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ARTIGO ARTICLE 203

Eqüidade e política de saúde: algumas reflexões


sobre o Programa Saúde da Família

Equity and health policy: some reflections


on the Family Health Program in Brazil

Mônica de Castro Maia Senna 1

1 Departamento de Serviço Abstract This article focuses on key elements contributing to the public social policy debate,
Social, Universidade
specifically from the perspective of promoting distributive justice. The reference is the Family
Federal Fluminense.
Travessa Washington Luiz Health Program in Brazil and its relation to recent changes in national health policy and the lit-
317, São Gonçalo, RJ erature on the issues of equity and social justice. This concern is due to recent changes in social
24210-020, Brasil.
interventions by the Brazilian state, where targeting assumes a central place in the reform
marcossenna@uol.com.br
process. Specifically concerning health policy, the issue of equity has gained visibility, linked to
the discussion on the profile of health expenditures. One of the central aspects in this context lies
in the debate between notions such as the regressive and inequitable nature of targeted measures
and programs, on the one hand, and the expanded perspective of access by what have tradition-
ally been socially excluded sectors, on the other. The debate between such perspectives highlights
the controversies concerning the effectiveness of health measures, equity, and the distributive
concept of social justice, with the latter as the central discussion in this study.
Key words Health Policy; Equity; Social Justice; Family Health

Resumo Este artigo busca trazer alguns elementos para o debate acerca das políticas públicas
de corte social, no que tange à perspectiva de promoção de justiça distributiva. Toma por refe-
rência o Programa Saúde da Família (PSF), articulando as recentes alterações na política nacio-
nal de saúde com a literatura que trata as questões de eqüidade e justiça social. Tal interesse se
justifica em virtude das recentes inflexões no padrão de intervenção do Estado brasileiro na área
social, onde a focalização assume um lugar central na agenda das reformas. No campo da políti-
ca de saúde em especial, o tema da eqüidade ganha visibilidade articulada à discussão em torno
do perfil dos gastos no setor. Um dos aspectos centrais neste contexto reside no debate que polari-
za, de um lado, noções como o caráter regressivo e iníquo de ações e programas focais e, de outro
lado, a perspectiva ampliação de acesso de setores sociais tradicionalmente excluídos. O debate
entre estas perspectivas traz para discussão as polêmicas em torno da efetividade das ações de
saúde, da eqüidade e da concepção distributiva de justiça social, sendo esta a discussão central
deste trabalho.
Palavras-chave Política de Saúde; Eqüidade; Justiça Social; Saúde da Família

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Introdução seu caráter racionalizador, que reserva ao Esta-


do a função restrita de provedor dos serviços
Uma das questões mais recorrentes nas discus- básicos de saúde, direcionados a grupos popu-
sões em torno do Programa Saúde da Família lacionais pobres e marginalizados.
(PSF), implantado pelo Ministério da Saúde Para os formuladores e gestores do PSF, no
(MS) em âmbito nacional a partir de 1995, diz entanto, o programa tem se constituído em
respeito ao processo de focalização promovido uma estratégia para a reorientação e reorgani-
por este. Talvez porque inicialmente a defini- zação do modelo de atenção à saúde no Brasil
ção da implantação do programa priorizasse as (MS, 1998). Esta concepção parte do entendi-
áreas de risco segundo o Mapa da Fome (Pellia- mento de que as inovações introduzidas no sis-
no, 1993), do Instituto de Pesquisa Econômica tema de saúde nos últimos anos, com a im-
Aplicada (IPEA) e/ou porque sua emergência plantação do Sistema Único de Saúde (SUS),
se deu num contexto de crise e racionalização têm logrado resultados pouco perceptíveis na
dos gastos em saúde, e/ou ainda devido à prio- estruturação dos serviços de saúde, sobretudo
rização das ações de prevenção e promoção da por não promover mudanças significativas no
saúde, baseadas em baixa incorporação tecno- modelo assistencial. Como constatam estes ato-
lógica, o fato é que algumas análises sobre o PSF res, após uma década de implantação do SUS,
(Misoczky, 1994; Paim, 1996) tendem a identifi- ainda é grande o contingente populacional, so-
cá-lo como uma simplificação da atenção à saú- bretudo os mais pobres, com dificuldades de
de, um sistema de saúde pobre para os pobres. acesso à assistência médica. Nesse sentido, o
É certo que o PSF emerge num contexto de PSF traria, em seu bojo, a preocupação em pro-
restrição e racionalização dos gastos em saúde, mover o acesso destes setores anteriormente
decorrentes da implementação de medidas de excluídos, voltando-se prioritariamente para
ajuste estrutural prescritas pelas agências mul- os grupos sociais mais vulneráveis.
tilaterais, sobretudo o Fundo Monetário Inter- O debate entre essas perspectivas tem o
nacional (FMI) e o Banco Mundial. A agenda de mérito de trazer para discussão as polêmicas
reformas proposta por estas agências baseia-se em torno da efetividade das ações de saúde, da
no diagnóstico da inadequação dos gastos bra- eqüidade e da concepção distributiva de justi-
sileiros em saúde, que seriam excessivos e não ça social. Esta é a preocupação central que nor-
atingiriam as regiões e os grupos sociais mais teia o presente trabalho. Busca-se aqui, a partir
pobres. Ao mesmo tempo, o Banco Mundial cri- da literatura que trata as questões de eqüidade,
tica o modelo de assistência, assentado no cui- justiça e política social, especialmente no âm-
dado hospitalar ineficaz, na especialização da bito do setor saúde, trazer elementos que per-
atenção ambulatorial, na rápida incorporação mitam estabelecer, ainda que preliminarmen-
de procedimentos de alta tecnologia e no pou- te, um roteiro para análise do PSF no que tange
co investimento nas ações preventivas e de pro- a seu potencial de incorporação de segmentos
moção à saúde (World Bank, 1993). sociais vulneráveis e de promotor da eqüidade e
O mérito desta abordagem é reconhecer da justiça social no interior da política de saúde.
que uma das características mais marcantes Convém ressaltar que esta não é uma tarefa
das políticas sociais brasileiras, e entre elas a simples, dadas tanto a complexidade que en-
de saúde, tem sido o privilegiamento dos gru- volve os conceitos de eqüidade e justiça social
pos sociais mais favorecidos em detrimento dos quanto a ainda incipiente tradição analítica das
segmentos de maior vulnerabilidade social, ca- políticas de saúde sob este viés. Não se preten-
racterizando aquilo que Ramos (2000) denomi- de aqui resolver os impasses e as lacunas que
na de focalização espúria. perpassam a temática, mas sim uma aproxima-
Nessa direção, a década de 90 é marcada ção inicial com algumas das principais ques-
pela adoção de estratégias institucionais desti- tões circunscritas a este campo.
nadas a garantir que os programas sociais atin-
jam os segmentos mais vulneráveis. Num con-
texto marcado pela implantação de medidas de Políticas sociais, justiça e eqüidade:
ajuste estrutural da economia e de reforma do uma primeira aproximação
Estado, ganha força a perspectiva de racionali-
zação dos gastos públicos, onde a eficiência e a A temática da eqüidade vem ocupando lugar
eqüidade aparecem como elementos centrais, de relevância na discussão das políticas sociais
traduzidos na focalização dos mais pobres co- nas duas últimas décadas (Almeida et al., 1999;
mo alvo prioritário das ações governamentais. Berlinguer, 1999).
Dentro desse quadro, o PSF é visto por alguns As recentes transformações que vêm se ope-
como uma medida fortemente impregnada por rando no âmbito das economias capitalistas, a

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profunda crise fiscal que atravessa os Welfare ram identificados como sinônimos de demo-
States e a quebra dos laços de solidariedade so- cratização.
cial erguidos ao longo do século XX fornecem, Ainda para Draibe, um segundo ciclo de re-
ao lado de outros aspectos, as condições pro- formas ganha corpo a partir da segunda meta-
pícias para a revisão do papel do Estado, espe- de dos anos 90, pautado pela complexa agenda
cialmente no que diz respeito a seu padrão de de estabilização, reformas institucionais e con-
intervenção social, onde a eqüidade se confi- solidação democrática. Uma série de medidas e
gura como um dos eixos centrais. inovações institucionais são implantadas, bus-
Na América Latina, o perfil da política so- cando conciliar, de um lado, as exigências de
cial sofre uma profunda inflexão a partir da in- adequação do padrão do gasto social aos obje-
trodução do plano de ajuste estrutural da eco- tivos macroeconômicos e, de outro, a promoção
nomia e de reforma do Estado, com a adoção de maior eqüidade e justiça social. Assim, é sob
da perspectiva de racionalização do gasto pú- um contexto de crise da capacidade fiscal e re-
blico (Diniz, 1997). Entre as teses mais difundi- gulatória do Estado que se destacam medidas
das está a que associa os altos níveis de infla- de racionalização dos gastos governamentais,
ção, a falta de crescimento econômico e a ine- visando melhor desempenho dos programas
ficiência e ineficácia das ações estatais ao au- sociais e maior eficiência e eficácia das ações.
mento desenfreado dos gastos públicos. Neste Dentro desse quadro, ganha força a pers-
contexto, uma das características mais mar- pectiva de que mais do que a insuficiência de
cantes do processo é a tensa conciliação dos recursos, o que caracteriza a ação governamen-
objetivos macroeconômicos de estabilização tal no Brasil é a má distribuição dos recursos
com propostas de reformas sociais voltadas pa- existentes, que acabam não atingindo os gru-
ra a melhoria da eficiência e da eqüidade. pos sociais mais vulneráveis. Ao se considerar
No que pesem os condicionantes mais am- o montante do gasto social brasileiro, compa-
plos, decorrentes da dinâmica do contexto in- rativamente a outros países, observa-se que o
ternacional, não se pode afirmar que as recen- mesmo não é insuficiente mas ineficiente (Ro-
tes mudanças introduzidas no padrão de rela- cha, 2001). Ao mesmo tempo, verifica-se que
ção Estado/sociedade no Brasil sejam um me- são os segmentos menos pobres dentre os po-
ro reflexo da nova ordem mundial. Como res- bres, sobretudo aqueles com maior poder de
salta Diniz (1997), além da dimensão externa, é vocalização, os que proporcionalmente mais se
preciso considerar os fatores internos, relacio- apropriam dos serviços e benefícios sociais
nados ao esgotamento simultâneo do modelo prestados (Ramos, 2000). Nessa direção, a foca-
de desenvolvimento vigente no país até fins lização das políticas sociais nos grupos mais
dos anos 70, de seus parâmetros ideológicos e vulneráveis é defendida como forma de pro-
do tipo de intervenção estatal responsável por mover o acesso desses setores aos programas e
sua implementação, dentro de um quadro mais serviços sociais.
geral de reestruturação da ordem política. Embora haja um relativo consenso quanto
Assim, nos anos 80, num contexto de transi- ao diagnóstico da ineficiência e ineficácia dos
ção democrática, reforçam-se expectativas de gastos públicos, os temas da eqüidade e da fo-
formatação de uma nova institucionalidade pa- calização têm suscitado forte polêmica. De um
ra as políticas sociais, com vistas ao resgate da lado, situam-se posições que associam a focali-
imensa dívida social acumulada em décadas de zação à perspectiva de restrição de direitos a
exclusão e à ampliação dos direitos sociais. Nas partir da instauração de um cardápio mínimo
palavras de Draibe (1997), tratava-se de fazer de ações a serem desenvolvidas pelo Estado,
com que a democracia política pudesse se fazer apenas para a população mais pobre. De outro
acompanhar de sua base indispensável: a de- lado, encontram-se algumas análises que sa-
mocracia social fundada em maior eqüidade. lientam a possibilidade de a focalização se cons-
Na avaliação dessa autora (Draibe, 1999), a tituir numa alternativa atraente para fazer face
agenda reformista dos anos 80, no entanto, es- ao quadro de extrema pobreza e desigualdades
barrou nas mesmas contradições e indefinições sociais no Brasil, à medida que estabelece prio-
do movimento político em que se inscreveu, ridades de acesso dos segmentos mais vulnerá-
ainda que mudanças significativas tenham si- veis aos programas sociais.
do introduzidas, das quais se destacam a valo- Em termos gerais, é possível afirmar que o
rização do princípio do direito social e a ten- debate em torno da focalização das políticas
dência à universalização do acesso dos progra- sociais está extremamente relacionado à análi-
mas sociais. No plano institucional, a descen- se dos diferentes critérios adotados na aloca-
tralização, a transparência dos processos deci- ção de recursos e na seleção dos beneficiários.
sórios e a ampliação da participação social fo- Lindblom (1980) chama a atenção para que,

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embora essas escolhas sejam subsidiadas por No debate contemporâneo, é forte a idéia de
informações de ordem técnica, elas devem ser que a desigualdade é algo desejável. A questão
compreendidas enquanto decisões políticas, chave parece residir na perspectiva de que re-
como resposta a distintos interesses dos diver- sultados eqüitativos pressupõem redistribui-
sos atores sociais presentes na arena decisória. ções desiguais de recursos, produzidas por
Na mesma direção, Elster (1992) considera ajustes efetuados em função dos fatores acima
o importante papel que possuem os atores so- mencionados, determinantes das desigualda-
ciais ao influenciar a seleção de procedimen- des existentes. Aqui, torna-se necessário dis-
tos e critérios específicos para alocação de re- tinguir diferença de diversidade. Enquanto a
cursos escassos. Ao mesmo tempo, este autor diversidade é determinada por fatores alheios
chama a atenção para o contexto na qual tais à vontade humana ou resultado das vontades
decisões são tomadas, identificando que os cri- individuais, aquilo que é considerado social-
térios e mecanismos adotados em situações de mente injusto envolve questões éticas, morais
escolhas trágicas diferem sistematicamente da- e políticas, referindo-se a diferenças indesejá-
quelas usadas em escolhas não trágicas. veis e, portanto, passíveis de intervenção atra-
Tais escolhas encontram-se mesmo na base vés das políticas dos diversos setores, inclusive
da definição do conceito de política social. San- o de saúde (Almeida et al., 1999). Nesse contex-
tos (1989:37) propõe chamar de política social to, a focalização assume o sentido de ação afir-
a “toda política que ordene escolhas trágicas se- mativa ou discriminação positiva, como pro-
gundo um princípio de justiça consistente e coe- posto por Rawls (1997), a partir da instauração
rente”. No entanto, este mesmo autor salienta de uma seletividade dos potenciais beneficiá-
que à medida que o estabelecimento de princí- rios da política, de forma a ampliar o acesso
pios absolutos é incompatível com a idéia de econômico, social e cultural dos segmentos so-
democracia e que existem diferentes e até mes- ciais que realmente precisam.
mo divergentes princípios de justiça social, re-
sulta ser impossível a escolha de um princípio
de justiça consistente e coerente, sendo essa a Eqüidade e saúde: reflexões
trágica condição da política social. Nessa pers- em torno de uma política
pectiva, a formulação de critérios para dese-
nhar ou avaliar políticas sociais é, no dizer do No campo da saúde, a conceituação de eqüida-
autor, um “permanente experimento com o im- de tem sido objeto de amplo debate, engloban-
previsível” (Santos, 1989:51). do várias dimensões e estimulando a discussão
O que se quer aqui salientar é a complexi- sobre sua operacionalização, seja para a busca
dade do tema da eqüidade, ainda mais profun- dos determinantes das desigualdades em saú-
da frente a um quadro social marcado pelos ní- de, seja para formulação de políticas e priori-
veis de desigualdades sociais como no caso bra- dades a serem implementadas com vistas tan-
sileiro. O tratamento dessas desigualdades im- to à diminuição do impacto dos diferenciais
põe, na ótica da justiça social, a definição técni- sociais na saúde, como para a elaboração de
ca e política de prioridades com base nos valo- instrumentos e indicadores para o monitora-
res que regem as sociedades, envolvendo a de- mento dos processos de reforma dos sistemas
finição de quanto será distribuído e para quem de saúde (Almeida et al., 1999).
será distribuído. Assim, menos do que um pro- Em linhas gerais, pode-se dizer que a litera-
blema de escassez de recursos, o conceito de tura sobre o tema tem apontado que o termo
justiça social envolve a maneira segundo a qual eqüidade refere-se a diferenças que são desne-
benefícios e encargos, ganhos e perdas são dis- cessárias e evitáveis, além de consideradas in-
tribuídos entre os membros de uma sociedade, justas (Whitehead, 1992). O termo iniqüidades
como resultado do funcionamento de suas ins- em saúde assume, assim, uma dimensão ética
tituições (Figueiredo, 1997). e moral. Nessa perspectiva, se determinadas
Em termos gerais, pode-se dizer que as abor- diferenças individuais ou grupais, sobretudo as
dagens contemporâneas em torno do tema da decorrentes de variações biológicas naturais,
justiça social (Rawls, 1997; Sen, 1997; Walzer, não devem ser tomadas como iniqüidades, no
1983), no que pesem suas divergências, cen- sentido acima abordado, há um certo consen-
tram-se na valorização da noção de eqüidade so de que são desnecessárias e injustas aquelas
como igualdade no alcance de objetivos finais, diferenças em saúde determinadas por exposi-
bem como no reconhecimento explícito de fa- ção a condições de vida e trabalho estressantes
tores determinantes das diferenças existentes e doentias; acesso inadequado a serviços pú-
na sociedade, que dizem respeito a aspectos blicos essenciais, entre eles os de saúde; com-
biológicos, sociais e político-organizacionais. portamentos que podem causar danos à saúde

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quando a liberdade de escolha do estilo de vi- Especialmente no campo da política de saú-


da é restrita, entre outros aspectos (Whitehead, de, a preocupação com o tema da eqüidade ga-
1992). nha expressiva visibilidade a partir dos anos
Para essa autora, o objetivo das políticas de 90, articulada ao debate em torno do perfil dos
eqüidade seria, assim, reduzir ou eliminar dife- gastos no setor, marcado por um desenfreado
renças em saúde resultantes de fatores consi- aumento dos gastos em saúde (Berlinguer, 1999).
derados ao mesmo tempo evitáveis e injustos. No período, vários países do mundo iniciam
Tais políticas seriam dirigidas tanto às raízes a implantação de profundas reformas de seus
dos problemas, diminuindo riscos diferencia- sistemas de saúde (Almeida, 1996; Mendes,
dos, como à promoção de políticas de saúde 1996), visando, sobretudo, novas alternativas
que respondessem às necessidades de saúde para solucionar o quadro de crise de financia-
criadas justamente por aquelas iniqüidades. mento. Inúmeros esforços são empreendidos a
Assim, Whitehead aponta que as políticas na- fim de reduzir custos e equalizar os dilemas
cionais de saúde, planejadas para a população postos pela ampliação da demanda em saúde,
como um todo, não podem pretender preocu- tendo em vista a redução da capacidade de cap-
par-se da mesma forma com a saúde de todos tar recursos e financiar as ações de saúde por
se o impacto mais importante sobre a saú- parte da maioria dos estados nacionais.
de/doença se faz sentir nos grupos mais vulne- Apesar da variedade de contextos e das es-
ráveis da sociedade. pecificidades dos processos de constituição e
Também Almeida et al. (1999) relacionam operação dos sistemas nacionais de saúde de
eqüidade em saúde com justiça social, sendo cada país, pode-se afirmar que, em geral, as
as desigualdades consideradas justas ou injus- propostas para a área da saúde aglutinam-se
tas conforme as distintas interpretações das em torno de quatro pontos fundamentais, cons-
determinações da estratificação social. Para es- tituindo a denominada agenda global da saúde
sas autoras, as iniqüidades estão fundadas nas (Viana & Dal Poz, 1998):
relações sociais que determinam as chances da a) separação das funções de provisão e finan-
população obter acesso aos recursos materiais ciamento das ações de saúde;
e aos produtos sociais resultantes daqueles re- b) inclusão de mecanismos de mercado por
cursos. meio da competição administrada;
Nessa direção, cabe uma distinção entre c) ênfase na efetividade clínica;
eqüidade em saúde e eqüidade nos cuidados d) mudanças na concepção de saúde e no pa-
de saúde, à medida que suas determinações pel dos usuários nos sistemas de saúde.
não são as mesmas. Eqüidade em saúde refere- No Brasil, para além desse cenário de refor-
se às necessidades em saúde que são social- ma do Estado e de controle do gasto público, é
mente determinadas e que transcende o escopo preciso salientar as inovações introduzidas nas
das ações dos serviços da área, à medida que duas últimas décadas como decorrentes tam-
os cuidados de saúde são apenas um entre os bém de fatores internos ao próprio setor, po-
inúmeros fatores que contribuem para as desi- tencializados por sua dinâmica própria e pelo
gualdades em saúde. Nesse sentido, como afir- processo de implementação do SUS.
mam Giovanella et al. (1996), a ação isolada dos Assim, cabe destacar que as reformas do
serviços de saúde não é suficiente para resol- sistema de saúde no Brasil dos anos 80, se cir-
ver o conjunto das iniqüidades em saúde, mas cunscrevem no movimento mais amplo de re-
certamente pode contribuir para reduzi-las. democratização do país e de ampliação da ci-
Já em relação à eqüidade no uso de serviços dadania, onde a saúde constitui item impor-
de saúde, é preciso considerar que utilização tante na denúncia dos efeitos perversos do pa-
dos serviços, além de influenciada pelo perfil drão de intervenção estatal consolidado ao
de necessidades de cada grupo populacional, longo dos anos, marcado por seu caráter cen-
também está condicionada por inúmeros ou- tralizado, burocratizado, privatista e excluden-
tros fatores, internos e externos ao setor, rela- te. Fruto de uma ampla mobilização de dife-
cionados tanto à oferta dos serviços quanto às rentes setores da burocracia da saúde e da so-
preferências e possibilidades dos usuários. As- ciedade civil organizada – o denominado mo-
sim, “para além da determinação biológica e vimento sanitário – a reforma do setor saúde
social das necessidades, são considerados como ganha impulso com a inscrição, na Constitui-
fatores explicativos de uso de serviços aqueles ção Federal de 1988 (Brasil, 1988), dos princí-
relacionados com a efetiva implementação da pios e diretrizes da implantação do SUS. A uni-
política de saúde” (Almeida et al., 1999:11). versalização do acesso, enquanto uma das di-
É este último aspecto aquele que nos inte- retrizes do SUS, ao lado da descentralização e
ressa aqui de forma central. da participação popular, configuram uma in-

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flexão no modo predominante de produção de zando um sistema público de saúde para os


políticas sociais no Brasil, possibilitando rom- pobres e excluídos, é encarado como uma ten-
per com o padrão meritocrático característico dência racionalizadora, de contenção de gas-
do nosso sistema de proteção social. tos sociais, que põe em cheque a universalida-
É preciso, no entanto, destacar, como o fa- de do direito à saúde, ao instaurar a noção de
zem Almeida et al. (1999), que a inclusão de cesta básica para o setor.
princípios de eqüidade na formulação das po- Todavia, parece ser necessário relativizar e
líticas de saúde não se acompanha da imple- problematizar noções como o caráter regressi-
mentação automática de políticas que resul- vo e iníquo de ações e programas focais, à me-
tem em melhores níveis de eqüidade na pres- dida que a focalização tende a assumir um ca-
tação de serviços de saúde. Nessa direção, Drai- ráter altamente positivo ao se constituir uma
be (1999) ressalta que a agenda de reformas no condição necessária de garantia de acesso aos
campo social depara-se, a partir da metade da setores sociais excluídos. Nessa perspectiva, o
década de 90, com um ambiente político muito grande desafio, salienta Barros (1996), está em
complexo, perpassado pelo ajustamento eco- compatibilizar o estabelecimento de priorida-
nômico, pela complementação das reformas des sem adotar mecanismos de restrição de di-
institucionais e pelo processo de consolidação reitos sociais, como é o caso da definição de
da democracia. Assim, em que pese o inequí- uma cesta básica para o setor.
voco avanço da reforma da política de saúde na É nesse contexto que se deve situar a dis-
sua dimensão organizacional, vários proble- cussão em torno da eqüidade no interior do
mas e desafios se interpõem, dos quais a auto- PSF. O PSF se depara com o dilema entre a pers-
ra destaca: as distorções e ineficiências do inves- pectiva de racionalização dos gastos e a busca
timento, acarretando a implantação incomple- de eqüidade e justiça social. Essa discussão re-
ta de redes intermediárias e básicas de serviços, mete, de um lado, ao contexto no qual se dá sua
o que sobrecarrega e compromete a efetividade formulação, marcado pela introdução de uma
do sistema hospitalar; a ineficiência e princi- série de inovações na política de saúde brasi-
palmente a ineficácia dos recursos; um modelo leira e, de outro, à forma como o programa vem
assistencial fundado na livre demanda, do qual sendo implementado nos diversos municípios,
estão ausentes princípios de adscrição de clien- o que tende a conferir contornos diversificados
tela e identificação de porta de entrada; formas em cada arena local.
antiquadas e inadequadas de organização e
gestão do sistema e de suas unidades organiza-
cionais. Reflexões em torno do Programa
De fato, muitas produções teóricas em tor- Saúde da Família
no das políticas de saúde no Brasil têm desta-
cado os impasses na implementação do SUS. O debate sobre focalização x discriminação po-
Identificam que as recentes alterações no pro- sitiva no interior do PSF e, portanto, sobre a
cesso de reformulação do sistema de saúde bra- perspectiva de promoção de maior eqüidade
sileiro, sobretudo a partir de 1995, são pauta- da política de saúde, remete inicialmente à pro-
das pela perspectiva de racionalização dos gas- blematização do contexto no qual esse é for-
tos públicos, decorrentes da implementação mulado, à medida que o PSF não se constitui
das medidas de ajuste estrutural prescritas pe- uma iniciativa isolada mas se situa no interior
lo Banco Mundial. de um elenco de medidas de reforma do setor
Em linhas gerais, as análises sobre o rebati- nos anos 90.
mento das concepções, diretrizes e prescrições De fato, a segunda metade dos anos 90 tem
das agências multilaterais no setor saúde no como características da política de saúde a im-
Brasil, reafirmam o caráter altamente negativo plementação de novos programas, ações regu-
que tais medidas assumem no perfil de aten- latórias e modalidades de alocação de recur-
ção à saúde. Partem do pressuposto de que a sos, visando aumentar os níveis de eqüidade e
adoção de tais orientações traz como impacto eficácia do SUS. Essas medidas configuram-se
a progressiva redução no financiamento do se- num momento em que se busca promover a
tor, com a deterioração da rede física de servi- tensa conciliação entre objetivos macroeconô-
ços, a incapacidade de regulação por parte do micos de estabilização, com metas de reformas
Estado e a falta de compromisso frente às inú- sociais teoricamente voltadas para a melhoria
meras carências de uma população profunda- da eficiência e da eqüidade. Esta conjuntura
mente desgastada pelas difíceis condições em condicionou de forma importante a agenda
que vive. Ao mesmo tempo, o alargamento de das políticas governamentais e o próprio trata-
inúmeras propostas de focalização, preconi- mento das questões econômicas e sociais, ain-

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da que seu impacto tenha se diferenciado nas gulamentações ministeriais, que acabaram for-
diversas políticas setoriais. talecendo o caráter focalizador da proposta ao
No caso da saúde, pode-se dizer que as prin- privilegiar o número de equipes implantadas e
cipais medidas reformistas nessa época cen- não o aumento da cobertura, como previsto ini-
tram-se basicamente nos seguintes aspectos cialmente. Apesar disso, a definição das áreas
(Draibe, 1999): prioritárias pelo nível local pode contribuir
a) diversificação das fontes e critérios de trans- enormemente para a o estabelecimento de
ferência de recursos; prioridades e de princípios de justiça local, tal
b) aceleração do processo de descentralização como pensado por Elster (1992), promovendo
setorial; uma discriminação positiva a favor dos grupos
c) focalização das ações básicas e da popula- mais vulneráveis da população.
ção carente; Por outro lado, é preciso considerar que os
d) reorganização do aparato regulador do Es- municípios brasileiros têm sua tradição políti-
tado. ca assenta sobre o clientelismo e o paternalis-
Nesse contexto, o PSF integra uma conjun- mo, podendo, dessa maneira, contribuir para
to de medidas de reorganização da atenção bá- que o PSF se configure muito mais em um me-
sica na perspectiva, conforme apontam os do- canismo de barganha política envolvendo pre-
cumentos do MS, de se constituir uma das es- feitos, vereadores e a população do que um ins-
tratégias de reorientação do modelo de aten- trumento de promoção da eqüidade. De fato,
ção à saúde da população no âmbito do SUS análises sobre o processo recente de descen-
(MS, 1998). A adoção do PSF parte do reconhe- tralização das políticas sociais no Brasil, têm
cimento de que as iniciativas de introdução de ressaltado características dos níveis locais as
mudanças substantivas no setor saúde, a partir mais diversas, que vão desde a capacidade eco-
da implantação do SUS, apesar de seus avan- nômica, grau de desenvolvimento e perfil de
ços, têm resultados pouco perceptíveis na es- distribuição de renda até competência técnica,
truturação dos serviços de saúde, exatamente capacidade de governança e capital cívico, en-
por não promover alterações significativas no tre outros fatores. Somente estudos empíricos
modelo assistencial. Assim, para o MS, o pro- que se debrucem sobre o nível local, podem efe-
grama pressupõe muito mais uma inversão do tivamente contribuir para o conhecimento dos
modelo de atenção à saúde do que uma sim- critérios (e interesses) envolvidos na imple-
ples mudança, configurando uma importante mentação do programa e do tipo de focaliza-
inovação programática. ção que está sendo realizado pelo mesmo.
O PSF tem como marco uma reunião entre Quanto ao desenho do PSF, tem-se que, em
técnicos do MS e os secretários municipais, em linhas gerais, cada equipe é formada por um
dezembro de 1993, congregando atores das vá- médico generalista, dois auxiliares de enferma-
rias regiões do país, de forma a romper com o gem e seis agentes comunitários de saúde, de-
confinamento das experiências de agentes co- vendo cobrir cerca de 4.500 habitantes e refe-
munitários e saúde da família às regiões Norte renciar-se a uma unidade básica de saúde, que
e Nordeste. Pode-se dizer que o Programa de assegura o acesso do paciente na rede do SUS.
Agentes Comunitários de Saúde (PACS) e suas A unidade de saúde da família trabalha com
experiências exitosas, sobretudo no Estado do uma definição de território de abrangência, e
Ceará, constituem as plataformas para implan- cada equipe é responsável por uma área de re-
tação do PSF no país. Assim, em 1994, mas com sidências de 600 a 1.000 famílias, variação que
expressão nacional somente em 1995, surge o leva em conta as diversidades regionais. Para
PSF enquanto instrumento de reorganização Draibe (1999), a adscrição territorial da clien-
do SUS, sendo definida sua implantação em tela, juntamente com a opção pela unidade fa-
áreas de risco, de acordo com o Mapa da Fome miliar, constituem-se duas das principais ino-
(Viana & Dal Poz, 1998). vações do PSF que se não representam um
O estímulo financeiro do MS para implan- avanço do SUS, são pelo menos uma correção
tação do PSF, segundo a parcela variável do Pi- de suas insuficiências.
so de Atenção Básica (MS, 1996) tem, desde As estratégias de visita domiciliar e de bus-
1998, efetivamente contribuído para a expan- ca ativa, aliadas ao acompanhamento das fa-
são do programa em todo o país, o que remete mílias das áreas de abrangência, vêm de en-
à definição quanto ao estabelecimento de prio- contro à necessidade apontada por Vasconce-
ridades e critérios das áreas para implantação los (1999), de apoio intensivo a famílias viven-
do projeto para o nível local. Todavia, para Al- do em situações de crise que colocam em risco
meida et al. (1999), a implementação deste me- a vida de seus membros. Para este autor, os re-
canismo foi acompanhada de uma série de re- centes estudos sobre a família brasileira têm

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ressaltado a existência de algumas famílias nas Considerações finais


classes populares, que vivem situações espe-
ciais de risco (pais doentes, desempregados, As últimas linhas deste trabalho se destinam a
com conflitos conjugais intensos, envolvimen- ressaltar que o conteúdo aqui apresentado se
to em atividades ilícitas e perseguidas pela po- constitui numa primeira aproximação com a
lícia, dependência de drogas, distúrbios men- temática. Pretendeu-se, assim, menos um tra-
tais, etc.) que as tornam incapazes de articular tamento aprofundado do tema e mais a siste-
minimamente os cuidados de seus membros e matização de alguns pontos que permitam re-
por isso necessitam de atenção diferenciada do fletir sobre a focalização promovida pelo PSF e
Estado para garantir os direitos de cidadania seu impacto em termos de promover a eqüida-
das crianças, idosos e deficientes físicos ali de no interior da política de saúde. Muitas das
presentes. Iniciativas nesta direção têm sido questões aqui mapeadas merecem um estudo
promovidas em alguns municípios brasileiros mais profundo e ricas contribuições analíticas
e embora Vasconcelos (1999) avalie que, em ge- podem surgir de investigações sobre a temáti-
ral, elas prestem uma atenção ainda conserva- ca, baseadas em pesquisas empíricas solida-
dora, porque presa a uma cultura tutelar que mente fundamentadas, estando aqui um rotei-
nega autonomia da família, tais iniciativas têm ro introdutório para esta incursão.
o mérito de potencializar a adoção de políticas Este artigo buscou ressaltar a complexida-
mais equânimes. Assim, essa modalidade de de que envolve o tema da eqüidade e da justiça
intervenção se faz necessária pela constatação social no âmbito do PSF. Essa complexidade se
mais do que difundida de que famílias em si- aprofunda em face das grandes heterogeneida-
tuação mais precária tendem a ficar à margem des regionais, sociais, econômicas, políticas e
dos serviços que orientam seu atendimento administrativas que marca a história brasileira.
pela demanda espontânea, promovendo, deste Nesse sentido, a focalização assume o caráter
modo, o acesso daqueles setores populacionais de inclusão de grandes parcelas da população
excluídos do sistema de saúde e ao mesmo tradicionalmente alijadas do acesso a um mí-
tempo os mais vulneráveis. nimo de garantias sociais. No entanto, é impe-
Uma primeira avaliação sobre o PSF aponta rativo que as ações focais estejam integradas a
para o impacto positivo do programa em áreas uma política mais ampla que forneça suporte
com grande déficit de serviços básicos de saú- social, garanta direitos universais e que permi-
de, sobretudo na Região Nordeste do país. To- ta aos diferentes grupos sociais o desenvolvi-
davia, um dos grandes desafios do programa se mento de suas capacidades. Caso contrário, tais
refere a seu impacto nas grandes regiões me- ações acabam por reproduzir desigualdades e
tropolitanas, onde, ao menos em tese, há uma reforçar a segmentação social.
oferta mais estruturada de serviços de saúde e Ainda é recente o processo de implementa-
onde se concentra um expressivo contingente ção do PSF, sobretudo se levarmos em conta
populacional com elevado índice de pobreza sua implantação nos municípios. Isto não im-
urbana e ao mesmo tempo extremamente he- pede, no entanto, que esforços analíticos sejam
terogênea. desenvolvidos, na perspectiva de contribuir
De igual importância, outro grande desafio para o debate acerca dos limites e alcances do
do programa diz respeito à sua capacidade de programa quanto a universalizar e focalizar os
integração com o restante do sistema de saúde, segmentos prioritários, ultrapassando as abor-
de forma a redefinir qualitativamente o mode- dagens restritas e homogêneas que não consi-
lo de atenção à saúde, como pretendido por deram as pluralidades locais.
seus formuladores, mostrando que não é ape-
nas uma proposta de atenção simplificada e
barata para áreas pobres e rurais do país. Fica
aqui a perspectiva de que o PSF possa se cons-
tituir em um mecanismo de focalização dentro
da universalização de direitos promovida pelo
SUS, trazendo o grande desafio de compatibili-
zar o estabelecimento de prioridades sem ado-
tar mecanismos de restrição de direitos sociais,
como seria o caso da definição de uma cesta
básica para o setor.

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Agradecimentos

A autora agradece os comentários e contribuições dos


professores Rosana Magalhães e Gilberto Hochman,
bem como aos pareceristas anônimos da revista.

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