Você está na página 1de 8

Além do Nessus (que vimos em tutoriais anteriores), outro aliado importante para

qualquer administrador de redes preocupado com a segurança é o Wireshark, o


bom e velho Ethereal, que mudou de nome em Junho de 2006. Ele é um poderoso
sniffer, que permite capturar o tráfego da rede, fornecendo uma ferramenta
poderosa para detectar problemas e entender melhor o funcionamento de cada
protocolo.

Assim como o Nessus, ele pode ser usado tanto para proteger seu sistema quanto
para roubar dados dos vizinhos, uma faca de dois gumes. Devido a isso, ele é às
vezes visto como uma "ferramenta hacker", quando na verdade o objetivo do
programa é dar a você o controle sobre o que entra e sai da sua máquina e a
possibilidade de detectar rapidamente qualquer tipo de trojan, spyware ou acesso
não autorizado.

Embora ele geralmente não venha instalado por padrão, a maioria das distribuições
disponibilizam o pacote "wireshark" (ou "ethereal", de acordo com o nível de
atualização). Nas distribuições derivadas do Debian, você pode usar o apt-get,
como de praxe.

Além das versões Linux, estão disponíveis também versões para Windows 2000, XP
e Vista. Você pode baixá-las no http://www.wireshark.org/.

No caso do Linux, é possível instalar também a partir do pacote com o código fonte,
disponível na página de download (opção preferida por quem faz questão de ter
acesso à ultima versão do programa). O pacote é instalado com os conhecidos
"./configure", "make" e "make install". Como ele depende de um número
relativamente grande de compiladores e de bibliotecas, muitas delas pouco comuns,
você quase sempre vai precisar instalar alguns componentes adicionais
manualmente.

Uma forma simples de instalar todos os componentes necessários para a


compilação (dica útil não apenas no caso do Wireshark, mas para a instalação de
programas a partir do código fonte de uma forma geral) é usar o "auto-apt",
disponível através do apt-get. Para usá-lo, instale o pacote via apt-get e rode o
comando "auto-apt update":

# apt-get install auto-apt

# auto-apt update

A partir daí, você pode rodar os comandos de compilação através dele, como em:

$ tar -zxvf wireshark-0.99.1pre1

$ cd wireshark-0.99.1pre1
$ auto-apt run ./configure
$ auto-apt run make
$ su <senha>
# make install

Durante a instalação, o auto-apt usa o apt-get para instalar os componentes


necessários, como neste screenshot:
Depois de instalado, abra o programa usando o comando "wireshark" (ou
"ethereal", de acordo com a versão instalada). O Wireshark é um daqueles
programas com tantas funções que você só consegue aprender realmente usando.
Para começar, nada melhor do que capturar alguns pacotes. Clique em "Capture >
Start":

Aqui estão as opções de captura. A primeira opção importante é a "Capture packets


in promiscuous mode", onde você decide se quer capturar apenas os pacotes
endereçados à sua própria máquina, ou se quer tentar capturar também pacotes de
outras máquinas da rede. Isso é possível pois os hubs burros apenas espelham as
transmissões, enviando todos os pacotes para todas as estações.
O endereço MAC do destinatário é incluído no início de cada frame enviado através
da rede. Normalmente, a placa escuta apenas os pacotes destinados a ela,
ignorando os demais, mas, no promiscuous mode ela passa a receber todos os
pacotes, independentemente de a qual endereço MAC ele se destine. Os switches e
hub-switches são mais discretos, encaminhando o tráfego apenas para o
destinatário correto, mas a maior parte dos modelos mais baratos são vulneráveis a
ataques de MAC flooding e ARP poisoning, como veremos a seguir.

Em seguida, você tem a opção "Update list of packets in real time". Ativando esta
opção, os pacotes vão aparecendo na tela conforme são capturados, em tempo
real. Caso contrário, você precisa capturar um certo número de pacotes para só
depois visualizar todo o bolo.

Mais abaixo estão também algumas opções para interromper a captura depois de
um certo tempo, ou depois de capturar uma certa quantidade de dados. O
problema aqui é que o Wireshark captura todos os dados transmitidos na rede, o
que (em uma rede local) pode rapidamente consumir toda a memória RAM
disponível, até que você interrompa a captura e salve o dump com os pacotes
capturados em um arquivo.

Dando o OK, será aberta a tela de captura de pacotes, onde você poderá
acompanhar o número de pacotes capturados:

Na tela principal, temos a lista dos pacotes, com várias informações, como o
remetente e o destinatário de cada pacote, o protocolo utilizado (TCP, FTP, HHTP,
AIM, NetBIOS, etc.) e uma coluna com mais informações, que incluem a porta TCP
à qual o pacote foi destinado.

Os pacotes que aparecem com um micro da rede local como emissor e um domínio
ou IP da Internet como destinatário incluem requisições, upload de arquivos, e-
mails enviados, mensagens de ICQ e MSN e, em muitos casos, também senhas de
acesso. Os pacotes provenientes de micros da Internet são respostas à estas
requisições, incluindo páginas web, e-mails lidos, arquivos baixados e, assim por
diante. Através do sniffer, é possível capturar todo tipo de informação que trafegue
de forma não encriptada pela rede.
Clicando sobre um dos pacotes e, em seguida, no "Follow TCP Stream", o Ethereal
mostrará uma janela com toda a conversão, exibida em modo texto.

A maior parte do que você vai ver serão dados binários, incluindo imagens de
páginas web e arquivos diversos. Mesmo o html das páginas chega muitas vezes de
forma compactada (para economizar banda), novamente em um formato ilegível.
Mas, garimpando, você vai encontrar muitas coisas interessantes, como, por
exemplo, mensagens (MSN e ICQ) e e-mails, que, por padrão, são transmitidos em
texto puro. Usando a opção "Follow TCP Stream", é possível rastrear toda a
conversa:
Como disse anteriormente, o Wireshark pode ser usado também pelo lado negro da
força. Se você estiver em uma rede local, com micros ligados através de um hub ou
através de uma rede wireless, outro usuário pode usá-lo para capturar todas as
suas transmissões.

Isto é extremamente perigoso. Qualquer um que tenha a chance de plugar um


notebook na rede ou colocá-lo dentro da área de cobertura de sua rede wireless,
poderá capturar dados e senhas suficientes para comprometer boa parte do sistema
de segurança da sua empresa. Apenas conexões feitas através do SSH e outros
programas que utilizam encriptação forte estariam a salvo.

Naturalmente, além de alguém de fora, existe a possibilidade de um dos seus


próprios funcionários resolver começar a brincar de script kiddie, pregando peças
nos outros e causando danos. Como vimos, isso não requer muita prática. Enfim, a
menos que você esteja em uma simples rede doméstica, onde exista uma certa
confiança mútua, utilizar um hub burro é simplesmente um risco grande demais a
correr.

Ao utilizar um hub-switch, o risco é um pouco menor, já que, por default, os


pacotes são enviados apenas às portas corretas. Entretanto, muitos sistemas são
vulneráveis a ataques de ARP poisoning, sem falar dos ataques de MAC flooding,
que permitem burlar a proteção. Vamos então a uma explicação mais detalhada de
como eles funcionam.

No ARP poisoning, o micro do atacante envia pacotes com respostas forjadas para
requisições ARP de outros micros da rede. O protocolo ARP é utilizado para
descobrir os endereços MAC dos demais micros da rede, já que os switches não
entendem endereços IP. Esses pacotes forjados fazem com que os outros micros
passem a enviar seus pacotes para o micro do atacante, que é configurado para
capturar as transmissões e retransmitir os pacotes originais para os destinatários
corretos.

A rede continua funcionando normalmente, mas agora o atacante tem chance de


logar todo o tráfego, usando o Wireshark ou outro sniffer. Felizmente, o Wireshark
também pode ser usado para perceber as anormalidades na rede e chegar até o
espertinho.

Os ataques de MAC flooding, por sua vez, tem como alvo o switch da rede e
trabalham dentro de um princípio bastante simples. O switch possui uma área
limitada de memória para armazenar a tabela com os endereços MAC dos micros da
rede (que permite que ele encaminhe as transmissões para as portas corretas), de
forma que, ao receber um grande número de pacotes com endereços MAC forjados,
a tabela é completamente preenchida com os endereços falsos, não deixando
espaço para os verdadeiros.

Nessa situação, existem apenas duas opções: ou o switch simplesmente trava,


derrubando a rede, ou abandona o uso da tabela de endereços e passa a trabalhar
em modo failopen, onde os frames são simplesmente retransmitidos para todas as
portas, da mesma forma que um hub burro, permitindo que o atacante capture
todo o tráfego da rede (até que o switch seja reiniciado).
Como switches que travam não são uma boa propaganda, os fabricantes
normalmente utilizam a segunda opção, o que faz com que a maioria dos switches
baratos e quase todos os hub-switches sejam vulneráveis a esse tipo de ataque.

Uma das ferramentas mais usadas é o macof, um pequeno utilitário que faz parte
da suíte dsniff (que roda sobre o Linux), cujo código fonte está disponível no:

http://www.monkey.org/~dugsong/dsniff/

O dsniff também pode ser encontrado nos repositórios de muitas distribuições, o


que facilita a instalação. Nas distribuições derivadas do Debian, você pode instalá-lo
via apt-get:

# apt-get install dsniff

Uma vez que o dsniff foi instalado, usar o macof é bastante simples: basta
especificar a interface de saída, usando a opção "-i", e especificar o número de
pacotes forjados a serem enviados, usando a opção "-n", como em:

# macof -i eth0 -n 100000

A maioria dos hub-switchs são capazes de armazenar entre 1000 e 8000 endereços
MAC na memória, de forma que bombardeando o hub-switch com 100000
endereços MAC diferentes (o que demora cerca de um minuto e meio em uma rede
de 100 megabits) você consegue chavear qualquer aparelho vulnerável para modo
failopen. A partir daí, basta lançar o Wireshark e passar a capturar todo o tráfego
da rede. Note que, em alguns casos, rodar o comando vai fazer o switch travar,
derrubando toda a rede até que você o reinicie manualmente, o que nos modelos
mais simples é feito desconectando e reconectando o cabo de energia.

O dsniff inclui também um utilitário para ARP poisoning, o arpspoof. Ao usá-lo,


você deve especificar a interface de rede local e também o endereço IP do host de
destino dos pacotes que você deseja capturar. Especificando o endereço do
gateway da rede (o uso mais comum), você pode capturar todos os pacotes
destinados à Internet.

Para usá-lo, o primeiro passo é ativar o encaminhamento de pacotes na


configuração do Kernel, o que é feito usando o comando abaixo:

# echo 1 > /proc/sys/net/ipv4/ip_forward

A partir daí, você pode ativar o arpspoof, especificando o endereço de destino dos
pacotes que deseja capturar, como em:

# arpspoof -i eth0 192.168.1.1

Com isso, o arpspoof passará a enviar pacotes de broadcast para toda a rede,
avisando todos os micros que o novo endereço MAC do "192.168.1.1" é o endereço
da sua máquina. Isso fará com que ela passe a receber o tráfego destinado a ele,
permitindo que você o capture usando o Wireshark.

Naturalmente, o tráfego não poderia simplesmente ser desviado para a sua


máquina, caso contrário, os pacotes deixariam de ir até o gateway da rede e os
micros não conseguiriam mais acessar a Internet. Para evitar isso, o arpspoof
reencaminha automaticamente todos os pacotes recebidos ao endereço correto
(justamente por isso precisamos ativar o ip_forward no Kernel), fazendo com que,
apesar do "desvio", o tráfego continue fluindo, como se nada estivesse
acontecendo:
ARP poisoning

Além de permitir escutar o tráfego, o ARP poisoning pode ser usado para alterar os
dados transmitidos e também para impersonar outros hosts, de forma a obter
senhas de acesso e outros dados.

Imagine, por exemplo, que a estação A (cujos pacotes estão sendo capturados e
retransmitidos pela estação B) deseja acessar o servidor A. Em vez de encaminhar
a transmissão, como faria normalmente, a estação B responde como se fosse o
servidor, pedindo o login e senha de acesso. O usuário na estação A, sem
desconfiar do ataque, faz login e recebe de volta uma mensagem de "servidor em
manutenção, espere 30 minutos e tente novamente" ou algo similar. De posse da
senha, o atacante pode então se logar no servidor verdadeiro, usando a senha
roubada.

Muitos protocolos prevêem este tipo de ataque e incluem proteções contra ele. No
SSH, por exemplo, o cliente verifica a identidade do servidor a cada conexão e
aborta a conexão (exibindo uma mensagem de erro bastante chamativa) antes de
pedir login e senha caso a identificação seja alterada.

É possível detectar ataques de ARP poisoning usando o arpwatch (também


disponível via apt-get). Ele monitora os endereços ARP usados pelas estações e
gera um log com as mudanças (com a opção de enviar relatórios por e-mail),
permitindo que você detecte anomalias.

Em outras situações, pode ser que você mesmo, como administrador da rede,
precise policiar o que os usuários estão fazendo durante o expediente na conexão
da empresa. Nesse caso, sugiro que você mantenha o servidor SSH ativo nas
estações de trabalho Linux e um servidor VNC (ou o recurso de administração
remota) nas máquinas Windows. Assim, você pode se logar em cada uma das
máquinas, sempre que necessário e rodar o Wireshark para acompanhar o tráfego
de dados de cada uma, sem que o usuário tome conhecimento.
Outra possibilidade seria rodar o Wireshark na máquina que compartilha a conexão,
assim você poderá observar os pacotes vindos de todas as máquinas da rede.
Alguns modelos de switches gerenciáveis podem ser programados para direcionar
todo o tráfego da rede para uma determinada porta, onde você poderia plugar um
notebook para ter acesso a todo o tráfego.

No caso das redes wireless, a situação é um pouco mais complicada, pois o meio de
transmissão é sempre compartilhado. Os pacotes trafegam pelo ar, por isso não é
possível impedir que sejam capturados. Apesar disso, você pode dificultar bastante
as coisas ativando o uso do WPA (se possível já utilizando o WPA2) e reduzindo a
potência do transmissor do ponto de acesso, de forma a cobrir apenas a área
necessária.

Lembre-se de que apenas informações não encriptadas podem ser capturadas.


Utilizando protocolos seguros, como o SSH, as informações capturadas não terão
utilidade alguma, pois estarão encriptadas.

Monitorando sua conexão durante algum tempo, você vai logo perceber vários tipos
de abusos, como sites que enviam requisições para várias portas da sua máquina
ao serem acessados, banners de propaganda que enviam informações sobre seus
hábitos de navegação para seus sites de origem, gente escaneando suas portas
usando o Nessus ou outros aplicativos similares, spywares que ficam continuamente
baixando banners de propaganda ou enviando informações e assim por diante.

Essas informações são úteis não apenas para decidir quais sites e serviços evitar,
mas também para ajudar na configuração do seu firewall. Pode ser que no início
você não entenda muito bem os dados fornecidos pelo Wireshark, mas, depois de
alguns dias observando, você vai começar a entender muito melhor como as
conexões TCP funcionam

Você também pode gostar