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PODER JUDICIARIO ‘TRIBUNAL DE JUSTIGA DO ESTADO DO PIAUI 2* CAMARA ESPECIALIZADA CiVEL Dissidio Coletivo de Greve n° 2011.0001.001410-0 Suscitante: Estado de Piaui. ADVOGADO: Yuri Rufino Queiroz. Suscitado: Sindicato dos Trabalhadores em Educagao Basica Publica do Piaui - ‘SINTE-PI RELATOR: Dés. José James Gomes Pereira. Vistos, etc... Cuida-se de Dissidio Coletivo de Greve, suscitado pelo Estado do Piaui em face do Sindicato dos Trabalhadores em Educagdo Basica Publica do Estado do Piaui - SINTE-PI. ‘Alega o Suscitante que a adesdo dos servidores a greve ocorreu de forma maciga e oportunista, j4 que o movimento foi deflagrado na data prevista para o inicio do ano letivo (14/02/2011), atingindo 817 escolas publicas, com prejuizo imediato para cerca de 350 mil estudantes. Acrescenta que a propria presidente da agremiagao sindical, por meio da imprensa local afirmou que, “com certeza isso (a paralisagao) ira comprometer 0 ano letivo dos alunos, € 0 fato seria culpa do governo”. © Suscitante sustenta que, 0 movimento é abusivo uma vez que inobservou os preceitos da Lei n° 7.789/89, principalmente quanto ao prazo minimo de 72 horas para a comunicagao ao empregador e a sociedade para conhecimento do movimento paradista, na forma prevista no art. 13, da referida Lei, ‘Além do mais, diz que o movimento afronta diretamente ao principios da continuidade do servigo pubblico, sobretudo quando se trata da prestagao dos servigos educacionais, dada a sua relevancia na formagao da cidadania. Para supedanear o pedido de antecipagdo de tutela o suscitante diz que é evidente o prejuizo para a sociedade, por ser a educagéo um servigo essencial com influéncia direta no nivel de cultura da populagao. Postula o deferimento da tutela antecipada, liminarmente, inaudita altera pars, para que seja declarada a ilegalidade do movimento grevista em vista aos graves prejuizo A educagdo publica, determinando a imediata suspensdo do movimento, aplicando-se-Ihe multa didria para cobranga em caso de descumprimento ‘Ao final, requer a procedéncia da agdo, reconhecendo-se a ilegalidade do movimento paradista. E 0 que basta ao relatério. Decido. O direito de greve constitui, por sua propria natureza, uma excegdo quando se trata de servidor publico, uma vez que nos servigos publicos, administrativos ou nao, incide o principio da continuidade da atividade estatal, de sorte que tal direito nao podera ter a mesma amplitude de idéntico direito outorgado aos empregados da iniciativa privada. AConstituigaio Federal, no capitulo que trata sobre a Educagao conclama que o acesso 4 educagdo é direito publico subjetivo, podendo qualquer cidadao exigi-lo, conforme dispée 0 artigo 205, verbis: Art. 208. A educagdo, direito de todos e dever do Estado e da familia, sera promovida e incentivada com a colaboragéo da sociedade, visando ao pleno desenvolvimento da pessoa, seu preparo para o exercicio da cidadania e sua qualificagdo para o trabalho. Dada a amplitude do direito 4 educagao, consubstanciado no dispositive suso mencionado, a disciplina do direito de greve para os trabalhadores em geral, quanto as ‘atividades essenciais’, € especificamente delineada nos artigos 9° a 11, da Lei n° 7.783/1989. Desse modo, a aplicagao dessa legislagao geral ao caso especifico do direito de greve dos servidores publicos, se afigura inegavel, ante a auséncia de legislagéo especifica regulamentando 0 direito de greve dos servidores publicos. No caso em apreco, considerando tratar-se de servigo essencial, ha de se considerar a previsdo do artigo 11 da Lei n n°. 7.783/89, que conclama a necessidade de manutengéo de um minimo de servidores para 0 servigo, o que nos presentes autos ha a comprovagéo da desobediéncia a este comando, por parte do sindicato representante da classe grevista. Ademais, a agremiagao sindical deixou de proceder com a comunicagao, no prazo de 72 horas, ao ente estatal, informando que levaria a efeito o movimento paradista, na forma prevista no art.13 da Lei n° 7.783/89. Demais disso, inelutavelmente, “a Educagao enquanto dever da familia e do Estado, inspirada nos principios de liberdade e nos ideais de solidariedade humana, tem por finalidade 0 pleno desenvolvimento do educando, seu preparo par ao exercicio da cidadania e sua qualificagao par ao trabalho" (art. 2°, da Lei n° 9.394/1996). Depreende-se que a legislagdo constitucional e infraconstitucional trata a educagaéo como bem essencial a sociedade, sendo direito de todos e dever do Estado e da familia, sendo, pois, 0 direito 4 educagao uma garantia fundamental (art. 6°, CF), € os servigos educacionais séo tidos como servigos obrigatorios que devem ser prestados de forma continua e ininterrupta Atento a essa garantia, o legislador infraconstitucional, ao regulamentar o direito de greve, estabeleceu no artigo 6°, caput, § 1°, da Lei n® 7.783/1989 que; Art. 6°. Sao assegurados aos grevistas, dentre outros direitos: (...) omissos. § 1° Em nenhuma hipétese, os meios adotados por empregados e empregadores poderdo violar ou constranger os direitos fundamentais de outrem. A propésito, 0 Superior Tribunal de Justi¢a, em reiterados julgados, ja se manifestou, conforme bem ilustra o aresto seguinte: EMBARGOS DE DECLARAGAO. AGRAVO REGIMENTAL. RECURSO ESPECIAL, GREVE. PRAZO. SUSPENSAO. ADVOCACIA DA UNIAO. ‘ATO N° 98, DE 20 DE ABRIL DE 2004. ALEGAGAO DE OMISSAO. VIOLAGAO DE DISPOSITIVOS CONSTITUCIONAIS. 1. Quando se queira negar a jé reconhecida ilegalidade da greve de funcionarios publicos, embora induvidosa a falta de lei ou, na melhor das hipoteses. a inobservancia elementar de disciplina legal invocdvel a titulo de aplicagao analégica, a simples conjugagao dos alos n°s. 52, da Presidéncia deste Superior Tribunal de Justiga, ¢ n® 98, art. 1° do Pleno deste Superior Tribunal, mostra. na luz da evidéncia, o cabal lica, nas suas normas e principios, néo havendo falar em inconstitucionalida qualquer, até porque insustentavel o carater indefinido do movimento em causa, posto, ab initio, a0 desabrigo de protegao legal. (Edc! no AgRg. no Resp 524858/SP, Rel. Min. Hamilton Carvalhido. Orgao Julgador: 6° Turma, j. 15.03.2005, Dje, 16.05.2005, p. 429). (Negrito é nosso) Destarte, por ser a educacao, bem essencial, tido como garantia fundamental (art. 6°, CF), e a classe grevista, em sua maioria, presta servico diretamente a educagao basica, resta clarividente os prejuizos decorrentes da greve levada a cabo pelo agremiagao reclamada. Presentes, na espécie, os requisitos autorizadores para a concessao da antecipagao da tutela, o fumus boni jures, abalizado tanto na Constituigéo Federal e lei especial, e 0 periculum in mora, consubstanciado nos prejuizos educacionais que sao imensuraveis sobretudo para os discentes que sao os destinatarios dos servigos prestados pelos integrantes da agremiagao demandada. Do exposto ¢ o mais que dos autos consta, defiro a antecipagao da tutela requestada para, em 24 (vinte e quatro) horas, determinar a suspensao do movimento paradista deflagrado pelo Sindicato Reclamado, sob pena de multa diaria que fixo, de logo, em R$ 5.000,00 (cinco mil reais), em caso de descumprimento da medida, a ser revestido em favor do Estado Reclamante. Cite-se 0 reclamado para, querendo, contestar a ago, no prazo de lei Decorrido 0 prazo, com ou sem manifestagao do Reclamado, dé-se vistas destes autos a douta Procuradoria Geral de Justiga, para os fins legais. Intimagées e notificagdes necessarias. Cumpra-se. Teresina, 22 de fevereiro de 2010. a e A058 sPefeie—

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