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O Comércio Exterior brasileiro:


Crise, competitividade, desafios e oportunidades1.

Hiran de Oliveira Amorim2


Marcos Teixeira Godinho3

RESUMO

O artigo em questão exprime uma análise da balança comercial brasileira e como a


mesma se modificou em meio à crise financeira mundial, além de observar, cuidadosamente,
quais os efeitos dessas mudanças na economia e no Comércio Exterior brasileiro
(principalmente sobre a pauta de exportações brasileira). Também se verifica, no atual
trabalho, o que essas mudanças podem nos ensinar em termos de competitividade
internacional e as vantagens comerciais do Brasil em detrimento a outros atores globais.
Trata-se de um trabalho de conclusão do curso de Comércio Exterior do Centro Universitário
UNA em forma de artigo científico. Tem como objetivo principal desenvolver a análise das
mudanças e compreender a extensão dos efeitos da crise financeira internacional sobre o
Comércio Exterior brasileiro, principalmente sobre a pauta de exportações, além dos efeitos
da China sobre a nova organização econômica mundial. Foi realizado através da análise de
dados secundários de exportação e coletados de fontes seguras e idôneas. Por fim, o trabalho
procura identificar as novas oportunidades que o novo contexto internacional de comércio tem
criado para os produtos brasileiros e quais são os novos (e velhos) desafios, decorrentes
dessas mudanças, para os exportadores brasileiros.

Palavras-chave: Globalização. Crise. Comércio Exterior. Exportações. Competitividade.


Commodities. China.

1
Artigo produzido na disciplina Trabalho de Conclusão de Curso do Curso de Administração com Ênfase em
Comércio Exterior do Centro Universitário UNA.
2
Aluno do 8º período do curso de Administração com Ênfase em Comércio Exterior do Centro Universitário UNA.
3
Professor orientador do trabalho.
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1. INTRODUÇÃO

1.1 A globalização como fator propulsor das crises

Há séculos observa-se um processo natural de expansão de mercados e integração dos


países ao redor do globo. Esse processo iniciou-se, principalmente, após a Revolução
Industrial criado pela necessidade de expansão dos produtos produzidos por aquela nova
organização produtiva para novos mercados. Ainda no âmbito comercial, vários países viram
como solução para a conquista de novos mercados a possibilidade deles próprios abrirem suas
economias para os produtos de outros países. Assim a rede comercial mundial foi sendo
criada e as integrações econômicas, construídas. Esse desenvolvimento comercial fomentou o
crescimento da ideologia econômica do liberalismo. O processo foi se intensificando e com o
passar dos anos culminou em uma nova revolução: a Revolução Tecnológica. Com o
surgimento dessa última revolução, percebeu-se um rápido e crescente movimento pró-
integração mundial, liderado, principalmente, pelo Estados Unidos após a 2ª Guerra Mundial.

Tal integração, comumente denominada de globalização, foi ainda mais intensificada


após a queda do muro de Berlin e expandiu-se rapidamente para os países membros da antiga
União Soviética e para a Ásia. Mas nenhum processo se resume apenas em mudanças de
cunho econômico e comercial. O mercado financeiro também foi fortemente influenciado
pelas mudanças na integração mundial.

Cabe-nos, portanto, delinear este conceito tão utilizado ultimamente para nosso uso no
atual estudo. Conceitualmente o termo globalização pressupõe esse aumento de
interdependência entre os países. Segundo a definição de David Held e Anthony McGrew:

Simply put, globalization denotes the expanding scale, growing magnitude, speeding up and deepening
impact of interregional flows and patterns of social interaction. It refers to a shift or transformation in the
scale of human social organization that links distant communities and expands the reach of power
relations across the world’s major regions and continents (HELD e McGREW, 2003, p. 4 apud
PRAZERES, 2008).

O conceito de globalização implica um alargamento da repercussão das atividades sociais, políticas e


econômicas através das fronteiras, de modo tal que eventos, decisões e atividades em uma parte do mundo
podem vir a ter importância para indivíduos e comunidades em regiões distantes do globo (PRAZERES,
2008).

Logicamente um mundo globalizado reagirá de forma diferente às crises do que um


mundo “desglobalizado”. É notório que a globalização de alguma forma traz benefícios para a
economia e para o comércio. Assim, segundo deduções básicas, define-se que processos de
integração normalmente pressupõem o sucesso das partes envolvidas. Seguindo essa premissa
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chega-se à conclusão de que, se uma das partes não é capaz de arcar com os compromissos
firmados, o todo participante da integração será afetado por essa parte. Traduzindo este
pensamento para o mundo globalizado percebe-se que certamente os países serão afetados por
quaisquer oscilações deste mercado globalizado. Isso é comprovado pelas diversas crises que
o mundo enfrentou nos últimos anos culminando com a crise dos sub-prime4, nos Estados
Unidos, e com os efeitos devastadores, causados por estas últimas crises, em todo o mundo. A
globalização, dessa forma, demonstrou uma de suas piores verdades: que a interdependência
das partes em âmbito global também é real em tempos de crise. Ou seja, em um mundo
globalizado crise interna em determinado país significa queda do comércio, pessimismo e
queda do crescimento econômico ao redor do mundo.

1.2 A crise dos sub-prime

Crise dos sub-prime é uma crise “econômica mundial, considerada oficialmente


instalada no cenário internacional em agosto de 2007” (Gontijo e Oliveira, 2009) que gerou
bolhas em determinados ativos devido à “expansão desmesurada do crédito e do ‘efeito-
riqueza’, incapazes de se sustentarem no tempo” (Gontijo e Oliveira, 2009).

O objetivo deste trabalho, entretanto, não é de delimitar as causas desta crise, mas sim
verificar seus efeitos sobre o comércio exterior brasileiro. Tais efeitos podem ser percebidos
nos números da balança comercial. Ao analisar a variação quantitativa dos diversos produtos
da pauta comercial brasileira ao longo da crise, encontra-se os produtos dos quais o Brasil
possui maior e menor capacidade competitiva, e assim, segundo a teoria das Vantagens
Competitivas de David Ricardo — da qual iremos abordar mais adiante —, pode-se definir as
melhores ações e políticas comerciais em vias de manter um crescimento da corrente de
comércio e da balança comercial brasileira de forma sustentável.

A crise, portanto, balizará este breve estudo de caso sobre a competitividade


internacional dos produtos da pauta de exportações brasileira.

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Crise dos sub-prime é uma crise “econômica mundial, considerada oficialmente instalada no cenário
internacional em agosto de 2007” (Gontijo e Oliveira, 2009, p. 1).
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2. O COMÉRCIO EXTERIOR BRASILEIRO

2.1 Comentários macroeconômicos

Antes de prosseguir para a análise dos dados relativos ao estudo em questão há de se


comentar sobre algumas questões macroeconômicas tais como: O balanço de pagamentos, a
balança comercial brasileira, o PNB e a importância das exportações brasileiras na economia
como fato gerador de emprego, renda e equilíbrio financeiro.

O balanço de pagamentos de um país é “um registro detalhado da composição do saldo


em transações correntes e das várias transações que o financiam” (Krugman e Obstfeld,
2007). Ele é constituído das transações correntes, da conta capital e da conta financeira, como
pode ser visualizado no anexo 1 deste estudo.

Transações correntes, que é uma conta do balanço de pagamentos, é a composição de


todas as transações comerciais de um país. Compõe-se pelas exportações e pelas importações,
que geram um efeito positivo e negativo (respectivamente) em seu saldo final. Há, ainda, as
transferências unilaterais liquidas que também compõem as transações correntes.

E finalmente o PNB (produto nacional bruto), que segundo Krugaman e Obstfeld é o


ponto central de “preocupação da análise macroeconômica” (2007). O PNB “é a medida
básica do produto de um país” (Krugman e Obstfeld, 2007) é o fator que representa a real
medida da atividade econômica de uma país. Para melhor compreender o PNB pode-se definir
como identidade da renda nacional, em economias abertas a seguinte relação: Y = C + I + G +
EX – IM, onde Y = PNB; C = consumo; I = investimento; G = compras governamentais; EX
= exportações e IM = importações. Segundo a definição da identidade da renda nacional
percebemos a relação direta das transações correntes5 (TC), ou balança comercial, na
composição do PNB e, portanto, sua importância. Pode-se definir TC = EX – IM.

2.2 A importância das exportações

No Brasil temos historicamente uma política exportadora. Desde os primórdios de sua


colonização o Brasil tem assumido esse papel, inicialmente com a exportação de pau-brasil,
cana-de-açúcar e ouro no Brasil colônia; de café e de minério de ferro; de produtos
alimentares e commodities; até aviões e produtos de grande valor agregado.

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Além do saldo da balança comercial de bens e serviços o saldo em transações correntes também inclui as
transferências unilaterais líquidas, que foram ignoradas na análise.
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Partindo da análise macroeconômica do PNB do tópico anterior e da definição da


identidade do PNB, percebe-se que as exportações são importantes, pois afetam diretamente o
resultado das transações correntes, e, por conseguinte, o montante do PNB. Segundo análise
de Krugman e Obstfeld, “as mudanças nas transações correntes podem ser associadas às
mudanças no produto e, dessa forma, no emprego” (2007). Na citação Krugman e Obstfeld
chegam a uma conclusão deveras interessante, de que as mudanças nas transações correntes
estão diretamente associadas às mudanças no produto e, por conseqüência no emprego. Essa
análise é importante, pois se percebe claramente a direta relação das transações correntes na
economia real, e não apenas em modelos econômicos fictícios ou acadêmicos. A realidade
dessa afirmação em relação tanto com as exportações quanto com as importações é
claramente evidenciada no mercado. As exportações, por exemplo, vem sendo a opção de
muitos pequenos empresários, pois é excelente fonte de renda e emprego.

Outra análise importante de se mencionar é a riqueza externa líquida. Um país


deficitário em transações correntes terá de alguma forma, de financiar esse déficit, o que pode
ocorrer com empréstimos advindos de países superavitários. Esses empréstimos, caso o país
continue deficitário por anos a fio, podem gerar um aumento considerável em sua divida
externa. Ao contrário, países superavitários tendem a aumentar a renda (e, por conseguinte o
emprego segundo análise de Krugman e Obstfeld), o consumo interno, mesmo as
importações, além de gerar riqueza externa líquida.

No Brasil as exportações servem como meio regulador das contas externas do país além
de gerar emprego e renda. Segundo análise de Cavalcanti e Ribeiro as exportações brasileiras
também “revestem-se de especial importância, por serem não apenas um elemento de ajuste
das contas externas, mas também de manutenção dos níveis de crescimento e emprego”
(1999).
Por todos esses pontos analisados percebe-se que políticas exportadoras são altamente
benéficas para a economia. O Brasil é um país altamente influenciado pelas exportações e que
utiliza desse artifício já há muitos anos, além de ver-se intensificado ainda mais nos últimos
50 anos. As políticas públicas, por fim, precisam agora perceber, não que as exportações são
benéficas, o que é claro, mas como desenvolver ferramentas para alcançar todo o potencial
exportador que essa grande nação possui.
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3. A CRISE E A PAUTA DE EXPORTAÇÕES BRASILEIRA

A crise mostrou-se como um bom estudo de caso sobre como desenvolver, ainda mais,
o potencial exportador brasileiro. Ao analisar o contexto econômico mundial e verificar a
competitividade externa da pauta brasileira desenvolvida durante a crise, percebe-se como
esta se modificou e como os produtos brasileiros mais competitivos ganharam espaço na pauta
por diversos motivos que iremos abordar aqui. Segundo análise do IPEA (Instituto de
pesquisa econômica aplicada), “a crise internacional parece ter acentuado uma das principais
características da pauta de comércio exterior brasileira: sua elevada concentração em
commodities e em produtos de menor intensidade tecnológica” (Brasil, 2009).

De acordo com o gráfico 1, a crise parece não ter afetado de forma significativa as
exportações de commodities e de produtos relativos à energia, principalmente o petróleo, que
não são classificados pela UNCTAD, base de dados da pesquisa realizada pelo IPEA. Na
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verdade estes foram os únicos grupos, de acordo com a pesquisa, que apresentaram
crescimento percentual. As commodities obtiveram um incremento de 4% do total de
exportações, passando de uma participação de 39% em 2004 para 43% em 2008, enquanto os
produtos relativos a energia cresceram 6%, passando de um total de exportações de 7% em
2004 para 13% em 2008. Todos os outros grupos apresentaram queda percentual, sendo que o
grupo de intensivos em trabalho foi o que apresentou a maior queda: 6%.

Ainda segundo análise do IPEA, o grande responsável pelo aumento percentual da


participação de commodities na pauta brasileira não foi o aumento da quantidade exportada e
sim o preço. A tabela 1 nos mostra a variação quantitativa das exportações de commodities em
2008, que permaneceu praticamente inalterada, enquanto o nível de preços foi um dos que
mais variaram, além dos produtos de baixa intensidade tecnológica e os produtos ligados ao
petróleo e energia. A tabela nos ajuda a perceber que, ao menos no ano de 2008, os produtos
básicos não sofreram grandes influências negativas da crise internacional, pelo contrário,
ganharam ainda mais espaço em nossa pauta de exportações devido ao aumento dos preços
internacionais.

“Esses resultados agregados, no entanto, ocultam algumas peculiaridades da evolução


desses índices ao longo do ano que revelam os primeiros impactos da crise internacional sobre
as vendas externas brasileiras” (Brasil, 2009). O impacto sobre as vendas externas brasileiras
veio ainda no ano de 2008, com queda de preços observada nos três principais grupos de
produtos que obtiveram maior aumento em 2008, a saber, commodities, baixa I.T. e outros
(ver gráfico 2). Observando a evolução dos preços desses três grupos de produtos ao longo do
ano de 2008, percebe-se o aumento gradual dos preços até um máximo entre os meses de
agosto e setembro, quando os preços apresentaram um movimento inicial de queda.
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No gráfico pode-se observar, com grande facilidade, a variação de preços no grupo de


produtos ligados ao petróleo e energia, que variaram abruptamente ao longo do ano. As
commodities, por sua vez, apresentaram uma queda bem pequena em relação aos outros
grupos de produtos. Entretanto, “o quantum exportado também mostrou, em virtude da crise
internacional, uma queda significativa no ultimo trimestre do ano, em relação ao terceiro
trimestre, em quase todos os grupos de produtos. Para alguns grupos de produtos essa queda
no ultimo trimestre é sazonal” (Brasil, 2009).

Na tabela 2, que nos mostra a variação da quantidade de exportações no ultimo trimestre


de 2007 e 2008, pode-se observar um aumento da queda da quantidade comercializada de um
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ano para o outro, certamente em decorrência da crise. Mesmo os outros grupos de produtos,
que não apresentaram queda no ano anterior, pois não são sazonais, obtiveram perdas. Porém,
as maiores quedas foram observadas nos produtos de menor intensidade tecnológica como as
commodities e os produtos de baixa intensidade tecnológica.

Já no inicio do ano de 2009 as commodities obtiveram grande participação na pauta


brasileira segundo a análise do IPEA: “Entre janeiro e abril de 2009, a participação das
commodities na pauta de exportações do país cresceu para 51%, ante uma média histórica um
pouco menor que 40% (ver gráfico 3).

Esse aumento repentino das exportações de commodities no primeiro quadrimestre de


2009 é explicado pela análise do IPEA: “A recuperação dos preços de algumas commodities
no inicio deste ano explica uma parte desta evolução. Entretanto, o fator de maior peso,
provavelmente, são as exportações para a China” (Brasil, 2009). Segundo a análise enquanto
as exportações brasileiras totais caíram cerca de 23% nos primeiros cinco meses do ano, as
exportações para a China, no mesmo período do ano, obtiveram um acréscimo de 34%. E,
uma vez que a pauta de exportações para a China ainda concentra-se em algumas commodities
(principalmente minério de ferro e soja), esse fato demonstra-se ter sido fundamental para o
aumento da participação das commodities na pauta comercial brasileira no inicio do ano.
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4. COMO ATUAR DE FORMA COMPETITIVA NESSE NOVO CONTEXTO?

Após a análise das mudanças recentes na balança comercial brasileira muitos podem se
perguntar se essas mudanças serão benéficas ou não para a economia brasileira, além de se
perguntarem se tais mudanças serão ou não perenes. Para verificar essas questões
verificaremos a posição de alguns estudiosos como David Ricardo e Raúl Prebisch.

4.1 O modelo Ricardiano: a teoria das vantagens comparativas

O modelo de David Ricardo, publicado em seu livro The principles of political economy
and taxation (Princípios de economia política e de tributação), expôs, em 1817 a teoria das
vantagens comparativas, que hoje é tão conhecida e difundida, e que elabora um modelo de
comércio internacional baseado nas “diferenças internacionais na produtividade do trabalho”
(Krugman e Obstfeld, 2007).

A teoria se baseia, ainda, nas diferenças no custo de oportunidade de produção dos


vários produtos produzidos pelos países. Sendo assim, segundo Krugman e Obstfeld, os
diversos países do globo se organizam na produção dos produtos em que apresentem menores
custos de oportunidade. Esses países devem se concentrar na produção desses produtos, e, de
certa forma, deixar a produção de outros produtos que apresentarem menores vantagens
comparativas, optando, assim, pela importação dos parceiros comerciais que foram mais
competitivos nesses produtos. Assim há um rearranjo da economia onde os países produzem
mais e a economia mundial, como um todo, cresce.

O comércio internacional produz esse aumento do produto porque permite que cada país se especialize em
produzir o bem no qual possui uma vantagem comparativa. Um país possui uma vantagem comparativa
(...) se o custo de oportunidade da produção desse bem em relação aos demais é mais baixo nesse país do
que em outros. (Krugman e Obstfeld, 2007).

Segundo a análise da teoria das vantagens comparativas, não há necessidade de uma


nação possuir vantagem absoluta sobre a produção de determinado produto para conseguir
participar do mercado internacional, mas uma vantagem comparativa. Assim, esse país deverá
produzir os produtos que apresentar maiores vantagens comparativas e se especializar nesses
produtos.

Se analisássemos as alterações na balança comercial brasileira, baseados na teoria de


David Ricardo, certamente deveríamos nos concentrar na produção de commodities e
produtos de baixa intensidade tecnológica. Felizmente o Brasil não se detém na produção
desse tipo de produto e também possui vantagens comparativas em outros grupos de produtos.
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4.2 Raul Prebisch: Termos de troca e o efeito China

Raul Prebisch foi um economista argentino conhecido por seus trabalhos e publicações
enquanto trabalhou na CEPAL (Comissão Econômica para a América Latina e o Caribe).
Uma de suas contribuições para a economia foram estudos sobre o subdesenvolvimento da
América Latina, indicando uma relação centro-periferia, ─ referindo-se à dependência
econômico-financeira dos países latino americanos ─, e ainda, como fonte de tal relação, a
constante deteriorização das trocas, como pode ser visto na citação de Luiz Toledo Machado:
Raul Prebisch atribui o subdesenvolvimento às relações centro-periferia caracterizadas por constante
deterioração das trocas, do que resulta a concentração de renda em nível mundial, enfim, a mundialização
do capital inviabilizando todos os esforços de superação do subdesenvolvimento (1999).

Termo de troca (terms of trade), segundo o glossário da Universidade Técnica de Lisboa,


define-se:

A taxa à qual as exportações são trocadas pelas importações; é dado pelo rácio entre o índice de preços
das exportações (ou o valor médio unitário destas) e o índice de preços das importações (ou o seu valor
unitário médio). Uma melhoria (degradação) dos termos de troca corresponde a um aumento (diminuição)
deste rácio: um dado volume de exportações permite pagar um maior (menor) volume de importações
(http://www.iseg.utl.pt/disciplinas/mestrados/dci/glossario.html).

Em outras palavras Prebisch parecia dizer: a América Latina mantém-se


subdesenvolvida pelo fato de não produzir produtos de maior valor agregado e manter-se sob
essa relação de interdependência destes produtos (de maior valor agregado) com outros países
desenvolvidos (países de centro). Isso devido a este ‘rácio’ manter-se demasiadamente
desfavorável para os países da América Latina.

Entretanto, o que se observa, é uma valorização das commodities, ainda que perdendo
um pouco de força no começo deste ano (gráfico 4). Por conseqüência desta valorização, há
uma melhoria dos termos de troca entre países subdesenvolvidos e desenvolvidos. Esse fato,
novo e inesperado, é explicado pelos novos atores globais, especialmente a China, que são
grandes compradores mundiais de matéria-prima. Como analisado anteriormente, um dos
fatores das commodities apresentarem aumento na pauta de exportações brasileira no inicio
deste ano é justamente as exportações para a China. E não somente a China, mas também a
Índia. Esses dois países em conjunto somam quase a metade da população da Terra. Isso
somado ao fato do aumento da renda nesses países devido a industrialização e novos
desenvolvimentos gera um ambiente propicio para a importação de muita matéria-prima e
conseqüentemente do aumento dos preços mundiais.
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Esse aumento de preço das commodities somado ao baixo custo de produção que as
empresas encontram na China ou em outros países asiáticos fazem com que o ‘rácio’ entre
produtos básicos e de alta intensidade tecnológica diminua ainda
mais.

Ainda que tenha sofrido uma queda tão abrupta no fim de 2008 as commodities
começam a demonstrar sinais de recuperação. Em se confirmada esta tendência de alta,
observada no fim do ano passado, o Brasil terá uma grande oportunidade de se firmar, ainda
mais, no cenário internacional como um grande exportador. Enquanto a crise derruba as
importações de produtos de tecnologia, ─ que podem ser retardadas ─, ela nos mostra uma
oportunidade de negócio para um grande exportador de alimentos que é o Brasil, pois comida
ninguém pode retardar ou esperar que a crise acabe.

Assim, a teoria de Prebisch torna-se avessa aos objetivos pelos quais foi criada,
tornando os produtores subdesenvolvidos em grandes exportadores potenciais, com um
‘rácio’ aceitável entre importações e exportações.
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5. FATORES DIFICULTADORES PARA EXPORTAÇÃO DE COMMODITIES

Há vários fatores dificultadores nessa nova organização do mercado que merecem nossa
atenção. Sustentabilidade, câmbio valorizado, subdesenvolvimento logístico. Todos estes
fatores, ─ e muitos outros ─, compõe as dificuldades que o exportador brasileiro enfrenta na
hora de tentar exportar.

Caso o Brasil opte por apoiar uma política de expansão das fronteiras agrícolas,
certamente enfrentaria um problema com os ambientalistas. Percebe-se um movimento
internacional em relação ao meio ambiente sem precedentes na história (de igual forma
seguem os níveis de poluição). Isso sem mencionar que estamos às portas da Conferência de
Copenhague que tratará de temas como mudanças climáticas e o efeito estufa. Portanto, a
primeira dificuldade seria encontrar meios de desenvolver o potencial exportador brasileiro
com medidas sustentáveis e que não agridam o meio-ambiente, principalmente na região
amazônica.

A valorização do real frente ao dólar é outro motivo de preocupação para os


exportadores. O real atingiu, nos últimos meses, um patamar bastante elevado, em termos de
exportação. Isso fez, de acordo com o site de comércio exterior ComexLeis, a rentabilidade
das exportações brasileiras atingirem o menor patamar da história
(http://comexleis.com.br/news/?m=20091012). Portanto uma vez que o Brasil utiliza um
cambio flutuante e nada pode fazer a respeito (em tese), deve-se buscar outras formas de
capacitação da competitividade e dos exportadores brasileiros, uma vez que essa tendência de
valorização do Real demonstra-se sólida duradoura e mesmo em meio à crise financeira não
demonstrou grandes oscilações.

Outro fator importante é a falta de opções logísticas no Brasil. Fica ainda mais difícil
crescer como exportador mundial um país que apresente baixo desenvolvimento logístico. O
Brasil, nesse aspecto, precisa diversificar os modais que utiliza. Além do rodoviário, que é
utilizado na maior parte das vezes, deve-se tirar proveito dos vários recursos que possui em
rios navegáveis, por exemplo. Pode-se, ainda, construir estradas férreas para utilização de
trens de ferro tanto para escoamento da produção de commodities, quanto para o transporte de
passageiros. Há muitas opções para desenvolver o potencial logístico brasileiro. O país
precisa descobrir qual delas é a mais benéfica e adequada para tal.
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6. CONCLUSÃO

Este estudo, portanto, apresenta as grandes possibilidades que o mercado mundial têm
criado para as commodities devido aos vários fatores já mencionados anteriormente. Muito se
fala sobre agregar valor aos produtos e exportar produtos com alto grau tecnológico,
entretanto deve-se perceber, através dessas análises, que, por hora, a exportação de algumas
commodities pode ser um bom negócio.

De igual forma é importante que o país descubra o grande potencial exportador que
possui. Trata-se de um país continental que possui infindáveis recursos naturais, terras
aráveis, e novos poços de petróleo encontrados nos últimos anos. Para tanto se deve
considerar uma reorganização profunda e contundente da zona rural brasileira, através de uma
reforma agrária mais abrangente para as populações rurais, por exemplo. Também é
importante desenvolver as áreas fora do eixo Rio-São Paulo ─ e, em menor instância, as
regiões sul-sudeste ─, para que o desenvolvimento alcance outras áreas do Brasil e possibilite
investimentos em infra-estrutura básica, que poderão servir de base para futuras negociações.
Pois o país que deseja ser reconhecidamente exportador deve possuir meios eficientes para
escoar uma grande produção. E neste quesito vale lembrar, ─ ainda que apenas para fins
exemplificativos ─, do desenvolvimento do projeto do aeroporto-indústria no aeroporto
Tancredo Neves em Confins, que é uma proposta de grande impacto, caso venha a alcançar
todo o potencial que aparenta possuir. Além de possibilitar acesso rápido às regiões centrais
do Brasil, o aeroporto pode servir como exemplo para o desenvolvimento de outras regiões
fora do eixo Rio-São Paulo.

Os desafios não são pequenos e nunca serão. Mas se o Brasil continuar com passos
seguros rumo ao crescimento econômico certamente estará, ─ como já está ─, entre as
grandes potencias econômicas mundiais em um futuro próximo. Mas para tanto se faz
necessário um maior comprometimento das autoridades e da sociedade, através de reformas
funcionais e profundas no país, que ainda apresenta grandes problemas e dificultadores para
as grandes aspirações dessa grande nação.
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REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

PRAZERES, Tatiana Lacerda. A OMC e os blocos regionais. 1. ed. São Paulo: Aduaneiras,
2008, p. 38-40;
GONTIJO, Cláudio; OLIVERIA, Fabrício Augusto e de. Subprime: Os 100 Dias que
Abalaram o Capital Financeiro Mundial e os Efeitos da Crise sobre o Brasil. Belo Horizonte:
CORECOM-MG e ASSEMG, 2009, p. 1;

KRUGMAN, Paul R.; OBSTFELD, Maurice. Economia Internacional: Teoria e Política. 6.


ed. São Paulo: Addison Wesley, 2007, p. 8-10 e 220-229;

INSTITUTO DE PESQUISA ECONÔMICA APLICADA. As Exportações Brasileiras no


período 1977/96: desempenho e determinantes. Rio de Janeiro, 1998, p. 1. Disponível em
<http://www.ipea.gov.br/pub/td/1998/td_0545.pdf> Acesso em: 12 de Novembro de 2009;
NEGRI, Fernanda de; PASSOS, Maria Cristina. A crise e o padrão de especialização
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MACHADO, Luiz Toledo. A teoria da dependência na América Latina. Estudos
avançados. [São Paulo]: [s.n.], n. 13 (35), p. 199-215, 1999. Disponível em
<http://www.scielo.br/pdf/ea/v13n35/v13n35a18.pdf> Acesso em: 15 de Novembro de 2009;
UNIVERSIDADE TÉCNICA DE LISBOA. Curso de Políticas Econômicas de
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LANDIM, RAQUEL. Rentabilidade das exportações do Brasil é a menor da história.
Boletim Diário de Notícias Sobre Comércio Exterior. [São Paulo]: O estado de São Paulo,
2009. Disponível em <http://comexleis.com.br/news/?m=20091012> Acesso em: 15 de
Novembro de 2009;

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