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Qual o modo de ser do direito? Ou seja, como é que se oferece objectivamente o direito?
1. Modalidades de existência.
a) O modo de existência como vigência.
Específico modo de ser do direito = a vigência.
A vigência é a modalidade de existência da normatividade jurídica.
A vigência é, teoricamente, a síntese do modo-de-ser do direito.
A vigência tem ainda um decisivo significado prático – que se manifesta no âmbito do
problema das fontes de direito e no da “metodomologia”.
Mas o direito vigente não é também apenas aquele que tenha de considerar-se eficaz,
em virtude da força do poder capaz de o impor (erro cometido pelo positivismo).
Se fosse assim, as violações dos critérios jurídicos impostos significariam a preterição da
respectiva vigência. E não é assim, pois os factos que desrespeitam as expectativas normativas
não são suficientes para as anular, não são suficientes para retirar a vigência da validade em
que radicam.
Quando é violado, o direito vigente perde em eficácia e remete para uma exigência de
sentido da vigência. (Pois o direito vigora fundamentalmente como uma exigência de sentido.)
O direito (tal como a cultura) admite preterições, ou seja, até certo grau suporta
transgressões. – pois são fundamentalmente exigências de valor e não de factos.
A normatividade, enquanto intencional validade, não se reduz à meramente fáctica
socialidade, embora tenha no social um seu pressuposto estrutural. Já uma expectativa
empírica não tolera qualquer desmentido.
Os valores (que densificam o segmento de validade constitutivo da vigência) toleram,
com uma margem, preterições. (Por isso existem homicídios e o valor da vida não deixou de
existir.)
Um direito (ou uma cultura) será tanto mais vigente quanto maior for sua margem de
tolerância. (Tolerância – é um vector nuclearmente constitutivo de uma ordem jurídico-
política democrática.)
Os valores (integrantes da vigência) só se avultam de forma mais explícita quando
ocorrem preterições (quando eles são desrespeitados). Todavia, quando essas contravenções
tornam-se freqüentes, as intenções de validade deixam de ser eficazes, e com a continuação
disto, perdem a vigência.
Por outro lado, a dialectica que entretece a vigência mostra-nos que só estaremos
diantes de direito se justificadamente o pudermos dizer positivo.
O direito, como criação do homem que é, apresenta sua maior fragilidade na dimensão
espiritual (validade).
Vigência – modo de ser específico do direito (e também da cultura).
Validade – dimensão espiritual da vigência.
A eficácia, ao tolerar preterições, está longe de manifestar a solidez dos estratos
inferiores ao qual Hartmann alude.
O direito vigente pode dizer-se constituído, em cada momento, pelo resultado da
constituenda dialéctica entretecedora das dimensões que nele constitutivamente se
reflractam, ou, pela síntese da circunstancialmente deviniente correspodencia que entre todas
elas se estabelece.
Existe entre a validade e a eficácia uma relação de tensão, sucessivamente polarizada
nas “exigências normativas que correm o constante perigo de perderem o contacto com a
realidade social” e nos “dados objectivos que tendem a apagar” as mencionadas exigências.
A vigência do direito não pode ser pensada sem uma referência complementar à sua
legitimidade axiológica e à sua ancoração fáctica, à sua fundamentação ética e à sua eficácia
social.