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Autor

MS.c. Eng Rogério Regazzi


Professor/Pesquisador PUC-RJ e Diretor 3R Brasil Tec. Ambiental
Colaboradores
Alessandro Carlos Marcelino Torres
Técnico em Mecânica CCR / PUC-RJ
Fellipe M. Fassarella
Técnico em Eletrônica CCR / PUC-RJ

EXPOSIÇÃO DO DENTISTA AS DIFERENTES FONTES DE RUÍDO


EXISTENTES NO CONSULTÓRIO

APRESENTAÇÃO

A atividade do cirurgião-dentista curiosamente expõem o mesmo a uma série de


agentes físicos, químicos e biológicos que podem afetar a saúde. As Normas
Regulamentadoras (NR) do Ministério do Trabalho aprovadas por intermédio da Portaria
no 3.214 de 08/06/78 e previstas no Capítulo V da CLT é o documento legal que trata da
questão de saúde e segurança dos trabalhadores. Além dessa legislação básica, há um
conjunto de Leis, Decretos, Portarias e Instruções Normativas que complementam o
ordenamento jurídico dessa matéria. Mesmo após alterações ou substituições por
documentos mais atuais, a questão do direito adquirido sempre prevalece.
Neste trabalho trataremos da exposição a diferentes níveis de pressão sonora
que o profissional de Odontologia sofre no seu dia a dia e as conseqüências na voz e
no seu bem estar. Foram realizadas medições pontuais nas fontes de ruído existentes
no consultório utilizando-se de um analisador de freqüência de nível de pressão sonora
e de um audio-dosímetro de ruído para realizar um histórico no tempo da exposição do
dentista durante sua atividade.

REFERÊNCIAS NORMATIVAS

Para a avaliação da atividade, primeiramente deve-se estabelecer as premissas


e as normas de referência que serão utilizadas. São três as normas do Ministério do
Trabalho que fornecem limites para ruído ocupacional. A NR 9 que trata do PPRA –
Programa de Prevenção de Riscos Ambientais, estabelece em 80 dBA o nível de
pressão sonora a partir do qual o empregador deve tomar alguma medida de controle
para que o ruído seja atenuado (ref. 50% DE DOSE). A NR 15 já trata da questão da
insalubridade e estabelece em 85 dBA o limite permitido para uma atividade de 8 horas
diária. Caso o trabalhador fique exposto a níveis superiores a este valor a atividade é
considerada insalubre o que assegura a percepção do adicional de insalubridade de
grau médio (20%) do salário mínimo da região. A terceira norma a NR 17 trata da
questão da ergonomia ou seja do trabalho eficiente, isto é, visa estabelecer parâmetros
que permitam a adaptação das condições de trabalho às condições psicofisiológicas
dos trabalhadores de modo a proporcionar um máximo de conforto. Tal norma
estabelece como limite para conforto acústico em ambiente de trabalho o valor de 65
dB(A).
Também podemos destacar os documentos legais relacionados aos benefícios
da aposentadoria especial onde os limites diferem dos das Normas Regulamentadoras
do Ministério do Trabalho. Fazendo uma análise da profissão de odontologia em função
do agente ruído deve-se destacar que antes de 1995 essa profissão estava enquadrada
no quadro do INSS referente ao artigo 2 do Decreto 53.831/64 como atividade penosa,
portanto, com direito a concessão da aposentadoria para 25 anos de trabalho. A partir
desta data o INSS aboliu as profissões consideradas especiais só permitindo o ensejo a
aposentadoria especial aos trabalhadores que exerciam atividade em ambientes
insalubres, ou seja, em ambientes nos quais o trabalhador, com o tempo, poderá
adquirir alguma doença, como por exemplo a perda auditiva. Levando em consideração
a questão do ruído ocupacional e segundo os limites do INSS o nível de pressão sonora
para concessão era de 80 dB(A) até 1997 e a partir de 1998 ficou em 90 dB(A). A perda
auditiva induzida pelo ruído ocupacional (PAIRO) é um exemplo de doença ocupacional
que traz grande prejuízo social e econômico para o país. A PAIRO é uma das doenças
ocupacionais que mais contribui para o aumento das aposentadorias por incapacidade
laborativa pelo INSS.

AVALIAÇÃO DO CIRURGIÃO DENTISTA

Uma questão curiosa que sempre pairou sobre as pessoas é o “barulho” do


motorzinho do dentista e por conseqüência a exposição do dentista e do paciente a
níveis de pressão sonora elevados que possam prejudicar a saúde. Desse assunto
também surge a preocupação com a voz. Na maioria dos consultórios o dentista
constantemente conversa com o paciente distraindo-o ao máximo para realizar seu
trabalho com perfeição, quanto maior o ruído de fundo do ambiente mais o profissional
tem que elevar a voz para ser entendido.
A avaliação realizada ocorreu num consultório onde são realizados cursos de
pós-graduação em tratamento de canal para dentistas. Na sala são realizadas uma
série de atividades, escolhemos um dentista que acabara de receber um paciente para
tratamento de canal. Posicionou-se o medidor chamado de audio-dosímetro na cintura
do dentista e o microfone na altura da gola a cerca de 15 cm do ouvido. Com isso
obtivemos durante uma hora e oito minutos de medição o histórico dos níveis de
pressão sonora em intervalos de 5 segundos o que permitiu uma análise confiável dos
ruídos envolvidos com a atividade. Verificou-se que em algumas operações com alta
rotação o nível de pressão sonora chegava a 94,9 dB(A), embora na média, durante
todo o tempo de medição, o nível tenha ficado em 76 dB(A).
Com o auxílio de um outro equipamento chamado de analisador de freqüência
de ruído rastreou-se as diferentes fontes envolvidas no histórico de medição. A tabela
abaixo mostra os valores encontrados.
Fonte de Ruído Atividade NPS em dB(A)
Alta Rotação Mínimo Tratamento de Canal 74,0 dBA
Alta Rotação Médio Tratamento de Canal 86,1 dBA
Alta Rotação Máximo Tratamento de Canal 94,9 dBA
Bomba a Vácuo (1m) ------------ 75,4 dBA
Sugador Dentista Tratamento de Canal 82,0 dBA
Trabalho Manual com bomba operando Tratamento de Canal 68,0 dBA
Trabalho Manual com a bomba inoperante Tratamento de Canal 63,5 dBA
Bomba a Vácuo operando a 2m ------------ 71,3 dBA
Bamba a Vácuo operando próximo ao almoxarife Atendente do Almoxarifado 69,0 dBA
Bamba a Vácuo inoperante próximo ao almoxarife Atendente do Almoxarifado 63,0 dBA

Para se ter uma idéia de qual é a sensação auditiva para os níveis encontrados
apresentamos abaixo uma tabela que relaciona o nível de pressão sonora em dB(A)
com algumas atividades e fontes conhecidas.
DIVERSIDADES SENSAÇÃO dB(A) RUÍDOS EM RUÍDO EM RUÍDO DE
AMBIENTAIS AUDITIVA (decibel) INTERIORES EXTERIORES VEÍCULOS
• AMBIENTE I LIMITE DE 0 câmara anecoica cosmo / espaço sideral
DE 0 A 35 dBA AUDIBILIDADE

SILÊNCIO 5 laboratório acústico desertos


EM CIDADES INABITUAL cabine sonora de
10 estúdio de gravação torneira gotejando
PEQUENAS PELO quarto de dormir de folhas agitadas num
MUITO 15 madrugada jardim silencioso
INTERIOR DO PAÍS CALMO
20 estúdio de rádio jardim tranquilo
(cabine)
SIMILAR conversação em voz as margens de um rio
25 baixa (cochicho) tranquilo
AOS RUÍDOS hospital num bairro pedalar em bicicleta planador
CALMO 30 tranquilo numa rua tranquila (voo livre)
DA FLORESTA canto de um pássaro à
escritório num distância de
35 quarteirão tranquilo barco a vela
aproximadamente 5m
• AMBIENTE II teleférico
RELATIVA- consultório médico vassoura varrendo (bondinho do pão
40 A 45 dBA 40 numa rua calma uma calçada
MENTE de açucar)
INTERIOR DE CALMO ruído de fundo
RESIDÊNCIA apartamento normal proporcionado por ar transatlântico de 1o
45 classe
condicionado
• AMBIENTE III RUÍDO 50 restaurante rua tranquila bonde elétrico
50 A 75 dBA tranquilo (Santa Tereza)
FREQUÊNTE rua residencial \
grandes livrarias ar condicionado de barco a motor
60 conversação
ESTA FAIXA DE grande porte
apartamento
RUÍDO É ruidoso\ ruído de máquina de carro de passeio
ENCONTRADA RUÍDOS ALTO 65 escrever (manual) em auto estrada
agência bancária
EM INTERIORES DA vagões leitos
SALA DE AULA NÍVEL via de circulação modernos, interior
70 restaurante ruidoso importante
DA de aviões a jato
LIMITES DAS CONVERSA concerto de ônibus elétricos,
NORMAS DE MEIO 75 voz normal a 0.6m orquestra sinfônica e interior de carro
AMBIENTE aspirador de pó com vidro fechado
• AMBIENTE IV “Níveis acima desses circulação intensa a avião de transporte
valores são 85 voz alta a 0.3m 1.0m e coleta de lixo a hélice
85 A 95 dBA prejudiciais”
LIMIAR DAS NORMAS TERRÍVEL DE rua com tráfego casa de máquinas
DE EXPOSIÇÃO SE FAZER 95 grito a 0.3m intenso com buzinas de lanchas e navios
PERMISSÍVEL ENTENDER sirenes etc...
• AMBIENTE V grito a 0.1m estadio de futebol carro com escape
100 A 110 dBA 100 aberto
MUITO

MUITO COMUM EM DIFÍCIL DE quadra de esportes


CONCERTOS DE SUPORTAR limpeza com jato de coberta quando da moto com escape
105 areia aberto
ROCK E comemoração
DISCOTECAS
(na pista de dança) cortadora mecânica de
110 triturador de plástico grama, rebitadora turbina de avião

• AMBIENTE VI estande de tiros e caça turbina de avião a


LIMITE 120 picadeira de asfalto com arma de fogo 5m
120 A 140 dBA
DOLOROSO martelete em sirene de fábrica a 1m
TIRO, EXPLOSÃO 130 siderúrgicas de distância avião a 1m
DANOS corte de chama
TRANSMISSÃO VIA IRREVERSÍVEIS AO espessa no interior de fogos de artifício de avião a jato
ÓSSEA APARELHO 140 oficina em galpão de grande porte a meia decolando muito
AUDITIVO estaleiro distância próximo
CONCLUSÃO

Comparando os valores encontrados com os limites das normas podemos constatar que
embora os níveis de pressão sonora em certas operações sejam muito elevados, na
média a atividade realizada neste local apresenta valores abaixo de 80 dB(A) isto é 76
dB(A). Portanto a atividade não é considerada insalubre nem está acima do limite de
ação estabelecido na NR 9. Como analogia a esse exemplo podemos destacar a
operação com raio X. Embora o nível seja elevado o tempo de exposição é mínimo o
que acarreta uma dose pequena. Caso haja um aumento do tempo de exposição pela
necessidade de se retirar uma série de raios X provavelmente a dose permitida do dia
será superada.

Por outro lado, o valor de 76 dB(A) está bem acima dos 65 dB(A) recomendado para
conforto acústico em ambiente de trabalho como apresentado na NR 17 (Ergonomia).
Isso causa um desconforto e um aumento do estresse do profissional. Além disso,
estamos falando de um ambiente de difícil comunicação o que pode acarretar sérios
problemas devido a uma má interpretação entre os profissionais, o paciente ou do
atendente do almoxarifado.

Com a nova reformulação da NR 17 deve-se realizar a avaliação do ambiente em


oitavas, isto é, utilizar um medidor que permite a análise por freqüência do ruído
existente para comparação do ruído de fundo com os recomendados para recinto
fechado definidos na NBR 10152.

REFERÊNCIA BIBIOGRÁFICA

[1]. Livro Perícia e Avaliação de Ruído e Calor – Passo a Passo, Regazzi, Rogério Dias

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