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Notas de Análise Funcional

Jorge Mujica
Sumário

1. Espaços normados e operadores lineares ....................................................................................01


2. Desigualdades de Hölder e Minkowski para somas ....................................................................05
3. Espaços normados de sequências ................................................................................................08
4. Desigualdades de Hölder e Minkowski para integrais ................................................................12
5. Espaços normados de funções.....................................................................................................14
6. Espaços normados de dimensão finita ........................................................................................20
7. Completamento de espaços normados ........................................................................................23
8. Espaços quociente .......................................................................................................................26
9. Espaços com produto interno ......................................................................................................29
10. Projeções ortogonais .................................................................................................................32
11. O teorema de Hahn-Banach ......................................................................................................37
12. Consequências do teorema de Hahn-Banach ............................................................................41
13. O dual de lp ...............................................................................................................................44
14. O dual de Lp(X,_, µ) .................................................................................................................46
15. Bidual de um espaço normado ..................................................................................................51
16. Teorema de Banach-Steinhaus ..................................................................................................54
17. Teorema da aplicação aberta e teorema do gráfico fechado......................................................57
18. Espectro de um operador em um espaço de Banach .................................................................60
19. Operadores compactos entre espaços de Banach ......................................................................63
20. Conjuntos ortonormais em espaços de Hilbert..........................................................................65
21. Conjuntos ortonormais completos em espaços de Hilbert ........................................................68
22. Operadores auto-adjuntos em espaços de Hilbert .....................................................................75
23. Teorema espectral para operadores compactos e auto-adjuntos
em espaços de Hilbert .....................................................................................................................78
24. Espaços localmente convexos ...................................................................................................81
25. O teorema de Hahn-Banach em espaços localmente convexos.................................................85
26. A topologia fraca.......................................................................................................................87
27. A topologia fraca estrela ...........................................................................................................89
1. Espaços normados e operadores lineares
Sempre consideraremos espaços vetoriais sobre K, onde K é R ou C.
1.1. Definição. Se E é um espaço vetorial, então uma função x ∈ E →
x ∈ R é chamada de norma se verifica as seguintes propriedades:
(a) x ≥ 0 para todo x ∈ E;
(b) x = 0 se e só se x = 0;
(c) λx = |λ|x para todo λ ∈ K e x ∈ E;
(d) x + y ≤ x + y para todo x, y ∈ E.
A desigualdade (d) é chamada de desigualdade triangular. O espaço vetorial
E, junto com a norma ., é chamado de espaço normado. E é chamado de
espaço de Banach se for completo com relação à métrica natural d(x, y) =
x − y.
Logo veremos muitos exemplos de espaços normados e espaços de Banach.
De agora em diante, a menos que digamos o contrário, E e F denotarão espaços
normados.
1.2. Definição. Sejam a ∈ E e r > 0. A bola aberta de centro a e raio r é
o conjunto
BE (a; r) = {x ∈ E : x − a < r}.
A bola fechada de centro a e raio r é o conjunto

B E (a; r) = {x ∈ E : x − a ≤ r}.

A esfera de centro a e raio r é o conjunto

SE (a; r) = {x ∈ E : x − a = r}.

Se a = 0 e r = 1, escreveremos BE , B E e SE em lugar de BE (0; 1), B E (0; 1) e


SE (0; 1), respectivamente.
1.3. Definição. Dada uma aplicação linear T : E → F , seja T  definido
por
T  = sup{T x : x ∈ E, x ≤ 1}.
T é dita limitada se T  < ∞.
1.4. Proposição. Dado uma aplicação linear T : E → F , as seguintes
condições são equivalentes:
(a) T é limitada.
(b) T é uniformemente contı́nua.
(c) T é contı́nua.
(d) T é contı́nua na origem.

1
Demonstração. (a) ⇒ (b): Se T é limitada, então

T x ≤ T  para todo x ∈ E, x ≤ 1,

e portanto
T x ≤ T x para todo x ∈ E.
Segue que
T x − T y ≤ T x − y para todo x, y ∈ E.
Logo T é uniformemente contı́nuo.
As implicações (b) ⇒ (c) e (c) ⇒ (d) são claras.
(d) ⇒ (a): Se (a) não for verdadeiro, então existiria uma sequência (xn ) em
E tal que xn  ≤ 1 e T xn  ≥ n para cada n. Seja yn = xn /T xn  para cada
n. Então yn  ≤ 1/n e T yn  = 1 para cada n. Logo T não seria contı́nuo na
origem.
1.5. Corolário. Seja T : E → F uma aplicação linear. Então T é contı́nua
se e só se existe uma constante c > 0 tal que

T x ≤ cx para todo x ∈ E.

1.6. Definição. Denotaremos por La (E; F ) o espaço vetorial de todas as


aplicações lineares T : E → F . Denotaremos por L(E; F ) o subespaço de todas
os T ∈ La (E; F ) que são contı́nuas. Os elementos de La (E; F ) são usualmente
chamados de operadores lineares.
É claro que o valor absoluto define uma norma em K, e que K, munido
dessa norma, é completo. O espaço La (E, K) é denotado por E ∗ , e é chamado
de dual algébrico de E. O espaço L(E; K) é denotado por E  , e é chamado de
dual topológico, ou simplesmente dual de E. Os elementos de E ∗ são usualmente
chamados de funcionais lineares.
Diremos que T ∈ L(E; F ) é um isomorfismo topológico se T é bijetivo e seu
inverso é contı́nuo. Diremos que T ∈ L(E; F ) é um mergulho topológico se T é
um isomorfismo topológico entre E e o subespaço T (E) de F .
Diremos que T ∈ L(E; F ) é um isomorfismo isométrico se T é bijetivo, e
T x = x para todo x ∈ E. Diremos que T ∈ L(E; F ) é um mergulho
isométrico se T é um isomorfismo isométrico entre E e o subespaço T (E) de F .
Diremos que duas normas .1 e .2 em um espaço vetorial E são equiv-
alentes se a aplicação identidade de (E, .1 ) em (E, .2 ) é um isomorfismo
topológico.
1.7. Corolário. Seja T ∈ La (E; F ). Então T é um mergulho topológico se
e só se existem constantes b ≥ a > 0 tais que

ax ≤ T x ≤ bx para todo x ∈ E.

2
1.8. Corolário. Seja E um espaço vetorial. Duas normas .1 e .2 em
E são equivalentes se e só se existem constantes b ≥ a > 0 tais que

ax1 ≤ x2 ≤ bx1 para todo x ∈ E.

1.9. Proposição. A função T → T  é uma norma em L(E; F ). Se F é


um espaço de Banach, então L(E; F ) também é um espaço de Banach.
Demonstração. É fácil verificar que a função T → T  é uma norma em
L(E; F ). Provaremos que L(E; F ) é completo se F é completo. Seja (Tn ) uma
sequência de Cauchy em L(E; F ). Então, dado  > 0, existe n0 ∈ N tal que

Tn − Tm  ≤ 

para todo n, m ≥ n0 . Segue que

(1) Tn x − Tm x ≤ Tn − Tm x ≤ x

para todo n, m ≥ n0 e x ∈ E. Segue que (Tn x) é uma sequência de Cauchy em


F para cada x ∈ E. Como por hipótese F é completo, existe o limite limn Tn x
para cada x ∈ E. Definamos T : E → F por T x = limn Tn x para cada x ∈ E.
É facil verificar que T é linear. Fazendo m → ∞ em (1) segue que

Tn x − T x ≤ x

para todo n ≥ n0 e x ∈ E. Logo Tn − T  ≤ , e portanto Tn − T ∈ L(E; F ),


para todo n ≥ n0 . Segue que T = (T − Tn ) + Tn ∈ L(E; F ) e Tn − T  → 0.
1.10. Corolário. O dual de um espaço normado é sempre um espaço de
Banach.

Exercı́cios
1.A. Prove que

|x − y| ≤ x − y para todo x, y ∈ E.

Em particular a função x ∈ E → x ∈ R é uniformemente contı́nua.


1.B. (a) Se xn → x em E, e yn → y em E, prove que xn + yn → x + y em
E.
(b) Se λn → λ em K, e xn → x em E, prove que λn xn → λx em E.
Em particular as seguintes aplicações são contı́nuas:

(x, y) ∈ E × E → x + y ∈ E,

(λ, x) ∈ K × E → λx ∈ E.

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1.C. (a) Prove que, para cada a ∈ E, a aplicação x ∈ E → x + a ∈ E é um
homeomorfismo.
(b) Prove que, para cada λ = 0 em K, a aplicação x ∈ E → λx ∈ E é um
homeomorfismo.
1.D. Prove que cada subespaço fechado de um espaço de Banach é um espaço
de Banach com a norma induzida.
1.E. Se M é um subespaço vetorial próprio de E, prove que intE é vazio.
1.F. (a) Prove que a função (x, y)1 = x + y define uma norma em
E × F.
(b) Prove que (E × F, .1 ) é completo se e só se E e F são completos.
1.G. (a) Prove que a função (x, y)∞ = max{x, y} define uma norma
em E × F .
(b) Prove que (E × F, .∞ é completo se e só se E e F são completos.
1.H. Prove que a aplicação identidade I : (E × F, .1 ) → (E × F, .∞ ) é
um isomorfismo topológico. Calcule I e I −1 .
1.I. Dado T ∈ L(E; F ), prove que:

T  = sup{T x : x ∈ E, x < 1}

= sup{T x : x ∈ E, x = 1}
T x
= sup{ : x ∈ E, x = 0}
x
= inf{c > 0 : T x ≤ cx para todo x ∈ E}.

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2. Desigualdades de Hölder e Minkowski para somas
2.1. Lema. Sejam a, b, α, β > 0, com α + β = 1. Então:

(1) aα bβ ≤ αa + βb,

com igualdade se e só se a = b.


Demonstração. Queremos provar que

aα b1−α ≤ αa + (1 − α)b,

ou seja  a α a
(2) ≤ α + 1 − α.
b b
Consideremos a função

φ(t) = αt + 1 − α − tα (t > 0).

Então
φ (t) = α − αtα−1 .
Como 0 < α < 1, segue que

φ (t) < 0 se 0 < t < 1,

φ (t) > 0 se t > 1.


Logo φ é estritamente decrescente em (0, 1], e estritamente crescente em [1, ∞).
Como φ(1) = 0, concluimos que

φ(t) > 0 se t > 0, t = 1.

Isto prova (2), e portanto (1), com igualdade se e só se a = b.


2.2. Teorema (desigualdade de Hölder para somas). Sejam 1 <
p, q < ∞, com p1 + 1q = 1, e sejam (ξ1 , ..., ξn ), (η1 , ..., ηn ) ∈ Kn . Então:
⎛ ⎞1/p ⎛ ⎞1/q
n
 n n
|ξj ηj | ≤ ⎝ |ξj |p ⎠ ⎝ |ηj |q ⎠ .
j=1 j=1 j=1

Demonstração. Aplicando o lema anterior, com

|ξj |p |ηj |q 1 1
aj = n p
, bj = n q
, α= , β= ,
j=1 j |ξ | j=1 j|η | p q

obtemos
|ξj ηj | aj bj
 1/p  1/q ≤ p + q
n n
j=1 |ξj |p j=1 |ηj |
q

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para j = 1, ..., n. Somando estas desigualdades, segue que
n n n
j=1 |ξj ηj | 1 1 1 1
 1/p  1/q ≤ p aj +
q j=1
bj = + = 1,
p q
n p n q
j=1 |ξj | j=1 |ηj |
j=1

completando a demonstração.
2.3. Corolário (desigualdade de Cauchy-Schwarz para somas). Se-
jam (ξ1 , ..., ξn ), (η1 , ..., ηn ) ∈ Kn . Então:
⎛ ⎞1/2 ⎛ ⎞1/2
n
 n n
|ξj ηj | ≤ ⎝ |ξj |2 ⎠ ⎝ |ηj |2 ⎠ .
j=1 j=1 j=1

2.4. Definição.Dado 1 ≤ p < ∞, seja p o conjunto de todas as sequências



(ξj ) em K tais que j=1 |ξj |p < ∞.
Temos então os corolários seguintes.
2.5. Corolário (desigualdade de Hölder para séries). Sejam 1 <
p, q < ∞, com p1 + 1q = 1, e sejam (ξj ) ∈ p e (ηj ) ∈ q . Então (ξj ηj ) ∈ 1 e
⎛ ⎞1/p ⎛ ⎞1/q

 ∞ ∞

|ξj ηj | ≤ ⎝ |ξj |p ⎠ ⎝ |ηj |q ⎠ .
j=1 j=1 j=1

2.6. Corolário (desigualdade de Cauchy-Schwarz para séries). Se-


jam (ξj ), (ηj ) ∈ 2 . Então (ξj ηj ) ∈ 1 e
⎛ ⎞1/2 ⎛ ⎞1/2

 ∞ ∞

|ξj ηj | ≤ ⎝ |ξj |2 ⎠ ⎝ |ηj |2 ⎠ .
j=1 j=1 j=1

2.7. Teorema (desigualdade de Minkowski para somas). Sejam


1 ≤ p < ∞, e (ξ1 , ..., ξn ), (η1 , ..., ηn ) ∈ Kn . Então:
⎛ ⎞1/p ⎛ ⎞1/p ⎛ ⎞1/p
n n n

⎝ |ξj + ηj |p ⎠ ≤⎝ |ξj |p ⎠ + ⎝ |ηjp ⎠ .
j=1 j=1 j=1

Demonstração. A desigualdade é clara se p = 1. Se p > 1, temos que:


n
 n
 n
 n

|ξj +ηj |p = |ξj +ηj ||ξj +ηj |p−1 ≤ |ξj ||ξj +ηj |p−1 + |ηj ||ξj +ηj |p−1 .
j=1 j=1 j=1 j=1

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Como (p − 1)q = p, segue da desigualdade de Hölder que
⎛ ⎞1/p ⎛ ⎞1/q
n
 n n
|ξj ||ξj + ηj |p−1 ≤⎝ |ξj |p ⎠ ⎝ |ξj + ηj |p ⎠
j=1 j=1 j=1

e ⎛ ⎞1/p ⎛ ⎞1/q
n
 n
 n
|ηj ||ξj + ηj |p−1 ≤ ⎝ |ηj |p ⎠ ⎝ |ξj + ηj |p ⎠ .
j=1 j=1 j=1

Logo
⎧⎛ ⎞1/p ⎛ ⎞1/p ⎫ ⎛ ⎞1/q
n
 ⎪
⎨  n  n ⎪
⎬  n
|ξj + ηj |p ≤ ⎝ |ξj |p ⎠ + ⎝ |ηj |p ⎠ ⎝ |ξj + ηj |p ⎠ .

⎩ ⎪

j=1 j=1 j=1 j=1

1
Como 1 − q = p1 , segue que
⎛ ⎞1/p ⎛ ⎞1/p ⎛ ⎞1/p
n
 n n

⎝ |ξj + ηj |p ⎠ ≤⎝ |ξj |p ⎠ + ⎝ |ηj |p ⎠ ,
j=1 j=1 j=1

completando a demonstração.
2.8. Corolário (desigualdade de Minkowski para séries). Seja 1 ≤
p < ∞, e sejam (ξj ), (ηj ) ∈ p . Então (ξj + ηj ) ∈ p e
⎛ ⎞1/p ⎛ ⎞1/p ⎛ ⎞1/p

 ∞ ∞
⎝ |ξj + ηj |p ⎠ ≤⎝ |ξj |p ⎠ + ⎝ |ηj |p ⎠ .
j=1 j=1 j=1

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3. Espaços normados de sequências
3.1. Exemplo. Dado 1 ≤ p < ∞, definamos
⎛ ⎞1/p
n

xp = ⎝ |ξj |p ⎠
j=1

para cada x = (ξ1 , ..., ξn ) ∈ Kn . Segue da desigualdade de Minkowski que a


função .p é uma norma em Kn . Denotaremos por Knp o espaço vetorial Kn ,
munido da norma .p . Não é difı́cil provar que Knp é um espaço de Banach.
3.2. Exemplo. Definamos

x∞ = max{|ξ1 |, ..., |ξn |}

para cada x = (ξ1 , ..., ξn ) ∈ Kn . É fácil verificar que a função .∞ é uma
norma em Kn . Denotaremos por Knp o espaço vetorial Kn , munido da norma
.∞ . Não é difı́cil provar que Kn∞ é um espaço de Banach.
3.3. Exemplo. Dado 1 ≤ p < ∞, lembremos que


p = {x = (ξj )∞
j=1 ⊂ K : |ξj |p < ∞}.
j=1

Segue da desigualdade de Minkowski para séries que p é um espaço vetorial, e


a função
⎛ ⎞1/p
∞
xp = ⎝ |ξj |p ⎠
j=1

é uma norma em p . Provaremos que p é de fato um espaço de Banach. Seja


(xn )∞ ∞
n=1 uma seqüência de Cauchy em p . Escrevamos xn = (ξnj )j=1 para cada
n. Então, dado  > 0, existe n0 tal que
⎛ ⎞1/p


(1) xn − xm  = ⎝ |ξnj − ξmj |p ⎠ ≤
j=1

para todo n, m ≥ n0 . Em particular

|ξnj − ξmj | ≤ xn − xm  ≤ 

para todo n, m ≥ n0 e todo j ∈ N. Logo (ξnj )∞


n=1 é uma seqüência de Cauchy
em K para cada j ∈ N. Seja ξj = limn ξnj para cada j ∈ N, e seja x = (ξj )∞
j=1 .
Provaremos que x ∈ p e que (xn )∞
n=1 converge a x. De fato, segue de (1) que
⎛ ⎞1/p
k
(2) ⎝ |ξnj − ξmj |p ⎠ ≤
j=1

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para todo n, m ≥ n0 e todo k ∈ N. Fazendo m → ∞ em (2) segue que
⎛ ⎞1/p
k
⎝ |ξnj − ξj |p ⎠ ≤
j=1

para todo n ≥ n0 e todo k ∈ N. Logo


⎛ ⎞1/p


⎝ |ξnj − ξj |p ⎠ ≤
j=1

para todo n ≥ n0 . Assim xn − x ∈ p e xn − x ≤  para todo n ≥ n0 . Segue


que x = (x − xn ) + xn ∈ p e xn − x → 0.
3.4. Exemplo. Seja
∞ = {x = (ξj )∞
j=1 ⊂ K : supj |ξj | < ∞}.

É fácil verificar que ∞ é um espaço vetorial, e a função


x∞ = supj |ξj |
é uma norma em ∞ . Não é difı́cil provar que ∞ é um espaço de Banach.
3.5. Exemplo. Sejam
c0 = {x = (ξj )∞
j=1 ⊂ K : (ξj ) converge a zero}

e
c = {x = (ξj )∞
j=1 ⊂ K : (ξj ) é convergente}.

Não é difı́cil provar que c0 e c são subespaços fechados de ∞ , e são portanto


espaços de Banach.
Lembremos que um espaço métrico X é dito separável se existir um sub-
conjunto enumerável D ⊂ X que é denso em X, ou seja D = X. Não é difı́cil
provar que o espaço Knp é separável para 1 ≤ p ≤ ∞.
3.5. Proposição. p é separável para cada 1 ≤ p < ∞.
Demonstração. Seja
c00 = {x = (ξj )∞
j=1 ⊂ K : ξj = 0 para todo j ≥ algum n}
e seja
D = {x = (ξj )∞
j=1 ∈ c00 : cada ξj é racional}.

O conjunto D é claramente enumerável. Provaremos que D é denso em p .



Sejam x = (ξj ) ∈ p e  > 0 dados. Como j=1 |ξj |p < ∞, existe n ∈ N tal que


|ξj |p < p .
j=n+1

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Seja
y = (ξ1 , ..., ξn , 0, 0, 0, ...),
e seja
z = (ζ1 , ..., ζn , 0, 0, 0, ...),
com ζ1 , ..., ζn racionais tais que
n

|ξj − ηj |p < p .
j=1

Então y ∈ c00 , z ∈ D e

x − zp ≤ x − yp + y − zp < 2.

Logo D é denso em p .
3.6. Proposição. ∞ não é separável.
Demonstração. Seja (xn )∞ n=1 um subconjunto enumerável de ∞ . Seja
xn = (ξnj )j=1 para cada n. Seja x = (ξj )∞

j=1 definido por

ξj = ξjj + 1 se |ξjj | ≤ 1,

ξj = 0 se |ξjj | > 1.
Claramente x ∈ ∞ , mas

x − xj ∞ ≥ |ξj − ξjj | ≥ 1

para todo j. Logo {xj : j ∈ N} não é denso em ∞ .

Exercı́cios
3.A. Dados x ∈ Kn e 1 ≤ p ≤ q < ∞, prove que:
(a) xq ≤ xp .
(b) x∞ ≤ xp ≤ n1/p x∞ .
(c) x∞ = limp→∞ xp .
Em particular todas as normas .p , com 1 ≤ p ≤ ∞, são equivalentes entre
si em Kn .
3.B. Seja T : Kn1 → Kn∞ o operador identidade. Calcule T  e T −1 .
3.C. Se 1 ≤ p ≤ ∞, prove que cada aplicação linear T : Knp → F é contı́nua.

3.D. Se 1 ≤ p ≤ q < ∞, prove que p ⊂ q , e a inclusão é contı́nua.

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3.E. Se 1 ≤ p < ∞, prove que p ⊂ c0 , e a inclusão é contı́nua.
3.F. Prove que Knp é separável para 1 ≤ p ≤ ∞.
3.G. Prove que c0 e c são separáveis.
3.H. Prove que c0 e c são isomorfos entre si.

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4. Desigualdades de Hölder e Minkowski para integrais
Seja (X, Σ, µ) um espaço de medida, ou seja X é um conjunto não vazio, Σ
é uma σ-álgebra de subconjuntos de X, e µ : Σ → [0, ∞] é uma medida. Se
1 ≤ p < ∞, denotaremos por Lp (X,  Σ, µ) o espaço vetorial de todas as funções
mensuráveis f : X → K tais que X |f |p dµ < ∞. Escrevamos
 1/p
f p = |f |p dµ
X

para cada f ∈ Lp (X, Σ, µ).


4.1. Teorema (desigualdade de Hölder para integrais). Sejam 1 <
p, q < ∞, com p1 + 1q = 1, e sejam f ∈ Lp (X, Σ, µ) e g ∈ Lq (X, Σ, µ). Então
f g ∈ L1 (X, Σ, µ) e
  1/p  1/q
p q
|f g|dµ ≤ |f | dµ |g| dµ .
X X X

Demonstração. Sem perda de generalidade podemos supor que f p > 0


e gq > 0. Aplicando o Lema 2.1 com

|f (x)| |g(x)| 1 1
a= , b= , α= , β= ,
f p gq p q
segue que
|f (x)g(x)| |f (x)|p |g(x)|q
≤ p + .
f p gq pf p qgqq
Integrando segue que 
|f g|dµ
X 1 1
≤ + = 1,
f p gq p q
completando a demonstração.
4.2. Corolário (desigualdade de Cauchy-Schwarz para integrais).
Sejam f, g ∈ L2 (X, Σ, µ). Então f g ∈ L1 (X, Σ, µ) e
  1/2  1/2
2 2
|f g|dµ ≤ |f | dµ |g| dµ .
X X X

Dadas duas funções f, g : X → R, as funções f ∨ g : X → R e f ∧ g : X → R


são definidas por:
(f ∨ g)(x) = max{f (x), g(x)},
(f ∧ g)(x) = min{f (x), g(x)}.

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4.3. Teorema (desigualdade de Minkowski para integrais). Seja
1 ≤ p < ∞, e sejam f, g ∈ Lp (X, Σ, µ). Então f + g ∈ Lp (X, Σ, µ) e
 1/p  1/p  1/p
|f + g|p dµ ≤ |f |p dµ + |g|p dµ .
X X X

Demonstração. A desigualdade é clara se p = 1. Logo vamos supor que


p > 1. Como

|f + g|p ≤ (|f | + |g|)p ≤ 2p (|f | ∨ |g|)p ≤ 2p (|f |p + |g|p ),

segue que f + g ∈ Lp (X, Σ, µ). Como

|f + g|p = |f + g||f + g|p−1 ≤ |f ||f + g|p−1 + |g||f + g|p−1 ,

segue que
  
|f + g|p dµ ≤ |f ||f + g|p−1 dµ + |g||f + g|p−1 dµ.
X X X

Temos que |f + g|p−1 ∈ Lq (X, Σ, µ), pois (p − 1)q = p e f + g ∈ Lp (X, Σ, µ).


Usando a desigualdade de Hölder, segue que
  1/p  1/q
|f ||f + g|p−1 dµ ≤ |f |p dµ |f + g|p dµ .
X X X

De maneira análoga
  1/p  1/q
p−1 p p
|g||f + g| dµ ≤ |g| dµ |f + g| dµ .
X X X

Logo
  1/p  1/p   1/q
p p p p
|f + g| dµ ≤ |f | dµ + |g| dµ |f + g| dµ .
X X X X

1
Como 1 − q = p1 , segue que
 1/p  1/p  1/p
p p p
|f + g| dµ ≤ |f | dµ + |g| dµ ,
X X X

completando a demonstração.

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5. Espaços normados de funções
5.1. Exemplo. Seja X um conjunto não vazio, e seja B(X) o espaço
vetorial de todas as funções limitadas f : X → K. Não é difı́cil provar que
B(X) é um espaço de Banach sob a norma

f  = sup{|f (x)| : x ∈ X}.

5.2. Exemplo. Seja X um espaço topológico compacto, e seja C(X) o


espaço vetorial de todas as funções contı́nuas f : X → K. Não é difı́cil verificar
que C(X) é um subespaço fechado de B(X), e é portanto um espaço de Banach.

5.3. Exemplo. Seja X um espaço topológico arbitrário, e seja Cb (X) o


espaço vetorial de todas as funções contı́nuas e limitadas f : X → K. Não é
difı́cil verificar que Cb (X) é um subespaço fechado de B(X), e é portanto um
espaço de Banach.
5.4. Exemplo. Seja (X, Σ, µ) um espaço de medida, e seja 1 ≤ p < ∞.
Segue da desigualdade de Minkowski que Lp (X, Σ, µ) é um espaço vetorial, e a
função
 1/p
p
f p = |f | dµ
X
tem as seguintes propriedades:
(a) f p ≥ 0;
(b) f p = 0 se e só se f (x) = 0 quase sempre;
(c) λf p = |λ|f p ;
(d) f + gp ≤ f p + gp .
Estas propriedades mostram que a função .p tem quase todas as pro-
priedades de uma norma. Só não verifica a propriedade (b) da definição de
norma. Para obter uma norma, vamos introduzir uma relação de equivalência
em Lp (X, Σ, µ) da maneira seguinte. Dadas f, g ∈ Lp (X, Σ, µ), definimos f ∼ g
se f (x) = g(x) quase sempre. É claro que esta é uma relação de equivalência
em Lp (X, Σ, µ). Seja Lp (X, Σ, µ) o conjunto das classes de equivalência. Dadas
[f ], [g] ∈ Lp (X, Σ, µ) e λ ∈ K, definimos

[f ] + [g] = [f + g], λ[f ] = [λf ].

É fácil verificar que estas operações estão bem definidas, e que Lp (X, Σ, µ), com
estas operações, é um espaço vetorial. Além disso, a aplicação quociente

π : f ∈ Lp (X, Σ, µ) → [f ] ∈ Lp (X, Σ, µ)

é linear. Se definimos
[f ]p = f p

14
para cada [f ] ∈ Lp (X, Σ, µ), é fácil verificar que esta função está bem definida,
e é uma norma em Lp (X, Σ, µ). Antes de provar que Lp (X, Σ, µ) é completo,
vamos precisar de um resultado auxiliar.
∞
5.5. Definição. (a) Uma série n n=1 xn em E é dita convergente se a
sequência de somas parciais sn = j=1 xj é convergente em E.
∞
(b) Uma série  n=1 xn em E é dita absolutamente convergente ou absolu-

tamente somável se n=1 xn  < ∞.
5.6. Proposição. Um espaço normado E é completo se e só se cada série
absolutamente convergente em E é convergente.
∞
Demonstração. (⇒) Suponhamos E completo e n=1 xn  < ∞. Se
m < n, então
n n

sn − sm  =  xj  ≤ xj .
j=m+1 j=m+1

Segue que (sn ) é uma sequência de Cauchy em E, e é portanto convergente.


(⇐) Suponhamos que cada série absolutamente convergente em E seja con-
vergente. Para provar que E é completo, seja (xn ) uma sequência de Cauchy
em E. Então existe uma sequência estritamente crescente (nj ) ⊂ N tal que

xn − xm  ≤ 2−j para todo n, m ≥ nj .

Em particular

 ∞

xnj+1 − xnj  ≤ 2−j = 1.
j=1 j=1
∞
Logo a série j=1 (xnj+1 − xnj ) é convergente em E. Como

k

xn1 + (xnj+1 − xnj ) = xnk+1 ,
j=1

concluimos que a sequência (xnk ) converge em E. Assim (xn ) é uma sequência


de Cauchy em E, que admite uma subsequência convergente. Segue que (xn ) é
convergente.
5.7. Teorema. Lp (X, Σ, µ) é um espaço de Banach sempre que 1 ≤ p < ∞.

∞
Demonstração. Para provar que Lp (X, Σ, µ) é completo, seja n=1 [fn ]
uma série absolutamente convergente em Lp (X, Σ, µ), ou seja

 ∞

[fn ] = fn  < ∞.
n=1 n=1

15
Seja g : X → [0, ∞] definida por

 n

g(x) = |fn (x)| = lim |fj (x)|.
n→∞
n=1 j=1

Pelo teorema da convergência monôtona,


⎛ ⎞p
  n
g p dµ = lim ⎝ |fj |⎠ .
X n→∞ X j=1

Pela desigualdade de Minkowski,


 1/p n
 n
 ∞

g p dµ = lim  |fj |p ≤ lim fj p = fj p < ∞.
X n→∞ n→∞
j=1 j=1 j=1

Assim g ∈ Lp (X, Σ, µ), e g(x) < ∞ quase sempre. Seja

N = {x ∈ X : g(x) = ∞},

e seja f : X → K definida por




f (x) = fj (x) se x ∈ X \ N, f (x) = 0 se x ∈ N.
j=1

É claro que |f (x)| ≤ g(x) para todo x ∈ X. Como g ∈ Lp (X, Σ, µ), segue que
f ∈ Lp (X, Σ, µ). Como
n

|f (x) − fj (x)| ≤ 2g(x)
j=1

para todo x ∈ X e n ∈ N, o teorema da convergência dominada garante que


n

lim |f − fj |p dµ = 0.
n→∞
j=1

Logo
n

lim [f ] − [fj ]p = 0.
n→∞
j=1

Os elementos do espaço Lp (X, Σ, µ) são classes de equivalência de funções.


Mas na prática vamos considerar os elementos de Lp (X, Σ, µ) como funções,
mas lembrando de identificar duas funções que coincidem quase sempre.

16
5.8. Exemplo. Seja L∞ (X, Σ, µ) o espaço vetorial de todas as funções
f : X → K que são limitadas quase sempre, ou seja, existe c > 0 tal que
|f (x)| ≤ c quase sempre. Para cada f ∈ L∞ (X, Σ, µ), definimos

f ∞ = inf{c > 0 : |f (x)| ≤ c quase sempre}.

É fácil verificar que


|f (x)| ≤ f ∞ quase sempre.
É fácil verificar que a função .∞ tem as seguintes propriedades:
(a) f ∞ ≤ 0;
(b) f ∞ = 0 se e só se f (x) = 0 quase sempre;
(c) λf ∞ = |λ|f ∞ ;
(d) f + g∞ ≤ f ∞ + g∞ .
A função .∞ verifica quase todas as propriedades de uma norma. Só
não verifica a propriedade (b) da definição de norma. Para obter uma norma,
vamos introduzir uma relação de equivalência em L∞ (X, Σ, µ), como no caso de
Lp (X, Σ, µ). Dadas f, g ∈ L∞ (X, Σ, µ), definimos f ∼ g se f (x) = g(x) quase
sempre. Esta é uma relação de equivalência em L∞ (X, Σ, µ). Seja L∞ (X, Σ, µ)
o conjunto das classes de equivalência. Dadas [f ], [g] ∈ L∞ (X, Σ, µ) e λ ∈ K,
definimos
[f ] + [g] = [f + g], λ[f ] = [λf ].
Estas operações estão bem definidas. Com estas operações L∞ (X, Σ, µ) é um
espaço vetorial, e a aplicação quociente

π : f ∈ L∞ (X, Σ, µ) → [f ] ∈ L∞ (X, Σ, µ)

é linear. Se definimos
[f ]∞ = f ∞
para cada [f ] ∈ L∞ (X, Σ, µ), esta função está bem definida, e é uma norma em
L∞ (X, Σ, µ).
5.9. Proposição. L∞ (X, Σ, µ) é um espaço de Banach.
Demonstração. Para provar que L∞ (X, Σ, µ) é completo, seja ([fn ]) uma
sequência de Cauchy em L∞ (X, Σ, µ). É fácil achar N ∈ Σ, com µ(N ) = 0, tal
que
|fn (x)| ≤ fn ∞ para todo x ∈ X \ N, n ∈ N;
|fm (x) − fn (x)| ≤ fm − fn ∞ para todo x ∈ E \ N, m, n ∈ N.
Isto prova que (fn ) é uma sequência de Cauchy em B(X \ N ). Como B(X \ N )
é um espaço de Banach, segue que (fn ) converge uniformemente em X \ N .
Definamos

f (x) = lim fn (x) se x ∈ X \ N, f (x) = 0 se x ∈ N.


n→∞

17
Então f ∈ L∞ (X, Σ, µ) e
[fn ] − [f ]∞ = fn − f ∞ → 0.
Os elementos do espaço L∞ (X, Σ, µ) são classes de equivalência de funções.
Mas na prática vamos considerar os elementos de L∞ (X, Σ, µ) como funções,
mas lembrando de identificar as funções que coincidem quase sempre.

Exercı́cios
5.A. Seja (X, Σ, µ) um espaço de medida finita, e sejam 1 ≤ p ≤ q < ∞.
(a) Prove que Lq (X, Σ, µ) ⊂ Lp (X, Σ, µ), e a inclusão é contı́nua.
(b) Prove que L∞ (X, Σ, µ) ⊂ Lq (X, σ, µ), e a inclusão é contı́nua.
Sugestão: Para provar (a), considere uma função f ∈ Lq (X, Σ, µ), e aplique
a desigualdade de Hölder às funções
φ = |f |p ∈ L pq (X, Σ, µ), ψ = 1 ∈ L q−p
q (X, Σ, µ).

5.B. Use o teorema de aproximação de Weierstrass para provar que o espaço


C[a, b] é separável.
5.C. Seja X um espaço topológico. Diremos que uma função f ∈ C(X)
se anula no infinito se para cada  > 0 existe um compacto K ⊂ X tal que
|f (x)| <  para todo x ∈ X \ K. Seja C0 (X) o espaço vetorial de todas as
f ∈ C(X) que se anulam no infinito. Prove que C0 (X) é um subespaço fechado
de Cb (X), e é portanto um espaço de Banach.
5.D. Use o teorema de aproximação de Weierstrass para provar que o espaço
C0 (R) é separável.
5.E. Use o fato que C[a, b] é um subespaço denso de Lp [a, b], para provar
que Lp [a, b] é separável sempre que 1 ≤ p < ∞.
5.F. Seja U um aberto de C, e seja H∞ (U ) o espaço vetorial de todas as
funções f : U → C que são holomorfas e limitadas. Prove que H∞ (U ) é um
subespaço fechado de Cb (U ), e é portanto um espaço de Banach.
5.G. Dada uma função f : [a, b] → K, a variação total de f é definida por
n

V (f ) = sup |f (bj ) − f (aj )|,
j=1

onde o supremo é tomado sobre todos os aj , bj tais que


a ≤ a1 ≤ b1 ≤ a2 ≤ b2 ≤ ... ≤ an ≤ bn ≤ b.
Diremos que f tem variação limitada se V (f ) < ∞. Se f for crescente, ou
decrescente, prove que f tem variação limitada.

18
5.H. Seja BV [a, b] o espaço vetorial de todas as funções f : [a, b] → K de
variação limitada. Prove que BV [a, b] é um espaço de Banach sob a norma

f  = V (f ) + |f (a)|.

19
6. Espaços normados de dimensão finita
6.1. Teorema. Todos os espaços normados de dimensão n sobre K são
topologicamente isomorfos entre si.
Demonstração. Seja E um espaço normado de dimensão n sobre K.
Provaremos que E é topologicamente isomorfo a Kn2 .
Seja (e1 , ..., en ) uma base de E. Seja T : Kn2 → E definida por
n

Tx = ξj ej para todo x = (ξ1 , ..., ξn ) ∈ Kn2 .
j=1

É claro que T é bijetiva. Segue da desigualdade de Cauchy-Schwarz que


⎛ ⎞1/2
n n
T x ≤ |ξj |ej  ≤ ⎝ ej 2 ⎠ x,
j=1 j=1

e portanto T é contı́nua. Para provar que T −1 é contı́nuo, consideremos a esfera


unitária S de Kn2 :
n

S = {x = (ξ1 , ..., ξn ) ∈ Kn2 : |ξj |2 = 1}.
j=1

Pelo teorema de Bolzano-Weierstrass, S é um subconjunto compacto de Kn2 . É


claro que T x > 0 para todo x ∈ S. Logo existe c > 0 tal que T x ≥ c para
todo x ∈ S, e portanto
T x ≥ cx para todo x ∈ Kn2 .
Logo T : Kn2 → E é um isomorfismo topológico.
6.2. Corolário. Cada espaço normado de dimensão finita é completo.
6.3. Corolário. Cada subespaço de dimensão finita de um espaço normado
é fechado.
6.4. Corolário. Cada espaço normado de dimensão finita é localmente
compacto.
O recı́proco deste corolário é verdadeiro.
6.5. Teorema de Riesz. Cada espaço normado localmente compacto tem
dimensão finita.
Para provar este teorema precisamos do lema seguinte.
6.6. Lema de Riesz. Seja E um espaço normado, e seja M um subespaço
fechado próprio de E. Dado θ, com 0 < θ < 1, existe y ∈ SE tal que
y − x ≥ θ para todo x ∈ M.

20
Demonstração. Seja y0 ∈ E \ M , e seja

d = d(y0 , M ) = inf{y0 − x : x ∈ M }.

Como M é fechado, d > 0. Seja x0 ∈ M tal que


d
y0 − x0  ≤ .
θ
Seja
y0 − x0
y= .
y0 − x0 
É claro que y ∈ SE . Para cada x ∈ M temos:
y0 − x0 − y0 − x0 x d
y − x = ≥ ≥ θ.
y0 − x0  y0 − x0 
Demonstração do teorema de Riesz. Seja E um espaço normado de
dimensão infinita, seja x1 ∈ SE , e seja M1 = [x1 ], o subespaço de E gerado por
x1 . Pelo lema de Riesz existe x2 ∈ SE tal que

x2 − x ≥ 1/2 para todo x ∈ M1 .

Em particular
x2 − x1  ≥ 1/2.
Seja M2 = [x1 , x2 ], o subespaço de E gerado por x1 e x2 . Pelo lema de Riesz
existe x3 ∈ SE tal que

x3 − x ≥ 1/2 para todo x ∈ M2 .

Em particular
x3 − xj  ≥ 1/2 para j = 1, 2.
Procedendo por indução podemos achar uma sequência (xn ) ⊂ SE tal que

xm − xn  ≥ 1/2 sempre que m = n.

Logo a sequência (xn ) não admite nenhuma subseqüência convergente. Logo


a esfera SE não é compacta. Logo a bola B E não é compacta. Logo a bola
B E (0; r) não é compacta para nenhum r > 0. Logo E não é localmente com-
pacto.
6.7. Exemplo. A conclusão do lema de Riesz não é verdadeira com θ = 1,
como mostra o exemplo seguinte. Sejam

E = {f ∈ C[0, 1] : f (0) = 0},


 1
M = {f ∈ E : f (t)dt = 0}.
0

21
Suponhamos que exista g ∈ SE tal que g − f  ≥ 1 para todo f ∈ M . Dado
h ∈ E \ M , seja
1
g(t)dt
λ =  01 .
0
h(t)dt
Segue que g − λh ∈ M , e portanto

1 ≤ g − (g − λh) = |λ|h,

ou seja 1
| g(t)dt|
1 ≤  01 h.
| 0 h(t)dt|
Consideremos a sequência de funções hn (t) = t1/n . Então hn ∈ E \M , hn  = 1
e  1
1
hn (t)dt = 1 → 1.
0 n +1
Segue que  1
1≤| g(t)dt|.
0
1
Mas como g = 1 e g(0) = 0, a continuidade de g em 0 implica que | 0 g(t)dt| <
1, contradição. Logo não existe g ∈ SE tal que g − f  ≥ 1 para todo f ∈ M .

Exercı́cios
6.A. Seja E um espaço normado de dimensão finita, e seja M um subespaço
próprio de E. Prove que existe y ∈ SE tal que y − x ≥ 1 para todo x ∈ M .

22
7. Completamento de espaços normados
7.1. Proposição. Sejam E e F espaços normados, seja M um subespaço
denso de E, e seja T ∈ L(M ; F ). Então existe um único T̃ ∈ L(E; F ) tal que
T̃ |M = T . Tem-se que T̃  = T .
Demonstração. Dado x ∈ E, seja (xn ) uma sequência em M que converge
a x. Como
T xm − T xn  ≤ T xm − xn ,
e F é completo, segue que a sequência (T xn ) converge em F . Se definimos

T̃ x = lim T xn ,
n→∞

é fácil ver que T̃ x está bem definido, ou seja, depende apenas de x, e não da
sequência (xn ) escolhida. Além disso, T̃ : E → F é linear e T̃ x = T x para todo
x ∈ M . É fácil verificar que T̃  = T . A unicidade de T̃ segue da densidade
de M em E.
7.2. Teorema. Dado um espaço normado E, sempre existe um espaço de
Banach F tal que E é isometricamente isomorfo a um subespaço denso F0 de
F . O espaço F é único, a menos de um isomorfismo isométrico.
Demonstração. Seja C o espaço vetorial de todas as sequências de Cauchy
X = (xn ) em E. Como

|xm  − xn | ≤ xm − xn  para todo m, n,

segue que (xn ) é uma sequência de Cauchy em R para cada X = (xn ) ∈ C.


É fácil ver que a função
X = lim xn 
n→∞

tem as propriedades seguintes:


(a) X ≥ 0;
(b) X = 0 se e só se limn→∞ xn  = 0;
(c) λX = |λ|X;
(d) X + Y  ≤ X|| + Y .
A função X ∈ C → X ∈ R tem quase todas as propriedaes de uma norma.
Para obter uma norma, vamos introduzir uma relação de equivalência em C da
maneira seguinte. Dadas X = (xn ) e Y = (yn ) em C, definimos

X ∼ Y se lim xn − yn || = 0.
n→∞

Seja F o conjunto das classes de equivalência. Se definimos

[X] + [Y ] = [X + Y ], λ[X] = [λX],

23
então é fácil verificar que estas operações estão bem definidas, e que F , com
estas operações, é um espaço vetorial. Além disso a aplicação quociente

π : X ∈ C → [X] ∈ F

é linear. É fácil ver que a função [X] = X está bem definida, e é uma
norma em F . Seja

F0 = {[X] ∈ F : X = (x, x, x, ...), com x ∈ E}.

É claro que F0 é um subespaço de F , e que E é isometricamente isomorfo a F0 .


Para provar que F0 é denso em F , sejam [X] ∈ F e  > 0 dados. Se X = (xn ),
então existe n0 ∈ N tal que

xm − xn  <  para todo m, n ≥ n0 .

Seja Y = (xn0 , xn0 , xn0 , ...). Então [Y ] ∈ F0 e

[X] − [Y ] = X − Y  = lim xn − xn0  ≤ .


n→∞

Para provar que F é completo, seja ([Xn ]) uma sequência de Cauchy em F .


Como F0 é denso em F , para cada n existe [Yn ] ∈ F0 tal que

[Xn ] − [Yn ] < 1/n.

Podemos supor que Yn = (yn , yn , yn , ...), com yn ∈ E, para cada n. Como

ym − yn  = [Ym ] − [Yn ]

≤ [Ym ] − [Xm ] + [Xm ] − [Xn ] + [Xn ] − [Yn ]


1 1
≤ + [Xm ] − [Xn ] + ,
m n
segue que Y = (yn ) é uma sequência de Cauchy em E. Como
1
[Xn ] − [Y ] ≤ [Xn ] − [Yn ] + [Yn ] − [Y ] ≤ + lim yn − ym ,
n m→∞
segue que limn→∞ [Xn ] − [Y ] = 0.
Para provar a unicidade de F , a menos de um isomorfismo isométrico, seja
G um outro espaço de Banach tal que E é isometricamente isomorfo a um
subespaço denso G0 de G. Sejam S ∈ L(E; F0 ) e T ∈ L(T ; G0 ) isomorfismos
isométricos. Então U = T ◦ S −1 ∈ L(F0 ; G0 ) e V = S ◦ T −1 ∈ L(G0 ; F0 )
são também isomorfismos isométricos, V ◦ U = IF0 , e U ◦ V = IG0 . Pela
Proposição 7.1 existe Ũ ∈ L(F ; G) tal que Ũ |F0 = U , e existe Ṽ ∈ L(G; F ) tal
que Ṽ |G0 = V . Segue que Ṽ ◦ Ũ = IF e Ũ ◦ Ṽ = IG . Além disso Ũ e Ṽ são
isomorfismos isométricos.

24
Exercı́cios
n
7.A. Seja P (R) o espaço vetorial de todos os polinômios P (x) = j=0 aj xj ,
com aj ∈ K e n ∈ N.
n
(a) Prove que P  = j=0 |aj | é uma norma em P (R).
(b) Prove que P (R), com esta norma, não é completo.
(c) Prove que o completamento de P (R), com esta norma, é isometricamente
isomorfo a 1 .
7.B. (a) Fixados a < b em R, prove que P  = sup{|P (x)| : a ≤ x ≤ b} é
uma norma em P (R).
(b) Prove que P (R), com esta norma, não é completo.
(c) Prove que o completamento de P (R), com esta norma, é isometricamente
isomorfo a C[a, b].

25
8. Espaço quociente
Seja E um espaço vetorial, e seja M um subespaço de E. Diremos que x, y ∈
E são equivalentes módulo M , e escreveremos x = y(mod(M ), se x − y ∈ M .
É claro que esta é uma relação de equivalência em E. Denotaremos por E/M
o conjunto de todas as classes de equivalência módulo M . Para cada x ∈ E,
denotaremos por [x] a classe de equivalência que contém x. Definamos

[x] + [y] = [x + y], λ[x] = [λx]

para todo [x], [y] ∈ E/M e λ ∈ K. É fácil verificar que estas operações estão
bem definidas, e que E/M , com estas operações, é um espaço vetorial. Além
disso, a aplicação quociente

π : x ∈ E → [x] ∈ E/M

é linear. O espaço vetorial E/M é chamado de espaço quociente de E módulo


M.
8.1. Exemplo. Seja (X, Σ, µ) um espaço de medida, e sejam

E = Lp (X, Σ, µ) (1 ≤ p ≤ ∞),

M = {f ∈ Lp (X, Σ, µ) : f (x) = 0 quase sempre}.


Neste caso o espaço quociente Lp (X, Σ, µ)/M coincide com o espaço Lp (X, Σ, µ)
introduzido na seção 5.
8.2. Exemplo. Seja E um espaço normado, e sejam

C = {(xn ) ⊂ E : (xn ) é sequência de Cauchy},

M = {(xn ) ⊂ E : (xn ) converge a zero}.


Neste caso o espaço quociente C/M coincide com o espaço F introduzido na
seção 7.
8.3. Teorema. Seja M um subespaço fechado de E, e seja

X = inf{x : x ∈ X}

para cada X ∈ E/M . Então:


(a) [x] = x + M e [x] = d(x, M ) para cada x ∈ E.
(b) A função X → X é uma norma em E/M .
(c) π(BE ) = BE/M . Em particular π : E → E/M é contı́nua e aberta.
(d) Se E é completo, então E/M é completo também.
Demonstração. (a) É claro que

[x] = x + M para cada x ∈ E.

26
Como a aplicação t ∈ E → x + t ∈ E é um homeomorfismo, e M é fechado em
E, segue que [x] = x + M é fechado em E para cada x ∈ E. Além disso

[x] = inf{x + t : t ∈ M } = d(x, M ) para cada x ∈ E.

(b) É claro que X ≥ 0 para cada X ∈ E/M . Se [x] = 0, então segue
de (a) que x ∈ M , e portanto x + M = M = [0]. Se λ = 0, então é claro que
λX = |λ|X para todo X ∈ E/M . Se λ = 0, então

λX = inf{y : y ∈ λX} = inf{λx : x ∈ X}

= |λ| inf{x : x ∈ X} = |λ|X.


Dados X, Y ∈ E/M e  > 0, existem x ∈ X e y ∈ Y tais que

x < X + , y < Y  + .

Então x + y ∈ X + Y e

X + Y  ≤ x + y ≤ x + y ≤ X + Y  + 2.

Como  > 0 é arbitrário, segue que

X + Y  ≤ X + Y .

(c) é consequência imediata da definição da norma em E/M .

∞(d) Finalmente provaremos que E/M é completo quando E é completo. Seja


n=1 Xn uma série absolutamente convergente em E/M . Para cada n existe
xn ∈ Xn tal que
xn  < Xn  + 2−n ,
e portanto

 ∞
 ∞

xn  < Xn  + 2−n < ∞.
n=1 n=1 n=1
∞
Assim a série n=1 xn é absolutamente convergente, e portanto convergente,
pois E é completo. Sejam
n
 ∞
 n

sn = xj , s = lim sn = xj , Sn = Xj .
n→∞
j=1 j=1 j=1

Então é claro que sn ∈ Sn para cada n. Como a aplicação∞quociente π : E →


E/M é contı́nua, segue que Sn = [sn ] → [s]. Logo a série j=1 Xj é convergente
em E/M .

Exercı́cios
8.A. Seja E um espaço normado, seja M um subespaço fechado de E, e seja
π : E → E/M a aplicação quociente.

27
(a) Se Xn → 0 em E/M , prove que existe (xn ) ⊂ E tal que π(xn ) = Xn
para cada n, e xn → 0 em E.
(b) Se x ∈ E e Xn → π(x) em E/M , prove que existe (xn ) ⊂ E tal que
π(xn ) = Xn para cada n, e xn → x em E.
8.B. Seja X um espaço de Hausdorff compacto, e seja A um subconjunto
fechado de X. Usando o teorema de extensão de Tietze prove que C(A) é
isometricamente isomorfo a um quociente de C(X).
8.C. Usando o exercı́cio anterior prove que c é isometricamente isomorfo a
um quociente de C[a, b].

28
9. Espaços com produto interno
9.1. Definição. Se E é um espaço vetorial, então uma função (x, y) ∈
E × E → (x|y) ∈ K é chamado de produto interno se verifica as seguintes
propriedades:
(a) (x1 + x2 |y) = (x1 |y) + (x2 |y);
(b) (λx|y) = λ(x|y);
(c) (x|y) = (y|x);
(d) (x|x) ≥ 0;
(e) (x|x) = 0 se e só se x = 0.
9.2. Observação. De (a), (b) e (c) segue que:
(a’) (x|y1 + y2 ) = (x|y1 ) + (x|y2 );
(b’) (x|λy) = λ(x|y).
Assim o produto interno é linear na primeira variável, e linear conjugado na
segunda variável.
9.3. Proposição (desigualdade de Cauchy-Schwarz). Seja E é um
espaço com produto interno. Então

|(x|y)| ≤ xy

para todo x, y ∈ E.
Demonstração. A desigualdade é clara se x = 0 ou y = 0. Logo podemos
supor x = 0 e y = 0. Para todo α ∈ K temos que

0 ≤ (αx + y|αx + y) = αα(x|x) + α(x|y) + α(y|x) + (y|y)

= |α|2 (x|x) + 2Re{α(x|y)} + (y|y).


Escrevamos (x|y) = |(x|y)|eiθ . Tomando α = te−iθ , com t ∈ R, segue que

0 ≤ t2 (x|x) + 2t|(x|y)| + (y|y)

para todo t ∈ R. Segue que ∆ = b2 − 4ac ≤ 0, ou seja

4|(x|y)|2 − 4(x|x)(y|y) ≤ 0,

completando a demonstração.
9.4. Corolário. Seja E um espaço com produto interno. Então a função

x = (x|x)1/2

é uma norma em E.

29
Demonstração. Usando a desigualdade de Cauchy-Schwarz provaremos a
desigualdade triangular. As outras propriedades da norma são de verificação
imediata.

x + y2 = (x + y|x + y) = (x|x) + (x|y) + (y|x) + (y|y)

= x2 + 2Re(x|y) + y2 ≤ x2 + 2xy + y2 = (x + y)2 .

9.5. Definição. Chamaremos de espaço de Hilbert a todo espaço com


produto interno que seja completo na norma definida pelo produto interno.
9.6. Exemplo. Kn2 é um espaço de Hilbert com o produto interno
n

(x|y) = ξj ηj
j=1

se x = (ξ1 , ..., ξn ) e y = (η1 , ..., ηn ).


9.7. Exemplo. 2 é um espaço de Hilbert com o produto interno


(x|y) = ξj ηj
j=1

se x = (ξj ) e y = (ηj ).
9.8. Exemplo. L2 (X, Σ, µ) é um espaço de Hilbert com o produto interno

(f |g) = f gdµ.
X

9.9. Definição. Seja E um espaço com produto interno. Diremos que


x, y ∈ E são ortogonais, e escreveremos x⊥y, se (x|y) = 0.
9.10. Proposição (Teorema de Pitágoras). Seja E um espaço com
produto interno, e sejam x, y ∈ E, com x⊥y. Então

x + y2 = x2 + y2 .

Demonstração.

x + y2 = (x + y|x + y) = (x|x) + (x|y) + (y|x) + (y|y) = x2 + y2 .

9.11. Proposição (Lei do paralelogramo). Seja E um espaço com


produto interno, e sejam x, y ∈ E dois vetores arbitrários. Então:

x + y2 + x − y2 = 2x2 + 2y2 .

30
Demonstração. Temos que

x + y2 = (x + y|x + y) = (x|x) + (x|y) + (y|x) + (y|y),

x − y2 = (x − y|x − y) = (x|x) − (x|y) − (y|x) + (y|y).


Somando estas identidades obtemos a identidade desejada.

Exercı́cios
9.A. Seja E um espaço com produto interno. Se xn → x e yn → y em E,
prove que (xn |yn ) → (x|y) em K. Ou seja a aplicação (x, y) ∈ E × E → (x|y) ∈
K é contı́nua.
9.B. Seja E um espaço com produto interno. Sejam x1 , ..., xn vetores não
nulos, ortogonais entre si, ou seja xj ⊥xk sempre que j = k.
(a) Prove que os vetores x1 , ..., xn são linearmente independentes.
n n
(b) Prove o teorema de Pitágoras generalizado:  j=1 xj 2 = j=1 xj 2 .

9.C. Seja E é um espaço com produto interno real. Prove a fórmula de


polarização
4(x|y) = x + y2 − x − y2
para todo x, y ∈ E.
9.D. Seja E um espaço normado real que verifica a lei do paralelogramo.
Prove que a fórmula de polarização do exercı́cio anterior define um produto
interno em E que induz a norma original.
Sugestão: Para provar a identidade (x1 + x2 |y) = (x1 |y) + (x2 |y), estude as
expressões

u + v + w2 + u + v − w2 e u − v + w2 + u − v + w2 .

9.E. Seja E um espaço com produto interno complexo. Prove a fórmula de


polarização

4(x|y) = (x + y2 − x − y2 ) + i(x + iy2 − x − iy2 )

para todo x, y ∈ E.
9.F. Seja E um espaço normado complexo que verifica a lei do paralelo-
gramo. Prove que a fórmula de polarização do exercı́cio anterior define um
produto interno em E que induz a norma original.

31
10. Projeções ortogonais
10.1. Teorema. Seja E um espaço de Hilbert, e seja M um subespaço
fechado de E. Então para cada x ∈ E existe um único p ∈ M tal que

x − p = d(x, M ) = inf{x − y : y ∈ M }.

Demonstração. Para provar existência, seja d = d(x, M ), e seja (pn ) ⊂ M


tal que
1
(1) x − pn  < d + para cada n.
n
Pela lei do paralelogramo

2x − pm 2 + 2x − pn 2 = 2x − pm − pn 2 + pn − pm 2 .

Segue que
pm + pn 2
pn − pm 2 = 2x − pm 2 + 2x − pn 2 − 4x − 
2
1 2 1 4d 2 4d 2
< 2(d + ) + 2(d + )2 − 4d2 < + 2+ + 2.
m n m m n n
Logo (pn ) é uma sequência de Cauchy em E. Como E é completo, e M é fechado
em E, concluimos que (pn ) converge a um ponto p ∈ M . Fazendo n → ∞ em
(1) obtemos que x − p ≤ d, e portanto x − p = d, como queriamos.
Para provar unicidade, seja q ∈ M tal que x − q = d também. Pela lei do
paralelogramo

2x − p2 + 2x − q2 = 2x − p − q2 + q − p2 .

Segue que
p+q 2
q − p2 = 2x − p2 + 2x − q2 − 4x − 
2
≤ 2d2 + 2d2 − 4d2 = 0,
e portanto q = p.
10.2. Observação. A conclusão do teorema permanece verdadeira se E é
um espaço com produto interno, e M é um subconjunto convexo completo de
E.
Dado qualquer subconjunto S de um espaço com produto interno E, S ⊥
denotará o conjunto

S ⊥ = {y ∈ E : y⊥x para todo x ∈ S}.

É fácil verificar que S ⊥ é sempre um subespaço fechado de E.

32
10.3. Teorema. Seja E um espaço de Hilbert, e seja M um subespaço
fechado de E. Então:
(a) Cada x ∈ E admite uma única decomposição da forma

x = p + q, com p ∈ M e q ∈ M ⊥ .

Tem-se que
x − p = d(x, M ) e x − q = d(x, M ⊥ ).

(b) Se definimos P x = p e Qx = q para cada x ∈ E, então P, Q ∈ L(E; E),


P 2 = P , Q2 = Q e Q ◦ P = P ◦ Q = 0.
Demonstração. (a) Dado x ∈ E, seja p o único elemento de M tal que
x − p = d(x, M ), e seja q = x − p. Provaremos que q ∈ M ⊥ e que x − q =
d(x, M ⊥ ).
Para provar que q ∈ M ⊥ , seja y ∈ M . Para cada λ ∈ K temos que

q = x − p ≤ x − p − λy = q − λy.

Segue que
q2 ≤ q − λy2 = (q − λy|q − λy)
= (q|q) − λ(y|q) − λ(q|y) + λλ(y|y)
= q2 − 2Re{λ(y|q)} + |λ|2 y2 .
Escrevamos (y|q) = |(y|q)|eiθ . Então, fazendo λ = te−iθ , com t ∈ R, segue que

2t|(y|q)| ≤ t2 y2 para todo t ∈ R.

Logo
2|(y|q)| ≤ ty2 para todo t > 0.
Fazendo t → 0, segue que (y|q)| = 0, e portanto q ∈ M ⊥ .
Para provar que x − q = d(x, M ⊥ ), tomemos z ∈ M ⊥ . Como x = p + q,
segue que
x − z = p + (q − z), com p ∈ M, q − z ∈ M ⊥ .
Pelo teorema de Pitǵoras

x − z2 = p2 + q − z2 ≥ p2 = x − q2 .

Segue que
d(x, M ⊥ ) = inf{x − z : z ∈ M ⊥ } = x − q.
Para provar a unicidade da decomposição, suponhamos que

x = p1 + q1 , com p1 ∈ M, q1 ∈ M ⊥ .

Como x = p + q, segue que

p − p1 = q 1 − q ∈ M ∩ M ⊥ .

33
Mas h ∈ M ∩ M ⊥ implica que (h|h) = 0, e portanto h = 0. Segue que p = p1 e
q = q1 .
(b) Segue da unicidade da decomposição em (a) que as aplicações P : E → E
e Q : E → E são lineares. Para cada x ∈ E temos que

(2) x = P x + Qx, com P x ∈ M, Qx ∈ M ⊥ .

Pelo teorema de Pitágoras

x2 = P x2 + Qx2

para todo x ∈ E. Segue que P  ≤ 1 e Q ≤ 1.


Escrevamos
P x = P x + 0 ∈ M + M ⊥.
Segue da unicidade da decomposição em (2) que

P (P x) = P x, Q(P x) = 0.

De maneira análoga, escrevendo

Qx = 0 + Qx ∈ M + M ⊥ ,

segue que
P (Qx) = 0, Q(Qx) = Qx,
completando a demonstração.
10.4. Observação. As conclusões do teorema permanecem verdadeiras se
E é um espaço com produto interno, e M é um subespaço completo de E.
Seja E um espaço com produto interno, e seja y0 ∈ E. Se definimos φ : E →
K por
φ(x) = (x|y0 ) para todo x ∈ E,
então é fácil verificar que φ é linear. Além disso, pela desigualdade de Cauchy-
Schwarz,
|φ(x)| = |(x|y0 )| ≤ xy0 ,
provando que φ é contı́nuo e que φ ≤ y0 . De fato, como

φ(y0 ) = (y0 |y0 ) = y0 2 ,

segue que φ = y0 . O próximo teorema mostra que, quando E é um espaço
de Hilbert, então todos os funcionais lineares contı́nuos em E são desta forma.
10.5. Teorema de representação de Riesz. Seja E um espaço de
Hilbert, e seja φ ∈ E  . Então existe um único y0 ∈ E tal que

(3) φ(x) = (x|y0 ) para todo x ∈ E.

34
Demonstração. Primeiro provaremos existência. Se φ = 0, basta tomar
y0 = 0. Se φ = 0, seja

M = φ−1 (0) = {x ∈ E : φ(x) = 0}.

Então M é um subespaço fechado próprio de E, e dai M ⊥ = {0}. Como


M ⊥ = {0} e M ∩ M ⊥ = {0}, existe x0 ∈ M ⊥ tal que φ(x0 ) = 1. Então cada
x ∈ E admite uma decomposição da forma

(4) x = (x − φ(x)x0 ) + φ(x)x0 , com x − φ(x)x0 ∈ M, φ(x)x0 ∈ M ⊥ .

Da unicidade desta decomposição segue que dimM ⊥ = 1.


Procuramos y0 ∈ E que verifique (3). Escrevamos y0 = p0 + q0 , com p0 ∈ M
e q0 ∈ M ⊥ . Em particular devemos ter

0 = φ(p0 ) = (p0 |y0 ) = (p0 |p0 ) + (p0 |q0 ) = (p0 |p0 ).

Logo p0 = 0, e portanto y0 = q0 ∈ M ⊥ . Escrevamos y0 = λx0 , onde λ será


escolhido de maneira que
φ(x0 ) = (x0 |y0 ),
ou seja
1 = φ(x0 ) = (x0 |λx0 ) = λx0 2 .
Assim basta tomar λ = x0 −2 . Da decomposição (4) segue que

(x|y0 ) = φ(x)(x0 |y0 ) = φ(x)φ(x0 ) = φ(x),

e y0 verifica (3).
Para provar unicidade, suponhamos que exista y1 ∈ E tal que

(5) φ(x) = (x|y1 ) para todo x ∈ E.

De (3) e (5) segue que (x|y0 − y1 ) = 0 para todo x ∈ E. Em particular


(y0 − y1 |y0 − y1 ) = 0 e y0 = y1 .

Exercı́cios
10.A. Seja E um espaço de Hilbert, e sejam M e N dois subespaços fechados
de E tais que x⊥y sempre que x ∈ M e y ∈ N . Seja

M + N = {x + y : x ∈ M, y ∈ N }.

Prove que M + N é um subespaço fechado de E.


10.B. Seja E um espaço de Hilbert. Seja M um subespaço fechado de E,
e seja P a projeção ortogonal de E sobre M . Prove que (P x|y) = (x|P y) para
todo x, y ∈ E.

35
10.C. Seja E um espaço de Hilbert, e seja P ∈ L(E; E) tal que P 2 = P e
(P x|y) = (x|P y) para todo x, y ∈ E.
(a) Prove que P (E) é um subespaço fechado de E.
(b) Prove que P é a projeção ortogonal de E sobre P (E).
10.D. Seja E um espaço de Hilbert. Seja M0 um subespaço fechado de E,
e seja φ0 ∈ M0 . Prove que existe φ ∈ E  tal que:
(a) φ(x) = φ0 (x) para todo x ∈ M0 ;
(b) φ = φ0 .

36
11. O teorema de Hahn-Banach
O teorema seguinte generaliza o Exercı́cio 10.D.
11.1. Teorema de Hahn-Banach. Seja E um espaço normado, e seja
M0 um subespaço de E. Então, para cada φ0 ∈ M0 , existe φ ∈ E  tal que:
(a) φ(x) = φ0 (x) para todo x ∈ M0 ;
(b) φ = φ0 .
Para provar este teorema, vamos utilizar o lemma seguinte.
11.2. Lema. Seja E um espaço normado real, seja M um subespaço próprio
de E, seja y0 ∈ E \ M , e seja N = M ⊕ [y0 ]. Então, para cada φ ∈ M  , existe
ψ ∈ N  tal que:
(a) ψ(x) = φ(x) para todo x ∈ M ;
(b) ψ = φ.
Demonstração. Temos que

|φ(x)| ≤ φx para todo x ∈ M,

ou seja
(1) − φx ≤ φ(x) ≤ φx para todo x ∈ M.
Como y0 ∈ M , cada z ∈ N pode ser escrito de maneira única na forma

z = x + λy0 com x ∈ M, λ ∈ R.

Vamos definir ψ : N → R por

ψ(z) = φ(x) + λη0 ,

onde η0 é um número real independente de z, que será escolhido depois.


É claro que ψ é linear e verifica (a). Para provar (b), basta provar que

|ψ(z)| ≤ φz para todo z ∈ N,

ou seja

−φx + λy0  ≤ φ(x) + λη0 ≤ φx + λy0  para todo x ∈ M, λ ∈ R,

ou ainda

(2) −φ(x)−φx+λy0  ≤ λη0 ≤ −φ(x)+φx+λy0  para todo x ∈ M, λ ∈ R.

Fazendo λ = 1 em (2) obtemos

(3) − φ(x) − φx + y0  ≤ η0 ≤ −φ(x) + φx + y0  para todo x ∈ M,

e portanto (2) implica (3). Vamos provar que de fato (2) e (3) são equivalentes.
De fato, se λ = 0, então (2) segue de (1). Se λ > 0, então, aplicando (3) com

37
x/λ em lugar de x, e multiplicando por λ, obtemos (2). Finalmente, se λ < 0,
então, aplicando (3) com x/λ em lugar de x, e multiplicando por λ, obtemos
(2).
Afirmamos que

(4) sup (−φ(x) − φx + y0 ) ≤ inf (−φ(x) + φx + y0 ).


x∈M x∈M

Para provar (4) basta provar que

(5) − φ(x1 ) − φx1 + y0  ≤ −φ(x2 ) + φx2 + y0  para todo x1 , x2 ∈ M.

De fato
φ(x2 ) − φ(x1 ) = φ(x2 − x1 ) ≤ φx2 − x1 
≤ φ(x2 + y0 ) − (x1 + y0  ≤ φx2 + y0  + φx1 + y0 ,
e (5) segue. Seja η0 ∈ R tal que

sup (−φ(x) − φx + y0 ) ≤ η0 ≤ inf (−φ(x) + φx + y0 ).


x∈M x∈M

Com esta escolha de η0 , (3) e portanto (2) são verificadas. Logo ψ verifica (b).
Demonstração do teorema de Hahn-Banach para espaços norma-
dos reais. Seja P a famı́lia de todos os pares (M, φ) tais que:
(i) M é um subespaço de E contendo M0 ;
(ii) φ ∈ M  , φ|M0 = φ0 , φ = φ0 .
Dados (M1 , φ1 ), (M2 , φ2 ) ∈ P, definimos

(M1 , φ1 ) ≤ (M2 , φ2 ) se M1 ⊂ M2 e φ1 = φ2 |M1 .

É fácil ver que esta é uma relação de ordem parcial em P.


Seja {(Mi , φi ) : i ∈ I} uma cadéia em P. Seja M = ∪i∈I Mi , e seja φ : M →
R definido por φ(x) = φi (x) se x ∈ Mi . É fácil ver que φ está bem definido,
que (M, φ) ∈ P e que (M, φ) é uma cota superior da cadéia {(Mi , φi ) : i ∈ I}.
Pelo lema de Zorn P possui um elemento maximal (M, φ). Para completar
a demonstração basta provar que M = E. Suponhamos que M = E, seja
y0 ∈ E \ M , e seja N = M ⊕ [y0 ]. Pelo Lema 11.2 existe ψ ∈ N  tal que
ψ|M = φ e ψ = φ. Então (N, ψ) ∈ P e (M, φ) não seria maximal. Isto
prova que M = E, como queriamos.
Para provar o teorema de Hahn-Banach no caso de espaços normados com-
plexos, vamos utilizar o lema seguinte.
11.3. Lema. Seja E um espaço vetorial complexo, e seja ER o espaço
vetorial real associado.
(a) Cada φ ∈ E ∗ admite uma única representação da forma

(6) φ(x) = u(x) − iu(ix) para todo x ∈ E,

38
com u ∈ (ER )∗ .
(b) Dado u ∈ (ER )∗ , a fórmula (6) define um φ ∈ E ∗ .
Demonstração. (a) Seja φ ∈ E ∗ . Para cada x ∈ E, podemos escrever de
maneira única
φ(x) = u(x) + iv(x),
com u(x), v(x) ∈ R. Como φ ∈ (ER )∗ , é fácil verificar que u, v ∈ (ER )∗ .
Notemos que
iφ(x) = φ(ix) = u(ix) + iv(ix),
e portanto
φ(x) = −iu(ix) + v(ix).
Segue que
u(x) = v(ix), v(x) = −u(ix),
e portanto
φ(x) = u(x) − iu(ix).
(b) Seja u ∈ (ER ) , e seja φ : E → C definida por (6). Como u ∈ (ER )∗ , é

fácil verificar que


φ(x + y) = φ(x) + φ(y)
e
(7) φ(λx) = λφ(x) para todo x, y ∈ E, λ ∈ R.
Por outro lado

(8) φ(ix) = u(ix) + iu(x) = iφ(x) para todo x ∈ E.

De (7) e (8) segue que

φ(λx) = λφ(x) para todo x ∈ E, λ ∈ C.

Logo φ ∈ E ∗ .
Demonstração do teorema de Hahn-Banach para espaços norma-
dos complexos. Seja φ0 ∈ M0 . Pelo lema anterior podemos escrever

φ0 (x) = u0 (x) − iu0 (ix) para todo x ∈ M0 ,

com u0 ∈ ((M0 )R )∗ . Como

|u0 (x)| ≤ |φ0 (x)| ≤ φ0 x para todo x ∈ M0 ,

segue que u0  ≤ φ0 . Pelo teorema de Hahn-Banach para espaços normados
reais, existe u ∈ (ER ) tal que
(a) u(x) = u0 (x) para todo x ∈ M0 ;
(b) u = u0 .
Definamos φ : E → C por

φ(x) = u(x) − iu(ix) para todo x ∈ E.

39
Pelo lema anterior φ ∈ E ∗ , e segue de (a) que
(c) φ(x) = φ0 (x) para todo x ∈ M0 .
Para provar que φ = φ0 , fixemos x ∈ E e escrevamos

φ(x) = reiθ , com r ≥ 0.

Então
φ(e−iθ x) = e−iθ φ(x) = r ∈ R,
e portanto
φ(e−iθ x) = u(e−iθ x).
Logo
|φ(e−iθ x)| = |u(e−iθ x)| ≤ ue−iθ x.
Segue que
|φ(x)| ≤ ux = u0 x ≤ φ0 x,
e portanto φ ≤ φ0 . Como a desigualdade oposta segue de (c), a demon-
stração está completa.

Exercı́cios
11.A. Seja E um espaço normado, seja M0 um subespaço de E, e seja
T0 ∈ L(M0 ; ∞ ). Prove que existe T ∈ L(E; ∞ ) tal que:
(a) T x = T0 x para todo x ∈ M0 ;
(b) T  = T0 .

40
12. Consequências do teorema de Hahn-Banach
12.1. Proposição. Dado x0 ∈ E, x0 = 0, sempre existe φ ∈ E  tal que
φ = 1 e φ(x0 ) = x0 .
Demonstração. Seja M0 = [x0 ] o subespaço de E gerado por x0 , e seja
φ0 ∈ M0 definido por φ0 (λx0 ) = λx0  para todo λ ∈ K. É fácil ver que
φ0 é linear e que φ0  = 1. Pelo teorema de Hahn-Banach existe φ ∈ E  tal
que φ = φ0  e φ(x) = φ0 (x) para todo x ∈ M0 . Segue que φ = 1 e
φ(x0 ) = x0 .
12.2. Corolário. Se E = {0}, então E  = {0}.
12.3. Corolário. Se E = {0}, então para cada x ∈ E tem-se que:

x = sup{|φ(x)| : φ ∈ E  , φ = 1}.

12.4. Proposição. Seja M um subespaço fechado de E, seja y0 ∈ E \ M ,


e seja d = d(y0 , M ). Então existe φ ∈ E  tal que φ = 1, φ(y0 ) = d e φ(x) = 0
para todo x ∈ M .
Primeira demonstração. Seja N = M + [y0 ]. Então cada z ∈ N pode ser
escrito de maneira única como

z = x + λy0 , com x ∈ M, λ ∈ K.

Seja φ0 ∈ N  definido por

φ0 (x + λy0 ) = λd para todox ∈ M, λ ∈ K.

É claro que φ0 é linear, φ0 (x0 ) = d e φ0 (x) = 0 para todo x ∈ M . Provaremos


que φ0  = 1. Se λ = 0, então
x
x + λy0  = |λ| + y0  ≥ |λ|d.
λ
Como a desigualdade anterior é claramente verdadeira se λ = 0, segue que
φ0  ≤ 1. Por outro lado, dado  > 0, existe x0 ∈ M tal que y0 − x0  < d + .
Seja
y0 − x0
z0 = .
y0 − x0 
Então z0 ∈ N , z0  = 1 e
d d
φ0 (z0 ) = > .
y0 − x0  d+

Como  > 0 é arbitrário, segue que φ0  = 1, como queriamos. Pelo teorema
de Hahn-Banach existe φ ∈ E  tal que φ = φ0  e φ(z) = φ0 (z) para todo
z ∈ N . Segue que φ = 1, φ(y0 ) = d e φ(x) = 0 para todo x ∈ M .

41
Segunda demonstração. Seja E/M o espaço quociente, e seja π : E →
E/M a aplicação quociente. Como y0 ∈ / M , segue que π(y0 ) = 0. Pela
Proposição 12.1 existe ψ ∈ (E/M ) tal que ψ = 1 e ψ(π(y0 )) = π(y0 ).
Sabemos que
π(y0 ) = d(y0 , M ) = d e π(BE ) = BE/M .

Seja φ = ψ ◦ π. É claro que φ ∈ E  , φ(y0 ) = d e φ(x) = 0 para todo x ∈ M .


Além disso
φ = sup{|φ(x)| : x ∈ BE } = sup{|ψ ◦ π(x)| : x ∈ BE }
= sup{|ψ(y)| : y ∈ BE/M } = ψ = 1.

12.5. Proposição. Se E  é separável, então E é separável também.


Demonstração. Como E  é separável, a esfera unitária SE  é separável
também. Seja {φn : n ∈ N} um subconjunto denso enumerável de SE  . Para
cada n existe xn ∈ SE tal que |φn (xn )| ≥ 12 . Seja M = [xn : n ∈ N] o subespaço
de E gerado por {xn : n ∈ N}. Para completar a demonstração basta provar
que M é denso em E.
Suponhamos que M = E, e seja y0 ∈ E \ M . Pela proposição anterior existe
φ ∈ SE  tal que φ(y0 ) = 0 e φ(x) = 0 para todo x ∈ M . Segue que
1
≤ |φn (xn )| ≤ |φn (xn ) − φ(xn )| ≤ φn − φxn  = φn − φ
2
para todo n. Isto é absurdo, pois {φn : n ∈ N} é denso em SE  .
12.6. Observação. A recı́proca da proposição anterior não é verdadeira.
Logo veremos que 1 é isometricamente isomorfo a ∞ . E já sabemos que 1 é
separável, mas ∞ não é separável.
12.7. Proposição. Cada espaço normado separável é isometricamente
isomorfo a um subespaço de ∞ .
Demonstração. Seja E um espaço normado separável, e seja {xn : n ∈ N}
um subconjunto enumerável denso de E. Pelo teorema de Hahn-Banach existe
{φn : n ∈ N} ⊂ SE  tal que φn (xn ) = xn  para cada n. Seja T ∈ L(E; ∞ )
definido por T x = (φn (x))∞n=1 para cada x ∈ E. Como φn  = 1 para cada n,
segue que T x ≤ x para cada x ∈ E. E como φn (xn ) = xn  para cada n,
segue que T xn  = xn  para cada n. Como {xn : n ∈ N} é denso em E, segue
que T x = x para cada x ∈ E.

Exercı́cios
12.A. Seja E um espaço normado, seja M um subespaço de E, e seja
M ⊥ = {φ ∈ E  : φ(x) = 0 para todo x ∈ M }.

42
(a) Prove que M ⊥ é um subespaço fechado de E  .
(b) Prove que M  é isometricamente isomorfo a E  /M ⊥ .
12.B. Seja E um espaço normado, e seja M um subespaço fechado de E.
Prove que (E/M ) é isometricamente isomorfo a M ⊥ .
12.C. Seja E um espaço normado separável de dimensão infinita.
(a) Prove que existe uma seqüência estritamente
∞ crescente (Mn )∞
n=1 de sube-
spaços de E de dimensão finita tal que n=1 Mn é um subespaço denso de E.
(b) Prove que existe uma seqüência (φn )∞ 
n=1 ⊂ E tal que φn  = 1 para
cada n ∈ N e limn→∞ φn (x) = 0 para cada x ∈ E.

43
13. O dual de p
13.1. Teorema. Se 1 ≤ p < ∞, então o dual de p é isometricamente
isomorfo a q , onde 1 < q ≤ ∞, p1 + 1q = 1.

Demonstração. Dado y = (ηj )∞


j=1 ∈ q , definamos φy : p → K por



φy (x) = ξj ηj para cada x = (ξj )∞
j=1 ∈ p .
j=1

Pela desigualdade de Hölder,




|φy (x)| ≤ |ξj ηj | ≤ xp yq .
j=1

Segue que φy ∈ p e φy  ≤ yq .


Reciprocamente provaremos que, dado φ ∈ p , existe y ∈ q tal que φy = φ e
y ≤ φ. Para cada n ∈ N seja en = (0, ..., 1, 0, 0, ...), com 1 no lugar n-ésimo.
É claro que en ∈ p e que en  = 1 para cada n. Se x = (ξj )∞ j=1 ∈ p , então

⎛ ⎞1/p
n
 ∞

lim x − ξj ej  = lim ⎝ |ξj |p ⎠ = 0,
n→∞ n→∞
j=1 j=n+1

e portanto


x= ξj ej para cada x = (ξj )∞
j=1 ∈ p .
j=1

Segue que


φ(x) = ξj φ(ej ) para cada x = (ξj )∞
j=1 ∈ p .
j=1

Seja y = (φ(ej )∞
j=1 . Provaremos que y ∈ q e que yq ≤ φ.
Se p = 1, então q = ∞ e

|φ(ej )| ≤ φej  = φ para cada j.

Segue que y ∈ ∞ e y∞ ≤ φ.


Se p > 1, fixemos n ∈ N, e definamos x = (ξj )∞
j=1 por:

ξj = |φ(ej )|q−1 sinalφ(ej ) se j ≤ n, ξj = 0 se j > n.

onde sinalλ é definido por:


λ
sinalλ = se λ = 0, sinalλ = 0 se λ = 0.
|λ|

44
Então
ξj φ(ej ) = |φ(ej )|q = |ξj |p para cada j ≤ n.
n
Como x = j=1 ξj ej , segue que
n
 n
 n

φ(x) = ξj φ(ej ) = |φ(ej )|q = |ξj |p = xpp .
j=1 j=1 j=1

Logo
⎛ ⎞1/p
n
 n
|φ(ej )|q ≤ φxp = φ ⎝ |φ(ej )|q ⎠ .
j=1 j=1

1
Como 1 − p = 1q , segue que

n
( |φ(ej )|q )1/q ≤ φ.
j=1

Como n ∈ N é arbitrário, segue que y ∈ q e yq ≤ φ.


Se definimos
T : y ∈ q → φy ∈ p ,
então T é linear e sobrejetivo, e T y = yq para cada y ∈ q .

Exercı́cios
13.A. Prove que


x= ξj ej para cada x = (ξj )∞
j=1 ∈ c0 .
j=1

13.B. Prove que c0 é isometricamente isomorfo a 1 .


13.C. Prove que


x = ξe0 + (ξj − ξ)ej para cada x = (ξj )∞
j=1 ∈ c,
j=1

onde e0 = (1, 1, 1, ...) e ξ = limj→∞ ξj .


13.D. Prove que c é isometricamente isomorfo a 1 .

45
14. O dual de Lp (X, Σ, µ)
Nesta seção caracterizaremos o dual do espaço Lp (X, Σ, µ). Por simplicidade
consideraremos apenas o espaço Lp (X, Σ, µ) real. Uma vez fixado o espaço de
medida (X, Σ, µ), com frequência escreveremos Lp em lugar de Lp (X, Σ, µ).
Dada f : X → R, sejam f + e f − definidas por:

f + = f ∨ 0, f − = (−f ) ∨ 0.

Então
f = f + − f −, f + ≥ 0, f − ≥ 0.
A seguir provaremos um resultado análogo para funcionais lineares contı́nuos
em Lp (X, Σ, µ).
14.1. Definição. Um funcional linear T : Lp (X, Σ, µ) → R é dito positivo
se T f ≥ 0 para cada f ∈ Lp (X, Σ, µ) tal que f ≥ 0.
14.2. Lema. Seja T um funcional linear contı́nuo em Lp (X, Σ, µ). Então
existem dois funcionais lineares contı́nuos positivos T + e T − em Lp (X, Σ, µ)
tais que
T f = T +f − T −f para todo f ∈ Lp (X, Σ, µ).

Demonstração. Seja T ∈ Lp . Para cada f ∈ Lp , f ≥ 0, seja T + f definido


por
T + f = sup{T φ : φ ∈ Lp , 0 ≤ φ ≤ f }.
Para cada φ ∈ Lp , 0 ≤ φ ≤ f , tem-se que

T φ ≤ |T φ| ≤ T φp ≤ T f p .

Notando que T 0 = 0, segue que

(1) 0 ≤ T + f ≤ T f p para todo f ∈ Lp , f ≥ 0.

É fácil verificar que

(2) T + (λf ) = λT + f para todo f ∈ Lp , f ≥ 0, λ ≥ 0.

A seguir provaremos que

(3) T + (f1 + f2 ) = T + f1 + T + f2 para todo f1 , f2 ∈ Lp , f1 ≥ 0, f2 ≥ 0.

Se φj ∈ Lp e 0 ≤ φj ≤ fj para j = 1, 2, então 0 ≤ φ1 + φ2 ≤ f1 + f2 , e portanto

T φ1 + T φ2 = T (φ1 + φ2 ) ≤ T + (f1 + f2 ).

Segue que
T + f1 + T + f2 ≤ T + (f1 + f2 ).

46
Por outro lado, dada φ ∈ Lp , com 0 ≤ φ ≤ f1 + f2 , sejam φ1 e φ2 definidas por

φ1 = φ ∧ f1 , φ2 = (φ − f1 ) ∨ 0.

Então é fácil verificar que 0 ≤ φj ≤ fj para j = 1, 2 e φ1 + φ2 = φ. Logo

T φ = T φ1 + T φ2 ≤ T + f1 + T + f2 ,

e portanto
T + (f1 + f2 ) ≤ T + f1 + T + f2 .
Isto prova (3).
A seguir definamos

T +f = T +f + − T +f − para cada f ∈ Lp .

Usando (2) e (3) não é difı́cil verificar que T + é linear. Segue de (1) que T é
contı́nuo.
Finalmente definamos

T −f = T +f − T f para cada f ∈ Lp .

É claro que T − é um funcional contı́nuo positivo em Lp , completando a demon-


stração.
14.3. Teorema de representação de Riesz. Seja (X, Σ, µ) um espaço de
medida finita, e seja 1 ≤ p < ∞. Então o dual de Lp (X, Σ, µ) é isometricamente
isomorfo a Lq (X, Σ, µ), onde 1 < q ≤ ∞, p1 + q1 = 1.
Demonstração. Dada g ∈ Lq , seja Tg : Lp → R definido por

Tg f = f gdµ para todo f ∈ Lp .
X

Pela desigualdade de Hölder



|Tg f | ≤ |f g|dµ ≤ f p gq para toda f ∈ Lp .
X

Segue que Tg ∈ Lp e Tg  ≤ gq .


Reciprocamente provaremos que, dado T ∈ Lp , existe g ∈ Lq tal que Tg = T
e gq ≤ T .
(a) Primeiro suponhamos T positivo. Neste caso definamos ν : Σ → R por

ν(A) = T (χA ) para todo A ∈ Σ.

Como T é positivo, segue que ν(A) ≥ 0 para todo A ∈ Σ. Além disso, ν(∅) =
T 0 = 0.

47
A seguir provaremos que

 ∞

(4) ν( An ) = ν(An )
n=1 n=1

para cada sequência (An )∞


n=1 de membros disjuntos de Σ. Escrevamos
n
 ∞
 ∞

Bn = Aj , A= An = Bn .
j=1 n=1 n=1

A sequência (χBn )∞
n=1 é crescente e converge pontualmente a χA . Como µ(X) <
∞, o teorema da convergência dominada garante que χBn → χA em Lp , e
portanto T (χBn ) → T (χA ). Como os Aj são disjuntos, temos que χBn =
 n
j=1 χAj , e portanto

n
 ∞

ν(A) = T (χA ) = limn T (χBn ) = limn T (χAj ) = ν(Aj ).
j=1 j=1

Isto prova (4). Logo ν é uma medida em Σ. Como

ν(A) = T (χA ) ≤ T χA p = T µ(A)1/p ,

vemos que ν(A) = 0 cada vez que µ(A) = 0, ou seja ν é absolutamente contı́nua
com relação a µ. Pelo teorema de Radon-Nikodym existe g ∈ L1 (X, Σ, µ), g ≥ 0,
tal que 
ν(A) = gdµ,
A
e portanto 
T (χA ) = χA gdµ
X
para todo A ∈ Σ. Segue que

Tφ = φgdµ
X

para toda função mensurável simples φ.


A seguir provaremos que

(5) Tf = f gdµ
X

para toda f ∈ Lp . Dada f ∈ Lp , f ≥ 0, seja (φn ) uma sequência crescente de


funções mensuráveis simples positivas que converge pontualmente a f . Como
f ∈ Lp , segue do teorema da convergência dominada que φn → f em Lp , e
portanto T φn → T f . Usando o teorema da convergência monôtona concluimos
que  
T f = limT φn = lim φn gdµ = f gdµ.
X X

48
Isto prova (5) para cada f ∈ Lp , f ≥ 0. Para provar (5) para f ∈ Lp arbitrária,
basta escrever f = f + − f − , com f + , f − ∈ Lp , f + ≥ 0, f − ≥ 0, e aplicar o
resultado anterior.
(b) Se T ∈ Lp é arbitrário, então, pelo lema anterior podemos escrever

T f = T +f − T −f

para todo f ∈ Lp , sendo T + , T − ∈ Lp funcionais positivos. Por (a) existem


g + , g − ∈ L1 , g + ≥ 0, g − ≥ 0, tais que

+
T f= f g + dµ
X

e 

T f= f g − dµ
X

para toda f ∈ Lp . Se definimos g = g − g − , segue que


+


(6) Tf = f gdµ
X

para toda f ∈ Lp .
A seguir provaremos que g ∈ Lq e que gq ≤ T .
Se p = 1, seja
A = {x ∈ X : g(x) > T }.
Então A = ∪∞
n=1 An , onde

1
An = {x ∈ X : g(x) > T  + }.
n
Aplicando (6) com f = χAn , segue que

1
(T  + )µ(An ) ≤ gdµ = T (χAn ) ≤ T χAn 1 = T µ(An ).
n An

Segue que µ(An ) = 0 para cada n, e portanto µ(A) = 0. De maneira análoga


podemos provar que µ(B) = 0, onde

B = {x ∈ X : g(x) < −T }.

Segue que |g(x)| ≤ T  para quase todo x ∈ X. Logo g ∈ L∞ e g∞ ≤ T .


Se p > 1, fixemos n ∈ N, e definamos An e f por;

An = {x ∈ X : |g(x)| ≤ n},

f (x) = |g(x)|q−1 sinalg(x) se x ∈ An ,


f (x) = 0 se x ∈
/ An .

49
Para x ∈ An tem-se que

(7) f (x)g(x) = |g(x)|q = |f (x)p ,

e portanto  
p
|f | dµ = |g|q dµ ≤ nq µ(X) < ∞,
X An

em particular f ∈ Lp . Usando (6) e (7) segue que


  
|g|q dµ = f gdµ = T f ≤ T f p = T ( |g|q dµ)1/p .
An X An

1
Como 1 − p = q1 , segue que

( |g|q dµ)1/q ≤ T .
An

Como X = ∪∞ n=1 An , e a sequência (An ) é crescente, o teorema da convergência


monôtona garante que 
( |g|q dµ)1/q ≤ T ,
X

ou seja g ∈ Lq e gq ≤ T .
Se definimos
T : g ∈ Lq → Tg ∈ Lp ,
então T é linear e sobrejetivo, e T g = gq para cada g ∈ Lq . Isto completa
a demonstração.

50
15. Bidual de um espaço normado
Seja E um espaço normado. Dados x ∈ E  e x ∈ E, com frequência es-
creveremos
x , x = x (x).
15.1. Definição. O dual de E  , denotado por E  , é chamado de bidual de
E.
15.2. Proposição. Seja J : E → E  definido por

Jx, x  = x , x para todo x ∈ E, x ∈ E  .

Então J é um isomorfismo isométrico entre E e um subespaço de E  .


Demonstração. Se x ∈ E, é claro que Jx ∈ E ∗ . Como

|Jx, x | = |x , x| ≤ x x,

segue que Jx ∈ E  e Jx ≤ x. Assim J : E → E  é linear e contı́nua. Pelo


teorema de Hahn-Banach, para cada x ∈ E tem-se que:

Jx = sup{|Jx, x | : x  ≤ 1} = sup}|x , x| : x  ≤ 1} = x.

Logo J é um isomorfismo isométrico entre E e sua imagem em E  .


15.3. Definição. E é dito reflexivo se J(E) = E  .
É claro que cada espaço normado reflexivo é necessariamente completo.
15.4. Proposição. Dado T ∈ L(E; F ), seja T  : F  → E  definido por

T  y  , x = y  , T x para todo y  ∈ F  , x ∈ E.

Então T  ∈ L(F  , E  ) e T   = T . T  é chamado de dual de T , ou transposto


de T .
Demonstração. Se y  ∈ F  , é claro que T  y  ∈ E ∗ . Como

|T  y  , x| = |y  , T x| ≤ y  T x ≤ y  T x,

segue que T  y  ∈ E  e T  y   ≤ T y  . Assim T  : F  → E  é linear e contı́nua


e T   ≤ T . Po outro lado, pelo teorema de Hahn-Banach, para cada x ∈ E
temos:

T x = sup{|y  , T x| : y   ≤ 1} = sup{|T  y  , x| : y   ≤ 1}

≤ sup{T  y  x : y  ≤ 1} ≤ T  x.


Logo T  ≤ T  .
15.5. Proposição. p é reflexivo para cada 1 < p < ∞.

51
Demonstração. Seja p1 + 1q = 1, e sejam S : p → q e T : q → p os
isomorfismos isométricos canônicos, os isomorfismos dados pelo Teorema 13.1.
Então é claro que S  ◦ T −1 é um isomorfismo isométrico entre p e p . Para
completar a demonstração, basta provar que S  ◦ T −1 = J, o mergulho canônico
de p em p , ou seja, basta provar que

S  ◦ T −1 x, x  = Jx, x  = x , x para todo x ∈ p , x ∈ p .


Sejam x = (ξj ) ∈ p e Sx = (ηj ) ∈ q . Então:

 ∞

S  ◦ T −1 x, x  = T −1 x, Sx  = ηj ξj = ξj ηj = x , x,
j=1 j=1

como queriamos.
De maneira análoga, utilizando o Teorema 14.3, podemos provar o resultado
seguinte.
15.6. Proposição. Seja (X, Σ, µ) um espaço de medida finita. Então
Lp (X, Σ, µ) é reflexivo para cada 1 < p < ∞.
15.7. Proposição. Se E é reflexivo, então E  é reflexivo também.
Demonstração. Sejam J0 : E → E  e J1 : E  → E  os mergulhos
canônicos. Supondo que J0 (E) = E  , vamos provar que J1 (E  ) = E  . Dado
x ∈ E  , seja x = J0 x . Provaremos que J1 x = x . Para cada x ∈ E temos:
J1 x , J0 x = J0 x, x  = x , x = J0 x , x = x , J0 x.
Como J0 (E) = E  , segue que J1 x = x , como queriamos.
15.8. Proposição. Se E é reflexivo, então cada subespaço fechado de E é
reflexivo também.
Demonstração. Seja M um subespaço fechado de E, e sejam J0 : E → E 
e J1 : M → M  os mergulhos canônicos. Supondo que J0 (E) = E  , vamos
provar que J1 (M ) = M  .
Seja R : E  → M  a aplicação restrição, e seja R : M  → E  o dual de R.
Dado y  ∈ M  , seja x = R y  ∈ E  . Como J0 (E) = E  , existe x ∈ E tal
que J0 x = x .
Afirmamos que x ∈ M . De fato, suponhamos que x ∈ / M . Então, pelo
teorema de Hahn-Banach, existe x ∈ E  tal que Rx = 0 e x , x =  0. Segue
que
x , x = J0 x, x  = x , x  = R y  , x  = y  , Rx  = y  , 0 = 0,
contradição. Isto prova que x ∈ M .
Para completar a demonstração provaremos que J1 x = y  . De fato para
cada x ∈ E  temos:
y  , Rx  = R y  , x  = x , x  = J0 x, x  = x , x = Rx , x = J1 x, Rx .

52
Pelo teorema de Hahn-Banach R(E  ) = M  . Segue que y  = J1 x, como queri-
amos.

Exercı́cios
15.A. Dados S ∈ L(E; F ) e T ∈ L(F ; G), prove que (T ◦ S) = S  ◦ T  .
15.B. Prove que se T : E → F é um isomorfismo topológico (resp. isomor-
fismo isométrico), então T  : F  → E  também é um isomorfismo topológico
(resp. isomorfismo isométrico).
15.C. Seja T : E → F um isomorfismo topológico. Prove que se E é
reflexivo, então F também é reflexivo.
15.D. Prove que um espaço de Banach E é reflexivo se e só se seu dual E 
é reflexivo.
15.E. Prove que nemhum dos espaços 1 , ∞ , c0 ou c é reflexivo.
15.F. Seja E um espaço de Banach, e seja M um subespaço fechado de E.
Prove que se E é reflexivo, então E/M é reflexivo também.
15.G. Usando o Exercı́cio 8.C prove que o espaço C[a, b] não é reflexivo.

53
16. Teorema de Banach-Steinhaus
16.1. Definição. Seja X um espaço topológico.
(a) Diremos que X é um espaço de Baire se a interseção de cada seqüência
de subconjuntos abertos e densos de X é um subconjunto denso de X.
(b) Diremos que um conjunto A ⊂ X é de primeira categoria em X se é
possı́vel escrever

 ◦
A= An , com An = ∅ para cada n.
n=1

Caso contrário diremos que A é de segunda categoria em X.


16.2. Proposição. Cada espaço de Baire não vazio é de segunda categoria
em si mesmo.
Demonstração. Seja X um espaço de Baire não vazio, e suponhamos que
X seja de primeira categoria em si mesmo. Então podemos escrever


X= An ,
n=1


onde An é fechado em X, e An = ∅ para cada n. Segue que


∅= (X \ An ),
n=1


X \ An é aberto, e X \ An = X\ An = X para cada n. Logo X não seria um
espaço de Baire.
16.3. Teorema de Baire. Cada espaço métrico completo é um espaço de
Baire.
Demonstração. Seja X um espaço métrico completo não vazio, e seja

(Un )
n=1 uma seqüência de subconjuntos abertos 
e densos em X. Para provar
∞ ∞
que n=1 Un é denso em X, basta provar que ( n=1 Un ) ∩ B(a; r) = ∅ para
cada bola B(a; r) em X. Fixemos uma bola B(a; r) em X. Como U1 é denso
em X, existe x1 ∈ U1 ∩ B(a; r). Seja 0 < 1 < 1 tal que

B[x1 ; 1 ] ⊂ U1 ∩ B(a; r).

Como U2 é denso em X, existe x2 ∈ U2 ∩ B(x1 ; 1 ). Seja 0 < 2 < 1/2 tal que

B[x2 ; 2 ] ⊂ U2 ∩ B(x1 ; 1 ).

Procedendo por indução podemos achar sequências (xn ) ⊂ X e (n ) ⊂ R tais


que 0 < n < 1/n e
B[xn ; n ] ⊂ Un ∩ B(xn−1 ; n−1 )

54
para cada n ≥ 2. Segue que (xn ) é uma sequência de Cauchy em X, e converge
portanto a um ponto x. É claro que

 ∞

x∈ B[xn ; n ] ⊂ ( Un ) ∩ B(a; r).
n=1 n=1
∞
Logo n=1 Un é denso em X.
16.4. Definição. Seja A ⊂ E.
(a) A é dito simétrico se −x ∈ A sempre que x ∈ A.
(b) A é dito convexo se (1 − λ)x + λy ∈ A sempre que x, y ∈ A e 0 ≤ λ ≤ 1.
(c) co(A) denota o menor subconjunto convexo de E que contém A.
16.5. Teorema de Banach-Steinhaus. Sejam E e F espaços normados,
com E completo. Seja {Ti : i ∈ I} ⊂ L(E; F ) tal que

(1) supi∈I Ti x < ∞ para cada x ∈ E.

Então
(2) supi∈I Ti  < ∞.

Demonstração. Para cada n ∈ N seja

An = {x ∈ E : Ti x ≤ n para cada i ∈ I}.

Como 
An = {x ∈ E : Ti x ≤ n},
i∈I

vemos que cada An é fechado. Segue de (1) que




E= An .
n=1

Pelo teorema de Baire E é de segunda categoria em si mesmo. Logo algum An


tem interior não vazio. Logo An contém uma bola B(a; r). Como o conjunto An
é simétrico, segue que An ⊃ B(−a; r). Como o conjunto An é convexo, segue
que
An ⊃ co(B(a; r) ∪ B(−a; r)) ⊃ B(0; r).
Segue que
Ti x ≤ n para todo i ∈ I, x ∈ B(0; r).
Logo
n
Ti x ≤ para todo i ∈ I, x ∈ B(0; 1),
r
e portanto
n
Ti  ≤ para todo i ∈ I.
r

55
O teorema de Banach-Steinhaus é também conhecido como princı́pio de
limitação uniforme.
16.6. Corolário. Seja E um espaço normado, e seja A um subconjunto de
E tal que φ(A) é limitado em K para cada φ ∈ E  . Então A é limitado em E.
Demonstração. Seja J : E → E  o mergulho canônico. Segue da hipótese
que J(A) é um subconjunto pontualmente limitado de E  . Pelo Teorema 16.5
J(A) é limitado em E  . Logo A é limitado em E.
16.7. Corolário. Sejam E e F espaços normados, com E completo. Seja
(Tn ) uma sequência em L(E; F ) tal que (Tn x) converge em F para cada x ∈ E.
Se definimos T x = limTn x para cada x ∈ E, então T ∈ L(E; F ).
Demonstração. É fácil verificar que T é linear. Para cada x ∈ E, (Tn x) é
uma sequência convergente em F , e portanto limitada, ou seja

supn Tn x < ∞ para cada x ∈ E.

Pelo Teorema 16.5 existe c > 0 tal que Tn  ≤ c para todo n. Segue que
T  ≤ c, e portanto T é contı́nua.

Exercı́cios
16.A. Seja 1 ≤ p < ∞, e seja (ηj )∞ j=1 uma seqüência em K tal que a série
∞ ∞ ∞
j=1 ξj ηj converge para cada (ξj )j=1 ∈ p . Prove que (ηj )j=1 ∈ q , onde
1 1
p + q = 1.
∞
16.B. Seja (ηj )∞
j=1 uma seqüência em K tal que a série j=1 ξj ηj converge
para cada (ξj )∞ ∞
j=1 ∈ c0 . Prove que (ηj )j=1 ∈ 1 .

56
17. Teorema da aplicação aberta e teorema do gráfico fechado
17.1. Teorema da aplicação aberta. Sejam E e F espaços de Banach,
e seja T ∈ L(E; F ). Então as seguintes condições são equivalentes:
(a) T é sobrejetiva.
(b) T (BE ) ⊃ BF (0; δ) para algum δ > 0.
(c) T (BE ) ⊃ BF (0; δ) para algum δ > 0.
Demonstração. (a) ⇒ (b): Como T é sobrejetiva,

 ∞
 ∞

F = T (E) = T ( BE (0; n) = T (BE (0; n)) = T (BE (0; n)).
n=1 n=1 n=1

Pelo teorema de Baire F é de segunda categoria em si mesmo. Logo existe n tal


que o conjunto T (BE (0; n)) tem interior não vazio. Logo o conjunto T (BE (0; n))
contém uma bola BF (b; r). Como o conjunto T (BE (0; n)) é simétrico, segue que
T (BE (0; n)) ⊃ BF (−b; r). Como o conjunto T (BE (0; n)) é convexo, segue que

T (BE (0; n)) ⊃ co(BF (b, r) ∪ BF (−b, r)) ⊃ BF (0; r).

Logo
r
T (BE (0; 1)) ⊃ BF (0; ),
n
provando (b).
(b) ⇒ (c): Por hipótese

T (BE ) ⊃ BF (0; δ),

e portanto
T (BE (0; 1/2n )) ⊃ BF (0; δ/2n ) para cada n.
Provaremos que
T (BE ) ⊃ BF (0; δ/2).
Seja
y ∈ BF (0; δ/2) ⊂ T (BE (0; 1/2)).
Logo existe x1 ∈ BE (0; 1/2) tal que

y − T x1 ∈ BF (0; δ/22 ) ⊂ T (BE (0; 1/22 )).

Logo existe x2 ∈ BE (0; 1/22 ) tal que

y − T x1 − T x2 ∈ BF (0; δ/23 ) ⊂ T (BE (0; 1/23 )).

Procedendo por indução podemos obter uma sequência (xn ) em E tal que
n

xn ∈ BE (0; 1/2n ) e y − T xj ∈ BF (0; δ/2n+1 ) para cada n.
j=1

57
∞ ∞
Como n=1 xn  < n=1 2−n = 1, segue que

 ∞

xn ∈ BE (0; 1) e T ( xn ) = y.
n=1 n=1

Como a implicação (c) ⇒ (a) é clara, a demonstração do teorema está com-


pleta.
17.2. Corolário. Sejam E e F espaços de Banach. Então cada aplicação
sobrejetiva T ∈ L(E; F ) é aberta.
17.3. Corolário. Sejam E e F espaços de Banach. Então cada aplicação
bijetiva T ∈ L(E; F ) é um isomorfismo topológico.
Lembremos que, se f : X → Y é uma aplicação qualquer, então o gráfico de
f é o conjunto
Gf = {(x, y) ∈ X × Y : y = f (x)}.
17.4. Proposição. Sejam X e Y espaços topológicos, e seja f : X →
Y uma aplicação contı́nua. Se Y é um espaço de Hausdorff, então Gf é um
subconjunto fechado de X × Y .
Demonstração. Para provar que Gf é fechado em X×Y , seja ((xi , f (xi )))i∈I
uma rede em Gf que converge a um ponto (x, y) ∈ X × Y . Então xi → x em X
e T xi → y em Y . Como f é contı́nua, segue que f (xi ) → f (x) em Y . Como Y
é Hausddorff, segue que y = f (x). Logo (x, y) ∈ Gf , e portanto Gf é fechado
em X × Y .
17.5. Teorema do gráfico fechado. Sejam E e F espaços de Banach,
e seja T : E → F uma aplicação linear. Se o gráfico GT de T é fechado em
E × F , então T é contı́nua.
Demonstração. GT é um subespaço fechado de E × F , e é portanto um
espaço de Banach. Consideremos as projeções canônicas

π1 : (x, y) ∈ E × F → x ∈ E,

π2 : (x, y) ∈ E × F → y ∈ F.
É claro que π1 ∈ L(E × F ; E) e π2 ∈ L(E × F ; F ). Seja σ1 = π1 |GT . Então

σ1 : (x, T x) ∈ GT → x ∈ E.

É claro que σ1 ∈ L(GT ; E), e σ1 é sobrejetiva. Pelo teorema da aplicação aberta


σ1 é um homeomorfismo. Notemos que

σ1−1 : x ∈ E → (x, T x) ∈ GT .

Segue que π2 ◦ σ1−1 = T , e portanto T é contı́nua.

58
Exercı́cios
17.A. Sejam E e F espaços de Banach, e seja T ∈ L(E; F ) um operador
sobrejetivo.
(a) Dada uma seqüência limitada (yn ) em F , prove que existe uma seqüência
limitada (xn ) em E tal que T xn = yn para cada n.
(b) Dada uma seqüência (yn ), que converge a zero em F , prove que existe
uma seqüência (xn ), que converge a zero em E, tal que T xn = yn para cada n.
17.B. Seja (xj ) uma seqüência em E tal que φ(xj ) → 0 para cada φ ∈ E  .
Seja T definido por
T : φ ∈ E  → (φ(xj ))∞
j=1 ∈ c0 .

Prove que T ∈ L(E  ; c0 ).



17.C.
∞ Seja E um espaço de Banach, e seja (φj ) uma seqüência em E tal
que j=1 |φj (x)| < ∞ para cada x ∈ E. Seja T definido por

T : x ∈ E → (φj (x))∞
j=1 ∈ 1 .

Prove que T ∈ L(E; 1 ).

59
18. Espectro de um operador em um espaço de Banach
18.1. Proposição. Seja E um espaço de Banach, e seja T ∈ L(E; E). Se
T  < 1, então o operador I − T é invertı́vel e


−1
(I − T ) = T k.
k=0

∞
Demonstração. Como T  < 1, a série k=0 T k é absolutamente conver-
gente, e portanto convergente. Como
 n  ∞ 
 
k k
(I − T ) T = T (I − T ) = I − T n+1
k=0 k=0

para cada n, segue que


 ∞
  ∞

 
k k
(I − T ) T = T (I − T ) = I.
k=0 k=0

18.2. Definição. Se E é um espaço de Banach, denotaremos por Iso(E; E)


o subconjunto dos T ∈ L(E; E) que são invertı́veis.
18.3. Proposição. Seja E um espaço de Banach. Então:
(a) Iso(E; E) é um subconjunto aberto de L(E; E).
(b) A aplicação T ∈ Iso(E; E) → T −1 ∈ Iso(E; E) é contı́nua.
Demonstração. Se S ∈ L(E; E) é invertı́vel, então segue da proposição
anterior que S +T = (I +T ◦S −1 )◦S é invertı́vel também para cada T ∈ L(E; E)
tal que T  < 1/S −1 . Nessas condições


(S + T )−1 = S −1 ◦ (I + T ◦ S −1 )−1 = S −1 ◦ (−T ◦ S −1 )k ,
k=0

e portanto


−1 −1 T S −1 2
(S + T ) −S ≤ T k S −1 k+1 = .
1 − T S −1 
k=1

A conclusão desejada segue.


18.4. Definição. Seja E um espaço de Banach, e seja T ∈ L(E; E).
(a) Diremos que λ ∈ K pertence ao espectro de T se o operador T − λI não
é invertı́vel. σ(T ) denota o espectro de T .
(b) Diremos que λ ∈ K é um autovalor de T se o operador T − λI não é
injetivo. Se λ é um autovalor de T , denotaremos por Eλ o subespaço de todos
os x ∈ E tais que T x = λx. Cada x = 0 em Eλ é chamado de autovetor de T
correspondente ao autovalor λ.

60
18.5. Exemplo. Seja E um espaço de Banach, e seja T ∈ L(E; E). É claro
que σ(T ) contém todos os autovalores de T . Se E tem dimensão finita, então é
claro que σ(T ) coincide com o conjunto dos autovalores de T .
18.6. Proposição. Seja E um espaço de Banach complexo, e seja T ∈
L(E; E). Então:
(a) O conjunto C \ σ(T ) é aberto em C.
(b) Para cada funcional ψ ∈ L(E; E) , a função f (λ) = ψ[(T − λI)−1 ] é
analı́tica no aberto C \ σ(T ).
Demonstração. (a) A função

φ : λ ∈ C → T − λI ∈ L(E; E)

é claramente contı́nua, e

C \ σ(T ) = φ−1 (Iso(E; E)).

(b) Dados U, V ∈ Iso(E; E), é claro que

U (U −1 − V −1 )V = V − U,

e portanto
U −1 − V −1 = U −1 (V − U )V −1 .
Dados λ, λ0 ∈ C \ σ(T ), segue que

(T − λI)−1 − (T − λ0 I)−1 = (T − λI)−1 (λ − λ0 )(T − λ0 I)−1 .

Aplicando ψ segue que


f (λ) − f (λ0 )
lim = ψ[(T − λ0 I)−2 ].
λ→λ0 λ − λ0
Logo f é analı́tica.
18.7. Teorema. Seja E um espaço de Banach complexo, e seja T ∈
L(E; E). Então σ(T ) é um subconjunto compacto não vazio de C.
Demonstração. Pela proposição anterior σ(T ) é fechado. Se |λ| > T ,
então segue da Proposição 18.1 que o operador T − λI = −λ(I − Tλ ) é invertı́vel.
Isto prova que |λ| ≤ T  para cada λ ∈ σ(T ), e portanto σ(T ) é limitado.
Suponhamos que σ(T ) seja vazio. Nesse caso, para cada funcional ψ ∈ L(E; E) ,
a função f (λ) = ψ[(T − λI)−1 ] é analı́tica em todo C. Para λ = 0 temos que
 −1 ∞
−1 1 T Tk
(T − λI) = − I− =− ,
λ λ λk+1
k=0

e portanto

 T k 1
(T − λI)−1  ≤ = .
|λ|k+1 |λ| − T 
k=0

61
Aplicando ψ segue que
lim f (λ) = 0,
|λ|→∞

e f é em particular limitada. Segue do teorema de Liouville que

f (λ) = ψ[(T − λI)−1 ] = 0 para todo λ ∈ C.

Como ψ é arbitrário, segue do teorema de Hahn-Banach que

(T − λI)−1 = 0 para todo λ ∈ C,

absurdo. Logo σ(T ) não é vazio.

62
19. Operadores compactos entre espaços de Banach
19.1. Definição. Sejam E e F espaços de Banach, e seja T ∈ L(E; F ).
(a) Diremos que T tem posto finito se o subespaço T (E) tem dimensão finita.
Lf (E; F ) denota o subespaço dos operadores de posto finito de E em F .
(b) Diremos que T é compacto se T (B E ) é relativamente compacto em F .
LK (E; F ) denota o subespaço dos operadores compactos de E em F .
É claro que todo operador de posto finito é compacto.
19.2. Proposição. Sejam E e F espaços de Banach. Então LK (E; F ) é
um subespaço fechado de L(E; F ).
Demonstração. Seja (Tn ) uma sequência em LK (E; F ) que converge a um
operador T em L(E; F ). Para provar que T é compacto provaremos que cada
sequência em T (B E ) admite uma subsequência convergente.
Utilizaremos o processo diagonal de Cantor. Seja (xj )∞ j=1 uma sequência
em B E . Como T1 é compacto, (xj )∞ j=1 admite uma subsequência (x1j )∞
j=1 tal
1 ∞ 1 ∞
que (T1 xj )j=1 é convergente. Como T2 é compacto, (xj )j=1 admite uma sub-
sequência (x2j )∞ 2 ∞
j=1 tal que (T2 xj )j=1 é convergente. Procedendo de maneira indu-
i−1 ∞
tiva podemos obter, para cada i ∈ N, uma subsequência (xij )∞ j=1 de (xj )j=1 tal
j ∞
que (Ti xij )∞ ∞
j=1 é convergente. Seja (zj )j=1 a sequência diagonal (xj )j=1 . Então,
para cada i ∈ N, (zj )∞ i ∞ ∞
j=i é uma subsequência de (xj )j=i . Segue dai que (Ti zj )j=1

é convergente, para cada i ∈ N. Provaremos que (T zj )j=1 é convergente.
Dado  > 0, existe i tal que Ti − T  < . Fixado i, existe j0 tal que
Ti zj − Ti zk  <  para todo j, k ≥ j0 .
Segue que
T zj − T zk  ≤ T zj − Ti zj  + Ti zj − Ti zk  + Ti zk − T zk  < 3
para todo j, k ≥ j0 . Logo (T zj )∞
j=1 é convergente.

19.3. Teorema de Schauder. Sejam E e F espaços de Banach. Então


um operador T ∈ L(E; F ) é compacto se e só se seu dual T  ∈ L(F  ; E  ) é
compacto.
Demonstração. (⇒) Suponhamos que T ∈ L(E; F ) seja ∞compacto. Como
cada espaço métrico compacto é separável, e como T (E) = n=1 nT (BE ), segue
que T (E) é separável. Seja (yk )∞k=1 um subconjunto enumerável denso de T (E).
Para provar que T  é compacto, provaremos que cada seqüência em T  (B F  )
admite uma subseqüência convergente. Seja (yn )∞ n=1 uma seqüência em B F  .
Utilizando o processo diagonal de Cantor podemos achar uma subseqüência
(zn )∞  ∞  ∞
n=1 de (yn )n=1 tal que (zn (yk ))n=1 converge para cada k. Como (yk )k=1

 ∞  ∞
é densa em T (E), e (zn )n=1 ⊂ B F  , segue que (zn (y))n=1 converge para cada
y ∈ T (E).
Se definimos z  (y) = limn→∞ zn (y) para cada y ∈ T (E), segue que z  é um
funcional linear em T (E), e z   ≤ 1. Pelo teorema de Hahn-Banach podemos
supor que z  ∈ F  .

63
Como T (B E ) é precompacto, dado  > 0, existem x1 , ..., xm ∈ B E tais que
m

T (B E ) ⊂ BF (T xj , ).
j=1

Como zn (y) → z  (y) para cada y ∈ T (E), existe n0 ∈ N tal que

|zn − z  , T xj | <  sempre que n ≥ n0 , 1 ≤ j ≤ m.

Dado x ∈ B E , seja 1 ≤ j ≤ m tal que x ∈ BF (T xj ; ). Então, para cada n ≥ n0


tem-se que
|T  zn − T  z  , x| = |zn − z  , T x|
≤ |zn − z  , T x − T xj | + |zn − z  , T xj | < 3.
Segue que T  zn − T  z   ≤ 3 para todo n ≥ n0 , e portanto (T  zn )∞
n=1 converge
a T  z  em E  .
(⇐) Suponhamos que T  ∈ L(F  ; E  ) seja compacto. Pelo que acabamos de
ver, T  ∈ L(E  ; F  ) é compacto. Como o diagrama
T
E −→ F

JE ↓ ↓ JF

T
E  −→ F 
é comutativo, segue que T é compacto.

64
20. Conjuntos ortonormais em espaços de Hilbert
20.1. Definição. Seja E um espaço com produto interno. Um conjunto
S ⊂ E é dito ortonormal se dados x, y ∈ S tem-se que (x|y) = 0 se x = y
e (x|y) = 1 se x = y. Um conjunto ortonormal S ⊂ E é dito completo se
S ⊥ = {0}.
É fácil verificar que todo conjunto ortonormal em E é linearmente indepen-
dente.
É fácil ver que um conjunto ortonormal S ⊂ E é completo se e só se S é
maximal entre os conjuntos ortonormais de E, ou seja S não está contido em
nenhum outro conjunto ortonormal.
Se S é um conjunto ortonormal em E tal que o subespaço [S] gerado por S
é denso em E, então é fácil ver que S é completo.
20.2. Exemplo. É fácil verificar que os vetores unitários

e1 = (1, 0, 0, ..., 0), e2 = (0, 1, 0, ..., 0), ..., en = (0, 0, 0, ..., 1)

formam um conjunto ortonormal completo em Kn2 .


20.3. Exemplo. É fácil verificar que a sequência de vetores unitários

e1 = (1, 0, 0, ...), e2 = (0, 1, 0, ...), e3 = (0, 0, 1, ...), ...

formam um conjunto ortonormal completo em 2 .


20.4. Exemplo. Não é difı́cil verificar que as funções
1 1 1
u0 (t) = √ , un (t) = √ cosnt, vn (t) = √ sennt (n ∈ N)
2π π π

formam um conjunto ortonormal no espaço de Hilbert real L2 ([0, 2π]; R). Mais
adiante veremos que este conjunto ortonormal é completo.
20.5. Exemplo. Não é difı́cil verificar que as funções
1
un (t) = √ eint (n ∈ Z)

formam um conjunto ortonormal no espaço de Hilbert complexo L2 ([0, 2π]; C).
Mais adiante veremos que este conjunto ortonormal é completo.
20.6. Proposição (Processo de ortonormalização de Gram-Schmidt).
Seja E um espaço com produto interno. Seja (xn )Nn=1 uma sequência finita ou
infinita de vetores linearmente independentes em E. Então existe uma sequência
ortonormal (yn )Nn=1 em E tal que

[x1 , ..., xn ] = [y1 , ..., yn ]

para cada n ≤ N .

65
Demonstração. Sejam (un )N N
n=1 e (yn )n=1 definidas indutivamente da maneira
seguinte:
u1
u1 = x1 , y1 = ;
u1 
n−1
 un
un = xn − (xn |yj )yj , yn = para n ≥ 2.
j=1
un 

É imediato que
(un |yj ) = 0 sempre que j < n,
e portanto
(yn |yj ) = 0 sempre que j < n.
Usando indução vemos que

[x1 , ..., xn ] = [u1 , ..., un ] = [y1 , ..., yn ]

para cada n ≤ N , completando a demonstração.


20.7. Corolário. Seja E um espaço com produto interno de dimensão
finita n. Então existe em E um conjunto ortonormal completo formado por n
vetores.
20.8. Corolário. Seja E um espaço com produto interno separável. Então
existe em E um conjunto ortonormal completo enumerável.
20.9. Proposição. Seja E um espaço com produto interno. Então cada
conjunto ortonormal em E está contido em algum conjunto ortonormal com-
pleto.
Demonstração. Seja S0 um conjunto ortonormal em E, e seja P a famı́lia
de todos os conjuntos ortonormais em E que contém S0 . P é um conjunto
parcialmente ordenado por inclusão de conjuntos. Seja (Si )i∈I uma cadéia em
P. Então é fácil ver que ∪i∈I Si é um conjunto ortonormal em E, e claramente
contém cada Si . Isto prova que cada cadéia em P admite uma cota superior.
Pelo lema de Zorn, existe em P um elemento maximal S. Segue que S é um
conjunto ortonormal completo em E, que contém S0 .

Exercı́cios
20.A. Seja E um espaço com produto interno. Prove que cada conjunto
ortonormal em E é linearmente independente.
20.B. Seja E um espaço com produto interno, e seja S um conjunto ortonor-
mal em E. Prove que S é completo se e só se S não está contido em nenhum
outro conjunto ortonormal.
20.C. Seja E um espaço com produto interno, e seja S um conjunto ortonor-
mal em E.

66
(a) Se o subespaço [S] gerado por S é denso em E, prove que S é completo.
(b) Se E é um espaço de Hilbert, e S é completo, prove que [S] é denso em
E.
20.D. Prove que os vetores unitários

e1 = (1, 0, 0, ...), e2 = (0, 1, 0, ...), e3 = (0, 0, 1, ...), ...

formam um conjunto ortonormal completo em 2 .


20.E. Prove que as funções
1 1 1
u0 (t) = √ , un (t) = √ cosnt, vn (t) = √ sennt (n = 1, 2, 3, ...)
2π π π

formam um conjunto ortonormal no espaço de Hilbert real L2 ([0, 2π], R).


20.F. Prove que as funções
1
un (t) = √ eint (n ∈ Z)

formam um conjunto ortonormal no espaço de Hilbert complexo L2 ([0, 2π], C).

67
21. Conjuntos ortonormais completos em espaços de Hilbert
21.1. Proposição. Seja E um espaço com produto interno, seja M um
subespaço de dimensão finita n, seja {x1 , ..., xn } um conjunto ortonormal em
M , e seja x ∈ E. Então:
n

(a) x − (x|xj )xj  = d(x, M ),
j=1

n

(b) |(x|xj )|2 ≤ x.
j=1

Demonstração. (a) Pelo Teorema 10.3 (e a Observação 10.4) podemos


escrever
(1) x = p + q, com p ∈ M, q ∈ M ⊥ .
Além disso x
− p = d(x, M ). Como (x1 , ..., xn ) é uma base de M , podemos
n
escrever p = j=1 αj xj . Como x − p = q ∈ M ⊥ , segue que

0 = (x − p|xk ) = (x|xk ) − (p|xk ) = (x|xk ) − αk

para k = 1, 2, ..., n. Logo


n

(2) p= (x|xj )xj ,
j=1

e (a) segue.
(b) Usando (1) e (2) e o teorema de Pitágoras segue que
n

x2 = p2 + q2 ≥ p2 = |(x|xj )|2 .
j=1

21.2. Proposição (Desigualdade de Bessel). Seja E um espaço com


produto interno, seja (xi )i∈I um conjunto ortonormal em E, e seja x ∈ E.
Então o conjunto
Ix = {i ∈ I : (x|xi ) = 0}
é enumerável e 
|(x|xi )|2 ≤ x2 .
i∈Ix

Demonstração. Temos que




Ix = Jk ,
k=1

onde
1
Jk = {i ∈ I : |(x|xi )| > }.
k

68
Segue da proposição anterior que cada Jk é finito. De fato, se J é qualquer
subconjunto finito de Jk , segue da proposição anterior que
  1 |J|
x2 ≥ |(x|xj )|2 > = 2,
k2 k
j∈J j∈J

e portanto |J| < k 2 x2 . Segue que |Jk | ≤ k 2 x2 para cada k, e portanto Ix é
enumerável.
Escrevamos (xi )i∈Ix como uma sequência y1 , y2 , y3 , ... Pela proposição ante-
rior
n
|(x|yj )|2 ≤ x2 para cada n,
j=1
e portanto
 ∞

|(x|xi )|2 = |(x|yj )|2 ≤ x2 .
i∈Ix j=1

21.3. Proposição. Seja E um espaço de Hilbert, seja (xi )i∈I um conjunto


ortonormal em E, e seja x ∈ E. Então a série

(x|xi )xi
i∈Ix

é incondicionalmente convergente, ou seja é convergente, e sua soma é indepen-


dente da ordem escolhida em Ix .
Demonstração. Pela proposição anterior o conjunto Ix é enumerável. Seja
(yj ) uma ordenação de (xi )i∈Ix , e seja
m

sm = (x|yj )yj
j=1

para cada m. Se n < m, segue do teorema de Pitágoras que


m
 m

sm − sn 2 =  2 = |(x|yj )|2 .
j=n+1 j=n+1

Como
m

|(x|yj )|2 ≤ x2
j=1

para cada m, pela proposição anterior, segue que (sm ) é uma sequência de
Cauchy em E, e converge portanto a um vetor s ∈ E.
Para provar que a soma da série é independente da ordenação escolhida, seja
(zk ) uma outra ordenação de (xi )i∈Ix , e seja
n

tn = (x|zk )zk
k=1

69
para cada n. O raciocı́nio anterior mostra que
n

|(x|zk )|2 ≤ x2
k=1

para cada n, e a sequência (tn ) converge a um vetor t ∈ E. Dado  > 0, podemos


achar m0 e n0 em N tais que


|(x|yj )|2 ≤ 2 e s − sm  ≤  para todo m ≥ m0 ,
j=m+1



|(x|zk )|2 ≤ 2 e t − tn  ≤  para todo n ≥ n0 .
k=n+1

Fixemos m ≥ m0 , e seja n ≥ n0 tal que {y1 , ..., ym } ⊂ {z1 , ..., zn }. Então



tn − sm = (x|yj )yj ,
j∈J

onde J ⊂ N \ {1, 2, ..., m}. Segue que

 ∞

2 2
tn − sm  = |(x|yj )| ≤ |(x|yj )|2 ≤ 2 .
j∈J j=m+1

Logo
t − s ≤ t − tn  + tn − sm  + sm − s ≤ 3.
Como  > 0 é arbitrário, concluimos que t = s.
21.4. Teorema. Seja E um espaço de Hilbert, e seja S = (xi )i∈I um
conjunto ortonormal em E. Então as seguintes condições são equivalentes:
(a) O subespaço [S] é denso em E.
(b) S é completo.

(c) x = i∈I (x|xi )xi para todo x ∈ E.

(d) (x|y) = i∈I (x|xi )(y|xi ) para todo x, y ∈ E.

(e) x2 = i∈I |(x|xi )|2 para todo x ∈ E.
A identidade em (e) é conhecida como identidade de Parseval.
Demonstração. As implicações (a) ⇒ (b), (c) ⇒ (d) e (d) ⇒ (e) são claras.
Provaremos as implicações (b) ⇒ (c) e (e) ⇒ (a) ao mesmo tempo.
Dado x ∈ E, sejam

p= (x|xi )xi , q = x − p.
i∈I

70
Pela proposição anterior p está bem definido. Como

(q|xj ) = (x|xj ) − (p|xj ) = 0

para todo j ∈ I, vemos que q ∈ S ⊥ .


Suponhamos (b).Então S é completo, ou seja S ⊥ = {0}. Segue que q = 0,
e portanto x = p = i∈I (x|xi )xi , ou seja (c).

Suponhamos (e), e seja M = [S]. Então p ∈ M e q ∈ M ⊥ . Pelo teorema de


Pitágoras 
x2 = p2 + q2 = |(x|xi )|2 + q2 .
i∈I

Segue de (e) que q = 0, e portanto x = p ∈ M . Logo E = M = [S], ou seja


(a).
Devido à condição (c) do teorema anterior, os conjuntos ortonormais com-
pletos em espaços de Hilbert são chamados também de bases ortonormais.
21.5. Teorema de Riesz-Fischer. Cada espaço de Hilbert separável de
dimensão infinita é isometricamente isomorfo a 2 .
Demonstração. Pelo Corolário 20.8 existe em E uma sequência ortonormal
completa (xn )∞
n=1 . Pelo teorema anterior



(3) x2 = |(x|xn )|2 para todo x ∈ E.
n=1

Consideremos a aplicação

T : x ∈ E → ((x|xn ))∞
n=1 ∈ 2 .

T é claramente linear, e segue de (3) que T é uma isometria. Para completar a


demonstração provaremos que T é∞sobrejetiva.
Dado (ξn ) ∈ 2, seja x = n=1 ξn xn ∈ E. Para provar que x está bem
n
definido, seja sn = j=1 ξj xj para cada n. Então, para m < n temos que
n
 n

sn − sm 2 =  ξj xj 2 = ξj |2 .
j=m+1 j=m+1
∞
Como j=1 |ξj | < ∞, segue que (sn ) é uma sequência de Cauchy em E. Logo x
está bem definido. É claro que (x|xj ) = ξj para cada j. Logo (ξn ) = T x, como
queriamos.
21.6. Proposição. Seja E um espaço com produto interno, e sejam S1 e
S2 dois conjuntos ortonormais completos em E. Então S1 e S2 tem a mesma
cardinalidade.

71
Demonstração. A conclusão é clara se S1 ou S2 é finito. Suponhamos que
S1 e S2 são infinitos. Para cada x ∈ S1 seja

S2 (x) = {y ∈ S2 : (x|y) = 0}.

Afirmamos que 
S2 = S2 (x).
x∈S1

De fato, seja y ∈ S2 . Como y = 0 e S1 é completo, existe x ∈ S1 tal que


(x|y) = 0. Logo y ∈ S2 (x). Segue da Proposição 21.2 que S2 (x) é enumerável
para cada x. Logo
|S2 | ≤ |S1 ||N| = |S1 |.
De maneira análoga podemos provar que |S1 | ≤ |S2 |.
Na seção anterior vimos exemplos de conjuntos ortonormais completos em
Kn2 e 2 . Agora veremos exemplos de conjuntos ortonormais completos em
L2 [0, 2π].
21.7. Teorema. As funções
1 1 1
u0 (t) = √ , un (t) = √ cosnt, vn (t) = √ sennt,
2π π π

com n ∈ N, formam um conjunto ortonormal completo no espaço de Hilbert


real L2 ([0, 2π]; R).
Demonstração. Seja S o conjunto formado pelas funções un e vn . Não é
difı́cil verificar que S é um conjunto ortonormal. Para provar que S é completo
basta provar que [S] é um subespaço denso de L2 ([0, 2π]; R).
Seja
B = {f ∈ C([0, 2π]; R) : f (0) = f (2π)}.
É fácil ver que B é um subespaço denso de C([0, 2π]; R) na norma de L2 ([0, 2π]; R).
Como C([0, 2π]; R) é um subespaço denso de L2 ([0, 2π]; R), segue que B é um
subespaço denso de L2 ([0, 2π]; R).
É claro que [S] ⊂ B. Para completar a demonstração do teorema basta
provar que [S] é um subespaço denso de B na norma de C([0, 2π]; R).
Seja
K = {z ∈ C : |z| = 1} = {eit : 0 ≤ t ≤ 2π}.
Para cada f ∈ B seja f˜ ∈ C(K; R) definida por

f˜(eit ) = f (t) (0 ≤ t ≤ 2π).

É claro que B e C(K; R) são álgebras , e a aplicação

T : f ∈ B → f˜ ∈ C(K; R)

72
é um isomorfismo isométrico entre a álgebra B e sua imagem em C(K; R). Seja
A a subálgebra de B gerada pelas funções

f1 (t) = 1, f2 (t) = cost, f3 (t) = sent,

e seja à = T (A). É claro que à é a subálgebra de C(K; R) gerada pelas funções

f˜1 (eit ) = 1, f˜2 (eit ) = cost, f˜3 (eit ) = sent.

É claro que:
(a) Ã contém as funções constantes;
(b) Ã separa os pontos de K, ou seja, dados Z1 = z2 em K, existe f˜ ∈ Ã tal
que f˜(z1 ) = f˜(z2 ).
Segue do teorema de Stone-Weierstrass que à é densa em C(K; R). Como
T é uma isometria, segue que A é densa em B. Não é difı́cil verificar que cada
f ∈ A pode ser escrita na forma
n

f (t) = a0 + (ak coskt + bk senkt),
k=1

ou seja A ⊂ [S]. Segue que [S] é denso em B, como queriamos.


De maneira análoga, utilizando a versão complexa do teorema de Stone-
Weierstrass, podemos provar o teorema seguinte.
21.8. Teorema. As funções un (t) = eint , com n ∈ Z, formam um conjunto
ortonormal completo no espaço de Hilbert complexo L2 ([0, 2π]; C).

Exercı́cios
21.A. Seja E um espaço com produto interno, e seja S = (xn )∞n=1 uma
seqüência ortonormal em E. Prove que S é fechado e limitado, mas não é
compacto.
21.B. Seja E um espaço de Hilbert, seja (xn )∞
n=1 uma seqüência ortonormal
em E, e seja
∞
L={ λn xn : |λn | ≤ 1/n para todo n}.
n=1

Prove que L é compacto.


Sugestão: Considere o conjunto

K = {(λn )∞
n=1 ⊂ K : |λn | ≤ 1/n para todo n},

e a aplicação


f: (λn )∞
n=1 ∈K→ λn xn ∈ E.
n=1

73
∞ ∞
21.C. Sejam (an )∞ ∞
n=0 e (bn )n=1 em R tais que
2
n=0 |an | < ∞ e
2
n=1 |bn | <
∞. Prove que existe uma única f ∈ L2 ([0, 2π]; R) tal que
 2π  2π  2π
1 1 1
a0 = √ f (t)dt, an = √ f (t)cosntdt, bn = √ f (t)senntdt
2π 0 π 0 π 0

para todo n ∈ N.
+∞
21.D. Seja (cn )+∞n=−∞ em C tal que n=−∞ |cn |2 < ∞. Prove que existe
uma única f ∈ L2 ([0, 2π]; C) tal que
 2π
1
cn = f (t)e−int dt para todo n ∈ Z.
2π 0

74
22. Operadores auto-adjuntos em espaços de Hilbert
E e F denotam espaços de Hilbert.
22.1. Proposição. Dado T ∈ L(E; F ), existe um único T ∗ ∈ L(F ; E) tal
que
(1) (T x|y) = (x|T ∗ y) para todo x ∈ E, y ∈ F.
Tem-se que T ∗  = T . Diremos que T ∗ é o adjunto de T .
Demonstração. Fixemos y ∈ F . Então o funcional x ∈ E → (T x|y) ∈ K
é linear e contı́nuo, com norma ≤ T y. Pelo teorema de representação de
Riesz existe um único y ∗ ∈ E tal que

(2) (T x|y) = (x|y ∗ ) para todo x ∈ E

e y ∗  ≤ T y. Definamos T ∗ : F → E por T ∗ y = y ∗ para cada y ∈ F .


Segue de (2) que T ∗ é linear e contı́nuo, e que T ∗  ≤ T . Isto prova que T ∗
verifica (1), e a unicidade de T ∗ segue de (1).
O mesmo raciocı́nio prova a existência de um único T ∗∗ ∈ L(E; F ) tal que

(3) (T ∗ y|x) = (y|T ∗∗ x) para todo y ∈ F, x ∈ E,

com T ∗∗  ≤ T ∗ . De (1) e (3) segue que T ∗∗ = T , e portanto T ∗  = T .


22.2. Definição. Um operador T ∈ L(E; E) é dito auto-adjunto se T ∗ = T ,
ou seja
(T x|y) = (x|T y) para todo x, y ∈ E.

22.3. Proposição. Seja T ∈ L(E; E) um operador auto-adjunto. Então

T  = sup{|(T x|x)| : x = 1}.

Demonstração. Seja

C = sup{|(T x|x)| : x = 1}.

A desigualdade C ≤ T  segue de imediato da desigualdade de Cauchy-Schwarz.


Provaremos a desigualdade oposta.
Se T s = 0 para todo s ∈ SE , então T = 0, e a conclusão é clara. Seja s ∈ SE
tal que T s = 0, e sejam

x = T s1/2 s, y = T s−1/2 T s.

Então
x2 = y2 = T s
e
(T x|y) = (T y|x) = T s2 .

75
Sejam
u = x + y, v = x − y.
Então
(T u|u) = (T x|x) + (T x|y) + (T y|x) + (T y|y),
(T v|v) = (T x|x) − (T x|y) − (T y|x) + (T y|y).
Segue que
(T u|u) − (T v|v) = 2(T x|y) + 2(T y|x) = 4T s2 .
Por outro lado, pela definição de C, e pela lei do paralelogramo,

(T u|u) − (T v|v) ≤ Cu2 + Cv2 = C(x + y2 + x − y2 )

= 2C(x2 + y2 = 4CT s.


Segue que
4T s2 ≤ 4CT s,
e portanto T  ≤ C.
Se T ∈ L(E; E) é auto-adjunto, é claro que (T x|x) é real apara cada x ∈ E.
Sejam
mT = inf{(T x|x) : x = 1},
MT = sup{(T x|x) : x = 1}.
Com esta notação obtemos o corolário seguinte:
22.4. Corolário. Seja T ∈ L(E; E) um operador auto-adjunto. Então:

T  = max{MT , −mT }.

Seja T ∈ L(E; E). Lembremos que, se λ é um autovalor de T , então Eλ


denota o subespaço Eλ = {x ∈ E : T x = λx}.
22.5. Proposição. Seja T ∈ L(E; E) um operador auto-adjunto.
(a) Se λ é um autovalor de T , então λ é real e mT ≤ λ ≤ MT .
(b) Se λ e µ são autovalores distintos de T , então os subespaços Eλ e Eµ
são ortogonais entre si.
Demonstração. (a) Suponhamos que T x = λx, com x = 1. Então

(T x|x) = (λx|x) = λ,

e portanto mT ≤ λ ≤ MT .
(b) Suponhamos T x = λx e T y = µy. Então

λ(x|y) = (λx|y) = (T x|y) = (x|T y) = (x|µy) = µ(x|y).

Se λ = µ, então (x|y) = 0.

76
Exercı́cios
22.A. Seja T ∈ L(E; F ), e sejam Φ : E → E  e Ψ : F → F  definidos por

Φs, x = (x|s) para todo s, x ∈ E,

Ψt, y = (y|t) para todo t, y ∈ F.


Prove que o seguinte diagrama é comutativo:
T∗
F −→ E

Ψ↓ ↓Φ

T
F −→ E

22.B. Dados S, T ∈ L(E; F ), prove que:


(a) (S + T )∗ = S ∗ + T ∗ .
(b) (λT )∗ = λT ∗ .
(c) T ∗ T  = T T ∗  = T 2 .
22.C. Dados S, T ∈ L(E; E), prove que (T S)∗ = S ∗ T ∗ .
22.D. Seja T ∈ L(E; F ), e sejam M e N subespaços fechados de E e F ,
respectivamente. Prove que T (M ) ⊂ N se e só se T ∗ (N ⊥ ) ⊂ M ⊥ .
22.E. Seja T ∈ L(E; E) um operador auto-adjunto. Prove que T n é auto-
adjunto para cada n ∈ N.
22.F. Sejam s, T ∈ L(E; E) operadores auto-adjuntos. Prove que que T S é
auto-adjunto se e só se T S = ST .

77
23. Teorema espectral para operadores compactos e auto-adjuntos
em espaços de Hilbert
23.1. Proposição. Seja E um espaço de Hilbert, e seja T ∈ L(E; E) um
operador compacto e auto-adjunto, com T = 0. Então T  ou −T  é um
autovalor de T , e existe um autovetor correspondente x ∈ SE tal que |(T x|x)| =
T .
Demonstração. Pelo Corolário 22.4 existe uma sequência (xn ) ⊂ SE tal
que (T xn |xn ) → λ, onde λ é T  ou −T . Notemos que

0 ≤ T xn − λxn 2 = (T xn − λxn |T xn − λxn )

= T xn 2 − λ(T xn |xn ) − λ(xn |T xn ) + λ2 xn 2


≤ T 2 − 2λ(T xn |xn ) + λ2 .
Como T 2 − 2λ(T xn |xn ) + λ2 → 0, segue que T xn − λxn → 0.
Como T é compacto, a sequência (T xn ) admite uma subsequência conver-
gente. Sem perda de generalidade podemos supor que (T xn ) converge a um
vetor y. Como T xn − λxn → 0, segue que λxn → y. Como λ = 0, segue que
xn → x, onde x = λy . Como xn  = 1 para todo n, segue que x = 1. Por
um lado T xn → y = λx. Por outro lado T xn → T x. Logo T x = λx, e λ é
um autovalor. Finalmente, como |(T xn |xn )| → T , segue que |(T x|x)| = T ,
completando a demonstração.
23.2. Teorema. Seja E um espaço de Hilbert, e seja T ∈ L(E; E) um
operador compacto e auto-adjunto, com T = 0. Então:
(a) Existe uma sequência finita ou infinita (λn ) de autovalores, e uma sequência
correspondente (xn ) de autovetores, tal que T admite uma representação da
forma  
(1) Tx = λn (x|xn )xn = (T x|xn )xn
para todo x ∈ E. A sequência (xn ) é ortonormal.
(b) Se a sequência (λn ) é infinita, então λn → 0.
(c) Cada autovalor λ = 0 de T aparece na sequência (λn ). O subespaço de
autovetores correspondente Eλ tem dimensão finita. A dimensão de Eλ coincide
com o número de vezes que λ aparece na sequência (λn ).
Demonstração. (a) Aplicando a proposição anterior obtemos λ1 ∈ R, e
x1 ∈ E, com x1  = 1, tais que

T x1 = λ1 x1 , |λ1 | = T .

Seja E1 = [x1 ] o subespaço gerado por x1 . Não é difı́cil verificar que o subespaço
E1⊥ é invariante sob T , ou seja T (E1⊥ ) ⊂ E1⊥ . De fato, para cada x ∈ E1⊥ tem-se
que
(T x|x1 ) = (x|T x1 ) = (x|λ1 x1 ) = λ1 (x|x1 ) = 0.

78
Se a restrição T |E1⊥ é identicamente zero, então o processo termina ai. Caso
contrário, aplicando a proposição anteror à restrição T |E1⊥ , obtemos λ2 ∈ R, e
x2 ∈ E1⊥ , com x2  = 1, tais que

T x2 = λ2 x2 , |λ2 | = T |E1⊥ .

Procedendo por indução obtemos uma sequência (λn ) ⊂ R, com λn = 0, e uma


sequência correspondente (xn ) ⊂ E, com xn  = 1, tais que
⊥ ⊥
T xn = λn xn , xn ∈ En−1 , |λn | = T |En−1  para cada n ≥ 2,

onde En = [x1 , ..., xn ] para cada n ≥ 1. É claro que a sequência (|λn |) é


decrescente, e a sequência (xn ) é ortonormal.
Suponhamos primeiro que a restrição T |En⊥ seja zero para algum n. Cada
x ∈ E pode ser escrito na forma

x = yn + zn , com yn ∈ En , zn ∈ En⊥ ,

e portanto
n

x= (x|xj )xj + zn .
j=1

Como T |En⊥ = 0, segue que


n
 n

Tx = (x|xj )T xj = (x|xj )λj xj
j=1 j=1

n
 n
 n

= (x|λj xj )xj = (x|T xj )xj = (T x|xj )xj .
j=1 j=1 j=1

Isto prova a representação (1) quando T |En⊥ = 0 para algum n.


(b) Suponhamos que a sequência (λn ) seja infinita, mas λn → 0. Como (|λn |)
é decrescente, existe  > 0 tal que |λn | ≥  para todo n. Como T é compacto,
a sequência (T xn ) admite uma subsequẽncia convergente. Como T xn = λn xn
e |λn | ≥  para todo n, segue que (xn ) admite uma subsequência convergente.
Mas isto é absurdo, pois, sendo (xn ) ortonormal, segue que xn − xm 2 = 2
sempre que n = m.
A seguir provaremos que a representação (1) é válida quando a restrição
T |En⊥ é distinta de zero para cada n. Como no caso anterior escrevamos x =
yn + zn , com yn ∈ En , zn ∈ En . Como |λn+1 | = T |En⊥ , segue que

T zn  ≤ T |En⊥ zn  ≤ |λn+1 |x → 0.

Segue que
n

T x = T yn + T zn = lim T yn = lim (x|xj )T xj
n→∞ n→∞
j=1

79

 ∞

= (x|xj )λj xj = (T x|xj )xj .
j=1 j=1

(c) Suponhamos que exista um autovalor λ = 0 de T que não apareça na


sequência (λn ). Seja x um autovetor correspondente, x = 0. Neste caso (x|xn ) =
0 para cada n, e segue de (1) que T x = 0, absurdo, pois T x = λx, com λ = 0,
x = 0.
Suponhamos que um autovalor λ = 0 apareça p vezes na sequência (λn ).
Neste caso o subespaço Eλ contém um subconjunto ortonormal formado por
p vetores xn1 , ..., xnp , e dai dimEλ ≥ p. Se fosse dimEλ > p, então existiria
x ∈ Eλ , com x = 0 e (x|xnj ) = 0 para j = 1, ..., p. Dai (x|xn ) = 0 para todo n,
e seguiria de novo de (1) que T x = 0, absurdo. Logo dimEλ = p.

Exercı́cios
23.A. Seja S ∈ L(2 ; 2 ) definido por

S : (ξ1 , ξ2 , ξ3 , ...) → (0, ξ1 , ξ2 , ξ3 , ...).

(a) S é injetivo?
(b) S é sobrejetivo?
(c) S é compacto?
(d) Determine o adjunto S ∗ de S
23.B. Seja T ∈ L(E; F ) um operador de posto finito. Prove que T admite
uma representação da forma
n

Tx = (x|ak )bk
k=1

para cada x ∈ E, onde ak ∈ E e bk ∈ F .


23.C. Seja T ∈ L(2 ; 2 ) o operador definido por

ξ2 ξ3
T : (ξ1 , ξ2 , ξ3 , ...) → (ξ1 , , , ...).
2 3
Prove que T é um operador compacto e auto-adjunto.

80
24. Espaços localmente convexos
24.1. Definição. Diremos que E é um espaço vetorial topológico sobre K
se se verificam as seguintes condições:
(a) E é um espaço vetorial sobre K.
(b) E é um espaço topológico.
(c) As seguintes aplicações são contı́nuas:

(x, y) ∈ E × E → x + y ∈ E,

(λ, x) ∈ K × E → λx ∈ E.

24.2. Proposição. Seja E um espaço vetorial topológico. Então:


(a) Para cada a ∈ E, a aplicação x ∈ E → a + x ∈ E é um homeomorfismo.
(b) Para cada λ = 0 em K, a aplicação x ∈ E → λx ∈ E é um homeomor-
fismo.
Demonstração. (a) segue da continuidade da aplicação (x, y) ∈ E × E →
x + y ∈ E. (b) segue da continuidade da aplicação (λ, x) ∈ K × E → λx ∈ E.
24.3. Corolário. Seja E um espaço vetorial topológico. Então:
(a) Para cada a ∈ E, U é uma vizinhança de zero se e só se a + U é uma
vizinhança de a.
(b) Para cada λ = 0 em K, U é uma vizinhança de zero se e só se λU é
uma vizinhança de zero.
24.4. Definição. Seja E um espaço vetorial sobre K.
(a) Um conjunto A ⊂ E é dito convexo se (1 − λ)x + λy ∈ A para todo
x, y ∈ A e 0 ≤ λ ≤ 1.
(b) Um conjunto A ⊂ E é dito equilibrado se λx ∈ A para todo x ∈ A e
|λ| ≤ 1.
(c) Um conjunto A ⊂ E é dito absorvente se dado x ∈ E, existe δ > 0 tal
que λx ∈ A para todo |λ| ≤ δ.
24.5. Exemplo. Se E é um espaço vetorial topológico, então é fácil ver
que cada vizinhança de zero em E é um conjunto absorvente. Basta usar a
continuidade da aplicação λ ∈ K → λx ∈ E em zero para x ∈ E fixo.
24.6. Definição. Diremos que E é um espaço localmente convexo se E
é um espaço vetorial topológico tal que cada vizinhança de zero contém uma
vizinhança convexa de zero.
24.7. Proposição. Seja E um espaço localmente convexo. Então cada
vizinhança de zero contém uma vizinhança convexa e equilibrada de zero.
Demonstração. Seja U uma vizinhança de zero em E. Seja U1 uma vizin-
hança convexa de zero em E, U1 ⊂ U . Como a aplicação

(λ, x) ∈ K × E → λx ∈ E

81
é contı́nua em (0, 0), existem δ > 0 e uma vizinhança V de zero em E tais que
λx ∈ U1 para todo |λ| ≤ δ e x ∈ V . Seja

V1 = λV.
|λ|≤δ

Então V1 é uma vizinhança equilibrada de zero em E, V1 ⊂ U1 . Seja


n n

W ={ λj xj : xj ∈ V1 , λj ≥ 1, λj = 1}.
j=1 j=1

Então W é o menor subconjunto convexo de E que contém V1 . Como V1 é


equilibrado, segue que W é equilibrado. Como V1 ⊂ U1 , e U1 é convexo, segue
que W ⊂ U1 . Segue que W é uma vizinhança convexa e equilibrada de zero em
E, W ⊂ U .
24.8. Exemplos. (a) É fácil ver que cada espaço normado E é um espaço
localmente convexo. As bolas B(0; ), com  > 0, formam uma base de vizin-
hanças convexas e equilibradas de zero.
(b) Seja E um espaço normado. Dados x0 ∈ E, φ1 , ..., φn ∈ E  e  > 0,
consideremos o conjunto

U (x0 ; φ1 , ..., φn ; ) = {x ∈ E : sup |φj (x − x0 | < }.


1≤j≤n

Diremos que um conjunto U ⊂ E é aberto para a topologia fraca, que deno-


taremos por σ(E, E  ), se para cada x0 ∈ U , U contém um conjunto da forma
U (x0 ; φ1 , ..., φn ; ). É fácil ver que (E, σ(E, E  )) é um espaço localmente con-
vexo. Os conjuntos da forma U (0; φ1 , ..., φn ; ), com φ1 , ..., φn ∈ E  e  > 0,
formam uma base de vizinhanças convexas e equilibradas de zero.
(c) Seja E um espaço normado. Dados φ0 ∈ E  , x1 , ..., xn ∈ E e  > 0,
consideremos o conjunto

U (φ0 ; x1 , ..., xn ; ) = {φ ∈ E  : sup |(φ − φ0 )(x)| < }.


1≤j≤n

Diremos que um conjunto U ⊂ E  é aberto para a topologia fraca-estrela, que


denotaremos por σ(E  , E), se para cada φ0 ∈ U , U contém um conjunto da
forma U (φ0 ; x1 , ..., xn ; ). É fácil ver que (E  , σ(E  , E)) é um espaço localmente
convexo. Os conjuntos da forma U (0; x1 , ..., xn ; ), com x1 , ..., xn ∈ E e  > 0,
formam uma base de vizinhanças convexas e equilibradas de zero.
(d) Seja X um espaço topológico, e seja C(X) o espaço vetorial de todas as
funções contı́nuas f : X → K. Dados f0 ∈ C(X), K ⊂ X compacto e  > 0,
consideremos o conjunto

U (f0 , K, ) = {f ∈ C(X) : sup |f (x) − f0 (x)| < }.


x∈K

82
Diremos que um conjunto U ⊂ C(X) é aberto para a topologia compacto-aberta,
que denotaremos por τ0 , se para cada f0 ∈ U , U contém um conjunto da forma
U (f0 , K, ). É fácil ver que (C(X), τ0 ) é um espaço localmente convexo. Os
conjuntos da forma U (0, K, ), com K ⊂ X compacto e  > 0, formam uma
base de vizinhanças convexas e equilibradas de zero.
24.9. Definição. Seja E um espaço vetorial. Uma função p : E → R é
chamada de seminorma se verifica as seguintes condições:
(a) p(x) ≥ 0 para todo x ∈ E.
(b) p(λx) = |λ|p(x) para todo x ∈ E, λ ∈ K.
(c) p(x + y) ≤ p(x) + p(y) para todo x, y ∈ E.
Uma seminorma p é uma norma se e só se p(x) = 0 implica x = 0.
24.10. Proposição. Seja E um espaço vetorial, e seja p uma seminorma
em E. Então o conjunto

Vp, = {x ∈ E : p(x) < }

é convexo, equilibrado e absorvente, para cada  > 0.


A demonstração desta proposição é simples, e é deixada como exercı́cio.
24.11. Definição. Seja E um espaço vetorial, e seja A um subconjunto
absorvente de E. A função pA : E → R definida por

pA (x) = inf{ρ > 0 : x ∈ ρA}

é chamada de funcional de Minkowski de A.


24.12. Proposição. Seja E um espaçoi vetorial, e seja A um subconjunto
convexo, equilibrado e absorvente de E. Então:
(a) pA é uma seminorma em E.
(b) {x ∈ E : pA < 1} ⊂ A ⊂ {x ∈ E : pA (x) ≤ 1}.
Demonstração. (a) É claro que pA (x) ≥ 0 para todo x ∈ E. A seguir
provemos que

pA (λx) = |λ|pA (x) para todo x ∈ E, λ ∈ K.

Isto é claro se λ = 0. Se λ = 0, então, como A é equilibrado, temos que

pA (λx) = inf{ρ > 0 : λx ∈ ρA} = inf{ρ > 0 : |λ|x ∈ ρA}


ρ
= inf{ρ > 0 : x ∈ A} = inf{|λ|σ : σ > 0, x ∈ σA} = |λ|pA (x).
|λ|
Finalmente provemos que

pA (x + y) ≤ pA (x) + pA (y) para todo x, y ∈ E.

83
Dado  > 0, existem α, β > 0 tais que x ∈ αA, α < pA (x) + , x ∈ βA,
β < pA (x) + . Como A é convexo,

α β
x + y ∈ αA + βA = (α + β)( A+ A) ⊂ (α + β)A.
α+β α+β
Segue que
pA (x + y) ≤ α + β ≤ pA (x) + pA (y) + 2.
Como  > 0 é arbitrário, a conclusão desejada segue.
(b) é claro.

84
25. O teorema de Hahn-Banach em espaços localmente convexos
Se E é um espaço vetorial topológico, denotaremos por E  o espaço vetorial
dos funcionais lineares contı́nuos φ : E → K. Um exame da demonstração do
teorema de Hahn-Banach em espaços normados mostra o teorema seguinte.
25.1. Teorema de Hahn-Banach. Seja E um espaço vetorial, e seja M0
um subespaço de E. Seja p : E → R uma seminorma, e seja φ0 : M0 → K
um funcional linear tal que |φ0 (x)| ≤ p(x) para todo x ∈ M0 . Então existe um
funcional linear φ : E → K tal que:
(a) φ(x) = φ0 (x) para todo x ∈ M0 ;
(b) |φ(x)| ≤ p(x) para todo x ∈ E.
25.2. Corolário. Seja E um espaço localmente convexo, e seja M0 um
subespaço de E. Então, dado φ0 ∈ M0 , sempre existe φ ∈ E  tal que φ(x) =
φ0 (x) para todo x ∈ M0 .
Demonstração. O conjunto
U = {x ∈ M0 : |φ0 (x)| < 1}
é uma vizinhança aberta de zero em M0 . Seja V uma vizinhança aberta de zero
em E tal que V ∩ M0 = U . Seja W uma vizinhança convexa e equilibrada de
zero em E tal que W ⊂ V . Então W ∩ M0 ⊂ U e
{x ∈ E : pW (x) < 1} ⊂ W ⊂ {x ∈ E : pW (x) ≤ 1}.
Se x ∈ M0 e pW (x) < 1, segue que |φ0 (x)| < 1, e dai segue que |φ0 (x)| ≤ pW (x)
para todo x ∈ M0 . Pelo teorema anterior existe um funcional linear φ : E → K
tal que φ(x) = φ0 (x) para todo x ∈ M0 e |φ(x)| ≤ pW (x) para todo x ∈ E.
Segue que |φ(x)| ≤  para todo x ∈ W . Em particular φ é contı́nuo.
25.3. Corolário. Seja E um espaço localmente convexo de Hausdorff.
Então, dado x = 0 em E, sempre existe φ ∈ E  tal que φ(x) = 0.
Demonstração. Sendo E um espaço de Hausdorff, existe uma vizinhança
U de zero tal que x ∈/ U . Sem perda de generalidade podemos supor que U é
equilibrada. Isto implica que |λ| < 1 sempre que λx ∈ U , e portanto
(1) |λ| <  sempre que λx ∈ U.
Seja M0 = [x], e seja φ0 : M0 → K definido por φ0 (λx) = λ. φ0 é claramente
linear, e segue de (1) que φ0 é contı́nuo. Pelo corolário anterior existe φ ∈ E 
tal que φ(y) = φ0 (y) para todo y ∈ M0 . Em particular φ(x) = 1 = 0.
25.4. Corolário. Seja E um espaço vetorial topológico, seja A um subcon-
junto convexo, equilibrado e aberto de E, e seja b ∈ E \ A. Então existe φ ∈ E 
tal que φ(b) ≥ 1 e |φ(a)| < 1 para todo a ∈ A.
Demonstração. Pela Proposição 24.12
{x ∈ E : pA (x) < 1} ⊂ A ⊂ {x ∈ E : pA (x) ≤ 1}.

85
Como A é aberto, segue que

A = {x ∈ E : pA < 1},

e portanto pA (b) ≥ 1.
Seja M0 = [b], e seja φ0 : M0 → K definido por φ0 (λb) = λpA (b) para todo
λ. φ0 é claramente linear e |φ0 (λb)| = pA (λb) para todo λ. Pelo Teorema 25.1
existe φ ∈ E ∗ tal que φ(λb) = λpA (b) para todo λ e |φ(x)| ≤ pA (x) para todo
x ∈ E. Em particular φ é contı́nuo, φ(b) = pA (b) ≥ 1 e |φ(a)| ≤ pA (a) < 1 para
todo a ∈ A.
25.5. Corolário. Seja E um espaço localmente convexo, seja A um sub-
conjunto convexo, equilibrado e fechado de E, e seja b ∈ E \ A. Então existe
φ ∈ E  tal que φ(b) > 1 e |φ(a)| ≤ 1 para todo a ∈ A.
Demonstração. Seja U uma vizinhança convexa e equilibrada de zero tal
que (b + 2U ) ∩ A = ∅, e portanto (b + U ) ∩ (A + U ) = ∅. Seja C = A + U . Pela
Proposição 24.12

{x ∈ E : pC (x) < 1} ⊂ C ⊂ {x ∈ E : pC (x) ≤ 1}.

Como C é fechado, segue que

C = {x ∈ E : pC (x) ≤ 1},

e portanto pC (b) > 1.


Seja M0 = [b], e seja φ0 : M0 → K definido por φ0 (λb) = λpC (b) para todo
λpC (b). φ0 é claramente linear e φ0 (λb) = pC (λb) para todo λ. Pelo Teorema
25.1 existe φ ∈ E ∗ tal que φ(λb) = λpC (b) para todo λ e |φ(x)| ≤ pC (x) para
todo x ∈ E. Em particular φ é contı́nuo, φ(b) = pC (b) > 1 e |φ(a)| ≤ pC (a) ≤ 1
para todo a ∈ A.

86
26. A topologia fraca
Seja E um espaço normado. Lembremos que a topologia fraca σ(E, E  ), é
a topologia que admite como base de vizinhanças de x0 ∈ E os conjuntos da
forma

U (x0 ; φ1 , ..., φn ; ) = {x ∈ E : |φj (x − x0 )| <  para 1 ≤ j ≤ n},

com φ1 , ..., φn ∈ E  e  > 0. Denotemos por τE a topologia da norma em


E. Como cada vizinhança U (0; φ1 , ..., φn ; ) contém uma bola, é claro que
σ(E, E  ) ≤ τE .
26.1. Observação. Não é difı́cil provar que cada vizinhança da forma
U (0; φ1 , ..., φn ; ) contém uma vizinhança da forma U (0; ψ1 , ..., ψm ; δ), com ψ1 , ..., ψm
linearmente independentes.
26.2. Proposição. Se E é um espaço normado, então (E, σ(E, E  )) = E  .

Demonstração. Como σ(E, E  )) ≤ τE , é claro que

(E, σ(E, E  )) ⊂ E  .

Para provar a inclusão oposta, seja φ ∈ E  . Como

U (0; φ; ) = {x ∈ E : |φ(x)| < },

é claro que φ é σ(E, E  )-contı́nua.


O lema seguinte é muito útil.
26.3. Lema. Seja E um espaço vetorial, e sejam φ1 , ..., φn , φ ∈ E  tais que
n

φ−1
j (0) ⊂ φ
−1
(0).
j=1

Então φ é combinação linear de φ1 , ..., φn .


Demonstração. Seja T : E → Kn definida por

T x = (φ1 (x), ..., φn (x)).

Então T é linear, e segue da hipótese que T −1 (0) ⊂ φ−1 (0). Se definimos


ψ : T (E) → K por ψ(T x) = φ(x), então ψ está bem definida e é linear. Seja
Ψ : Kn → K uma transformação linear tal que Ψ|T (E) = ψ. Se (e1 , ..., en ) é a
base canônica de Kn , então

φ(x) = ψ(T x) = Ψ(T x) = Ψ(φ1 (x), ..., φn (x))


n n

= Ψ( φj (x)ej ) = φj (x)Ψ(ej ).
j=1 j=1

87
26.4. Corolário. Seja E um espaço vetorial, e sejam φ1 , ..., φn ∈ E ∗
funcionais lineares linearmente independentes. Então:
(a) Existen vetores x1 , ..., xn ∈ E tais que φj (xk ) = δjk para j, k = 1, ...n.
n
(b) E = [x1 , ..., xn ] ⊕ j=1 φ−1 j (0) algebricamente.

26.5. Proposição. Seja E um espaço normado. Então σ(E, E  ) = τE se


esó se E tem dimensão finita.
Demonstração. Suponhamos que E tenha dimensão finita. Seja (e1 , ..., en )
uma base de E, e seja (φ1 , ..., φn ) a base dual. Seja T : E → n∞ o isomorfismo
canônico, ou seja T x = (φ1 (x), ..., φn (x)) para cada x ∈ E. Então T é um
isomorfismo topológico, e T transforma a vizinhança U (0; φ1 , ..., φn ; ) na bola
B(0; ). Isto prova que as topologias σ(E, E  ) e τE coincidem.
Reciporocamente suponhamos que σ(E, E  ) = τE . Então a bola BE contém
uma vizinhança da forma U (φ1 , ...φn ; ), com φ1 , ..., φn linearmente indepen-
dentes. Assim temos que
n

BE ⊃ U (0; φ1 , ..., φn ; ) ⊃ φ−1
j (0).
j=1

Pelo Corolário 26.4 existem vetores x1 , ..., xn ∈ E tais que


n

E = [x1 , ..., xn ] ⊕ φ−1
j (0).
j=1

Como
na bola BE não pode conter um subespaço vetorial não trivial, concluı́mos
−1
que j=1 φj (0) = {0}, e portanto E = [x1 , ..., xn ] tem dimensão finita.

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27. A topologia fraca estrela
Seja E um espaço normado. Lembremos que a topologia fraca estrela σ(E  , E),
é a topologia que admite como base de vizinhanças de φ0 ∈ E  os conjuntos da
forma

U (φ0 ; x1 , ..., xn ; ) = {φ ∈ E  : |(φ − φ0 )(xj )| <  para 1 ≤ j ≤ n},

com x1 , ..., xn ∈ E e  > 0. É claro que σ(E  , E) ≤ σ(E  , E  ) ≤ τE  .


27.1. Observação. Não é difı́cil provar que cada vizinhança da forma
U (0; x1 , ..., xn ; ) contém uma vizinhança da forma U (0; y1 , ..., ym ; δ), com y1 , ..., ym
linearmente independentes.
27.2. Proposição. Se E um espaço normado, então (E  , σ(E  , E)) = E.
Demonstração. Cada x ∈ E define um funcional linear

x̂ : φ ∈ E  → φ(x) ∈ K,

que é claramente contı́nuo para σ(E  , E). Isto prova que

E ⊂ (E  , σ(E  , E)) .

Para provar a inclusão oposta, seja T ∈ (E  , σ(E  , E)) . Então existem x1 , ..., xn ∈
E e  > 0 tais que

U (0; x1 , ..., xn ; ) ⊂ {φ ∈ E  : |T (φ)| < 1}.

Segue que
n

x̂−1
j (0) ⊂ T
−1
(0).
j=1

Pelo Lema 26.3 T é combinação linear dos funcionais x̂j , ou seja


n
 n
T (φ) = αj φ(xj ) = φ( αj xj )
j=1 j=1
n
para cada φ ∈ E  . Assim T = x̂, onde x = j=1 αj xj .
27.3. Proposição. Seja E um espaço normado. Então σ(E  , E) = τE  se
e só se E tem dimensão finita.
Demonstração. Suponhamos que E tenha dimensão finita. Seja (e1 , ..., en )
uma base de E, e seja (φ1 , ..., φn ) a base dual. Seja T : E  → n∞ o isomorfismo
canônico, ou seja T φ = (φ(e1 ), ..., φ(en )) para cada φ ∈ E  . Então T é um
isomorfismo topológico, e T transforma a vizinhança U (0; e1 , ..., en ; ) na bola
B(0; ) . Isto prova que as topologias σ(E  , E) e τE  coincidem.
Reciprocamente, suponhamos que σ(E  , E) = τE  . Segue que σ(E  , E  ) =
τE  . Pela Proposição 26.5 E  tem dimensão finita. Logo E tem dimensão finita.

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27.4. Teorema de Goldstine. Seja E um espaço normado. Então:
σ(E  ,E  )
(a) BE  = B E .
 σ(E  ,E  )
(b) E = E .
Demonstração. Basta provar (a), pois (b) é conseqüência imediata de (a).
É claro que BE ⊂ BE  , e que BE  é σ(E  , E  )-fechada. Logo
σ(E  ,E  )
BE ⊂ BE  .

Para provar a inclusão oposta suponhamos que exista


σ(E  ,E  )
y  ∈ BE  \ B E .
σ(E  ,E  )
Como B E é convexo, equilibrado e σ(E  , E  )-fechado, o Teorema 25.5
garante a existência de T ∈ (E  , σ(E  , E  )) tal que
σ(E  ,E  )
|T (y  )| > sup{|T (x )| : x ∈ B E }.

Como (E  , σ(E  , E  )) = E  , pela Proposição 27.2, existe y  ∈ E  tal que


T (y  ) = y  (y  ) para todo y  ∈ E  . Logo

|y  (y  )| > sup{|y  (x)| : x ∈ BE } = y  .

Seja z  = y  /y  . Então |y  (z  )| > 1, absurdo, pois z  ∈ BE  e y  ∈ BE  .


27.5. Teorema de Alaoglu. Se E é um espaço normado, então a bola
BE  é σ(E  , E)-compacta.
Demonstração. Seja T : E  → KE definida por

T (φ) = (φ(x))x∈E .

Então T é um isomorfismo topológico entre (E  , σ(E  , E)) e sua imagem em KE .


Se D(0; r) denota a bola fechada de centro 0 e raio r em K, então é claro que

T (BE  ) ⊂ D(0; x).
x∈E

Pelo teorema de Tychonoff o produto x∈E D(0; x) é compacto.  Para com-
pletar a demonstração basta provar que T (BE  ) é fechado em x∈E D(0; x).
Seja (φi ) uma rede em BE  tal que (T (φi )) converge a g em x∈E D(0; x),
ou seja φi (x) → g(x) para cada x ∈ E. Como cada φi é linear, é fácil ver que g
é linear. E como g(x) ∈ D(0; x||) para cada x ∈ E, concluimos que g ∈ BE  .
27.6. Teorema. Um espaço normado E é reflexivo se e só se a bola BE é
σ(E, E  )-compacta.
Demonstração. Suponhamos que E seja reflexivo. Sabemos que a inclusão
canônica E → E  é uma isometria, e além disso a topologia σ(E  , E  ) em E 

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induz a topologia σ(E, E  ) em E. Assim, se E é reflexivo, então BE = BE 
e as topologias σ(E, E  ) e σ(E  , E  ) coincidem em BE = BE  . Como BE 
é σ(E  , E  )-compacto, pelo Teorema de Alaoglu, segue que BE é σ(E, E  )-
compacto.
Reciprocamente suponhamos que a bola BE seja σ(E, E  )-compacta. Pelo
Teorema de Goldstine temos que
σ(E  ,E  )
BE  = B E .

Assim, dado x ∈ BE  , existe uma rede (xi ) ⊂ BE tal que

x , x  = limx , xi 

para todo x ∈ E  . Como a bola BE é σ(E, E  )-compacta, a rede (xi ) admite


uma subrede (xθ(j) ) que converge fracamente a um ponto x ∈ BE , ou seja

x , x = limx , xθ(j) ).

Segue que
x , x  = limx , xθ(j)  = x , x
para todo x ∈ E  , e portanto x = x. Logo BE  = BE , e E é reflexivo.

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