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Carandiru
Trabalho de Filosofia, Política e
Ética
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Conteúdo
Conteúdo........................................................................................................2
Valores...........................................................................................................4
Honra.......................................................................................................... 4
Crimes e Penalidade....................................................................................4
Coletividade................................................................................................4
Simpatia e Piedade.....................................................................................5
A Questão do Respeito................................................................................5
A Existência do Poder Paralelo.......................................................................6
As Igrejas........................................................................................................7
Liberdade e Direitos.......................................................................................9
A Invasão .....................................................................................................10
Conclusão.....................................................................................................11
Bibliografia................................................................................................... 12
Introdução
A Casa de Detenção de São Paulo, conhecida como Carandiru, foi por
muito tempo o principal complexo penitenciário da América Latina,
chegando a abrigar mais de oito mil presos. Inaugurada em 1920, sempre
foi um símbolo do Estado no combate ao crime. Emblemática, sempre
despertou atenção pelas suas proporções, sua lotação, pelas condições
precárias dos presos e pelos massacres que lá ocorreram.
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um sistema de leis e regras que ditava o comportamento e a conduta que
deveriam seguir. Na ausência do Estado se desenvolve, portanto, um poder
paralelo que muitas vezes vai de encontro às leis oficiais e que,
ironicamente surge no meio daqueles que estão sob sua custódia.
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Valores
Honra
A honra é o bem mais precioso para os presos. Sua manutenção
justifica qualquer tipo de ação que um indivíduo venha a tomar, sendo mais
valorizada que a própria vida.
Crimes e Penalidade
Baseados em suas convicções pessoais e no poder e influência dos
mais fortes, os presos acabam criando diversas leis, que tem seu
cumprimento garantido pelo poder coercitivo exercido pela organização
chamada de Faxina, que será descrita adiante.
Coletividade
Uma das características do código de ética é a proteção do outro
preso. Qualquer atitude que comprometa o outro será seriamente punida
pelo grupo, mesmo que esta atitude denunciada seja ilegal. Isso significa
que os presos têm que ser cúmplices dos delitos cometidos pelos outros
para não sofrer sanções sociais e físicas. Para participar do grupo, o
indivíduo acaba tendo que quebrar seu contrato social com o Estado.
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atividades ocorram com eficiência e higiene. Qualquer um que atrapalhe
sofrerá conseqüências graves.
Simpatia e Piedade
Como já dissemos, o código de ética faz distinção entre os crimes,
aceitando alguns, mas repudiando outros. A questão da piedade entra aqui
de forma dicotômica. Ao passo que os presos conseguem se colocar na
situação dos outros e assim entender e de certa forma perdoá-los, o mesmo
não acontece com em relação aos estupradores. A identificação não ocorre
de maneira semelhante com todos os outros indivíduos.
A Questão do Respeito
A relação dos presos com os travestis, diferentemente do que se
espera, não é desrespeitosa. A feminilidade e a fragilidade deles impõem
respeito e este só é quebrado se os travestis tomarem atitudes masculinas,
como entrar em brigas ou se traírem seus "maridos". Essa não deixa de ser
uma exigência de coerência de atitudes. Isso, entretanto, não significa que
não haja discriminação. Os travestis não podem participar de determinados
grupos, como o da Faxina (a ser descrito adiante).
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preso ousa olhar para a mulher do outro. Existe um respeito muito grande,
inclusive em celas muito lotadas, nas quais eles determinam uma divisão de
horários igualitária e são todos pontuais. Isso nos mostra uma preocupação
com a igualdade entre eles, sobretudo em relação ao que consideram
necessidades.
Segundo Dráuzio Varella, o tratamento que ele recebeu por ser médico
foi de extremo respeito. Sua profissão era respeitada, bem como suas
iniciativas de fazer campanhas para a prevenção de doenças sexualmente
transmissíveis.
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rompimento total do contrato social entre os indivíduos e a nação, já que
este estabelece que não deve haver atentados à vida do próximo.
As Igrejas
Ainda na tentativa de buscar garantias ao seu direito de vida, muitos
presos entram para as diversas Igrejas presentes nas cadeias. A Igreja que
mais atrai novos fiéis é a Evangélica. Uma das causas para isso é a maior
dicotomia que ela estabelece entre o “bem” e o “mal”, o que nos revela que
muitos indivíduos sentem falta deste tipo de restrição em suas vidas.
Muitos dos fiéis têm suas dívidas quitadas pela entidade religiosa
quando entram para a seita, que serve ainda de refúgio para muitos presos
que tem a convivência com os demais comprometida (seja por dívida, briga
ou ainda pela condenação por parte dos próprios presos ao crime por eles
cometido).
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A inexistência de um sistema legítimo que garanta, por exemplo, o
pagamento das dívidas entre os presos, faz com que eles usem os
instrumentos que têm nas mãos para garantir aquilo que consideram a
ordem, apesar de esses instrumentos irem contra a lei oficial.
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conta com a ajuda dos funcionários, já que as drogas devem chegar ao
presídio de alguma forma.
Liberdade e Direitos
Os presidiários estão na cadeia, sob custódia do Estado, e cumprem
pena privativa de liberdade por terem cometido algum crime. Ainda sim são
considerados cidadãos e seus direitos constitucionais devem ser
preservados.
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demais que é corajoso, preza a honra e o respeito e será respeitado por
todos. Se o indivíduo for evangélico, sinalizará que lá dentro ele se dedica
somente ao culto religioso e pouco se envolve com as demais questões e
discussões. A comunidade então zela por seus membros e os membros por
ela.
A Invasão
O livro termina com o famoso episódio da invasão do presídio que
ocorreu em 1992. Durante uma partida de futebol houve um
desentendimento entre os presos por causa de um lugar no varal de roupas.
O desentendimento acabou se tornando uma briga entre facções do presídio
e terminou em uma desordem generalizada.
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policiais se aproveitaram da situação e da falta de testemunhas civis que
pudessem delatá-los para matar os presos, comandando um massacre no
Carandiru. Além disso, os policiais alteraram a cena do crime cometido por
eles e tentaram plantar evidências contra os presos, como se eles tivessem
tentado reagir.
Conclusão
O Carandiru é, como foi mostrado no trabalho, um rico instrumento
para se entender a estruturação e a construção de poder. Como pensou
Rousseau, um sistema legal ideal deve se basear nos costumes daqueles
para quem ele servirá e em seus valores. Embora o código da penitenciária
não seja escrito e oficializado, ele respeita os costumes e os valores que
vigoram entre os presos.
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Cada filósofo estudado pensou teoricamente a construção de um
Estado ideal para resolver algum problema existente. No contexto
analisado, entretanto, tem-se um Estado impotente e fraco, dando origem a
um poder paralelo, que remonta àquelas construções mais primitivas: o
Estado de Guerra de Hobbes ou ao Estado Absoluto.
Bibliografia
VARELLA, Dráuzio. “Estação Carandiru”, 1999. Companhia das Letras.
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