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Porque a concretização de tal objectivo implica a b) «Cuidados paliativos» os cuidados activos, coor-
devida ponderação das soluções mais ajustadas à actual denados e globais, prestados por unidades e
realidade, foi, pela Resolução do Conselho de Ministros equipas específicas, em internamento ou no
n.o 84/2005, de 27 de Abril, criada, na dependência do domicílio, a doentes em situação de sofrimento
Ministério da Saúde, a Comissão para o Desenvolvi- decorrente de doença severa e ou incurável em
mento dos Cuidados de Saúde às Pessoas Idosas e às fase avançada e rapidamente progressiva, com
Pessoas em Situação de Dependência, com a incum- o principal objectivo de promover o seu bem-
bência de propor um modelo de intervenção em matéria -estar e qualidade de vida;
de cuidados continuados integrados destinados a pessoas c) «Acções paliativas» as medidas terapêuticas sem
em situação de dependência. intuito curativo que visam minorar, em inter-
Foram ouvidos, a título facultativo, a Ordem dos namento ou no domicílio, as repercussões nega-
Médicos, a Ordem dos Enfermeiros, a Federação Nacio- tivas da doença sobre o bem-estar global do
nal dos Médicos, a Federação Nacional de Sindicatos doente, nomeadamente em situação de doença
de Enfermeiros, o Sindicato Independente dos Médicos, irreversível ou crónica progressiva;
o Sindicato dos Fisioterapeutas Portugueses e a União d) «Continuidade dos cuidados» a sequenciali-
das Misericórdias Portuguesas. dade, no tempo e nos sistemas de saúde e de
Foram ouvidas a Comissão Nacional de Protecção segurança social, das intervenções integradas de
de Dados e a Associação Nacional de Municípios saúde e de apoio social;
Portugueses. e) «Integração de cuidados» a conjugação das
Assim: intervenções de saúde e de apoio social, assente
No desenvolvimento do regime jurídico estabelecido numa avaliação e planeamento de intervenção
pela Lei n.o 48/90, de 24 de Agosto, e nos termos das conjuntos;
alíneas a) e c) do n.o 1 do artigo 198.o da Constituição, f) «Multidisciplinaridade» a complementaridade
o Governo decreta o seguinte: de actuação entre diferentes especialidades
profissionais;
g) «Interdisciplinaridade» a definição e assunção
CAPÍTULO I de objectivos comuns, orientadores das actua-
Disposições gerais ções, entre os profissionais da equipa de pres-
tação de cuidados;
h) «Dependência» a situação em que se encontra
Artigo 1.o a pessoa que, por falta ou perda de autonomia
Objecto e âmbito de aplicação física, psíquica ou intelectual, resultante ou
agravada por doença crónica, demência orgâ-
1 — É criada, pelo presente decreto-lei, a Rede nica, sequelas pós-traumáticas, deficiência,
Nacional de Cuidados Continuados Integrados, no doença severa e ou incurável em fase avançada,
âmbito dos Ministérios da Saúde e do Trabalho e da ausência ou escassez de apoio familiar ou de
Solidariedade Social, adiante designada por Rede. outra natureza, não consegue, por si só, realizar
2 — O presente decreto-lei aplica-se às entidades as actividades da vida diária;
integradas na Rede.
i) «Funcionalidade» a capacidade que uma pessoa
Artigo 2.o possui, em cada momento, para realizar tarefas
Composição da Rede
de subsistência, para se relacionar com o meio
envolvente e para participar socialmente;
1 — A Rede é constituída por unidades e equipas j) «Doença crónica» a doença de curso prolon-
de cuidados continuados de saúde, e ou apoio social, gado, com evolução gradual dos sintomas e com
e de cuidados e acções paliativas, com origem nos ser- aspectos multidimensionais, potencialmente
viços comunitários de proximidade, abrangendo os hos- incapacitante, que afecta, de forma prolongada,
pitais, os centros de saúde, os serviços distritais e locais as funções psicológica, fisiológica ou anatómica,
da segurança social, a Rede Solidária e as autarquias com limitações acentuadas nas possibilidades de
locais. resposta a tratamento curativo, mas com even-
2 — A Rede organiza-se em dois níveis territoriais tual potencial de correcção ou compensação e
de operacionalização, regional e local. que se repercute de forma acentuadamente
negativa no contexto social da pessoa por ela
afectada;
Artigo 3.o l) «Processo individual de cuidados continuados»
Definições o conjunto de informação respeitante à pessoa
em situação de dependência que recebe cuida-
Para efeitos do presente decreto-lei, entende-se por: dos continuados integrados;
a) «Cuidados continuados integrados» o conjunto m) «Plano individual de intervenção» o conjunto
de intervenções sequenciais de saúde e ou de dos objectivos a atingir face às necessidades
apoio social, decorrente de avaliação conjunta, identificadas e das intervenções daí decorrentes,
centrado na recuperação global entendida como visando a recuperação global ou a manutenção,
o processo terapêutico e de apoio social, activo tanto nos aspectos clínicos como sociais;
e contínuo, que visa promover a autonomia n) «Serviço comunitário de proximidade» a estru-
melhorando a funcionalidade da pessoa em tura funcional criada através de parceria formal
situação de dependência, através da sua rea- entre instituições locais de saúde, de segurança
bilitação, readaptação e reinserção familiar e social e outras comunitárias para colaboração
social; na prestação de cuidados continuados integra-
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dos, constituído pelas unidades de saúde fami- Nacional de Cuidados Paliativos, do Plano Nacional de
liar, ou, enquanto estas não existirem, pelo pró- Saúde.
prio centro de saúde, pelos serviços locais de
segurança social, pelas autarquias locais e por CAPÍTULO II
outros serviços públicos, sociais e privados de
apoio comunitário que a ele queiram aderir; Princípios e direitos
o) «Domicílio» a residência particular, o estabe-
lecimento ou a instituição onde habitualmente Artigo 6.o
reside a pessoa em situação de dependência. Princípios
de apoio social e assenta nas seguintes bases de c) Promover formação específica e permanente
funcionamento: dos diversos profissionais envolvidos na pres-
tação dos cuidados continuados integrados;
a) Intercepção com os diferentes níveis de cuida-
d) Promover a celebração de contratos para imple-
dos do sistema de saúde e articulação prioritária
mentação e funcionamento das unidades e equi-
com os diversos serviços e equipamentos do sis-
pas que se propõem integrar a Rede;
tema de segurança social;
b) Articulação em rede garantindo a flexibilidade e) Acompanhar, avaliar e realizar o controlo de
e sequencialidade na utilização das unidades e resultados da execução dos contratos para a
equipas de cuidados; prestação de cuidados continuados, verificando
c) Coordenação entre os diferentes sectores e a conformidade das actividades prosseguidas
recursos locais; com as autorizadas no alvará de licenciamento
d) Organização mediante modelos de gestão que e em acordos de cooperação;
garantam uma prestação de cuidados efectivos, f) Promover a avaliação da qualidade do funcio-
eficazes e oportunos visando a satisfação das namento, dos processos e dos resultados das
pessoas e que favoreçam a optimização dos unidades e equipas e propor as medidas cor-
recursos locais; rectivas consideradas convenientes para o bom
e) Intervenção baseada no plano individual de cui- funcionamento das mesmas;
dados e no cumprimento de objectivos. g) Garantir a articulação com e entre os grupos
coordenadores locais;
h) Alimentar o sistema de informação que suporta
Artigo 9.o a gestão da Rede;
Coordenação da Rede i) Promover a divulgação da informação adequada
à população sobre a natureza, número e loca-
1 — A coordenação da Rede processa-se a nível lização das unidades e equipas da Rede.
nacional, sem prejuízo da coordenação operativa, regio-
nal e local.
2 — A coordenação da Rede a nível nacional é defi- Artigo 11.o
nida, em termos de constituição e competências, por Competências a nível local
despacho conjunto dos Ministros do Trabalho e da Soli-
dariedade Social e da Saúde. A(s) equipa(s) coordenadora(s) local(ais) articula(m)
3 — A coordenação da Rede a nível regional é asse- com a coordenação a nível regional, assegura(m) o
gurada por cinco equipas constituídas, respectivamente, acompanhamento e a avaliação da Rede a nível local,
por representantes de cada administração regional de bem como a articulação e coordenação dos recursos
saúde e dos centros distritais de segurança social, nos e actividades, no seu âmbito de referência, competin-
termos a definir por despacho conjunto dos Ministros do-lhes, designadamente:
do Trabalho e da Solidariedade Social e da Saúde. a) Identificar as necessidades e propor à coorde-
4 — A coordenação da Rede aos níveis nacional e nação regional acções para a cobertura das
regional deve promover a articulação com os parceiros mesmas;
que integram a Rede, bem como com outras entidades b) Consolidar os planos orçamentados de acção
que considerem pertinentes para o exercício das suas anuais, elaborar os respectivos relatórios de exe-
competências. cução e submetê-los à coordenação regional;
5 — A coordenação da Rede a nível local é assegurada c) Divulgar informação actualizada à população
por uma ou mais equipas, em princípio de âmbito con- sobre a natureza, número e localização das uni-
celhio, podendo, designadamente nos concelhos de Lis- dades e equipas da Rede;
boa, Porto e Coimbra, coincidir com uma freguesia ou d) Apoiar e acompanhar o cumprimento dos con-
agrupamento de freguesias. tratos e a utilização dos recursos das unidades
6 — As equipas coordenadoras locais são constituídas
e equipas da Rede;
por representantes da administração regional de saúde
e) Promover o estabelecimento de parcerias para
e da segurança social, devendo integrar, no mínimo,
a prestação de cuidados continuados no respec-
um médico, um enfermeiro, um assistente social e, facul-
tivo serviço comunitário de proximidade;
tativamente, um representante da autarquia local.
f) Promover o processo de admissão ou readmis-
são nas unidades e equipas da Rede;
Artigo 10.o g) Alimentar o sistema de informação que suporta
Competências a nível regional a gestão da Rede.
As equipas coordenadoras regionais articulam com
a coordenação aos níveis nacional e local e asseguram CAPÍTULO IV
o planeamento, a gestão, o controlo e a avaliação da
Rede, competindo-lhes, designadamente: Tipologia da Rede
a) Elaborar proposta de planeamento das respos- Artigo 12.o
tas necessárias e propor a nível central os planos
de acção anuais para o desenvolvimento da Tipos de serviços
Rede e a sua adequação periódica às neces- 1 — A prestação de cuidados continuados integrados
sidades;
é assegurada por:
b) Orientar e consolidar os planos orçamentados
de acção anuais e respectivos relatórios de exe- a) Unidades de internamento;
cução e submetê-los à coordenação nacional; b) Unidades de ambulatório;
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Artigo 34.o
Artigo 32.o Organização
Ingresso na Rede 1 — As unidades da Rede são criadas por despacho
conjunto dos Ministros do Trabalho e da Solidariedade
1 — O ingresso na Rede é efectuado através de pro- Social e da Saúde, mediante proposta da coordenação
posta das equipas prestadoras de cuidados continuados nacional da Rede, a partir da adaptação ou reconversão
integrados ou das equipas de gestão de altas, na decor- de estruturas já existentes, ou a criar, e vocacionadas
rência de diagnóstico da situação de dependência. para dar resposta exclusiva a situações específicas de
2 — A admissão nas unidades de convalescença e nas dependência.
unidades de média duração e reabilitação é solicitada, 2 — As unidades e equipas da Rede devem articular
preferencialmente, pela equipa de gestão de altas na com as unidades de tratamento da dor criadas segundo
decorrência de diagnóstico da situação de dependência as normas do Programa Nacional de Luta contra a Dor,
elaborado pela equipa que preparou a alta hospitalar. do Plano Nacional de Saúde.
3 — A admissão nas unidades de média duração e 3 — Em função das necessidades, e com vista à racio-
reabilitação é, ainda, determinada pela equipa coorde- nalização e coordenação dos recursos locais, as unidades
nadora local. da Rede podem ser organizadas e combinadas de forma
4 — A admissão nas unidades de longa duração e mista, desde que assegurem os espaços, equipamentos
manutenção e nas unidades de dia e de promoção da e outros recursos específicos de cada resposta, sem pre-
autonomia é determinada pela equipa coordenadora juízo da eficaz e eficiente prestação continuada e inte-
local, na decorrência de diagnóstico de situação de grada de cuidados.
dependência por elas efectuado. 4 — As unidades da Rede, segundo as características
5 — A admissão nas unidades de cuidados paliativos e o volume de necessidades, podem diferenciar-se de
e nas equipas intra-hospitalares de suporte em cuidados acordo com diferentes patologias e organizar-se inter-
paliativos é determinada por proposta médica. namente segundo os graus de dependência das pessoas.
6 — A admissão nas unidades de internamento
depende, ainda, da impossibilidade de prestação de cui- Artigo 35.o
dados no domicílio e da não justificação de internamento
em hospital de agudos. Instrumentos de utilização comum
7 — A admissão nas equipas de suporte em cuidados 1 — A gestão da Rede assenta num sistema de infor-
paliativos é feita sob proposta, preferencialmente, das mação a criar por diploma próprio.
equipas prestadoras de cuidados continuados integrados 2 — É obrigatória a existência, em cada unidade ou
dos centros de saúde de abrangência ou das equipas serviço, de um processo individual de cuidados conti-
de gestão de altas dos hospitais de referência da zona. nuados da pessoa em situação de dependência, do qual
8 — A admissão nas equipas prestadoras de cuidados deve constar:
continuados integrados é feita sob proposta dos médicos
do centro de saúde correspondente ou das equipas de a) O registo de admissão;
gestão de altas dos hospitais de referência da zona. b) As informações de alta;
9 — Quando se preveja a necessidade de cuidados c) O diagnóstico das necessidades da pessoa em
de apoio social, a proposta é determinada pelo respon- situação de dependência;
sável social da equipa de coordenação local da referida d) O plano individual de intervenção;
área. e) O registo de avaliação semanal e eventual afe-
rição do plano individual de intervenção.
Artigo 33.o
3 — O diagnóstico da situação de dependência cons-
Mobilidade na Rede titui o suporte da definição dos planos individuais de
intervenção, obedecendo a um instrumento único de
1 — Esgotado o prazo de internamento fixado e não avaliação da dependência, a definir por despacho con-
atingidos os objectivos terapêuticos, deve o responsável junto dos Ministros do Trabalho e da Solidariedade
da unidade ou equipa da Rede preparar a alta, tendo Social e da Saúde, de aplicação obrigatória nas unidades
em vista o ingresso da pessoa na unidade ou equipa de média duração e reabilitação, nas unidades de longa
da Rede mais adequada, com vista a atingir a melhoria duração e manutenção e nas unidades de dia e de pro-
ou recuperação clínica, ganhos visíveis na autonomia moção da autonomia.
ou bem-estar e na qualidade da vida. 4 — Os instrumentos de utilização comum devem per-
2 — A preparação da alta, a que se refere o número mitir a gestão uniforme dos diferentes níveis de coor-
anterior, deve ser iniciada com uma antecedência sufi- denação da Rede.
ciente que permita a elaboração de informação clínica
e social, que habilite a elaboração do plano individual Artigo 36.o
de cuidados, bem como a sequencialidade da prestação Entidades promotoras e gestoras
de cuidados, aquando do ingresso noutra unidade ou
equipa da Rede. 1 — As entidades promotoras e gestoras das unidades
3 — A preparação da alta obriga que seja dado conhe- e equipas da Rede revestem uma das seguintes formas:
cimento aos familiares, à instituição de origem e ao a) Entidades públicas dotadas de autonomia admi-
médico assistente da pessoa em situação de depen- nistrativa e financeira, com ou sem autonomia
dência. patrimonial;
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2 — Em caso de encerramento de uma unidade ou apoio social dos orçamentos dos respectivos organismos
fim de actividade de uma equipa, devem as adminis- do Ministério do Trabalho e da Solidariedade Social.
trações regionais de saúde e os centros distritais de segu- 4 — A utilização das unidades de internamento de
rança social promover a afixação de aviso, na porta prin- média duração e reabilitação e longa duração e manu-
cipal de acesso à unidade ou à sede da equipa, que tenção e das unidades de dia e de promoção da auto-
se mantém durante 30 dias, indicando a unidade ou nomia e equipas de cuidados continuados da Rede é
equipa substitutiva. comparticipada pela pessoa em situação de dependência
Artigo 45.o em função do seu rendimento ou do seu agregado
familiar.
Adaptação dos estabelecimentos e serviços existentes