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Impresso no Brasil.
Printed in 8razil.

i- edição 2004; ,. reimpressão 2006; z- reimpressão 2009

Capa: Composição:
ERJComposição Editorial LUMMI Produção Visual e
Assessoria Ltda.

Produção: Revisão:
Laércio Bento Glaucia T. M. Thomé
Rosemeire Carbonari

ClP-Brasil Catalogação-na-Fonte
Sindicato Nacional dos Editores de livros, RJ

B817e
Brandão, Carlos da Fonseca.
Estrutura e funcionamento do ensino / Carlos da
Fonseca Brandão. - São Paulo: Avercamp, 2004. Para as minhas amadas mulheres.
Lucy e Bruna
Inclui bibliografia

ISBN 85-89311-15-5; 978-85-89311-15-1

1. Educação - Brasil. 2. Educação e Estado -


Brasil. I. Título.

CDD-370.981
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1I
,I 63 I Estrutura e Funciotuimento do Ensino- Cop. 2 - Estrutut» e Funcionamento dos Níveis e Modalidades de Educação e Ensino I 69
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ii
li Médio regulares, o que dirá, então, garantir condições adequadas de Educação A Educação Superior brasileira também deve suscitar o desejo permanen-
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Especial para os educandos portadores de necessidades especiais. te de aperfeiçoamento cultural e profissional e possibilitar sua correspondente
il
!i No que tange à Educação Especial, no conjunto da organização (estrutura
concretização, integrando os conhecimentos que vão sendo adquiridos numa
li e funcionamento) da Educação brasileira, essa possibilidade de subvenção téc-
estrutura intelectual sistematizadora do conhecimento de cada geração, assim
i: como estimular o conhecimento dos problemas do mundo presente.em particu-
I'
I:
nica e financeira pelo poder público explicita uma contradição, ou seja, ao mesmo
lar os nacionais e regionais, prestar serviços especializados à comunidade e
í;: tempo em que se propõe a inclusão dos alunos portadores de necessidades es-
estabelecer com ela uma relação de reciprocidade. Por último, a Educação Su-
" peciais nas classes comuns do ensino regular, sejam elas situadas em escolas
perior tem a finalidade de promover sua extensão, aberta à participação da po-
públicas ou privadas, como sendo a concepção de Educação Especial hegemõ-
pulação, visando à difusão das conquistas e benefícios resultantes da criação
nica e oficial, também está prevista a possibilidade de transferência de recursos
cultural e da pesquisa científica e tecnológica geradas na instituição.
públicos para instituições privadas "especializadas".
Essas finalidades da Educação Superior brasileira abrangem, no nosso
Assim, a proposta de inclusão dos alunos portadores de necessidades espe-
entendimento, todos os possíveis objetivos (finalidades) que qualquer Educa-
.'; ciais será, muito provavelmente, adotada somente na rede pública de ensino, ao
11 ção Superior digna desse nome deve ter. A dificuldade reside, como em outros
passo que a rede privada deixará para as instituições "especializadas" com atua-
li
i,
ção exclusiva em Educação Especial a tarefa de oferecê-Ia. Em outras palavras,
temas educacionais, em atingir efetivamente todos ou pelo menos a grande
1: maioria desses objetivos (finalidades).
u qualquer pessoa que tenha um filho portador de necessidades especiais terá, em
termos de Educação Especial e guardadas as respectivas especificidades, duas A Educação Superior está classificada nos seguintes tipos de cursos e pro-

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opções: a rede pública de ensino com a sua proposta de inclusão ou a rede privada
especializada, que oferece a Educação Especial a grupos específicos.
gramas: cursos seqüenciais por campo de saber, cursos de graduação, cursos de
pós-graduação e cursos de extensão.
Os cursos seqüenciais por campo de saber devem ter diferentes níveis de
abrangência, sendo abertos a candidatos que atendam aos requisitos estabeleci-
dos pelas instituições de ensino. Esses cursos podem ser de dois tipos: comple-
2.2 A Educação Superior mentação de estudos, para os alunos que já possuem um curso de graduação, ou
de formação específica, que significa um tipo de curso de nível pós-médio. O
A Educação Superior brasileira possui diversas finalidades. A primeira é a primeiro tipo (complementação de estudos) concede ao aluno um certificado
de estimular a criação cultural e o desenvolvimento do espírito científico e do de conclusão; ao passo que o segundo tipo (formação específica) confere ao seu
pensamento reflexivo. Também objetiva formar diplomados nas diferentes áreas aluno um diploma de nível superior, ressaltando-se que em nenhum dos dois
de conhecimento, aptos para a inserção em setores profissionais e para a partici- casos (complementação de estudos ou formação específica) esses documentos
pação no desenvolvimento da sociedade brasileira, assim como colaborar na sua legais (certificado de conclusão ou diploma de nível superior) concedidos ao
formação contínua. final dos respectivos cursos equivalem a um diploma de graduação.

Também é finalidade da Educação Superior incentivar o trabalho de pes- Concebidos para atender rapidamente às "exigências" do mercado de tra-
quisa e investigação científica, visando ao desenvolvimento da ciência e tecno- balho, os cursos seqüenciais por campo de saber possuem a pretensa vantagem
logia e da criação e difusão da cultura, desenvolvendo desse modo o entendi- de serem mais rápidos, podendo ter duração mínima de seis meses e máxima de
mento do homem e do meio em que vive. Cabe à Educação Superior promover dois anos. A sua grande desvantagem é que essa limitação em seu tempo de
a divulgação de conhecimentos culturais, científicos e técnicos que constituem duração restringe também, e conseqüentemente, a quantidade de conteúdos a
patrimônio da humanidade e comunicar o saber através do ensino, de publica- serem oferecidos aos seus alunos, por isso afirmamos acima que a rapidez de
ções ou outras formas de comunicação. sua realização se constitui em uma pretensa vantagem.
70 I E5trlltllr~1 e Funcionemento do Ensino Capo 2 - Eslrutur" e Funcionamento dos Níveis e Moda/idades de Educação e E/1sino I 71

Outra desvantagem dos cursos seqüenciais por campo de saber é que não lhe proporcionará uma inserção mais rápida (real ou apenas imaginária) no
são cursos de graduação e, apesar de serem considerados cursos de nível supe- mercado de trabalho.
rior, não dão direito ao aluno de, após a sua conclusão, considerar-se licenciado
li
Os cursos de graduação devem ser abertos a candidatos que tenham con-
para dar aulas nos Ensinos Fundamental e Médio (no caso dos cursos seqüenci-
cluído o Ensino Médio ou equivalente e tenham sido classificados ern processo
ais de formação específica) ou cursar nenhum programa de pós-graduação (neste
I seletivo. A novidade, em relação à anterior organização (estrutura e funciona-
li caso, tanto os cursos seqüenciais de complementação de estudos quanto os se-
mento) da Educação Superior brasileira, é a possibilidade de que o acesso aos
I qüenciais de formação específica).
cursos de graduação seja feito, também, através de processos seletivos, e não
única e exclusivamente através do vestibular, ou seja, entendido como uma
I
i
As universidades que oferecem cursos seqüenciais por campo de saber do
tipo de complementação de estudos não precisam que eles sejam reconhecidos forma de "processo seletivo", o vestibular pode continuar sendo aplicado pelas
pelo Ministério da Educação, pois não emitem diploma, apenas concedem um instituições de Ensino Superior que assim desejarem, porém deixa de ser a úni-
certificado de conclusão desse curso. Por sua vez, as universidades que ofere- ca forma de "processo seletivo" para acesso aos cursos de graduação.
cem cursos seqüenciais por campo de saber do tipo de formação específica
Algumas instituições superiores de ensino, públicas e privadas, já optaram
necessitam que eles sejam reconhecidos pelo Ministério da Educação. Esses
por formas de seleção e acesso aos Seus cursos de graduação diferentes do ves-
cursos podem ter sido autorizados a funcionar, porém, se não cumprirem o tibular, como, por exemplo, exames anuais seriados. Realizados ao final de
projeto pedagógico inicial proposto para a obtenção da autorização de funcio- cada uma das séries do Ensino Médio e abertos a todos os alunos concluintes
namento, estarão sujeitos a não serem reconhecidos, invalidando totalmente o
dessas séries, esses exames seriados geram uma classificação que será respeita-
diploma obtido pelo aluno.
da quando chegar o momento do acesso desses alunos aos cursos de graduação
O acesso aos cursos seqüenciais por campo de saber não passa, necessari- da instituição promotora.
amente, pelo vestibular, sendo feito na maioria dos casos por "processos seleti-
vos", cujos critérios são definidos pelas próprias instituições de Educação Su-
perior, podendo variar entre testes semelhantes aos aplicados no vestibular,
avaliação de currículos ou até mesmo uma simples entrevista com o candidato.
Os cursos de pós-graduação compreendem programas de mestrado e dou-
torado, cursos de especialização, aperfeiçoamento e outros, sendo abertos a
candidatos diplomados em cursos de graduação e que atendam às exigências
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das instituições de ensino. A novidade, também em relação à anterior organiza-
A vantagem de poder oferecer cursos seqüenciais por campo de saber em ção (estrutura e funcionamento) da Educação Superior, é o surgimento de um II
subáreas não cobertas pelas faculdades tradicionais (por exemplo, cursos se- novo tipo de programa de mestrado, o "mestrado profissional", voltado, tam- I!
qüenciais de web designer ou gastronomia) é condicionada pela obrigatoriedade bém, para atender ao mercado de trabalho, ao passo que o mestrado "tradicio- ~
de a instituição de Ensino Superior promotora desse curso seqüencial oferecer nal" passa a receber a denominação de "mestrado acadêmico", cujo objetivo i
li
os respectivos cursos de graduação regulares na mesma área dos cursos seqüen- continua sendo a formação de professores para o Ensino Superior.
ciais oferecidos (usando os exemplos acima, curso de graduação regular na No caso dos cursos de extensão, deve-se ressaltar que deverão sempre ser
área de computação ou nutrição, respectivamente).
abertos a candidatos que atendam aos requisitos estabelecidos em cada caso I'
A sua curta duração, as infinitas e diferenciadas formas de acesso e a espe- pelas instituições de ensino, exatamente por se tratarem de cursos de extensão.
cificidade dos conteúdos a serem ministrados pelos mais diversos cursos se-
qüenciais por campo de saber fazem essa modalidade de Ensino Superior se
constituir em um excepcional "nicho de mercado" para as instituições privadas
A autorização e o reconhecimento dos cursos, bem como o credenciarnen-
to de instituições de Educação Superior, terão prazos limitados, sendo renova-
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li
dos periodicamente após processo regular de avaliação. Após um prazo para o ii

i de Ensino Superior, por um lado, por seu baixo custo, e, por outro lado, pela saneamento de deficiências eventualmente identificadas pela avaliação das ins-
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"ll perspectiva real de efetivação e conclusão mais rápidas gerada no aluno, que
tituições de Educação Superior, deve haver uma reavaliação, que poderá resul- ,;1
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72 I Estrutura e Funcionamento do Ensino Capo 2 - Estrutura c Funcionamento dos Níveis e Modalidades de Educação e Ensino I 73

tar, conforme o caso, em desativação de cursos e habilitações, em intervenção A criação do CNE visava moralizar esses processos - autorizações para a
na instituição, em suspensão temporária de prerrogativas da autonomia ou em abertura de novos cursos, reconhecimento desses cursos e credenciamento de no-
descredenciamento. No caso de instituição pública, o poder executivo respon- vas faculdades e universidades. Porém, quando da votação na Câmara de Educação
sável por sua manutenção acompanhará o processo de saneamento e fornecerá Superior (uma das duas câmaras que formam o CNE, sendo a outra a:Câmara de
recursos adicionais, se necessário, para a superação das deficiências apontadas Educação Básica) do processo de transformação de determinada faculdade, locali-
pelo processo de avaliação. zada na cidade de São Paulo, em universidade, com resultado a favor dessa trans-
formação por um voto de diferença, um dos conselheiros - o professor e filósofo
Esse processo de avaliação é o Exame Nacional de Cursos, o popular "Pro-
José Arthur Gianotti - pediu demissão do CNE, acusando-o publicamente de, as-
vão", e o órgão competente a que nos referimos é o Conselho Nacional de Educa-
sim como o antigo CFE, ter também se transformado em um "balcão de negócios",
ção (CNE). Porém, após a aplicação do Provão durante sete anos consecutivos
com as mesmas características do conselho existente anteriormente.
(de 1996 a 2002), até o presente momento, apesar de diversos cursos e institui-
ções terem obtido as piores notas por vários anos consecutivamente, especial- Reportagens da revista Veja, durante os anos de 200 I e 2002, sobre o mesmo
mente nos cursos oferecidos por instituições privadas de Administração e Direi- assunto aumentaram a suspeição sobre os procedimentos adotados pelo "novo"
to, que foram dois dos três cursos avaliados desde o primeiro Provão, realizado CNE nos processos de autorizações, reconhecimentos, credenciamentos e trans-
em 1996, absolutamente nenhum curso superior foi fechado pelo CNE. formações de faculdades isoladas em universidades. Coincidência ou não, a par-
tir das acusações públicas do Prof. Gianotti, diminuíram significativamente as
Não só, mas principalmente, em função dessa situação, o Governo FHC,
solicitações de transformação de faculdades isoladas em universidades.
emjulho de 200 I, editou o Decreto nº 3.860 de 9/07/0 I (que revogou o Decreto
nº 2.306 de 19/08/97), cuja principal modificação foi a transferência do poder No caso de as instituições públicas de Educação Superior serem mal-ava-
de fechar cursos mal-avaliados pelo Provão do CNE para o Ministério da Edu- liadas, a situação se repete, pois se o CNE não teve capacidade, poder ou "mo-
cação (poder executivo). Mesmo assim, até o final do ano de 2003, nenhum ral" para fechar cursos de instituições privadas de Ensino Superior constante e
curso foi fechado em função das notas obtidas nas sucessivas edições do Pro- seguidamente mal-avaliadas no Provão, de forma alguma teria capacidade, po-
vão; pelo contrário, segundo dados do Censo do Ensino Superior (MEC/INEP), der ou "moral" para propor o fechamento de cursos de instituições públicas de
o número de cursos superiores privados saltou de 3.500 em 1995 (primeiro ano Ensino Superior, os quais são, em sua maioria, de qualidade superior à dos
da gestão FHC) para 9.100 em 2002 (último ano dessa gestão), resultando num cursos oferecidos pela maioria das instituições privadas de Ensino Superior
crescimento de 160% (média de criação de três novos cursos superiores priva- existentes no Brasil.
dos por dia). Nesse mesmo período, os cursos superiores públicos passaram de
A Educação Superior brasileira pode ser ministrada em instituições de
2.800 (em 1995) para 5.200 (em 2002), resultando num crescimento de 86%
Ensino Superior, tanto públicas quanto privadas, com variados graus de abran-
(média de criação de um novo curso superior público por dia).
gência ou especialização, impedindo que ocorra o monopólio do oferecimento
Com relação ao CNE, é preciso dizer que ele foi criado em substituição ao de Educação Superior tanto pelas instituições públicas quanto pelas institui-
antigo Conselho Federal de Educação (CFE), extinto durante a gestão de Ita- ções privadas, garantindo, assim, a coexistência de ambas.
mar Franco na Presidência da República (setembro de 1992 a dezembro de
O argumento de que o oferecimento de Educação Superior é uma função
1994) por sofrer constantes acusações públicas de que teria se transformado em
(papel) exclusiva e fundamental do poder público, como um serviço essencial e
um "balcão de negócios", no qual diversas instituições privadas de Ensino Su-
gratuito a ser prestado pelo poder público à população, coexiste na organização
perior conseguiam autorizações para a abertura de novos cursos, reconheci-
(estrutura e funcionamento) da Educação brasileira com o argumento de que o
mento desses cursos e credenciamento de novas faculdades e universidades de
oferecimento de Educação Superior se constitui em apenas mais um serviço, o
maneiras, no mínimo, pouco transparentes. !I ~
qual seria regulado e comercializado no "mercado", já que o poder público
74 I Estrutura e Fnncionemerno do Ensino Capo 2 - Estrutura e Funcionetnento dos Níveis e Modalidades de Educeção e Ensino I 75

teria outras prioridades educacionais, como o oferecimento de Ensinos Funda- Nesse caso, somente três respostas são possíveis: ou o curso será fechado
mental e Médio. ou será devolvido ao aluno o valor resultante da soma das mensalidades pagas
Assim como nos Ensinos Fundamental e Médio, na Educação Superior o (no caso de cursos oferecidos por instituições privadas de ensino) ou, como
ano letivo regular, independentemente do ano civil, deverá ter no mínimo 200 terceira opção, o aluno, mesmo sem ter recebido em termos pedagógiços aquilo
dias de trabalho acadêmico efetivo, excluído o tempo reservado aos exames que foi antecipadamente informado pela instituição, receberá o diplomá do cur-
finais, quando houver. Assim como ocorreu com os Ensinos Fundamental e so correspondente.
Médio, a duração do ano letivo do Ensino Superior também foi estendida para o primeiro caso - fechamento de curso - é pouco provável, porque, como
200 dias letivos, porém as conseqüências organizacionais dessa mudança são vimos, o órgão competente para tal, na prática, mesmo após seguidas avaliações,
muito significativas.
Na organização da Educação Superior, o mais importante não é o número
não fecha nenhum curso. As outras duas situações são excludentes entre si, ou
seja, no caso de cursos oferecidos por instituições privadas de ensino, ou o aluno I
de dias letivos pensados isoladamente, mas sim a relação entre horas/aula e
créditos. Na Educação Superior, um crédito equivalia e continua equivalendo a
15 horas/aula, portanto, se determinada disciplina concedia, após a sua conclu-
opta por receber de volta o que pagou pelo curso e não recebe seu diploma de
conclusão ou abre mão desse valor financeiro (e do valor moral de ter exigido o
cumprimento das condições pedagógicas prometidas, quando de seu acesso, pela
I
são com êxito, quatro créditos ao aluno, isso significava que essa disciplina respectiva instituição de ensino) e adquire o diploma do curso superior por ele
possuía uma carga horária de 60 horas/aula. Ao se aumentar o número de dias concluído. Qual a opção que a maioria dos alunos, nessas circunstâncias, esco-
leti vos de 180 para 200, porém não se alterando a relação I crédito = 15 horas/ lherá? Ter o dinheiro de volta ou adquirir um diploma de curso superior? I
aula, a organização da Educação Superior aumentou o número de dias que o
aluno permanece em aula, diminuindo, conseqüentemente, o número de dias de
Os alunos que tenham extraordinário aproveitamento nos estudos, demons- I
trado por meio de provas e outros instrumentos de avaliação específicos aplica- I:
recesso escolar nos meses de julho, dezembro, janeiro e fevereiro.
dos por banca examinadora especial, podem ter a duração dos seus cursos abre- il
:1
Dessa maneira, aumentou-se o número de dias letivos sem que fosse pos- viada de acordo com as normas dos sistemas de ensino, de forma semelhante ao t'
;/
sível aumentar o mais importante, ou seja, a quantidade de conteúdos de nível que também está previsto para os Ensinos Fundamental e Médio. I1
superior a serem oferecidos aos alunos. A questão da exclusão, na contagem
Essa nova possibilidade colocada à disposição dos alunos do Ensino Supe- 1I
desses 200 dias letivos, dos dias dedicados aos exames finais é idêntica à situ- 11
rior, como toda novidade, ainda causa certo estranhamento, especialmente aos I
ação dos Ensinos Fundamental e Médio, ou seja, as instituições de Ensino Su-
professores, ou por algum tipo de preconceito que impede imaginar, atualmente,
perior públicas e privadas passaram a não mais realizar os chamados "exames
alunos que se enquadrem nessas condições ou, principalmente, por uma ques-
finais", e quando o fazem não os denominam de "exames finais", eximindo-se
tão de "caldo cultural", no sentido de que ainda não estamos acostumados "cul-
de aumentar ainda mais a duração do seu ano letivo.
turalmente" a esse tipo de procedimento pedagógico. Só a normatização e a
As instituições de Ensino Superior, por sua vez, devem informar a todos os aplicação correta e criteriosa dessa nova possibilidade pedagógica é que possi-
interessados, antes de cada período letivo, os programas dos cursos e demais bilitarão, num futuro próximo, olhar para essa possibilidade não como uma
componentes curriculares, sua duração, os requisitos, a qualificação do corpo exceção, mas como mais um procedimento pedagógico corriqueiro.
docente, os recursos disponíveis e os critérios de avaliação a serem aplicados,
Com exceção dos programas de Educação a Distância, a freqüência de
obrigando-se a cumprir as respectivas condições. Essas determinações são lou-
alunos e professores é obrigatória nos cursos e programas de Educação Superi-
váveis, porém de difícil aplicação prática no cotidiano da Educação Superior,
or. As instituições de Educação Superior devem oferecer no período noturno
porque se a instituição de Educação Superior, após ministrar determinado cur-
so superior, não cumprir aquilo que informou antecipadamente, sendo portanto cursos de graduação nos mesmos padrões de qualidade mantidos no período
de qualidade duvidosa, o que acontecerá? diurno, sendo obrigatória a oferta noturna nas instituições públicas, garantida a
76 I Estrutura e Funcionemento do Ensino C;lV 2 - Estrutura e Funcionsmento dos Níveis e Moda/idades de Educeçêo e Ensino I 77

necessária previsão orçamentária para, dentre outras coisas, a manutenção des- eles se aplicam a todas as instituições de Ensino Superior do Brasil, públicas e
ses padrões de qualidade do Ensino Superior. privadas, mas também para torná-I os mais "públicos", no sentido de publicizá-
los, ou seja, permitir que maior número de alunos interessados possam ter aces-
A questão da qualidade dos cursos superiores de graduação oferecidos no
so às informações e critérios desses "processos seletivos" e, assim, participar
período noturno possui um enfoque diferente da questão da qualidade dos cur-
deles em igualdade de condições.
sos noturnos nos níveis Fundamental e Médio. No caso da Educação Superior,
a legislação educacional exige idênticos padrões de qualidade para os cursos de As instituições de Educação Superior, quando da ocorrência de vagas, de-
graduação, independentemente do período em que são oferecidos (diurno ou vem abrir matrícula nas disciplinas de seus cursos a alunos não-regulares, des-
noturno). de que eles demonstrem capacidade de cursá-Ias com proveito, mediante pro-
cesso seleti vo prévio. Essa possibilidade deve ser precedida pelo preenchimen-
Assim como no caso da Educação Profissional, os diplomas de cursos su-
to de vagas por meio de processos de transferência de alunos entre instituições
periores reconhecidos, quando registrados, têm validade nacional, como prova
de Educação Superior. Após esgotar essa possibilidade de transferências, abre-
formal da formação recebida por seu titular. Quando expedidos pelas universi-
se a possibilidade de matrículas "avulsas", ou seja, matrículas para disciplinas
dades, os diplomas são por elas próprias registrados, e aqueles conferidos por
a serem cursadas separadamente. Quanto aos processos seletivos, reafirmamos
instituições não-universitárias devem ser registrados em universidades indica-
que eles devem ser o mais "público" possível, para que sempre um maior nú-
das pelo CNE. No caso dos diplomas de graduação expedidos por universida-
mero de pessoas interessadas possam participar em igualdade de condições
des estrangeiras, eles devem ser revalidados por universidades públicas que
de acesso.
tenham curso do mesmo nível e área ou equivalente, respeitando-se sempre os
acordos internacionais de reciprocidade ou equiparação. No caso dos diplomas As instituições de Educação Superior credenciadas como universidades, ao
de pós-graduação stricto sensu (mestrado e doutorado) expedidos por universi- deliberar sobre critérios e normas de seleção e admissão de estudantes, devem
dades estrangeiras, eles só podem ser reconhecidos por universidades que pos- levar em conta os efeitos desses critérios sobre a orientação do Ensino Médio,
suam cursos de pós-graduação reconhecidos e avaliados na mesma área de co- articulando-se com os órgãos norrnativos dos respectivos sistemas de ensino. Esse
nhecimento e em nível equivalente ou superior. procedimento é de fundamental importância para a democratização do acesso
dos estudantes egressos do Ensino Médio à Educação Superior. Em outras pala-
As instituições de Educação Superior devem aceitar a transferência de vras, é necessário que o conteúdo aprendido no Ensino Médio seja o mesmo
alunos regulares para cursos afins, na hipótese de existência de vagas e median- conteúdo cobrado nos processos seletivos de acesso ao Ensino Superior. As uni-
te processo seletivo. No caso das chamadas transferências ex-officio, elas se versidades públicas, especialmente, têm a obrigação de, ao deliberar sobre crité-
dão na forma da lei específica". Não existem regras mínimas desse "processo rios e normas de seleção e admissão de estudantes, levar em consideração os
seletivo" para a normatização das transferências, especialmente quando se trata efeitos desses critérios sobre a orientação do Ensino Médio público, através de
de transferências de alunos para instituições públicas de Ensino Superior, não articulações efetivas com os órgãos normativos dos respectivos sistemas de ensi-
só para conferir a esses "processos seletivos" maior padronização, visto que no. Dessa maneira, cada vez mais, o aluno egresso do Ensino Médio público terá
melhores condições de ingressar numa universidade pública, democratizando-se
assim o acesso à Educação Superior pública brasileira.
9 Trata-se da Lei nO9.536 de t 1 de dezembro de 1997, que determina que essas transferências (ex-otüao; As universidades são instituições pluridisciplinares de formação dos qua-
serão efetivadas "entre instituições vinculadas a qualquer sistema de ensino, em qualquer época do ano dros profissionais de nível superior, de pesquisa, de extensão e de domínio e
e independente da existência de vaga, quando se tratar de servidor público federal civil ou militar estu-
dante, ou seu dependente estudante, se requerida em razão de comprovada remoção ou transferência cultivo do saber humano, que se caracterizam por possuírem produção intelectual
de ofício, que acarrete mudança de domicílio para o município onde se situe a instituição recebedora, ou institucionalizada, a qual se materializa através do estudo sistemático dos temas e
localidade mais próxima desta." Essa regra, segundo o Parágrafo único do artigo 10 da Lei nO9.536/97,
não se aplica "quando o interessado na transferência se deslocar para assumir cargo efetivo em razão
problemas mais relevantes, tanto do ponto de vista científico e cultural quanto
de concurso público, cargo comissionado ou função de confiança". regional e nacional. Para ser considerada como universidade, também devem

J
78 I Estrutura e Funcionetnento do Ensino Capo 2 - Estrutut; c hmcioruunento dos Níveis e Modalidades de Educaç,'o e EI15il10 I 79

possuir pelo menos um terço do corpo docente com titulação acadêmica de mes- não possuía, até aquele momento, a chamada "produção intelectual institucio-
trado ou doutorado e um terço do corpo docente em regime de tempo integral. nalizada", ou seja, um órgão federal (CNE) não estava cumprindo uma legisla-
Quando do início da elaboração de um novo arcabouço legal para a Edu- ção federal.
cação brasileira, ou seja, nos primeiros anos após a promulgação da Constitui- Se o CNE, que em tese deveria zelar pelo cumprimento da legislação edu-
ção Federal de 1988, imaginava-se que, para serem consideradas como univer- cacional, não o estava fazendo, Gianotti entendeu que esse órgão não estava
sidades, as instituições de Ensino Superior, além de terem produção intelectual cumprindo com suas obrigações legais, dentre as quais estava, no seu entendi-
institucionalizada mediante o estudo sistemático dos temas e problemas mais mento, a função de moralizar a normatização do Ensino Superior brasileiro,
relevantes do ponto de vista científico e cultural, regional e nacional e assim se explicitada dentre outras coisas pela função de autorizar a abertura de novos
caracterizarem como instituições pluridisciplinares de formação dos quadros pro- cursos, reconhecer esses cursos, credenciar novas faculdades e analisar, corre-
fissionais de nível superior, de pesquisa, de extensão e de domínio e cultivo do tamente, as solicitações de transformação de instituições de Educação Superior
saber humano, deveriam possuir em seus quadros pelo menos metade (50%) do em universidades, demitindo-se imediatamente do CNE.
corpo docente com titulação acadêmica de mestrado ou doutorado e, também, Dentro da organização da Educação Superior brasileira é possível a cria-
pelo menos metade (50%) do seu corpo docente em regime de tempo integral. ção de universidades especializadas por campo de saber. A idéia, grosso modo,
ii
A redução desses percentuais de titulação mínima e de contratação de do-
centes em tempo integral, constante na legislação educacional atual, para que
de universidades especializadas por campo de saber é a de universidades dife- I
as instituições de Educação Superior possam ser consideradas (transformadas
renciadas em que, em vez de o aluno cursar determinado curso de graduação
(história, psicologia, biologia, matemática etc.), ele monta sua própria grade I
em) universidades, só facilita a organização e administração, especialmente curricular, escolhendo as disciplinas que quiser cursar, todas dentro de uma das
financeira, das instituições privadas de Educação Superior, na medida em que grandes áreas do conhecimento humano (ciências exatas, humanas, biológicas,
permite a essas instituições a constituição de um corpo docente menos qualifi- tecnológicas etc.). Ao final do cumprimento de determinado número de crédi- I
i
"

cado (titulação mínima) e menos disponível para a realização de pesquisas, tos em disciplinas, essa universidade estaria formando um profissional de ciên- I

trabalhos de extensão e atendimento aos alunos (como complemento da docên- cias humanas, ciências exatas, ciências biológicas, ciências tecnológicas etc. 1I
'I
cia), através da celebração de um contrato de trabalho por hora/aula, em vez de Porém, só é possível a criação de universidades especializadas por campo de i',I
um contrato de trabalho de regime de tempo integral. saber desde que a instituição de Educação Superior comprove a existência de ,I
Como já dissemos, a legislação educacional vigente foi elaborada pelo atividades de ensino e pesquisa, tanto em áreas básicas como em áreas aplica-
1I
Ministério da Educação do Governo FHC, seguindo estritamente as diretrizes das. No Brasil, a proposta pedagógica que mais se aproxima dessa idéia é a da
para a Educação Superior do Banco Mundial. Essa instituição multilateral en- Universidade do Norte Flurninense, localizada na cidade de Campos (RJ), po-
II
tende que a Educação Superior não se constitui, necessariamente, em um servi- rém, por seu ineditismo e brevidade, consideramos ainda não ser possível ana-
11
ço público (um dever do poder público), mas sim em um serviço que pode (e lisar seus resultados isenta e corretamente.
I
deve) ser oferecido e regulado pelo "mercado" (iniciativa privada). Assim, exi- Segundo o artigo 207 da Constituição Federal, as universidades, públicas
gir percentuais mais elevados de titulação docente e de docentes contratados e privadas, gozam de autonomia didático-científica, administrativa e de gestão I,
em regime de tempo integral, o que certamente elevaria a qualidade da Educa- financeira e patrimonial, obedecendo ao princípio da indissociabilidade entre
ção oferecida pelas universidades privadas, significaria um aumento dos custos ensino, pesquisa e extensão. No exercício dessa autonomia, são asseguradas às
operacionais e, portanto, uma redução de lucros. universidades, sem prejuízo de outras, as atribuições de criar, organizar e extin-
Por outro lado, quando da aprovação do pedido de transformação em uni- guir em sua sede cursos e programas de Educação Superior, obedecendo às
versidade de determinada faculdade, situada no município de São Paulo, na normas gerais da União e, quando for o caso, do respectivo sistema de ensino.
Câmara de Educação Superior, o conselheiro José Arthur Gianotti tornou pú- Podem também fixar os currículos de seus cursos e programas, observadas as
blico seu voto, contrário à essa transformação, argumentando que tal faculdade diretrizes gerais pertinentes, assim como estabelecer planos, programas e pro-

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I' 80 I Estrlltur~ e Funcionamento do Ensino Cep. 2 - ESCwCUra


e FuncionamenCo dos Níveis e Modalidades de Educação e Ensino

outras providências de ordem orçamentária, financeira e patrimonial necessárias


I 81

jetos de pesquisa científica, produção artística e atividades de extensão, além


de fixar o número de vagas de acordo com a sua capacidade institucional e as ao seu bom desempenho.
I exigências do seu meio. Todas essas atribuições delineiam um razoável alcance para o conceito de
As universidades também podem elaborar e reformar os seus estatutos e autonomia da universidade pública brasileira. Na verdade, há um problema não
regimentos em consonância com as normas gerais atinentes, conferir graus, resolvido, nem pela Constituição Federal (em seu artigo 207) nem pela legisla-
diplomas e outros títulos, firmar contratos, acordos e convênios, aprovar e exe- ção educacional infra-constitucional, que, no nosso entendimento, antecede à
cutar planos, programas e projetos de investimentos referentes a obras, serviços definição do alcance da autonomia universitária e é condição sine qua non para
e aquisições em geral, bem como administrar rendimentos conforme dispositi- que ocorra, de fato, essa autonomia.
vos institucionais. Devem também administrar os rendimentos e deles dispor Trata-se da questão da origem do financiamento da universidade pública.
na forma prevista no ato de constituição, nas leis e nos respectivos estatutos, No Estado de São Paulo, as três universidades estaduais paulistas (USP, Uni-
assim como receber subvenções, doações, heranças, legados e cooperação fi- camp e Unesp) são financiadas com o repasse de 9,57% da quota do ICMS
nanceira resultante de convênios com entidades públicas e privadas. recolhido no Estado. Esse mecanismo quase automático (quase automático
Para garantir a autonomia didático-científica das universidades, cabe aos porque esse percentual ainda não está inserido definitivamente na Constituição
seus colegiados de ensino e pesquisa decidir, dentro dos recursos orçamentários do Estado de São Paulo, tendo de ser todo ano incluído e aprovado no conjunto
disponíveis, sobre a criação, expansão, modificação e extinção de cursos, am- da Lei de Diretrizes Orçamentárias - LDO) permite que as três universidades
pliação e diminuição de vagas, elaboração da programação dos cursos, das estaduais paulistas tenham, na prática, um grau de autonomia infinitamente
pesquisas e das atividades de extensão, contratação e dispensa de professores e maior do que as universidades federais brasileiras, por exemplo.
planos de carreira docente. As atribuições de autonomia universitária podem No caso das universidades federais brasileiras, durante. os oito anos do
ser estendidas a instituições de Educação Superior, públicas e privadas, que Governo FHC - e também durante todo o primeiro ano do Governo Lula - as
comprovem alta qualificação para o ensino ou para a pesquisa, com base em propostas de regulamentação da autonomia universitária, especificamente das
avaliação realizada pelo poder público. formas e fontes de financiamento das universidades federais, elaboradas pelo
As universidades mantidas pelo poder público gozam, na forma da lei, de Ministério da Educação, ou não agradavam às universidades ou não agradavam
'I
estatuto jurídico especial para atender às peculiaridades de sua estrutura, organi- à equipe econômica do governo.
zação e financiamento pelo poder público, assim como dos seus planos de carrei- Como até o presente momento não houve resolução para esse conflito,
ra e do regime jurídico do seu pessoal. No exercício da sua autonomia, as univer- podemos afirmar que essa questão não se constituiu em prioridade no Governo
sidades públicas, além das. atribuições citadas nos parágrafos anteriores, podem FHC - assim como ainda não se constituiu em prioridade para o Governo Lula -,
propor o seu quadro de pessoal docente, técnico e administrativo, assim como um fazendo com que as universidades federais tenham chegado a uma situação de
!• plano de cargos e salários, atendidas as normas gerais pertinentes e os recursos penúria financeira jamais vista em toda a história brasileira !O.
disponíveis. Também devem elaborar o regulamento de seu pessoal em confor-
Cabe à União assegurar, anualmente, em seu Orçamento Geral recursos
midade com as normas gerais concernentes, aprovar e executar planos, progra-
suficientes para a manutenção e o desenvolvimento das instituições de Educa-
mas e projetos de investimentos referentes a obras, serviços e aquisições em ge-
ção Superior por ela mantidas. Apesar de fazer constar recursos, anualmente,
ral, de acordo com os recursos alocados pelo respectivo poder mantenedor.
em seu Orçamento Geral, a União não tem cumprido com esse papel que lhe
Cabe também às universidades públicas elaborar seus orçamentos anuais
e plurianuais, adotar regime financeiro e contábil que atenda às suas peculiari-
10 Apenas como exemplo, a maior universidade federal brasileira - a Universidade Federal do Rio de
dades de organização e funcionamento, realizar operações de crédito QU de fi- Janeiro (UFRJ) - teve, nos primeiros dias do mês de agosto de 2002, o fornecimento de energia elétrica
nanciamento com a aprovação do poder competente para a aquisição de bens cortado por falta de pagamento das suas contas, devido à ausência de recursos financeiros suficien1es
repassados pelo Ministério da Educação.
imóveis, instalações e equipamentos, efetuar transferências, quitações e tomar
li
32 I Estrutura e Funcionamento do Ensino Cop. 2 - Estrutura e Funcionamento dos Níveis e Modalidades de Educeçêo e Ensino I 83 ;I
cabe, visto que os recursos assegurados em seu Orçamento Geral estão muito nação expressa outra contradição na organização da Educação Superior brasi-
longe de ser suficientes para a manutenção e o desenvolvimento das institui- leira, pois, ao analisarmos o conjunto das determinações que regem o nível da
ções de Educação Superior rnantidas pela própria União. Educação Superior e ao encontrarmos determinações referentes, por exemplo,
Como já afirmamos, as universidades federais mantidas pela União che- à questão da autonomia universitária, não encontramos, como já mostramos, a
garam a uma situação de penúria orçamentária e financeira que não encontra explicitação das formas de financiamento das instituições públicas de Educa-
paralelo em nenhum outro momento da história brasileira, nem mesmo nos ção Superior - questão crucial para o seu pleno e adequado funcionamento.
momentos de ditadura política, quando as universidades muitas vezes eram Por outro lado, encontramos a determinação de outra questão importante, ou
vistas como focos de resistência a esses regimes de força 11. seja, o número mínimo de aulas que cada professor das instituições públicas de
As instituições públicas de Educação Superior obedecem ao princípio da Educação Superior deverá ministrar, no caso 8 horas semanais de aula. No nosso
gestão democrática na medida em que asseguram a existência de órgãos colegi- entendimento, a questão do número mínimo exato de horas que cada docente
ados deliberativos, dos quais devem participar os segmentos da comunidade deve ministrar é muito menos importante do que o cumprimento, por parte da
institucional, local e regional. Em qualquer caso, os docentes devem ocupar, no União, da determinação de assegurar recursos suficientes para a manutenção e o f
mínimo, 70% dos assentos em cada órgão colegiado e comissão, inclusive nas desenvolvimento das instituições de Educação Superior por ela mantidas. ~
~
comissões que tratarem da elaboração e de modificações estatutárias e regi- Em outras palavras, para cobrar deveres, no caso dos professores das ins- ~
mentais, bem como da escolha de dirigentes. tituições públicas de Educação Superior, as determinações legais são detalhis-
Essas determinações são contraditórias entre si, visto que, no caso das tas e específicas. Quando a questão a ser normatizada envolve a responsabilida- ~
~
instituições de Educação Superior, o princípio da gestão democrática é um prin- de direta do poder público, no caso o financiamento da manutenção e desenvol- ~
cípio não só não-paritário, mas, principalmente, exageradamente desproporci- vimento das instituições de Educação Superior mantidas pela União, em vez de I!
onal. Uma coisa é concordar ou discordar do princípio da paridade de represen-
tação dos três segmentos (docentes, funcionários e alunos) nos órgãos delibera-
tivos das instituições públicas de Educação Superior; outra coisa, bem diferen-
serem detalhistas e específicas, as determinações legais fazem uso de expres-
sões genéricas, como assegurar "recursos suficientes", sem especificar, por exem-
plo, as fontes de financiamento nem os percentuais mínimos a serem aplicados
I
r
te, é retirar, na prática, qualquer poder de decisão política dos funcionários e no Ensino Superior público brasileiro. I
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alunos dessas instituições e ainda por cima chamar isso de "princípio da gestão Não discordamos da existência de um número mínimo de aulas que cada !
democrática". Como estimular a participação das comunidades institucional, professor deve ministrar nas instituições públicas de Educação Superior. O nú-
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local e regional nas decisões das instituições públicas de Educação Superior mero mínimo proposto (8 horas semanais de aula) é razoável, se lembrarmos ~
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com tamanha desproporção de poder de decisão? Mais do que uma contradi- que nessas instituições a grande maioria dos docentes são contratados em regi- ~:
ção, trata-se de uma estranha ou, no mínimo, diferente concepção de gestão me de tempo integral (40 horas semanais) para exercerem atividades de docên-
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democrática das instituições públicas de Educação Superior, que, no nosso en- cia, pesquisa e extensão; portanto, 8 horas semanais de aula correspondem a ,~
tendimento, muito pouco tem de "democrática". 20% do total de horas do contrato de trabalho desses docentes. O que questio-
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Para encerrar a análise da estrutura e do funcionamento da Educação Su- namos é a utilização de dois pesos e duas medidas de acordo com os interesses
perior no Brasil, temos que, nas instituições públicas de Educação Superior, o e concepções de quem elaborou o projeto legal de organização e normatização ~
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I
professor é obrigado a dar no mínimo 8 horas semanais de aula. Essa determi- da Educação Superior brasileira. Utiliza-se uma medida para cobrar os deveres ~
dos docentes e outra medida para esquivar-se dos deveres do poder público. I
Os discentes da Educação Superior, por sua vez, podem ser aproveitados ~r
~,
11 o exemplo da situação da UFRJ, que chegou a não ter dinheiro sequer para pagar despesas correntes em tarefas de ensino e pesquisa pelas respectivas instituições, exercendo fun- I,,
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e essenciais de manutenção, como as contas de c0t!sumo de energia elétrica e contas de telefone, não I

se constituiu em exceção, mas sim em regra entre as instituições de Educação Superior mantidas pela ções de monitoria, de acordo com seu rendimento e seu plano de estudos. Isso
União ·durante os oito anos de mandato do Govemo FHC. proíbe que os alunos da Educação Superior atuem ou como mão-de-obra gra-

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! 84 I Estrutura e Funcionamento do Ensino


Ctu». 2 - Estrutur: e Funcionamenlo dos Níveis e Modalidades de Educação e Ensino I 85
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I
I tuita (e muitas vezes braçal, em projetos de pesquisas de docentes) ou em subs- algum tipo de Educação escolar ou, em outras palavras, se essa Educação esco-
tituição eventual dos docentes, em atividades de ensino, especialmente aulas. lar oferecida, seguindo rigorosamente todas essas disposições, ajuda efetiva-
II Por fim, as instituições de Educação Superior constituídas como universi- mente a preservar as diversas culturas indígenas ou se é apenas mais uma forma
dades devem se integrar, também, como instituições de pesquisa ao Sistema (ou estratégia) de impor a cultura do homem branco a esses povos indígenas.
Nacional de Ciência e Tecnologia.

2.4 A Educação a Distância


2.3 A Educação Indígena
A Educação a Distância deve receber todo o incentivo do poder público
o sistema
de ensino da União, com a colaboração das agências federais de para o desenvolvimento e a veiculação de programas de ensino a distância, em
fomento à cultura e de assistência aos índios, deve desenvolver programas inte- todos os níveis e modalidades de ensino, e de Educação continuada. A Educa-
grados de ensino e pesquisa para a oferta de Educação escolar bilíngüe e inter- ção a Distância, organizada com abertura e regime especiais, deve ser oferecida
cultural aos povos indígenas. por instituições especificamente credenciadas pela União. Esta, por sua vez,
Os objetivos da Educação escolar bilíngüe e intercultural aos povos indí- regulamenta os requisitos para a realização de exames e o registro de diplomas
genas são: proporcionar aos índios, comunidades e povos a recuperação de suas relativos a cursos de Educação a Distância.
memórias históricas, a reafirmação de suas identidades étnicas, a valorização As normas para a produção, o controle e a avaliação de programas de
de suas línguas e ciências e proporcionar o acesso às informações, conhecimen-
tos técnicos e científicos da sociedade nacional e das demais sociedades indíge-
Educação a Distância e a autorização para sua implementação cabem aos res-
pectivos sistemas de ensino, podendo haver cooperação e integração entre os
I
11
nas e não-indígenas. diferentes sistemas. Por fim, a Educação a Distância goza de tratamento dife- I!
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(
renciado, que inclui a redução dos custos de transmissão de programas de Edu-
A União, através do seu sistema de ensino, também deve apoiar técnica e
financeiramente os outros sistemas de ensino no provimento da Educação in- cação a Distância em canais comerciais de radiodifusão sonora e canais de som I
I;
tercultural às comunidades indígenas, desenvolvendo programas integrados de e imagem. Inclui também a concessão de canais com finalidades exclusiva-
IJ
ensino e pesquisa. Esses programas serão planejados com a audiência das co- mente educativas e reserva de tempo mínimo, sem ônus para o poder público,
pelos concessionários de canais comerciais.
~I
munidades indígenas, estarão incluídos nos Planos Nacionais de Educação e III
terão, dentre outros, os seguintes objetivos: fortalecer as práticas socioculturais Apesar de todos esses incentivos, é necessário ressaltar que, no caso do li
11
Ij
e a língua materna de cada comunidade indígena, manter programas de forma- Ensino Fundamental, a Educação a Distância só pode ser utilizada como com-
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ção de pessoal especializado destinado à Educação escolar nas comunidades plementação da aprendizagem ou em situações emergenciais, visto que o Ensi-
.!
indígenas, desenvolver currículos e programas específicos, incluindo neles os no Fundamental deve ser, necessariamente, presencia!. No caso do sistema fe-
conteúdos culturais correspondentes às respectivas comunidades, e elaborar e deral de ensino, a Educação a Distância não pode ultrapassar nunca o percentu-
publicar, sistematicamente, material didático específico e diferenciado. ai de 20% do total dos conteúdos ministrados em aulas presenciais.
Vistas em seu conjunto, as diretrizes para a organização da Educação Indí- Ainda nos resta falar sobre o ensino militar, porém, como ele é regulado
gena, dentro da organização da Educação brasileira, são claras e abrangentes. por legislação específica, consideramos que não cabe um tópico específico.
Se forem rigorosamente aplicadas, essas determinações (diretrizes) em muito Devemos apenas ressaltar que no ensino militar é admitida a equivalência de
contribuirão para a preservação da cultura dos diversos povos indígenas, atra- estudos, de acordo com as normas fixadas pelos sistemas de ensino.
vés da oferta de uma Educação escolar diferenciada e específica, dirigida aos
índios, às suas comunidades e, de maneira geral, a todos os povos indígenas. A
questão que fica sem resposta é a de saber se os povos indígenas necessitam de

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