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Fontes do Direito Português do Périodo da Individualização (pág.

201 a 224)
Fontes do Reino de Leão (a autonomização jurídica portuguesa não foi imediata, fontes do
direito do Reino de Leão mantiveram-se em vigor nos primeiros séculos após a independência
do Cordato Portucalense.)
- Código Visigótico – na época constituía o único corpo legislativo capaz de servir de lastro
comum ou ponto de referencia dos povos peninsulares, inclusive para efeitos supletivos. |
Começa a perder sua autoridade a partir do século 13, o que é refletido na escassez de
referências a ele nos documentos portugueses. – provavelmente devido a oposição de
preceitos consuetudinários locais e à medida em que a legislação geral e eficácia do Direito
Romano-Canónico se foram incrementando.)
- Leis dimanadas das cúrias ou concílios – espécies de assembléias, as cúrias dão origem mais
tarde às Cortes. Normas gerais resultantes dessas assembléias tiveram vigência em Portugal.
(CÚRIAS: era um órgão auxiliar do rei que tinha, portanto, um carácter eminentemente
político. / CONCÍLIOS: natureza eclesiástica. Os altos representantes da igreja participavam
também das reuniões da cúria.)
- Forais de terras portuguesas anteriores a independência – forais do século 11 e do começo
do século 12, forais outorgados pelos monarcas leoneses. (Cartas de Privilégio.)
- Costume – nesta época o conceito de costume abrange todos as fontes de direito que não
tenham carácter legislativo. Na época esta é a maior fonte de direito privado.
Fontes posteriores a nacionalização
- Leis dos primeiros monarcas – leis de aplicação dos primeiros monarcas portugueses. A partir
de Afonso III a legislação começa a se incrementar. Esta legislação ainda não é produto directo
da vontade do rei, que a promulga depois de ouvida a cúria.
- Forais – abundantes devido a falta de leis gerais (forais são fontes de direito local), até Afonso
III constituem as mais importantes fontes de direito português. São abundantes devido a
necessidade de conceder cartas de povoação e forais devido a preocupação de conquista e
povoação das terras como uma defesa contra as ameaças de absorção leonesas. (Forais
(meados do séc 13)  Costumes ou Foros (período seguinte)). (Cartas de Povoação.)
- Concórdias / Concordatas – acordos entre os reais e as autoridades eclesiásticas –
reconhecem direitos e obrigações relativas ao Estado e a Igreja. Resultavam de respostas aos
agravamentos (queixas) proferidos em cortes pelos representantes do clero, ou de
negociações do rei com autoridades eclesiásticas, apenas nacionais ou intervindo o papa.
(Quando o acordo era com o PAPA, designava-se o acordo por CONCORDATAS).

- O direito português até meados do século 13 (período da individualização) – base


consuetudinária, direito rudimentar, caracterizado por instituições de tipo primitivo e pelo
empirismo que presidia à criação jurídica, orientada no âmbito do direito privado,
fundamentalmente pelos tabeliães (através dos contratos e outros actos que elaboravam não
existindo preceitos gerais individualizadores dos vários institutos / são escrituras tabeliónicas
redigidas de acordo com a vontade concreta dos outorgantes, que aos poucos modelavam os
vários negócios jurídicos).

Contratos agrícolas (período da individualização) – constituíam uma das traves mestras da vida
econômica e social medieva. Antes das influencias romanisticas, configuravam-se como um
conjunto de negócios inominados e sem contornos rigorosos.
Contratos de exploração – institutos que se dirigiam à exploração agrícola ou a indústrias
conexas (moinhos, marinhas de sal). | 1) Enfitense – contrato pelo qual se opera a repartição,
entre os contraentes, daquilo a que a ciência do direito chamaria mais tarde de “domínio
directo” e “domínio útil” de um prédio. O domínio directo pertencia ao senhorio e traduzia-se
essencialmente na faculdade de receber do foreiro ou enfiteuta, a quem cabia o domínio útil,
uma pensão anual (foro ou cânon), em regra constituindo numa parte proporcional dos frutos
que um prédio produzia. 2) complantação – o proprietário de um terreno cedia-o a um
agricultor para que o fertilizasse, em regra, com a plantação de vinhas ou de outras espécies
duradouras, uma vez decorrido o prazo estabelecido, que variava de 4 a 8 anos, procedia-se à
divisão do prédio entre ambos, geralmente em partes iguais.
Contratos de Crédito – institutos que, tendo igualmente terras por objecto, desempenhavam
uma função relevante de crédito ou financeira. 1) compra e venda de rendas – o proprietário
de um prédio, carecido de capitais, cedia a uma pessoa que deles dispusesse, em
compensação de determinada soma para sempre recebidos, o direito a uma prestação
monetária anual imposta como encargo sobre esse prédio (uma forma de investimento
análoga à do empréstimo à juros, sem que fosse abrangido pela proibição da usura em termos
tão radicais). 2) penhor imobiliário – a transmissão do prédio pelo proprietário-devedor ao seu
credor podia ser feita com vários objectivos, desde o de pura função de garantia e de
compensação da cedência do capital, até ao de lhe proporcionar o reembolso progressivo da
divida, que ia amortizando com o desfrute do prédio. (evolui para a hipoteca, nos moldes do
direito romano).

Período do Direito Portugues de Inspiraçao Romano-Canónica


Época do Renascimento do Dto Romano e Renovação do Dt Canónico – ciclo da história
jurídica portuguesa relacionada com o movimento da revitalização intensa do dt romano
justinianeu, que se inicia na Itália ainda durante o século 11, mas se desenvolve sobretudo a
partir da centúria imediata.

Renascimento do Dt Romano – fenômeno dos Estados da Europa ocidental onde estes


começam a ter um novo interesse teórico e prático pelas colectâneas do CIC, durante a
passagem da Alta para a Baixa Idade Média.

Escola de Bolonha – o verdadeiro renascimento do dt romano, ou seja, o estudo sistemático e


a divulgação da obra jurídica justinianeia inicia-se apenas no sec. 12 com a Escola de Bolonha.
- Irnério (fundador) e Acúrsio (Glosa Magna de Acúrsio – selecção das glosas anteriores
relativas a todas as partes do CIC, conciliando ou apresentando criticamente as opiniões
discordantes, mas credenciadas. – encerra o legado científico acumulado por gerações
sucessivas de juristas. Em PT constituiu fonte de dt subsidiário – expressa nas Ordenações).
Sistematização do CIC pelos Glosadores
1) Digesto Velho
2) Digesto Esforçado
3) Digesto Novo
4) código
5) Volume Pequeno
Glosa – consistia num processo de exegese textual. Cifrava-se de inicio num pequeno
esclarecimento imediato, via de regra, numa simples palavra ou expressão, com o objectivo de
tornar inteligível algum passo considerado obscuro ou de interpretação duvidosa. Eram
nótulas ou apostilas tão breves que se inseriam entre as linhas dos manuscritos que continham
as normas analisadas. (Glosas interlineares). Com o tempo as interpretações tornam-se mais
completas e extensas, passam-se a referir-se também, já não um trecho ou preceito, mas todo
um título, por isso escreviam-se a margem do texto original (Glosas marginais).
- Estudaram o CIC com uma finalidade essencialmente prática: esclarecer as respectivas
normas de forma a poderem aplicá-las às situações concretas. Nunca se desprenderam
suficientemente da letra dos preceitos romanos, chegando a construções jurídicas inovadoras.
- Os glosadores encaravam o CIC como uma espécie de texto revelado, e portanto, intangível.
- O papel do jurista, nesta perspectiva, devia reduzir-se ao esclarecimento de tais preceitos
com vista à solução das hipóteses concretas da vida.
Decadência – já não se estudava directamente o texto da lei justinianeia, mas a glosa
respectiva. Faziam-se glosas de glosas.

Escola dos Comentadores – desenvolve-se no séc 14.


- Método: comentário.
- Escola Escolástica / Escola Bartolista / Escola dos Práticos ou dos Comentadores.
Escolastica: deriva de escola (schola), corresponde a um saber que se ensinava em uma escola
sob os auspícios de um mestre. Aprendizado baseado na leitura. Tendência sistemática do
pensamento.
Pedagogia Escolástica: centrava-se em textos de autores que eram tomados como autoridades
e sobre os quais incidia a leitura e desta emergia a questão. Trata-se da interrogação de um
problema para a qual se buscava uma resposta, uma solução. Enunciado o tema em discussão,
seguia-se a apresentação dos argumentos pelos quais as respostas se inclinava para um lado e
depois o elenco das razoes que dispunham em sentido contrario. Concluia-se com a solução ou
resposta, refutando as opiniões adversas.
- Ao contrário dos Glosadores, desprendem-se progressivamente do CIC – em vez de
estudaresm os próprios textos romanos, aplicam-se às glosas e depois aos comentários
sucessivos que sobre elas iam sendo elaborados. Ao lado desses elementos, socorriam-se
ainda de outras fontes, como os costumes locais, os direitos estatutários e o direito canônico.
- chegaram assim a criação de novos institutos e novos ramos do direito.
Decadência: quando o espírito dos preceitos legais passam a ser rotineiros e conduzem à mera
repetição de argumentos e de autores, os juristas deixam de lado a originalidade e passam a
enumerar argumentos favoráveis e contra a determinada solução (opinião comum dos
doutores), era assim obtida e considerada exacta.

Dt Canónico – conjunto de normas jurídicas que disciplinam as matérias da competência da


Igreja Católica.
CÂNONES – normas emanadas dos concílios. | DECRETOS ou CARTAS DECRETAIS – normas
jurídico-canonicas da directa iniciativa dos papas.
Fontes de Dt Canonico
- Fontes Divinas: sagrada escritura (novo e velho testamento) e tradição (comportamento de
Cristo), estas eram apenas interpretadas declarativamente pela Igreja.
- Fontes Humanas: costume (influencia romana), decretos ou decretais dos pontífices
romanos, as leis ou cânones dos concílios ecumênicos, os diplomas emanados de autoridades
eclesiásticas, concórdias ou concordatas (acordos entre a Santa Sé e os Estados), a doutrina e a
jurisprudência e as normas civis canonizadas (que a Igreja fazia suas e mandava observar e
aplicar nos correspondentes tribunais).
Corpus Iuris Canonici
1) Decreto e as Decretais
2) Livro Sexto de Bonifácio
3) Clementinas
4) Extravagantes de João XXII
5) Extravagantes Comuns.

Direito Comum - sistema normativo de fundo romano que se consolidou com os


Comentadores e constituiu, embora não uniformemente, a base de experiência jurídica
européia até finais do século 18.

Fontes de Dt da Época:
- Legislação Geral transformada em vontade do monarca.

- Resoluções Régias
Respostas do soberano aos agravamentos (queixas) feitos pelos representantes das 3 classes
sociais na cúria (clero / nobreza / povo)
- Decadencia do Costume como fonte de direito
O sentido de costume foi reduzido, passou a ser uma expressão da vontade do monarca, alem
de uma manifestação do consenso do povo.
- Forais e Foros ou costumes
A partir de Afonso VI, praticamente, deixam de ser outorgados novos forais.
Foros ou costumes = estatutos municipais / compilações medievais concedidas aos municípios
ou simplesmente organizadas por iniciativa deles.
- Concordias e Concordatas
- Dt Subsidiário
Quando não era encontrada solução para um problema no dt pátrio. O problema estava a
critério dos jurisconsultos e dos tribunais. Dt subsidiário: dt canônico, romano ou castelhano.

Época das Ordenações:


Ordenações Afonsinas
- pedidos formulados pelas cortes no sentido de ser elaborada uma colectânea do dt vigente
que evitasse as incertezas derivadas da grande dispersão e confusão das normas, com graves
prejuízos para a vida jurídica e a adm da justiça.
- projecto iniciado por D. João I, mas só é concluído e posto em vigor por D. Afonso V (daí o
nome).
- sistematização e actualização do dt vigente.
- Fontes: leis gerais; resoluções régias, subseqüentes a petições ou dúvidas apresentadas em
Cortes ou mesmo fora destas; concórdias, concordatas, bulas; inquirições, costumes gerais e
locais; estilos da Corte e dos tribunais superiores (jurisprudência), praxes ou costumes ai
formados; normas extraídas das Siete Partidas e preceitos de direito romano ou canónico
(direito comum).
- estilo compilatório – transcreve-se na integra as fontes anteriores, declarando-se depois os
termos em que estes preceitos eram confirmados, alterados ou afastados. / estilo decretório
ou legislativo – consiste na formulação directa das normas sem referencias às suas eventuais
fontes precedentes.
- cinco livros – 1) regimentos de diversos cargos públicos, conteúdo jurídico-administrativo. 2)
disciplina dos bens e privilégios da Igreja, direitos do rei, jurisdição dos donatários,
prerrogativas da nobreza, estatuto dos judeus e dos mouros. Natureza política ou
constitucional. 3) processo civil. 4) direito civil substantivo – direito das obrigações, das coisas,
da família, das sucessões. 5) direito e processo criminal.
- Importância: constituem a síntese do trajecto que desde a fundação da nacionalidade (na
verdade a partir de Afonso III), afirmou e consolidou a autonomia do sistema jurídico nacional
no conjunto peninsular. Representam o suporte da evolução subseqüente do dt português.
Liga-se ao fenômeno da luta pela centralização. Acentua a independência do dto próprio do
Reino em face do direito comum, subalternizado no posto de fonte subsidiaria por mera
legitimação da vontade do monarca.
Ordenações Manuelinas – D. Manuel I.
- inclusão da disciplina da interpretação vinculativa da lei através dos acentos da casa da
suplicação.
- alterações em matéria de direito subsidiário.
Ordenaçoes Filipinas – Filipe I. (Substitui a Casa Cível (Lisboa) pela Relação do Porto)
- reforma formal.

Interpretação da Lei através dos assentos (Período das Ordenações)


- interpretação da lei com sentido universalmente vinculativo para futuro – surge por meio de
um diploma na segunda década do séc. 16 e incluem-se depois nas Ordenações Manuelinas e
passam às Filipinas.
- surgindo duvidas aos desembargadores da casa da Suplicação sobre o entendimento de
algum preceito, tais deviam ser levadas ao regedor do mesmo tribunal. Este convocaria os
desembargadores que entendesse e, com eles, fixava a interpretação que se considerasse mais
adequada. O regedor da Casa da Suplicação poderia, alias, submeter a dúvida a resolução do
monarca, se subsistissem dificuldades interpretativas. / As resoluções definidas ficavam
registradas no Livro dos Assentos e tinham força imperativa para futuros casos idênticos. =
Segue-se desse modo os assentos da Casa da Suplicação como jurisprudência obrigatória.
- A casa da suplicação era o tribunal superior do reino, a casa do cível era o tribunal de
segunda instância. Filipe I – transfere a casa do cível para o Porto (Relação do Porto), que
passa a ser um tribunal de segunda e ultima instância. Problema – os desembargadores do
Porto passaram a proferir assentos normativos, resultando confusões e contradições
interpretativas (o problema só é resolvido posteriormente com a Lei da Boa Razão).

Fontes de Direito Imediatas (segundo as ordenações)


- Lei
- Estilos da corte: jurisprudência uniforme e constante dos tribunais superiores.
Requisitos: 1) não ser contrário a lei. 2) prescrição, ou seja, antiguidade de dez ou mais anos.
3) ser introduzido, pelo menos, através de dois actos conformes de tribunal superior.
Um diploma dos começos do séc. 17 veio preceituar que as duvidas relativas aos estilos
deviam ser remetidos aos assentos.
- Costumes
Ordenações Afonsinas – limitam-se a consagrar a vigência do costume do Reino antigamente
usado.
Ordenações Manuelinas – estabelecem alguma especificação.

Direito Subsidiário – sistema de normas jurídicas chamado a colmatar as lacunas de outro


sistema.
Ordenaçoes Afonsinas
- Apenas seriam invocadas licitamente caso as fontes de dt imediatas (leis, estilos da corte e
costume) não resolvessem o problema.
1) Direito Romano x Direito Canónico (DR – questões jurídicas de natureza temporal. DC –
questões espirituais e questões temporais retiradas do DR pelo critério do pecado.)
- Critério do pecado – um problema que, resolvido pelo DR, resultasse a aplicação de um
pecado, ou seja, uma aplicação contrária a moral cristã.
2) Glosa de Acúrsio x Opinião de Bártolo. (prevalecia a Opinião de Bártolo à opinião comum
dos doutores).
3) Resolução do Monarca – consulta ao rei, estatuição valerei de futuro para todos os feitos
semelhantes.
Ordenações Manuelinas
1) Direito Romano x Direito Canónico (DR – todas as questões. DC – questões retiradas do DR
pelo critério do pecado.)
- deixou de haver distinção entre questões espirituais e temporais.
2) Glosa de Acúrsio x Opinião de Bártolo. (tinham que ser aprovadas pela opinião comum dos
doutores que escreveram depois de Bártolo – na pratica criou outra fonte de direito – a
comum opinião dos doutores).

Reforma dos Forais – D. Manuel I – cria uma lei geral da Adm Local que leva a Reforma dos
Forais – Forais novos (estes após a reforma) e forais velhos (os anteriores a reforma) – A
reforma: limitou-se a actualizar pesos, medidas, moeda.
Velhos: bifrontes – cariz político-adm / cariz de cadernos de tributos locais.
Novos: perderam o cariz político-adm (pois estas matérias subiram para a adm régia –
centralização régia) e passaram a ser apenas fiscalistas.
D. Manuel I torna os forais apenas como disciplinadores de matérias tributarias, por que
centraliza a legislação ao poder régio.
- é um passo importante para o desfilamento dos forais, que acabam no séc. 19 com Mousinho
da Silveira.

Humanismo Jurídico – “humanismo renascentista” / - Escola dos Juristas Cultos, Escola dos
Juriscunsultos Humanistas, Escola Histórico-Crítica, Escola Cujaciana. / - Progresso do
Humanismo Renascentista + Decadência da obra dos Comentadores = eclosão do Humanismo
Jurídico. / - começa-se a encarar o direito romano como uma das várias manifestações da
cultura clássica. / - estudo crítico das fontes romanas / - século 16 / - autonomia interpretativa
do jurista em face das normas legais / - contraposição à Bartolo (pratica), - tendência erudita. /
- lança ideias que o setecentismo iluminista posteriormente fomenta.

Instalação da Universidade em Coimbra


- desde a sua criação, a sede da universidade portuguesa oscilava entre Lisboa e Coimbra até o
ano de 1735, quando D. João III a fixa em Coimbra.
- objectivo de promover uma reforma profunda no ensino, organizar um ensino digno dos
tempos renascentistas.
- passaram para Coimbra apenas os professores que mereciam crédito e foram chamados
professores renomados estrangeiros.
Organização dos estudos jurídicos segundo dos Estatutos Velhos – Estatutos Filipinos (que
estiveram em vigor até os Estatutos Pombalinos).
- Faculdade de Cânones – Corpus Iuris Canonice / Faculdade de Leis – Corpus Iuris Civilis.
- Esquema de ensino: escolástica – o prof lia os passos dos Corpus e em seguida comentava-os
expondo as opiniões e os argumentos considerados falsos e verdadeiros e concluindo com a
interpretação considerada mais razoável.
- no período imediato a instalação da Universidade em Coimbra verificou-se uma abertura às
ideias do humanismo jurídico, que eram adversas ao predomínio da autoridade. As instruções
régias relativas ao modo do ensino apontavam para uma maior liberdade interpretativa do
jurista.

Segunda Escolástica – “neo escolástica” / - influência na cultura dos sécs. 16 a 17 / -


necessidade de repensar a compreensão cristã do homem e da convivência humana (envolve o
Estado e o Direito) / - especulações teológico-jurídica / - Escola Espanhola de Direito Natural / -
posição jusnaturalista / - direito positivo.

Epoca do Jusnaturalismo Racionalista – Período de Formação do Dt Pt Moderno


Marquês de Pombal (Período da Formação do Direito Português Moderno - Época do
Jusnaturalismo Racionalista) – medidas importantes: 1) Lei da Boa Razão, 2) Estatutos
Pombalinos (da Universidade) / Reforma do ensino da Universidade de Coimbra, 3) criação das
Companhias – foi importante no ambito da evolução do direito comercial português e serviu
de base para as futuras sociedades por acções.
Base orientadora das reformas pombalinas (nos graus filtrados pelo Despotismo Esclarecido):
- Escola Racionalista do Direito Natural (século XVI-XVII, Escola Espanhola de Direito Natural e
Escola Recionalista do Direito Natural (Holanda, Inglaterra, Alemanha); razão humana; ideia: as
normas devem emanar da razão do homem e da sua natureza; positivismo).
- Uso Moderno (nova metodologia do estudo do C. I. Civilis; passagem da Escola dos
Comentadores para a Escola Historica; reflete a penetração do jusnaturalismo no Direito, em
duas fases: 1) repercussão indirecta do jusracionalismo na vida jurídica – ampliação do campo
da actividade legislativa / intervencionismo – Despotismo esclarecido. / esforço de adaptação
do direito romano. 2) a partir dos finais do sec 17 – influencia do jusracionalismo a nivel da
doutrina e da pratica do direito; - se encara o direito romano de olhos postos na realidade; no
CIC: faz-se uma separação do que é direito vivo conservado e direito obsoleto (separa-se as
normas susceptíveis de “uso moderno”, ou seja, adaptadas as exigências do tempo, das
normas que refletiam situações peculiares do direito romano. – so as primeiras deveriam ser
consideradas aplicáveis.).
- Iluminismo (“luzes da razão”; século 18; monarquias absolutas -> despotismo esclarecido;
Portugal: segunda metade de 700 (reinados de D. José e D. Maria I); antropológico,
experimentalista; no centro: o homem – não totalmente afastado da ideia de transcedencia
mas julgando-se dono do seu destino; hipertrofia da razão e do racionalismo; desenvolvimento
de um sistema naturalístico das ciências do espírito; se alicerça na natureza e tem sua validade
pela razão humana (critica e subjectiva); concepção individualista liberal (base: direitos
naturais e originários dos indivíduos) tirado do espírito individualista, desenvolvido pelo
Renascentismo e acentuados pelo jusnaturalismo; ILUMINISMO ITALIANO – trazido a Portugal
por Verney – ligado a renovação da actividade cientifica, inovações pedagógicas, difusão do
espírito laico, reforma de instituições sociais e políticas.
- Humanitarismo (corrente derivada do iluminismo; direito penal e tratamento penitenciário;
dentro da linha racionalista; DIREITO PENAL: -desvincula-se de pressupostos religiosos
(compreensão de direito e estado como contrato social), -critério: necessidade ou utilidade
comum, -lei moral, paradigma da lei positiva, -penas: prevenção e defesa da sociedade, -a
pena deixa de ser entendida como um castigo, passa a ser um meio de evitar futuras violações
da lei (prevenção geral (intimidação) e prevenção especial (do próprio delinqüente), -dentro
dos limites da justiça e do respeito pela dignidade da pessoa humana (as penas são concedidas
dentro de critérios de proporcionalidade; acabam os castigos corporais - que eram as penas),
-surge a prisão como pena (antes era apenas um instrumento) – prisao: limitação a liberdade
(liberdade como um 1º bem social).

Lei da Boa Razão


A Lei da Boa Razão foi uma lei disciplinadora, ou seja, foi um documento legislativo
que visava regular o direito vigente anterior, é uma lei de 1769, e simboliza uma das mais
importantes acções em matéria jurídica no governo de Marquês de Pombal.
Esta lei continha preceitos jurídicos que apelavam à “boa razão”, que era exatamente a
“recta ratio” jusnaturalista, que caracteriza a época na qual se insere. Significa “estar
conforme a boa razão” corresponder aos princípios de direito natural ou do direito das
gentes.
Tinha como objectivo impedir irregularidades em matéria de assentos, quanto ao uso
do direito subsidiário, visava ainda fixar normas precisas sobre a validade do costume e sobre
os elementos que o intérprete podia recorrer para o preenchimento de lacunas.

1) os problemas juridicamente relevantes submetidos a apreciação dos tribunais deviam ser


julgados, em um primeiro momento, pelas leis pátrias e pelos estilos da corte (jurisprudência
a observar em casos idênticos, mas só valiam quando aprovados através de assentos da Casa
da Suplicação).
2) confere-se autoridade exclusiva aos assentos da Casa da Suplicação (tribunal supremo do
Reino) – declara-se que os assentos das Relações apenas alcançariam valor normativo
mediante confirmação daquele tribunal superior.
3) Validade do costume:
- ser conforme à boa razão;
- não contrariar a lei;
- ter mais de 100 anos.
* Coloca o direito consuetudinário em segundo plano legislativo.
4) Quanto ao direito subsidiário: o direito romano passou a ser aplicado apenas se estivesse de
acordo com a boa razão.
Direito subsidiário (passou a ser):
- Direito romano e sistema de direito internacional seleccionados pelo jusnaturalismo.
Os Estatutos da Universidade – veio complementar que, além dessas regras, aponta-se ao
intérprete o critério prático de averiguar qual o “uso moderno” que dos preceitos romanos em
causa faziam jurisconsultos das nações européias modernas.
5) Se a lacuna estivesse em matérias políticas, econômicas, mercantis ou marítimas,
determinava-se o recurso directo às leis das Naçoes Cristãs, iluminadas e polidas.
6) Direito Canónico – apenas em tribunais eclesiásticos.
7) Glosas de Acúrsio e Opinião de Bártolo – deixam de ser fonte de direito subsidiário.

Estatutos da Universidade
Três anos após a Lei da Boa Razão, os Estatutos da Universidade, ou Estatutos Novos,
são criados.
Reforma da Universidade:
1- Foi nomeada a Junta de Providência Literária – uma comissão incumbida de emitir um
parecer sobre as causas da decadência do ensino universitário e sobre o critério adequado a
sua reforma.
2- Em 1771, esta comissão apresenta um relatório, com o título de Compêndio Histórico da
Universidade de Coimbra, nele faz-se uma critica dura à organização da Universidade.
3- A Junta elabora os Novos Estatutos da Universidade (Estatutos Pombalinos)
Mudanças:
- inclusão de novas cadeiras: direito natural (direito natural + direito público universal + direito
das gentes); história do direito e das instituições do direito pátrio.
- novo método de ensino: sintético-demonstrativo-compendiário – fornecer aos estudantes
um conspecto geral de cada disciplina (através de definições, sistematização da matéria
seguindo uma linha de progressiva complexidade); passar-se-ia de umas
proposições/conclusões para as outras apenas depois do esclarecimento cientifico das
precedentes e como sua dedução e tudo isto seria acompanhado de manuais adequados,
sujeitos a aprovação oficial. – O método tradicional escolástico ou bartolista foi substituído
pelas directrizes histórico - criticas ou cujacianas.

As Codificações (Período da Formação do Dt Pt Moderno – Época do Individualismo / Pág. 460)


- Durante o séc XIX – movimento codificador em diversos países da Europa.
- Movimento codificador: elaboração de amplos corpos legislativos unitários, obedecendo a
uma orgânica mais ou menos científica e que condensavam, autonomamente, as normas
relativas aos ramos básicos do direito, já então individualizados. (Lastro racionalista, objectivos
de unificação e centralização jurídica, significado para a nova burguesia liberal).
- Os códigos modernos propunham-se ser inovadores, realizar uma verdadeira transformação
jurídica (em oposição aos códigos antigos que basicamente constituíam compilações do direito
vigente e passado e que reuniam vários ramos do direito – os códigos modernos são mais
específicos a cada ramo).
- Na raiz do movimento codificador encontram-se vectores jusnaturalistas e iluministas.
- Nenhum dos problemas poderiam ser resolvidos sem que recorrecem ao estabelecido pelos
Novos Códigos (colocando assim como superado a tradição jurídica anterior) – entendia-se que
estes Códigos constituíam sistemas acabados que continham a disciplina da totalidade das
relações sociais – a partir daí a passagem para o positivismo torna-se obvia: o direito
identifica-se com a lei e qualquer problema seria resolvido através do formalismo de uma
dedução lógica do sistema para o caso concreto.
- O movimento de Codificação Português
- Impulsionado pela Revolução Francesa.
Código Comercial:
- Primeiro código português. Feito em 1833, por Ferreira Borges.
- Devido a enorme dispersão legislativa e as incertezas jurisprudenciais, tornava-se
indispensável a reunião num corpo orgânico das disposições avulsas dessa área jurídica.
- Duas partes: 1) comercio terrestre, 2) comercio marítimo.
- Se incluem normas de direito mercantil substantivo, normas processuais, de organização
judiciária e até de direito civil.
- Influências: código comercial francês, código comercial italiano e código comercial espanhol.
- representou considerável avanço do direito mercantil português, mas esteve longe de
realizar obra satisfatória.
- Novo código: 1888 – Veiga Beirão.
Código Civil:
- Primeiro código civil português: Projecto de António Luis de Seabra (desembargador da
Relação do Porto). Ano de 1867.
- Afastou-se da divisão orgânica das codificações da época (que perfilhavam ainda o plano das
instituições romanas), o sistema do código português gravita em torno do sujeito activo da
relação jurídica, na vida do mesmo, onde destiguiam-se os aspectos fundamentais: 1- o
nascimento (atribuição da capacidade de direitos e obrigações), 2- efectiva aquisição desses
direitos pelo exercício dessa personalidade, 3- fruição e 4- os esquemas que a lei estabelece
para a defesa dos direitos ou meios adquiridos.
- Quatro partes: 1) Da capacidade civil, 2) Da aquisição dos direitos, 3) Do direito de
propriedade (corresponde as normas relativas ao gozo e grafe dos direitos), 4) Da ofensa dos
direitos e da sua reparação.
- o código tem uma feição individualista - a vida jurídica aparece tipicamente construída
apenas do ângulo do individuo, do sujeito do direito, desaparecendo o que há de institucional
e de objectivo das relações sociais e jurídicas.
- completa hipertrofia do aspecto subjectivo do direito (característica do liberalismo).
- fundamentos teóricos do código – dentro das concepções sobre o direito e a sociedade
ligadas ao jusnaturalismo racionalista e ao individualismo liberal.
- directriz básica: “segundo a qual cada um trata de si, contanto que deixe salva a liberdade
dos outros” – suposto de uma harmonia preestabelecida entra as máximas vantagens
individuais e o maior bem de todos.
- Casamento: deixou de ser disciplinado apenas pelo direito canônico. Consagração do
casamento civil, ao lado do casamento católico.
- o código é marcado por perfeições de toda a ordem: da lógica da sua original sistematização
à elegância e clareza da linguagem. O código civil português estava ao lado das melhores
codificações estrangeiras. Teve uma vigência de séculos.
- Criticas: excesso de originalidade (resultam certas disciplinas pouco felizes, duvidas e
omissões que se teriam evitado desde que o autor do projecto acolhesse os modelos
doutrinais e legislativos de que voluntariamente se afastou); o tempo agravou as insuficiências
do código (instituições que surgiam e não podiam ser disciplinadas pelo código) e etc.

O costume (no âmbito deste período)


- Anteriormente o costume havia perdido importância com a Lei da Boa Razão.
- DIREITO PRIVADO: o código civil de 1867 – remete o costume para o quadro das fontes
mediatas ou indirectas, isto é, sem força própria (valia apenas na medida em que o legislador o
admitisse).
- DIREITO INTERNACIONAL PUBLICO, PRECEITOS CONSTITUCIONAIS e ALGUMAS INSTITUIÇÕES
REGIONAIS OU LOCAIS: subsistiram hipóteses de relevância imediata do costume.

Nova pespectiva do Direito Subsidiário (ainda no âmbito do mesmo período)


- a partir do século XIX a integração de lacunas é deslocada para o âmbito exclusivo do direito
interno (antes era remetido a outras ordens jurídicas)
- Código Civil português de 1867: “Se as questões sobre direitos e obrigações não puderem ser
resolvidas, nem pelo texto da lei, nem pelo seu espírito, nem pelos casos análogos, prevenidos
em outras leis, serão decididas pelos principios de direito natural, conforme circunstancias do
caso”.
- Face a uma lacuna, deveria recorrer-se, progressivamente:
. a analogia (disciplina estabelecida para situação semelhante),
. remissão para os princípios de direito natural, conforme as circunstancias do caso, significa
confiar ao juiz a tarefa do preenchimento das lacunas, tendo em conta a solução que
presumisse adoptada pelo legislador, se ele houvesse previsto o caso omisso.
- Deixou-se de existir um direito subsidiário nos termos tradicionais.

Extinção dos Forais


- a abolição definitiva dos direitos foraleiros deu-se com a reforma de Mousinho da Silveira.
- os forais, ao longo do tempo, foram perdendo importancia dentro do direito português, até
esta abolição definitiva.

O Ensino do Direito
Fusão das Faculdades de Leis e de Cânones na moderna Faculdade de Direito.
- período de pertubaçao da vida universitária (causas: invasões francesas, cisão política interna
conseqüente do movimento vintista e que despontou numa guerra civil).
- Reforma dos estudos jurídicos – produzida pelo triunfo do liberalismo – criação da Faculdade
Moderna de Direito, que resultou da fusão das duas faculdades jurídicas tradicionais
(Faculdade de Canones e Faculdade de Leis).
- desde os estatutos de 1772 (os pombalinos) procura-se combater o excessivo predomínio do
direito romano e do direito canônico, através do alargamento dos horizontes do ensino
jurídico (criação de novas disciplinas) e deseja-se o prestigio do direito nacional. – derivou um
núcleo de cadeiras comuns aos legistas e aos canonistas (facilitando a unificação).
- no quadro da política liberal a fusao das universidades veio para desvalorizar o direito
canônico e eclesiastico (unificam os dois cursos em um ao propósito de subalternizar e reduzir
o ensino desse ramo jurídico).
- Fusão: em 1883 surge a ideia da unificação dos cursos; apenas em 1836, durante a ditadura
do setembrista Passos Manuel substitui-se a Faculdade de Canones e a Faculdade de Leis pela
Faculdade de Direito. As faculdades tradicionais foram reduzidas praticamente a uma cadeira
cada uma, o estudo do direito pátrio desdobrou-se nas cadeiras de direito publico, direito civil
(duas cadeiras), direito comercial e direito criminal ao lado das cadeiras de pratica, que já
existia, e da de hermenêutica, que substitui as cadeiras analiticas, inclui-se economia política e
medicina legal.
- Após a unificação das faculdades, segue um período de frutuosa actividade, caracterizado
pelo estabelecimento ou incremento de várias disciplinas, pela introdução de novos métodos
em certas delas e também pela redacção de alguns compêndios de assinalado mérito.

- Sínteses Conceituais –
Código Visigótico – conjunto de manuscritos de épocas muito diversas, que vão desde a última
fase da dominação visigótica até à Reconquista. Trata-se de revisões não oficiais, mas de
origem privada, da autoria de juristas e práticos do direito anônimos. É um produto do
cruzamento de três correntes jurídicas: romana (direito romano vulgar), canônica e germânica.
Foral ou Carta de Foral – diploma concedido pelo rei, ou por um senhorio laico ou eclesiástico,
a determinada terra contendo normas que disciplinam as relações dos povoadores ou
habitantes, entre si, e desses com a entidade outorgante. A matérias eram essencialmente de
direito público, os preceitos de direito privado ocupavam nos forais um plano muito
secundário.
Costume – é o modo de formação e revelação de normas jurídicas que se traduz na pratica
constante e reiterada de uma certa conduta (elemento material) acompanhada da convicção
da sua obrigatoriedade (elemento psicológico).
Estilos da corte: jurisprudência uniforme e constante dos tribunais superiores.
Direito Subsidiário – sistema de normas jurídicas chamado a colmatar as lacunas de outro
sistema.
Direito Natural Jusracionalista: conjunto de normas que traduziam valores imutáveis que se
tornava possível atingir pela razão.
Positivismo Legalista: o direito é uma criação do Estado, enquanto poder legislativo, e esse
direito positivo transforma-se num dado indiscutível.
- O direito identifica-se com a lei e qualquer problema seria resolvido através do formalismo de
uma dedução lógica do sistema para o caso concreto.

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