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Autores: Cintia Maria Monteiro de Araújo, Jaqueline de Oliveira Sena, Mariana Ramos Queiroz e Thiago Luis Santos
Gonçalves
1. INTRODUÇÃO
Plantas cianogênicas são aquelas que contêm como princípio ativo o ácido cianídrico (HCN).
O HCN encontra-se ligado a carboidratos denominados glicosídeos cianogênicos, sendo liberado
sob a forma de cianeto (CNˉ) durante a mastigação ou processamento destas plantas; este
produto é muito volátil e é resultado da ação de enzimas liberadas de vesículas no momento do
rompimento celular (β-glicosidade e hidroxinitrila-liase). Os glicosídeos cianogênicos têm sido
constatados em plantas de muitas famílias, entre elas: as Rosaceae, Leguminoseae, Gramíneae,
Araceae, Passifloraceae e Euforbiceae. Além das plantas, o HCN também é encontrado em
cogumelos, fungos e bactérias.
Plantas cianogênicas
A intoxicação por essa espécie ocorre quando animais famintos invadem culturas, quando as
primeiras chuvas são seguidas de uma estiagem de vários dias e os animais ingerem as plantas
em brotação ou secas, também quando são alimentados com as folhas frescas e/ou tubérculos
sem os devidos cuidados quanto à eliminação do princípio ativo (CANELLA et al., 1968 apud
AMORIM, 2006). Experimentos realizados por AMORIM et al. só conseguiram reproduzir a
intoxicação em bovinos com M. glaziovii a partir de 5g/kg/PV. Já a intoxicação cianídrica em
caprinos com M. glaziovii foi obtida a partir de 6,7 g/kg/pv. A Holocalix glaziovii, uma árvore da
família Leguminoseae-Mimosoideae é, também, cianogênica, mas a intoxicação espontânea por
esta planta nunca foi descrita (ARMIEN et al. 1995 apud AMORIM, 2006).
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cianogênicos. Isto se deve a intensa atividade celular, principalmente observada nas folhas e
sementes em germinação (EGEKEZE & OEHME 1980 apud AMORIM, 2006).
A intoxicação aguda por cianeto leva o animal a um quadro de hipóxia e anóxia citotóxica.
Seu mecanismo primário de ação relaciona-se com a inibição da enzima citocromo-oxidase e seu
local de ação é o ferro da metalo-porfirina. O CNˉ reage com o ferro trivalente da citocromo
oxidase e forma um complexo relativamente estável, o citocromo-oxidase-CN, interrompendo o
transporte de elétrons ao longo da cadeia respiratória, inibindo, desse modo, a cadeia de
fosforilação oxidativa (sistema de transporte de elétrons da cadeia respiratória) (SPINOSA, 2008).
Como a oxihemoglobina não pode liberar o oxigênio para o transporte de elétrons, o sangue
apresenta uma coloração vermelho-brilhante (RADOSTITS et al., 2000). A absorção do cianeto é
rápida, sendo amplamente distribuído no organismo; os sinais de intoxicação cianídrica aparecem
logo após ou mesmo durante a ingestão da planta e caracterizam-se por sialorréia, paresia,
espasmos musculares generalizados, e convulsões do tipo tônico-clônicas. As membranas
apresentam-se, inicialmente, vermelho-vivas, depois cianóticas. Em relação ao quadro
respiratório, o animal apresenta polipnéia e dispnéia, podendo posteriormente sofrer parada
respiratória (SPINOSA, 2008). Além disso, o animal apresenta taquicardia, andar cambaleante a
ponto de o animal cair, nistagmo e opistótono. Nos casos mais graves, ocorre queda seguida de
decúbito lateral, dispnéia cada vez mais acentuada e coma.
2. OBJETIVOS
2.2) Avaliação, por meio do teste do picrato, dos níveis de cianeto presentes em amostras
de mandioca mansa (Manihot utilissima), mandioca brava (Manihot esculenta)e alecrim-de-
campinas (Holocalyx glaziovii).
3. MATERIAL E MÉTODOS
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Três bezerros, pesando 125 Kg, 75 Kg e 130 Kg, foram utilizados por três dias consecutivos,
um em cada dia. Os animais foram mantidos em jejum antes da realização do experimento.
50 mL de água
5 g de carbonato de sódio
0,5 g de ácido pícrico.
Foi feita a mensuração das funções vitais dos bezerros (frequências cardíaca, respiratória e
de movimentos ruminais) antes do início da intoxicação experimental. Após a administração do
extrato de Holocalyx glaziovii através de sonda esofágica (deposição direta no rúmen), novas
avaliações desses mesmos parâmetros foram feitas a cada cinco minutos para o
acompanhamento do quadro. Os animais receberam uma solução de 2,2 g/kg de extrato de
Holocalyx glaziovii, planta cianogênica da família Leguminoseae-Mimosoideae. Quando os alunos
julgaram necessária a administração do tratamento, esta foi feita por via intravenosa (veia jugular
externa) e uma nova mensuração das funções vitais dos animais foi feita para constatação do
restabelecimento da normalidade. O tratamento foi feito com nitrito de sódio na concentração de
250 mg/mL e tiossulfato de sódio na concentração de 200 mg/mL para cada 45 Kg de peso vivo.
Repetiu-se, cerca de dez minutos depois, nova dose de tiossulfato de sódio. Solução de 10 mL de
Blotrol® em água foi administrada (V.O.) ao final do experimento, para eliminação dos gases.
Foram coletadas 10 amostras de arroz, sendo que a cada coleta foram contados os grãos
pretos presentes; depois disso, devolveu-se o conteúdo do recipiente aos 2 kg, homogeneizando-
se bem antes de cada coleta e tomando-se o cuidado de fossem aleatórias (escolher pontos
diferentes, sem olhar para dentro do pote, que era escuro justamente para evitar que o resultado
fosse tendencioso).
4. RESULTADOS
OBS.: 10 minutos após a intoxicação por extrato de H. glaziovii, o animal caiu em decúbito lateral;
em 11 minutos a contar da administração do extrato, o bezerro apresentou convulsão tônico-
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clônica. O tratamento foi feito 12 minutos após a intoxicação, sendo que passado 1 minuto o
animal estava em decúbito esternal, ficando em estação 4,5 minutos após o tratamento.
Peso do bezerro: 75 Kg
OBS.: O bezerro apresentou tremores depois de aproximados 4 minutos após a intoxicação. Foi
mensurada a temperatura antes da intoxicação (38,3 ºC) e após o 2º tratamento (38,2 ºC).
Peso do bezerro: 130 kg.
220
200 196
180 180
160
160 148
140
130
FC (bpm)
120
108
100
92
90 81 84
80
80
60
40
20
0
antes da intoxicação 5' após intoxicação 10' após intoxicação ≈ 15' após intoxicação
B ezerro 1t (min)
Bezerro 2 B ezerro 3
6
Frequência Respiratória (m pm )
80
70
60
50
48
FR (mpm)
45
40
34 35
35
26 28
24 24
20
0
antes da intoxicação 5' após intoxicação 10' após intoxicação ≈ 15' após intoxicação
Bezerro 1 t (min)
Bezerro 2 Bezerro 3
3
3
MR (m/3min)
2 2
1 1 1 1
1
0 0
0 0 0 0
antes da intoxicação 5' após intoxicação 10' após intoxicação ≈ 15' após intoxicação
Bezerro 1t (min)
Bezerro 2 Bezerro 3
Figura 2 – Resultados das reações do teste do picrato (as fitas apresentam colorações
menos intensas do que as citadas, visto que a reação cessa à medida que o tempo passa).
5. DISCUSSÃO
Comparando-se a média obtida pelo experimento (1,6 grãos pretos por amostra) àquela
calculada inicialmente (1,63 grãos pretos por amostra), pode-se inferir que este experimento foi
válido para constatar que a execução correta do método de coleta de amostras (numerosas e
aleatórias) garante um resultado fidedigno para o laudo a ser dado numa avaliação de
micotoxinas. Uma única amostra ou poucas podem superestimar (amostras 1, 4, 5, 8 e 9) ou
subestimar (amostras 2, 3, 6, 7 e 10) o valor verdadeiro de micotoxinas presente num
carregamento de cereais, por exemplo.
6. CONCLUSÃO
Embora a intoxicação por plantas cianogênicas seja uma das poucas intoxicações que tem
tratamento específico, com recuperação imediata, na maioria das vezes os animais acometidos
são encontrados mortos, dado a rapidez com que ocorre a morte. Assim, a prevenção é a medida
mais eficaz de se evitar perdas econômicas, já que muitas plantas cianogênicas são utilizadas na
alimentação animal.
Essa prevenção de intoxicação por plantas cianogênicas pode ser feita realizando-se o teste
do picrato, para a identificação de plantas que possam colocar em risco a saúde dos animais, da
moagem ou secagem das plantas que apresentarem níveis altos de cianeto e da exposição prévia
dos animais a referido tipo de planta para induzir a produção da enzima rodanase, que transforma
o cianeto em tiocianato, aumentando a tolerância do animal à alimentação oferecida.
Quanto à técnica de coleta de amostras para avaliação de micotoxinas, pode-se concluir que
é eficiente para o fim ao qual se destina, pois, como visto, o método permite que uma
amostragem seja coletada e analisada de modo mais fiel à condição real.
6. BIBLIOGRAFIA
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AMORIM, S. L.; MEDEIROS, R. M. T.; RIETCORREA F. Intoxicações por Plantas Cianogênicas no
Brasil. Ciência Animal, 16(1):17-26, 2006.
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