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SISTEMAS DE VIGAS MISTAS CONTÍNUAS E SEMICONTÍNUAS PARA


EDIFÍCIOS

CONTINUOUS AND SEMI-CONTINUOUS COMPOSITE BEAMS IN BUILDINGS

Silvana De Nardin (1); Alex Sander Clemente de Souza (2)

(1) Professora Doutora, Unilins: Centro Universitário de Lins. Pesquisadora do Depto. de


Engenharia de Estruturas da Escola de engenharia de São Carlos – Universidade de São Paulo.
(2) Professor Doutor, Departamento de Engenharia Civil. Universidade Federal de São Carlos.

Rodovia Washington Luís (SP-310) km 235, São Carlos - São Paulo – Brasil CEP 13565-
905.

Resumo
Dentre as associações mais comuns entre aço e concreto estão as vigas mistas com perfis de aço conectados
às lajes por conectores de cisalhamento. Nestes casos, a laje de concreto armado também pode ser utilizada
para conferir certo grau de continuidade às vigas, aumentando a eficiência estrutural do sistema. Neste
trabalho é analisada a contribuição da laje de concreto armado na capacidade resistente e rigidez de vigas
mistas de aço e concreto. Em função do grau de continuidade nos apoios, as vigas mistas podem ser
contínuas ou semicontínuas. No primeiro caso, o limite de capacidade resistente é imposto pela viga de aço
e, no segundo, pela capacidade resistente da ligação mista entre viga e pilar ou entre vigas. São analisados,
discutidos e comparados alguns modelos para determinação da capacidade resistente de vigas mistas em
sistemas contínuos e semicontínuos. São apresentados ainda, de forma sintetizada, os procedimentos
constantes no projeto de revisão da NBR 8800 (PR-NBR 8800:2007) e os requisitos mínimos para que a laje
possa cumprir este papel de promover a continuidade nos sistemas de piso misto.
Palavras-chave: estrutura mista, viga mista, ligação mista, viga contínua e semicontínua, momento fletor.

Abstract
The composite beams are the most common composite element and the composite action is due the slab and
steel beam are connected by stud bolts. In this situation, the reinforced concrete slab can be utilized to
improve the continuity degree of the composite beams. In this paper is studied the influence of reinforced
concrete slab on strength capacity and rigidity of the steel-concrete composite beam. Depending on the
continuity degree, the beams can be classified in continuous or semi-continuous composite beams. In the first
case, the strength capacity of the structural element is limited by the steel beam, while the strength capacity
of the composite connection is the limit of the semi-continuous composite beams. In this paper are analyzed,
discussed and compared some models to determine the strength capacity of the composite beams in semi-
continuous and continuous structural systems. The procedure to estimate the strength capacity of the NBR
8800 Brazilian Standard Code is discussed and the main characteristics of the slab to contribute increasing
the continuity degree of the beam are presented.
Keywords: composite structure, composite beam, composite connection, continuous beam, bending moment.

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XXXIII Jornadas Sudamericanas de Ingenieria Estructural

1 INTRODUÇÃO
Os sistemas estruturais e construtivos têm evoluído significativamente nas últimas décadas
com a introdução de novas tecnologias que envolvem materiais, execução e hipóteses de cálculo.
Há a tendência de utilizar diversos materiais estruturais em uma mesma edificação, sejam
trabalhando independentemente (nas estruturas híbridas) ou associados, formando os elementos
mistos. Aço e concreto são os materiais mais amplamente utilizados nessas associações, dando
origem aos elementos mistos de aço e concreto – De NARDIN [1], De NARDIN et al [2].
Os elementos mistos resultam da associação de perfis de aço e concreto, de forma que os
dois materiais trabalhem em conjunto, resistindo aos esforços aplicados em lajes, vigas e pilares. O
uso das estruturas mistas pode impulsionar o crescimento da utilização tanto do aço quanto do
concreto, além de conferir à edificação importantes características. Em relação às estruturas de
concreto armado, a utilização de elementos mistos resulta em maior precisão dimensional,
economia de mão de obra e tempo, sobretudo no que se refere à execução de formas e
cimbramentos, pois há redução ou eliminação dos mesmos. Em relação às estruturas de aço, são
verificadas: maior resistência ao fogo e à corrosão, maior capacidade resistente e rigidez com
redução do consumo de aço. Dentre as associações possíveis para aço e concreto, as vigas mistas,
constituídas pela associação de vigas de aço e laje de concreto, foram as primeiras a surgir e as mais
amplamente utilizadas em edifícios e pontes, devido à versatilidade de sua geometria (Figura 1). Em
pisos de edifícios e tabuleiros de pontes, é natural a utilização de vigas mistas, visto que a laje de e a
viga de aço já fazem parte do sistema de piso, restando promover o comportamento conjunto aço-
concreto para que sejam vigas mistas. O trabalho conjunto entre o concreto e o aço é obtido com o
uso de conectores de cisalhamento na interface aço-concreto, promovendo uma ligação que pode
resistir à totalidade do cisalhamento horizontal (interação total) ou, no mínimo, a 40 % deste
cisalhamento (interação parcial), segundo preconiza o projeto de revisão da NBR 8800 – PR NBR
8800 [4].
A utilização das vigas mistas teve origem na necessidade de proteção das vigas de aço
contra a ação do fogo, mas, a partir de um dado momento, passou-se a considerar a contribuição do
concreto na resistência à flexão da viga – De NARDIN et al. [2], MALITE [3].

Figura 1 – Diversos exemplos de vigas mistas de aço e concreto

Inicialmente, o uso das vigas mistas de aço e concreto era restrito às vigas biapoiadas,
situação mais eficiente para o sistema misto, visto que a viga de aço é solicitada predominantemente
à tração e a laje de concreto, à compressão. Um aspecto limitador à consideração da continuidade
foi a dificuldade e os custos envolvidos na utilização de ligações viga-pilar e viga-viga que
permitam a transmissão de momento fletor. No entanto, estudos têm demonstrado (XIAO et al. [5],
LI et al. [6], AHMED et al. [7], LI et al. [8]) que a simples presença da laje conectada à viga já
confere certo grau de continuidade ao sistema de piso. Tal continuidade pode ser levada em conta
no projeto trazendo benefícios como: redução do momento solicitante positivo e melhoria das
condições de estabilidade global da estrutura. Nesta situação, a laje tem maior responsabilidade no
sistema estrutural; além disso, são necessários acréscimos na taxa de armadura negativa na região
dos apoios. Portanto, por um lado a continuidade gera momentos fletores negativos que reduzem a
eficiência do sistema misto devido à fissuração do concreto tracionado, à possibilidade de
flambagem local na região comprimida da viga e à instabilidade por distorção da viga de aço; por
outro, traz vantagens como redução dos esforços e deslocamentos e melhoria da estabilidade global

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da estrutura, favorecida pelo aumento na rigidez das ligações viga-pilar. Naturalmente, a


consideração da continuidade conduz a procedimentos de cálculo mais complexos se comparados
ao caso das vigas simplesmente apoiadas.
Procedimentos de cálculo e verificações necessárias quando da consideração da
continuidade em vigas mistas são apresentados e discutidos neste trabalho. No caso das vigas mistas
contínuas, é necessário determinar o momento resistente negativo da viga, tarefa que requer uma
formulação bastante simples, cujo mecanismo resistente é composto pela armadura da laje e pela
viga de aço. No caso das vigas semicontínuas, é necessário determinar a resistência a momento
fletor advinda da ligação viga-viga ou viga-pilar. Neste caso, devido à complexidade do
comportamento da ligação, alguns detalhes de ligações cujo comportamento já foi bastante
investigado, denominados ligações pré-qualificadas, são apresentados nas normas – Figura 2 [4].

Figura 2 – Detalhes de ligações viga-viga e viga-pilar pré-qualificadas

Se a viga mista é dimensionada considerando interação total aço-concreto, na região de


momento positivo a interface tem resistência ao cisalhamento longitudinal igual ao menor valor
entre a resistência da viga e da laje de concreto. Na região de momento negativo, a resistência da
interface é limitada pelo menor valor entre armadura da laje e viga de aço. No caso das vigas
semicontínuas, considerar que nem todo o fluxo de cisalhamento é absorvido pela interface aço-
concreto é uma alternativa interessante e ainda pouco explorada [9]. A interação parcial é
interessante porque, se por um lado reduz a capacidade resistente e a rigidez à flexão da viga mista,
por outro, aumenta a ductilidade do conjunto – Figura 3. A “perda” de resistência e rigidez é então
compensada pela maior capacidade de redistribuir os esforços, fundamental no caso de vigas
semicontínuas, pois muitas ligações mistas apresentam capacidade resistente suficiente, mas não
possuem suficiente capacidade de rotação, que é necessária para o surgimento das rótulas plásticas.

interação total
M- interação parcial
M-

M+

a) Diagrama de momentos b) Momento positivo c) Momento negativo


Figura 3 – Efeitos da interação parcial sobre a distribuição de momentos fletores

Vale ressaltar que, enquanto o comportamento conjunto aço-concreto é um conceito


largamente utilizado, a consideração da ligação mista ainda é bastante limitada. Em tais ligações,
considerar a armadura da laje atuando como uma “linha” adicional de parafusos no caso das

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ligações com chapa de extremidade estendida, resulta em aumento substancial do momento


resistente da ligação.
Outro aspecto importante quando da consideração da continuidade sobre os apoios é a
verificação das solicitações para a fase construtiva, pois as regiões de momento negativo podem
atingir grandes trechos da viga, dependendo da distribuição dos carregamentos – Figura 4.

momento negativo momento negativo

a) Um tramo carregado b) ambos os tramos carregados

Figura 4 – Visão esquemática das regiões de momento negativo durante a fase construtiva

2 CAPACIDADE RESISTENTE À FLEXÃO

Para fins de dimensionamento à flexão, as vigas mistas contínuas e semicontínuas podem


ser divididas em duas regiões distintas: regiões de momento positivo e negativo. Nas primeiras, a
capacidade resistente é governada pela resistência do concreto da laje e da viga de aço. Nas regiões
de momento negativo, as instabilidades local e lateral da seção de aço e a fissuração do concreto
têm influência significativa, tanto na capacidade resistente quanto na capacidade de redistribuir
esforços (DEKKER et al. [10]). As normas atualmente em vigor recomendam o uso de seções
compactas ou semi-compactas em vigas mistas, reduzindo os problemas oriundos da estabilidade
local. Portanto, nas regiões de momento negativo o parâmetro mais importante à flexão é a taxa de
armadura da laje, pois este limita a altura da região comprimida da alma da viga.
Ao dimensionar vigas mistas biapoiadas, há duas possibilidades de interação: interação
total, quando não há escorregamento aço-concreto e interação parcial, quando apenas uma parte do
fluxo de cisalhamento longitudinal é resistida pelos conectores. No caso da interação completa, a
resultante do fluxo de cisalhamento longitudinal (Vh) é função da máxima força cortante a ser
transmitida através da ligação aço-concreto, limitada pelas resultantes máximas de tração e de
compressão, que podem atuar, respectivamente, na viga de aço e na laje de concreto. Portanto, o
fluxo de cisalhamento longitudinal Vh será o menor desses valores e o número de conectores deve
ser determinado para resistir à resultante Vh.
Aqui, serão descritos apenas os procedimentos de cálculo para vigas mistas de alma cheia,
com interação total e seção de aço compacta, ou seja, sem flambagem local. Detalhes sobre as
demais possibilidades são encontrados no Projeto para Revisão da NBR 8800 – PR NBR 8800 [4].
Em vigas mistas compactas de alma cheia, contínuas e semicontínuas, é permitida a plastificação
total da seção, devendo ser utilizado o coeficiente βvm para levar em conta a impossibilidade de
atingir a plastificação total da seção mista no interior dos tramos. No caso de vigas biapoiadas,
βvm=1,0 e, para vigas contínuas, βvm=0,95.
Outro aspecto importante é a largura efetiva da laje, que define parte da seção resistente da
viga mista. Para vigas biapoiadas tem-se, de cada lado do centro da viga, o menor valor entre: 1/8
do vão, tomado entre linhas de centro dos apoios ou metade da distância entre a linha de centro da
viga analisada e a linha de centro da viga adjacente. Para vigas mistas contínuas e semicontínuas,
simplificadamente, são adotadas larguras diferentes para regiões de momentos fletores positivos e
negativos (Figura 5).

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Figura 5 – Largura efetiva para vigas contínuas e semicontínuas

Quanto ao tipo de construção, que também tem grande influência sobre as verificações
necessárias, as possibilidades são: construção escorada, na qual a viga entra em serviço com a ação
conjunta já desenvolvida, e construção não escorada, em que o perfil de aço isolado é verificado
para as ações construtivas (Figura 6). A formulação descrita a seguir se aplica à situação de
construção escorada.

Positivo

construção escorada construção não escorada

vigas compactas vigas compactas


vigas esbeltas vigas esbeltas

interação interação interação interação


completa parcial completa parcial

Figura 6 – Fluxograma para determinação do momento fletor positivo em vigas mistas

2.1 Momento fletor positivo resistente de cálculo: M+Rd


Para verificação do estado limite último à flexão e determinação do momento fletor
positivo resistente de cálculo, MRd, há três possibilidades para a linha neutra (TABELA 1): i) na laje
de concreto; ii) na mesa superior da seção de aço; iii) na alma da seção de aço.

TABELA 1 – Posições da linha neutra na viga mista e equacionamento para momento fletor positivo

a) linha neutra na laje de concreto: Ccd ≤ Tad


Resistência do conjunto de conectores:
 0,85 f ck b ⋅ t c 
Q Rd = mínimo  , Tad 
 1,40 
Fluxo de cisalhamento: v hRd = Q Rd
Tad
Posição da linha neutra: a = ≤ tc
0,85 f ck b
1,40
0,85 f ck b ⋅ t c 0,85 f ck b a
Resistência da laje de concreto: Força resistente na laje: C cd =
1,40 1,40
(A f y ) a Momento fletor resistente positivo de cálculo:
Resistência da viga de aço: Tad = +  a
1,10 M Rd = β vm Tad d 1 + h F + t c − 
 2

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b) Linha neutra na mesa superior da viga: Ccd < Tad e Cad ≤ Tad
0,85 f ck b t c
Resultante na laje de concreto: C cd =
1,40
Resultante de compressão na viga de aço:
(
1  Af y a ) 
C ad = ⋅ − C cd 
2  1,10 
C ad
Altura yp: y p = t
(A f y ) tf f
1,10
c) Linha neutra na alma da viga: Ccd < Tad e Cad >Tad

 (Af y ) tf 
 C ad − 
Altura yp: y p = t f + h  
1,10
(Af y ) w 
 
 
 1,10 

Momento fletor resistente positivo para linha neutra plástica na viga de aço
  tc 
+
Para os casos b e c: M Rd = β vm C ad (d − y t − y c ) + C cd  + h F + d − y t 
  2 

Em regiões de momento positivo, as variáveis mais importantes na determinação da


capacidade resistente da viga mista contínua são a taxa e posição das armaduras, uma vez que as
tensões de tração são equilibradas pela armadura e despreza-se a contribuição do concreto
tracionado.

2.2 Momento fletor negativo resistente de cálculo: M-Rd


Sob momento negativo, a viga mista tem sua capacidade resistente à flexão dada pela
armadura tracionada e pela viga de aço comprimida. Ou seja, a formulação para determinação do
momento fletor negativo resistente desconsidera a contribuição do concreto tracionado, sendo
necessário verificar a estabilidade da viga de aço.

A sl f ys
Resultante de tração na armadura: Tds =
γ s = 1,15

(A ⋅ f y )a
− Tds − 2b f ⋅ t f ⋅ f yd
1,10
Linha neutra: y pn = t f +
2t w

Momento fletor resistente negativo de cálculo:


A at f y d 2 A ac f y d 3
M −Rd = Tds d 1 + +
γa γa

Figura 7 – Mecanismos resistente para vigas mistas sob momento negativo

É evidente que aumentando a taxa de armadura há um aumento no valor do momento


resistente negativo. Porém, os resultados indicam que há um limite a partir do qual a taxa de
armadura passa a exercer influência menos significativa sobre o valor do momento resistente.

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3 ANÁLISE ESTRUTURAL DE VIGAS CONTÍNUAS E SEMICONTÍNUAS

Com análise estrutural adequada, são determinados os esforços para verificação dos
estados limites últimos e de serviço aplicáveis à estrutura. Sendo assim, quanto mais representativo
for o modelo de verificação utilizado, quer seja no tocante ao comportamento da estrutura como um
todo ou quanto ao comportamento dos materiais, menor será a distância entre o modelo idealizado e
a condição real. Os tipos de análise apresentados no PR-NBR 8800 [4] são divididos em função do
comportamento adotado para os materiais e da influência dos deslocamentos sobre a distribuição de
esforços na estrutura.

3.1 Esforços internos em função do comportamento dos materiais


Os esforços podem ser determinados admitindo diferentes modelos de comportamento para
os materiais aço e concreto (Figura 8). Em função do modelo de comportamento adotado, resultam
diferentes distribuições de esforços no elemento. Os modelos e considerações mais utilizados são
discutidos a seguir.

3.1.1 Análise global elástica


A adoção da análise elástica implica em considerar os materiais com comportamento
elástico-linear (Figura 8a), ou seja, há validade da Lei de Hooke. Na análise global elástica, as
características geométricas dos elementos podem ser determinadas considerando as propriedades da
seção bruta. Vale destacar que este tipo de análise é comumente empregado na verificação de
estados limites de serviço. Entretanto, a análise global elástica é sempre aplicável, ainda que seja
considerada a plastificação na determinação dos esforços resistentes da seção transversal. Vale
lembrar que a fissuração do concreto, em regiões de momento negativo, provoca perda de rigidez à
flexão e isto modifica a distribuição de momentos ao longo de vigas mistas contínuas. Também é
permitido realizar análise global elástica considerando a redistribuição de esforços. Neste caso, os
efeitos determinados por análise linear elástica devem ser redistribuídos na estrutura.

Tensão Tensão Tensão Tensão

Deformação Deformação Deformação Deformação


a) elástico-linear b) elasto-plástico perfeito c) rígido-plástico perfeito d) elasto-plástico não linear
Figura 8 – Modelos de comportamento dos materiais

A não linearidade do material pode ser considerada de forma indireta. Por exemplo, ao
considerar a seção de concreto fissurada, duas rigidezes são determinadas para a viga mista
contínua: uma rigidez EI2 para a região sobre os apoios, onde o concreto é submetido a esforços de
tração, e outra rigidez EI1 nas demais regiões, onde não há penalização da rigidez total EI. A
distribuição das regiões com rigidez reduzida e rigidez total é mostrada na Figura 9. A inércia I2
corresponde à inércia da seção de aço mais a armadura longitudinal da laje. Naturalmente, os efeitos
da redistribuição devem ser considerados e todos os esforços internos devem ser recalculados
visando garantir o equilíbrio de cada um dos elementos estruturais e da estrutura como um todo.
Portanto, a consideração da análise elástica requer que a estabilidade da estrutura seja assegurada.
Nas regiões de momento positivo, o momento de inércia efetivo de vigas mistas de alma
cheia é dado por:

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I ef = I a +
∑ QRd (I − I )
tr a
Fhd

Sendo, a relação (ΣQRd)/Fhd é igual a 1,0 para o caso de interação total ou completa. O
parâmetro Ia corresponde ao o momento de inércia da seção do perfil de aço isolado e Itr é o
momento de inércia da seção mista homogeneizada.
Nas regiões de momento negativo, em vigas mistas contínuas e semicontínuas, o momento
de inércia efetivo é dado pela seção formada pelo perfil de aço e pela armadura longitudinal contida
na largura efetiva da laje de concreto.

Figura 9 – Rigidez à flexão de viga mista contínua para obtenção de momentos fletores considerando
análise elástica

3.1.2 Análise global plástica


Neste caso, admite-se que os materiais trabalhem na iminência da ruptura, considerando
diagramas tensão-deformação com plastificação, ou seja, são aplicáveis os comportamentos elasto-
plástico perfeito (Figura 8b), rígido-plástico perfeito (Figura 8c) e elasto-plástico não linear (Figura
8d).
A análise global plástica permite explorar mais adequadamente a capacidade resistente de
vigas contínuas, mas sua aplicação é restrita a vigas de seção compacta, ou seja, que conseguem
atingir a plastificação total e têm capacidade de rotação suficiente para a formação das rótulas
plásticas necessárias. Além disso, a análise está condicionada às seguintes limitações:
- não pode ocorrer flambagem com distorção da viga mista junto à ligação;
- os pontos de formação de rótulas plásticas devem ser contidos lateralmente;
- os tramos só podem ser analisados independentemente se respeitarem os limites
apresentados na Figura 10.

Figura 10 – Relação entre os vãos para consideração de tramos independentes

Este método de análise admite que o comportamento de uma barra submetida a um


momento aplicado é perfeitamente rígido, ou seja, sem deformação; ou perfeitamente elástico,
(relação rotação/momento constante). Apesar das restrições, o modelo rígido-plástico pode resultar
em dimensionamento mais econômico e em um procedimento de cálculo mais simples.

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3.2 Esforços internos em função dos deslocamentos

3.2.1 Análise linear


Denomina-se análise linear quando o efeito dos deslocamentos sobre os esforços internos
é desconsiderado, valendo a teoria de primeira ordem para a qual é considerada a geometria
indeformada da estrutura.

3.2.2 Análise não-linear


Este tipo de análise, também denominada análise de segunda ordem, é indicado sempre
que os deslocamentos tiveram efeito significativo sobre os esforços internos, sendo necessário que o
equilíbrio da estrutura seja feito com base em sua geometria deslocada.

3.3 Determinação dos momentos solicitantes de cálculo: MSd


É pré-requisito para utilização das recomendações a seguir, que os pilares ou outros
elementos de comportamento similar não alterem a distribuição de momentos fletores nos apoios.
A determinação dos esforços solicitantes de cálculo deve ser feita aplicando análise rígido-
plástica ou elástica, sem redistribuição de momentos, sendo que a análise elástica é mais indicada.
Para este caso, os esforços solicitantes podem ser obtidos por uma das metodologias a seguir:
- Determinar os momentos fletores iniciais considerando a seção íntegra (não fissurada) e
com rigidez EI1. Aos valores encontrados, aplicar a redistribuição de momentos reduzindo os
máximos momentos negativos dos apoios, em porcentagens que respeitem os limites apresentados
na TABELA 2. Ou,
- Determinar os momentos fletores iniciais considerando os trechos sobre os apoios com
rigidez à flexão referente à seção fissurada EI2 e aplicar a redistribuição de momentos segundo os
valores da TABELA 2.

TABELA 2 – Limites máximos de redistribuição de momentos fletores negativos [4]

Classe da seção mista na região de momento negativo Compacta (%) Semicompacta (%)
Análise elástica – seção não fissurada 30 20
Análise elástica – seção fissurada 15 10

Segundo o PR-NBR 8800 [4], o emprego da análise rígido-plástica é permitido desde que:
- não ocorra flambagem lateral com torção ou distorção, que reduz o momento resistente;
- em cada ponto de formação de rótula plástica, o perfil seja simétrico em relação ao plano
da alma e possua contenção lateral adequada;
- em cada ponto de formação de rótula plástica, haja capacidade de rotação suficiente para
permitir a formação desta rótula, ou seja, seja possível a redistribuição de momentos fletores.
Devido à grande complexidade em verificar se a ligação tem capacidade de rotação
suficiente, o PR-NBR 8800 permite que seja considerada atendida tal exigência desde que a seção
do perfil seja compacta e:
- em vigas contínuas: nos pontos de formação de rótulas plásticas, as ligações tenham
resistência superior a 20% da resistência da viga;
- em vigas semicontínuas: deve ser comprovado que a capacidade de rotação das ligações é
superior à necessária ao sistema.
- alem disso, para vigas contínuas e semicontínuas, a relação entre vãos deve respeitar os
intervalos apresentados na Figura 10.

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4 EXEMPLO DE APLICAÇÃO DA FORMULAÇÃO

A fim de ilustrar vários conceitos e formulações apresentados anteriormente, um exemplo


é apresentado a seguir.

4.1 Geometria do pavimento analisado


No estudo da contribuição da laje de concreto armado na capacidade resistente de vigas
mistas de aço e de concreto contínuas, foi considerado o pavimento apresentado na Figura 11.

Figura 11 – Pavimento analisado (cotas em mm)

As principais características das vigas longitudinais e transversais analisadas, bem como as


propriedades dos materiais, ações atuantes e variáveis estudadas são dadas na Tabela 3.

Tabela 3 – Variáveis, ações e propriedades dos materiais


Variáveis analisadas
Variável Viga longitudinal Viga transversal
Número de tramos 4 3
Espessura da laje (cm) 8 10 12 8 10 12
Taxa de armadura (%) 0,7 1,0 1,2 0,7 1,0 1,2
Viga de aço W 200 x 19,3 kg/m W 310 x 28,3 kg/m
Total de modelos 18
Ações nas vigas longitudinais
Tipo de ação kN/m
Permanente: antes da cura do concreto g1=2,5
Permanente: após cura do concreto g2=7,0
Sobrecarga de construção: antes da cura do concreto g1=3,0
Sobrecarga de utilização: após a cura do concreto* g2=25
Materiais que compõem o piso misto
Vigas Lajes
Aço MR-250: fy=250MPa; fu = 400MPa Armadura CA-50: fy = 500MPa

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Conector de cisalhamento tipo pino com Concreto C20: fck=20 MPa; densidade
cabeça: fu = 415 MPa normal (γc=24 kN/m3)
*: 70% de curta duração

4.2 Procedimentos para análise


A seguir, são descritos sucintamente os passos para a análise e determinação da capacidade
resistente à flexão de vigas mistas contínuas e dos momentos fletores solicitantes de cálculo. Para a
determinação dos esforços solicitantes foi considerada a combinação última normal de ações. Nas
vigas mistas contínuas, a ligação é rígida e de resistência total, pois a rótula plástica deve se formar
na viga e não na ligação viga-pilar ou viga-viga.

4.2.1 Determinação dos Momentos Resistentes de cálculo (MRd)


Inicialmente, deve ser dimensionada a viga mista como simplesmente apoiada. No
exemplo analisado, há vigas longitudinais e transversais sujeitas a diferentes solicitações. Para um
tramo da viga longitudinal biapoiada, resulta o momento solicitante MSd=10631 kNcm. Para este
momento solicitante e considerando as seguintes hipóteses:
- construção escorada,
- interação completa e
- altura da laje de concreto igual a 80 mm.
O perfil laminado W200x19,3 kg/m é adequado pois apresenta momento fletor resistente
de MRd=12039 kNcm. Já para um tramo da viga transversal, o momento solicitante de cálculo é
MSd=21267 kNcm e, adotando as mesmas hipóteses consideradas para a viga longitudinal, verifica-
se que o perfil laminado W310x28,3 kg/m atende ao esforço solicitante pois apresenta momento
fletor resistente de MRd=22864,5 kNcm. Esse procedimento foi repetido para todas as alturas de laje
analisadas.
Na seqüência, a viga contínua deve ser dimensionada, ou seja, devem ser determinados os
momentos fletores resistentes positivos e negativos, utilizando as expressões anteriormente
apresentadas. Para isso, são determinadas as larguras efetivas de laje nas regiões de momento fletor
positivo (tramos) e negativo (vãos) conforme discutido no item 2. Uma vez determinadas as
larguras colaborantes, tais valores são utilizados na determinação da rigidez e da resistência da
seção mista, conforme procedimentos apresentados na Tabela 1 e Figura 7.

4.2.2 Determinação dos Momentos Solicitantes de cálculo (MSd)


No caso de vigas mistas contínuas e semicontínuas, diferentes hipóteses de distribuição de
esforços podem ser adotadas. No estudo em questão, a análise elástica-linear e a análise rígido-
plástica foram utilizadas com seção fissurada e não fissurada. As distribuições de esforços foram
obtidas utilizando o programa Ftool – Two-dimensional Frame Analysis Tool desenvolvido na
Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro – PUC/Rio.

4.3 Resultados
Um resumo do dimensionamento da viga mista contínua longitudinal situada no Eixo B,
considerando laje com espessura de 8 cm e taxa de armadura de 0,7 % da seção de concreto da laje
é apresentado na Tabela 4. A numeração de tramos e apoios é apresentada na Figura 12.

Figura 12 – Numeração dos tramos e vãos

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Inicialmente, foi determinada a distribuição de esforços considerando os apoios internos


como rígidos. Feito isso, como a seção adotada é compacta e não sofre reduções de resistência
devido às instabilidades locais, foi adotada redistribuição de 30% nos momentos negativos
solicitantes, conforme recomendado na TABELA 2 e, então, os demais esforços foram
determinados por equilíbrio.

Tabela 4 – Dimensionamento de vigas mistas contínuas: análise elástica linear e seção não fissurada

a) Solicitação e resistência da viga biapoiada


W 200 x19,3 MSd=106,3 kNm MRd=120,4 kNm
h=8 cm Solicitações para a viga contínua
ρ=0,7 % a) Solicitações de cálculo (kNm)

b) Larguras efetivas (mm) e área de aço (cm2)


Tramo 1 Apoio 2 Tramo 2 Apoio 3
1200 1050 1050 750
6,72 5,88 5,88 4,2
c) Momentos resistentes (kNm)
Tramo 1 Apoio 2 Tramo 2 Apoio 3
114,4 96,0 111,5 88,7
d) Momentos solicitantes de cálculo após redistribuição de 30% nos momentos negativos (kNm)

Tramo 1 Apoio 2 Tramo 2 Apoio 3


76,8 63,8 53,4 42,6
e) Momento solicitante / Momento resistente
Tramo 1 Apoio 2 Tramo 2 Apoio 3
0,67 0,66 0,48 0,47

Considerando as variáveis apresentadas na Tabela 3 e repetindo os procedimentos e


cálculos da Tabela 4, foram obtidos os gráficos da Figura 13, nos quais é apresentada a variação do
momento fletor resistente no apoio 2 (Figura 12), em função da taxa de armadura e da espessura da
laje de concreto armado.

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150
Momento resistente no apoio (kN.cm)

150

Momento resistente no apoio (kN.cm)


h= 12 cm ρ=1,2 %
140 140 ρ =1,1 %
ρ=1,0 %
130 ρ=0,9 %
h= 10 cm
130
ρ=0,8 %

120 120 ρ=0,7 %

110 h= 8 cm
110

100 100

90 90
0,7 0,8 0,9 1,0 1,1 1,2 7 8 9 10 11 12 13
Taxa de armadura na laje (%) Altura da laje (cm)

Figura 13 – Resistência ao momento fletor resistente negativo no apoio 2 em função da taxa de


armadura e da espessura da laje

É evidente que, com o aumentando da taxa de armadura há um aumento no valor do


momento resistente negativo; por exemplo, um acréscimo de 43% na taxa de armadura resulta em
9,3% de acréscimo no momento resistente. Porém, os resultados indicam que há um limite a partir
do qual a taxa de armadura não exerce influência significativa sobre o momento resistente; por
exemplo, aumentando a taxa de 1,1% para 1,2%, o que corresponde a um aumento de 9%, o
aumento no momento resistente é de apenas 2%.
Aumentando a espessura da laje de concreto, o momento fletor resistente negativo aumenta
proporcionalmente, pois isto implica em aumentar o braço de alavanca entre as resultantes de tração
e de compressão.
Outra possibilidade de estudo é fazer uma análise elástica considerando a fissuração do
concreto. Neste caso, um aspecto importante é a definição da rigidez. Na região de momento
positivo, o momento de inércia foi calculado homogeneizando a seção e tomando a inércia da seção
transformada, como mostrado a seguir:
Es
- Relação modular: α E = com Es=20500 kN/cm2 e E c = 4760 × f ck
Ec
b ef
- Largura efetiva transformada: b ef − tr =
αE
- Área de concreto transformada: A ctr = b ef − tr × t c sendo tc a espessura da laje de concreto
A × y a + A ctr × (d + 0,5t c )
- Centro de gravidade da seção transformada: y tr =
A + A ctr
Portanto, a inércia é calculada para uma seção equivalente de aço, para a qual a largura
efetiva tem grande influência. Aplicando a formulação apresentada resultam:
- para o primeiro tramo: Itr=6140,8 cm4
- para o segundo tramo, Itr=5969,1 cm4

Já na região de momento negativo, a inércia é calculada considerando, como seção


resistente, apenas a seção do perfil de aço e a armadura distribuída na largura efetiva. Neste caso, o
parâmetro mais importante é a armadura contida na largura efetiva da laje. No estudo de caso,
resultam:
- no apoio 2: Iap2=1925,2 cm4
- no apoio 3: Iap3=1844,2 cm4

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Para o cálculo dos momentos solicitantes considerando a seção fissurada, foi adotada a
distribuição de rigidez apresentada na Figura 9 que, para a situação estudada, resulta na distribuição
mostrada na Figura 14.

Figura 14 – Distribuição de rigidez considerando análise linear e seção fissurada

Com estes valores de momento de inércia, foram obtidos os esforços solicitantes iniciais,
aos quais foi admitida redistribuição de 15% para os momentos solicitantes negativos. Ambas as
situações foram consideradas via programa Ftool e os resultados obtidos são apresentados na
Tabela 5.

Tabela 5 – Esforços solicitantes considerando análise elástica linear e modelo fissurado

Momentos resistentes (kN.m)


Tramo 1 Apoio 2 Tramo 2 Apoio 3
114,4 96,0 111,5 88,7
Momentos solicitantes de cálculo considerando a variação de inércia – Figura 9

Momentos solicitantes de cálculo – redistribuição de 15% (kNm)

Tramo 1 Apoio 2 Tramo 2 Apoio 3


81,0 54,1 60,7 37,4
Momento solicitante / Momento resistente
Tramo 1 Apoio 2 Tramo 2 Apoio 3
0,71 0,56 0,54 0,42

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Considerando o concreto fissurado, a diferença vai aparecer nos momentos solicitantes, e


logicamente, na relação solicitação/resistência – Tabela 5. Dos resultados obtidos se observa que a
variação da inércia em função da fissuração do concreto modifica a distribuição de esforços
solicitantes ao longo da viga contínua. Ao penalizar a rigidez sobre os apoios intermediários,
reduzindo a seção resistente nestes, verifica-se, para o apoio 2, por exemplo:
- em relação aos esforços solicitantes iniciais, redução de 30%;
- em relação aos esforços com redistribuição, redução de 15%.
Ou seja, como já era esperado, ao reduzir a rigidez nos apoios intermediários, ocorre
redução dos momentos solicitantes nestes, e conseqüente acréscimo nos momentos solicitantes
positivos. Para melhor visualizar estes resultados, os dados foram arranjados no gráfico da Figura
15.
120 Análise Elástica: esforços
inicial sem fissuração
Momento solicitante (kN.cm)

sem fissuração e 30% redistribuição


100 inicial com fissuração
com fissuração e 15% redistribuição

80

60

40

20

0
Apoio2 Apoio3 Tr1 Tr2
Região analisada
Figura 15 – Influência da rigidez na distribuição de esforços

No caso da adoção do modelo rígido-plástico, os diagramas de esforços solicitantes são


determinados considerando que no apoio atuam momentos correspondentes ao momento resistente
na região do apoio analisado. Novamente, os esforços resistentes não se alteram, porém com uma
nova distribuição de solicitações, é possível um dimensionamento mais econômico. No entanto, se a
resistência ao momento fletor nos apoios for muito grande, pode anular ou até inverter o sinal dos
momentos nos tramos.

4.3.2 Influência da resistência do concreto da laje


A resistência do concreto é um parâmetro importante no cálculo da resistência ao momento
fletor de vigas mistas. No entanto, sua maior influência é percebida no momento resistente em
regiões de momento fletor positivo conforme ilustrado na Tabela 6.

Tabela 6 – Variação do momento resistente positivo em função da resistência a compressão do concreto

Momento resistente
Modelo fck (MPa)
Tramo 01 Tramo 02
20 114,4 111,5
25 118,5 116,1
Elástico-linear
não fissurado
30 121,1 119,2

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Em regiões de momento positivo, as variáveis que mais influenciam a capacidade


resistente da viga mista contínua são a taxa e a posição das armaduras, uma vez que as tensões de
tração são equilibradas pela armadura e despreza-se a contribuição do concreto tracionado.
Na Figura 16 é apresentada uma comparação esquemática da distribuição de momentos
solicitantes para diferentes modelos de análise.
rígido plástico
não fissurado

esforços elástico-linear
iniciais não fissurado

Figura 16 – Diagramas de momento solicitante em função do modelo de análise adotado

Os esforços solicitantes denominados “elástico-linear sem fissuração” e “esforços iniciais”


não são alterados em função da taxa de armadura. Por outro lado, os esforços solicitantes
decorrentes do modelo “rígido plástico não fissurado”, que dependem do valor do momento fletor
resistente negativo, são influenciados pela taxa de armadura ou pela altura da laje de concreto.
Neste modelo e considerando vigas mistas contínuas, os momentos solicitantes nos apoios são
iguais aos momentos resistentes negativos. Portanto, aumentos na taxa de armadura ou na altura da
laje resultarão em aumento nos valores de momento fletor resistente negativo. Em contrapartida, os
momentos solicitantes diminuem gradativamente nos tramos e, para alturas de laje ou taxas de
armadura elevadas, o momento no meio do tramo pode até se tornar negativo. Esta situação não é a
mais favorável para o sistema misto de aço e concreto.

6 CONSIDERAÇÕES FINAIS

Essencialmente, os modelos de análise apresentados dizem respeito à determinação dos


esforços solicitantes em vigas mistas contínuas e semicontínuas. Portanto, dependendo da
consideração feita quanto à fissuração do concreto e quanto ao modelo de análise (se elástico-linear
ou rígido-plástico), a distribuição de momentos solicitantes é alterada. Essas mudanças na
distribuição de momentos solicitantes podem ampliar a eficiência do dimensionamento do
elemento, ou seja, a relação entre momentos resistentes e momentos solicitantes.
A consideração da laje na transferência de momento fletor entre duas vigas ou entre viga e
pilar confere certo grau de continuidade às vigas, aumentando a eficiência estrutural do sistema.
Para vigas mistas contínuas, o limite de capacidade resistente à flexão é imposto pela viga de aço.
No PR-NBR 8800 [4], a análise de vigas mistas contínuas pode ser feita considerando dois modelos
distintos: modelo elástico-linear e modelo rígido-plástico. Para cada um destes modelos, ainda é
possível considerar ou não a fissuração do concreto, o que é feito reduzindo a rigidez da seção
transversal nas regiões de momento negativo. Ao executar uma análise estrutural considerando o
modelo elástico-linear sem fissuração, é permitido redistribuir 30% do momento negativo, caso não
seja considerada a fissuração do concreto e, 15 %, caso tal fissuração seja levada em conta. Deste
modelo de análise para determinação dos esforços solicitantes resultam momentos fletores positivos
menores e momentos fletores negativos maiores que os encontrados quando da análise elástica-
linear considerando a fissuração do concreto. Quando é realizada a análise rígido-plástica para
determinação dos esforços solicitantes, a taxa de armadura tem grande influência, pois, na
determinação das solicitações, é considerada a capacidade resistente à flexão sobre os apoios. Já os
valores de momento fletor resistente positivo são fortemente influenciados pela resistência à
compressão do concreto da laje.

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7 AGRADECIMENTOS

Os autores agradecem à Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo


(FAPESP) pelo apoio ao desenvolvimento deste trabalho.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
[1] DE NARDIN, S. Pilares mistos preenchidos: estudo da flexo-compressão e de ligações viga-pilar. São Carlos.
341p. Tese (Doutorado) – Escola de Engenharia de São Carlos, Universidade de São Paulo, 2003.
[2] DE NARDIN, S.; EL DEBS, A.L.H.C.; SOUZA, A. S. C.; EL DEBS, M. K. Estruturas mistas aço-concreto:
origem, desenvolvimento e perspectivas. 47º Congresso Brasileiro do Concreto, Volume IV: Estruturas Mistas,
Recife, Brasil. 2005, pp IV69-84.
[3] MALITE, M. Sobre o cálculo de vigas mistas aço-concreto: ênfase em edifícios. São Carlos, Dissertação
(Mestrado), Escola de Engenharia de São Carlos, Universidade de São Paulo, 1990.
[4] Projeto de estruturas de aço e de estruturas mistas de aço e concreto de edifícios: Procedimento. Texto base para
revisão da NBR 8800. Belo Horizonte, 2007.
[5] XIAO, Y.; CHOO, B.S.; NETHERCOT, D.A. Composite connections in steel and concrete I. Experimental
behaviour of composite beam-column connections. Journal of Constructional Steel Research, v.31, n.1, pp 3-30,
1994.
[6] LI, T.Q.; NETHERCOT, D.A.; CHOO, B.S. Behaviour of end-plate composite connections with unbalanced
moment and variable shear/moment ratios –I: Experimental behaviour. Journal of Constructional Steel Research,
v.38, n.2, pp 125-164, 1996.
[7] AHMED, B.; LI, T.Q.; NETHERCOT, D.A. Design of composite finplate and angle 7cleated connections. Journal
of Constructional Steel Research v.41, n.1, pp 1-29, 1997.
[8] LI, T.Q.; NETHERCOT, D.A.; LAWSON, R.M. Required rotation of composite connections. Journal of
Constructional Steel Research, v.56, pp 151-173, 2000.
[9] UY, B.; NETHERCOT, D.A. Effects of partial shear connection on the required and available rotations of
semicontinuous composite beam systems. The Structural Engineer, v.83, n.4, pp 29-39, 2005.
[10] DEKKER, N. W.; TRINCHERO, P.; KEMP, A.R. Factors influencing the strength of continuous composite beams
in negative bending. Journal of Constructional Steel Research, v. 34, n. 2-3, pp 161-185, 1995.

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