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Gazeta Digital 22/12/10 10:48

2010-12-22
Golpe na Costa do Marfim

Mais um país africano está passando pelo teste da democracia e as perspectivas não são das
melhores. O resultado das eleições na Costa do Marfim indicaram a vitória de um dos setores da
oposição, liderado por AlassaneOuattara. O atual presidente, Laurent Gbagbo, é rival antigo de
Ouattara e não quer aceitar o resultado das eleições. Aliás, por influência direta de Gbagbo e em
comunicado oficial, o presidente do Conselho Constitucional do país, Paul Yao N"dré, já declarou que
o pleito foi oficialmente considerado inválido.

A Costa do Marfim é um ex-colônia francesa que obteve a independência em 1960, no contexto do


processo de descolonização. Se destacou durante a maior parte de sua existência como país
soberano pela estabilidade política e relativo sucesso econômico no difícil cenário africano.

No plano regional tinha uma das economias mais dinâmicas e era candidato a líder, rivalizando com
a outra potência regional, a Nigéria. Ambos participam de um bloco econômico, a Comunidade
Econômica dos Estados da África Ocidental (Ecowas, em inglês).

A economia da Costa do Marfim segue o padrão geral dos Estados africanos, ou seja, é
predominantemente primário-exportadora, com grande concentração nas atividades agrícolas, setor
que emprega em torno de 60 a 70% da mão de obra do país. Dentre os seus produtos de
exportação destacam-se cacau, café, borracha, milho, arroz e frutas tropicais. Também possui
petróleo e ouro. Em termos de indústria, esta é ainda incipiente e com pouca diversificação, com
ênfase na indústria alimentícia e têxtil.

Desde o Golpe de Estado ocorrido em 1999, o quadro politico do país se complicou. A partir daí
grupos políticos lutaram violentamente pelo controle do Estado e não conseguiram estabelecer um
modus vivendi democrático e baseado no diálogo. Registre-se que o processo foi extremamente
violento, levando à morte milhares de pessoas e deixando um país dividido entre o norte e o sul.

Outra consequência da instabilidade política que se seguiu ao Golpe de 1999 foi a intervenção
estrangeira, uma vez que capacetes azuis das Nações Unidas e tropas francesas foram enviadas à
Costa do Marfim, as quais até hoje permanecem no país.

A crise política e o clima de guerra civil teve um importante impacto negativo na economia
marfinense, fragilizando ainda mais a sua precária condição econômica. Mesmo com a retomada das
atividades econômicas nos últimos anos, o crescimento tem sido modesto. Em 2008 o crescimento
do PIB foi de apenas 2,3%, uma taxa baixa para o padrão de crescimento africano verificado na
última década.

A atual crise, que pode levar a uma nova guerra civil, é um complicador a mais para a Costa do
Marfim. Se o atual presidente insistir em desrespeitar a constituição e levar adiante o seu Golpe de
Estado, ele certamente será o principal responsável pela catástrofe que provavelmente virá. O Golpe
não é ruim apenas para a Costa do Marfim, uma vez que ajuda a arranhar a imagem de um
continente inteiro que luta justamente para demonstrar ao mundo que está mudando e tem um
compromisso com a democracia.

Autor: Pio Penna

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