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Participação de pais no Conselho Escolar

Primariamente é necessário se fazer a conscientização de todos os envolvidos no


processo de escolarização a respeito dos direitos, deveres e responsabilidades. Para
tanto, as legislações devem ser conhecidas por todos, bem como as recomendações para
cada um dos envolvidos, quando ela existir. Separo esse relato em duas partes: “O que
vi?”, onde coloco, basicamente, as informações legitimadas recebidas neste curso e “O
que penso sobre o que vi?”, onde coloco minhas impressões.

O que vi...

A educação, dever da família e do Estado, inspirada nos princípios de liberdade e nos


ideais de solidariedade humana, tem por finalidade o pleno desenvolvimento do
educando, seu preparo para o exercício da cidadania e sua qualificação para o
trabalho.(LDB)

De acordo com o Programa Nacional de Fortalecimento dos Conselhos Escolares


(MEC)
As famílias podem se envolver ativamente nas decisões tomadas pelas escolas dos seus
filhos. Candidatar-se a uma vaga no conselho escolar é uma boa maneira de
acompanhar e auxiliar o trabalho dos gestores escolares.
O Conselho Escolar é constituído por representantes de pais, estudantes, professores,
demais funcionários, membros da comunidade local e o diretor da escola. Cada
escola deve estabelecer regras transparentes e democráticas de eleição dos membros
do conselho.
Cabe ao Conselho Escolar zelar pela manutenção da escola e participar da gestão
administrativa, pedagógica e financeira, contribuindo com as ações dos dirigentes
escolares a fim de assegurar a qualidade de ensino. Eles têm funções deliberativas,
consultivas, fiscais e mobilizadoras, garantindo a gestão democrática nas escolas
públicas.
Entre as atividades dos conselheiros estão, por exemplo, definir e fiscalizar a aplicação
dos recursos destinados à escola e discutir o projeto pedagógico com a direção e os
professores.

O Estatuto da Criança e do Adolescente (Lei nº 8.069/90), no parágrafo único de seu


Artigo 53, coloca que “É direito dos pais ou responsáveis ter ciência do processo
pedagógico, bem como participar da definição das propostas educacionais”. Além
disso, também informa, no Artigo 58, que “No processo educacional respeitar-se-ão os
valores culturais, artísticos e históricos próprios do contexto social da criança”.

A Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (Lei nº 9.394/96) define, como


incumbências da escola: “articular-se com as famílias e a comunidade, criando
processos de integração da sociedade com a escola” (inciso VI do Artigo 12), bem
como “informar pai e mãe, conviventes ou não com seus filhos, e, se for o caso, os
responsáveis legais, sobre a frequência e rendimento dos alunos, bem como sobre a
execução da proposta pedagógica da escola” (inciso VII, do mesmo Artigo).
O professor, por sua vez, também tem a incumbência de “colaborar com as atividades
de articulação da escola com as famílias e a comunidade” (inciso VI do Artigo 13).
Faz parte dessa conscientização tornar público, por exemplo, as recomendações do
MEC para que os pais participem do dia a dia de seus filhos:

• cultive o hábito da leitura em sua casa;


• ajude seu filho a conservar o livro didático, pois o material servirá para outros
alunos futuramente;
• acompanhe sua frequência às aulas e sua participação nas atividades escolares;
• visite a escola de seus filhos sempre que puder;
• observe se estão felizes;
• verifique a limpeza e a conservação das salas e demais dependências da escola;
• converse com outras mães, pais ou responsáveis sobre o que vocês observam na
escola;
• converse com os professores sobre dificuldades e habilidades do seu filho;
• peça orientação aos professores e diretores, caso perceba alguma dificuldade no
desempenho de seu filho - procure saber o que fazer para ajudar;
• acompanhe as lições de casa;
• participe das atividades escolares e compareça às reuniões da escola (dê sua
opinião);
• participe do Conselho Escolar.

O que penso sobre o que vi...

Seria redundante que eu reescrevesse com minhas palavras as recomendações expressas


nos documentos oficiais acima, então, colocarei aqui o que pra mim é fundamental e
não necessariamente está explícito, e ainda alguns problemas e críticas que pude tomar
conhecimento até o presente momento no chão da escola.

Para que o conselho escolar, segundo a legislação e as recomendações vigentes,


funcione efetivamente, deve estar inserido num contexto de democracia participativa.

Mas o que significa isso?

Acredito que no artigo “Em defesa da família tentacular temos a melhor expressão do
que seja isso, embora não tenha sido feito com esse propósito. As relações familiares
atuais estão mais “fraternas” que “hierarquicamente impostoas”, a sociedade mudou, a
escola mudou, precisa estar mais democrática e mais participativa, mais próxima, mais
afetivamente conectada.
Acredito que seja o melhor caminho a seguir.

No entanto, o que pode estar por detrás deste processo de gestão participativa?

O termo gestão vem do “mercado”, o que denota para o que veio. Temo que essa atitude
aparentemente de abrir a escola à participação da comunidade, carregue em seu âmago,
o total abandono da escola pública pelo poder público, como foi constatado no Estado
do Paraná na gestão Lerner, evidenciado no trabalho de Almeida (2006), por exemplo.
A participação é necessária e fundamental por todos os envolvidos, SEM que isso
signifique a redução do papel do Estado. É dever da Família e do Estado! A escola,
enquanto dever do Estado, comprometido com a qualidade do Ensino, precisa fazer o
seu papel adequadamente. Fornecendo os subsídios e aportes necessários para a
instituição escolar, desde as condições estruturais até as condições humanas, garantindo
não só acesso, mas permanência, qualidade e gratuidade pra TODOS.
Se a educação é uma preocupação de fato – inclusive é o ponto que mais é tocado nas
propagandas eleitorais por todos os partidos, de direita e esquerda – por que é que o
recurso destinado à educação não é proporcional à preocupação? Por que no Estado
mais rico da nação, o recurso é tão escasso quanto nas demais regiões? Deve haver algo
“escondido” neste percurso...

Por outro lado, é fundamental que a escola propicie o contato entre familiares,
professores e gestores, com a colaboração destes, tanto para gerir recursos, quanto para
o planejamento da aprendizagem em parceria. È fundamental, ainda, que, não apenas
familiares, mas também os próprios alunos (através de representantes ou não) façam
parte da composição do conselho, já que a condição necessária para a aprendizagem é a
responsabilidade do aprendiz, que começa com a sua participação nas definições dos
rumos que a escola irá tomar.

Antes de tudo, é preciso lembrar, como disse Bernard Charlot, que


ensinar nunca foi fácil. Nunca foi fácil, diz ele, por um motivo
essencial: o professor tem por missão ensinar, que é meio, para o
objetivo de levar o aluno a aprender, que é fim. E esse fim depende
do desejo dos alunos. Não se pode exercer a profissão sem o
engajamento do outro, sem seu desejo e mobilização, sem um uso
em si e para-si do conhecimento. E tal fato descarta a educação de
qualquer possibilidade de controle: a psicanálise ensina que não se
pode produzir o desejo. Pode-se incitar, multiplicar sinais e apelos, a
relação do professor com o conhecimento exerce efeitos sedutores,
etc. Mas definitivamente, é do aluno colocar-se ou não em movimento
em direção ao saber (SOUZA, 2001, p.1).

O que tenho presenciado e ouvido falar, é que o conselho não é representativo, na


medida em que apenas gestores participam de fato, e quando outros membros
participam são coibidos, ou simplesmente não são ouvidos. Mas o pior mesmo é o fato
de a maioria das pessoas, pais e alunos principalmente, não saberem sequer da
existência de um conselho, da possibilidade de atuação, e inclusive do direito de
atuação. O que as pessoas sabem é que existe APM, que pede aos alunos que
contribuam com uma “caixinha” para a melhoria da escola e só.
Isso precisa mudar!
Na escola onde estudei, atualmente a diretora foi afastada por desvios de verba.
Inclusive eu já presenciei desvio de merenda escolar. O filho dela é semi-analfabeto e
tem problemas psiquicos e mesmo assim dá aulas na escola, sem conseguir sequer
pronunciar as palavras. Onde está o conselho que não vê isso, ou finge não ver? Ou
pior, não existe, pois é uma extensão da direção.

Bem, a análise que faço do tema é de que precisamos fundamentalmente conscientizar,


para que possamos participar, fiscalizar e deliberar. E essa consciência não pode ser
puramente baseada na legislação, precisa ser refletida também, para que, porventura,
não caiamos em ciladas estratégicas também.
ALMEIDA, J.A.M. Conselhos Escolares e o Processo de Democratização: história,
avanços e limites. Dissertação de Mestrado. Curitiba: UFPR, 2006.

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