Você está na página 1de 9
{© 2006 by Marilena da Sil . Lene José Gomes (Organizaiores) Editora da UCG Rua Colonia, Qu. 240-C, Lt. 26 -29 Nove Mundo 3-200 ~ Gotdnia - Gotis ~ Brasil Secretaria Fax (62)3946-1814 — Revistas (62) 3946-1815 CCoordenagio (62) 3846-1816 ~ Livraria (62) 3946-1080 Comissio Tecnica Keil Carvalho Matos Navin Regina ideo da Costa Copideque, Nemalizacis Teda Gonalves de Aguiar Diagramagio Bibineca Central ds UCG ‘Normarzecte © Gis (Autor desconfecid). “imagem da espa Leerte de Arado Peron Prado de Arve Graf € Capa Le Fermando Garibaldi AneBinal da Copa A258 Alien afodescendéncia eedueagio /onaninagio Marikne da Silva, Usne José Gomes = Goitnia = Fd ds UCG, 2006 1429. ISBN 85-7103-355-2 1. Attica ~ histria, 2. Cultura e vide socal ~ Ain. 3. Antopologia clea = Africa I, Siva, Marlena da (org). UL. Gomes, Usne José (org). Il, Til DU 316.716) 3966) 9466) mpressa no Brasil Printed in Brazil 2006 O DEBATE SOBRE ACOES AFIRMATIVAS PARA NEGROS NA SOCIEDADE BRASILEIRA: ARGUMENTOS A FAVOR Joaze Bernardino’ Projeto de Lei recentemente encaminhado pelo Governo Federal & Amara das Deputadas, instituindo um sistema especial de reserva de vagas para estuclantes egressos de escolas priblicas, em especial negros e indi- genas, nas instituigdes piiblicas federais de educagto superior, acelera as discussdes iniciadas em meados da década de 1990, quando representantes do movimento negro brasileiro entregaram ao entao presidente da Repibli- ca, Fernando Henrique Cardoso, um documento-proposta reivindicando ages concretas contra o racismo no pais. Naquela ocasigo, a principal auto- ridade piblica do pats reconhecera, pela primeira vez na hist6ria, a existéncia do racismo e da discriminacio racial no Brasil. Desde entio, mesmo timida~ as publicas necessirias ¢ vidveis para desnaturalizar as desigualdades de cunho racial na soviedade brasileira Embora nao devam se restringir 20 ‘imbito do ensino superior, este tem sido o principal campo de batalha em torno da necessidade e viabilidade das supracitadas politicas. Parte deste tensionamento se explica pelo resultado da TIT Conferéncia Mundial de Combate ao Racismo, Discriminagio Racial, Xenofobia c Intolerincia Correlata, realizada na Aftica do Sul, em 2001, € também pela adogio dessas medidas na UERJ' e UnB, o que decididamente colocou este debate na ordem do dia. Apés a acZo pioneira das supracitadas universidades, diversas outras jé adotaram aces afirmativas’, e tantas outtas jis encontram em avancado estado de discussio. mente, as agGes afirmativas tém sido reconhecidas como pol * Professor no Departamento de Cigncias Socais da Universidade Rederal de Goiss (UFG), Membro-fundador do Niicleo de Estudos Afticanos ¢ Afiodescendentes da UFG. Entre 2002 e 2004, coordenou um programa de agio afirmativa para estudantes negros na UFG, 0 projero Passagem do Meio (URG/LPP-UER|Fundasio Ford). Atuaimente, édoutocando we de Brasilia, Ema joazchernardino@uol.com.br 0 © esse gots Armunwis Pana Neraos 44 SociDADE BAUER. © campo de implementacao e de debates acerca das agdes afirmativas indo se restringe as universidades, existindo varios Ministérios, entze eles o da Justiga, € vétios governos municipais e estaduais que jf adotam agées afirma- tivas para a populagio negra. O acirramento do debate junto as Institui «le Ensino Superior, a meu ver, deve-se a um no declarado consenso de que a uuniversidade se constitui na porta de acesso, por exceléncia, aos cargos de prestigio da sociedade brasileira ¢ de ascensio social Logo, mever na estrutura uuniversitétia significa mexer estruturalmente na sociedade brasileira. Assim, 0 discurso que procura opor politicas de aco afirmativa ¢ reforma université- ria, além de ser impreciso do ponto de vista histérico, nio enxerga a amplitude estas politicas, que se propdem a transformar 0 modelo de relagées raciais ‘encontrado na sociedade brasileira por meio da desnaturalizagio das desigual- dades raciais. ‘Mesto que o debate esteja diariamente na midia, ainda se faz uma con- fiasdo conceicual em torno de agées afirmativas ¢ caras. O primeiro con se tefete a medidas especiais temporiias, com 0 objetivo de eliminar desi- lades histéricas acumuladas e compensar pelas perdas provocadas pela io e marginalizagao, garantindo a efetiva igualdade de oportuni- «lade e tratamento (GTI/Populacdo Negra, 1996, p. 10). ssas medidas espe- ciais podem se conctetizar em diversos tipos de politicas, como: politicas de cotas, politicas de preteréncia, politicas de permanéncia. A politica de cotas «stipula um percentual de vagas que deverd ser preenchido por membros de ‘grupos marginalizados para reverter desvantagens historicas resultantes de pro- cessos diseriminatérios. As atuais propostas de agio afirmativa para as univer- sidlades brasileira tém optado por esta forma, A politica de preferéncia, como nome diz, procura dar preferéncia a candidatos oriundos de grupos social- mente marginalizados. Ao passo que as cotas estipulam tum percentual a ser preenchido, as politicas de preferéncia legislam que, no caso de candidatos com competéncia semelhante ~ verificada por intimeros meios —, sera dada prioridade para contratacéo daquele oriundlo de um grupo socialmence mar- alizado. As politicas de permanéncia provéem a manutengio de pessoas 's de grupos marginalizados em espacos que historicamente clas nao n tido acesso. O ideal é combinar 2 politica de coras com esta iilima Assim, que nao restem duividas, as ages afirmativas si0 nogées mais aunpls ws no principio da eqitidade, ao passo que as cotas, as poltticas de pre~ ia ¢ de permanéncia sio formas de operacionalizacio deste principio. n Joes Benxaninso ‘utto aspecto que merece ser antecipado diz respeito & niio-incompati- bilidade entre politicas de combate & pobreza ¢ 2s agbes afirmativas. Adotar ‘uma das duas no significa negar a necessidade da outra. Alids, recomenda-se que esses dois tipos de politicas sejam combinados. Nesse sentido, quando recomendamos politicas de agéo afirmativa no ensino superior, esperamos {que sejam desenvolvidas politicas de melhoria de todo o sistema de ensino, pollticas de satide, de saneamento bésico, politicas de habitagio etc. Nao ne~ gamos a repercussio positiva que politicas de redistribuigao de renda teriam para toda a populagao brasileira, em especial para os brasleiros negros, No debate em curso na sociedade brasileira, recorrentes questbes contré- rias As agGes afirmativas sio colocadas. Entre os posicionamentos mais fieqiientes contra as agées afirmativas, selecionamos cinco que procuratemos responder. Sao cles: “somos todos mestigos, nao temos negros no Brasil”; “quem so os negros?”; “o problema nio é a raga, mas a classe social”; “as agées afir- mativas comprometem a qualidade das universidades brasileiras’s “as agées afirmativas teforcam 0 preconceito ¢ a discriminagio contra negros”. “Somos Toclos Mestigos, nao Temos Negros no Brasil” Constantemente no debate sobre agdes afirmativas, argumenca-se que nio existe um problema racial no pais € que, por essa razao, niu faz sentido falar de politicas especificas para nenhum grupo racial. Isto se deve & difussio do mito da democracia racial, que criou um imaginrio coletivo que concebe todos brasileiros como mestigos. Nesse sentido, se todos so mestigos, nao cabe falasmos nem em negros nem em brances. ‘Ainda como extensio desse raciocinio, argumenta-se que © problema racial é uma importagio de um problema tipico da sociedade norte-america- na. Portanto, segundo os defensores da singularidade da democracia racial brasileira, o reconhecimento do racismo equivale a desafiar as bases da nossa nacionalidade. Logo, aqueles que luram pela implementagio de politicas de agdo afirmativa para negros sio acusados de imitadores de idéias estrangeiras ¢ de racistas. A maneita brasilcira de resolver 0 problema racial ‘eriminaliza’ aqueles que nomeiam a raga, mesmo que ess nomeasio seja para o desenvol- ‘vimento de politicas piblicas, com o fim dle rrverrer 28 conseqyiéncias negativas de anos de racismo nao-nomeado. Ou ainda, quando se admite que alguém praticou algum ato racista, argumenta-se que 0 tal ‘criminoso’ é mal educado 72 © Draare Sone Aes Armutrt4s Pans NiGios A SOCIEDADE Bast. © desconhecedor das tegras de boa maneira vigentes na nossa sociedade. Por- tanto, 0 problema ¢ individualizado, nao se constieuindo num problema da sociedade brasileira, mas num problema de algada individual. ‘Vejamos alguns dados. A populacao negra brasileira, para cfeico de estu- «los socioeconémicos, ¢ formada pela fusdo daqueles brailciros autoclassificados como pretos e pardos, segundo metodologia do IBGE. Desse modo, segundo oviltimo censo, 45,3% dos brasileiros sio negros (39,9% de pardos e 5,4% de pretos) © 54% bran. Todavia, a pobreza tende a ser negra, ao passo que a riqueza tende a ser brranca. Logo, no cabe falarmos em democracia racial ow em mestigagem no plano da fruigio do bem-estar. Vejamos alguns indicadores: + Dos 50,1 milhées de pobres brasileiros, 63% dleles so negros, ao passo que apenas 35,8% sio brancos. * Dos 50,1 milhiées de pobres, 21 mithoes sio clasificados como indigentes. Destes, 67,6% sao negros e 31% sio brancos. *+ Entre 0s 10% de brasileiros mais ricos, os negros representam 15%, a0 pas- 80 que os brancos 85%, sendo que este contingente branco se apropria de 41% da renda total do Brasil. Entre os 10% mais pobres da populagio, os negros sso 70% deste contin- gente, a0 passo que os brancos correspondem aos 30% restantes (Henriques, 2001). (Os dados relativos & educagao também apontam para essa diresio: * A taxa de analfabetismo, embora tenha diminuido nos diltimos anos, revela uma nitida separagao entre negrose brancos na sociedade brasileira. Enerea populagio com mais de 15 anos, hé 7.7% de brancos analfabevos € 18,2% de negros analfabetos 1e as pessoas de 25 anos ou mais com 0 curso stipetior completo, 10,2% da populagao branca detém este titulo, enquanto apenas 2,54% dos negros ppossuiem um curso superior * Dos atuais universitrios brasileitos, 97% so brancos ¢ apenas 2% sfo ne- sgros (Henriques, 2001). En n, todos indicadores sociaisrelativos a0 acesso ao bem-estar apon- wo sentido de que hi uma forte disting2o entre os erupos raciais no Brasil. Logo, a suposta mistura defendida pelo mito da democtacia racial no se ‘materializa numa equanime distribuigio da pobreza ¢ da riqueza, da taxa de inalfabetismo ¢ do acesso 2 universidade, como jé mostramos, Jove Beans B Em defesa do mico da democracia racial, muitos argumentam que possu- em algum contato inter-racial ¢ que, portanto, nio faz sentido falarmos em distinggo racial. De faro, essa é uma realidade comum aqueles brasileiros per- tencentes aos estratos baixos da nossa sociedade. Porém, 2 supasta mistura racial ‘Go tem correspondente quando examinamos dados pertinentes aos estratos médio ealto da nossa sociedade. Nesses estratos, poucos sao 0s brasileiros bran- cos que possuem uma relagio de igualdade com brasileiros negros, uma ver que estes esto praticamente ausentes. Neste iltimo caso, observa-se mais a relagio inter-racial entre pessoas pertencentes a estratos diferentes. Em ou- tras palavras, quando esté em pauta 0 contato inter-racial de brasileios brancos pertencentes aos estratos médio ¢ alto, tém-se muito mais a conti- nuidade das relagfes entre “casa-grande ¢ senzala”, mantendo-se estaveis as relagbes assimétricas. Se no plano do i {quando verificamos os indicadores sociais, percebemos que a sociedade brasi- leira possui fortes ‘linhas de cor’. inirio social hd uma indistingao racial no Brasil, “Quem Sao os Negros?” Bastante préximo 20 questionamento anterior, pergunta-se quem so os negros na sociedade brasileira. Esta € uma pergunta interessante, puis, uo momento em que éfeita, jf traza resposta: nao hé negros na sociedade brasi- leita! Nesse sentido, os argumentos anteriores sio reiterados: a mestigagem, diluin as disting6es raciais. Advogam também a impossibilidade de qualquer politica ptiblica em beneficio da populagio negra em funcio dos oportunistas de tiltima hora. Primeizamente, como resposta a essa pergunta, é imporcante mencionar que todo sistema social possui um sistema de classificagéo préprio. Logo, as particularidades do sistema de classificagao racial brasileiro terao que ser en- tendidas dentro do sistema social brasileiro. Esta é uma observacio importante para percebermas que o preconceito eo racismo que se estrutucaras dade brasileira somente podem ser entendidas com base no histérico desta sociedade. Hem 1954, Oracy Nogueira, a par da preocupacio de entender singu- laridade das relacies raciais no Brasil, construiu um quadro de referéncia comparativo entre Brasil e Estados Unidos, com base em dois tipos ideais* 74 (© Daasre Sonus Agnes Armas Pana NEOROS i SatEDADE Bus preconceito racial de marca e preconceito racial de origem. Para Nogueira — assim como pata nés ~ ndo se trata de dizer que nfo exista preconceito racial rho Brasil ante a sociedade norte americana, seno que este se manifesta dife- rentemente nas duas sociedades. A forma peculiar do preconceito racial no Brasil se aproxima mais do preconceito racial de marca, exercendo-se em ‘lagi & aparéncia do individuo; ao passo que nos Estados Unidos — consta- a Nogueira na década de 1950 — 0 preconceito racial onde a ser de otigem exercendo-se com base na ascendéncia da individuo. Isto ndo significa que a maneira de funcionamento do preconceito racial no Brasil nfo leve em conta caracteristicas tipicas do preconceito racial de origem nem que o preconccito racial nos Estados Unidos nao leve em consideragao elementos do preconcei- to racial de marca; senio que as relagdes raciais nos dois pafses propendem mais para um dos tipos de preconceit Scguindo a linha de argumentacio de Oracy Nogueira, constatamos que © que é importante para explicar 0 pertencimento racial da pessoa e, conse- qiientemente, 0 que é relevante para definir se cla pertenceré a0 grupo discriminador ou discriminado nao é a origem dela, mas a aparencia. Essa percepsio é fundamental para desautorizarmos o argumento constantemente expresso nesses ‘tempos de acies afitmativas’ de pessoas inquestionavelmente bbrancas, que jamais foram tratadas como negras em razio de sua aparéncia caucdsica, que se dizem negeas por possuir um tataravé ou tataravé negros. Ve Faro, a pessoa pode cer este ancepassado negro, mas iss0 nao significa que, no sistema social de classificagio brasileiro, pessoas loiras sejam tratadas como hnegras ou sejam vitimas de preconceito racial. Essas sio experigncias exclusi- vas daqueles brasileiros idencificados socialmente como negros (Os operadores do preconceito ¢ do racismo — pais de familia, professo- tes, porteiros, policiais, empregadores — nfo perguntam se aquele que seri vitima do preconceito ¢ filho, neto ou bisneto de negros; porém, praticam a dliscriminagio com base na aparéncia da pessoa. Portanto, vigora no nosso sistema social uma classificagio social que identifica 0 negro como aquele individuo que, em decotréncia dos seus tragos morfolégicos — cor da pele, tipo de eabelo e natiz ~ se distancia dos padtoes estéricos curopeus. Concor- dando com Jacques D'adesky (2001, p. 34), podemos definir como negro: todo individuo de origem ou ascendléncia ufiicana suscetivel de ser dis- criminado por nfo corresponder, roral ou parcialmente, aos cinones Josze Beano 75 estéticos ocidentais, ¢ cuja projegio de uma imagem inferior ou depreci- ada representa uma negacéo de reconhecimento igualitério, bem como a denegacio de valor de uma identidade de grupo e de uma heranca cultu- ral e uma heranga histérica que geram a exclusio ¢ a opressio. Outra linha de argumentagio para apresentar dificuldades & implementagio de politicas de acao afirmativa no Brasil éa que defende que sistema classificatsrio brasileiro é constituido de indimeras eategorias classi- ficatérias. Em geral, essa argumentacao € acompanhada de dados parciais da pesquisa realizada em 1976 pelo IBGE, quando os pesquisadores se depara- ram com 135 classificagdes raciais. Porém, esquece-se de divulgar que naquela pesquisa 97% das pessoas se concentraram nas atuais caregorias censivérias brasileitas (branco, preto, pardo, amarela) adicionadas de mais trés: claro, ‘moreno € moreno claro (Silva, 1996). Em verdade, a PNAD de 1976, quando lida corretamente, sinaliza para a positividade das atuais categorias do IBGE tanto para a realizagao de pesquisas quanto para a implementagio de politicas piiblicas racialmente orientadas. ‘Mlém disso, no que diz respeito a ser alvo das discriminagies raciais, os estudos de mobilidade social tém indicado que aqueles brasileiros identifica- dos como precos e pardos, segundo as categorias censititias do IBGE, rém softido igualmente o ‘peso’ da raca. Nesse sentido, tem-se oprado por identi- ficar como negros ~ para efeito de estudos e de politicas piblicas ~ todos aqucles brasileiros identificados pelo IBGE como pretos ¢ pardos. Social” “O Problema Nao é a Raga, Mas a Class Este é um argumento constantemente levantado pelos setores progres- sistas da sociedade brasileira, que se limitam a reconhecer que fonte de todos ‘os males sociais reside no imenso abismo que separa pobres e ricos no Brasil Conseqiientemente, defendem a adogio de politicas puiblicas classistas volta- das a0 combate da pobreza, sem levar em consideragao a raca. IE verdade que parte das mazelas sociais brasileiras ¢ explicada pela nossa {qua desigualdade social, Porém, qualquer explicagio da nossa realidade social bascada somente num determinism classista serd uma explicagio parcial des- realidade, assim como serao insuficientes quaisquer politicas publicas recomendadas por esta percepeio unilateral da realidade. Diversas pesquisas e % (© Daanre Sonne Agus Armous Pang Ntcies ha Socstonne Bassa cestudos tém demonstrado que a raga também tem um peso significativo na explicacio das desigualdades do nosso pais, assim como tém apontado para a necessidade de politicas racialmente orientadas. Ainda como parte do argumento que defende que “o problema néo éa aca, mas a classe social”, procura-se explicar a desigualdade entre negros e brancos como um produto da entrada diferenciada cesses dois estoques da populasio no mercado de trabalho. Assim, formula-se o seguinte raciocinio: as pessoas negras si0 pobres porque s40 orinndas de farnlias que no passado também eram pobres. Esta é uma explicacio parcial da realidade. E claro que as desigualdades de classe slo explicativas, porém elas nao dao conta de toda a realidade. Esta argumentagio unicamente classista, no plano académico-universi- tirio, foi revista na década de 1970, quando Carlos Hasenbalg ¢ Nelson do Vale Silva, baseados em sofisticada metodologia estadstica, conttolando as varidveis de origem econdmica (satus de origem), escolatidade e raga, perce- beram que esta tiltima era um importante fator explicativo da mobilidade diferenciada de negros e brancos no Brasil. Desde entio, tais estudos tém sido repetidos, ¢ as conclusdes rém sido undnimes: a mobilidade de negros tem éncia do racismo vigente na socie~ sido menor do que a de brancos em decorré dade brasileira. para um mesmo estrato de origem social, pretos e pardos enfrentam res dificuldades em seu processo de mobilidade ascendente, e expastos a niveis maiotes de imobilidade. O resultado é um perfil de realizaso ocupacional mais modesto para estes grupos e quue s6 em ex tensio muito limitada pode ser atribuivel as diferenas de origem social Gilva, 2000, p. 49). Parte da dificuldade de entender © peso da raga na explicagio das desi- gualdades esté no fato de que as desigualdades raciais sé sio perceptiveis como desigualdades de classes, embora no sejam estas tiltimas as determinantes das primeiras (Guimaraes, 2002). Em outras palaveas, as desigualdades raciais se ‘materializam numa apropriagio diferenciada de recursos materiais e simbéli- cos entre brancos e negros. Todavia, o que se tem feito para demonstrat 0 peso cla raga é mostrar que o preconceito © a desigualdade petsistem uw intesior dt mesma classe. Assim, se o pertencimento de classe é o mesmo, se a escolarida- Jer Bessie 7 de © 0 status de origem também sio os mesmos, como podemos explicar 0 faro de pessoas brancas e negras terem mobilidade social diferenciada e rece- berem salérios diferentes? Aida nesta linha de argumentagio, é Fundamental comentarmos os da- dos amplamente divulgados por Ricardo Henriques sobre 0 mimero médio de estudos da populagio branca ¢ negra, iniciando com os nascidos em 1929 eterminando com os de 1974, estes tiltimos, portanto, com 25 anos de idade quando a pesquisa foi realizada (PNAD de 1999}. Os dados demonstram expansio do nosso sistema de ensino em virtude das politicas universalistas que resultaram naturalmente deste perfodo de industrializagao ¢ de desenvol- vimento urbano. Porém, quando se observa 0 acesso de negros ¢ brancos, percebe-se que, em 1999—ano em que os jovens nascidos em 1974 tinham 25, anos ~, a média de escolaridade de um jovem branco era de 8,4 anos de estu- do, ao passo que a média de escolaridade de um jovem negro de mesma idade era de 6,1 anos; uma diferenca de 2,3 anos de estudo. O interessante vem a seguir “um jovem branco de 25 anos tem, em média, mais 2,3 anos de estudo que um jovem negro da mesma idade, e essa intensidade da discriminagio racial é 2 mesma vivida pelos pais desses jovens ~ a mesma observada entre seus avés” (Henriques, 2001, p. 27), portanto, a mesma verficada entre pes- soas brancas e negras nascidas em 1929, ‘A conclusio da pesquisa de Ricardo Henriques, sobretudo quando ob- servamos atentamente os dados jé mencionados, éde que a desigualdade racial tem se mantido estavel no perfodo mencionado e que, portanto, nao bastam politicas universalist para lidar com esta realidade. Constata-se a estabilidade das desigualdades raciais também no campo da disttibuicdo de renda, Telles (2003, p. 196-7) efetua uma andlise longitudi- nal, de 1960.2 1999, comparando a renda média mensal de homens e mulheres pardos € pretos com a de homens brancos, e chega aos seguintes resultados: A renda média de um homem preto, em 1960, era 60% dade um homem branco e chegou a 38% em 1976, mas voltou a subir, atingindo 45% em 1999. Da mesma forma, homens pardos ganhavam cerca de 57% da rer da dos homens brancos em 1960, percentual que caiu para 44% em 1976, com uma pequena ata para 46%, em 1999 [..] Em 1960, a renda médi dda mulher preta era cerca de 8% da dos homens brancos; em. 1976, aul= ‘mentou para 24%, [chegando] a 32% em 1996. A renda média de ene eee 78 (© Dssare Sonne Agoss Antmuxris Pad NECRCS NA SOCIEDADNBRASLR, mulheres pardas, em 1960, era de 12% da renda masculina branea ¢, a partir dai, comportou-se de modo semelhante & das mulheres pretas. Embora Telles trabalhe estes dados desagregando a categoria negro em pretos ¢ pardos e por género, observam-se uma proximidade entre pretos © pardos (0 que nos permite agrupé-los na categoria negro) e uma disparidade bem maior em relagao aos brancos. ‘Quando analisada a renda média mensal dos grupos raciais, a conchusto ‘a que chegamos é semelhante aos resultados que obtemos ao analisar 0s dados sobre a educagio, a saber, mesmo em perfodos de crescimento econémico, as desigualdades entre brancos e negros tém aumentado ou, na melhor hipstese, tém ‘mantido estiveis. claro que a fase de desenvolvimento econdmico ¢ © processo de ur- banizagio permitiram que a populacdo negra efetuasse uma mobilidade ascendente de curta distancia, isto 6, saisse de ocupages manuiais rurais de baixa qualificacio para ocupacées manuais urbanas de baixa qualificagio ou semiqualificadas. Ademais, neste mesmo perfodo, constara-se uma redugio das caxas de analfabetismo para negros e brancos. B importante assinalar {que este processo nfo ocorre de maneira democritica, mesmo entre os estra- 8, Por outro lado, este periodo de crescimento econdmico ¢ de tos urbanizagio tem efetuado poucas madificagies no quie din respeita 4 com- posigio racial das ocupagées mais prestigiosas. & baixissimo o niimero de negros que tém tido acesso ao ensino superior, entendido como porta por cexceléncia a0s cargos de prestigio social, econdmico e politico da sociedade. Em 1960, o percentual da populagao branca entre 25 ¢ 64 anos que tinha completado a universidade era de 1,4%; em 1999, este indice tinha crescido para aproximadamente 11%, Estes mesmos percentuais para a populagio negra so: 0,1% em 1960 e 2,6% em 1999 (Telles, 2003), Em suma, estes poucos dados que apresentamos sio suficientes para reconhecermos que 0 processo de induustrializacao traz beneficios econdmicos para toda a popula- sao brasileira, porém esses beneicios sio apropriados de maneira diferenciada em favor da populagio branca, 0 que fica bastante nitido quando observa- mos as ocupagées de maior prestigio. Ademais, vale a pena ressaltar que cssas oportunidades sio aproveitadas desproporcionalmente a favor da po- pulagio branca nfo porque cla cenha enerado mais bem preparada no processo competitive, mas porque ainda incidem © preconceito e 2 discriminacio Joe Bewsanne a) racial contra a populagéo negra, conforme tém demonstrado os ttabalhos de Hasenbalg (1979) e Silva (2000). Diante da constatagio do peso negativo desempenhado pela raga no que diz "espeito &s oportunidades de fruigéo da vida por parte da populagio negra ¢ ante ‘constativel insufickéncia de politicas universalist para aplacar as desigualdales decunho racial, percebe-sea necessidade de politicas sensives cor, voltadas espe cialmente paraa populacao negra. Nao se trata de negat a importincia das politicas ‘unsivensilisias ke combare a desigualdade estrutural trata-se tao-somentede concii las com as politicas particulatistas que de fico podem minimizat as desiguaklades perccbidas no topo da pirimide social brasileira, num curto espago de tempo, Para tanto, é fundamental uma maior sensibilidade das universiades pui blicasa fim de adotarem politicas de agao afirmativa, uma vez que essasinstituigbes sio responsiveis pela formagao de parte significativa daqueles que ocupaido os cargos de prestigio da nossa sociedade. “As AgGes Afirmativas Comprometem a Qualidade do Ensino na Universidade” ‘Alega-se que a entrada de alunos negeos nas universidades brasileiras por intermédio das ages afirmativas compromecers a sua qualidade, uma vez que alunos despreparados passariam a ser aprovados no vestibular ¢ haveria uma queda no nivel de exigéncia dos prafessores em relagio a estes alunos, Esse é 0 que consideramos 0 argumento mais falacioso e mal informado de todos os que estamos mencionando, em virtude do preconceito ¢ do deseo: nhecimento de como funciona o mecanismo de agio afirmativa. xistem uma vasta experiéncia internacional sobre os mecanismos d ado afirmativa e uma recente experiéncia nacional que nos petmitem defen der justamente contritio, Primciramente, é importante assinalar que aqueles alunos aptos a cur rom a universidade por um sistema de ages afirmativas sio aprovados ‘exame vestibular, ou seja, as agdes aficmativas se baseiam nos critérios do ves tabular, sendo aprovados aqueles que atingem a nora minima neste exame. Algo muito dbvio ¢ desconhecido que, portanto, explica porqu pessoas acreditam que a entrada de ‘alunos coristas’ diminuiria a exceléncia da universidade — precisa ser de dominio piblico. Em praticamente todos os vestibulares realizados, hé um contingente enorme de alunos aprovados, mas que nio € classificado em vircude da pouca oferta de vagas ante a demanda, 80 (© Drasrs Sones AgbES Anions Pues Neosos Na SOCTEDINE BUA. Poucas universidades dispdem de dados relativos ao mimero de estudan- tes aprovados nos seus concursos de admissio, segundo a cor. Porém, a Universidade Federal da Bahia (UFBA) e a Universidade Estadual da Babi (Uncb) passaram recentemente a coletar estas informagdese as disponibilizaram para o piiblico mais amplo. No vestibular de 2001 da UBA, 743 alunos negros oriundos de esco- las puiblicas ¢ 1.060 alunos negros oriundos de escolas particulares foram apiuvadus uv vestibular para 11 cursos definidos como de alto prestigio’, porém apenas 167 alunos negros de escola publica e 258 estudantes ne- gros de escola particular foram classificados naquela instituigio, ou seja, 1.378 estudantes foram aprovados para cursos definidos socialmente como de alto prestigio, porém nao foram classificados em fungio do mémero pouco suficience de vagas oferecidas por aquela instituigo diante da de- manda. A organizadora destes dados, a pesquisadora Delecle Queiroz (2004, p. 149) conclu Ora, essa nao é uma perda desprezivel, sobretudo em se tratando de um grupo com a historia de exclusdo que tem 0 negro no Brasil. Esses si0 estudantes que depois de ultrapassar todas as barreiras que o negro tem. aque vencet, até chegar as portas da universidade, e mesmo tendo preen- chido, plenamente, codos os requisitos académicos exigidos para sua aprovagio, foram impedidos de ser médicos, advogados, odontélogos, administradores, engenheitos, arquitetos, psicélogos. Na UNEB os dados sto sermelhantes. No primeito vestibular de 2003, 8.054 alunos negros que optaram pelo sistema de cotas’ foram aprovados no vestibulas, porém nao foram classficados (Mattos, 2004). Estes dados comprovam uma hipétese construida hi tempos: hé um iniimero enorme de estudantes negros que cumpre as exigencias académicas para ser médicos, advogados, engenhelros etc, porém no o sio em virtude das politicas puiblicas universalistas adoradas, e isto significa uma perda enor- me nao somente para a populagao negra brasileira, mas para todo o pais. ‘Outro argumento levantado contra as agbes afirmativas € o de que os alunos nio teriam o desempenho esperado. Aqui também os dados intemnacio- nals € nacionais revelam que este argumento nao tem fundamento. Vejamos os dados nacionais das duas experiéncias que jé conhecemos: UNEB ¢ UERI. Josze Bawoxro10 a + Na UNEB, 0s alunos cotistas de todos os cursos daquela universidade, no primeiro semestre de 2003, tiveram a média de desempenho igual a 7,7 pontos; ao passo que os nao-coristas tiveram o desempenho equivalente a 7,8 pontos (Mattos, 2004). + Na UERY, 0s alunos cotistas tiveram um indice de aprovagio nas disciplinas de 49%, a0 passo que os nao-cotistas tiveram um indice de aprovasio de 47% (Cotistas..., 2003). *+ Ainda na UERJ, 0: cotistas tivcram uma taxa de evasio de 54%, uo pusso que para os demais estudantes o indice de evasio foi de 9% (Cotistas.... 2003), Como podemos ver, os dados que dispomos em relagio as primeitas avaliagSes das experiéncias de agbes afirmativas néo indicam que hi um con promecimento da qualidade das universidades. Ao contrétio, os alunos negros que entram na universidade em vircude das coras so antes de cudo alunos preparados para estarem nesse espace e, akém disso, como nos permitem pei sar os dados, sio alunos que se agarram a uma das poucas chances de ascei social que encontram, tendo um desempenho académico além do espe “As AgGes Afirmativas Reforgam o Preconceito ¢ a Discriminacio” Por fim, um dos argumentos esborados constantemente contra as agives afirmativas € que elas acabariam reforcando o preconceito contra os seus beneficidrios justamente o contrario 0 que acontece, a saber, o combate ao pre- conceito € disctiminagéo por meio das agdes afirmativas. Essas politicas se constiruem numa demanda para que todo cidadao negro seja recone cido na sua condigéo de igualdade universal e, por isso, tenha acesso aos bens econdmicos, politicos e académicos da sociedade brasileira. Neste sentido é que se requer que a igualdade seja pensada no somente como uma igualdade abscraca, mas como uma igualdade substantiva, Em outras palavras, o objetivo é promover a incluso da populaczo negra em espagos rnos quais ela tem historicamente encontrado barreiras quase intranspo iveis, conforme podemos ver pelos indicadores sociais. Isso signi abertura de oportunidades . cas a pessoas que, sem as agSes afirmativas, talvez nao rompessem os limites impostos & sua ascensZo social. Apés entrar na universidade, estes alunos, beneficiados por uma politica de cotas, te~ ro que ter um desempenho suficiente para serem aprovados em todas as rrr ee 82 (© Dsnare Somes Aco Armaunras Pasa NiGaon Nt SocenAD BASRA disciplinas que cursarem, ficando de fora qualquer possibilidade de favo- ritismo por parte dos professores quanto a avaliagio de desempenho académico, Dito de outra maneira, 0s profissionais formados ~ beneficiados ‘ou ndo por uma politica de ago afirmativa ~, ao fim dos scus cursos, tere ‘que estar aptos para o exercicio profissional. Ao propormas as politicas de agGes afirmativas, no desconsideramos 0 mérito do candidato, mas pensa- ‘mos no métito de chegada e no métito de trajes6ria, como assinala o pesquisador Santos (2003, p. 114) faz-se necessétio saber de quem ¢ 0 mérito ou, se se quiser, quem tem ais mérito, Seto aqueles estudantes que tiveram todas as condicies normais para cursar os ensinos fundamental ¢ médio ¢ passaram no vestibular ou aqueles que, apesar das barreiras raciais e de outras adver- sidades em sua trajetdria, conseguiram concluir 0 ensino medio ¢ também estio aptos a cursar a universidade? Devemos considerar so- mente o mérito de chegada, aquele que se v2 ou se credita somente ‘no cctuzamento a linha de chegada’: na aprovagao do vestibular? Ou deve- mos considerar também o mérito de trajetéria, aquele que se computa durante a vida escolar dos escudances, que leva em consideragio as fa- cilidades e as dificuldades dos alunos para concluitem os seus estudos? s dados que mencionamos relativos # UERJ e UNEB nos detxam otimistas para responder a estas perguntas. A abertura de novas oportunidades aos alunos mediante as politicas de aio afirmativa significa também a criacao de papéis exemplares para a popu- lagio negra brasileira, que tem um efeito mimético positivo sobre a populagio negra. Nesse sentido, a poltica de agZo afirmativa atua no combate & cultura racista do branco em relacio ao negro, propiciando, em muitos casos, tn oportunidade tinica & populagio branca de conviver, cm espagos nio-subal- tetnos, numa condigio de igualdade com os negros, A popullagao branca — especialmente a pertencente classe média ~ pode, numa nova relagao dialégica de nao-subalternidade por parte da populagéo negra, efetuar uma revisdo dos seus preconceitos. Conseqiientemence, poder respeitar a populagio negra em sua particularidade, e esta, por suia vez, terd tuma oporminidade de absorver uma imagem postiva de si mesma no didlogo com seus interlocurores brancos. Jesce Bonanno 83 AAs ages afirmativas nao reafirmam as diferengas deletérias & populagio negra. Ao contrétio, constiruem-se em remédios capazes de desconstruit a hierarquia racial existente na sociedade brasileira, atsibuindo & raga nege como um construto social ~ um valor positivo. O argumento paternalista de que as agées afirmativas recrudesceriam os preconceitos contra a populasio negra soa como ume falsa piedade ¢ tende a retardar as transformasoes requeridas para a sociedade brasileira. Propor implemencar ages afirmativar podem ser 02 primeitos passos para uma mudang histérica na sociedade brasileira, mas para isso é preciso superar os argumentos defendidos desde o debate acerca da Aboligio, na dé cada de 1980 do século XIX, que dizia que o problema do negro no Brasil se resolveria numa questio de tempo. As ages afirmativas sio necessérias e ur ggentes para superamos a cultura racista existente na nossa sociedade. Ao propormos estas medidas, nao desconsideramos a necessidade de uma refor ‘ma profunda nas nossas universidades e uma reconstrugio do nosso pais. As ages afirmativas sio o primeiro passo, Todavia, jamais podem set peasadas como o ultime. Notas © siscoma de coms foi adotado simataneamente nas das universidades estaduais do Rio de Janiro, UERJ « UENE Concomitantemente, a Universidade Bstadual da Bahia (UNEB) também adorou cots. Porém, como todos nés ubservamos, desta trés niversidades cstaduais, somente o caso da UERY foi debatido veementemene na midis, ‘Ac seguintes universidades,além da UnB © da UERJ, jf adoraram agdesafimativas: Uni versidade Federal de Alagoas (UFAL), Universidade Federal da Bahia (UFBA), Univers Gade Federal do Parané (UFPR), Universidade Federal de Mato Grosso (UEMT), Universidade Federal de Sio Paulo (Uifesp/Escola Paulista de Medicina), Universidade Eseadul da Bahia (Une), Universidade Estadual do Maro Grosso do Sul (UEMS), Uni versidade Estadual do Noree Fluminense (UENP), Universidade de Campinas (Unicaap), Universidade Estadual de Goids (UG), Universidade Estadual de Londtina (UEL), Yi versidade Estadual de Mato Grasso (Unciat), Universidade Estadual de Minas Gerais (UEMG) e Universidade de Montes Clares (MG) (Unimonces) coralizando seis univers dadesfeeras dev estaduais reconceito racial de marea e preconceito racial de arigem sto tipes ideais. De acoro com a definigSo weberiana dests, iso, nas palaves do puSprio Oracy Nogueira sio“exageraghies [gieas, inferidas de casos concretos, sendo que wd o caso partieular propende para wnt ot 4 Pana Necaos 88 SOCHDADE Basti ‘outro dos dois polos ides’ um dos quais representa, aproximadamente, asituagio brasileira 0 outro, a norte-americana’ (Nogueira, 1985, p. 76) ‘Os cursos definidos come de alto prestigio os quai estes dados se referem sio: Medicina, Direito, Odontologia, Administragio, Ciéncia da Computagio, Engenharia Eltricn, ‘Psicologia, Engenharia Civil, Engenharia Mecinica, Arquiteuta e Engenharia Quimica 5 AUNEBaprovou o seu sistema de coras em julho de 2002, endo que o primiro vestibular {que incorporou esta modifcacao foi o do primeiro semestze de 2003, Referéncias BERNARDINO, J; GALDINO, D. (Org). Levande a nine a sria: agio afirmativa € universidade, Rio de Jancio: DP&A, 2004, (Caleso Policcas da Cor) DIADESKY, J. Pluralismo étnico ¢ multculsuraline: acismo ¢ ancicracismos n0 Brasil Rio dle Jancio: Pallas, 2001. FERNANDES, F. A interusfo do negro ma sociedade de class. Sto Paula: DominussEausp, 1965. V.1. HENRIQUES, R,Desigualdde racial no Bras: evolugi das condigoes ce vida na dca de 90. In: IPEA. Tato pert dcusde. BrslalRio de Janie: IPEA n, 807, 2001 GTIPOPULAGAO NEGRA. Brasilia, Minstévio da Jsciga/Secreta Cidadania, 1996 HASENBALG, C, Diteriminagio ¢ desigualdedes resis no Brasil. Rio de Janeiro: Graal Biblioteca de Ciéncias Sociais, 1979. GUIMARAES, A. S. A. Clase, mas ¢ demeeraca, Sio Paulo: Editora 34, 2002. MATTOS, W. R. de. Inclusto sociale igualdade racial no ensino superior baiano: uma «experiencia de aio afirmativa na Universidade do Eide da Bahia (Unt). In: BERNARDINO, J GALDINO, D. (Org). Levande a nace « série: agio afiemativa ¢ universidade. Rio de Janciro: DP&A, 2004, p. 189-217. (Colegio Politica da Cos) NOGUEIRA, ©. Timo preto quanto brance estudo de rlagies racisis. So Paulo: TA. Queiroz, 1985. QUEIROZ, D. M. O negeo, seu sexso 20 ensng superior ¢ as agbeeairmativas no Bra In BERNARDINO, Joaze; GALDINO, Danicla (Org). Lenwndo a nae a sro: ago afrmatva € luniversdade. Rio de Janeiro: DPA, 2004. p. 137-156, (Colegio Poltca ds Cor) SANTOS, S.A, doe. Asie afrmativn © mérita individual. In: SANTOS, Renato Emersons LOBATO, Fatima. (Ong). Ape afirmarinas politica publicas conea as desigualdades aca, Rio de Janciro: DP8A, 2003, p. 83-125. (Colegzo Poltcas da Co). dos Dicitos da Jer Beara 85 CCOTISTAS tém melhor desempento na UERJ, O Globo, 25 dez. 2003, SILVA, C. da (Ong). Arde afirmatinar em educarde:exporincins brasileira, Sto Palos Selo ‘Negro, 2003, SILVA, N. do V. Morenidade: modo de usar. Eundas Afr-Astéics, Ro de Jancio,n. 30, p 2. 79-96, 1996, SILVA, N. do V. Excenso enaturera das desigualdades rciais no Bras. [n: GUIMARAES, A. S.A; HUNTLEY, L. (Org). Tiaudo a mécsrc ensaios sobre o racisme no Brasil. Sie Paul Paz Terra, 2000, ‘TELLES, E. Racismo & busleina: uma nova perspectva sociolégiea. Rio de Jan Damaré, 2003. Relume

Você também pode gostar