXO 1
VI - ter cadastrada, pelo menos, metade dos sócios como responsável técnico nesta
Comissão;
VII - manter escritório profissional legalizado, em nome da sociedade, com instalações
compatíveis com o exercício da atividade de auditoria independente, em condições que
garantam a guarda, a segurança e o sigilo dos documentos e informações decorrentes dessa
atividade, bem como a absoluta privacidade no relacionamento com seus clientes;
VIII - constar, do contrato social, cláusula atribuindo a um dos sócios a função de
responsável, perante a Comissão de Valores Mobiliários, pela prestação de esclarecimentos
relacionados ao cumprimento desta Instrução.
§2º Decorrido o prazo, previsto no parágrafo anterior, sem que haja qualquer
manifestação da Comissão de Valores Mobiliários - CVM, o pedido estará automaticamente
aprovado, podendo o interessado requerer a expedição do respectivo Ato Declaratório.
§3º O prazo de 30 (trinta) dias referido no § 1º será suspenso uma única vez se a
Comissão de Valores Mobiliários - CVM solicitar informação ou documento adicional
necessário ao exame do pedido de registro, ou condicioná-lo a modificações na documentação
pertinente.
§4º Será concedido prazo não superior a 60 (sessenta) dias, contados do recebimento,
pelo requerente, da correspondência respectiva, para atendimento das eventuais exigências,
sob pena de ser denegado o pedido.
§5º É assegurado à Comissão de Valores Mobiliários - CVM, para manifestação final,
período correspondente a 5 (cinco) dias úteis, caso o restante do prazo previsto no § 1º seja a
este inferior.
Art. 8º Deferido o pedido, a Comissão de Valores Mobiliários - CVM expedirá o
competente Ato Declaratório, que será publicado no "Diário Oficial" da União.
Art. 9º Indeferido o pedido, a Comissão de Valores Mobiliários cientificará o
interessado mediante correspondência, com esclarecimento das razões que deram causa ao
indeferimento.
Art. 10. Da decisão denegatória caberá recurso voluntário ao Colegiado da Comissão
de Valores Mobiliários - CVM, nos termos das normas em vigor.
Art. 11. O pedido de registro de Auditor Independente - Pessoa Física será instruído
com os seguintes documentos:
I - requerimento (Anexo I);
Art. 14. O exercício da atividade de auditoria, conforme requerido nos artigos 4º, 5º e
6º, poderá ser comprovado através da apresentação dos seguintes documentos:
60
III - tenham sofrido pena de suspensão ou exclusão aplicada por órgão fiscalizador da
profissão, nos termos de comunicação do Conselho Regional de Contabilidade ao qual
estejam jurisdicionados;
IV - forem declarados, insolventes por sentença judicial, ou condenados
definitivamente, em processo-crime de natureza infamante, ou por crime ou contravenção de
conteúdo econômico, sofrerem pena impeditiva de acesso a cargo público, ou perda de
capacidade civil julgada por sentença.
Parágrafo único. A Comissão de Valores Mobiliários - CVM comunicará previamente
ao auditor independente a decisão de suspender ou cancelar o seu registro, nos termos deste
artigo, concedendo-lhe o prazo de 10 (dez) dias úteis, contados da data do recebimento da
comunicação, para apresentar as suas razões de defesa ou regularizar o seu registro, cabendo,
ainda, nos casos previstos nos incisos I e II acima, recurso com efeito suspensivo, ao
Colegiado desta Comissão.
Art. 18. Poderá ser recusado o pedido de registro como Auditor Independente - Pessoa
Física e Auditor Independente - Pessoa Jurídica, quando estiver incluído, no pedido, nome de
contador que, nos termos dos artigos 17 e 33 desta Instrução, tenha tido seu registro cancelado
ou suspenso pela Comissão de Valores Mobiliários - CVM.
Art. 19. A Comissão de Valores Mobiliários - CVM dará conhecimento, em publicação
no "Diário Oficial" da União, do registro de auditor independente cancelado ou
provisoriamente suspenso, e comunicará, nos casos de inquérito administrativo, a ocorrência
ao Conselho Regional de Contabilidade pertinente.
Parágrafo único. No caso de cancelamento, os documentos e declarações apresentados
para obtenção e manutenção do registro ficarão à disposição do interessado por um prazo de
60 (sessenta) dias, após o qual poderão ser destruídos.
INFORMAÇÕES PERIÓDICAS
Art. 20. Os auditores independentes registrados na CVM deverão remeter anualmente,
até o último dia útil do mês de abril, as informações requeridas no Anexo VI a esta Instrução.
(NR)*
Art. 21 . Sempre que houver interrupção na prestação dos serviços de auditoria, o fato
será comunicado pela entidade auditada à Comissão de Valores Mobiliários - CVM, no prazo
de 20 (vinte) dias, com exposição justificativa, na qual constará a anuência do auditor. Não
concordando com a exposição, o auditor encaminhará à Comissão de Valores Mobiliários -
CVM as razões de sua discordância.
Art. 22. Sem prejuízo de, a qualquer tempo, a CVM poder exigir a atualização de
quaisquer documentos e informações, os auditores independentes deverão, sempre que houver
alteração, encaminhar à CVM, no prazo de trinta dias a contar da data da sua ocorrência, os
seguintes documentos: (NR)*
62
Parágrafo único. O disposto neste artigo pode ser aplicado a todos os sócios e
integrantes do quadro técnico de Auditor Independente - Pessoa Jurídica quando ficar
configurada em sua atuação a infringência às normas de independência baixadas pelo
Conselho Federal de Contabilidade.
Art. 28. O auditor independente deverá renunciar à função na ocorrência de
impedimento, nas condições previstas no artigo 27.
DEVERES E RESPONSABILIDADES DOS AUDITORES INDEPENDENTES
Art. 29. São deveres do auditor independente no exercício de suas atividades no âmbito
do mercado de valores mobiliários:
I - verificar se as informações e análises apresentadas no relatório da administração
estão em consonância com as demonstrações contábeis auditadas e informar à Comissão de
Valores Mobiliários - CVM caso não estejam;
II - elaborar relatório circunstanciado, a ser endereçado à administração da entidade
auditada, contendo observações a respeito das deficiências ou da ineficácia dos controles
internos e procedimentos contábeis da entidade auditada;
VIII - ao emitir parecer adverso ou com ressalva, indicar com clareza quais as contas ou
subgrupos específicos de ativo, passivo, resultado e patrimônio líquido que estão afetados e
em quanto, bem como os efeitos nos dividendos e no lucro/prejuízo por ação.
§4º Sem prejuízo das sanções legais cabíveis, constatada a falta de condição de
independência do auditor, o trabalho realizado será considerado sem efeito e a entidade
contratará outro auditor independente.
§5º A entidade auditada deverá fornecer ao auditor independente a carta de
responsabilidade da administração, de acordo com as normas emanadas do Conselho Federal
de Contabilidade.
PENALIDADES ADMINISTRATIVAS
Art. 31. O Auditor Independente - Pessoa Física, o Auditor Independente - Pessoa
Jurídica e os seus responsáveis técnicos poderão ser advertidos, multados, ou ter o seu registro
na Comissão de Valores Mobiliários - CVM suspenso ou cancelado, sem prejuízo de outras
sanções legais cabíveis, quando:
a) atuarem em desacordo com as normas legais e regulamentares que disciplinam o
mercado de valores mobiliários;
b) realizarem auditoria inepta ou fraudulenta, falsearem dados ou números ou
sonegarem informações que sejam de seu dever revelar;
65
Parágrafo único. Não será adotado o rito sumário em caso de reincidência específica ou
genérica.
7 ANEXO 2
prestação de contas do mês de fevereiro/95 (fls. 3.556 e sgts.), fato comprovado pela referida
documentação e pelo depoimento da testemunha Wilson que declarou ter recebido em
fevereiro e março de 1995 os aludidos comprovantes de operações.
O acusado sabia, podia e devia alertar sobre o impedimento mas estava no
lugar em que foi posto exatamente na função de mais uma peça na engrenagem montada para
dissimular a incidência da vedação estatutária e dar credibilidade à idéia da regularidade da
gestão dos direitos também controladores do Banco GNPP.
O acusado tinha pleno conhecimento das ilicitudes, como auditor tinha o dever
de revelá-las e de impedir os resultados delituosos mas participava da premeditada investida
no AEROS justamente pela cumplicidade com Fernando Nuñez e Adelcio Victor, aos quais,
para levar adiante o projeto criminoso, era necessário que o estratégico posto de auditoria
fosse ocupado por agente participante do esquema criminoso.
A tese de enquadramento dos fatos como delito chamado personalíssimo que
não admitiria punição a título de participação se me depara colidente com o sistema da lei
penal, se não há, no plano empírico, nada que impossibilite o concurso no âmbito da figura
da participação e se não existe expressa previsão legal afastando a incidência da norma de
ampliação espacial do tipo, a Lei 7.492/86 não dispondo de modo diverso, incide na hipótese
o artigo 29 do Código Penal, na forma do artigo 12 do mesmo diploma legal.
Grande parte dos ilícitos previstos na Lei 7.492/86 são delitos de gestão, em
que a conduta punível versa ações ou omissões na administração da instituição financeira, de
modo a integrar as figuras típicas a qualificação do sujeito ativo e a necessidade de
explicitação do rol de agentes nesta condição. O disposto no artigo 25, caput e § 1º da Lei
7.492/86 é de conteúdo e alcance restritos à descrição dos elementos típicos que se
confundem com a qualidade do sujeito ativo. A norma legal não veda o concurso de agentes
na modalidade da participação e mesmo elementos de natureza gramatical vêm em reforço a
esta exegese, em seu § 2º prescrevendo o artigo de lei sobre os benefícios da confissão
espontânea com expressa menção à figura do partícipe.
Ainda a propósito, consigno que o precedente firmado por esta Turma no
julgamento do HC nº 3059488-5, em 29.09.98, de relatoria do Des. Aricê Amaral não serve
de apoio à tese sustentada, havendo a concessão da ordem não porque tivesse entendido o
colegiado inadmissível a participação nos delitos em foco mas pelo reconhecimento de
inexistência de justa causa no aspecto da tipicidade da conduta praticada pelo paciente,
timbrando o voto condutor em ressalvar a alvitrada possibilidade citando conclusão da obra
de Manoel Pedro Pimentel quanto à viabilidade do concurso de pessoas, seja na forma da co-
autoria, seja na de participação.' (fls. 108/111 - nossos os grifos).
Tem-se, assim, que a condenação do recorrente Paulo Fernando, em última
análise, não se assentou em ilegal exigência qualquer relativa ao seu ofício, mas sim na sua
efetiva contribuição para a criminosa gestão fraudulenta da AEROS”.
4.No que tange à alegação de que os fatos apontados como criminosos foram
praticados em data anterior à da inclusão da figura do partícipe na Lei 7.492/1986, observo
que a questão foi igualmente apreciada, conforme destacado pelo voto condutor do acórdão
que rejeitou os embargos de declaração (fls. 830-832):
“No que diz respeito à alegada omissão da circunstância de que os fatos tidos
como criminosos foram todos cometidos anteriormente à inclusão da figura do partícipe na
Lei 7.492/1986, entendo que a questão perdeu inteiramente sua relevância com a abordagem
efetuada pelo Ministro condutor do acórdão, ainda que não tenha sido por ele ignorada.
Confira-se, às f. 7819/7820:
O terceiro Recorrente, PAULO FERNANDO FALKENHOFF MOREIRA,
alegando contrariedade ao disposto nos artigos 29 e 13 do Código Penal, apresenta
argumento que já mereceu exame desta Turma, embora sob ótica diversa: aquela relativa à
69
8 ANEXO 3
CEULJI/ULBRA - CENTRO UNIVERSITÁRIO LUTERANO DE
JI-PARANÁ
Ji-Paraná
2010
73
Ji-Paraná
2010
74
SUMÁRIO
1 INTRODUÇÃO.............................................................................................................. 03
2 PROBLEMATIZAÇÃO ................................................................................................ 04
3 HIPÓTESES................................................................................................................... 06
4 OBJETIVOS .................................................................................................................. 07
5 JUSTIFICATIVA........................................................................................................... 08
7 METODOLOGIA .......................................................................................................... 15
8 RECURSOS.................................................................................................................... 16
9 CRONOGRAMA ........................................................................................................... 17
10 CONCLUSÃO ............................................................................................................... 18
11 REFERENCIAIS ......................................................................................................... 19
75
1 INTRODUÇÃO
transitória e comum pelas empresas de auditoria. Este serviço é obrigatório para as empresas
de capital aberto, segundo a lei 6.404/76, cujo objetivo é emitir parecer ou opinião sobre as
sociedade como são estruturados os seus ativos e passivos, como está composto seu
pela própria empresa. Esses profissionais são responsáveis por emitir pareceres sobre as
respondendo civil e criminalmente pela não evidenciação de fraudes ou erros detectados nas
2 PROBLEMATIZAÇÃO
auditadas. Neste caso, o auditor independente, ao fazer a auditoria na empresa, não detecta
alguma fraude possível de ser identificada por um processo de auditagem. Destarte, fica
ao auditor independente que, por negligência, não detecta fraudes possíveis de serem
dos auditores independentes perante a não indicação em seus pareceres, das possíveis fraudes
constatadas nas demonstrações contábeis. A diferença neste caso é que o auditor independente
detectou a fraude, mas não evidenciou-a no seu parecer de auditoria, caracterizando dessa
forma a omissão do auditor independente, que pode estar em conluio com a empresa no
profissional de auditoria independente que detecta fraudes nas empresas auditadas, mas que,
77
por estar em conluio com a empresa, ou por simples omissão, não as evidencia em seus
pareceres de auditoria?
3 HIPÓTESES
Para que possamos abordar tais questões, faz-se necessário um breve estudo
que leis penais mais rígidas aplicadas aos auditores independentes podem provocar
confiança nas informações contábeis prestadas pelas empresas que possuam papéis ou ações
negociados no mercado.
para que as empresas possam obter benefícios através deste meio fraudulento.
Dessa forma, outra hipótese a ser provada é a de que a não detecção de fraudes
da empresa auditada.
79
4 OBJETIVOS
4.1 Geral
4.2 Específicos
5 JUSTIFICATIVA
medida em que algumas empresas fraudam seus demonstrativos contábeis com o intuito de
Uma das formas de amenizar tal problema são os trabalhos dos auditores
independentes, que são responsáveis por emitirem pareceres sobre as demonstrações contábeis
das empresas, devendo desempenhar suas atividades de forma competente, com zelo,
honestidade e com inarredável prática da ética, sob pena de incorrer em riscos, inclusive de
natureza penal.
auditoria é o documento expedido por profissionais independentes que dão o seu parecer
no campo criminal. Pena, por sua vez, pode ser definida como a sanção aflitiva imposta pelo
Estado, mediante ação penal, ao autor de uma infração (penal), como retribuição de seu ato
ilícito, consistente na diminuição de um bem jurídico, e cujo fim é evitar novos delitos.
penal, quando o ato praticado pelo agente envolver prejuízo contra o patrimônio, que pelo
Código Penal, está previsto no capítulo que trata do estelionato e de outras fraudes. Portanto,
venha provocar prejuízo material a terceiros, poderá ensejar uma ação penal por parte do
prejudicado.
81
A legislação brasileira deve ser utilizada nas situações diversas que podem
acontecer com as empresas que tenham seus demonstrativos contábeis auditados, quando os
das empresas.
fraudes e erros contidos nos demonstrativos contábeis causam grandes prejuízos à empresa,
podendo até provocar a sua falência, ocasionando grandes prejuízos aos acionistas,
6 REFERENCIAIS TEÓRICOS
sendo auditados por auditores independentes contratados pela própria empresa, sendo tais
contábeis.
Destarte, a fraude e o erro nas empresas devem ser definidas para que se possa
Contabilidade, in verbis:
Entretanto, o auditor deve planejar seu trabalho de forma a detectar fraudes e erros
que impliquem efeitos relevantes nas demonstrações contábeis. (CFC, 1997,
Resolução nº 820)
83
Conselho Federal de Contabilidade – CFC, define para o Contador o que se tipifica como
contábeis, sabe que está agindo fraudulenta e criminosamente contra a empresa, sócios
como uma forma de irregularidade envolvendo práticas criminosas para obter uma injustiça
ou vantagem ilegal. Refere-se a atos cometidos com a intenção de enganar, envolvendo mau
uso dos ativos ou irregularidades intencionais de informação financeira, ou para ocultar mau
uso dos ativos ou para outros propósitos por meio de: manipulações, falsificações ou
É certo que as fraudes cometidas pelas empresas com a ajuda dos contadores e
com a conivência dos auditores independentes, certamente pode ser considerada uma conduta
ilícita.
opõe a uma norma jurídica ou indevidamente produz efeitos que a esta norma se opõem. A
oposição lógica entre a conduta e a norma dá origem a um objeto de estudo chamado ilícito. E
17
TEIXEIRA, Paulo Henrique. Blindagem Fiscal e Contábil. Editora Portal Tributário. 2010. p. 5
18
AUDIBRA - INSTITUTO DOS AUDITORES INTERNOS DO BRASIL. Procedimentos de auditoria interna
- Organização básica. São Paulo: Biblioteca Técnica de Auditoria Interna, 1992. p. 228-229
19
BATISTA, Nilo. Introdução crítica ao direito penal brasileiro. Rio de Janeiro: Revan, 1990. p. 43
84
este, traz como consequência uma sanção correspondente. Por fim, quando esta sanção é uma
para este trabalho, visto que trata, também, da delinquência econômica ou criminalidade do
“colarinho branco”.
Tal delinquência econômica pode ser percebida pelos atos ímprobos de certas
empresas e dos próprios auditores independentes, que ajudam a mascarar as fraudes contidas
nos demonstrativos contábeis com o intuito de obter vantagens ilícitas e enganar os cotistas e
a sociedade em geral.
produção de efeitos catastróficos que o Direito Penal clássico não consegue atingir. Isto
contaminados por fraudes ou erros, com o intuito de obter vantagem indevida, deve responder
O art. 171 do Código Penal tipifica o crime de estelionato no seu caput: “Obter,
para si ou para outrem, vantagem ilícita, em prejuízo alheio, induzindo ou mantendo alguém
20
BITENCOURT, Cezar Roberto. Tratado de Direito Penal: parte especial, volume 2. 7ª Ed. Ver. E atual. São
Paulo: Saraiva, 2007. p. 15
85
Código Penal Brasileiro, pode ser utilizado para punir os administradores das empresas que
utilizam seus demonstrativos contábeis eivados de fraudes e erros com o intuito de obter
cada um.
éticos que são motivados pela obtenção de lucros exacerbados, contaminando por vezes os
criminalidade não aparente, ou seja, naquela praticada pelas classes mais altas da sociedade, a
questão é de caráter moral, não tendo o Estado condições para impor tais atributos às pessoas
que não pensam no seu próximo, não se preocupam com as cenas veiculadas pelos meios de
comunicação de massa, que anunciam crianças morrendo de fome, idosos padecendo em filas
21
CAPEZ, Fernando. Curso de Direito Penal, volume 2: parte especial: dos crimes contra a pessoa a dos
crimes contra o sentimento religioso e contra o respeito aos mortos (arts. 121 a 212). 7ª ed. rev. e atual. São
Paulo: Saraiva, 2007. p. 522
22
GRECO, Rogério. Direito Penal do Equilíbrio: uma visão minimalista do Direito Penal. 4ª Ed. Niterói, RJ:
Impetus, 2009. p. 144
86
penal cumpre uma função substancialmente simbólica frente aos marginalizados ou aos
Por fim, conclui-se que o sistema penal existe para amenizar as consequências
dos desvios éticos acima levantados, que são exteriorizados através do crime. E o sistema
penal serve como exemplo ou símbolo para reprimir condutas ilícitas de agentes que tenham
em seus pareceres as fraudes e erros detectados nos demonstrativos contábeis das empresas.
23
ZAFFARONI, Eugenio Raúl; PIERANGELI, Jose Henrique. Manual de direito penal brasileiro: parte geral.
São Paulo: Editora Revista dos Tribunais, 1997. p. 78
87
7 METODOLOGIA
esta como a maquiagem dos demonstrativos contábeis das empresas, como meio de se obter
benefícios indevidos.
empresarial.
existência de legislação penal imputada aos auditores independentes frente à não detecção ou
omissão de fraudes provocadas pelo uso da contabilidade criativa nas empresas auditadas.
88
8 RECURSOS
ITENS / VALORES
Livros 400,00
Revistas jurídicas -
Periódicos -
Internet -
Computador -
Impressora -
Papel tipo a4 20,00
Cartuchos de tinta para impressora 90,00
Gasolina 100,00
Caneta 10,00
TOTAL 620,00
Durante a realização do trabalho, os itens e valores poderão ser alterados com o objetivo de adequar-se
à consecução da pesquisa;
Os itens serão financiados com recursos próprios.
9 CRONOGRAMA
ETAPAS/ MESES
ATIVIDADES
Junho Julho Agosto Setembro Outubro Novembro Dezem
2010 2010 2010 2010 2010 2010 bro
89
2010
Seleção bibliográfica
X
Leituras e análise da X
bibliografia coletada
Elaboração do Projeto X
Pesquisa Bibliográfica X X X
Redação Final X X
Apresentação dos X
resultados.
90
10 CONCLUSÃO
moderno. Muitas empresas, a todo instante, aparecem nos noticiários, ora por terem entrado
em falência, ora por terem auferido prejuízo aos acionistas ou a terceiros, enquanto que seus
auditoria.
REFERÊNCIAS
ARAÚJO, Inaldo da Paixão Santos. Introdução à auditoria operacional. 1ª Ed., Editora FGV,
Rio de Janeiro, 2001.
BATISTA, Nilo. Introdução crítica ao direito penal brasileiro. Rio de Janeiro: Revan, 1990.
BITENCOURT, Cezar Roberto. Tratado de Direito Penal: parte especial, volume 2. 7ª Ed.
Ver. E atual. São Paulo: Saraiva, 2007.
BRASIL, Instrução CVM 308, emitida em 14 de maio de 1999. Dispõe sobre o registro e o
exercício da atividade de auditoria independente no âmbito do mercado de valores
mobiliários, define os deveres e as responsabilidades dos administradores das entidades
auditadas no relacionamento com os auditores independentes, e revoga as Instruções CVM
nos. 216, de 29 de junho de 1994, e 275, de 12 de março de 1998
BRASIL, Lei 6.404, de 15 de dezembro de 1976. Dispõe sobre as Sociedades por Ações.
Diário Oficial da República Federativa do Brasil, DF, 17 de dezembro de 1976.
CAPEZ, Fernando. Curso de Direito Penal, volume 2: parte especial: dos crimes contra a
pessoa a dos crimes contra o sentimento religioso e contra o respeito aos mortos (arts. 121 a
212). 7ª ed. rev. e atual. São Paulo: Saraiva, 2007.
GRECO, Rogério. Direito Penal do Equilíbrio: uma visão minimalista do Direito Penal. 4ª
Ed. Niterói, RJ: Impetus, 2009.
92
KPMG BRASIL. A fraude no Brasil - Relatório da Pesquisa 2009. São Paulo: KPMG, 2009.
35 p.
TEIXEIRA, Paulo Henrique. Blindagem Fiscal e Contábil. Editora Portal Tributário. 2010.
9 RECOMENDAÇÕES
Este trabalho foi elaborado tomando como base apenas a pesquisa bibliográfica, não
sendo realizada pesquisa de campo. Destarte, disponibilizamos o presente estudo para a sua
continuação pelas pessoas interessadas pelo tema, a fim de que possamos contribuir para o
desenvolvimento da pesquisa sobre a Responsabilidade Penal dos Auditores Independentes,
assunto que precisa ser explorado, dada a importância do tema, principalmente nos tempos
atuais.