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RESUMO: O propósito do presente artigo é o de discutir e refletir acerca dos vários aspectos da
rotina nos contextos educativos da educação infantil. Ele é fruto das inquietações vividas durante os
estágios I e II do curso de Pedagogia, habilitação em Educação Infantil; realizados no decorrer dos
anos de 2003 e 2004.
Enfatizamos a organização do tempo/espaço e a relação adulto/criança na manutenção dos
momentos vividos por esses atores sociais, no cotidiano de uma instituição de educação infantil,
muitas vezes ritualizados. Também buscamos dar visibilidade as ações, reações e proposições das
crianças diante das propostas que lhes são apresentadas.
Os resultados obtidos indicam a necessidade de criação de uma rotina que estruture o trabalho diário,
possibilitando o movimento de previsibilidade das ações e, que esta estruturação seja construída a
partir da observação que o adulto faz sobre as crianças, tendo por preocupação possibilitar-lhes a
vivência da infância nos contextos coletivos de educação infantil.
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Vimos nesse processo que o registro precisa ser tratado como um importante
procedimento que nos permite (re)pensar a prática pedagógica nos contextos
educativos, pois sua análise suscita a possibilidade de perguntar-se, indagar-se e
estranhar aquilo que nos parece familiar na instituição. (DAUSTER, 1989, p. 7).
O registro, que nos envolve e amplia nossos conhecimentos e concepções, é
um exercício que exige a sensibilidade do olhar e, auxiliadas por esse documento
nos tornamos perceptíveis às diversas vivências infantis. Assim, percebemos,
através do registro, a possibilidade de valorização e ampliação das situações vividas
pelas crianças, permitindo-nos planejar, propor e experimentar a partir do que elas
indicam, tal qual afirma Búfalo (1999, p.121):
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Para um maior aprofundamento sobre os princípios que orientam os estágios do curso de pedagogia em
questão, sugere-se: CERISARA et al (2000).
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Exercitar a prática da observação, discussão e reflexão sobre os mais diferentes
modos de a criança se expressar.
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Os encontros com as professoras da instituição se deram semanalmente, com o auxilio de um esquema de
revezamento feito entre as demais estagiárias e professoras, e tinha por objetivo possibilitar, num primeiro
momento, um espaço propicio para esclarecer e justificar os objetivos da nossa presença na instituição, bem
como a escolha por um estágio de observação e participação, que privilegia o olhar e o registro. Nos interessou
também estabelecer o diálogo e o intercâmbio através da reflexão das observações e registros feitos diariamente,
compartilhando materiais e discutindo suas funções. Vale destacar aqui que ao usarmos o termo “professora”
estamos nos referindo a todas/os as/os profissionais que atuam diretamente com as crianças, sejam elas/es:
auxiliares de sala ou professores/aa auxiliares.
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Pretendendo experienciar o novo as crianças transgridem as normas/regras
postas/impostas pelas rotinas formalizadas e tornam-se, segundo Ostetto e Leite
(2004), sujeitos ativos, assumindo seus processos de criação, autoria e construção
dos conhecimentos.
Subsidiadas por esses apontamentos, pretendemos tratar de algumas
questões relacionadas à rotina como suporte da organização do trabalho
pedagógico e como espaço de transgressão. Para tanto nossa reflexão se dará
sobre alguns questionamentos:
Como está organizado o tempo/espaço nas instituições educativas?
Como se configura a interação adulto–criança neste espaço?
Quais ações as crianças expressam diante da organização espaço-temporal da
creche?
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BATISTA, Rosa. A rotina no dia a dia da creche: entre o proposto e o vivido. Florianópolis, SC. Dissertação
(Mestrado em Educação) Universidade Federal de Santa Catarina, 1998.
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Estar na creche durante o estágio possibilitou-nos acompanhar as vivências
das crianças e perceber o quanto o universo infantil é diferente daquilo que o mundo
adulto, por vezes, tenta impor às crianças. Esta imposição é fruto da construção dos
sujeitos que são preparados para sobreviver na sociedade capitalista e, portanto,
vêem a criança e os tempos da infância como inúteis à produção. Dessa forma o
mundo adulto se distancia do infantil e impede um olhar mais atento,
impossibilitando compreender as crianças como seres plurais.
Assim sendo, para desenvolver o trabalho na educação infantil precisamos
sensibilizar nosso olhar para as vivências e ações/reações/proposições das crianças
no cotidiano da instituição, constituindo, segundo Proença (2004), uma “rotina
estruturante”.
A rotina a qual se refere Proença (2004) se difere da rotina disciplinadora,
pois não pretende domesticar o corpo e a mente do indivíduo para o mercado de
trabalho capitalista. A rotina, que esta autora e nós também defendemos para a
educação infantil, estrutura o trabalho, organizando o tempo e o espaço,
possibilitando o movimento de previsibilidade das ações. Portanto:
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Não podemos deixar que a preocupação pela “manutenção da ordem e da
disciplina” em nome da preparação da criança para a vivência de um outro tempo: o
tempo do futuro, do “vir a ser”, acabe por tomar o espaço da vivência da infância no
tempo presente, aqui e agora. É importante ressaltar isso, uma vez que, o que ainda
se percebe com muita intensidade no interior das instituições é a curta duração das
relações estabelecidas entre professoras/es e crianças, como indicam Oliveira &
Paula (1995). Segundo essas autoras:
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Muitas das crianças que freqüentam a educação infantil permanecem na instituição por período integral, ou
seja, 10 ou 12 horas diárias.
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reiniciar sua busca, no caso da cena, pelos carrinhos. Ao mesmo tempo, vemos que
Anderson assume o papel de “controlador” quando adverte seus amigos, dizendo,
ao seu modo, para não romperem com o estabelecido pela professora. O
interessante é que as crianças indicam, o tempo todo, que querem brincar e que a
“hora da janta”, mesmo sendo um momento indispensável, também pode ser um
espaço de brincadeiras. Isto é, necessariamente não se torna obrigatório que a
criança tenha que parar de brincar para comer ou vice versa, pois, a brincadeira é
uma condição da infância e está presente em todos os momentos vividos pela
criança.
Sendo assim, podemos ver a rotina como uma prática necessária para a
organização dos tempos/espaços nas instituições de educação infantil, mas
devemos pensar em uma rotina flexível e aberta aos imprevistos. Ela deve ser
planejada não sobre a centralização do adulto, mas sim, a partir da observação que
o adulto faz da criança, tendo por preocupação possibilitar às crianças a leitura do
mundo através das experiências vividas na creche e suas ressignificações.
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Referências citadas: