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Categoria: jovem cientista

Título: Odontologia Sustentável: o papel da classe odontológica na problemática


ambiental em São Luís – MA
Autora: Janaína de Fátima dos Santos de Freitas
Orientadora: Vanessa Camila da Silva
Instituição:Universidade Federal do Maranhão, Departamento de Odontologia II, Av
dos Portugueses s/n, Campus Universitário do Bacanga, São Luís, Maranhão, Brasil. CEP:
65085-580. Tel. +55 98 3301-8575, (98) 3235-0456; Fax: +55 98 3301-8601. E-mail para
correspondência: janafreitas05@gmail.com (Freitas JFS), silvavan@uol.com.br (da Silva
VC) e odontologia.depto2@gmail.com (Departamento de Odontologia II).

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RESUMO

Odontologia Sustentável: o papel da classe odontológica na problemática ambiental


em São Luís – MA
O objetivo deste estudo foi avaliar como os cirurgiões-dentistas descartam os resíduos
odontológicos em São Luís – MA e como os órgãos competentes realizam o esgotamento de
fluidos contaminados e a coleta e tratamento dos resíduos sólidos de saúde (RSS). Aplicou-se
um questionário junto aos cirurgiões dentistas e entrevistas junto à Companhia de Águas e
Esgotos do Maranhão e à empresa coletora de lixo especial. Após cálculo amostral, foram
selecionados 74 cirurgiões-dentistas de modo randomizado cadastrados na Vigilância
Sanitária do Município. Verificou-se que 79,72% dos entrevistados não realizam atividade
sustentável em seu consultório e 56,75% não conhecem e não põem em prática, devidamente,
as normas de gerenciamento de resíduos. De acordo com os órgãos de esgotamento de fluidos
não há tratamento de esgoto diferenciado para os consultórios e apenas 10% do esgoto total
da cidade recebe tratamento. O lixo especial é incinerado pela empresa coletora de lixo
odontológico sendo que 91,89% dos dentistas contratam este tipo de serviço.
Concluiu-se que os cirurgiões-dentistas em São Luís - MA necessitam de maiores
esclarecimentos quanto à forma ideal de descarte dos RSS e que há necessidade de maior
inter-relação entre as empresas de reciclagem e cirurgiões-dentistas e ainda elaborou-se a
partir desta pesquisa um Guia Prático para o Dentista Sustentável, o qual servirá de orientação
para os dentistas, em São Luís – MA, de qual a melhor forma de descarte de resíduos em sua
localidade visando a preservação do meio ambiente.

Palavras chaves: Resíduos odontológicos. Gerenciamento de resíduos. Meio


ambiente
ABSTRACT

Sustainable Dentistry: the role of the dental class on environmental issues at São
Luís – MA
The aim of this study was to evaluate how the dentists discard the dental waste in São
Luís - MA and as government agency perform the depletion of contaminated fluids and the
collection and processing of solid waste from health (RSS). We applied a questionnaire to
dentists and interviews with the Water and Sewerage Company of Maranhão and the company
special garbage collected. After sample size calculation, it was selected 74 dentists in a
randomized way at the City Health Surveillance. It was found that 79.72% of dentists do not
achieve sustainable activity in his office and 56.75% did not know and do not put into
practice properly, the rules of waste management. According to the organs of depletion of
fluids no sewage treatment for the different offices and only 10% of the total city sewage
receives treatment. The special waste is collected and incinerated by the company and 91.89%
of dentists employ this type of service.
It was concluded that dentists in San Luis - MA need further clarification on the ideal
way to dispose of the RSS and that there is need for greater inter-relationship between
recycling companies and dentists. It was also produced from this research a Practical Guide to
Sustainable Dentist, which can serve as guidance for dentists in San Luis - MA of how the
best way to dispose of dental waste in their locality for the preservation of the environment.

Key words: Dental waste. Waste management. Environment


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1 INTRODUÇÃO
Por definição, Desenvolvimento Sustentável é aquele que atende às necessidades
atuais sem comprometer a possibilidade de que as gerações futuras satisfaçam as suas próprias
necessidades (FELDMANN, 2009).
Para a sustentabilidade de seus trabalhos, as organizações necessitam ser
eficientes, sobreviverem, crescerem e desenvolverem a capacidade de se adaptar e operar
mudanças para atender a um mundo em rápidas transformações. E em um ambiente cada vez
mais competitivo as empresas precisam atender à globalização, buscando qualidade de
produtos, processos e serviços, o que inclui a atenção à qualidade do meio ambiente
(CORRÊA et al, 2007; WADA, 2009).
De acordo com a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA), das 154 mil
toneladas de resíduos sólidos urbanos gerados no Brasil por dia, 2% representam os resíduos
gerados nos serviços de saúde, do quais 20% são de resíduos tóxicos e contaminantes que
necessitam de tratamento prévio à disposição final (ANVISA, 2007).
Os Resíduos Sólidos de Saúde (RSS) são classificados atualmente no Brasil pela RDC
nº 306/04, da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA) e pela Resolução nº
358/05 do Conselho Nacional do Meio Ambiente (CONAMA), como: tipo A, resíduos com a

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possível presença de agentes biológicos, que por suas características de maior virulência ou
concentração, podem apresentar risco de infecção; tipo B, resíduos contendo substâncias
químicas, que podem apresentar risco à saúde pública ou ao meio ambiente, dependendo de
suas características de inflamabilidade, corrosividade, reatividade e toxicidade; resíduos do
tipo C, constituídos por produtos resultantes de atividades humanas que contenham
radionuclídeos (elementos radioativos) em quantidades superiores aos limites de eliminação
especificados nas normas da Comissão Nacional de Energia Nuclear-CNEN e para os quais a
reutilização é imprópria ou não prevista; resíduos tipo D, resíduos que não apresentam risco
biológico, químico ou radioativo à saúde ou ao meio ambiente, podendo ser equiparados aos
resíduos domiciliares; e, tipo E, formado por materiais perfurocortantes ou escarificantes
(ANVISA, 2004; BRASIL, 2005).
Os resíduos gerados nos serviços odontológicos são os biológicos, químicos,
perfurocortantes e comuns e no contexto de preservação ambiental, a classe odontológica
deve adequar suas atividades às necessidades do planeta. A Gestão Ambiental Integrada à
Saúde deve ser um dos pilares dessa mudança, a qual não se restringe a fatores estritamente
técnicos e ambientais. Quando se fala em gestão ambiental se refere à sustentabilidade de
forma ampla e irrestrita, não apenas no cumprimento legal de normas e conceitos, mas de
forma participativa e consciente para uma nova conduta ambiental (COSTA et al, 2000;
SCHNEIDER et al, 2001; KONTOGIANNI et al, 2008; SOUZA et al, 2009).
Como os resíduos gerados nos serviços odontológicos causam risco à saúde pública,
ocupacional e ambiental equivalente aos resíduos dos demais estabelecimentos de saúde, seus
responsáveis técnicos devem implantar um plano de gerenciamento de acordo com o
estabelecido na RDC/ANVISA no 306, capaz de minimizar ou até mesmo impedir os efeitos
adversos causados pelos RSS, do ponto de vista sanitário, ambiental e ocupacional
(PINHEIRO E CONSOLARO, 2005; BRASIL, 2006; PACE, 2009).
No Brasil, a classe odontológica ainda se mostra extremamente displicente com as
questões ambientais (VIEIRA, 2009) e em um mundo contemporâneo globalizado que
enfrenta dilemas cruciais no que tange a preservação ambiental e a busca pelo
desenvolvimento sustentável, verifica-se que, tais questões, somente serão solucionadas com
ações integradas entre sociedade civil, setor empresarial, governos e indivíduos, cada setor
com sua parcela de responsabilidade (TURMA DO BEM, 2009).

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2 OBJETIVOS
Entendendo-se que, a classe odontológica realiza atividades que produzem resíduos
que comprometem a integridade do meio ambiente, é que se realizou esse estudo com o
objetivo de avaliar como a classe, em São Luís – MA, se comporta diante de tal problema e
como os órgãos competentes, da mesma cidade, realizam o esgotamento de fluidos
contaminados e a coleta e tratamento dos resíduos sólidos de saúde (RSS) produzidos pelos
consultórios odontológicos. Com isso, busca-se demonstrar também, como, no ambiente de
trabalho, o cirurgião-dentista pode contribuir com a sua parcela de responsabilidade
ambiental, buscando a sustentabilidade.

3 MATERIAL E MÉTODOS
Neste estudo transversal aplicou-se um questionário com os cirurgiões-
dentistas em São Luís - MA e realizou-se entrevistas com os representantes dos órgãos
ligados a essa questão. Todo o projeto da pesquisa foi submetido ao Comitê de Ética em
Pesquisa da UFMA e aprovado sob protocolo número 23115-013873/2009-22.
Os sujeitos da pesquisa foram os cirurgiões-dentistas dos consultórios e
clínicas odontológicas, que possuíam aparelhos de raio-X, cadastrados na Vigilância Sanitária
do Município de São Luís – MA totalizando 392 cadastros, segundo dados emitidos pela
Vigilância em 09/12/2009. Desse total foram selecionados 74 consultórios ou clínicas através
do cálculo da amostra usando o software Epi Info 3.5.1. Para o cálculo da amostra foram
levados em consideração alguns aspectos:
1) a população de 392 clínicas ou consultórios odontológicos que têm aparelhos de
raio-X; 2) intervalo de confiança de 95%. Para escolher os 74 consultórios ou clínicas do total
de 392 foi realizado um sorteio randomizado da amostra através do site
www.random.org/integers.
Os sujeitos foram abordados pessoalmente pela pesquisadora ou através de
encaminhamento por funcionário direto do consultório/clínica, com o questionário sobre o
descarte de resíduos odontológicos e Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE).
Os cirurgiões-dentistas foram informados dos objetivos da pesquisa e puderam optar se
queriam ou não participar da mesma.
Foi realizada, também, entrevista com o representante da Companhia de Águas
e Esgotos do Maranhão, Sérgio Pereira dos Anjos Neto, Engenheiro Civil, especialista em
Engenharia Ambiental, para avaliar como é realizado o esgotamento de fluidos contaminados
e tóxicos; e entrevista com José Fernando Barreto Coimbra, gerente geral da empresa privada

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coletora de lixo especial, SERQUIP® – MA para avaliar como é feita a coleta e o tratamento
dos Resíduos Sólidos de Saúde (RSS) produzidos pelos consultórios odontológicos de São
Luís – MA.
Ao final do estudo, os sujeitos receberam os resultados da pesquisa e
orientações através de e-mail ou entrega direta pela pesquisadora, sobre como contribuir para
a preservação do meio ambiente na cidade de São Luís – MA.

4 RESULTADOS
Foi observado que 9,5% dos entrevistados não conhecem as normas da RDC-306 e
CONAMA-358 enquanto 58,1% não as conhecem bem, mas já ouviram falar, 29,7%
conhecem as normas e 2,7% não responderam.
Quanto à separação do lixo, 5,4% não separam o lixo comum do odontológico, 94,6%
separam, sendo que, destes, 68,6% utilizam saco branco, 5,7% lançam direto na bambona
(recipiente de polietileno de alta densidade resistente à punctura e vazamento), 15,7%
separam o lixo utilizando saco comum, 1,4% separa somente os perfurocortantes e 8,6% não
explicaram como essa separação é realizada.
Verificou-se que 6,8% não pagam taxa de recolhimento de lixo odontológico, 91,9%
pagam e 1,4% não respondeu. 6,8% dos entrevistados não separam perfurocortantes, 1,4%
não respondeu e 91,9% separam, sendo que destes 89,7% utilizam caixa de papelão
específica, 4,4% descartam em garrafa plástica e 5,9% não explicaram. Quanto às embalagens
de descarte, 4,1% usam saco comum para tudo, 14,9% usam saco comum e Descarpack ®
(caixa de papelão para perfurocortantes, resistente à punctura e vazamento), 77% usam saco
branco específico e Descarpack® e 4,1% lançam o lixo direto na bambona.
Dos entrevistados, 39,2% não sabem para onde vai o lixo e se há tratamento, 21,6%
sabem para onde vai o lixo, mas não sabem se há tratamento e 39,2% sabem para onde vai e
que há tratamento.
Quando indagados se tinham luz com sensor de presença no consultório, 94,6%
afirmaram que não tinham e 5,4%, que tinham esse tipo de luz. Nenhum dos entrevistados
devolve as embalagens de materiais aos fabricantes, 2,7% dizem que os enviam à reciclagem,
74,3% disseram colocar no lixo comum, 21,6% colocam no lixo odontológico e 1,4% não
respondeu. Quanto ao tipo de copo usado pela equipe, 14,9% disseram usar copo de vidro ou
cerâmica, 83,8% afirmaram usar copo descartável e 1,4% não respondeu. 79,7% não realizam
atividade sustentável em seu consultório, 1,4% não respondeu e 18,9% afirmaram realizá-la.
Destes 28,6% afirmaram reciclar descartáveis, 7,1% reaproveitam brocas, 7,1% reciclam

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amálgama, 7,1% realizam controle de infecções, 7,1% economizam copo descartável e 42,9%
disseram realizar coleta seletiva de lixo odontológico.
Sobre o descarte de brocas, 13,5% dos entrevistados afirmaram descartar as brocas no
lixo comum, 70,3% no lixo perfurocortante, 1,4% enviam para reciclagem, 9,5% colocam no
lixo odontológico, 4,1% enviam para laboratório de prótese e 1,4% não responderam. O
amálgama é descartado no lixo comum, segundo 9,5% dos entrevistados, 1,4% respondeu
jogar na rede de esgoto, 29,7% colocam em recipiente inquebrável com água e enviam para
reciclagem. 43,2% não usam amálgama, 14,7% colocam no lixo odontológico e 1,4% não
respondeu.
Quanto ao descarte do revelador e fixador, 82,4% disseram lançar na rede de esgoto,
4,1% enviam para tratamento, 7,8% não usam, 1,4% devolve para o representante, 2,7%
mandam para a empresa coletora de lixo especial, 1,4% trata o revelador com vinagre e vende
o fixador. 85,1% afirmaram realizar radiografias com aparelho convencional, 5,4% com
sensor digital e 9,5% não realizam tomadas radiográficas. Quanto às embalagens dos filmes
radiográficos, 23% jogam no lixo comum, 54,1%, no lixo odontológico, 4,1% enviam à
reciclagem para recuperar o chumbo, 8,1% não usam, 5,4% guardam somente o chumbo,
2,7% guardam as radiografias no plástico e jogam o chumbo no lixo comum e 1,4% guarda o
plástico e o chumbo.
A empresa privada coletora de lixo especial, SERQUIP ® – MA, informou por
intermédio de seu gerente geral José Fernando Barreto Coimbra que, no momento, é a única
licenciada em São Luís para este serviço e atua desde o ano de 2004. A coleta dos RSS é feita
uma vez por semana observando as normas de biossegurança, e o lixo coletado é incinerado.
Sobre essa incineração, declarou que os dentistas são informados sobre o tratamento dado aos
resíduos e que as cinzas produzidas são levadas para o Aterro Controlado da Ribeira com
autorização da SEMOSP – Secretaria Municipal de Obras e Serviços Públicos. Afirmou
ainda, que o incinerador possui filtro na chaminé e que a quantidade de gases liberados é
minimizada permanecendo dentro dos padrões estabelecidos pelo CONAMA e, ainda, que há
uma análise anual dos gases emitidos. O gerente disse que os dentistas são orientados,
informalmente, sobre como deve ser feita a separação dos RSS na origem e seu
armazenamento até a coleta. Quando indagado sobre o amálgama, chumbo, revelador e
fixador que é entregue pelos dentistas junto com o lixo contaminante, o gerente afirmou que a
quantidade é mínima e que isso não afeta a qualidade dos gases emitidos.
Na entrevista realizada na CAEMA - Companhia de Águas e Esgotos do Maranhão -
junto ao engenheiro civil, especialista em engenharia ambiental, Sérgio Pereira dos Anjos

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Neto, o mesmo afirmou que, não existe, regulamentação sobre a emissão de efluentes dos
consultórios odontológicos (sangue, saliva, revelador, fixador, amálgama e outros). Não há
diferenciação do esgoto doméstico e do odontológico. Isto porque, até então, não se tem
tratado, especificamente, sobre este assunto. De todo o esgoto da cidade de São Luís – MA,
que inclui os efluentes dos consultórios odontológicos, estima-se que apenas 10% do mesmo é
tratado antes de ser lançado no meio ambiente. Para ele seria possível uma parceria entre a
Vigilância Sanitária, órgãos ambientais, estado, município e a própria CAEMA, usando a
tecnologia existente, para solucionar a questão dos efluentes dos consultórios. No entanto,
para que se chegue a essa parceria é necessário estabelecer pontos no regimento interno da
empresa (CAEMA), introduzir uma sistemática, cadastrando e envolvendo todas as unidades
de consultórios odontológicos, o que envolveria um acompanhamento, a fim de condicionar o
lançamento em um ponto em que pudesse ser realizado um pré tratamento. Ele afirma, ainda,
que este é um trabalho que demanda uma mudança de consciência e também das condições
operacionais da empresa. Disse que está sendo reformulado o regulamento de serviço da
companhia. Este novo documento ainda não foi aprovado, e mesmo, não está sendo tratado o
caso dos efluentes dos consultórios. Para ele, existe, então, a necessidade de fazer uma
explanação, sobre este assunto, ao corpo técnico e gerencial da empresa para discutir os males
e os riscos da contaminação do meio ambiente, para que, se forme uma crítica e se abram
caminhos para solucionar este problema. Sobre o esgotamento total existem duas estações de
tratamento (Jaracaty e Bacanga) que tratam um volume aquém da capacidade nominal e o
esgoto que não é tratado é lançado nos córregos, galerias, igarapés, grande parte dos
manguezais e no mar.

5 DISCUSSÃO
Esse projeto de pesquisa teve como objetivo avaliar como os cirurgiões-dentistas na
cidade de São Luís - MA realizam o descarte dos resíduos odontológicos e como é feita a
coleta dos RSS e o esgotamento dos fluidos pela empresa pública local (CAEMA). Foi
observado que a consciência ambiental sustentável ligada às atividades odontológicas está
aquém do necessário. Os dentistas, apesar de separarem o lixo contaminado, ainda não sabem
ao certo o que fazer com alguns materiais antes do descarte.
Em São Luís – MA a coleta dos RSS dos consultórios odontológicos é feita por
empresa particular especializada – SERQUIP®-MA. Neste estudo, observou-se que 91,9% dos
entrevistados pagam a taxa de recolhimento de lixo odontológico e, com isso, transferem a
responsabilidade de preservação ambiental e de saúde pública, pois somente 39,2% sabem

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para onde vai o lixo e se há tratamento para o mesmo, o que, contraria a afirmação do gerente
geral da SERQUIP®-MA que diz informar todos os contratantes sobre o tratamento dado ao
lixo, que é a incineração. Verificou-se, também, que 58,1% dos dentistas não conhecem bem
as normas da RDC/ANVISA 306 e CONAMA 358 que tratam do gerenciamento de resíduos
de saúde. Somente contratam uma empresa para a coleta de lixo odontológico, quando
deveriam se interessar em promover o Plano de Gerenciamento de Resíduos Sólidos de Saúde
(PGRSS), que é dever de todo gerador de RSS, segundo a ANVISA (2004).
Quanto à separação do lixo no consultório, 94,6% dos entrevistados afirmaram que
separam o lixo comum do lixo odontológico, indicando que há uma separação do material
contaminado de forma satisfatória, sendo que 77% utilizam saco branco e caixa de papelão
com simbologia específica para descartar o material. Na Austrália, CANNATA et al.(1997)
constataram que 100% dos resíduos odontológicos eram separados do lixo comum.
Na Nova Zelândia, TREASURE e TREASURE (1997), encontraram um índice de
80,3% de separação de perfurocortantes e em Belo Horizonte - Brasil, NAZAR et al. (2005)
encontraram 100%. Outro estudo feito no Brasil, por NOBREGA et al. (2000), em João
Pessoa - PB, encontrou 85,7% de acondicionamento adequado de perfurocortantes. Em nosso
estudo, observamos também que a maioria dos entrevistados (91,9%) afirmou descartar os
perfurocortantes em caixa de papelão, resistente à punctura e vazamento, com simbologia
adequada, atendendo assim às normas estabelecidas pela RDC 306 enquanto apenas 6,8% dos
entrevistados, ainda precisam de conscientização sobre os riscos do acondicionamento
inadequado dos perfurocortantes, como contaminação por vírus da AIDS e da hepatite B.
Em São Paulo, BUSSADORI et al. (2009) descreveram que, 70,4% dos profissionais
entrevistados, descartam brocas no lixo comum e apenas 8,6% utilizam o lixo contaminado ou
o perfurocortante, enquanto que, em São Luís –MA 70,3% descartam as brocas no lixo
perfurocortante e somente 13,5% jogam no lixo comum, verificando-se uma maior correção
por parte dos dentistas em São Luís – MA.
Dos que disseram não conhecer, de forma alguma, as normas da ANVISA (9,5%),
71,4% separam o lixo comum do odontológico e 85,7% pagam taxa de lixo, esclarecendo que,
os mesmos, apesar de não conhecerem as normas se enquadram, positivamente, no contexto
de gestão de resíduos.
O exercício da odontologia gera a eliminação de material tóxico, como o revelador, e
metais pesados que não são degradados pelo meio ambiente como o mercúrio proveniente do
amálgama, a prata dos fixadores e o chumbo das películas radiográficas.

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Para o mercúrio, a reciclagem, a diminuição do uso ou a substituição do amálgama nas
restaurações são os processos de minimização mais recomendados segundo NAZAR et
al.(2005). Em São Luís – MA, 43,2% dos dentistas não usam amálgama e, dos que usam,
29,7% separam-no em recipiente inquebrável e o enviam para reciclagem, o que demonstra
que os processos de minimização do mercúrio são de conhecimento da maioria dos
profissionais desta cidade e estão sendo usados. Entretanto, dos profissionais que dizem
conhecer as normas, 9,1% ainda jogam o amálgama no lixo comum demonstrando que, estes,
não conhecem o disposto no capítulo III da RDC 306, 11.17 (ANVISA, 2004) que diz que os
resíduos contendo mercúrio (Hg) devem ser acondicionados em recipientes sob selo d’água e
encaminhados para recuperação. TREASURE e TREASURE (1997) encontraram, na Nova
Zelândia, um índice de 83,7% de separação do mercúrio e não cita se ocorre reciclagem desse
material. No estado de Minas Gerais, RINK et al. (1994) encontraram 71,8% de
acondicionamento de amálgama em vidros com água e o restante era descartado na pia,
cuspideira ou no lixo.
Averiguou-se que em São Luís - MA, 54,1% das embalagens de filmes radiográficos,
juntamente, com o chumbo são destinadas ao lixo odontológico que será incinerado e que
5,4% guardam o chumbo, porém não sabem o que fazer com o mesmo. BUSSADORI et al.
(2009) encontraram 60,7% de profissionais que jogam o plástico do filme radiográfico em
lixo comum e 6,4% que guardam esse material. É possível pensar formas de aproveitamento
desses materiais como, por exemplo, as embalagens de plástico, após descontaminação podem
ser recicladas e o chumbo pode ser reaproveitado em sucatas.
Quanto aos reveladores, fixadores e chumbo, os mesmos são descartados de forma
incorreta, por negligência ou por falta de conhecimento sobre o destino adequado dos
mesmos, ou ainda pela falta de diretrizes estabelecidas pelos órgãos ambientais, gestores de
recursos hídricos e de saneamento competentes. No presente estudo, 82,4% dos entrevistados,
afirmaram lançar revelador e fixador diretamente na rede de esgoto desprezando o seu
potencial tóxico e cumulativo de metal pesado no meio ambiente. BUSSADORI et al. (2009)
encontraram que, após o uso, 61,1% de seus entrevistados jogam revelador e fixador na pia e
rede de esgoto e 27,5% guardam em reservatórios. Segundo GRIGOLETTO e
TAKAYANAGUI (2008), esses efluentes são caracterizados por apresentar elevado valor de
DQO (Demanda Química de Oxigênio) e pH fora do intervalo permissível pela legislação. A
DQO elevada indica grande concentração de matéria orgânica e baixo teor de oxigênio. Esses
valores, estando fora da neutralidade, podem afetar a vida aquática do ambiente no qual for
lançado, causando a morte da fauna e flora local (FERNANDES et al, 2006). Para a

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neutralização do revelador foi sugerido, pelo grupo ODONTOBIO (2009), a fórmula: 1 L de
revelador, 10 L de água e 100 mL de vinagre (ácido acético) e confirmação com fita de pH
que deve ficar entre 7.0 e 9.0. Para o fixador sugere-se processo de recuperação da prata.
Segundo o Doutor Sérgio Pereira, não existe, no regimento da CAEMA,
regulamentação sobre a emissão de sangue, saliva, revelador, fixador, amálgama e outros
efluentes dos consultórios odontológicos. Apesar de já terem sido realizados alguns estudos
sobre o assunto e haver sido proposto na literatura o uso de vinagre, por exemplo, não houve,
até então, um contato entre os pesquisadores e a CAEMA para que se pudesse mudar esse
quadro de indiferença.
A legislação, nesse aspecto, também é falha, pois somente cita que os reveladores e
fixadores podem ser submetidos a tratamento antes de serem lançados na rede de esgoto e
atendendo às diretrizes estabelecidas pelos órgãos ambientais, gestores de recursos hídricos e
de saneamento competentes. Portanto, não se caracteriza um dever enquanto não houver
orientações específicas dos órgãos ambientais locais. Por isso, ele afirmou que havendo uma
interação entre os setores científico e operacional seria possível uma parceria entre os
geradores de efluentes contaminantes e os órgãos competentes, a fim de, buscar a
identificação e conscientização dos profissionais envolvidos em uma mobilização para o
cumprimento das normas vigentes e mudança das condições legais e operacionais da
CAEMA.
Sobre os resíduos sólidos, o gerente geral da SERQUIP®-MA, afirmou que, todo o
material recolhido nos consultórios odontológicos é incinerado para eliminar o potencial
contaminante, e que, orienta, informalmente, os contratantes sobre como deve ser feita a
separação do lixo na origem. Contudo, 9,5% ainda lançam amálgama no lixo comum e 14,7%
enviam os restos de amálgama junto com o lixo que será incinerado o que, conseqüentemente,
produzirá vapor de mercúrio que é bastante tóxico. Foi observado que o mesmo acontece com
o revelador e fixador que é entregue à SERQUIP®- MA, segundo 2,7% dos entrevistados.
Em uma comunidade que almeja a preservação e sustentabilidade do meio ambiente,
deve-se dar atenção a todos os detalhes, até mesmo para os copos utilizados pela equipe do
consultório. 83,8% dos entrevistados afirmaram utilizar copos descartáveis para a equipe
quando, os mesmos, poderiam ser de material lavável e reutilizável, individualmente.
Também 74,3% das embalagens de materiais não contaminadas que poderiam ser enviadas à
reciclagem são colocadas no lixo comum. Dos dentistas que disseram realizar alguma
atividade sustentável em seu consultório (18,9%), somente 6,7% usam copo de vidro e 13,3%
enviam embalagens de material odontológico para reciclagem. BUSSADORI et al. (2009)

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encontraram 23,6% de profissionais que tinham a preocupação de encaminhar para a
reciclagem algum tipo de resíduo gerado na clínica.
A utilização de luzes com sensor de presença também ajudaria a economizar energia
elétrica, contudo 94,6% afirmaram não usá-las. 79,7% dos dentistas não realizam atividade
sustentável em seu consultório devendo, portanto, buscar uma nova percepção da realidade e
começar a agir em prol do meio ambiente. Como alternativas sugere-se a coleta seletiva de
lixo não contaminado para reciclagem de materiais descartáveis e que contenham metais
pesados além de tratamento de resíduos tóxicos antes de lançá-los ao meio.
Verificou-se, então, que no ambiente de trabalho, o cirurgião-dentista pode contribuir
com a sua parcela de responsabilidade ambiental, na medida em que, venha a seguir as
normas de Gerenciamento de Resíduos de Saúde e realize atividades sustentáveis com
consciência ambiental.
É preciso que haja maior divulgação das normas de descarte dos RSS e, mais que isso,
conscientização dos profissionais para uma nova conduta ambiental. É necessária também
uma divulgação e discussão no meio acadêmico objetivando capacitar os futuros cirurgiões
dentistas, de modo que, estes, exerçam suas atividades profissionais com responsabilidade
ambiental, além de mais estudos para buscar novas soluções para o destino dos resíduos
odontológicos de forma a preservar o meio-ambiente. É necessária também maior inter-
relação entre empresas de reciclagem e cirurgiões-dentistas, comunicação entre o meio
científico e o operacional no sentido de buscar soluções visto que, o planeta necessita, cada
vez mais, de preservação e sustentabilidade.

6 CONCLUSÕES
Após avaliar os resultados desse estudo constatou-se que:
1. Os cirurgiões dentistas descartam seus resíduos entregando-os à empresa particular
especializada em coleta de lixo contaminante a qual realiza a incineração dos mesmos;
2. Os fluidos contaminados dos consultórios e clínicas são lançados na rede de esgoto
comum, pois a empresa gestora dos recursos hídricos estadual, não faz distinção de esgoto e
10% do esgoto total da cidade recebe tratamento;
3. Os cirurgiões-dentistas de São Luís - MA necessitam de maiores esclarecimentos
quanto à forma adequada de descarte dos RSS;
4. Há a necessidade de maior inter-relação entre empresas de reciclagem, órgão
público gestor dos recursos hídricos e de saneamento e os cirurgiões-dentistas.

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7 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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