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Belém/PA
2009
1
VICTOR PEDRO SANT’ANNA DE MORAES
BANCA EXAMINADORA
_________________________________________
Orientador
_________________________________________
Examinador
__________________________________________
Orientador
2
.
3
AGRADECIMENTOS
Ao Professor Naum, pela extrema disciplina e por me fazer olhar com mais seriedade à
questão pedagôgica;
4
RESUMO
5
ABSTRACT
The objective of this work is to provide a theoretical approach and focus between
geography and environmental education and be familiar with the approaches to the task for
geography teachers in public school education. To which we started raising a brief history of
the emergence of environmental issues ranging from the industrial revolution and the change
in the production model, until the institutionalization of environmental concerns in Brazil, and
the subsequent creation of environmental legislation and its sequential development for
education environment. Since then cast into the eyes of the environmental issue within the
sphere of formal education in Brazil, guided by the concepts of interdisciplinary and cross-
disciplinary, it is then necessary to relate the concepts of environmental education produced
throughout history. From where one gets closer to science and geographical focus of its
approach, analyzing the relationship between production / appropriation of space and
environmental degradation. The questions addressed will culminate in the comments on the
survey carried out in selected schools, where we analyze the practices, they exist or not,
educators about environmental education.
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ÍNDICE
1 - INTRODUÇÃO ..............................................................................................................................................8.
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1 - INTRODUÇÃO
No período em que estamos nenhum outro tema parece mais presente no seio da
sociedade do que a questão ambiental. Um conceito muito usado na pedagogia e aplicado ao
ensino de forma geral é o conceito de interdisciplinaridade, e não imaginamos tema melhor
para desenvolver essa função senão este ambiental. A sociedade hoje vive em torno desta
preocupação, dialogando questões relacionadas ao ambiente e à própria manutenção da vida,
podemos citar a exemplo degradação ambiental, processos produtivos, conservação-
preservação, distribuição de riquezas, sustentabilidade. As atenções estão voltadas para estes
problemas, e diversos setores da sociedade têm se organizado e buscado alternativas para
solucioná-los. Uma delas é a conscientização para as questões ambientais através da educação
escolar.
Seria relevante citar as palavras de Clésio Silva, geógrafo, pedagogo e amigo, que
disse certa vez que “o estudo das relações entre sociedade-natureza, assim como suas
experiências em sala de aula, lhe motivaram, guiaram seu interesse pela educação e pela
escola como meios privilegiados para o surgimento de uma nova consciência, necessária para
a sustentabilidade da vida”.
Assim, se pode entender que a escola tem um papel fundamental diante da necessidade
de reflexão e da busca por soluções para os problemas ambientais, e que ser professor e ter a
possibilidade de mediar diálogos sobre questões tão complexas, são minhas motivações para
investigar como as escolas participam desse momento de transformação, e como podem atuar
de forma responsável e construtiva.
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Iniciaremos esta pesquisa procurando investigar como a educação ambiental ocorre
nas escolas públicas da rede municipal de Belém, estado do Pará, utilizando o ensino de
Geografia como referência para a análise do discurso ambiental nas escolas, e Como os
professores podem contribuir para a disseminação de novas idéias, diante do desafio da (re)
construção de uma leitura de mundo mais interessada na questão ambiental?
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Diante dessas questões acreditamos encontrar um cenário de desigualdade, visto que
em primeira analise, a fundação escola bosque tem uma lógica voltada para formação em
educação ambiental.
Conforme nos diz Milton Santos (2002, p. 264), “o espaço é a casa do homem e
também a sua prisão”, uma vez que este pode servir aos interesses de alguns. Assim, a
Educação Ambiental, enquanto conteúdo do ensino básico tratado pela Geografia, tem
importância fundamental para a construção de uma sociedade mais igualitária e para o uso
racional dos recursos naturais, uma vez que os mais pobres são os mais afetados pela
degradação do Planeta.
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esse conceito é usado como base às discussões dos modelos econômicos, sociais e políticos a
serem adotados às questões internacionais e nacionais sobre meio ambiente.
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meio ambiente, exterminando espécies vegetais e animais, como também
colocando sua própria espécie em risco de extinção (Ehlers, 1995). Parte dessas
correntes buscava formas de sensibilizar a opinião pública sobre a urgência da
discussão acerca dos custos ambientais e sociais do desenvolvimento. Previam
a necessidade de serem desenvolvidas novas bases para o crescimento
econômico, bases compatíveis com a preservação dos recursos naturais
existentes. Dentro desse processo dinâmico e efervescente de discussão,
esboçaram-se os conceitos Sustentabilidade e Desenvolvimento Sustentável,
como a base teórica para repensar, em termos perenes, a questão do
crescimento econômico e do desenvolvimento”.
(Marcatto, 2002)
Nesse encontro foi realizado um balanço dos dez anos da Agenda 21 e reafirmou-se a
insustentabilidade do modelo econômico vigente. A EA, dentro da perspectiva desse evento, é
afirmada como uma estratégia para alcançar o desenvolvimento sustentável.
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de extensão para professores de ensino fundamental. Entre 1977 e 1981, desenvolveu o
projeto de Educação Ambiental de Ceilândia (DF) que foi pioneiro ao pensar um currículo
interdisciplinar e unir a educação escolar com as demandas da sua comunidade e também
fomentou a discussão ambiental nas Universidades ao promover uma série de debates e
seminários. Em 1986, com o amparo do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico
(CNPq), da Fundação Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior
(CAPES) e Pnuma, organiza o I Curso de Especialização em Educação Ambiental,
juntamente com a Universidade de Brasília (UnB), voltada para formação de profissionais de
nível superior (DIAS, 1991; MEYER, 1994).
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todas as suas superintendências estaduais, visando operacionalizar as ações educativas no
processo de gestão ambiental na esfera estadual. (FREIRE et al, 2006; BRASIL, 2005)
Embora tenhamos feito aqui meramente uma apresentação cronológica dos fatos a
cerca do processo de construção da questão ambiental no Brasil, não podemos perder de vista
que esse processo é marcado por tendências e ideologias políticas e acadêmicas, as quais
norteiam o processo de construção do conhecimento acerca da educação ambiental e
influenciam na forma como este é apropriado.
Tendo em vista esse caráter de divisão ideológica e política que se instala no processo
de construção e desenvolvimento da gestão ambiental no Brasil, adotamos aqui uma proposta-
síntese de periodização do processo de desenvolvimento da gestão ambiental.
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Para Bordalo (1999), o desenvolvimento da política ambiental no país seque uma
periodização organizada em três fases, na qual denomina a primeira como período
conservacionista, que vai da década de 1930 a 1970, no período criam-se as primeiras
normatizações para apropriação e exploração dos recursos naturais, e é na década de 1970 que
se inicia a institucionalização da gestão ambiental no pais com a criação da SEMA. A
segunda, que chama de político-institucional, ocorre durante a década de 1980, e marca o
ápice da intervenção estatal, com a constituição federal de 1988, a distribuição da
competência para todas as esferas do estado e com os estudos de impacto ambiental
coordenados pelo SISNAMA e a terceira, na década de 1990, que assume um caráter
descentralizado e participativo, com a participação da sociedade civil e a difusão do conceito
de sustentabilidade.
Lago (2002), citando Reigota (1995), Carvalho (1998) e Medina (1994), nos diz que:
“existem, no Brasil e no mundo, duas vertentes que disputam a
.hegemonia para orientar os fundamentos da educação ambiental. São elas:
a vertente Ecológico-preservacionista e a vertente Sócio-ambiental. De
acordo com Medina, a primeira tendência é conceituada como de
treinamento, onde ocorre a transmissão de conceitos específicos
importantes, mas que não são suficientes, e a segunda é uma abordagem
que considera os aspectos políticos, sociais, econômicos, culturais,
ambientais e históricos, numa visão integrada, necessária para a construção
de um conhecimento crítico e consciente sobre o meio ambiente”.
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A Lei de Diretrizes e Bases da Educação, Lei Nº 9394, de dezembro de 1996, reafirma
os princípios definidos na Constituição com relação à Educação Ambiental: “A Educação
Ambiental será considerada na concepção dos conteúdos curriculares de todos os níveis de
ensino, sem constituir disciplina específica, implicando desenvolvimento de hábitos e atitudes
sadias de conservação ambiental e respeito à natureza, a partir do cotidiano da vida, da escola
e da sociedade.” No ano de 1997, foram divulgados os novos Parâmetros Curriculares
Nacionais - PCN. Os PCN”s foram desenvolvidos pelo MEC com o objetivo de fornecer
orientação para os professores. A proposta é que eles sejam utilizados como “instrumento de
apoio às discussões pedagógicas na escola, na elaboração de projetos educativos, no
planejamento de aulas e na reflexão sobre a prática educativa e na análise do material
didático”. Os PCN enfatizam a interdisciplinaridade e o desenvolvimento da cidadania entre
os educandos. Os PCN estabelecem que alguns temas especiais devem ser discutidos pelo
conjunto das disciplinas da escola, não constituindo-se em disciplinas específicas. São os
chamados temas transversais. Temas transversais definidos pelos PCN: ética, saúde, meio
ambiente, orientação sexual e pluralidade cultural.
No entanto, uma lei merece destaque por ser o marco que propiciou a legitimação da
Educação Ambiental como política pública nos sistemas de ensino: a Lei nº 9.795, de 28 de
abril de 1999, que dispõe sobre a Política Nacional de Educação Ambiental (PNEA),
determina a inclusão da EA de modo organizado e oficial no sistema escolar brasileiro.
O ProNEA busca atingir três diretrizes: (a) capacitação de gestores e educadores; (b)
desenvolvimento de ações educativas e; (c) desenvolvimento de instrumentos e metodologias.
Dentro dessas linhas de ação e estratégias é responsável por realizar, a cada dois anos, a
Conferência Nacional de Educação Ambiental, precedida de conferências estaduais e o apoio
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à Rede Brasileira de Educação Ambiental na realização dos Fóruns Brasileiros de Educação
Ambiental antecedidos por fóruns estaduais (BRASIL, 2003).
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3 - A QUESTÃO AMBIENTAL E EDUCAÇÃO
A EA surge a partir dos anos de 1960 sobre a ótica conservacionista, como já foi
periodizado, reflexo da realidade histórica e da lógica social e política do período.
Parece-nos obvio a primeira vista, porem, o que nos interessa questionar é a que
abordagens e a que lógicas estão ligadas seus estudos e práticas?
Segundo Munhoz (2004), uma das formas de levar educação ambiental à comunidade
é pela ação direta do professor na sala de aula e em atividades extracurriculares. Através de
atividades como leitura, trabalhos escolares, pesquisas e debates, os alunos poderão entender
os problemas que afetam a comunidade onde vivem. Porem, é preciso atentar para as formas
como esses conceitos são apropriados pelos educadores ambientais e que posicionamentos
político pedagógicos seriam mais relevantes?
“A diversidade de nomenclaturas hoje enunciadas (referente
aos diversos adjetivos atribuídos ao substantivo ambiental, educação
ambiental, ecologismo ambiental, educação ambiental critica...),
retrata um momento da educação ambiental que aponta para a
necessidade de se re-significar os sentidos identitários e fundamentais
dos diferentes posicionamentos político pedagógicos. (...) O fato é que
designar diferentemente esse fazer educativo voltado à questão
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ambiental, convencionalmente intitulado de “Educação Ambiental”,
também estabelece outras identidades, enunciadas no próprio nome,
carregadas de significados” (LAYRARGUES, 2004).
Observar o espaço geográfico sob uma perspectiva ambiental significa tornar claras as
inter-relações e interdependências dos diversos elementos que compõe a mesma. À medida
que a humanidade evolui suas técnicas, aumenta sua capacidade de intervir na natureza para
satisfação de necessidades e desejos produzidos pela lógica materialista-desenvolvimentista,
surgem tensões e conflitos quanto ao uso do espaço e dos recursos.
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3.3 - A questão da transversalidade
Portanto para se alcançar uma prática interdisciplinar devemos realizar trocas entre os
conhecimentos, métodos, experiências e visões de mundo, objetivando sempre o
enriquecimento mútuo. Alguns autores classificam interdisciplinaridade como uma postura
que surge a partir da necessidade de tentar compreender a realidade de forma mais
abrangente.
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Abro um parêntese aqui para entrar finalmente, na questão da transversalidade que por
definição, relaciona-se a temas que perpassam, atravessam diferentes campos do
conhecimento, porém sem constituir novos campos disciplinares.
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Para Loureiro:
“A constatação dos fatos históricos, considerando
principalmente, o atual cenário de descuido com os nossos recursos
naturais e com a Vida, podemos afirmar que, para verdadeiramente
transformarmos o quadro de crise em que vivemos, a EA se define
como elemento estratégico na formação da ampla consciência crítica
das relações sociais que situam a inserção humana na natureza”
(LOUREIRO, 2003 In: Layrargues, 2004 ).
(Carvalho, op.cit.).
Assim podemos resumir que a EA é outro ponto de partida, “um outro aprender a
saber, olhar, sentir, viver e socializar”. É um cenário cultural e pedagógico de convergência
de diversos campos de saber, de sentido e de ação que deveria vir a ser um caminho de
encontros por meio do qual toda a educação que praticamos possa não apenas ser
reformulada, mas sim transformada.
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De posse disto, no que será apresentado a seguir, Partimos do pressuposto de que a
educação ambiental está imbuída de um conteúdo político e de que a ação educativa situa-se
numa ampla e complexa relação de conflitos, histórica, social e culturalmente condicionados.
Uma vês que este estudo é voltado, principalmente à analise dos conceitos e praticas adotadas
na escola publica, desenvolve - se uma reflexão, ao longo do trabalho, e mais maciçamente
nesse primeiro momento, destacando, algumas passagens dos PCN de Meio Ambiente que
consideramos relevantes para a apreensão da concepção de Educação Ambiental, sejam estas
tradicionais ou não.
SALINAS (1989), In: BORDOLOZZI (1997), nos diz que dentro da construção de um
pensamento racional seria coerente esperar que o acúmulo de conhecimentos permitisse ao
homem dominar de forma plena a natureza racionalizando indefinidamente suas condições de
vida, baseado na crença de que razão ciência e tecnologia impulsionariam a historia
continuamente em direção a verdade e a melhoria das condições de vida, porem, o quadro de
crises, mais civilizatórias que ambientais, se constituem no próprio cenário da modernidade –
reforçando que nada é considerado mais atual em qualquer época que a obsessão pela
tecnologia e seus efeitos sobre a humanidade – pois é a forma de exploração dos recursos
naturais estabelecida pelo homem, associada a exploração cruel do modo de produção que
resulta no modelo de degradação ambiental em que vivemos .
A esses termos, a racionalidade passou a ser uma “faca de dois gumes” quando esta
inseri a natureza no processo produtivo incorporando-a em sua “cultura” de dominação,
ignorando sua própria existência enquanto integrante da natureza.
A revolução cientifica (sec. XVIII), de modo geral, instituiu uma feição mecanicista à
natureza. Com a revolução industrial, ocorrem também mudanças nas condições econômicas,
sociais, políticas e culturais instaurando uma reformulação nas “necessidades” de consumo,
provocado pelo modo de produção capitalista como aponta (LEFEBVRE In: SANTOS, 1994)
quando mostra que “o modo de produção atual esta voltado mais para uma revolução
cientifica e técnica e não social e política”.
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De acordo com BORDOLOZZI (1997) em meados do século XX, com a expansão
econômica e o processo de globalização instalados no mundo, e a formação de multinacionais,
intensificam-se as formas de apropriação da natureza, A sociedade da produção industrial,
tecnológica e cientifica transforma natureza em recurso e organiza-se de forma cada vez mais
eficaz à exploração, tornando-se irracional.
Entende-se que, “para que o ensino forme o aluno do ponto de vista reflexivo, flexível,
crítico e criativo, é fundamental que este se torne um agente da pesquisa da realidade, e não
somente um receptor do conhecimento produzido por outros. Nesse sentido, espaço
geográfico passa a ser entendido como “o resultado de uma construção do conhecimento e
não um dado preexistente em si” (OLIVEIRA, 1990, p. 28).
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Esta interpretação pode também ser aplicada à escola, como vemos em Rego:
A escola – espaço privilegiado para educar a intersubjetividade –
pode ser também o espaço onde a geografia supere a
disciplinaridade coisificante para se converter na produção de
saberes que façam da transformação do espaço vivido o objeto
catalisador de pensamentos e ações dos educandos. O
conhecimento geográfico produzido na escola pode ser o
explicitamente do diálogo entre a interioridade dos indivíduos e a
exterioridade das condições do espaço geográfico que os
condiciona sendo esse diálogo mediado pelas dinâmicas
intersubjetivas estabelecidas na relação educacional,
intersubjetividades que podem chegar a acordos referentes não
somente ao como compreender, mas também, em alguma medida,
ao como transformar a realidade cotidianamente vivida.
(Rego, 2000 In: REFFATTI, 2001 ).
A Geografia, concebida de uma maneira crítica, tem como primeira preocupação a
transformação da ordem social:
A luz das idéias de Milton Santos (1996), podemos dizer que o que marca a entrada do
século XXI é a velocidade das transformações da sociedade e o fluxo de informações, a
rapidez com que acontecem as coisas acaba influenciando na transformação do espaço
trazendo conseqüências que nem sempre são pensadas junto aos movimentos de produção e
apropriação em suas diferentes escalas, causando certos impactos ao meio.
Alguns dos temas mais discutidos na atualidade são referentes a questão ambiental,
secas, enchentes, desmatamento, monoculturas, reserva hídrica entre outros. A emergência
destes problemas ambientais nas últimas décadas trouxeram novos desafios tanto à sociedade
quanto às ciências, não é raro vermos movimentos sociais nas manchetes ou trabalhos
acadêmicos que utilizam paradigmas da temática ambiental.
Souza Santos (1996) In: Goettems (2006), defende que estamos numa fase de
transição paradigmática, tanto no âmbito epistemológico como no social: do paradigma da
modernidade para um outro que, por não ter ainda um nome, é por muitos autores
caracterizado como “pós-modernidade”. Um dos sinais de desgaste da modernidade é
demonstrado pelas degradações ambientais, resultantes do processo de desenvolvimento que
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se dá como sinônimo de acumulação capitalista, e que acaba gerando uma visão de natureza
enquanto recurso, como mera condição de produção.
A partir desta visão de natureza enquanto recurso forma-se as bases para a apropriação
e o controle dos espaços que dispõe destes recursos. O estabelecimento de controle e relações
de poder dentro de um determinado espaço configura um território, organizando novos
recortes geográficos.
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BORTOLOZZI (1997) ressalta também que os conhecimentos produzidos nas práticas
escolares podem contribuir para uma gestão adequada dos problemas ambientais e para
caminhar para um desenvolvimento sustentável, pois isso será possível se contarmos com a
participação de cidadãos conscientes.
Segundo ele, questões como esta são pertinentes ao intuito deste trabalho de tentar aproximar
problemática ambiental, ensino e geografia, pois, enfatiza a necessidade da integração entre
escola e comunidade através de praticas docentes voltadas para uma EA integradora, onde a
escola é entendida como parte de espaço geográfico que foi socialmente construído e também
como um lugar de contradições que, se por um lado (re)produz formas estáticas de explicar a
realidade, por outro, pode apresentar elementos geradores de mudanças
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4 - A PERQUISA EM CAMPO: UMA ANALISE DAS ESCOLAS
Ainda segundo Saviani, é viável, mesmo numa sociedade capitalista, "uma educação
que não seja, necessariamente, reprodutora da situação vigente, e sim adequada aos interesses
da maioria, aos interesses daquele grande contingente da sociedade brasileira, explorado pela
classe dominante" (p.94).
A educação, para Saviani, é transmissão do saber, e precisa ser transmitido aos que
estão sendo educados.
Então em resumo, uma teoria pedagógica, para ser histórico-crítica precisa reconhecer
que a educação é determinada socialmente, mas também admitir que ela possa transformar as
condições sociais.
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Moreira e a E.M. Monsenhor José Maria Azevedo, ambas as escolas localizadas na ilha de
Caratateua, ilha do estuário Guajarino e distrito administrativo do município de Belém.
A E.M. Monsenhor José Maria Azevedo, apesar de não ter a mesma condução do
trabalho pedagógico – este foco direcionado essencialmente a educação ambiental, está
localizada em um bairro um pouco mais afastado das áreas de aglomeração populacional,
onde reside uma camada mais tradicional da comunidade. A população predominante do lugar
é de famílias de baixa renda. Nesta comunidade configuram-se relações de proximidade e
vizinhança, alicerçadas pela sobre-ocupação de descendentes que também caracteriza o lugar.
De acordo com os diálogos do grupo focal, que veremos melhor a seguir, os alunos
de ambas as escolas, em geral vem de famílias humildes que tem como base de seu sustento
prestação serviços, comumente informais.
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Concluí assim, que a E.M. Monsenhor José Maria Azevedo seria a escola mais
adequada para se comparar com os resultados da Fundação Centro de Referencia em
Educação Ambiental Professor Eidorfe Moreira.
Foram selecionados para realização deste trabalho oito professores como objetos de
pesquisa Para desenvolvimento do processo empírico, porem, apenas três professores se
dispuseram a responder os questionários, ainda com a restrição de não utilizar seus nomes no
trabalho.
Foram buscadas ainda outras escolas, entretanto não houve interesse por parte dos
professores em participar do projeto.
Para a realização deste trabalho, levamos em conta então, a disposição dos professores
em colaborar e dividir suas experiências e concepções no ensino de geografia.
Quanto ao tempo de atuação dos educadores, atuam como professor entre cinco e dez
anos, dois possuem apenas graduação e especialização e um possui mestrado – é importante
salientar que nenhum dos professores, nem o mais antigo exercendo a docência na ilha,
residem no local.
Portanto, pode-se dizer que os professores que atuam nas escolas em questão
apresentam significativa experiência no trabalho como educadores.
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A experiência de trabalho como educador é um requisito importante para o processo
de ensino e aprendizagem, tanto para o desenvolvimento das práticas de ensino como para a
formação do professor.
Entende-se como “Trabalho de Campo” um momento, que permite obter, por meio da
observação e do registro, os dados qualitativos e quantitativos que posteriormente serão
trabalhados em sala de aula.
No dialogo com os alunos, dentro da dinâmica do grupo focal, indicaram respostas que
confirmam o grande interesse dos alunos por esse tipo de atividade, e confirmam a
potencialidade quanto ao desenvolvimento da aprendizagem de conteúdos de Geografia, ou de
qualquer outra disciplina.
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A responsabilidade do professor de Geografia assume particular importância
nesse sentido, visto que estes afirmaram tomar iniciativa para a realização de pesquisa de
campo em suas escolas.
Porem, Um dado relevante indicado pelo questionário refere-se à localização das áreas
escolhidas, pelos professores, para a realização de “Trabalho de Campo”, geralmente
desenvolvem esse tipo de atividade fora do bairro em que se localiza a escola (geralmente
áreas fechadas como parques bosques ou museus) o professor da escola bosque relatou que
realiza tais atividades em caminhadas por trilhas dentro do próprio espaço escolar. Trata-se de
um dado que denota certa falta de preocupação com a observação do entorno da escola,
levando principalmente em consideração a geomorfologia da área, que se constitui em parte
por falésias, e o processo de ocupação e uso do solo com as invasões em áreas vitais ou de
risco que é diretamente relacionado ao tema e poderia ser abordado durante um estudo de
qualidade de vida.
Relacionando ao que a priori nos soou como falta de preocupação com a situação
ambiental local, é relevante analisar o item seis do questionário que se refere a formação das
unidades de paisagem nas margens fluviais ilha de Caratateua. Pedimos aos professores que
pontuassem e/ou marcassem os elementos que compõem a paisagem da orla, divididas em
categorias como: unidades de paisagem, processos eólicos e hidrodinâmicos, formas de relevo
resultante destes processos e formas de ocupação e uso da orla. Foi ignorada nos questionários
dos professores “A” e “B” a unidade de paisagem terra firme, alem de terem sido respondidas
erradamente (ou ao menos de maneira incompleta) nos três questionários as formas de relevo
que compõem a paisagem da orla dentre as quais não foram assinaladas promontórios e
enseadas.
A atividade nos revelou, alem da falta de preocupação com a realidade local, algo mais
grave que é a falta de conhecimento em geografia física, conhecimento este necessário à
abordagem dos temas da EA.
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A dificuldade no trabalho da EA e com a adoção dos “trabalhos de campo” como
prática freqüente nos planos de curso podem ter outra explicação alem das apresentadas pelos
professores.
Por outro lado é levantado dentro de sala de aula discussões como o problema da
poluição e tratamento da água ou a produção e destinação do lixo doméstico na ilha, bem
como apontamento de prováveis soluções para os problemas, o que sem duvida é um ponto
positivo no processo de (re)construção do saber.
Estes são dados que remetem à discussão teórica desenvolvida no segundo capítulo, no
qual se procurou contextualizar, do ponto de vista do conhecimento, a relevância da geografia
para a educação ambiental – um detalhe a ser acrescentado é que nenhum dos professores
respondeu que há participação dos alunos na fase de planejamento das atividades, como
sugere um modelo participativo.
“(...) Acredita-se que a participação dos alunos em
todas as etapas da realização do Estudo do Meio é fundamental,
tanto para conseguir o envolvimento e o compromisso de todos
como para possibilitar a aprendizagem nas diversas etapas, desde
a escolha do tema até a socialização dos resultados”.
(OLIVEIRA, 1990)
Conforme discutido no capítulo dois, a utilização da interdisciplinaridade no caminho
à transversalidade é fundamental para o estudo integrado do meio, devido sua complexidade e
suas múltiplas possibilidades de leitura.
Com relação à falta de tempo, esta é uma realidade para a maioria dos professores da
rede pública, uma vez que eles cumprem em média 40 horas/aulas na semana – o que na
maioria das vezes é superior, e haja verdade que a realidade do professor hoje é que para
alcançar um padrão de vida razoável professores tende se submeter a cargas horárias cada vez
maiores. Tal situação reflete a insuficiência de verbas para as escolas públicas em geral.
Junto com as observações houve também conversas com os professores, a respeito das
condições de trabalho na escola pública, das condições salariais e do trabalho realizado por
eles com seus alunos.
Adotamos também, como já foi citada, a conversa em grupo com os alunos, apesar da
consciência de que nossa presença por si só já alterava a rotina de seu cotidiano. Procurou-se
também analisar turmas de mesmo período, no caso matutino, para que pudéssemos ter um
perfil semelhante entre os alunos.
Desse modo, foi sugerida a idéia de que além das observações das aulas seria
interessante ter um registro dos alunos. Sob a iniciativa de um dos professores foi sugerida
uma redação a eles com o tema “problemas e soluções ambientais na ilha de Caratateua”. O
que nos chamou a atenção para a facilidade no trato com elementos da problemática
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ambiental numa escala global, respeitando a idade e a capacidade de sistematização de
informações de alunos egressos na 5ª serie, o que nos reforça a idéia de que a questão
ambiental esta estreitamente ligada a totalidade das realidades sociais. Neste processo
podemos observar também uma equivalência no volume de informações de ambas as turmas.
Tantos detalhes fizeram com que a análise das redações fosse adotada como um dos
componentes centrais do processo de pesquisa.
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4.6 - Formas de avaliação
Contudo um a questão nos surpreende que é a questão das redações, com tantas
características diferentes, sobre tudo com relação a forma como o ensino é transmitido, por
que os alunos apresentaram tanta proximidade no volume de informações a cerca do tema?
Os resultados reforçam o que afirma Dias (2001), o professor hoje não atende as
necessidades ao que se refere a desenvolver um trabalho que incorpore a temática ambiental
de forma consciente. Dois dos três professores entrevistados não se sentem preparados para
trabalhar a Educação Ambiental, e mencionaram a falta de recurso ou material, tempo e
estímulo como principais obstáculos.
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5 - CONSIDERAÇÕES FINAIS
Os exemplos de degradação ambiental no município de Belém, em especial na região
das ilhas, nas áreas de barra-praial popularmente denominadas praias, são inúmeros: rios e
igarapés transformados em canais de escoamento de detritos; retirada da vegetação, que
agravam o problema das enchentes; contaminação das águas subterrâneas, dentre outros
Entretanto, nem sempre esses desequilíbrios ambientais são devidamente explorados e
questionados no âmbito do ensino da geografia, ou mesmo de outras disciplinas.
A respeito do ensino observado nas escolas selecionadas para o projeto, baseado nas
considerações apresentadas aqui, constatou-se que não estão sendo aplicadas praticas que
objetivem a educação ambiental.
O futuro deve ser marcado com comprometimento e com a interlocução dos saberes e
das instituições sociais, inclusive a familiar, e pelas reformas necessárias ao seu
desenvolvimento, caso contrario, não será possível formar um cidadão nos valores propostos
pelos PCN’s, sobretudo em relação a transversalidade ambiental.
Seria pertinente também expor aqui nossas inquietações, Muitas outras questões foram
apresentando a necessidade de serem respondidas, a exemplo a formação do professor de
geografia e a capacidade de abordagem do tema de EA, bem como as a diferenciação entre as
diversas instituições que oferecem atualmente o curso no estado. Teria diferenciação com
relação a prática pedagógica?
Outra questão é a falta de literatura de caráter geográfico com relação ao tema de EA,
ao longo de nossa pesquisa foram encontradas dezenas de estudos sobre gestão ambiental ou
educação ambiental ligada a outra ciência. Tal deficiência da geografia acaba por aproxima-
nos da pedagogia, que possui material abundante sobre o assunto.
Porem nos vemos as voltas com uma questão central neste trabalho que inquieta
constantemente os educadores: como, a partir das práticas cotidianas, podemos exercitar
nossos conhecimentos em educação ambiental, o que fazer para que o conhecimento
produzido transcenda a dimensão do papel e influencie de maneira positiva nas sociedades?
Cada educador deve responder essa questão de acordo com o contexto em que está
inserido.
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6 – REFERÊNCIAS
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