Você está na página 1de 28

1

NUTRIÇÃO E FORMULAÇÃO DE RAÇÃO PARA BOVINOS LEITEIROS

Flávio Augusto Portela Santos


DEPARTAMENTO DE ZOOTECNIA
ESALQ/USP

1. Introdução

Estabelecer manejo nutricional, sanitário, reprodutivo e condições de conforto animal


adequados, são condições básicas para se atingir eficiência alta em sistemas de produção de
leite.
O termo ração engloba todos os alimentos consumidos pela vaca leiteira. Na maioria dos
casos, a ração consumida por vacas de boa produção é uma combinação de alimentos
volumosos (pastagem, silagem, feno ou cana-de-açúcar) e alimentos concentrados (milho,
farlelo de soja, etc).
Os objetivos ao se formular rações para vacas leiteiras, são propiciar ao animal
condições para produzir quantidades altas de leite, com teores elevados de gordura, proteína e
lactose, compatíveis com o sistema de produção adotado. Também é fundamental que a
ingestão de nutrientes seja suficiente para que a vaca apresente condição corporal adequada
para cada fase do ciclo produtivo e tenha eficiência reprodutiva alta.
Os avanços na área de nutrição de bovinos leiteiros têm sido expressivos nas últimas
décadas. Conceitos atuais de nutrição protéica e energética serão abordados neste texto.

2. Consumo de alimentos

Um dos fatores determinantes do sucesso de qualquer programa nutricional é garantir


que a vaca leiteira apresente consumo adequado de alimentos. Para que isto ocorra, não basta
apenas oferecer ração balanceada ao animal. Inúmeros fatores relacionados ao manejo diário da
propriedade têm reflexo direto na ingestão de alimentos pela vaca. É por esse motivo que o
manejo nutricional correto vai muito além da formulação da ração.
O consumo de alimentos pode ser afetado por fatores como manejo pré-parto, condição
corporal ao parto, qualidade da forragem, balanceamento da ração, manejo de cocho,
disponibilidade de água de boa qualidade, problemas de casco, agrupamento de animais e
condições de conforto do animal, dentre outros fatores. Muitos desses fatores podem ser mais
difíceis de serem controlados que a formulação em si.
A diferença esperada de consumo entre uma vaca produzindo 20 ou 30 kg de leite por
dia é de apenas 3 kg de matéria seca. Redução de consumo desta magnitude pode facilmente
2

ocorrer quando alguns itens de manejo não são observados com atenção na rotina diária da
fazenda.
O conhecimento na área de formulação e balanceamento de rações para vacas leiteiras
tem evoluído de forma expressiva nas últimas décadas. Ajustes finos na formulação, como a
adequação da ração em proteína degradável e não degradável no rúmen, o balanceamento em
aminoácidos essenciais, o ajuste nas proporções entre carboidratos fibrosos e não fibrosos e o
uso de aditivos nas rações, são práticas que têm permitido aumentar a produtividade dos
animais. Entretanto, todo esse conhecimento pode não ter o efeito positivo esperado em
produção de leite, caso um ou mais fatores do manejo nutricional não recebem a devida atenção
e o consumo da vaca seja afetado negativamente.
Otimizar o consumo da ração de vacas leiteiras tem sido um desafio constante de
produtores de leite, consultores e pesquisadores. Rebanhos com médias de produção
superiores a 14.000 kg de leite vaca/ano já são realidade em sistemas de produção em
confinamento, assim como produções de 6 a 7.000 kg de leite/vaca/ano em sistemas em
pastagens tropicais. Otimizar o consumo da ração é um dos objetivos prioritários nesses
sistemas.
Quando os animais são mantidos em pastagens, apesar da produção menor de leite das
vacas, o desafio em busca da otimização do consumo não é menos importante que nos
sistemas em confinamento. O manejo do sistema solo, planta e animal é extremamente
complexo, com reflexos expressivos no consumo de forragem do animal. O manejo da pastagem
tem impacto marcante no consumo de forragem, não apenas por afetar a qualidade da forragem
colhida, mas também por alterar a estrutura do pasto. A proporção de folhas e hastes, a altura e
a densidade da pastagem interferem com a capacidade de colheita de forragem pelo animal.
Em estudo com vacas em lactação concluído recentemente no Departamento de
Zootecnia da ESALQ/USP, foram comparadas duas estratégias para determinação do intervalo
entre pastejos em capim elefante. Comparou-se o período fixo entre pastejos de 27 dias com o
período variável, determinado pela interceptação de luz da pastagem. No sistema variável o
intervalo entre pastejos variou de 17 a 21 dias nos meses de janeiro e fevereiro. Apesar de
diferença mínima na composição bromatológica das duas pastagens, as vacas do sistema
variável produziram 2,6 kg de leite/vaca/dia a mais que as do sistema fixo. Esta diferença em
produção ocorreu devido ao consumo de pasto maior no sistema variável. Os pastos do sistema
variável foram pastejados com 1,05m em média contra 1,2m no sistema fixo. A estrutura do
pasto do sistema variável, mais baixo e com proporção de hastes e material morto menores,
certamente permitiu consumo maior das vacas que no sistema fixo. A produção de forragem e
consequentemente a lotação dos pastos também foram maiores no sistema variável que no
sistema fixo.
O consumo de alimentos pelos bovinos é controlado por dois mecanismos básicos: a) o
3

controle físico e b) o controle quimiostático.


Para uma vaca produzindo ao redor de 20 kg de leite/dia, o controle físico atua quando
a digestibilidade da ração é inferior a 68%. Isto é determinado pelo enchimento do rúmen.
Quando o alimento ingerido tem digestibilidade baixa, este demora em passar do rúmen para o
intestino delgado e por enchimento do rúmen limita o consumo de mais alimento. À medida que
a digestibilidade do alimento melhora, ele passa mais rápido pelo rúmen e o consumo é
crescente. Este mecanismo atua até que o alimento ingerido atinja ao redor de 68% de
digestibilidade. A partir desse ponto, a limitação ao consumo não é física. O mecanismo
quimiostático, regulado pela ingestão de energia do animal passa a determinar a redução no
consumo. O consumo de alimento começa a cair, mas em função da sua densidade energética
alta, o consumo de energia continua crescendo até certo ponto.
Quando se utiliza um programa de formulação de ração, após fornecermos todos os
dados referentes ao animal (peso, condição corporal, idade, ordem de parição, estágio de
lactação, dias de prenhes, produção e composição de leite, etc.) e dados ambientais, a primeira
predição que o programa nos mostrará será a predição de consumo de alimento. Na quantidade
predita de consumo, o formulador tentará então incluir todos os nutrientes requeridos pelo
animal.

3. Exigênicas Nutricionais de Vacas Leiteiras

Os nutrientes exigidos pelos bovinos são energia, proteínas, minerais e vitaminas. A


energia é o nutriente exigido em maior quantidade, seguida de proteínas, minerais e por último
as vitaminas.

3.1 Energia
As vacas em lactação têm exigências específicas de energia para sua manutenção,
crescimento, lactação e gestação. A energia pode ser obtida a partir do metablismo dos
carboidratos, dos lipídeos e das proteínas dos alimentos. A principal fonte de energia para os
bovinos, são os carboidratos, seguidos dos lipídeos. As proteínas são fontes caras e
ineficientes de energia para o animal.
A unidade padrão de energia é a caloria, que é difinida como o calor requerido para
elevar a temperatura de 1 grama de água de 16,5 0 para 17,50 C. A caloria é tão pequena que os
nutricionistas trabalham com unidades multiplas de energia como a quilocaloria (Kcal ) que
corresponde a 1.000 calorias ou a megacaloria (Mcal) que corresponde a 1.000 Kcal.
Existem várias medidas de energia, como a energia bruta, energia digestível, energia
metabolizável e energia líquida, discutidas a seguir.
4

Energia bruta (EB) é a energia total gerada por um alimento, quando este é totalmente
oxidado a gás carbônico e água em uma câmara de combustão. Parte da energia bruta
consumida pelo animal é digerida e absorvida pelo trato digestivo, enquanto a fração não
digerida é excretada através das fezes. A fração da energia bruta digerida é denominada energia
digestível aparente (ED). Parte da energia digestível é perdida na forma de gases e através da
urina. A diferença entre a energia digestível e estas perdas, é denominada de energia
metabolizável (EM). Durante os processos de fermentação dos alimentos no rúmen, digestão e
absorção nos intestinos, síntese de compostos nos tecidos e síntese e excreção de produtos
não utilizáveis, ocorre produção de calor, chamado de incremento calórico (IC). A EM
descontada do IC resulta na energia líquida (EL). A EL por sua vez pode ser dividida em duas
frações: a energia gasta com o metabolismo basal e atividade voluntária, denominada de energia
líquida de manutenção (ELm) e a energia retida na forma de tecido corporal, leite e tecido fetal,
denominada de energia líquida retida (ELr). Para bovinos leiteiros a ELr é expressa unicamente
como energia líquida de lactação (ELl) uma vez que a eficiêcia de utilização da energia
metabolizável é igual tanto para a produção de leite como para ganho de peso.
Os primeiros sistemas de avaliação de rações para bovinos leiteiros trabalharam
incialmente com o conceito de nutrientes digestíveis totais (NDT) como unidade de energia. O
valor de NDT de um alimento equivale ao valor de energia digestível (ED). Em termos práticos,
o valor de NDT de um alimento seria:
NDT = carboidratos digestíveis + proteínas digestíveis + lipídeos digestíveis * 2,25
O fator 2,25 se deve ao fato dos lipídeos conter 2,25 vezes mais energia que os
carboidratos e proteías.
Todos os sistemas atuais de avaliação de rações para bovinos leiteiros não trazem mais
as exigências energéticas dos animais em NDT, mas sim em energia líquida (de manutenção e
de lactação).

3.1.1. Carboidratos

3.1.1.1. Caracterização dos Carboidratos


Os carboidratos são os principais componentes das forragens e alimentos concentrados
ingeridos pelos bovinos e, portanto, as principais fontes de energia para estes animais. Este
grupo de nutrientes pode ser dividido em função do número de unidades formadoras: os
monossacarídeos (1 unidade), os oligossacarídeos (2 a 10 unidades de sacarídeos ) e os
polissacarídeos (mais de 10 unidades de sacarídeos). Glicose, frutose e galactose são exemplos
de monossacarídeos. Lactose, sacarose e maltose são dissacarídeos. Amido, glicogênio,
pectina, celulose e hemicelulose são polissacarídeos.
Do ponto de vista da nutrição de ruminantes, os carboidratos podem ser classificados
5

em 2 grupos: os carboidratos fibrosos (CF) e os não fibrosos (CNF).


Os carboidratos fibrosos são os componentes da parede celular dos vegetais. São eles
a celulose e a hemicelulose. A lignina presente na parede celular não é um carboidrato e sim um
composto fenólico, mas é computada na fração CF para efeito de formulação de ração.
Os carboidratos não fibrosos são o amido, os açúcares e o glicogênio. Nos vegetais o
amido e os açúcares estão presentes no conteúdo celular. A pectina, apesar de presente na
parede celular, para efeito de nutrição de ruminantes é computada como carboidrato não fibroso.
Os CNF são mais digestíveis que os CF.
Quando um alimento é enviado para análise bromatológica, procedimentos laboratoriais
específicos são utilizados para se determinar os diversos componentes desse alimento. O
primeiro passo é a secagem do alimento e a determinação do seu teor de matéria seca.
Tomemos como exemplo o milho. O grão de milho é composto de água e matéria seca. O teor
de matéria seca (MS) do milho é no geral 88%. Isto significa que em 100 kg de grãos de milho
na matéria natural como é fornecido aos animais, teremos 88 kg de matéria seca e 12 kg de
água. A energia, a proteína bruta e os minerais e vitaminas estão contidos na matéria seca dos
alimentos.
Após a secagem do alimento, são conduzidas análises para determinar os teores de
proteína, fibra, extrato etéreo (gordura) e cinzas (minerais) na matéria seca do alimento.
O procedimento mais utilzado para a determinação de fibra para ruminantes é a
determinação do teor de FDN do alimento. O termo FDN significa fibra insolúvel em solução de
detergente neutro. O alimento é exposto à solução de detergente neutro. A celulose,
hemicelulose e lignina não são solubilizadas, enquanto o amido, os açúcares e a pectina são
solubilizados por essa solução. A pectina apesar de fazer parte da parede celular dos vegetais,
é altamente solúvel em detergente neutro.
Portanto, a fração FDN é composta por celulose, hemicelulose e lignina e é interpretada
com a fração CF. O amido, os açúcares e a pectina fazem parte da fração CNF.

3.1.1.2. Metabolismo de Carboidratos


No ambiente anaeróbio do rúmen os carboidratos sofrem ação das enzimas secretadas
pelos microrganismos ruminais como bactérias, protozoários e fungos. O processo é
denominado de fermentação. Os microrganismos fermentam os CF e os CNF para obter
energia na forma de ATP e produzem principalmente os ácidos graxos voláteis (AGV), acético,
propiônico e butírico. Outros produtos da fermentação são os ácidos graxos de cadeia
ramificada (isoácidos), gás carbônico, metano e amônia.
O metano é eructado pelo animal e pode representar perda de até 12% da energia
ingerida.
Os AGV representam 60 a 70% da energia absorvida pela vaca leiteira. Estes valores
6

podem ser mais altos para animais mantidos exclusivamente em pastagens.


Do total de CF ingeridos, entre 30 a 50% são fermentados no rúmen pelos
microrganismos com produção de AGV e outros compostos. Os AGV são absorvidos através da
parede do rúmen. A fração de CF que escapa da fermentação ruminal passa pelo intestino
delgado sem sofrer digestão devido à falta de enzimas celulolíticas e hemicelulolíticas
secretadas pelo bovino. No intestino grosso ocorre fermentação similar a do rúmen, com
produção de AGV que são absorvidos e utilizados pelo ruminante. A fração indigestível de CF é
eliminada nas fezes.
Os açúcares são quase 100% fermentados no rúmen com produção de AGV. A pectina
também é quase toda fermentada no rúmen (95%) com produção de AGV. Portanto estes 2
carboidratos são prontamente disponíveis para o crescimento microbiano no rúmen.
O amido é parcialmente fermentado no rúmen com produção de AGV. A porcentagem
do amido ingerido que é fermentado no rúmen depende de 2 fatores básicos: a fonte de amido e
o processamento dessa fonte. Os cereais como milho, sorgo, cevada, trigo, aveia e milheto são
as pricipais fontes de amido nas rações para vacas leiteiras. Tubérculos como a mandioca,
também são fontes ricas em amido. Por ordem de digestibilidade do amido no rúmen tem-se a
mandioca, aveia, trigo, cevada, milho e finalmente o sorgo. Este último é a fonte que contem o
amido menos digestível.
O processamento dos grãos de cereais visa melhorar a digestibilidade do amido dos
grãos de cereais. A digestibilidade do amido é muito baixa nos grãos inteiros, média nos grãos
moídos grossos, alta nos grãos moídos finos e mais alta ainda nos grãos ensilados ou
floculados.
Em vacas leiteiras dependendo da fonte e forma de processamento, de 40 a 80% do
amido ingerido é fermentado no rúmen pelos microrganismos. O amido que passa para o
intestino delgado sofre o ataque das enzimas amilolíticas secretadas pelo pâncreas e intestino
do bovino. A molécula de amido é quebrada até glicose, sua unidade formadora. A glicose é
absorvida e chega ao fígado. O amido não digerido no intestino delgado chega então ao intestino
grosso, onde passará novamente por processo fermentativo, como no rúmen. Microrganismos
intestinais fermentarão o amido com produção de AGV. Esses AGV serão absorvidos através da
parede intestinal e através da veia porta chegarão ao fígado. O amido que escapa da
fermentação intestinal é o amido indigestível e é eliminado nas fezes.
Em resumo, com relação aos carboidratos, tanto os CF como os CNF são fermentados
no rúmen com produção de AGV. Estes são absorvidos através da parede do rúmen e atingem o
fígado através da veia porta. No intestino delgado tem se a digestão do amido e absorção de
glicose que também atinge o fígado via veia porta. No intestino grosso tem se a fermentação de
CF (celulose e hemicelulose) e de amido com produção de AGV, os quais são absorvidos e
também atingem o fígado através da veia porta.
7

Vacas em lactação têm exigência alta por glicose. O principal componente do letie, a
lactose é sintetizada a partir de glicose e galactose. Entretanto, a principal fonte de glicose para
a vaca leiteira é o amido, que é na sua maioria fermentado no rúmen com produção de AGV.
Assim sendo, a quantidade de glicose absorvida no intestino delgado é insuficiente para suprir
as exigências de vacas em lactação. A quase totalidade da glicose utilizada pelas vacas leiteiras
vem do processo de gliconeogênse hepática. O fígado utiliza o ácido propiônico e o ácido lático
produzidos no rúmen e parte dos aminoácidos abosrvidos pelo intestino delgado, para sintetizar
glicose, que é liberada para os demais tecidos do animal.
O metabolismo de AGV e glicose (glicólise, ciclo de Krebs e cadeia respiratória) nos
diferentes tecidos do animal, geram energia (ATP) necessária para suprir as exigências de
manutenção e produção do animal.

3.1.2. Lipídeos
O termo lipídeo engloba diversos compostos heterogêneos que incluem gorduras, óleos,
ceras e diversos compostos relacionados. As gorduras verdadeiras são as que têm valor
nutricional real para os bovinos. Elas são compostas basicamente por ácidos graxos. O extrato
etéreo obtido na análise bromatológica não inclue apenas ácidos graxos, mas outros compostos
como ceras, clorofila, etc, sem valor nutricional. Portanto, não apenas o teor de extrato etéreo é
importante, mas também a sua composição.
A principal função de se fornecer lipídeos para bovinos é que eles são ricos em energia.
As forragens de modo geral contêm teores baixos de extrato etéreo, entre 1 a 4%,
sendo que os ácidos graxos representam menos de 50% deste. Os grãos de cereais,
subprodutos destes grãos e os suplementos protéicos normalmente contêm teores baixos a
moderados de extrato etéreo. Alimentos ricos em extrato etéreo são as sementes de
oleaginosas como os grãos de soja e o caroço de algodão, dentre outros. Nestes ingredientes o
extrato etéreo é composto basicamente por ácidos graxos (90% ou mais).
Nos alimentos são encontrados ácidos graxos saturados e os insaturados. A gordura
animal é rica em ácidos graxos saturados enquanto a vegetal é rica em ácidos graxos
insaturados.
Cada grama de ácidos graxos contem 2,25 vezes mais energia que a mesma
quantidade de carboidratos ou proteínas. Daí o interesse por este gurpo de nutrientes na
alimentação de vacas leiteiras.
Nos alimentos, os ácidos graxos normalmente estão esterificados com outors compostos
formando os fosfolipídeos, triglicerídeos, etc. Os triglicerídeos são os lipídeos mais abundantes
nas oleaginosas como soja e caroço de algodão. Os triglicerídeos são compostos por 3
moléculas de ácidos graxos esterificadas a uma mólecula de glicerol. No rúmen estes lipídeos
são hidrolisados pelos microrganismos. A hidrólise de um triglicerídeo separa as moléculas de
8

ácidos graxos da molécula de glicerol. Esses ácidos graxos são agora chamdos de ácidos
graxos livres no rúmen. Estes ácidos graxos, na sua maioria insaturados, vão ser agora
saturados pelos microrganismos ruminais. Os microrganismos ruminais incorporam pequenas
quantidades dos ácidos graxos em suas células, mas não conseguem obter energia destes
compostos.
Os ácidos graxos chegam ao intestino delgado, onde serão absorvidos e transportados
para os tecidos do animal através do sistema linfático. Os ácidos graxos poderão ser oxidados
nos mais diversos tecidos do animal gerando energia (ATP). Também são utilizados para a
compor a gordura do leite, além de uma série de outras funções no organismo do animal.
Quando em excesso, são armazenados no tecido adiposo, formando reservas de energia para o
animal.
As rações normalmente consumidas pelos bovinos têm entre 2 a 3% de extrato etéreo.
Entretanto, vacas leiteiras respondem em produção de leite a teores mais altos de extrato etéreo
da ração. Esse aumento tem que ser feito de forma criteriosa. A principal forma de aumentar a
densidade energética da ração com a adição de gordura é através da inclusão de oleaginosas na
ração, como o caroço de algodão ou a soja grão. Como essas fontes contêm 18 a 20% de
extrato etéreo, a adição de 10% dessas oleaginosas na ração, aumenta em aproximadamente 2
unidades percentuais o teor extrato etéreo da ração. Com isso os valores totais ficam entre 4 a
5% de extrato etéreo na matéria seca da ração.
A recomendação geral é não ultrapassar 6% de extrato etéreo na ração com a adição de
fontes de gordura insaturada, com é o caso das sementes de oleaginosas. A gordura insaturada
quando em excesso na ração, prejudica a ação das bactérias que fermentam fibra no rúmen.
Nesse caso também muitas moléculas de ácidos graxos passam para o intestino sem sofrerem
o processo completo de saturação no rúmen. Os resultados podem ser, queda no consumo de
ração, queda na produção de leite e queda no teor de gordura do leite.
Na prática, a inclusão de caroço de algodão acima de 17% da matéria seca da ração
total consumida por vacas leiteiras, tem prejudicado o desempenho destes animais. No caso de
uma vaca de 500 kg de peso vivo, com produção de 20 kg de leite/dia e consumo de MS de 16
kg/dia, a dose máxima de caroço de algodão recomendada seria de 2,70 kg de MS. Como o
caroço tem em média 90% de MS, a dose máxima seria de 3,00 kg de matéria natural do
produto (2,7/0,9).

4. Proteínas

4.1. Introdução
Os conceitos sobre nutrição protéica de ruminantes têm evoluído de forma considerável
nas últimas duas décadas.
9

Os sistemas evoluíram das determinações de exigências em proteína bruta para os


atuais modelos de proteína metabolizável, que permitem adequar as exigências da população
microbiana ruminal em compostos nitrogenados assim como as exigências do ruminante em
proteína metabolizável. Proteína metabolizável é o somatório dos aminoácidos provenientes da
digestão intestinal da proteína microbiana produzida no rúmen, protéina alimentar não
degradada no rúmen e proteína endógena. Os sistemas de proteína metabolizável têm
estimulado e permitido avanços no conhecimento das exigências em aminoácidos dos
ruminantes e o balanceamento do perfil de aminoácidos essenciais da proteína metabolizável.
Estes avanços têm possibilitado ganhos de produtividade animal através da otimização da
síntese de proteína microbiana no rúmen, adequação das doses de proteína não degradável no
rúmen, adequação da quantidade e qualidade da proteína metabolizável suprida para o animal,
redução nas perdas de compostos nitrogenados e redução do impacto negativo da liberação
destes compostos para o ambiente.
De modo geral, os concentrados comercializados no Brasil e os produzidos na própria
fazenda para vacas leiteiras têm entre 18 a 24% de proteína bruta na matéria natural. Pastagens
tropicais adubadas e colhidas no ponto ideal no período das águas contêm entre 15 a 20% de
proteína bruta na matéria seca da porção da planta colhida pelo animal. Neste caso, vacas com
produções ao redor de 20 kg de leite/dia necessitariam de concentrados com no máximo 13% de
PB na matéria natural. Este valor é bem menor que o tradicionalmente utilizado comercialmente
no país. Economia considerável pode ser feita quando o pasto é manejado de forma correta e o
concentrado é formulado utilizando os conhecimentos atuais de nutrição protéica.

4.2. Caracterização e função das proteínas


Proteínas são macromoléculas presentes nas células, com funções diversas. Dentre
essas funções podemos citar as proteínas com funções estruturais, funções enzimáticas,
funções hormonais, recepção de estímulos hormonais e armazenamento de informações
genéticas. As proteínas são compostas de unidades formadoras, os aminoácidos (AA), unidos
por ligações peptídicas. Estas são chamadas proteínas simples. Também ocorrem no
organismo, as chamadas proteínas complexas, ou seja, proteínas que contêm além dos AA,
outros compostos como grupo heme (heme proteínas), lipídeos (lipoproteínas) e açúcares
(glicoproteínas).
Apesar de ocorrerem na natureza aproximadamente 300 AA distintos, apenas 20 deles
estão presentes nas proteínas de microrganismos, plantas e animais. A hidrólise de qualquer
proteína natural dos seres vivos produz uma mistura desses 20 AA.
Os 20 AA presentes nas proteínas dos seres vivos podem ser classificados de várias
formas, entretanto, do ponto de vista da nutrição de animais ruminantes e não ruminantes, eles
são classificados principalmente como aminoácidos essenciais (AAE) e aminoácidos não
10

essenciais (AANE). Os AAE não são sintetizados pelo organismo do animal, ou são sintetizados
(Arg e His) em quantidades insuficientes para suprir as exigências dos animais. Portanto, eles
têm que ser supridos na ração.
Dos 20 AA, 10 são considerados AAE tanto para ruminantes como para não ruminantes:
ariginina (Arg), histidina (His), isoleucina (Ile), leucina (Leu), lisina (Lis), metionina (Met),
fenilalanina (Phe), treonina (Thr), triptofano (Trp) e valina (Val). Os AANE são aqueles que
podem ser sintetizados pelo tecido animal a partir de metabólitos do metabolismo intermediário e
de grupamentos amino provenientes do excesso de AA. Podem ser sintetizados a partir de
outros AANE ou mesmo de AAE, quando necessário. São eles: alanina, ácido aspartico,
asparagina, cisteína, ácido glutâmico, glutamina, glicina, prolina, serina e tirosina.
Os AA são requeridos pelo organismo principalmente para a síntese de proteínas, mas
podem também ser utilizados para a síntese de outros metabólitos como glicose por exemplo.
Quando o AA não é utilizado para a síntese de proteínas ou de outro AA, o seu grupamento
amino (NH3+) é convertido em uréia (ciclo da uréia) e excretado.
O teor de AAE e a proporção entre esses AA na proteína metabolizável no intestino,
determinam a eficiência de utilização dessa proteína pelo ruminante. Quando a proteína
metabolizável é de alta qualidade (rica e com perfil adequado em AAE), o teor de proteína bruta
da ração pode ser reduzido, a eficiência de utilização da proteína metabolizável é otimizada, a
excreção de uréia e de outros compostos nitrogenados é reduzida e o desempenho animal é
maximizado.
A proteína bruta (PB) contida nos alimentos consumidos por ruminantes, calculada como
N x 6,25 (assume teor de N na proteína de 16%), contêm N na forma protéica (AA unidos
através de ligações peptídicas que formam uma molécula de proteína) e N na forma não protéica
(NNP), representado por AA livres, peptídeos, ácidos nucléicos, amidas, aminas e amônia. A
proteína bruta das gramíneas e leguminosas forrageiras contém uma porcentagem considerável
de NNP. Este valor aumenta substancialmente quando essas forrageiras são conservadas na
forma de feno ou silagem devido à proteólise durante a secagem e ensilagem. Os teores de
NNP na PB em geral variam de 10 a 40% no material fresco, e de 30 a 65% no material
ensilado. Doses crescentes de fertilizantes nitrogenados aumentam o teor de PB da forragem,
sendo a fração NNP da PB a que mais aumenta. Nos alimentos concentrados, os teores de NNP
na PB são normalmente inferiores a 12%.

4.3. Degradação ruminal das proteínas

4.3.1. Ação microbiana


O metabolismo de proteína em ruminantes é apresentado de forma esquemática na
Figura 1.
11

Figura 1. Visão geral do metabolismo protéico em bovinos.

A proteína bruta contida nos alimentos dos ruminantes é composta por uma fração
degradável no rúmen (PDR) e uma fração não degradável no rúmen (PNDR). A degradação de
proteína no rúmen ocorre através da ação de enzimas (proteases, peptidases e deaminases)
secretadas pelos microrganismos ruminais. Esses microrganismos degradam a fração PDR da
PB até peptídeos, AA e amônia. Os microrganismos então utilizam esses 3 compostos
nitrogenados para a síntese de proteína microbiana e multiplicação celular. Quando a velocidade
de degradação ruminal da proteína excede a velocidade de utilização dos compostos
nitrogenados para a síntese microbiana, ocorre excesso de amônia no rúmen. Esta amônia
atravessa a parede ruminal, chega ao fígado onde é convertida em uréia e pode ser excretada
via urina ou reciclada de volta para o rúmen.

4.3.2. Fatores que afetam a degradação de proteína no rúmen


Diversos fatores afetam a extensão da degradação da PB no rúmen. Dentre eles
podemos citar a relação entre NNP e proteína verdadeira, o tempo de retenção do alimento no
12

rúmen, o pH ruminal e o processamento do alimento.


As proporções de NNP e de proteína verdadeira afetam de forma significativa a
degradabilidade da proteína. O NNP é degradado rapidamente e assume-se que esta fração é
100% degradada no rúmen. A proteína verdadeira não é 100% degradável no rúmen e a sua
fraçõa degradável é degradada mais lentamente no rúmen que o NNP.
A forma de armazenamento dos alimentos também pode ter grande efeito na
degradabilidade da proteína. A ensilagem de forragens e grãos de cereais aumenta a
degradabilidade da PB, devido à proteólise no silo pela ação de microrganismos. Dessa maneira,
grande parte da proteína verdadeira do alimento é convertida em NNP. Por outro lado, materiais
ensilados sem a compactação adequada, podem sofrer superaquecimento e terem parte
considerável da PB ligada à fração FDA, tornando-se indisponível tanto no rúmen como no
intestino.
O processamento de grãos ou de seus subprodutos com altas temperaturas (tostagem,
peletização, extrusão, floculação, etc), normalmente diminui a degradabilidade da PB devido à
formação de complexos entre a proteína e carboidratos (reação de Maillard) ou aumento na
presença de pontes de dissulfeto. Esta técnica tem sido usada pela indústria de alimentação
animal com o objetivo de diminuir a degradabilidade ruminal da proteína e de reduzir as perdas
ruminais na forma de amônia. Temperatura adequada e tempo de exposição correto são
fundamentais para aumentar o teor de PNDR sem prejudicar sua digestibilidade no intestino.
Quando a temperatura e o tempo de tratamento são excessivos, parte considerável da PB pode
ligar-se à fração FDA e ficar indisponível para degradação ruminal e intestinal.
A proteína do farelo de soja e do farelo de algodão tem maior teor de PNDR que a
proteína dos grãos de soja ou do caroço de algodão. Isto se deve ao tratamento com
temperatura elevada durante a tostagem dos materiais.
A taxa de passagem do alimento pelo rúmen e o pH ruminal, também afetam a
degradabilidade da PB. O aumento da taxa de passagem, causado por aumento no consumo de
matéria seca ou pelo processamento do alimento, diminui o tempo de retenção deste no rúmen e
assim pode aumentar seu teor de PNDR. O pH ruminal pode alterar a solubilidade da PB assim
como afetar a digestão ruminal da fibra e interferir com o acesso microbiano à molécula de
proteína.

4.3.3. Síntese de proteína microbiana


A proteína metabolizável (PM) no intestino de ruminantes é representada pelo total de
AA provenientes da digestão intestinal da: a) proteína microbiana produzida no rúmen, b) da
PNDR de origem alimentar e c) da proteína endógena. A proteína microbiana é normalmente a
principal fonte de PM para ruminantes, na maioria das situações produtivas. Ela pode
representar ao redor de 45 a 55% da PM no intestino de vacas leiteiras de alta produção e mais
13

de 65% da PM em bovinos mantidos exclusivamente em pastagens. Portanto, todo e qualquer


programa nutricional só terá sucesso se a produção de proteína microbiana for otimizada.
Manipulações da ração que resultem em redução na síntese microbiana, normalmente
comprometem o desempenho do animal.
No tocante à nutrição protéica, a exigência metabólica do ruminante não é por PB, NNP,
PDR ou PNDR, mas sim por AA. As células dos tecidos dos ruminantes necessitam de AA para
seu metabolismo. Dados recentes têm mostrado que alguns tecidos também utilizam peptídeos
em seu metabolismo. Os AA devem estar disponíveis para o metabolismo dos tecidos em
quantidades e proporções adequadas para eficiência máxima. Sendo assim, o valor nutricional
da proteína metabolizável para ruminantes depende principalmente do seu perfil em AAE.
A superioridade da proteína microbiana em relação às principais fontes protéicas
disponíveis comercialmente é marcante. A proteína microbiana é equilibrada na maioria dos AAE
em relação à proteína do leite ou do tecido muscular. A proteína microbiana tem um perfil
excelente nos 2 AAE mais limitantes para a produção de leite, a lisina e a metionina.
Com base no discutido acima, fica claro a importância de se otimizar a síntese de
proteína microbinana no rúmen, pois isto representa uso eficiente da PDR, menor perda de
amônia ruminal e menor excreção de uréia, menor necessidade de PNDR na ração e maior fluxo
de proteína metabolizável com melhor perfil de AAE para o intestino.
Na Figura 2 é apresentada de forma esquemática a integração entre os diversos fatores
que limitam a síntese microbiana no rúmen, os quais serão discutidos detalhadamente a seguir.

Figura 2. Visão geral dos fatores que afetam a síntese microbiana.


14

As células microbianas contêm em sua composição, principalmente proteínas, mas


também carboidratos, lipídeos, minerais e vitaminas. Portanto, é obvio que estes nutrientes são
necessários no meio ruminal para que a população microbiana possa se multiplicar.
Os microrganismos ruminais necessitam de energia para se multiplicar. De modo geral,
eles utilizam apenas carboidratos (CHO) como fonte de energia. Nenhuma espécie de
microrganismo ruminal é capaz de utilizar gordura como fonte energética.
Rações ricas em concentrado, suportam maior produção microbiana devido ao maior
teor de açúcares, amido e pectina, quando comparadas com rações ricas em forragem. Quanto
mais degradável no rúmen for a fonte de carboidrato, mais energia será disponibilizada para o
crescimento microbiano. A produção de leite é maior quando os grãos de milho são ensilados,
intermediários com a moagem fina e menor com a moagem grosseira. A combinação de mais
energia e mais proteína microbiana nas rações com fontes de amido mais degradável explicam
essa produção mais alta de leite.
O teor de PB, de PDR e a qualidade da PDR podem afetar o crescimento microbiano, já
que as principais fontes de N para os microrganismos do rúmen são amônia, aminoácidos e
peptídeos. As bactérias fermentadoras de CF requerem amônia como fonte de N, enquanto as
fermentadoras de CNF têm um maior requerimento por aminoácidos e peptídeos do que por
amônia.
A degradabilidade ruminal das fontes protéicas pode afetar a disponibilidade ruminal de
amônia, aminoácidos e peptídeos para a síntese microbiana. Os antigos sistemas protéicos
baseados em PB desconsideravam as exigências microbianas em compostos nitrogenados.
Com a publicação do sistema de Proteína Absorvida (NRC, 1985), posteriormente denominado
Sistema de Proteína Metabolizável (NRC, 1996; 2001), tornou-se possível balancear as rações
tanto em PDR, para suprir as exigências dos microrganismos ruminais, como em PNDR para
complementar a proteína microbiana e suprir a exigência de proteína metabolizável do
ruminante.
Alguns autores têm sugerido que valores entre 10 a 13% de PDR na matéria seca da
ração são requeridos para maximizar a síntese microbiana, dependendo do teor de CHO
fermentável no rúmen. O NRC (2001) de gado de leite calcula a quantidade de proteína
microbiana produzida no rúmen com base no NDT da ração. A fórmula utilizada é:

kg de Pmic = kg de NDT x 0,13

De acordo com o NRC (2001) são necessários 1,18 kg de PDR para cada kg de proteína
microbiana produzida no rúmen. Caso esta quantidade de PDR não seja suprida, o NRC (2001)
adota a seguinte fórmula para o cálculo da Pmic:
15

kg Pmic = kg PDR x 0,85

De modo geral os modelos de exigências nutricionais de ruminantes não têm


considerado as exigências em minerais dos microrganismos ruminais. Entretanto, para cobalto e
enxofre tem sido chamada atenção da importância destes para a síntese de propionato e de AA
sulfurados no rúmen, respectivamente.
É sabido que diversas vitaminas do complexo B são requeridas pelos microrganismos
ruminais, entretanto, tem se considerado que na maioria das condições normais de produção, a
alimentação cruzada no rúmen deve suprir estes nutrientes.

5. Digestão e absorção intestinal

As fontes de proteína que chegam ao intestino dos ruminantes são a Pmic, a PNDR e a
proteína endógena. A mistura de AA provenientes da digestão dessas fontes é denominada
proteína metabolizável (PM).
O processo de digestão da proteína no abomaso e intestino dos ruminantes é muito
parecido com o processo em não ruminantes, exceto pela neutralização lenta da acidez da
digesta duodenal. A digestão da proteína que deixa o rúmen tem início com a ação da pepsina
no abomaso, ação essa prolongada no duodeno, pela neutralização lenta da digesta nesse
compartimento. Entretanto, a maior parte da digestão ocorre no jejuno médio e no íleo médio.
No jejuno médio as enzimas tripsina, quimotripsina e carboxipetidases secretadas pelo
pâncreas, apresentam atividade máxima. No íleo médio ocorre o pico da atividade das
aminopeptidases e dipeptidases secretadas pelo intestino.
A pepsina age sobre as moléculas de proteínas e produz peptídeos no geral. Tripsina e
quimotripsina agem sobre proteínas e peptídeos e produzem polipeptídeos e dipeptídeos.
Carboxipeptidases agem sobre polipeptídeos e produzem pequenos peptídeos e AA livres. As
aminopeptidases agem sobre polipeptídeos e produzem pequenos peptídeos e AA livres,
enquanto as dipeptidases transformam dipeptídeos em AA livres.

6. Formulação de rações para vacas leiteiras

6.1. Agrupamento de animais e exigências nutricionais


Com o objetivo de estabelecer um programa nutricional para vacas leiteiras, há a
necessidade de se agrupar os animais em função das diferentes fases por que passam durante
o período entre um parto e outro. Com base nas exigências nutricionais da vaca leiteira, são
identificadas 4 fases distintas ao longo da curva de produção:
16

1) período seco da vaca: em geral 60 dias pré-parto


2) início de lactação: do parto aos 100 dias pós-parto
3) meio de lactação: dos 101 aos 200 dias pós-parto
4) final de lactação: dos 201 aos 305 dias pós-parto

6.1.1. Período seco


Durante os primeiros 40 dias do período seco, as exigências nutricionais da vaca podem
ser supridas sem grandes dificuldades, pois o animal consegue ingerir quantidade adequada de
alimento. Vacas que na secagem apresentarem condição corporal ao redor de 3,5 (escala de 1 a
5), podem ser alimentadas apenas com volumoso de boa qualidade e mistura mineral. Vacas
com condição corporal abaixo de 3,5 podem necessitar de suplementação com concentrado.
Na fase final do período seco, nas últimas 3 semanas que antecedem o parto, a vaca
entra no período de transição, que se estende até 3 semanas pós-parto. Nessa fase pré-parto, o
crescimento acelerado do feto e o início da síntese de colostro aumentam significativamente a
exigência nutricional da vaca. Este fato é agravado pela queda no consumo de alimento por
parte da vaca nesta fase final. Estes fatos implicam na necessidade de se aumentar as
densidades energéticas, protéicas e de minerais e vitaminas das rações de vacas leiteiras nas 3
semanas que antecedem o parto.
O manejo de vacas leiteiras nas 3 últimas semanas pré-parto, têm grande impacto na
produção de leite, reprodução e saúde da vaca durante a futura lactação.
Vacas que parem magras, com condição corporal abaixo de 3,5, não têm reservas de
energia suficientes para apresentar pico de lactação alto. Vacas que parem com excesso de
condição corporal, especialmente com escore acima de 4,0 são mais propensas a apresentarem
distúrbios metabólicos após o parto, baixa produção de leite e perda excessiva de condição
corporal após o parto.

6.1.2. Início de lactação (1 a 100 dias pós-parto)


Esta é a fase de maior produção de leite da vaca. A produção é crescente até
aproximadamente 60 dias pós-parto, quando a vaca atinge o pico de lactação. As 3 primeiras
semanas após o parto são as mais críticas para a vaca leiteira. Muitos dos problemas que
acometem vacas leiteiras ocorrem durante este período e estão normalmente ligados à
mudanças drásticas de metabolismo, alterações hormonais, aumento na demanda de nutrientes,
depressão da imunidade, estresse do parto e início da lactação. Todos estes fatores podem ser
exacerbados quando o manejo pré-parto é inadequado.
O grupo de vacas em início de lactação é o que recebe a alimentação com maior
concentração de nutrientes, ou seja, com maior teor de concentrado. Em função da mudança
drástica em apenas 60 dias, do final do período seco ao pico de lactação, é necessário que o
17

aumento na dose de concentrado seja gradativo nas primeiras semanas pós-parto.


O consumo de alimento é crescente pós-parto, porém abaixo do necessário para suprir
as exigências da vaca até o pico de lactação. O pico de consumo de MS só ocorre 30 a 60 dias
após o pico de lactação. Isto resulta na perda de condição corporal da vaca nos primeiros 30 a
60 dias pós-parto. Os principais objetivos ao se formular rações para vacas em início de lactação
são maximizar o pico de lactação e minimizar a perda de condição corporal pós-parto.

6.1.3. Meio de lactação (101 a 200 dias pós-parto)


Nesta fase, a vaca atinge o pico de consumo de matéria seca, a produção de leite
apesar de ainda ser alta, está em declínio e tem início a reposição de condição corporal. As
exigências em energia, proteína, minerais e vitaminas são menores que na fase anterior. Ajustes
devem ser feitos na ração, com redução no teor de concentrado da mesma.

6.1.4. Final de lactação (201 a 305 dias pós-parto)


Nesta fase a ingestão de nutrientes é bem maior que a demanda, uma vez que a
produção está em franco declínio. Esta é a fase de maior reposição da condição corporal da
vaca. Excesso de concentrado nesta fase, além de elevar os custos de produção pode favorecer
a ocorrência de vacas com condição corporal excessiva, fator predisponente para distúrbios
metabólicos pós-parto.

6.1.5. Vacas primíparas – um grupo a parte


Vacas primíparas em início de lactação são os animais de maior exigência nutricional do
rebanho. Entretanto, ocupam posição hierárquica inferior ao das vacas multíparas, que são
dominantes em relação as primíparas. Seja em sistemas confinados ou em sistemas em
pastagens, é importante agrupar estas vacas separadamente das demais. Em rebanhos que
utilizam pastagens, apesar do problema não ser tão intenso durante o pastejo, o fornecimento do
concentrado em grupo, pode ser crítico para estas vacas se mantidas juntas com as multíparas.
Neste caso, certamente não conseguirão comer a quantidade necessária de concentrado.

6.2. Ingredientes para a formulação de rações para bovinos


Os alimentos volumos mais utilizados nos sistemas de produção de leite no Brasil são
as pastagens, as silagens de milho, sorgo ou capim e a cana-de-açúcar. Animais mantidos
exclusivamente em pastagens tropicais bem manejadas, têm seu potencial de produção de leite
limitado em 8 a 14 kg/vaca/dia. As vacas dificilmente conseguem ingerir quantidades de
forragem suficiente para produções maiores que as citadas. Quando alimentadas
18

exclusivamente com silagem de milho ou sorgo, o teor baixo de proteína destes alimentos limita
a produção a patamares inferiores ao das pastagens tropicais. No caso da cana-de-açúcar as
limitações em proteína são tão severas que não permitem sequer a manutenção do animal.
O uso de alimentos concentrados tem por objetivo suprir as deficiências nutricionais das
forrageiras e perimitir produções elevadas das vacas leiteiras. Os concentrados são na grande
maioria compostos por suplementos energéticos, suplementos protéicos e suplementos minerais
e vitamínicos.
Tanto os suplementos energéticos quanto os protéicos, contêm energia e proteína, com
raras excessões. Os suplementos energéticos são assim chamados por conterem teores altos
de energia e teores baixos de proteína. Por outro lado, os suplementos protéicos contêm teores
elevados de proteína, podendo também ser ricos em energia.

6.2.1. Suplementos energéticos


No Brasil os principais suplementos energéticos utilizados nos concentrados de vacas
leiteiras são os grãos de cereais como o milho, o sorgo, o milheto e diversos subprodutos como
a polpa cítrica, a casca de soja, o farelo de arroz, o farelo de trigo e o farelo de mandioca, dentre
outros. Estes ingredientes contêm teores altos de energia, entre 75 a 92% de NDT (%MS), mas
são pobres em proteína bruta, com teores normalmente inferiores a 12% (%MS). O farelo de
trigo tem 16 a 18% de proteína bruta (%MS).

6.2.2. Suplementos protéicos


Os principais suplementos protéicos utilizados nos concentrados de bovinos no Brasil
são o farelo de soja, o farelo de algodão e a uréia, fonte de nitrogênio não proteíco. O farelo de
soja tem 47 a 50% de PB e 82% de NDT (%MS). O farelo de algodão tem 38 a 41% de PB e 66
a 75% de NDT (%MS).
A uréia é fonte de nitrogênio não protéico e contêm 45% de nitrogênio. Como a proteína
tem 16% de nitrogênio, o equivalente protéico da uréia é de 281%, ou seja, cada kg de uréia
equivale a 2,81 kg de proteína bruta.
As sementes de oleaginosa como a soja grão e o caroço de algodão são boas fontes de
proteína, porém ricas em energia devido ao teor alto de óleo, ao redor de 18% da MS. A soja
grão tem de 36 a 40% de PB e 101% de NDT. O caroço de algodão tem ao redor de 24% de PB
e 90% de NDT (%MS).
O farelo de amendoin é um suplemento protéico com 50 a 52% de PB, com oferta
crescente no país.
Suplementos com teores médios de PB são o farelo de girassol (30% de PB), o resíduo
de cervejaria (20 a 25%) e o farelo glúten de milho –21 (refinasil ou prómil) com 21 a 24% de PB.
19

6.2.3. Suplementos minerais e vitamínicos

Os concentrados para vacas leiteiras devem conter núcleo mineral na sua composição.
A formulação do núcleo mineral vai depender da exigência do animal e da composição mineral
dos alimentos consumidos pelo bovino.
Pastagens são ricas em vitaminas A, D e E, não havendo a necessidade de
suplementar os animais. Entretanto, forragens conservadas na forma de silagem ou feno,
perdem quantidades grandes dessas vitaminas, principalmente de vitamina A, sendo
recomendado suprir essas vitaminas no concentrado.

6.3. Sistemas de formulação de rações


A maioria dos países desenvolvidos desenvolveu seus próprios modelos de exigência
nutricional para bovinos e tabelas com a composição nutricional dos principais alimentos
utilizados nas formulações de rações. No Brasil, o modelo mais utilizado é o modelo americano
do NRC (2001).
Nos últimos 30 anos, houve evolução considerável no campo do conhecimento da
nutrição de ruminantes. O número crescente de estudos na área e a informatização têm
permitido o desenvolvimento de programas de formulação cada vez mais precisos.
Algusn modelos iniciais eram simples e apresentavam as exigências das vacas leiteiras
em NDT, PB, e minerais e vitaminas. As formulações podiam ser feitas manualmente, com
número não muito grande de cálculos a serem efetuados.
Nos modelos atuais, as exigências energéticas são apresentadas em termos de energia
líquida de lactação. As exigências protéicas são determinadas para a população microbiana
ruminal (proteína degradável no rúmen) e para o bovino (proteína metabolizável). Atualmente,
tem havido avanço considerável do conhecimento das exigências em aminoácidos essenciais
para vacas leiteiras de alta produção. Os programas atuais também têm evoluído quanto à
adequação dos teores de fibra nas rações, com vistas à manturenção de pH ruminal adequado.
Do conceito de fibra bruta houve evolução para a adequação das exigências em FDN. Mais
importante que o teor total de FDN é a porcentagem de FDN proveniente de forragem na ração,
pois esta é fração mais efetiva em estimular a ruminação. Finalmente, estudos têm sido
conduzidos com o objetivo de determinar a efetividade da FDN de cada alimento. Diversos
modelos já adotam valores de FDN efetiva nas tabelas de composição dos alimentos e trazem
exigências dos animais neste quisito.
A utilização de programas de computação é imprecindível quando queremos utilizar
estes modelos atuiais na sua plenitude.
20

6.4. Composição dos alimentos e exigências nutricionais


Na Tabela 1 são apresentadas as composições bromatológicas de diversos alimentos
utilizados nas rações de vacas leiteiras no Brasil.

Tabela 1. Composição bromatológica dos alimentos.


Ingredientes MS NDT PB FDN EE
% % MS %MS % MS %MS
Pasto tropical alta qual 20 65 18 63 2,7
Pasto tropical boa qual 20 62 14 65 2,5
Pasto tropical med qual 20 60 12 67 2,3
Silagem de milho a. q. 33 69 8,8 46 3,2
Silagem de milho b. q. 33 66 7 50 3,2
Cana-de-açúcar a. q. 30 65 2,5 44 1,4
Cana-de-açúcar b. q. 30 61 2,5 57 1,4
Milho quebrado 88 85 9,4 9,5 4.2
Milho moído fino 88 88,7 9,4 9,5 4,2
Milho grão ensilado 72 91,5 9,2 10,3 4,2
Polpa cítrica 88 80 6,9 24,2 4,9
Farelo de trigo 88 73,3 18,5 36,7 4,5
Refinasil/promil 88 74,1 23,8 35,5 3,5
Caroço de algodão 90 77,2 23,5 50,3 19,3
Farelo de algodão 88 66,4 41 31,0 1,9
Farelo de soja 88 80 50 14,9 1,6
Soja grão 88 101 39,2 19,5 19,2
Uréia 99 0 281 0 0

Na Tabela 2 são apresentadas as exigências nutricionais de uma vaca leiteira mantida


em pastagem ao longo da lactação de 6250 kg de leite em 305. Também são apresentadas
formulações de rações para essa vaca no início, meio e final de lactação. Os cálculos foram
feitos utilizando o NRC (2001).
21

Tabela 2. Rações para vacas leiteiras durante a lactação.


Item Início lact Meio lact Final lact
Dias em lactação 60 150 250
Peso Vivo, kg 500 520 540
Cond. Corporal 2,75 3,00 3,25

Leite, kg/dia 25,0 21,5 18,0


% gordura 3,50 3,70 3,90
% proteína 3,10 3,20 3,40
Ganho de peso, kg/d 0,00 0,200 0,300

Consumo de MS, kg/d 16,78 17,25 16,36


NDT, % da MS 71,0 69,0 68,0
ELl, Mcal/d 1,60 1,54 1,535
Proteína bruta, % da MS 15,30 14,60 14,50
PDR, % da MS 10,00 9,80 9,90
PNDR, % da MS 5,30 4,80 4,50

Pasto tropical, kg de MS 9,30 11,70 12,00


Polpa cítrica, kg de MS 3,90 4,00 4,05
Milho, kg de MS 2,00 0,90 -----
Farelo de soja, kg de MS 1,28 0,30 -----
Uréia, kg de MS --- 0,05 0,06
Mineral e vit., kg de MS 0,30 0,30 0,25

Na tabela 2 pode-se observar que a medida que a lactação da vaca avançou no tempo e
a produção de leite foi sendo reduzida, foram feitas altereações na ração total. Tanto os teores
de energia como os teores de proteína bruta foram reduzidos na ração. A concentração de
proteína degradável no rúmen foi muito pouco alterada. Já a concentração de PNDR foi reduzida
de 5,3 para 4,5%, uma vez que a exigência da vaca em proteína metabolizável diminuiu, mas
não a exigência do rúmen em PDR. Na prática isto significou redução no teor de farelo de soja e
aumento no teor de uréia na ração com o avançar da lactação.

6.5. Formulação de ração através do Quadrado de Pearson


Quando ainda não se dispunha de computadores para a formulação de ração, os
modelos traziam as exigências energéticas e protéicas do animal em tabelas, e os cálculos
eram feitos manualmente. Tomemos por exemplo um modelo que adotasse as exigências
energéticas do animal em NDT e as exigências protéicas em PB. Será usada como exemplo
uma vaca adulta de 500 kg de peso vivo, no pico de lactação, com produção de 25 kg de
leite/dia, com 3,5% de gordura e 3,1% de proteína bruta. Os ingredientes disponíveis para a
22

ração são pasto de alta qualidade, polpa cítrica, farelo de soja e mistura mineral.
De acordo com o programa, o consumo de MS esperado é de 16,78 kg/dia. As
exigências para manutenção e produção de leite são de 11,91 kg de NDT e de 2,56 kg de PB.
Suponhamos que a dose fornecida de concentrado seja de 1 kg de matéria natural de
concentrado por kg de leite. Portanto, 25 kg de leite divididos por 3 resulta na dose de 8,3 kg de
matéria natural de concentrado por vaca/dia. O teor de MS do concentrado é de 90%, portanto
serão necessários 7,47 kg de MS de concentrado (8,3 x 0,9).
O consumo total predito pelo programa é de 16,78 kg de MS. Assim o animal terá que
ingerir 9,31 kg de MS de pasto. Esta ingestão de pasto fornecerá 6,05 kg de NDT (9,31 x 0,65) e
1,49 kg de PB (9,31 x 0,16).
Portanto o concentrado terá que fornecer 5,86 kg de NDT (11,91 – 6,05) e 1,07 kg de
PB (2,56 – 1,49).
Para fazermos o cálculo do concentrado em matéria natural, teremos que incluir os 5,86
kg de NDT e 1,07 kg de PB nos 8,3 kg de concentrado que a vaca irá consumir. Isto é, teremos
que formular um concentrado com 70,6% de NDT e 12,9% de PB na matéria natural. Vamos
arredondar os valores para 71% de NDT e 13% de PB.
Para formular o concentrado com 13% de PB com os ingredientes polpa cítrica e farelo
de soja pode-se utilizar o quadrado de Pearson, da seguinte maneira:
O teor de PB do milho moído na MS é 9,4%. Para calcular o teor de PB na matéria
natural, basta multiplicarmos 9,4 pelo teor de MS do milho:
9,4 x 0,88 = 8,27% de PB na matéria natural
O mesmo é feito para o farelo de soja:
50 x 0,88 = 44 % de PB na matéria natural
Para facilidade de cálculo vamos arredondar os valores para 8% de PB na matéria
natural do milho. Agora monta-se o quadrado de Pearson:
Milho: 8% de PB 31

13% de PB

F. soja: 44% de PB 5

36

Na coluna da esquerda colocamos os dois ingredientes que irão compor o


concentrado. Na região central do quadrado colocamos o teor de PB almejado e na
coluna da direita colocamos a diferença entre os valores calculados de forma cruzada,
23

ou seja: na linha do farelo de soja colocamos o resultado da subtração entre o teor de


PB do milho e o teor de PB almejado, ou seja, 8 – 13 = 5. Na linha do milho de soja
procedemos da mesma forma, 44 – 13 = 31.
Então somamos 31 + 5 = 36. Para calcular a proporção de cada ingrediente,
procede-se da seguinte maneira:

Milho: (31 ÷ 36) x 100 = 86,11%

F. Soja: (5 ÷ 36) x 100 = 13,89%

Portanto, na batida de 100 kg de concentrado deverão ser incluídos:


86,11 kg de milho
13,89 kg de farelo de soja.

Para incluir 5 kg de núcleo mineral nos 100 kg de ração e manter o teor de 13%
de PB na mistura, será necessário fazer o seguinte ajuste:

Polpa cítrica: 80,00 kg


Farelo de soja: 15,00 kg
Núcleo mineral: 5,00 kg

Após todos estes cálculos fica claro que não faz sentido abrir mão da utilização
de um programa informatizado de formulação de ração.

6.6. Formulação de rações utilizando o NRC (2001)


A seguir apresentaremos os passos para a utilização do NRC(2001). O programa
encontra-se disponível na internet (site: http//:www.nap.edu). Antes da instalação do programa,
é necessário alterar a configuração regional do seu computador para o inglês (USA), pois no
sistema americano, vírgula é ponto e vice-versa.

Ao iniciar o programa siga os seguintes passos para formular a ração:

a) Clique na janela "inputs"

b) Clique "program settings"


24

Na coluna da esquerda aparecerão os itens Units e Basis:


Sugestão: formule a ração com base na unidade métrica (metric) e em matéria seca
(dry matter).

Na coluna do meio, constará o item Cabeçalho (header text) e rodapé (footer text):
Escolha a seu critério como gostaria que saísse o impresso dos relatórios. Sugestão:
left( long date); center (simulation fale name); right (page number)

Na coluna da direita tem-se o item "Ration Results":


Os itens ali escolhidos aparecerão na tela quando estiver formulando a ração, para que
você possa efetuar os ajustes necessários em proteína, energia, etc
Sugestão: use a sugestão do programa mantendo clicado o item "use default results
based on animal type" na parte inferior do lado direito da tela.

Completado o item Program settings, vamos agora descrever o animal:

c) Clique o item "animal description" e preencha as seguintes opções:

Tipo de animal: vaca em lactação (lactating cow).


De baixo para cima preencha os itens: intervalo entre partos, idade ao primeiro parto,
ordem da lactação, dias em lactação, condição corporal, dias prenhe, peso vivo e idade em
meses.

d) Clique em "production":

Digite o peso da vaca na idade adulta.


Escolha a raça do animal
Clique no quadrinho inferior para computar o peso do bezerro ao nascer com base no
peso da vaca na idade adulta determinado.
Digite a produção de leite
Digite o teor de gordura do leite
Digite o teor de proteína bruta do leite

e) Clique em "Management/Environment"

Digite a temperatura média do local no período em questão


25

Digite se os animais estão pastejando (grazing) ou não


Em caso de pastejo, determine a distância média percorrida da ordenha ao pasto
Digite quantas vezes por dia ela percorre essa distância
Digite se o terreno é plano ou montanhoso

Concluídas todas as etapas do "Inputs" clique a próxima janela:

FEEDS

Após clicar a janela FEEDS, vamos escolher os alimentos:

f) clicar em "add feeds to ration":

Ao fazer isto aparecerá na tela a biblioteca de alimentos. Clique os alimentos desejados


e então clique o botão "add"

Após a escolha dos alimentos, cheque a composição de cada um deles e faça as


alterações necessárias de acordo com a análise bromatológica dos seus ingredientes.

Concluídas todas estas etapas clique na janela RATION para formular a ração.

g) RATION

Coloque as quantidades de cada ingrediente e cheque os resultados na tela a direita.


Use seus conhecimentos de nutrição para formular uma boa ração

h) REPORT

Ao clicar esta janela você encontrará os relatórios que podem ser visualizados ou
impressos.

5. SIMULAÇÃO

Vamos agora utilizar o NRC (2001) para formular dietas para uma vaca leiteira.
26

Alimente o programa com os seguintes dados:

Animal type: lactating cow


Age: 53 months
Body weight: 540 kg
Days pregnant: 60
Days in milk: 150
Condition score: 3
Calving interval: 12
First calving: 24

Mature weight: 540


Breed: Holstein
Milk production: 20
Milk fat: 3.6
Milk crude protein: 3.2

Grazing
Distance: 200 m
One way trips: 4
Flat

Escolha os alimentos:

Bermudagrass hay, tifton-85


Corn grain ground, dry
Soybean meal, 44
Urea
Vitamin premix 1

Corrija os valores do tifton-85 simulando um pasto de alta qualidade:

NDF: 60
27

CP: 13
Lignin: 3

RAÇÃO 1

Digite 12 kg de MS de pasto, 5,1 kg de milho, 0,3 kg de mistura mineral, totalizando 17,4


kg de MS, conforme proposto pelo programa (Predicted DMI). Lembre-se que o programa
é em inglês e portanto deve-se usar ponto ao invés de vírgula, ou seja 5.1 e não 5,1.
Acompanhe no RATION RESULTS:

NEL Allowable milk: 23.3 kg/d

Isto significa que a ração é capaz de suprir Energia Líquida de lactação (Nel) para a
produção de 23,3 kg de leite. Há sobra de energia, uma vez que a vaca está produzindo 20 kg.
Isto é recomendável uma vez que aos 150 dias de lactação esta vaca deverá estar ganhando
condição corporal. Entretanto, o ganho de 0,4kg/d mostrado no SUMARY REPORT, está um
pouco acima do ideal, exigindo que se monitore a condição corporal da vaca para evitar vacas
obesas na secagem.
Uma unidade de condição corporal corresponde à aproximadamente 80 kg de peso vivo. O
objetivo é que a vaca chegue no momento da secagem, aos 305 dias de lactação (12 meses de
intervalo entre partos) com condição corporal 3,5. Portanto, esta vaca deveria ganhar 0,5 (3,5 –
3,0) unidades, ou seja, 40 kg de peso vivo (0,5 x 80) nos 155 dias restantes de sua lactação. Isto
significa 40/155 = 0,258 kg/d.
Sendo conservador, uma vez que a qualidade do pasto pode variar ou a vaca pode estar
consumindo menos pasto que o previsto por causa de estresse térmico ou outros fatores, seria
prudente manter esta sobra de energia (0,4 kg/d), desde que a condição corporal do animal seja
monitorada regularmente.

MP Allowable milk: 14.5 kg/d

Observe que há proteína metabolizável suficiente para apenas 14,5 kg de leite/d, quando o
objetivo é atingir 20 kg de leite. Recordando, a proteína metabolizável é representada pelos
aminoácidos provenientes da digestão intestinal da proteína microbiana, PNDR e proteína
endógena. Portanto, o primeiro passo para aumentar a disponibilidade de proteína metabolizável
para a vaca é tentar aumentar a síntese microbiana no rúmen.
Observe que na parte inferior do quadro RATION RESULTS está escrito em negrito que
há falta de PDR. Olhe no RATION RESULTS que há um balanço negativo de 357g. Isto significa
28

que a síntese microbiana está sendo limitada no por falta de PDR. A forma mais barata de tentar
suprir esta deficiência é através da adição de uréia. Uma deficiência do programa é que o NRC
(2001) considera PDR como uma entidade única, desconsiderando que na realidade ela é
composta por peptídeos, aminoácidos e amônia. Vale lembrar que a adição de uréia adiciona
apenas amônia ao fluido ruminal e, portanto, a resposta em produção de leite sugerida pelo
programa pode não ser obtida na íntegra na prática.
Na tentativa de suprir a deficiência de PDR adicione 0,15 kg de uréia e retire os
correspondentes 0,15 kg de milho, mantendo o consumo total em 17,4kg de MS. Observe que
continua sobrando energia (suficiente para 23,1 kg de leite) e que agora há proteína
metabolizável para 19,2kg de leite. Este aumento na disponibilidade de proteína metabolizável
ocorreu devido a uma maior síntese de proteína microbiana, que pode ser constatada checando
o SUMARY REPORT. Houve um aumento na proteína metabolizável proveniente de bactérias
(MP-Bacterial =939 g/d contra 751g/d antes da adição de uréia).
Observe também que o balanço de PDR mostra uma sobra de 68 g, valor este adequado.
Apesar do aumento em produção de leite, ainda não foi possível fazer a vaca produzir os
desejados 20 kg/d, por falta de proteína metabolizável, que ainda apresenta um balanço
negativo de – 51g/d.
Há duas formas de surprir esta proteína metabolizável:

a) A primeira alternativa é suprir mais milho, mais ureía e menos pasto, a fim de
aumentar o NDT e a PDR da dieta e estimular uma maior síntese de proteína
microbiana. Lembre-se que a produção de proteína microbiana é computada pelo NRC
(2001) como: kg de NDT ajustado * 0,13
b) A Segunda alternativa é suprir um pouco de farelo de soja, a fim de aumentar o
suprimento de PNDR para o intestino. Forneça 4,5 kg de miho, 0,5 kg de farelo de
soja, 0,1 kg de uréia, 0,3 kg de mineral e 12 kg de pasto. Observe que continua
havendo sobra de energia e que houve aumento na disponibilidade de proteína
metabolizável, agora suficiente para produzir 20,5 kg de leite/d.

Após fazer os ajustes em energia e proteína, cheque no SUMARY REPORT se o teor de


fibra (NDF e FNDF) está adequado e a relação entre CF e CNF.

Você também pode gostar