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A MÃO

No século passado, Friedrich Engels chamou a atenção sobre a importância


deste fenómeno, ao escrever [1873-861: «Apenas o homem conseguiu imprimir
a sua marca sobre a natureza, não só porque alterou o local da fauna e da
flora, mas também porque modificou de tal modo o aspeto, o clima e até os
animais da zona por ele habitada, que os resultados da sua atividade só irão
desaparecer com a extinção total do globo terrestre. E o homem realizou tudo
isto, antes de mais e essencialmente, através da mão» (trad. it. p.331). Engels
acrescentava: «A mão, sozinha, não teria nunca construído a máquina a vapor,
se, correlativamente, o cérebro humano não se tivesse desenvolvido com ela,
ao lado dela, e em grande parte através dela» [ibid.]. Precursor das atuais
reflexões sobre o processo de hominização, Engels escrevia ainda:
«A especialização da mão significa o instrumento: e instrumento significa a
atividade humana específica, a reação transformadora do homem sobre a
natureza, a produção» [ibid.].

Mas estas especializações da mão, esta possibilidade de fazer à mão, de


«manufaturar», no sentido original do termo, refletem-se também no
aparecimento da linguagem e, por conseguinte, posteriormente, da escrita.

Os diversos tipos de vestuário e de habitação, as armas e as obras de arte, os


utensílios, os instrumentos, as máquinas a paisagem, finalmente, e, em suma,
todos os objetos que compõem a cultura material e cujos traços permitem,
mediante o auxílio dos fósseis, reconstituir a evolução e a história do homem,
são produtos da mão, fabricados a partir de materiais encontrados na natureza
em estado bruto.

De um determinado ponto de vista, isto também é verdade para o corpo


humano: as projeções da mão e dos órgãos da linguagem ocupam grande
espaço no córtex cerebral. Esta ligação não é fortuita: a história do homem é a
história de uma interação entre a palavra e o gesto, entre a imaginação e a
técnica que, tanto uma como a outra, são postas em funcionamento na
adaptação do homem ao ambiente que é continuamente modificado por ele, ao
acender o fogo, ao praticar a caça, a agricultura, a criação do gado, a atividade
industrial.

Jacques Barrau Enciclopédia Einaudi, Lisboa, IN-CM, 1989

Texto escrito conforme o Acordo Ortográfico

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