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GABINETE DO MINISTRO
COMISSÃO DE ÉTICA
Trabalhos
vencedores do
I Concurso de
Ensaios sobre
Gestão da Ética
Pública
no âmbito do
Ministério da
Defesa
Brasília, 2008
2
MINISTÉRIO DA DEFESA
GABINETE DO MINISTRO
COMISSÃO DE ÉTICA
TRABALHOS VENCEDORES DO
I CONCURSO DE ENSAIOS SOBRE
GESTÃO DA ÉTICA PÚBLICA
NO ÂMBITO DO MINISTÉRIO DA DEFESA
Brasília, 2008
3
Organização do Concurso
Catalogação bibliográfica
38 p.
Apresentação
corrupção.
geral uma singela contribuição ao aprimoramento das funções dos órgãos públicos, que
esperamos refletir na melhor atuação institucional, mediante boas práticas que tenham por
Sumário
Reflexões sobre a ética como valor a ser resgatado pela Administração Pública
e por toda a sociedade
2o lugar
Capitão-Tenente Victor Carvalho Gervásio, do Comando da Marinha ..................... 16 – 26
1. Introdução
conduta ética e moral do homem. Hoje são muitos os problemas e as teorias da ética
que dá sinais de esgotamento e desequilíbrio do seu meio ambiente; à ciência, que chega no
domínio do patrimônio genético da raça humana; à mídia, que por meio da tecnologia da
informação penetra nos mais recônditos lugares do nosso planeta e tem poder decisivo na
formação da opinião pública; à política, função vital e intrínseca de uma nação, que urge pelo
aprimoramento ético, sem o qual continuará permeada de vícios e distorções graves na sua
condução; e ao Estado, que potencializa a vida em sociedade de uma nação, necessitando ser
dinâmico e eficiente para dar respostas mais rápidas às demandas geradas pelos novos tempos.
serviços à sociedade. O Brasil, país continente, possui em seu território riquezas de todos os
gêneros, apresentando-se como um dos maiores potenciais econômicos do planeta, mas que ainda
possui contrastes e desigualdades sociais que nos desafiam para uma tomada de decisão que
cidadão pertencente à sociedade que clama por melhorias e bem estar. Não há como haver
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Major Aviador da Força Aérea Brasileira (FAB). Autor do trabalho vencedor do I Concurso de Ensaios sobre
Gestão da Ética Pública no âmbito do Ministério da Defesa.
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cada indivíduo que a compõe. Contudo, para que isso possa acontecer em sua plenitude, é
necessário que esse indivíduo desperte sua consciência e entenda que suas ações compõem o
moral do ser humano, visa sua melhor integração individual e social e é o instrumento mais
conceitos da gestão de ética pública, com o intuito de identificar sua importância, assim como
advento da comunicação e informação, que exige uma interação cada vez maior entre o Estado e
a sociedade, recaindo sobre esses aspectos um dos maiores desafios para a gestão da ética
pública. Torna-se fundamental à administração pública uma gestão ética capaz de fornecer à
ética pública. A transparência, realizada pela abertura total à sociedade da sua estrutura e
Nesse aspecto, houve grandes avanços nos últimos anos, com o desenvolvimento
de vários projetos voltados para a divulgação dos trabalhos realizados e dos resultados obtidos. A
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mídia permanecerá como ferramenta fundamental para a ampliação desse processo e deve
ocorrendo, tem um potencial maior e deve ser explorada com mais eficácia. O Sistema Brasileiro
de Televisão Digital Terrestre, que já está na sua fase de implantação, terá, também, destaque na
formação de uma comissão para o delineamento das estratégias apropriadas para esse importante
veículo de comunicação.
sistemas não cumpre o objetivo ético proposto para a gestão pública. Além de não abrangerem a
máquina). A força da administração pública está nos seus homens, que são o seu cartão de
visitas. Como conseqüência, o contato entre funcionários públicos e sociedade é o carro chefe
Com isso a reflexão ética mais profunda e ampla é uma necessidade oriunda da
própria diversidade e complexidade dos segmentos da ação humana nos nossos dias. Os desafios
para o fortalecimento do comportamento ético na administração pública são muitos, mas devem
oriundos da sociedade, por meio de concursos públicos, que não têm mensurados os seus valores
éticos e morais no ato das suas efetivações como servidores, nem tampouco os fatores
motivacionais que os levaram a ingressar no serviço público. Daí decorrem questões relativas ao
Associada a isso, está a sensação de estabilidade do servidor público federal, gerada pelo fato de
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costumes sociais. Todavia o filósofo Ortega y Gasset afirma que “os costumes não podem ser
reformados ou copiados de outros povos. O que é bom ou mau é o caráter dos homens e este sim
pode ser passível de reforma e melhoria. A ação da cultura pode melhorar o caráter dos homens e
este sim pode ser objeto de reforma e melhoria. A ação dos elementos da cultura pode melhorar o
caráter dos homens, mas não os costumes de um povo. A reforma possível e desejável de se fazer
é moral e envolve o caráter dos homens” (Ortega y Gasset, 1994). Para levá-la adiante, Ortega y
Gasset aponta a educação. Através dela, os homens podem desenvolver novos comportamentos,
y Gasset, da reforma do caráter, pois ela possui um nítido componente moral. O que há para ser
preferirem as boas coisas. É aí que se deve atuar para obter efeito, e nenhuma ação dará bons
ético do funcionalismo público está na educação do seu servidor e na sua formação ética. Isso
moral e ética, tornando-se uma transmissora desses valores éticos e morais, tanto dentro do seu
(Comissão de Ética do Ministério da Defesa) a profundidade dos valores e ações que devem ser
É evidente que para a análise reflexiva e crítica desses mandamentos, por parte do
servidor, é preciso haver no seu interior um substrato adequado para o processamento do seu
pensamento.
dever de querer “fazer a coisa certa” frente ao crivo popular, assim como a criação de
seus servidores é a tarefa da educação, que deve vir primeiro, iniciando o processo. Antes de se
procedimentos que devem ser adotados pela Administração e pelo servidor. O Código de Ética
comportamentais desejáveis, que encerram questões muito complexas e que exigem uma
preparação prévia do terreno para que as sementes semeadas possam dar os bons frutos
desejados.
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Cabe ressaltar que nos dias atuais os programas educacionais voltados para o
servidor público não atendem ao objetivo até aqui proposto. As palestras, seminários e simpósios
necessários para a sedimentação dos valores éticos que se fazem necessários para o exercício
educação.”
suas ações.
Esses programas, atrelados aos outros dispositivos já existentes, com suas devidas
resultados duradouros.
servidor, é necessário que cada órgão faça uma avaliação diagnóstica, pós-ingresso, a respeito
formulário utilizado por ele para consignar suas considerações, sendo, contudo, importante
identificar o seu nível funcional, para que as ações posteriores possam trabalhar os conteúdos
valores éticos devem ter seus conceitos bem sedimentados no indivíduo. A filosofia, a
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conhecimentos.
conteúdos, a Administração Pública buscará parcerias com suas próprias instituições de ensino
interrupção. Cada nível funcional ou hierárquico estará contemplado com módulos educacionais
específicos, que devem possuir uma fase básica e uma avançada. Na fase básica, que trabalhará
os valores éticos fundamentais para a convivência em harmonia com o meio social em que está
ao bom desempenho na sua carreira, aperfeiçoando cada vez mais o seu caráter. A fase avançada
tem caráter permanente e ambas as fases terão reforços com debates, palestras, simpósios e
horários para a aplicação do programa estarão a cargo de cada órgão, podendo-se viabilizar
horários dentro do expediente ou fora dele. Da mesma forma, caberá a cada órgão a separação e
definição dos grupos que receberão a formação, procurando sempre evitar prejuízo ao serviço
público prestado.
A tecnologia do século XXI vai ser a melhor aliada para a consecução dos
programas que serão desenvolvidos. O ensino à distância está cada vez mais eficiente e também
poderão abranger vários locais de uma mesma instituição, ou de várias, com transmissão
simultânea.
necessidade de prestar contas à sociedade, demanda vários desafios a serem enfrentados, dentre
eles a criação de mecanismos eficazes contra os comportamentos antiéticos dos seus servidores.
5. Visão prospectiva
número de servidores acarretará a redução de gastos com o funcionalismo público pelo Estado,
caráter existentes e, também, no direcionamento de mais dinheiro para a consecução das políticas
sociais.
Outro aspecto que merece atenção está ligado aos questionamentos que poderão
ser feitos a respeito do cunho ideológico e político que poderão ser dados aos programas de
desenvolvimento do caráter dos servidores públicos. Quanto a isto não podemos deixar de levar a
termo a proposta apresentada em função desse questionamento e, para que não haja tal
interferência, as comissões de ética dos vários órgãos formarão um conselho de ética, onde terão
representação e condições de analisar, de maneira geral, como cada setor está conduzindo seus
programas. Nesse conselho haverá a participação de representantes da sociedade, que não sejam
servidores públicos.
4. Conclusão
O século XXI nos impõe uma reflexão filosófica acerca da ética. Em virtude das
mudanças radicais que lhe são inerentes, os avanços tecnológicos, o meio ambiente, a
informação, a ciência, a política e o Estado têm uma nova perspectiva frente à demanda gerada.
A ética insere-se nestas questões como um mecanismo regulador e norteador necessário, dando o
suporte das ações humanas desenvolvidas dentro de uma sociedade que anseia por uma vida mais
tranqüila e segura.
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Ao Estado cabe, por meio dos seus órgãos administrativos, apresentar-se como o
conhecidos e mensuráveis, contudo a variável mais importante é o ser humano, sendo, portanto, a
atenção ao seu servidor o fator mais importante para a virada ética esperada.
podemos modificar os costumes, mas sim o caráter dos homens. Portanto, a base da proposta
fará do Estado um fomentador de conduta moral para a sociedade, invertendo a imagem que hoje
carrega.
BIBLIOGRAFIA
BRASIL. Lei no 6.880, de 09 de dezembro de 1980. Dispõe sobre o Estatuto dos Militares.
_______. Ministério da Defesa. Dez mandamentos da gestão da ética pública. [on line]
Disponível na internet via WWW. URL: https://www.defesa.gov.br/comissao
etica/index.php?page=dez mandamentos.
FERRATER MORA, José. Dicionário de Filosofia. São Paulo: Edições Loyola, 2000.
ORTEGA Y GASSET, José. Reforma del caráter, no reforma de costumbres. Obras Completas,
v. X. reimpresión. Madrid: Alianza,1994.
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Há muito tempo, a sociedade almeja uma felicidade que parece distante, quando
observamos, ao longo da História, as mais diversas misérias e vicissitudes pelas quais tem
passado, inúmeras ainda sem aparente solução. Porém, a busca por uma vida mais ditosa é algo
que sempre fez parte do imaginário humano e, na vida diária, o homem procura ser mais feliz, ou
viver mais conformado, atendendo mais ou menos plenamente às suas necessidades e buscando a
aprimorou na mesma velocidade impedindo, desta forma, a extirpação das mazelas que assolam a
planeta Terra.
É notória a crise de valores que assola a humanidade, na qual conceitos éticos são
relegados, sempre que se contrapõem a outros interesses. Reascende-se, dia a dia, não obstante os
variados percalços, o anseio de melhoria de vida por parte dos indivíduos da sociedade. Nesse
diapasão, trazemos à baila a reflexão de Geraldo Alckmin Filho quando prefacia, com
sensibilidade, a obra “Ética dos Governantes e dos Governados” de autoria do aplaudido mestre
Gabriel Chalita, a saber: “A cada ano novo, revigoram-se as nossas esperanças e disposição para
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Capitão-Tenente da Marinha do Brasil. Autor do trabalho classificado em segundo lugar no I Concurso de
Ensaios sobre Gestão da Ética Pública no âmbito do Ministério da Defesa.
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Ao que parece, o indivíduo busca melhorar-se, ser mais humano, mais justo, mais
correto, tenta atingir a meta de tornar a vida em sociedade mais consentânea com os preceitos da
ética.
Façamos, inicialmente, uma análise sobre o termo ética, cujo conceito tem sido
debatido entre os estudiosos de todos os tempos e cujo conteúdo vem sendo almejado a fim de
que a vida dos indivíduos se torne mais justa, honesta, proba e, portanto, mais ditosa.
seu léxico, traz o ensinamento que se segue: “Ética [Do lat.ethica < gr.ethiké.]. S. f. Filos.
ponto de vista do bem e do mal, seja relativamente a determinada sociedade, seja de modo
A Mestra Maria Helena Diniz nos ensina com clareza: “Ética – (...) d) conjunto de
prescrições admitidas por uma sociedade numa dada época”. E continua: “Ética Política. Na
linguagem filosófica, é a que visa a educação do povo e a cultura da natureza inteligente (Diderot
e Lalande )”.
ética e que concorre com este. O texto assim prossegue: “(...) Nenhuma sociedade pode
sobreviver sem normas de conduta; há que haver um mínimo ético, sem o qual ela se desagrega”.
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disciplina, a exigir poder e autoridade capazes de garantir a ordem; b) adaptação à vida social, ou
seja, aceitação do grupo às normas nele vigentes; c) autonomia da vontade, baseada nos
princípios fundamentais da lei moral e de uma escala de valores que cada qual deve adotar
livremente.
desvios; b) formula princípios básicos aos quais deve subordinar-se a conduta do homem, onde
quer que se encontre; c) a par de valores genéricos e estáveis, a ética é ajustável a cada época e a
cada circunstância; d) a ética depende da filosofia, pois cada sistema moral baseia-se em outro,
Concluindo: a ética não deve ser considerada como fonte de pesadas e enfadonhas
se observa a seguir:
Ética, s.f. ( gr. etike ). 1. Parte da Filosofia que estuda os valores morais e os
princípios ideais da conduta humana. É ciência normativa que serve de base à
filosofia prática. 2. Conjunto de princípios morais que se devem observar no
exercício de uma profissão; deontologia. (...).
sociedade, seus valores, sua postura diante dos fatos. É a qualidade de ser correto, probo. É a
atuando na busca da satisfação do interesse público, aquele que devem bem representar, tem a
obrigação de agir sob a égide da moralidade e da probidade, com justeza e honradez, com
premissas ideais ou em conceitos etéreos, já que a conduta do homem público é, e deve de fato
ser efetivamente, observada de perto pelos órgãos de investigação e fiscalização existentes seja
organizados, como o Poder Judiciário, o Ministério Público e os Tribunais de Contas que, com o
1988 ) e das leis referentes ao tema, como, verbi gratia, a Lei no 1.533, de 31 de dezembro de
1951 (com as alterações produzidas pela Lei no 9.259, de 09 de janeiro de 1996) que dispõe sobre
o Mandado de Segurança e seu rito; a Lei no 4.717 de 29 de junho de 1965, que regula a ação
popular; a Lei no 7.347, de julho de 1985, que disciplina a ação civil pública de responsabilidade
por danos causados ao meio ambiente, ao consumidor, a bens e direitos de valor artístico,
estético, histórico, turístico e paisagístico, entre outros temas; a Lei no 8.429, de 2 de junho de
1992, lei de Improbidade Administrativa, que dispõe sobre as sanções aplicáveis aos agentes
públicos nos casos de enriquecimento ilícito no exercício de mandato, cargo emprego ou função
na administração pública direta, indireta ou fundacional, entre outros temas; a Lei no 8.666, de 21
de junho de 1993, que institui normas para licitações e contratos da Administração Pública, entre
outros temas; a Lei Complementar no 101, de 4 de maio de 2000, Lei de Responsabilidade Fiscal,
que estabelece normas de finanças públicas voltadas para a responsabilidade na gestão fiscal,
entre outros temas, controlam a atividade do governante, sobretudo no que tange a observância
dos princípios de impessoalidade, moralidade, finalidade e interesse públicos por parte dos
O renomado e saudoso mestre Hely Lopes Meirelles nos ensina, com maestria em
seu conhecido Direito Administrativo Brasileiro, hoje atualizado por eminentes mestres, que
governo e administração são termos que, embora muitas vezes sejam confundidos, expressam
reflexo da nação em que vivemos, já que os homens públicos que o compõem são representantes
assim, uma relação simbiótica entre os valores éticos do agente público e do povo. Como
assevera o eminente e culto mestre Emerson Garcia que “Um povo que preza a honestidade terá
governantes honestos. Um povo que, em seu cotidiano, tolera a desonestidade e, não raras vezes,
Neste momento histórico, tão ou mais importante que o fomento ao controle dos
atos administrativos, é a necessária preocupação com a elevação dos padrões éticos do agente
público. Ações de cunho ético devem ser incentivadas e divulgadas, pois não se pode esquecer
que as palavras só possuem valor se associadas aos exemplos. As palavras dissociadas dos
exemplos não possuem qualquer peso, quando não são qualificadas como mentirosas ou são
pelos escalões superiores da Administração Pública das boas ações, aliada a uma ampla
divulgação, levará a uma nova postura por parte dos súditos, quiçá atos de honestidade
perpetrados pelos representantes do povo serão repetidos pelos representados, que enxergarão
A ética carece ser vivenciada, pois como dito, dissociada de exemplos não possui
qualquer significado. Nos tempos de antanho, quando “a palavra valia mais que o fio de cabelo
do bigode”, os grupos de educação pareciam contar com maior apoio das autoridades, hoje
dos representantes do povo, em atividades que possuem fundo de aprimoramento ético como,
por exemplo, movimento de escoteiros, Rotary Club, entre outros grupos beneficentes. Só os
exemplos são capazes de fazer a história. Incentivar pelo exemplo, conferindo a devida valoração
sociedade.
empresta ao tema vasto período de tempo, dando a impressão que a corrupção a cada dia
aumenta. Na realidade, a corrupção sempre existiu, mas não havia a divulgação que existe
Ressalta-se agora o seu importante papel, formadora de opinião por excelência: divulga valores
éticos que são absorvidos pela sociedade e possibilita o acompanhamento pelo povo dos atos
valorização de padrões éticos deve ser fomentada em todas as esferas da sociedade, em especial
suas complexas divisões, apresenta desafios, é certo. Porém, isto não deve esmorecer o ensejo de
buscar soluções para a quaestio, uma vez que tais desafios são transponíveis, de possível
superação. É necessário, para tanto, a participação de toda a comunidade nos seus mais variados
níveis e setores a fim de que seja possível uma nova apresentação da temática e uma renovada
Administração Pública do país, empresas públicas e privadas, Administração Direta e até mesmo
altos escalões do poder e não se dissocia o agente público que se comporta de forma ímproba da
instituição a que este pertence. A reprovação manifestada pela sociedade atinge toda instituição a
que este servidor pertence, a instituição é acoimada pela mesma pecha imputada ao servidor. Mas
controle administrativos que tenham por finalidade receber, filtrar e encaminhar as notícias de
fonte da informação.
função, incentivando o seu uso principalmente pelos servidores públicos que convivem com as
Faz-se mister, ainda, divulgar para a comunidade em geral os atos corretos e éticos
dos servidores e homens públicos em geral,bem como as suas ações que respeitam a probidade e
geral o que, por vezes, não chega ao conhecimento comum: a extrema doação, dedicação e zelo
investidos de determinadas competências, uns para legislar, outros com o escopo de fiscalizar e
investigar e, ainda, outros com o fim de julgar e condenar tem papel preponderante e de
com disposição exemplar, atuando, desse modo, em direção ao fortalecimento dos padrões éticos
níveis de nossa comunidade, nos mais diversos campos, a contribuição para que a imoralidade, a
improbidade, a corrupção, nas grandes e nas pequenas nuances deixem de ganhar corpo e se
esvaziem, chegando a um patamar tolerável, já que, ao que tudo indica, sempre existirão ainda
que em menor escala. Nesse particular, lembramos da lição do excelente autor, o Promotor de
Justiça Dr. Emerson Garcia, quando nos presenteia com as suas felizes palavras:
Reforçando a tese de que apenas a lei não logrará solucionar todos os problemas
Quando se diz que a tarefa do Direito Penal é a luta contra o crime, afirma-se
algo verdadeiro, conforme admitimos linhas atrás. Todavia, não se pode dizer
que essa missão seja exclusiva do Direito Penal. Pelo menos na luta preventiva
contra o crime estão (ou deveriam estar) envolvidos cada um a seu modo,
importantes setores da vida comunitária: família, escola, órgãos assistenciais,
sobretudo os de proteção ao menor etc.
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valores éticos sem que nos atenhamos a relevantes questões como o necessário e urgente
sua correta e eficaz aplicação, referentes à inclusão nos programas escolares de temas como a
públicos, de ensino, bem como em instituições de cunho religioso ou de caráter filantrópico, mas
que merece ganhar maiores dimensões abrangendo todo o ensino fundamental e médio,
divulgação e observância dos preceitos, pelos órgãos de fiscalização e controle e por toda a
àqueles previstos no Título IV do Livro II, Parte Especial, relativos às medidas pertinentes aos
todas as camadas sociais), bem como os preceitos constantes na Lei Penal referentes aos delitos
de abandono material e moral (sobretudo este), a fim de que haja a devida conscientização por
parte dos genitores ou daqueles que sejam responsáveis pelos menores da extrema relevância de
que se reveste a educação, não apenas a acadêmica, mas especialmente a ético-moral, a que
prima pelo resgate dos valores nobres como o respeito, a solidariedade, a preservação de
o bem do povo.
atual.
repressivamente, no combate à corrupção, esse mal que tanto nos fere e incomoda, mas
BIBLIOGRAFIA
AQUAVIVA. Dicionário Jurídico Brasileiro. 7ª ed. São Paulo: Editora Jurídica Brasileira Ltda.,
p. 644-646.
CHALITA, Gabriel. Ética dos Governantes e dos Governados. São Paulo: Max Limonad, 1999,
p. 15-17.
DINIZ, Maria Helena. Dicionário Jurídico. São Paulo: Saraiva, v. 2, 1998, p. 437.
MEIRELLES, Hely Lopes. Direito Administrativo Brasileiro. 25ª ed. São Paulo: Malheiros,
2000, 765 p.
SILVA, De Plácido e. Vocabulário Jurídico. 15ª ed. Rio de Janeiro: Forense , 1999. v., p.328.
A vida em sociedade, porém, requer a existência de regras comuns impostas aos membros dos
grupos, pois, caso contrário, a convivência seria impossível. A vontade comum do grupo deve
necessitavam de líderes, chefes que lhes administrassem suas decisões e que disciplinassem a
melhor forma de estabelecer regras sobre a convivência de seus membros, sobretudo quanto à
maneira de utilização do bem comum, tudo isso para a sobrevivência pacífica do grupo.
representados por líderes, reis, chefes tribais e governos nas suas mais variadas formas,
arbitrários ou não.
bens naturais já existentes. Com isso, é crescente a necessidade de que esses bens sejam
ordenamento jurídico aos administrados sejam respeitados, tudo para que o bem comum
prevaleça. Daí a existência da Administração Pública, que pode ser definida como um conjunto
empregos públicos, cuja finalidade é dar execução aos planos governamentais, gerenciar o
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1o Tenente da Reserva Não-Remunerada da Força Aérea Brasileira (FAB). Autora do trabalho classificado em
terceiro lugar no I Concurso de Ensaios sobre Gestão da Ética Pública no âmbito do Ministério da Defesa.
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patrimônio público e cuidar para que os direitos fundamentais sejam respeitados. Na definição de
grande monta e considerável nobreza: cuidar da coisa pública. E não é possível ao administrador
administrar a coisa pública sem que atue diretamente no patrimônio público. Possui o agente
público, em razão do cargo ou emprego que ocupa, grande facilidade de manipulação dos bens
públicos, dos processos administrativos onde atua ou de que tem a guarda. Essas facilidades
fazem com que determinados agentes de índole duvidosa, ao invés de bem administrar a coisa
pública, utilizem-na indevidamente para o seu próprio bem-estar, ou para o bem-estar de uma
minoria. A isso podemos chamar de corrupção na Administração Pública, que pode ter como
grande aliado o sigilo dos atos públicos, a falta de prestação de contas aos administrados sobre o
acesso aos atos da Administração Pública para que possam acompanhar e controlar, com os
contido no artigo 37, caput, da Constituição, ao qual toda a Administração Pública, direta e
4
MEIRELLES, Hely Lopes. Direito Administrativo Brasileiro, 31ª ed. São Paulo, Editora Malheiros, 2005, p. 64.
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indireta, de qualquer dos poderes da União, dos Estados e dos Municípios, está obrigada a
a seguir:
Lei Maior, no Título referente aos Direitos e Garantias Fundamentais, no Capítulo que trata dos
dos órgãos públicos, de peticionar e requerer certidões sobre os atos da administração. Esses
todos têm direito de receber dos órgãos públicos informações de seu interesse
particular, ou de interesse coletivo ou geral, que serão prestados no prazo da lei,
sob pena de responsabilidade, ressalvadas aquelas cujo sigilo seja
imprescindível à segurança da sociedade e do Estado.
deve prevalecer sobre o direito individual. Esse sigilo constitui uma das exceções ao princípio da
publicidade, exceção essa que também se verifica no artigo 5o, inciso LX, onde a Lei Maior
estabelece que “a lei só poderá restringir a publicidade dos atos processuais quando a defesa da
O direito previsto no inciso XXXIII do artigo 5o está regulado pela Lei no 9.507,
de 12 de novembro de 1997. Essa lei considera de caráter público todo registro ou banco de
dados contendo informações que sejam ou que possam ser transmitidas a terceiros ou que não
sejam de uso privativo do órgão ou entidade produtora ou depositária das informações. A lei
ainda regula o rito processual da ação de habeas data, assegurada na Constituição Federal, no
artigo 5o, inciso LXXII. O habeas data será concedido sempre que houver violação ao direito à
coletivo.
administrado, ter em mente uma exata concepção sobre as definições em que se apresenta o
fotocópias fiéis e autenticadas de atos ou fatos constantes de processo, livro ou documento que se
encontre nas repartições públicas”. E acrescenta que “podem ser de inteiro teor, ou resumidas,
desde que expressem fielmente o que se contém no original de onde foram extraídas”.6
“direito líquido e certo de qualquer pessoa à obtenção de certidão para defesa de um direito,
Não nos cabe aqui tender pela escolha de uma ou de outra definição para
considerar qual a mais apropriada, mas sim fazer uma análise sobre cada uma para, ao final,
concluirmos que deve haver uma junção das duas para se ter uma definição completa.
apresentada por Hely Lopes Meirelles que define a certidão propriamente dita, na sua
são papéis emitidos por um órgão público, em face do requerimento de um interessado, contendo
conceito apresentado por Alexandre de Moraes porque se preocupou esse doutrinador em definir
o instituto à luz da interpretação dos direitos e garantias individuais: direito líquido e certo de
6
MEIRELLES, Hely Lopes. Direito Administrativo Brasileiro, 31ª ed. São Paulo: Editora Malheiros, 2005, p. 193.
7
MORAES, Alexandre de. Direito Constitucional, 15ª ed. São Paulo: Editora Atlas, 2004, p. 190.
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qualquer pessoa à obtenção de certidão. Hely Lopes define a certidão, e Alexandre de Moraes
Desta forma, fazendo uma junção dos dois conceitos, chegamos à seguinte
O direito de certidão está regulado pela Lei no 9.051, de 18 de maio de 1995, lei
essa que estabelece que as certidões requeridas devem ser expedidas no prazo de 15 (quinze) dias
contraditório e a ampla defesa, com os meios e recursos a ela inerentes” (grifei). Em muitos
casos, o contraditório somente será possível quando a parte contrária tiver pleno conhecimento
dos trâmites processuais e das imputações ou acusações que lhes são imputadas. A ampla defesa
pode ser obstada quando faltar publicidade aos atos de um processo administrativo. O processo
administrativo está regulado, no âmbito da Administração Pública Federal, pela Lei no 9.784, de
estabelecer, no artigo 2o, parágrafo único, inciso V que nos processos administrativos serão
observados, entre outros, os critérios de divulgação oficial dos atos administrativos, ressalvadas
direitos dos administrados, o direito de ter ciência da tramitação dos processos administrativos
em que tenha a condição de interessado, ter vista dos autos, obter cópias de documentos neles
Na Lei no 8.666, de 21 de junho de 1993, que regula a aludida licitação, pode ser
observada com muita ênfase a preocupação com a publicidade dos atos públicos, como o que
que dispõe sobre as sanções aplicáveis aos agentes públicos nos casos de enriquecimento ilícito
Fundacional e dá outras providências. A lei divide os atos de improbidade em três categorias: dos
ação do agente público consistente em negar publicidade aos atos oficiais (artigo 11, inciso IV) e
previu, como sanção, o ressarcimento integral do dano, se houver, perda da função pública,
suspensão dos direitos políticos de três a cinco anos, pagamento de multa civil de até cem vezes
o valor da remuneração percebida pelo agente e proibição de contratar com o Poder Público ou
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receber benefícios ou incentivos fiscais ou creditícios, direta ou indiretamente, ainda que por
intermédio de pessoa jurídica da qual seja sócio majoritário, pelo prazo de três anos (artigo 12,
inciso III).
sofrido consideráveis avanços no Brasil. No ano 2000, surge a Lei Complementar no 101, de 4 de
maio, intitulada Lei de Responsabilidade Fiscal – LRF. Estabelece normas de finanças públicas
riscos e corrigem desvios capazes de afetar o equilíbrio das contas públicas, mediante o
condições no que tange à renúncia de receita, geração de despesas com pessoal, da seguridade
social e outras, dívidas consolidada e mobiliária, operações de crédito, inclusive por antecipação
101/2000, dedicou especial atenção a esse tópico, pelo que é válida a transcrição dos artigos 48 e
49 da aludida lei:
Art. 48. São instrumentos de transparência da gestão fiscal, aos quais será dada
ampla divulgação, inclusive em meios eletrônicos de acesso público: os planos,
orçamentos e leis de diretrizes orçamentárias; as prestações de contas e o
respectivo parecer prévio; o Relatório Resumido da Execução Orçamentária e o
Relatório de Gestão Fiscal; e as versões simplificadas desses documentos.
No mesmo ano em que foi aprovada a LRF, entrou também em vigor a Lei no
10.028, de 19 de outubro de 2000 que, dentre outras providências, passou a considerar infração
Poder Legislativo e ao Tribunal de Contas o relatório de gestão fiscal, nos prazos e condições
estabelecidos em lei, sujeitando os infratores à pena de multa de trinta por cento de seus
nos termos do caput do art. 48 da LRF, deve ser dado amplo conhecimento à
sociedade do planejamento e execução da gestão fiscal, inclusive utilizando-se
de meios eletrônicos de acesso ao público, como, por exemplo, a Internet, com
a divulgação dos seguintes documentos fiscais:
gerais para licitação e contratação de parceria público-privada – Lei das PPPs – no âmbito da
Administração Pública.
Trata-se de uma considerável inovação no ramo das parcerias formadas pelo poder
público com o particular, parcerias essas que até então se davam somente na forma da Lei no
prestação de serviços públicos previstos no artigo 175 da Constituição Federal. Essa lei reforçou
publicidade ao exigir, no artigo 4o, que sejam observadas a eficiência no cumprimento das
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PAZZAGLINI FILHO, Marino. Crimes de responsabilidade fiscal. 2. ed. São Paulo: Atlas, 2002. p. 51.
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das decisões. Tratando ainda da publicidade, em respeito a esse princípio a nova lei ampliou o
leque de participação dos administrados na gestão da res pública, uma vez que deverão ser
prazo de 30 (trintas) dias (artigo 10, inciso VI). Verifica-se ainda a presença marcante do
Congresso Nacional e ao Tribunal de Contas da União por um órgão gestor de licitações (artigo
Código de Ética Profissional do Servidor Público do Poder Executivo Federal, aprovado pelo
VIII – toda pessoa tem direito à verdade. O servidor não pode omiti-la ou
falseá-la, ainda que contrária aos interesses da própria pessoa interessada ou da
Administração Pública. Nenhum Estado pode crescer ou estabilizar-se sobre o
poder corruptivo do hábito do erro, da opressão, ou da mentira, que sempre
aniquilam até mesmo a dignidade humana quanto mais a de uma Nação.
particulares por agentes públicos em exercício na Administração Pública Federal direta, nas
Art. 3o As audiências de que trata este Decreto terão sempre caráter oficial,
ainda que realizadas fora do local de trabalho, devendo o agente público:
Conclusão
uma conduta ética e profissional ímpar daqueles que são remunerados para bem gerir a coisa
pública. Esse trabalho de conscientização poderia ser feito através de campanhas públicas,
BIBLIOGRAFIA
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MEIRELLES, Hely Lopes. Direito Administrativo Brasileiro, 31ª ed. São Paulo: Editora
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