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Sumário
Sumário.....................................................................................................................................................................2
Ainda Existe Alguém Fiel?.......................................................................................................................................3
Romance na Cumeeira..............................................................................................................................................8
Por Que os Cônjuges Se Traem?.............................................................................................................................13
Mitos e Lendas Acerca do Casamento....................................................................................................................25
Não Me Induzas á Tentação....................................................................................................................................31
Aconteceu - e Agora?..............................................................................................................................................39
Desfazendo o Triângulo..........................................................................................................................................47
Anatomia de um "Caso" - e Depois!.......................................................................................................................58
Torne Seu Casamento Invulnerável a "Casos"........................................................................................................69
CAPÍTULO 1
Ainda Existe Alguém Fiel?
O que outrora era chamado de adultério e escondido como estigma de culpa e embaraço,
agora é um "caso" — uma palavra que soa bem, convidativa, envolta em mistério, fascínio e emoção.
POR QUE você não terminou a história?" — perguntou ele, apertando minha mão, ao despedir-
se, depois da sessão da manhã da conferência para homens. Eu havia contado a história de um homem
cuja infidelidade havia arruinado o seu casamento, causado um divórcio em outra família e deixado
cicatrizes indeléveis na alma de seus filhos.
"O que você quer dizer?" — perguntei.
"Petersen, tal história não termina costumeiramente em tragédia e frustração; muitas vezes é
através de um 'caso' extraconjugal que uma pessoa encontra o verdadeiro amor e felicidade e alegria
pela primeira vez. Podemos almoçar juntos?"
No carro, indo para o restaurante, fiquei sabendo que esse homem franco, de meia-idade, era um
pastor que dirigia três pequenas igrejas naquela região. Embora casado com uma bela e talentosa
mulher (em sua própria descrição), ele estava profundamente envolvido com uma jovem pianista de
uma de suas igrejas.
"Minha esposa é uma boa mulher, mas quando me casei com ela foi apenas uma decisão
intelectual, e não sabíamos o que era amor. O nosso casamento é sólido, mas não muito emocionante,
e os nossos três filhos adolescentes estão indo bem."
"Fale-me a respeito da pianista."
"Eu comecei a atender chamados pastorais na casa dela quando os filhos estavam na escola e o
marido trabalhando. Descobri que tínhamos afinidade em muitos sentidos, e que havia nela uma
vivacidade que minha esposa não possui. Gostei da maneira como eu agia e me sentia quando estava
com ela. A primeira vez que 'fizemos amor' foi algo do outro mundo."
Com nervosa excitação em sua voz, ele continuou: "Ela é tão desinibida e satisfaz todas as
fantasias sexuais que já tive. Eu nunca havia me divertido muito em minha vida; nunca havia me
sentido jovem, romântico ou 'sexy'. Pela primeira vez descobri o que é o verdadeiro amor. Temos o
direito de ser felizes, não é? Qualquer coisa que seja boa assim tem que estar correta. Eu preferiria ir
para o inferno com ela, do que para o céu com minha esposa."
"Amor verdadeiro?" — perguntei.
"Certamente! Eu estou sempre pensando no melhor para ela. Eu jamais a feriria. Não poderia
pensar em 'fazer amor' com ela enquanto ela estivesse menstruada ou quando estivesse nos dias
férteis."
"Se isto é amor verdadeiro, porque você não se divorcia de sua esposa e se casa com ela?" —
sugeri, jocosamente.
"O quê? Você está brincando! Ora, isso seria errado. Eu não quero ferir minha esposa e destruir
duas famílias."
A Loura
Ela era uma mulher muito atraente: jovem e um tanto tímida. Eu me encontrara com ela depois
da sessão de uma conferência, e ela perguntara se eu tinha tempo para ouvir a sua história.
impecavelmente vestida, o cabelo bem penteado, ela parecia um modelo comparecendo a uma
entrevista. Quando nos sentamos, ela teve todo o cuidado com a sua postura. A posição de suas mãos e
pés era tal, que presumi que ela era muito dona de si ou havia sido treinada em uma escola de arte.
Séria e pesando cuidadosamente cada palavra, ela falou de seu casamento malogrado, que estava agora
no limiar do colapso. Ela e seu marido haviam viajado oitenta quilômetros, para participar daquela
conferência.
A história desconcertante do casamento deles parecia focalizar-se em uma queixa: "Eu preciso
tanto que ele goste de mim. Preciso sentir que significo algo para ele. Eu daria tudo para que ele
dissesse que sou maravilhosa ou linda para ele. Não posso entender por que recebo cumprimentos de
outras pessoas a respeito de minha aparência e meus talentos e parece que ele não os nota de forma
alguma."
"Você encontrou alguém que a encoraja e aprecia?" — perguntei. Ela hesitou, olhou para o
assoalho e, vacilante, balançou a cabeça afirmativamente.
"Fale-me a esse respeito" — continuei.
"Sei que isso está errado e sinto-me culpada, mas não sei o que fazer. Eu nunca pensei em ter
um 'caso' — de fato, este homem é o mais feio que conheço — mas aprendi a amá-lo. Da primeira vez
que o vi, senti repulsa, mas ele falou amável e compreensivamente; ele me aceitou, fez-me sentir
mulher, importante e atraente, e me deu o apoio emocional que eu tanto queria de meu marido.
Finalmente esqueci a sua aparência, porque quando alguém faz por você o que ele fez, você deseja
dar-lhe de volta muito mais — tudo o que você tem."
A essa altura havia lágrimas em seus olhos, e ela exclamou: "Não posso suportar a idéia de
desistir dele, porque acho que meu marido jamais mudará."
O Executivo
Eu estava em meu quarto de hotel, esperando. Alguém bateu à porta. O homem que havia
telefonado, marcando um encontro, chegara. Ele era conhecido na cidade, tivera êxito nos negócios e
era muito considerado por sua capacidade de liderança e seu excelente casamento e família
maravilhosa. Ele viera de sólidas origens, fora educado em colégios evangélicos, era um líder em sua
igreja e estava ativamente envolvido em muitos empreendimentos cristãos.
Depois que trocamos algumas frases convencionais, ele sentou-se nervosamente em uma
cadeira.
"Em que posso servi-lo?" — perguntei.
Por vários minutos, ele falou em termos gerais de problemas que são comuns ao homem:
"Todos enfrentam problemas... ninguém é perfeito... mesmo como crentes, freqüentemente lutamos
com interrogações a respeito do que ninguém sabe... algumas vezes há coisas aqui dentro que os
outros não podem ver e acontecem coisas que nos surpreendem..."
Senti o seu embaraço para chegar ao ponto difícil de revelar o objetivo de sua visita. Ele rodeou
o problema repetidamente, procurando algum indício de compreensão em meus olhos. Finalmente, em
um esforço para ajudá-lo, perguntei: "Por que você não me diz somente o nome dela e conta como
tudo começou?"
"Então você sabe, não é?"
É claro que, a essa altura, eu sabia.
Ele descreveu as recentes desavenças que ele e a esposa estavam tendo a respeito dos filhos e
como o seu relacionamento havia se tornado tenso. Eles estavam pouco a pouco se afastando um do
outro. Nesse mesmo período de solidão, aparentemente ele foi lançado, de maneira inevitável, devido
a atividades eclesiásticas, nos braços de uma jovem e atraente mulher divorciada. Ela havia ficado
frustrada com o ex-marido: "Ele era bronco, parado, sem atrativos — bom, mas chato." As histórias
dos dois eram como as peças de dois quebra-cabeças que se ajustassem. Eles se encaixaram
perfeitamente. Parecia que fora até algo providencial, algo que lhes acontecera pelo destino. Eles se
entendiam um ao outro, precisavam um do outro. Olhos se encontraram e mãos se tocaram —
contentamento, uma fagulha, uma chama, e, antes de perceberem o que estava acontecendo, eles
estavam na cama juntos.
Na ocasião em que ele veio conversar comigo, eles estavam tendo encontros freqüentes, e ele
estava lutando com os sentimentos de terror e fascínio — amor e um sentimento atormentador de
culpa. "Eu sempre achei que algo como isso não deve acontecer, mas quando acontece com você é
diferente. Orei sinceramente para que, se Deus não quisesse aquilo em nossas vidas, que tirasse os
sentimentos que tenho por ela. Chegamos a orar juntos. Orei neste sentido repetidamente, e ele não
respondeu; portanto, deve significar que ele nos quer juntos."
Em uma pequena cidade do centro-oeste, o culto terminou, e a igreja estava se tornando vazia e
silenciosa. Uma mulher, que retardara sua retirada, esgueirou-se até mim, e perguntou se eu podia
conceder-lhe um momento. Indo direto ao assunto, ela expressou fortemente a sua discordância com
uma parte de minha mensagem: — Você chama isso de adultério; eu o chamo de "um caso". Você o
faz soar como a coisa pior do mundo. Eu não estou envolvida com algum vagabundo sujo da rua. O
meu homem é respeitado e tão bom quanto qualquer outra pessoa desta igreja. Acontece ser este meu
pecado corriqueiro e... qual é o seu? Você não é um anjo, é?
Ela piscou para mim, e mergulhou na noite.
Estes são apenas quatro dentre as centenas de homens e mulheres que têm compartilhado
comigo os seus segredos maritais, durante os meus trinta e oito anos de ministério itinerante: esposas
de pastores, missionários, professores de Escolas Bíblicas Dominicais, conselheiros cristãos, membros
de igrejas e líderes cristãos muito ativos. Eles refletem a crescente incidência de casos extraconjugais
entre crentes professos, revelam a ampla gama de pessoas afetadas e a tendência de encontrar razões
para apoiar esse procedimento, embora essas razões possam ser contrárias às convicções morais e
bíblicas que temos esposado há muito tempo.
CAPITULO 2
Romance na Cumeeira
Nenhum bom crente, ou boa crente, se levanta de manhã cedo, olha pela janela, e diz: "Puxa,
que dia bonito! Acho que vou sair por aí e cometer adultério. " Não obstante, há muitos que o fazem.
Florence Littauer
ELA era uma mulher extremamente bela, de dezenove anos, casada havia quatro anos, sem
filhos. Agora, havia alguns meses, o seu marido, de meia-idade, estava fora da cidade, a serviço
militar. Uma noite de primavera, já bem tarde, ela estava se preparando para dormir. Despiu-se para o
banho. O seu cabelo longo, lustroso, negro, caiu suavemente ao redor de sua face e de seu corpo —
um quadro de beleza caracteristicamente feminina. A lua brilhou sobre ela, iluminando as suas formas
esculturais. Ela terminou o seu ritual vespertino particular da higiene pessoal.
Roberta Kells Dorr descreve, em cores vivas, esta cena em sua novela David and Bathseba:
Bate-Seba tirou a roupa e entrou na bacia de alabastro que a sua serva Sara havia enchido
com água morna. Ela permaneceu nua na bacia, enquanto a sua serva enchia uma cuia de água e a
derramava sobre ela. Bate-Seba levantou-se sem embaraço, embora não tivesse nada para cobrir a
sua nudez. Sem que ela o soubesse, os olhos de um homem a estavam observando e... normalmente ele
2
NOTA DO TRADUTOR: Bumerangue é uma arma usada pelos aborígenes neozelandeses, em forma de L, que, quando atirada, volta à
mão do atirador. "Efeito de bumerangue" é o que atinge o autor do processo.
teria olhado para outro lado, mas foi tudo tão inesperado e era tão lindo, que ele continuou a olhar.
Em crescente admiração, ele absorveu-se na beleza dela, vista apenas parcialmente através das
folhas secas de palmeira. O cabelo dela caía em cachos úmidos sobre os seus seios redondos, e a sua
cintura minúscula acentuava a agradável curva de seus quadris. Enquanto ele olhava, ela saiu da
bacia, e, com brusco movimento da cabeça, jogou os cabelos para trás, tornando visível a curva de
suas costas. Ele reconheceu que nunca tinha visto algo tão belo ou tão gracioso em sua vida.'
Uma batida suave na sua porta mudou totalmente os seus planos para o resto daquela noite e o
resto de sua vida.
Um "caso" extraconjugal. Como ele começa; o que faz com que ele continue; quais são as suas
características; e quem são, ao mesmo tempo, os seus perpetradores e as suas vítimas?
A Bíblia nunca encobre ou omite as falhas humanas. Deus não escreve biografias humanas
como um pai "coruja". As falhas e loucuras dos líderes que ele escolheu são identificadas tão
claramente quanto os seus sucessos. Ele não encobre os defeitos deles. As histórias desses líderes
mostram que as tentações hodiernas são tão antigas quanto o homem e que o fracasso faz parte de cada
um de nós. Mas, indubitavelmente, cada caso de infidelidade conjugal é diferente em muitos detalhes:
o contexto geográfico, social e familiar — a idade, as atitudes e os antecedentes das pessoas
envolvidas. Mas os elementos básicos são os mesmos, especialmente entre crentes professos. E o caso
de Davi e Bate-Seba é tão moderno quanto uma novela de TV.
AS CIRCUNSTÂNCIAS
Aquele dia de primavera era comum em todos os sentidos. Não há nada no registro bíblico que
indique que havia algo de inusitado nas atividades ou na atmosfera daquele dia. Os mercadores
apregoavam as suas mercadorias, como haviam feito havia séculos; as crianças brincavam nas ruelas
da velha cidade, e as sinagogas ressoavam com as orações do povo, repetidas sem parar. Israel acabara
de atravessar uma série de batalhas contra os sírios, e estava gozando os frutos de suas vitórias.
Reinavam paz e prosperidade. Davi, procurando alargar os limites de seu reino, havia enviado os seus
exércitos para enfrentar e destruir os amonitas. Quanto ao mais, tudo corria como de costume.
Qualquer coisa que pudesse fazer com que aquela velha cidade vibrasse e que as suas tradições
seculares prosperassem não estava sendo perturbada.
Ninguém suspeitava de algo desastroso naquele dia comum, e muito menos Davi e Bate-Seba.
Nada indicava a terrível cadeia de eventos desencadeada naquele dia: adultério, gravidez, engano,
homicídio, tragédia familiar e juízo divino. Tudo isso num dia como outro qualquer.
"Eu nunca pensei que isto poderia acontecer-nos", soluçou uma esposa de pastor, em meu
escritório. "As coisas pareciam estar correndo tão bem, tudo era normal, não havia sinais de perigo —
naquela época a nossa igreja estava crescendo — e foi tão inesperado, tão chocante. O meu marido
requereu divórcio, abandonou o pastorado e juntou-se a essa mulher leviana que já se divorciara três
vezes."
"Tudo bem", "normal", "nenhum sinal", "igreja crescendo", "inesperado". Estas não são
palavras de surpresa. Tudo parece bem. Não há razões para se suspeitar de uma tragédia. O trabalho
está indo bem. Deus parece estar operando. A família está em paz. E então, sem nenhum sinal de
advertência... a bomba!
José, com cerca de vinte anos de idade, tinha grande responsabilidade na casa de Potifar. Ele
gerenciava todos os assuntos domésticos de seu patrão e todos os seus negócios. Tudo estava correndo
normalmente: as plantações produzindo, os rebanhos se multiplicando. Aquele simpático jovem
administrava tudo sem percalços. Deus o fazia prosperar.
E então, um dia — em nada especial — enquanto ele estava "cuidando de seu trabalho", uma
mulher começou a olhá-lo de maneira significativa, sugerindo sedutoramente: "José, venha dormir
comigo!"
Ao se levantar naquela manhã, José nunca sonharia que naquele dia — outro dia normal de
trabalho — ele receberia um convite apaixonado para um "caso", sofreria chantagem e seria levado
para a prisão.
Eu também não tinha suspeitas. Eu acabara de chegar a uma cidade de Michigan, para começar
uma série de reuniões na igreja, naquele domingo. Era uma comunidade pequena, insípida, um povo
comum, sem sofisticação. Naquela noite de sábado, na recepção de apresentação, uma senhora da
igreja sentou-se ao meu lado. Ela estava longe de ser cativante ou bonita. Uma simples Maria: não
tinha personalidade cintilante, era um pouco gorda, um tipo de dona-de-casa comum.
Durante um momento trocamos cumprimentos. Em seguida, de maneira trivial, ela me estendeu
um pedaço de papel com o seu endereço e número de telefone.
"Pensei que você poderá sentir-se solitário, enquanto estiver aqui. Se quiser passar por lá uma
destas tardes, telefone-me. O meu marido estará ausente a semana inteira, trabalhando em Detroit. O
último orador que tivemos aqui na igreja visitou-me várias vezes; acho que você vai gostar de ir
também." Nada sutil ou expressivo, astuto ou pudico, mas casual como oferecer-se um copo de água, e
aparentemente, sem maiores conseqüências.
Os "casos" não começam com o piscar de luzes vermelhas de advertência. O dia não começa
com nuvens negras e agourentas, avisos de furacão, uma intranqüilidade interior ou uma voz do céu
que diz: "Reforce as suas defesas; a tentação está se aproximando." O furacão que destruiu o prédio
em que estava o meu escritório, há vários anos atrás, apresentou-se inesperadamente, em um belo dia
de primavera, veio rugindo como um avião a jato, e deixou tudo torcido, quebrado e em frangalhos. E
a primavera continuou. Assim também vem a tentação. Quando? Em um dia como os outros.
OS CARACTERES
Creio que aquele "caso" aconteceu quase como uma surpresa, tanto para Davi como para Bate-
Seba. Nenhum dos dois planejara aquilo uma hora antes de acontecer. Não foi o resultado de um
namoro ou de uma cumplicidade voluptuosa. Davi era um homem segundo o coração de Deus, e Bate-
Seba, uma esposa fiel ao seu marido, corajoso e patriota. Davi estava vindo de um período de
prosperidade e fama. Em numerosas batalhas ele fora vitorioso; ele havia destruído oitenta e sete mil
inimigos e capturado vinte e dois mil. E todas essas vitórias eram confirmação da presença de Deus
com ele e da promessa de Deus de lhe dar uma dinastia perene. "E o Senhor ia concedendo vitórias a
Davi por onde quer que ele passasse."2
Haviam acabado de ser pronunciadas as promessas de Deus: "Eu escolhi você... tenho estado
com você... Você será contado entre os homens mais famosos do mundo! ... A família de Davi
governará o meu povo para sempre." E Davi respondera com esfuziantes agradecimentos: "Õ Senhor
Deus! por que derramou suas bênçãos justamente sobre este teu servo de família tão insignificante?...
Essa bondade está longe da compreensão humana!... Toda a honra seja dada ao Senhor... Pois o
Senhor é Deus, e verdadeiras são suas palavras."3
Pouco antes ele saíra de sua rotina, para cumprir os seus votos a Jônatas, e havia restaurado, aos
herdeiros dele, toda a terra anteriormente de propriedade de Saul. O filho aleijado de Jônatas fora
convidado a morar no palácio, como membro da própria família de Davi. Sem nenhum acanhamento,
Davi dançara diante da Arca do Senhor, à vista de toda a cidade, celebrando louvores a Deus. "Não me
importa que aos seus olhos eu não seja bem-visto: continuarei dançando, em louvor ao Senhor", disse
ele.4 "Davi foi um rei justo e estimado por todo o povo de Israel."5 Portanto, aqui está Davi, um
homem de grande coragem, generosidade e bondade, justo e reto em seus atos, dedicado a Deus e
cheio de louvor e ação de graças. Dificilmente poderia ser considerado candidato a um desastre
pessoal.
INOCENTE
Segundo todas as aparências, tanto Davi como Bate-Seba estavam inocentes. Nenhum dos dois
se envolveu em qualquer atividade que pudesse ser interpretada como encorajadora de infidelidade ou
transigência para com o pecado. Bate-Seba ocupou-se com a inocente tarefa de tomar um banho
vespertino. Nada há de sensual nisso. Ela não estava expondo os seus encantos femininos com o
intuito de seduzir. Não era uma prostituta barata nem uma sedutora cortesã; e também não era uma
sereia ardente e ardilosa. Simplesmente uma esposa fiel preparando-se para uma noite de sono.
E Davi? Provavelmente com trinta e nove anos de idade, ele não era um homem sexualmente
frustrado, um macho inquieto, a espreitar nas sombras da noite. E também ele não era um homem
sexualmente faminto, rondando como um animal no cio. Nessa época, ele tinha já mais de sete esposas
e várias concubinas à sua disposição. Ele já gerara dezessete filhos. Assim sendo, dificilmente se
poderia dizer que estava procurando uma nova conquista sexual para evidenciar a sua virilidade. Ele
experimentara o que qualquer um pode experimentar de vez em quando: uma noite insone. Eu tenho
tido muitas. Você também. Uma noite em que os pensamentos parecem correr e pular como cabritos
selvagens, recusando-se a se acalmarem. Talvez ele estivesse pensando em suas tropas que estavam
sitiando a cidade de Rabá. Ou em algum outro problema de Estado.
Mas ainda não era tarde quando Davi levantou-se da cama e foi dar uma volta no terraço do
palácio — para analisar o seu problema, para resolver a sua luta contra a insônia.
Desinteressadamente, ele olhou em várias direções, notando que a cidade estava dormindo melhor do
que ele. Ali perto, os seus olhos foram atraídos por uma pequena luz, que se filtrava através de
postigos parcialmente fechados. Ele olhou rapidamente uma vez, duas — depois os seus olhos se
fixaram ali. Uma bela jovem estava tomando o seu banho vespertino. Até esse ponto, tudo era inocente
e ninguém deve ser culpado.
CONQUISTA
As circunstâncias não fazem um homem: elas o revelam. Ã semelhança dos saquinhos de chá, a
nossa verdadeira força se manifesta quando somos imersos em água quente. Não há nada de errado em
acontecer de se ver uma bela mulher tomando banho. Nada de errado em se reconhecer a sua atração
física e encanto dados por Deus. Nada de errado com um rápido e involuntário pulsar do coração, uma
onda de sangue viril, uma exclamação silenciosa:
"Puxa!" Mas agora começa a luta, a luta com as suas fantasias, a sua carne, a sua fé e o seu
futuro.
Davi conhecia bem a lei de Deus e a sua proibição do adultério. Ele sabia que, de acordo com a
lei, uma mulher que fosse comprovadamente adúltera podia ser apedrejada. Na mocidade, ele
decorara: "Não cobiçarás a mulher de teu próximo." E, sem dúvida, esta não era a primeira tentação
desse tipo que ele sentia. Como jovem forte, sadio, no palácio do rei, admirado pelas; moças do reino,
ele tivera o seu quinhão de seduções e oportunidades. Mas isso era diferente — ou não? Os seus
pensamentos corriam de forma selvagem, desenfreada. "Mais bonita do que qualquer de minhas
esposas. Tão jovem, fremente, convidativa; ela me excita. Tenho sofrido muita pressão; mereço um
pouco de relaxamento. Tenho guardado a lei de Deus por muito tempo; uma pequena infração não é
nada sério demais. De fato, pode ser que Deus me fez andar aqui fora esta noite para que pudéssemos
estar juntos. Talvez este seja o objetivo de uma noite insone, e só uma vez... um ato... não um 'caso'
prolongado. A coisa não precisa passar desta noite. E ninguém ficará sabendo; eu tomarei providências
neste sentido." E pergunta ao seu servo: "Quem é aquela moça? A casa é de quem? Preciso saber."
Nenhuma hesitação, nenhuma espera, consideração, medição de conseqüências, desistência. Ele
não conseguia ver além daquele momento; fora cegado pela paixão. Um fusível começava a despedir
fagulhas. Ele já podia vê-la em seus braços.
"Ela é Bate-Seba, a esposa de Urias" — informa o servo.
Davi murmura: "E Urias está ausente, na guerra. Tudo se encaixa tão bem. Urias é um grande
soldado, mas provavelmente não é muito bom marido ou amante — tão mais velho do que ela — e
ficará ausente por muito tempo. Esta jovem precisa de um pouco de conforto, em sua solidão. Esta é
uma forma em que a posso ajudar. Ninguém ficará ferido. Eu não tenciono nada de errado com isto.
Não é concupiscência — que já senti muitas vezes. É amor. Não é a mesma coisa que achar uma
prostituta na rua. Deus sabe." E ordena ao servo: "Traze-a para mim."
Evidentemente, Davi não pensou muito. O que ele vira incendiou a sua imaginação, e, em
menos tempo do que leva para contar o que aconteceu, ele estava alimentando uma fantasia, que se
tornou uma obsessão. Ele fora arrastado pelos seus próprios desejos; aqueles desejos conceberam, e
ele estava prenhe de pecado antes de Bate-Seba chegar ao aposento real e ficar grávida. 5 A tentação
apela para o desejo, o desejo cria a fantasia, a fantasia incendeia os sentimentos, e os sentimentos
clamam por ação.
O OCULTAMENTO
Durante vários dias — provavelmente semanas — as coisas continuaram como antes. Muitas
vezes Davi relembrou aquela noite memorável, embora ele e Bate-Seba tivessem jurado guardar
segredo e não tivessem planejado nenhum outro encontro. Era uma recordação particular deles,
trancada só em dois corações. Dentro de um mês ou dois os sinais: a ausência de um período
menstrual, tontura matinal, náuseas... e o segredo foi exposto. "Estou grávida".
Desde a época e o exemplo de Adão, o homem, instintivamente, procura encobrir os seus
rastros, "porque os seus atos são maus". 7 Watergate não foi nada de novo. O que se pretendia fosse um
prazer clandestino e passageiro — um ato — agora requer a minuciosa estratégia do engano — uma
atitude. O fato de ter vivido uma mentira uma noite, se não for confessado completamente, requer
muitas mentiras para encobri-lo.
E a pessoa que tem reputação de integridade agora recorre a todo tipo de engano concebível
para salvar a sua pele. Viver uma mentira torna fácil o desencadeamento de outras mentiras; de fato,
elas se tornam necessárias. "Este é o primeiro segredo que escondi de minha esposa em dezoito anos",
confessou um esposo infiel. "Eu me sinto um miserável, tendo que inventar tantas mentiras, visto que
nunca fiz isso antes." A estratégia é sempre a mesma. As táticas, imemoráveis: proteja-se, culpe os
outros, elimine as evidências. Através dos séculos, o homem ainda não inventou maneiras novas de se
esconder.
E também o crente bem doutrinado que prefere ocultar em vez de confessar conta as mesmas
histórias enganosas, tanto quanto o galanteador que nunca ouviu falar da graça de Deus. Um Davi —
homem segundo o coração de Deus — torna-se ardiloso, traiçoeiro, implacável e sem consciência.
Em um golpe de mestre, de desígnio maligno, Davi passou rapidamente e decisivamente a fazer
as três coisas ao mesmo tempo: Tragam Urias da guerra, façam-no dormir com Bate-Seba uma noite
ou duas e mandem-no de volta à batalha. Urias gostaria muito desse descanso; ele e todo mundo creria
que o bebê era dele e Davi estaria completamente livre do alçapão, livre do escarmento, da culpa e da
responsabilidade. Um plano engenhoso! A verdade seria sepultada na ignorância de Urias. E teria
funcionado sem empecilhos, se Urias e Deus tivessem cooperado. Davi não contou com a integridade
de seu soldado nem com a discordância de Deus.
Urias chegou ao palácio por ordem do rei, fez um relatório da batalha e recebeu ordens de ir
para casa e descansar aquela noite. Presentes de comida e vinho foram mandados adiante dele, para
indicar que Davi se alegrava com ele e para preparar o palco para uma noite agradável. Mas aquele
homem era um soldado na plena acepção da palavra, e, embora possivelmente não sentisse nenhum
motivo oculto da parte de Davi, não se podia permitir descansar e desfrutar de sua esposa enquanto os
seus colegas oficiais estavam aquartelados no campo, em uma zona de batalha. Ele dormiu na casa da
guarda do palácio.
Com decisão e ira crescentes, Davi o enviou ao segundo estágio. "Se eu o embriagar, poderemos
fazer com que ele entre em sua casa, e então ele desejará Bate-Seba. Mesmo que ele não durma com
ela, estará bêbado demais para lembrar-se do que aconteceu, e assim tudo estará bem. Mas Urias,
embora inteiramente bêbado, dormiu outra noite com os guardas.
Toda a consideração por esse soldado leal estava se transformando em medo e ressentimento.
"Então ele precisa ser tirado da cena. Se isto significa que eu estou me voltando contra os que me
amam e me servem, que se saiba que os meus amigos podem ser sacrificados. É assim que as coisas
são, às vezes. Eu sacrificarei qualquer pessoa — qualquer relacionamento — para me proteger e
manter a verdade amordaçada.
"Ponde Urias na frente onde for mais renhida a peleja, e retirai-vos dele, para que seja ferido e
morra."8 Ele enterrou o seu pecado no túmulo de Urias. Um "caso" extraconjugal que tem
continuidade sempre necessita de sacrifício. O sacrifício egoístico do amor, da lealdade, dos
relacionamentos, do respeito, da integridade, da consciência — e da comunhão com Deus. "Mas isto
que Davi fez desagradou ao Senhor."9
A noite de prazer que Davi gozara tornou-se um pesadelo de dor. O seu filho morreu. A sua bela
filha, Tamar, foi violentada pelo seu meio-irmão Amnom. Amnom foi morto pelo seu irmão mais
velho, Absalão. Absalão foi separado de Davi durante três anos, e voltou para formar uma conspiração
contra o pai. Quando finalmente Absalão foi morto, em uma emboscada, Davi rompeu em pranto e
soluçou: "Meu filho Absalão, meu filho, meu filho Absalão."10
O que modifica um homem de Deus, de forma que ele se torne velhaco, sinistro, destruidor de
tudo o que ele e as outras pessoas prezam? O que transforma o terno e sensível amor de um homem a
Deus em uma determinação dura, implacável, de agir à sua própria maneira? As lições da experiência
de Davi são óbvias, e se aplicam a todos nós. Sublinhe-as em sua mente e em seu coração.
1. Ninguém, embora escolhido, abençoado e usado por Deus, está imune a um "caso"
extraconjugal.
2. Qualquer pessoa, a despeito de quantas vitórias tenha tido, pode cair desastrosamente.
3. O ato de infidelidade é o resultado de desejos, pensamentos e fantasias descontrolados.
4. O seu corpo é seu servo; se não o for, torna-se seu senhor.
5. O crente que cair vai desculpar-se, racionalizar e encobri-lo, quanto qualquer outra pessoa.
6. O pecado pode ser agradável, mas nunca ser oculto de maneira eficaz.
7. Uma noite de paixão pode desencadear anos de dor para a família.
8. O fracasso não é nem fatal nem final.
Todas estas lições serão abordadas nos próximos capítulos.
CAPITULO 3
Por Que os Cônjuges Se Traem?
O "caso"é um sinal da necessidade de ajuda; uma tentativa para compensar as deficiências que
há no relacionamento, devidas à tensão circunstancial — um aviso de que alguém está sofrendo.
Susan Squire
AS COISAS não acontecem simplesmente. Toda ação tem uma causa. As ações não surgem
espontaneamente do nada. Há fatores que contribuem, forças que pressionam e razões pessoais sob a
superfície. Os ramos têm de ter raízes. E, embora as raízes raramente sejam vistas, elas determinam o
tamanho e o caráter dos ramos.
Se um casamento é vibrante e se desenvolve, é porque há razões para isso. O crescimento não é
espontâneo, imperceptível e sem causa. Os relacionamentos não vicejam, se forem negligenciados ou
se deles se fizer uso inadequado. E, embora os cônjuges possam não ser capazes de articular de modo
correto tudo o que fazem, não obstante, estão fazendo algumas coisas certas.
O fracasso de um casamento acontece da mesma forma. Quando um cônjuge se envolve em um
"caso" — uma aventura de uma noite ou um relacionamento prolongado — há razões. Nem a parte
culpada nem a inocente podem entender plenamente essas razões ou descrevê-las exatamente. Pode ser
que não saibam quais são as suas mais profundas dimensões psicológicas, emocionais, físicas e
espirituais, e o que pode parecer uma razão válida para um, pode parecer uma desculpa para o outro.
O "caso" é um sinal da necessidade de ajuda — uma tentativa de compensar as deficiências
existentes no relacionamento, um sinal de compensar as deficiências existentes no relacionamento, um
sinal de advertência de que alguém está sofrendo. Linda Wolfe o resume: "Ser infiel é um sintoma, e
não uma síndrome. Algo está errado no casamento deles ou em sua capacidade de ter intimidade com
outro ser humano, da mesma forma que uma febre é manifestação de uma infecção. Os 'casos'
extraconjugais servem como indicador de disfunção no casamento."1
As causas da infidelidade conjugal variam tanto quanto as personalidades envolvidas, mas creio
que todas podem ser consideradas, enquadrando — se em uma destas três categorias gerais:
imaturidade emocional, conflitos sem solução ou necessidades não satisfeitas.
IMATURIDADE EMOCIONAL
A adolescência é geralmente temida pelos pais, da mesma forma como teme as doenças da
infância; esperam que os seus filhos não sejam adolescentes difíceis e que não haja traumas
permanentes.
Muita vezes ela é um período traumático, acarretando a mudança de relacionamentos,
agonizante pressão dos colegas e interrogações a respeito da identidade e do futuro do adolescente.
Esse período não deve ser permanente, mas geralmente é uma ponte da dependência da infância para a
interdependência do adulto. Esses anos de transição muitas vezes são marcados por imaturidade,
rebeldia, volubilidade, dúvidas quanto a si mesmo e experimentação. Infelizmente, algumas pessoas
que já têm quarenta ou cinqüenta anos de idade ainda são adolescentes quanto ao seu comportamento.
Em vez de o casamento ser a nossa última chance de crescermos, de acordo com Joseph Barth, ele
torna-se um refletor de nossas imaturidades perpétuas.
Consideremos o meu amigo Joe. Casado há três anos — dois filhos. Durante os anos em que
estava namorando, ele gostava de pensar acerca de si mesmo como um presente de Deus para as
garotas, e mudava de uma namorada para outra. Másculo e simpático, ele tinha um sorriso matreiro e
maneiras confiantes que faziam dele um encanto. Forçado a casar-se devido à inesperada gravidez da
sua namorada, ele queria ser fiel, mas ainda tinha olhos irrequietos. De acordo com ele, sua esposa era
tudo o que uma esposa pode ser: vivaz, sexualmente estimulante, altruísta, e, como ele, crente. Mas,
em sua mente, ele era ainda o adolescente sem peias, namorador. "Na verdade, eu não sou homem de
uma só mulher", jactou-se ele, com um piscar de olhos.
à época em que ele e a esposa vieram a mim, ele estava tendo almoços de negócios em pontos
de encontro, tomando lanches em casas de má fama e visitando uma garota periodicamente. Ele estava
vacilando entre o desejo de manter um casamento bem estabelecido e os seus apetites de adolescente
flutuantes.
Dúvidas quanto a si mesmo podem armar o palco para a infidelidade conjugal. Lembro-me bem
de Jorge. Ele veio de uma família de grandes realizadores: o seu pai estava no topo da pirâmide
gerencial, e sua mãe era calorosa, extrovertida, tendo muitos amigos. Os seus irmãos e irmãs eram
agressivos, confiantes, e todos ativos na igreja. Quando menino, ele lutara com grandes expectativas e
comparações, especialmente com os seus irmãos, e sentia, secretamente, que não era tão bem dotado
quanto eles e por isso não era provável que tivesse sucesso. Tinha pouca estima por si mesmo. Casou-
se com Ana, tipo dominador, e eles se estabeleceram, para formar uma família.
Embora ele tivesse tudo o que acompanha o sucesso — bom emprego, oportunidades ímpares,
casa boa — o seu conflito íntimo continuou. "Todo mundo espera mais de mim; eles não me aceitam
como realmente sou. Até no quarto de dormir, minha esposa reage, mas relutantemente, como a dizer:
'Ande depressa e acabe logo com isso'. Realmente não sou o homem que devia ser."
Ele sentia-se castrado. Sonhava com uma relação em que não tivesse essa luta interior — esse
fracasso constante — embora o adultério fosse totalmente contrário a tudo o que cria e que lhe fora
ensinado. Como a maioria dos homens, ele não estava procurando sexo, mas alguém que fosse um
arrimo sobre o seu amor próprio, tão vacilante.
A garota com quem se encontrou no supermercado era qualquer coisa, menos o tipo que ele
teria considerado para ser sua esposa. Divorciada duas vezes, pobre, desleixada — uma vagabunda,
mas uma campeã em saber como edificar o ego de um homem. Em sua primeira visita à casa dela, ele
sentiu repulsa. Era o oposto de tudo que ele conhecia: tinha apenas poucos móveis, uma cama velha,
umas duas cadeiras de dobrar, uma mesa e um pequeno tapete desfiado. Mas era um escape para tudo
o que pesava sobre ele.
Depois da primeira vez que mantiveram relações sexuais, ele pensou: "Ela gosta de mim pelo
que sou, e não pela pessoa que procurasse fazer de mim. Sou aceito. Ela gosta de mim. Eu a excito."
Ele estava fisgado. Como alguém que encostara em um fio de alta tensão, não podia largá-la. Mais
tarde, ele disse: "Eu nunca me senti tão homem como quando estava com ela."
Abigail van Buren, colunista de imprensa americana, que escreve a famosíssima coluna "Dear
Abby", diz: "Um homem escolhe uma vagabunda, porque quer uma companhia feminina que não seja
melhor do que ele. Na companhia dela, ele não se sente inferior. Ele a recompensa, tratando-a como a
uma dama. Ele trata a esposa (que é uma dama) como uma vagabunda, porque acha que, degradando-
a, a rebaixará até o nível dele. Isto fá-lo sentir-se culpado. Assim, a fim de 'empatar' com a esposa,
pelo fato de fazer com que ele se sinta culpado, ele continua punindo-a.''
Indulgência por parte dos pais pode preparar um filho para uma imaturidade perpétua e para a
infidelidade conjugal. Pais permissivos, temerosos de contrariar os desejos de seus filhos, dão-lhes
tudo o que eles pedem. Nunca lhes é negado nada. Eles são mimados, tratados como bebês e nunca
lhes é ensinada a necessidade ou o valor da disciplina. O adolescente que tem tudo, cujos menores
desejos sempre foram atendidos, não se tornará um cônjuge forte e altruísta. A pessoa que cresce sem
ouvir e respeitar a palavra NÃO jamais a considerará uma resposta hábil, quando estiver sendo tentada
a satisfazer os seus desejos e caprichos.
Steve, provavelmente, nunca entendera que isto fazia parte de seu problema. Ele viera de um
sólido lar cristão, em que a Bíblia era honrada, lida e seguida. O fato de ir à igreja, a reuniões
especiais, a acampamentos bíblicos e a um colégio evangélico, tudo isto era considerado como lugar-
comum e era característico de sua família. Os interesses comerciais da família floresciam, bem como o
seu padrão de vida. Em todos os aspectos, eles eram uma família cristã exemplar, de sucesso. Mas
havia um defeito fatal.
Fosse o que fosse que os filhos quisessem, conseguiam obter. Brinquedos ou roupas, patins,
barcos, carros, casas, viagens — não fazia diferença: bastava apenas mencionar. Claro que os pais não
tencionavam fazer-lhes mal. "Deus nos tem abençoado; vamos aproveitar", esta era a atitude deles.
Sacrifício, abnegação (negação dos próprios desejos), disciplina, eram termos bíblicos familiares, mas
estranhos ao seu vocabulário e estilo de vida. Quando Steve se casou, tudo foi amor e luxo. Muitos
anos mais tarde, com problemas, quando o seu casamento apresentou uma fratura, ele fez a única coisa
que sabia fazer: comprou mais coisas para a esposa. Maiores e melhores. Gastou dinheiro como se não
houvesse o dia de amanhã. Mas a fenda se alargou. O que ela queria era compreensão,
companheirismo, uma solução. Nessa época, uma mulher jovem, na igreja, sentiu a frustração dele, o
seu desencoraja-mento, e ofereceu-lhe um sorriso amistoso, uma mão calorosa, e, finalmente, um
corpo ardoroso. "Casos" eram acontecimento familiar para ela, e ele estava em sua lista.
O "caso" deles o mergulhou em um profundo sentimento de culpa, e ele começou a lutar entre
as opções de negar os seus próprios desejos e de entregar-se a eles. Não obstante, muitas vezes ele
ficava estranhamente contente consigo mesmo por ceder. A sua familiaridade com a Bíblia só fazia
crescer o seu sentimento de culpa. Quando o fiz lembrar-se de que a vontade de Deus proibia aquilo
— "Não adulterarás... Não cobiçarás a mulher do teu próximo... se a tua mão te escandalizar, corta-a"
— ele não conseguia entender. A essência de sua reação foi: "Como é que o senhor ou qualquer outra
pessoa pode dizer-me 'não'? Eu consigo o que desejo, sempre o consegui e sempre o conseguirei.
Quero esta mulher, não importam as conseqüências. Não me venha dizer que significará o rompimento
com minha família, a destruição do casamento dela e prejuízos no testemunho da igreja. Quero este
meu relacionamento." Menino mimado! Os seus pais, perplexos, nunca perceberam como eles haviam
contribuído, anos atrás, para este fracasso e para esse drama familiar que estavam vivendo.
O orgulho também prepara um homem para a queda. Como diz Salomão, em Provérbios:
"Quando o homem se orgulha de si mesmo, acaba sendo envergonhado, mas quando ele se humilha,
acaba se tornando sábio."2 Uma pessoa emocionalmente madura tem um senso realista de suas
próprias fraquezas humanas e da necessidade de dependência de Deus e de outras pessoas. Ela não
exibe a sua força nem flexiona os seus músculos diante de Deus e dos outros.
Um conhecido evangelista tornou-se possuído pelo orgulho. O seu trabalho estava prosperando,
os seus programas de rádio e TV estavam florescendo, crescia o número de convites para falar. Ele
começou a manipular pessoas para satisfazer os seus objetivos egoísticos. Quando se tornou mais
ousado, começou a viajar a sós com sua secretária. Ao um homem de Deus o interrogar a respeito
daquilo, ele se jactou: "Eu conseguirei resolver isto. Não se preocupe comigo. E mesmo que eu decida
me divorciar e casar com essa moça, que é que tem? O povo se esquecerá de tudo em poucos meses.
Isso não afetará o meu ministério." É claro que ele caiu — caiu como um passarinho acertado por um
tiro, e o seu casamento e o seu ministério caíram com ele.
Outro jovem pensava que a sua capacidade de decorar versículos da Bíblia o tornaria seguro.
Ele era capaz de citar mais de dois mil versículos, mas continuava a fazer visitas clandestinas a certa
mulher, quando o marido dela estava fora de casa. "Eu não devia fazer isto, mas acho que sou muito
homem." O orgulho o cegou. O conhecimento, por si só, exalta o ego. Da mesma forma, ele poderia
ter decorado o dicionário. A Palavra, absorvida mentalmente, não fora misturada com fé — a fé que
age. Ele foi como um boi para o matadouro, como uma mariposa para a chama.
Orgulho em um campo de realizações pode preparar-nos para cair em outro, "...e o orgulho vem
antes da queda (a queda de Satanás é um exemplo)."3 Um autor evangélico de grande sucesso, nos
Estados Unidos, com a cabeça pesada do vinho dos elogios e da prosperidade, envolve-se
ousadamente em uma relação adúltera. As duas áreas estão relacionadas. A queda acontece não na
área de seu sucesso; ele ainda está escrevendo. Mas o seu orgulho a respeito do sucesso de seus livros
levou-o ao colapso moral.
"Eu era o pastor de maior êxito na cidade. A nossa igreja crescera, ganhando centenas de
membros em poucos meses" — disse-me um jovem pastor durante uma convenção de verão. "Eu era o
assunto das conversas da comunidade — reconhecido, louvado, admirado. Na história dessa igreja,
ninguém havia obtido tal sucesso. Todos, por assim dizer, comiam em minha mão. E então, por
alguma razão absurda, me envolvi com uma jovem, e requeri divórcio. Na verdade, o nosso casamento
estava indo muito bem, e eu não tinha nada de que me queixar, mas não consegui abrir a mão dessa
jovem."
"Você acha que o fato de você ter resvalado para este 'caso' está, de alguma forma, relacionado
com o seu sucesso na igreja?" — perguntei.
"Oh, claro que sim!" — concordou ele. "O meu egoísmo me arruinou. Eu achava que não havia
possibilidade de eu errar. Comecei a crer no que os outros falavam de mim, elogiando-me. À medida
que a igreja continuou a crescer, fiquei imbuído de orgulho, e isso juntou a ladeira moral em que
escorreguei. Vitória e derrota ao mesmo tempo. E, sem dúvida, o meu relacionamento com essa jovem
apenas alimentou o meu GO ainda mais. Minha esposa não quis me conceder o divórcio, e assim eu
estava amarrado."
Cada pessoa determina a extensão de sua própria imaturidade emocional. Os "casos" não se
originam de maus casamentos: são desenvolvidos por pessoas imaturas. Um clássico parágrafo a
respeito de maturidade é Filipenses 3:10-14:
Presentemente anseio conhecer Cristo Jesus e o poder manifestado pela sua ressurreição, e
ainda por participar dos seus sofrimentos, até mesmo morrer como ele morreu, de modo a poder
talvez como ele obter a ressurreição dos mortos.
Entretanto, irmãos meus, não me considero dos que já a alcançaram "espiritualmente", nem me
julgo ter atingido a perfeição. Mas continuo lutando mais firmemente por aquilo para que Cristo me
atraiu.
Meus irmãos, não creio tê-lo atingido ainda; mas fico-me nisto: deixo atrás o passado, e com
as mãos estendidas para qualquer coisa que se me depare à frente, dirijo-me para o alvo: o galardão
honroso de ser chamado por Deus em Cristo.
Desta passagem aprendo que a maturidade tem cinco elementos:
Confiança completa, irrevogável, em Cristo somente.
Reconhecimento de minhas imperfeições humanas.
Dedicação a aprendizado e crescimento vitalícios.
Conservação de meu futuro diante de mim, esquecendo o passado.
Previsão, busca, persistência para com tudo de bom que Deus quer para mim.
Todos estes elementos também se aplicam ao casamento.
NECESSIDADES INSATISFEITAS
"Meu parceiro não entende nem satisfaz as minhas necessidades." Todo marido, toda mulher,
sentiu isto em alguma ocasião, embora possa ser que nunca o tivesse expressado audivelmente.
Quando as necessidades não são satisfeitas, está aberta a porta para a infidelidade — outra pessoa que
satisfaça essas necessidades. O Dr. James Dobson, conhecido conselheiro familiar, o expressa
sucintamente:
Surgem grandes necessidades. Quanto maiores as necessidades de prazer, romance, sexo e
satisfação do ego, maiores as necessidades do casamento e mais alto clamam essas vozes. Uma
necessidade cresce, e não está sendo suprida. E geralmente a pessoa clama para os que estão ao seu
redor: "Satisfaçam as minhas necessidades. Ouçam-me. Amem-me. Entendam-me. Cuidem de mim." E
esse clamor não é ouvido, entendido ou respondido. Estamos em casa, estamos vivendo juntos, mas
não estamos suprindo as necessidades um do outro. E as necessidades se agravam; e, quando se
tornam prementes, então as vozes que chamam as pessoas para a infidelidade tornam-se mais
audíveis.5
O casamento é um relacionamento que satisfaz as necessidades. Assim foi durante o namoro e
continua até o último dia em que um casal está junto. Ninguém é tão altruísta ou pouco egocêntrico
que se case pelo puro desejo de satisfazer as necessidades de outrem, sem pedir nada para si. E o fato
de querer que as nossas necessidades sejam supridas não é egoístico nem pecaminoso. Tem sido dito
que o amor é a avaliação exata e o suprimento das necessidades do outro.
Adão e Eva, embora perfeitos e inocentes, tinham várias espécies de necessidades. Deus os
criou dessa maneira. Eles tinham necessidades sociais, emocionais, físicas, psíquicas e espirituais — e
isto antes de eles terem caído em pecado. De fato, a sua queda foi uma tentativa de satisfazer essas
necessidades de maneira e em época contrárias ao plano do Criador.
Deus colocou o homem, com suas necessidades, em uma posição em que elas pudessem ser
supridas.
1. Ele foi colocado em um belo jardim, e lhe foi dito que o cultivasse, guardasse e comesse dele.
As suas necessidades de beleza, trabalho e alimentação podiam ser satisfeitas pelo ambiente em que
vivia.
2. Ele não foi deixado sozinho. Foi-lhe dada outra pessoa, e foi-lhes dito que compartilhassem,
se unissem e procriassem. As suas necessidades de companhia, intimidade, continuidade e família
foram supridas por outra pessoa.
3. Foi-lhe dada comunhão com Deus. As suas necessidades de realização pessoal, propósito e
vida eterna foram satisfeitas somente por Deus.
Só certas necessidades podem ser satisfeitas, no casamento, por outra pessoa. Nem todas. Mas a
essência da promessa do casamento é: "Eu satisfarei essas necessidades." Os votos pronunciados na
cerimônia de casamento dizem:
"Ter-te e conservar-te" — dedicação
"Na alegria e na tristeza" — propriedade
"Na riqueza ou na pobreza" — lealdade
"Na doença ou na saúde" — sustento
"Para amar-te e querer-te" — fidelidade
"Até que a morte nos separe" — companheirismo
São exigências nada fáceis. Não é de se admirar que todos falhemos, por vezes. Não estou
sugerindo que diluamos os votos, mas que entendamos como eles são traduzidos e aplicados às
necessidades diárias de nosso cônjuge.
As necessidades de duas pessoas raramente se encaixam perfeitamente, mas quando cada
cônjuge está procurando seriamente satisfazer as necessidades do outro, o problema da terceira ponta
do triângulo tem pouca oportunidade de vir à existência.
Temos cinco necessidades básicas, que um cônjuge pode satisfazer:
ATENÇÃO
"Você já ouviu falar da grande face de pedra"? — perguntou certa mulher à sua amiga.
"Sim, acho que já" — replicou a amiga.
"Eu me casei com ela" — declarou a mulher. "Meu marido não ouve e não fala."
Sara escreveu-me, depois de nossas sessões de aconselhamento: "Ser-me-á difícil desistir do
amor que sinto por outra pessoa, e dizer 'não' à primeira pessoa que realmente me ouviu. Durante treze
anos com Bruce, não me tenho sentido amada nem desejada. Ele nunca nota o que cozinho, nem
minha aparência e como tento arrumar a casa para ele. Ele nunca presta atenção a mim. Acha que tudo
o que sou ou faço é normal, natural, e, realmente, penso que não sou importante para ele."
Um marido que havia prevaricado e sentia-se culpado disse: "Cheguei a sentir-me como nada
mais do que uma peça do mobiliário. Eu era um joão-ninguém dentro de minha casa, ninguém que
fosse digno de nota, de ser ouvido ou de ser amado. Fiquei cheio. Não faz muito tempo, saí, para não
voltar mais. Finalmente me decidi", disse ele. "Há algumas semanas cheguei em casa e minha esposa
estava colocando o bebê na cama. Comecei a beijá-la. Ela, porém, virou-se de lado e começou a falar a
respeito da erupção da pele do bebê. Você já tentou beijar alguém com um alfinete de segurança na
boca? Por que ela não podia olhar para mim? Conversar comigo? Será que preciso andar de fraldas ou
cuspir fora a comida, para conseguir que ela me note? Eu sou o cara com quem ela se casou. Mas
precisaria chegar com uma perna quebrada ou ficar com pneumonia para conseguir que ela notasse
que estou presente."6
ACEITAÇÃO
Toda pessoa tem uma necessidade profundamente arraigada de ser aceita pelo seu valor
individual. É nosso dever amar nosso cônjuge; cabe a Deus mudá-lo. O autor John Drescher cita o
conselheiro Ira J. Tanner: "Qualquer tentativa para mudar o cônjuge, em um esforço de nossa parte, é
um insulto a ele. Isso divide, suscita ira, e causa solidão ainda maior."7 E posso acrescentar que isso
empurra o cônjuge para outros braços, que o aceitem melhor.
Ruth e Jack eram amigos pessoais de Evelyn e meus. Na verdade eram nossos vizinhos. Mas o
"caso" em que ela se envolveu os trouxe a mim, para serem aconselhados. Jack era ambicioso,
dinâmico, exigente, uma testemunha eficiente de Cristo — um bom papo. Rute era serena, atraente,
extrovertida e distinta. Uma pessoa encantadora.
Os próprios padrões cristãos inflexíveis de Jack atraíam algumas pessoas, mas repeliam outras.
Eram aplicados a todas as pessoas, na igreja e fora dela, produzindo em algumas delas falso
sentimento de culpa; em outras, apenas compaixão... por Jack. Todos os membros da família sentiam a
pressão. Alguns se rebelavam; outros se sujeitavam.
Ruth disse: "Amo muito o Senhor, mas nunca consigo agradar ao meu marido. Eu não estava
crescendo espiritualmente tão depressa quanto ele achava que eu devia. Ele estava sempre procurando
saber quanto eu estava lendo a minha Bíblia. Fiquei simplesmente fisicamente esgotada, e não pude
continuar indo às diversas reuniões da igreja todas as noites da semana. Eu precisava ficar em casa.
Jack interpretou isso como sinal de apostasia, e me criticou na frente das crianças, até que toda a nossa
família começou a brigar constantemente. Então ele me culpou pelos problemas de nossa família,
apresentando como causa que eu estava me 'afastando do Senhor'. Ele queria que eu fosse Madre
Teresa, Betty Crocker e Cheryl Ladd, reunidas em uma só pessoa. Ele estava decidido a me moldar à
sua vontade. Nada que eu fazia lhe agradava.
"Pecado — adultério — era a coisa mais distante de meus pensamentos, desde o dia em que me
convertera a Cristo. Eu não estava procurando sexo — até isso também se havia deteriorado em nosso
casamento. Eu nem sequer estava procurando um 'caso', para me vingar, fazer meu marido pagar, e
nem mesmo para chamar a atenção dele. Eu estava simplesmente aturdida. E, quando o vizinho do
meio do quarteirão me notou, sorriu algumas vezes, conversou comigo amavelmente e gostou de mim
da maneira como sou — aconteceu. Eu estava agonizante."
AFEIÇÃO
Muitos cônjuges traem por nada mais, a princípio, do que o desejo de um pouco de afeição. As
coisas que dão brilho aos dias de namoro e ao começo do casamento — dar-se as mãos, carinhos,
abraços, beijos — não podem agora ser guardadas no guarda-roupa, juntamente com o vestido de
noiva.
"Agora estamos casados; não somos mais crianças." Pensa ele: "Por que você precisa continuar
correndo atrás do bonde, uma vez que já o pegou?" E ela: "Uma vez que você pegou o peixe, pode
jogar a isca fora."
"Nós não nos temos tocado há mais de dois anos, quase literalmente. Certamente temos tido
relações sexuais, mas, na verdade, dificilmente nos tocamos, pelo menos não intencionalmente." —
estas foram as palavras de uma esposa de pastor que veio a uma de nossas conferências.
Ela estava com cerca de cinqüenta anos, era um tanto atarracada, cabelos puxados para trás,
vestida de maneira simples, e parecia do tipo altamente organizado, uma administradora. Com a voz
começando a se embargar, ela continuou: "Eu não tenho sido muito do tipo afetivo, não que eu não
goste disso, mas meu marido e eu precisávamos trabalhar tanto para administrar as igrejas! Durante
vinte e três anos, pastoreamos principalmente igrejas pequenas. O senhor sabe como é isso. Faz-se
todo o trabalho: ensinar, cantar, organizar, visitar, servir de zeladora. Está sempre sobrecarregada,
sempre exausta.
"Quando meu marido não evidenciou nenhum desejo de demonstrar afeição, nenhuma
necessidade disso, presumi que ele fosse simplesmente desse tipo, e que essas coisas não o
interessassem — não fossem necessárias. Por isso, também não insisti, e, por assim dizer, fiquei fora
do caminho dele. Nunca me fora ensinado que essas coisas são importantes para um homem."
"Como é que o seu marido começou a se envolver com essa outra mulher?" — arrisquei.
"Bem, ela se ofereceu para fazer algum trabalho voluntário no escritório da igreja. Não a
conhecíamos bem, mas precisávamos da ajuda. Ficamos em dúvida, uma ou duas vezes, se devíamos
conservá-la, porque ela se vestia de maneira muito sensual. Mas meu marido achava que, visto que ela
era uma crente nova, ele poderia ajudá-la. Achei que ela não seria uma tentação para ele, pois ele não
se interessava por afeição."
A essa altura ela estava soluçando.
"E então, o que aconteceu?"
"Oh, como eu estava cega! Como estava errada! Ela fazia questão de estar no escritório dele,
dando, para isso, qualquer desculpa. Arreliava com ele, tocava-o, brincando, e, bem, algo foi
despertado nele, creio eu. Ele tornou-se outro homem. Foi então que me disse que não me amava mais,
e ia deixar o ministério e morar com ela. Era incrível."
Muitas mulheres também são famintas de afeição. A autora Evelyn Miller Berger lembra a
história familiar, mas jocosa, que ouvi anos atrás. Um casal estava viajando de carro por uma estrada
deserta, certa noite, e foi impedido de continuar, e assaltado. O assaltante lhes disse para entregarem o
dinheiro. "Mas eu não tenho dinheiro", protestou o homem, que estava dirigindo o carro. O bandido
ordenou que ele saísse do carro para ser revistado. De fato, ele não tinha dinheiro. Então o bandido
ordenou que a esposa saísse do carro. Quando ela foi revistada, ele verificou que também não tinha
dinheiro, e então ela recebeu ordens de entrar no carro de novo. E, ao entrar, ela disse: "Se você me
revistar outra vez, eu lhe faço um cheque."
ADMIRAÇÃO
Mark Twain disse: "Eu posso viver dois meses sustentado por um bom elogio." Para cada
comentário negativo que um pai ou mãe faz a uma criança, ele, ou ela, precisa fazer quatro
comentários positivos, para conservar o equilíbrio. Assim acontece no casamento. O louvor verbal
nutre o relacionamento. De acordo com o meu amigo Dr. Ed Wheat, "a consciência de sua própria
beleza, para uma esposa, depende grandemente do que o seu esposo pensa dela. Ela precisa ser nutrida
emocionalmente com louvor, e jamais deve ser diminuída pela crítica."8
A famosa autora Marabel Morgan pergunta: "O que leva o homem a ser responsável e a ter
sucesso em suas ambições? Que incentivo ajudará o homem a permanecer estável, fiel e amoroso para
com sua esposa e sua família? A admiração pode fazer com que o marido ande garbosamente outra
vez, devolverá o brilho aos seus olhos e a vibração ao seu coração. Ele terá novamente a ousadia de
sonhar e crer em suas capacidades, porque você lhe disse que acredita nelas."9
Que características devemos admirar? "Concentre-se nas virtudes dele", dizem Lou Beardsley e
Toni Spry: "No seu papel de marido e pai.
Na sua aparência e modo de vestir.
Nas suas capacidades mentais.
Na sua confiabilidade no trabalho.
Na sua força masculina.
No seu amor ao Senhor.
Na sua capacidade e coordenação atlética.
No seu senso de humor.
Na sua coragem.
Na sua ternura e capacidades sexuais.
Estas são apenas o começo. "10
Todo marido deve ler Provérbios 31 e Cântico dos Cânticos. Sublinhe cada qualidade,
capacidade e área de beleza mencionadas a respeito da esposa, nessas passagens. Aplique-as todas à
sua esposa, e faça a sua própria lista de admiração.
ATIVIDADES
Muitos casamentos naufragam nas rochas da infidelidade porque se tornam chatos. Tornam-se
cansativos. A rotina torna-se mortal. Ir para o trabalho, voltar para casa, assistir TV, ir para a cama —
semana após semana, monotonamente.
"Não fazemos juntos mais coisa alguma", é uma queixa comum das esposas. "Não saímos
juntos sem os filhos, não temos recreação nem vamos a concertos, nem temos interesses ou projetos
que compartilhemos, nem diversão."
"Meu marido e eu costumávamos sair, sem os filhos, três ou quatro vezes por semana, o que era
demais. Mas depois paramos, e não temos ido a lugar nenhum, o que também está errado."
O marido dessa mulher, convalescendo do "caso" que teve com uma moça no escritório,
concordou: "Eu acho que precisávamos passar mais tempo juntos — só nós dois — nos dedicando a
coisas como 'hobbies', projetos, etc."
Casamentos ótimos, ou potencialmente ótimos, sofrem, se forem negligenciados. Leia de novo a
famosa declaração de Benjamim Franklin: "Um pouco de negligência pode gerar muito prejuízo; pela
falta de um prego, perdeu-se a ferradura; pela falta da ferradura, perdeu-se o cavalo; pela falta do
cavalo, o cavaleiro perdeu-se, sendo vencido e morto pelo inimigo — tudo pela falta de um pouco de
cuidado com um prego da ferradura."
Nenhuma pessoa pode satisfazer todas as necessidades de outra. Algumas necessidades são
supridas pelos outros; outras, pelas nossas vocações; e ainda outras, somente por Deus. Esperar que o
cônjuge propicie o que apenas Deus pode propiciar, certamente acarretará desapontamento. Ninguém
pode tomar o lugar dele. E a paz, o contentamento e a força que ele propicia influenciarão todas as
outras áreas do nosso relacionamento matrimonial.
Porém, da mesma forma como nenhuma pessoa pode ocupar o lugar de Deus, Deus não ocupa o
lugar do cônjuge. Fomos criados para suprir as necessidades um do outro, as necessidades que
somente outra pessoa pode suprir. Um comovente poema da famosa poetisa Ella Wheeler Wilcox,
embora escrito há quase cem anos, narra, em cores vivas, a história dos dias atuais:"
CAPITULO 4
Mitos e Lendas Acerca do Casamento
Quando alguém espera, do casamento, algo que ele nunca pretendeu dar, está condenado a
sentir-se frustrado, desiludido e irado. Isto pode tornar-se uma desculpa para um "caso" ou pode ser
uma oportunidade para crescer.
MAIORIA das coisas em que grande parte de nós cria, quando chegou ao casamento, não é
verdade. Esses mitos e lendas têm atravessado muitas gerações, e, embora a experiência de todo
mundo o negue, ainda nos apegamos a eles tenazmente, como um homem que está se apegando a uma
corda que não está presa a lugar nenhum. Tenho conversado com pessoas que se divorciaram duas e
três vezes que ainda crêem e esperam que esses mitos venham a ser realidade para elas da próxima
vez.
O fato de crer nessas lendas cria expectativas conscientes e inconscientes, que condenam o
casamento desde o princípio e preparam os seus participantes para a infidelidade. Daí, então, eles se
tornam frustrados, enfraquecidos e vulneráveis.
As crenças determinam o comportamento. Você não pode crer errado e agir certo. Você não
pode pensar em doença e saúde; cultivar fracasso, e encontrar sucesso; crer em fábulas, e desfrutar da
realidade.
É triste dizê-lo, mas alguns desses mitos são perpetuados na igreja, na classe da Escola Bíblica
Dominical, no seminário. Não tenho nenhum desejo de perturbar a fé de ninguém. Pelo contrário,
quero que essa fé seja sincera, realista e verdadeiramente bíblica. Mas os crentes, por vezes, crêem em
coisas que não estão na Bíblia, por causa de um método errado de interpretação ou de uma esperança
infantil de que Deus assumirá as responsabilidades por eles.
Todos nós desejamos respostas prontas, soluções pré-fabricadas. Queremos que um mestre
autoritário nos diga em que pensar, e não como pensar. Que nos assegure que "tal maneira de crer",
"tal plano", "tal método", "tal abordagem" é a resposta para todos os problemas e a única verdade
bíblica. E é claro que achamos que só esses mestres têm essas verdades.
Consideremos quatro desses mitos religiosos.
CAPITULO 5
Não Me Induzas á Tentação
Se você está pensando, em seu íntimo:"Um 'caso' jamais poderia me acontecer", está em
dificuldades. Crer que somos imunes nos deixa completamente expostos e desprotegidos.
Ellen Williams
QUANDO você nasceu, casou-se — casou-se com uma companheira que palmilhará o caminho
da vida com você até o fim. Você jamais acordará qualquer manhã nem irá dormir qualquer noite sem
que essa companheira esteja bem ao seu lado. Essa companheira nunca o deixará por falta de sustento.
Você nunca a poderá processar, requerendo sustento separado. É impossível divorciar-se dela. Quer
você goste quer não, você e essa companheira estarão juntos até que a morte os separe. Tentação —
esta é a sua companheira vitalícia.
Todo mundo é tentado. A tentação não desconhece ninguém. Todo mundo é tentado, e sempre
será. Ninguém pode evadir-se dela ou evitá-la. É um fato inescapável da vida. Enquanto um homem
estiver vivo, será tentado. A tentação é como a poeira: cai sobre todo mundo. É como os germes que
carregamos conosco, que nos atacam quando a nossa resistência está fraca.
Nenhum isolamento das outras pessoas nos isolará da tentação. O monge, em seu mosteiro
recluso; o eremita, em sua caverna secreta; o prisioneiro, em sua cela solitária, todos conhecem a
tentação. Não há exceções. Não há isenções. A tentação é uma realidade universal, inevitável.
Se você tem uma mente por meio da qual pensa, será tentado através dessa mente. Se você tem
um corpo em que vive, será tentado através desse corpo. Se você tem uma natureza social, com que se
relaciona com os outros seres humanos, essa será uma avenida para a tentação. Se você é um ser
sexuado, terá tentações sexuais.
Certo autor, na revista Psychology Today, disse: "Todos os homens, desde o primeiro dia de seu
casamento em diante, pensam na sua possibilidade de serem infiéis. Não, necessariamente, que eles
planejem fazer algo nesse sentido, mas a possibilidade é uma coisa consciente em suas mentes." Se o
autor quis dizer que todas as pessoas, homens e mulheres, enfrentam verdadeira tentação sexual, está
absolutamente certo. De fato, se uma pessoa pensa, erradamente, que é isenta da tentação, já está
sendo vulnerável, e Satanás já está passando graxa no escorregador para ela.
"Ninguém, ao ser tentado, deve dizer: 'É Deus que me está tentando', pois Deus não pode ser
tentado pelo mal e a ninguém tenta. Antes, cada qual é tentado pela própria concupiscência, que o
arrasta e seduz. Em seguida, a concupiscência, tendo concebido, dá à luz o pecado, e o pecado,
atingindo a maturidade, gera a morte."1
O Autor da Tentação. Durante a sedução da tentação, é fácil racionalizar, e culpar Deus de ser o
seu autor. Não, conforme Tiago diz, Deus não tenta ninguém. Fazê-lo, seria completamente contrário à
sua natureza, aos seus objetivos e à sua Palavra.
Quem tentou Adão e Eva, no jardim do Éden? Quem tentou Jesus durante quarenta dias no
deserto? Satanás, o Diabo, que é chamado de tentador, a velha serpente, e é nosso grande inimigo. Ele
anda em derredor, rugindo como leão, procurando a quem possa tragar.2 E ele tem um padrão de
tremendo sucesso — que teve êxito, até certo ponto, com todos os membros da raça humana.
A Natureza da Tentação. Note bem isto: tentação não é pecado. Nunca poderia ser. A Bíblia diz:
"Jesus foi tentado em tudo, mas sem pecado."3 Costumávamos cantar, muitos anos atrás, este hino, na
Escola Bíblica Dominical: "Tentado, não cedas; ceder é pecar." A tentação não é pecado.
A nossa reação, a nossa resposta, determina se pecamos ou não. De fato, a tentação, em si
própria, é uma das coisas mais fracas do mundo. Sozinha, ela é totalmente impotente. Para ter êxito, a
tentação sempre necessita de um parceiro — alguém para concordar com ela, para dançar com ela,
para abrir a porta para ela, para dar-lhe as boas-vindas.
Você não pode impedir as tentações de virem, mas pode decidir o que vai fazer com cada uma
delas.
Você não pode impedir os pássaros de voarem sobre a sua cabeça, mas pode impedi-los de
fazerem ninho em seus cabelos.
Você não pode impedir o Diabo de cantar em seus ouvidos as suas cantilenas de encantamento,
mas não precisa juntar-se a ele e cantar um dueto.
Você não pode impedir o Diabo de expor suas mercadorias na vitrine, instando para que você as
compre, mas você não tem de comprá-las.
Você não pode impedir o Diabo de colocar os seus fedelhos à sua porta, e de bater
incessantemente. Mas você não precisa abrir a porta, pô-los para dentro, aquecê-los, vesti-los e
alimentá-los.
Quando uma garota se aproximou de mim, no vestíbulo de um hotel, e, sorrindo, perguntou:
"Você gostaria de se divertir um pouco esta noite?" era apenas uma tentação. Ser induzido à
infidelidade não é pecar. Aquiescer com ela é que faz a diferença.
A Tentação É Sempre Para Pecar... "E origina o pecado'', adverte Tiago. Pecado é o objetivo
da tentação. Embora toda tentação seja aparentemente inocente, o único propósito do Diabo é levar
você a pecar. Não apenas impedir um pouquinho o seu progresso, colocar alguns obstáculos em seu
caminho, mas assisti-lo como uma parteira, e ajudá-lo a dar à luz... o pecado.
O objetivo do Diabo não é ter um mundo cheio de bêbados, prostitutas e toxicômanos. Essas
pessoas não constituem uma propaganda para ele. Mas o pecado, seja em que nível social for e com
que sofisticação, opõe-se ao maravilhoso plano de Deus para a sua vida, e neste objetivo sinistro e
destruidor o Diabo está totalmente empenhado.
A Tentação Apela Para os Seus Desejos Humanos. Para as necessidades que você tem, e que
foram criadas por Deus. Todas elas não são malignas. "...A tentação do homem deriva dum impulso
dos seus próprios desejos... " O apelo da tentação é sempre satisfazer uma necessidade legítima de
maneira errada ou na hora errada. O desejo intrínseco, por si mesmo, é bom, querer satisfazê-lo é bom,
mas quando e como é satisfeito faz a diferença. O bem ou o mal estão na maneira como essas
necessidades são satisfeitas.
O desejo de ter amigos, amor, ser apreciado, ter sucesso, aceitação, intimidade, são todos bons.
Satisfazê-los mediante desonestidade, manipulação, egoísmo e violação da verdade de Deus nos leva
ao pecado.
Acontece exatamente assim com o sexo. Toda pessoa é um ser sexuado, com desejos sexuais,
atrações sexuais e sentimentos sexuais. Tudo isto foi idéia de Deus. Não há nem nunca poderia haver
nada de errado com o sexo. Por ser a sexualidade um dom de Deus, não pode haver erro, defeito ou
mal nela. Mas o homem, historicamente, tem prostituído os dons de Deus, e os tem usado para a sua
vantagem egoística e detrimento.
Satanás é astuto. Ele sabe que, como crentes, temos bom gosto e boas motivações. Ele não nos
tenta com coisas baratas ou com o pecado impudente, pois isso não apelaria à nossa natureza
espiritual. Pelo contrário, ele pega sutilmente algum dos melhores dons de Deus, como intimidade e
unidade de espírito, e injeta, nesse dom, algumas qualidades que não são agradáveis a Deus. Ele
distorce as nossas prioridades e nos tenta a usar as coisas boas de Deus no lugar ou na hora errada.
Desta forma, a atração sexual pode tornar-se um problema num relacionamento amoroso
perfeitamente apropriado.4
A Tentação Apela Para o Ponto Mais Fraco de Sua Vida. Todos nós temos uma fraqueza
especial. Como estrategista arguto, o Diabo reúne as suas forças mais poderosas no ponto mais fraco
da batalha. As nossas diferenças de temperamento, personalidade, fraquezas herdadas nos levam a
reagir peculiarmente a diferentes tipos de tentação. Pedro teve a sua tentação especial, e, certamente,
Tome também, Tiago e João lutaram com suas fraquezas características.
Uma pessoa luta o dia inteiro com a tentação de roubar. Outra preferiria morrer a roubar. Onde
uma pessoa é fraca, outra é forte. Uma, luta contra a tentação de mentir. Uma jovem disse-me, depois
do culto em que eu pregara na capela de certa universidade: "Sr. Petersen, eu sou uma mentirosa.
Minto o tempo todo — sempre menti. Provavelmente, hoje já menti cinqüenta vezes. Minto até
quando não preciso. Minto quando isso não me faz nenhum bem. Mas minto sempre. E, por falar
nisso, estou me preparando para ser missionária." Antes de tornar-se missionária, ela precisa entregar-
se a Cristo, que disse: "Eu sou a verdade." Outra pessoa é muito tentada à inveja, violentamente levada
ao ciúme, quando outros têm sucesso ou adquirem posição, proeminência ou prestígio. Já outra não se
importa. Uma pessoa é gananciosa, ávida. Outras têm o problema oposto. Esbanjam tudo o que
ganham. Algumas lutam com a arrogância e o orgulho, enquanto outras lutam com o complexo de
inferioridade e a passividade. O sexo é um problema mais difícil para uns do que para outros. É que
eles são mais sensuais — suas necessidades emocionais são maiores. A tentação para um "caso"
extraconjugal pode constituir uma grande batalha para eles, maior do que para os do tipo mais
conservador.
A Tentação Começa na Mente. O órgão sexual mais importante é a mente. Um "caso" começa
na mente, muito antes de terminar na cama. A relação clandestina começou como um pensamento
inocente no recesso secreto da mente de alguém. O pensamento é a fonte da ação. O corpo é o servo da
mente. O pensamento determina o caráter. O nosso caráter é moldado na forma de nossa concentração.
A mente é um jardim que pode ser cultivado, para produzir a colheita que desejarmos.
A mente é uma oficina, em que são feitas as decisões importantes para a vida e a eternidade.
A mente é uma fábrica de armas, onde forjamos as armas de nossa vitória ou de nossa
destruição.
A mente é um campo de batalha, em que todas as batalhas decisivas da vida são ganhas ou
perdidas.
Os comunistas aprenderam, através do sucesso de sua lavagem cerebral, que, se puderem
converter e controlar os pensamentos das pessoas, podem reformar o seu caráter e escravizá-las. Eles
crêem, como disse Emerson: "A chave de todo homem é o seu pensamento." Os pensamentos
governam o mundo. Os bons pensamentos nunca produzem maus resultados, nem os maus
pensamentos, bons resultados. Jesus disse: "Conhece-se a árvore por seus frutos."
Napoleon Hill cristalizou o que julgo ser o conceito mais importante e surpreendente a respeito
da mente: "A única coisa sobre que todas as pessoas têm controle completo, indisputado, é a sua mente
— O.Í seus pensamentos." Você não tem controle sobre as suas circunstâncias ou a sua natureza; você
não pode controlar a hereditariedade ou o ambiente; você não pode controlar a sua condição física ou
capacidade mental; nem outras pessoas, amigos ou inimigos, o passado ou o futuro. Há uma única
coisa que você pode controla.-: você tem o poder de moldar os seus pensamentos e adequá-los a
qualquer padrão de sua escolha. "Como ele pensa consigo mesmo, assim é."5
Pensamento do Mal ou Mau Pensamento. Qual é a diferença entre estes dois? Suponhamos que
eu leia um livro ou revista ou assista a um programa de TV. Algo que vejo — uma propaganda, um
parágrafo, um desenho — faz com que um pensamento do mal relampeje pela minha mente. Isso é
pecado? Não. Dirigindo pela rua, o que vejo em uma propaganda ou ouço no rádio do carro faz com
que uma sugestão do mal invada a minha mente. Isso é pecado? Não. Ou, enquanto estou trabalhando
na fábrica, no refeitório do escritório, no clube, ouço piadas sujas, anedotas picantes, o relato de
aventuras sexuais. É pecado ouvi-las? Claro que não.
Ou então me encontro na igreja e deparo com uma mulher que é radiante, charmosa, vibrante.
Embora não haja flerte, ela tem uma personalidade radiante. Conserva-se em forma, veste-se bem e
dispõe de uma amabilidade cristã extrovertida, que a torna muito atraente. Um pensamento esvoaça
pela minha mente de que essa pessoa é uma beleza, é mui talentosa e que é sexualmente atraente para
qualquer homem que tenha sangue nas veias. Há algo de errado com isso? Não! Não é pecado ouvir as
centenas de sugestões passageiras e tentadoras que batem à porta de minha mente todo dia, a vida
inteira. Para o super-sensível, o Diabo cochicha: "Há algo de errado em você. Se você fosse um bom
crente, Deus estaria cuidando de você, e você não teria esses pensamentos. Ê tarde demais; você já
pecou." Você pode reconhecer as mentiras do Diabo, porque são sempre negativas e levam a um
sentimento irremediável de culpa e à autocondenação.
Mas quando esse pensamento passageiro do mal é aceito, recebe acolhida e é acariciado
demoradamente, com o consentimento de sua vontade, torna-se um mau pensamento. Se eu abrir a
porta, convidar amavelmente o visitante para entrar, der-lhe uma cadeira confortável para descansar e
encorajar conversa adicional, o estranho se torna meu amigo. Este amigo agora me ajuda a formar um
quadro — simples a princípio, mas por fim com detalhes e a cores vivas — de tudo o que essa
amizade pode significar para mim c das necessidades que serão supridas por ela.
Esse quadro é uma fantasia, e as fantasias são os aprestos para a ação desejada. Uma "transa" é
experimentada muitas vezes na fantasia, antes da hora e do lugar do primeiro encontro serem
estabelecidos.
Alguém perguntará: "Quando Jesus falou a respeito de concupiscência ou adultério mental, ele
estava falando apenas de pensamentos do mal ou de maus pensamentos?" Verifiquemos
cuidadosamente as suas palavras em Mateus 5:28: "Eu, porém, vos digo que todo aquele que olhar
para uma mulher para a cobiçar, já em seu coração cometeu adultério com ela."
Em seu vibrante livro Love and Marriage, o Dr. David Hocking torna este princípio
meridianamente claro:
Primeiro, a palavra olhar está no presente, no grego, indicando um hábito vivencial contínuo.
Não cremos que esteja dizendo que olhar com desejo sexual em um dado momento é errado. Deus nos
fez com desejo sexual. Os homens gostam de olhar para as mulheres, e as mulheres gostam de olhar
para os homens. Cremos que esta passagem está condenando a prática de centralizar a sua atenção
em uma dada pessoa, com a motivação de cometer adultério com ela.
Em segundo lugar, a palavra "mulher" está no singular, quanto ao número, e não no plural. O
texto não está condenando o ato de se olhar para mulheres em geral, mas a concentração em uma
mulher em particular. Uma pessoa determinada começa a dominar os nossos desejos.
Em terceiro lugar, as palavras "para a cobiçar" têm referência óbvia à perpetração do
adultério. Isto não é a mesma coisa que experimentar o desejo de olhar para a aparência física de
uma mulher e gostar do que se viu. O problema acontece quando você se concentra em uma pessoa
em particular e mentalmente vai para a cama com ela.6
Este é o mau pensamento, a fantasia, "concentrar-se em uma dada pessoa, e planejar
mentalmente ir para a cama com ela".
Neste ponto, a mente começa a fazer duas coisas. A sua parte subconsciente não faz diferença
entre bem e mal, e apenas reage às sugestões e figuras que lhe são ministrados, audivelmente ou na
imaginação. As sugestões vêm da conversa com nós mesmos que todos praticamos, não percebendo,
muitas vezes, o seu tremendo poder 3 influência. Todas as pessoas conversam consigo mesmas o
tempo todo, reagindo inconscientemente a todas as situações, analisando, julgando, recordando,
expressando as suas crenças, temores ou desejos. O psicólogo Dr. David Stoop fez um estudo sobre
nossa conversa com nós mesmos e observa: "Geralmente, em voz alta, dizemos a média de 150 a 200
palavras por minuto. Algumas pesquisas sugerem que falamos com nós mesmos, em nossos
pensamentos, a média de, aproximadamente, 1.300 palavras por minuto. Visto que muitos de nossos
pensamentos tomam a forma de imagens ou conceitos mentais, podemos pensar, em uma fração de
segundo, em algo que nos tomaria vários minutos de discurso verbal para descrever."7
A medida que se desenvolve a fantasia a respeito da possibilidade de uma relação extraconjugal,
a nossa mente afirma e incentiva essa fantasia, mediante o que dizemos para nós mesmos e as imagens
criadas. "Isso seria gostoso... eu preciso disso... a vida tem sido enfadonha... ela é algo mais... as
maçãs roubadas são mais doces... Não estou pensando em nada de errado." E assim por diante, à
velocidade de 1.300 palavras por minuto. Centenas de imagens alimentam a fantasia. Se repetirmos
qualquer delas audivelmente para nós mesmos, essa auto-sugestão cauteriza a imagem ainda mais
profundamente, e o nosso subconsciente tomará providências para que isso aconteça.
Motivadores de sucesso há muito têm reconhecido a veracidade deste princípio. O primeiro
passo para o sucesso, dizem eles, é decidir exatamente o que você deseja realizar e quando. Identifique
claramente o seu objetivo, o seu alvo. Escreva isto, de forma que você possa vê-lo. Faça um desenho.
Repita o alvo audivelmente todos os dias, talvez cinqüenta vezes de manhã e cinqüenta vezes de noite.
Em seguida, faça um livro de recortes. Encontre figuras coloridas, de revistas, que se relacionem com
o seu alvo, ou o que você possuirá, quando o alcançar: casa nova, carro, roupas de tamanho menor,
férias, etc. E, ao estudar as figuras, comece a falar consigo mesmo positivamente. Você criará uma
imagem forte e clara em sua mente; as emoções apropriadas se seguirão, e o seu objetivo será
realizado.
Assim, as nossas mentes alimentam a fantasia, a fantasia cria as emoções, e as emoções clamam
pela experiência propriamente dita. Ê por isso que, quando uma pessoa está emocionalmente decidida
a ter um "caso", toda a verdade e toda a lógica do mundo não parecem intimidá-la. Em uma disputa
entre emoção e verdade, a emoção geralmente vence.
Outra coisa que a nossa mente faz é nos enganar. A nossa mente nos ajuda a encontrar o que
esperamos encontrar, quer isso esteja ou não presente. Temos um modo esquisito de encontrar aquilo
que estamos procurando. Se estamos cultivando uma "transa" extraconjugal, uma fantasia, a nossa
mente aparecerá com todo tipo de idéias acerca de como isso poderá ser feito, onde e quais serão os
resultados positivos.
A nossa mente também nos ajuda a racionalizar, isto é, a encontrar boas razões para justificar
qualquer coisa que façamos. Elaboramos um belo rosário de razões para justificar as nossas ações,
embora possamos estar ferindo outras pessoas, no processo. Sob a nobre bandeira de sermos sinceros
para com nós mesmos, enganamos o nosso cônjuge. A nossa mente não é um instrumento que detecta
a verdade, mas corteja o nosso "ego" e nos protege de ouvir coisas que não queremos ouvir. Não é de
se admirar que Paulo tenha falado a respeito da necessidade de uma transformação resultante de uma
"renovação da vossa mente".8
Quando uma fantasia extraconjugal é nutrida e alcançou este ponto, há vários efeitos colaterais,
que fazem o casamento desmoronar ainda mais.
CAPÍTULO 6
Aconteceu - e Agora?
Muitos maridos e esposas pensam que é mais fácil promover a separação do que consertar o
casamento. Só quando já é tarde demais é que eles percebem que escolheram o caminho mais fácil,
mas não o mais sábio.
Um HOMEM de meia-idade e sua esposa estavam de pé na lama e água, olhando tristemente
para as ruínas e os escombros de sua casa e de tudo o que possuíam. Eram vítimas de um furacão. A
sua bela casa de praia, no Texas, outrora uma propriedade invejável, agora não passava de uma
grotesca pilha de pedras, madeira, eletrodomésticos, móveis, comida e roupa — tudo ensopado de
água salgada. As sirenes que advertiam da tempestade haviam soado, dando o seu aviso, mas eles
pensavam que estavam em segurança. Não haviam suportado outros vendavais igualmente severos? E
este não seria diferente. As ondas retumbantes, que outrora faziam parte do panorama que se via da
porta de frente, agora haviam destruído a casa.
Ao olharem, pasmos, para aqueles destroços chocantes, interrogações que nunca haviam feito
antes turbilhonavam em suas mentes: "Será que devemos chamar a Cruz Vermelha? O lixeiro? O
Exército de Salvação? Será que há algo que possa ser salvo ou compense o esforço? Devemos
construir aqui novamente? Temos condições financeiras para tanto? É seguro? Ou devemos abandonar
isto para sempre?"
Estas são perguntas muito parecidas com as que são feitas sempre que um "caso" extraconjugal
é descoberto e a realidade dele nos atinge como uma onda de maremoto. Podemos construir o nosso
casamento de novo? Será que quero isso? Há algo nele que possa ser salvo ainda? Se há, como fazê-
lo? Por onde começar? Posso confiar mais uma vez, visto que fui traído? Certa mulher expressou a sua
reação inicial de desespero, quando descobriu a infidelidade de seu marido. "Tudo chegou a um fim
abrupto. Sinto-me como se tivessem me pisoteado, e estou entorpecida de dor. É tudo tão sem
esperança! Õ Deus, ajuda-me! Ajuda-me!"
A sua reação inicial e as seguintes, diante do "caso" de seu cônjuge, determinarão, em grande
medida, quais serão os resultados finais, em termos de dor e de progresso. A infidelidade pode ser o
fato, mas o que você sente a respeito desse fato e a sua reação em relação a ele é que formam o x do
problema. Algumas reações são maduras, mas não fortes. Outras são totalmente improdutivas desde o
começo, especialmente do ponto de vista do casamento e da família. Algumas reações aumentam o
problema, já sério. Vamos discutir cinco das reações negativas mais comuns, antes de acentuar o lado
positivo. As tendências humanas naturais, numa situação de tanta tensão, são: ficar paralisado,
autojustificar-se, dar-se por vencido, lutar e forçar.
FICAR PARALISADO
Esta reação torna a pessoa imóvel por causa da recusa — a recusa de ver e admitir o que as
evidências indicam e o coração confirma. Quando alguém está se envolvendo em uma "transa", há
sempre sinais, sinais definidos que mostram que as coisas não estão como estavam antes. Não é
simplesmente a questão de encontrar um bilhetinho de amor esquecido num bolso, ou manchas de
batom no colarinho. Há mudanças sutis de personalidade, na atenção, quanto à franqueza e respeito à
linguagem corporal.
Para muitas pessoas, o próprio pensamento de o seu cônjuge estar tendo um "caso" torna-as
paralisadas, levando-as a negar o fato e a nada fazerem. As evidências podem estar por toda parte,
porém, elas não querem acreditar. Se o marido chegou em casa com manchas de batom no colarinho,
elas dirão que provavelmente ele estava andando debaixo de uma escada e pingou tinta na camisa.
Sally era assim. Ela me disse: "Eu não parava de dizer a mim mesma que eu estava imaginando tudo
aquilo. Não estava acontecendo — não acontece — não vai acontecer. Estou fazendo uma tempestade
em um copo d'água." Ela levou mais de um ano para reunir coragem para fazer ao marido uma
pergunta a esse respeito.
Nesse ínterim, o seu marido infiel estava fazendo tudo o que podia para ser descoberto, de
forma que ela pudesse saber de tudo e ajudá-lo a enfrentar o problema. Era um grito, pedindo ajuda.
Ele chegou ao ponto de dizer, à mesa do café, depois de ter estado fora a noite toda: "Caí no sono na
casa dela, e acabei passando a noite lá." Ainda assim não se fizeram perguntas, não houve
confrontação. Sally estava enterrando a cabeça em um travesseiro de fantasia, achando, de alguma
forma, que pensar no problema poderia acentuá-lo — que a coisa que ela temia pudesse lhe sobrevir.
Certa amante questionou em voz alta, duvidando que esse tipo de esposa fosse a parte inocente:
"Perguntei ao meu amante se a esposa dele está sabendo de nosso relacionamento, indagando: 'Ela
sabe?'
'"Ela não quer saber'" — respondeu ele. '"Ela nunca o pergunta. Se perguntasse, eu lho diria.'"
A mulher continuou: "Em casos como este, não há partes inocentes. Somente seres humanos,
que não fazem perguntas porque não querem saber as respostas."
Linda Wolfe, que escreveu muito a respeito de infidelidade conjugal, o diz claramente: "Essa
recusa em reconhecer o problema é um artifício psicológico que permite que uma mulher finja para si
mesma que o marido dela é perfeitamente fiel, mesmo quando ele se esforça para apresentar-lhe
evidências de sua infidelidade. Em um caso típico, a mulher que se recusa a reconhecer esse problema
tenta apegar-se ao seu casamento, mesmo quando ele não é mais nada além de uma farsa."1
A recusa em reconhecer o problema é um mecanismo de escape baseado em medo, falsa
esperança e falta de confiança em Deus. Há um medo de incapacidade para enfrentar a crise, um
complexo de não se ter recursos para enfrentá-la, de não se saber para onde se voltar, nessa confusão.
É assim que sentimentos de desamparo, solidão e desespero o inundam, e você não consegue enfrentar
as exigências da situação difícil. "Não me posso permitir crer nisso, pois não saberia o que fazer, se
fosse verdade." Pensamentos de suicídio são comuns nessas circunstâncias. Sally, que mencionei
acima, disse-me como, durante o período em que ela estava recusando-se a reconhecer o problema,
esforçou-se ao máximo, ficando exasperada dia e noite — tendo algumas noites somente três horas de
sono — procurando tirar esse pensamento da cabeça. No limiar de um esgotamento nervoso, ela
começou a tomar doses exageradas de comprimidos para dormir, para não ser obrigada a enfrentar o
problema, pensando: "A única solução é não sentir nada."
O caso de Sally pode parecer extremo, mas qualquer espécie de recusa em reconhecer o
problema só o estimula e agrava. Essa recusa produz várias coisas desastrosas:
Você começa inconscientemente a encobrir as faltas de seu cônjuge, dar desculpas para os seus
atos, culpar-se pelo procedimento dele. Você torna-se parte do problema, e não da solução. Quando os
seus filhos ou seus pais comentam ou perguntam algo, você se apressa a fingir, apresentar um álibi,
tirar as desconfianças da cabeça deles. "Ele tem trabalhado muito... ultimamente não tem dormido
bem... etc, etc."
Sem querer, você estimula a infidelidade. Nesse caso, o tempo não cura, só proporciona, ao
infrator, maior oportunidade. A recusa em reconhecer o problema, exercida passivamente, dá ao
"caso" a oportunidade de se aprofundar, até o ponto em que seja impossível a recuperação, e o
casamento esteja condenado.
Você prolonga o castigo e impede Deus de dar soluções de maneira ativa. Até o próprio Deus
fica limitado, se ninguém admite a verdade. Deus não opera de maneira estranha, etérea, na atmosfera
que cerca o problema. Ele opera nas pessoas e através delas — através de alguém que toma a
iniciativa, confronta, perdoa, sana.
Parece ao seu cônjuge que você não o ama. Ficar paralisado em uma posição de inatividade
também dá a entender ao cônjuge que está se desencaminhando que você não se importa com ele, que
o seu amor é fraco, está baseado nas conveniências. O amor forte diz: "Não quero que você continue a
ferir-se e ferindo os outros, perdendo de vista o que Deus espera de você."
Em uma história verdadeira, a respeito de um casal anônimo, Ellen Williams descreve
vivamente a luta de uma mulher com o seu marido pastor. "Duas vezes, nos meses que se seguiram, eu
lhe perguntei, deitada ao lado dele, em nossa cama, tensa e tremendo, reunindo toda a minha coragem:
'Há outra mulher?'
"'Não!' disse ele com raiva na voz, dando-me a única resposta que eu desejava ouvir. Eu me
enrolei agarrada às costas dele, desse homem que eu conhecia tão bem, esse homem com quem me
casara vinte e sete anos antes, e dormimos ambos, sabendo que ele me havia mentido. Eu o percebera
em sua voz, o sentira em seu corpo. Fiz a única coisa que sabia fazer, quando uma coisa é terrível
demais para se enfrentar. Voltei as costas ao problema. Se eu o encarasse, quem sabe, ele se
desvaneceria."2
AUTOJUSTIFICAR-SE
Muitos cônjuges traídos sentem fogo por dentro; eles ardem de autocompaixão e justiça própria.
Há também hostilidade e humilhação, mas isso se expressa em um "Veja o que ele me fez!" Ao
descobrir o "caso" de seu marido, Lorna explicou, numa atitude de choque e descrença: "Depois de
tudo o que fiz por ele, este é o agradecimento que recebo! Dei-lhe os melhores anos de minha vida.
Fui a mãe dos filhos dele. Mantive a casa limpa para ele. Fiz a comida dele. Tinha uma camisa limpa
para ele todas as manhãs. Fiquei ao lado dele nas horas difíceis, e agora não sou suficientemente boa
para ele. Essa é a gratidão que recebo." E ela poderia, provavelmente, ter desfiado um rosário de
dezenas de outras coisas boas que havia feito por ele. Ela possuía uma personalidade muito ordenada e
tinha a tendência de tomar as rédeas e dirigir as atividades da família e as tarefas diárias com um rigor
de sargento. Ela freqüentemente dava ordens em voz estridente, em vez de pedir ajuda. A idéia que
tinha de um tempo divertido era quando se "fazia algo construtivo", como reformar completamente o
jardim ou fazer seis pares de cortinas em uma noite.
Lorna era uma boa mulher, mas o seu senso de valores estava inteiramente envolvido com o que
ela conseguia realizar. Presumia que essas realizações também edificariam o seu relacionamento
conjugal, e, quando não o fizeram, ela sentiu-se ofendida e deprimida, e censurou severamente o seu
esposo, que não dava valor àquelas coisas.
O meu amigo Bob estava não apenas saindo-se muito bem em seu negócio de vendas de
automóveis, mas tinha também a imagem que o ajudava naquilo. Ele gostava de roupas finas, bons
carros, uma piscina e tudo o mais. O interior de sua casa era imaculado, de fino acabamento, e sempre
parecia como se jamais alguém tivesse morado ali. Eu o visitei muitas vezes. Quando ele descobriu o
"caso" da esposa, ficou perplexo. E exclamou, incrédulo: "Dei a ela tudo o que queria: roupas, carro,
dinheiro — redecorei a casa, comprei móveis novos. Agora ela arruinou a minha reputação,
aproveitando-se de mim. Acho que é verdade que é impossível entender ou agradar uma mulher."
Amor-próprio
O orgulho ferido está intimamente relacionado com o amor-próprio de uma pessoa e a imagem
que ela faz de si própria. O fato de que o seu cônjuge encontrou alguém mais atraente abala esse amor-
próprio. Sobrevém um sentimento de incapacidade, e até de desamor a si mesmo. Uma esposa
exclamou: "Comecei a sentir-me feia, horrível, e ficava diante do espelho, examinando-me, para ver o
que havia de errado que me fazia tão indesejável." Evelyn Miller Berger fala de outra esposa, que
ficou sabendo que a sua negligência, permitindo-se engordar além da conta, encorajara o marido a
iniciar um relacionamento extraconjugal, e que a auto-aversão que se seguiu quase a destruiu. "Meu
marido se queixava de eu ser gorda. Ele perguntava-me como eu podia esperar que ele se sentisse
sexualmente excitado quando o meu corpo parecia um colchão volumoso. Tentei reduzir o peso, mas
as suas críticas me levaram a desejar comer mais — uma espécie de consolo. Mas acho que a essa
altura já estava zangada por ele me culpar, e pensava: 'Bem, se você não gosta disso, eu vou mostrar-
lhe que posso comer até ficar tão gorda quanto quiser!' Depois percebi que estava inequivocamente
feia — gorda — e me odiei por isso."3
Uma esposa traída sentiu que a sua reputação estava destruída: "Senti que não tinha mais
coragem de sair de casa. O que pensariam agora os meus vizinhos, os meus amigos, o povo da igreja?
Todos vão chegar à conclusão de que não consegui prender meu marido. Não é justo", queixou-se ela.
"Como ele espera que eu pareça fascinante, quando tenho filhos e casa para cuidar?"
Perfeccionismo
A reação de um mártir do orgulho é geralmente a reação predominante de um perfeccionista,
quando o cônjuge é infiel. O perfeccionista é um indivíduo amedrontado, competitivo, que sempre
deseja vencer, dominar e controlar as pessoas que o rodeiam. Muitas vezes ele é um detectador de
falhas crônico, e nada é suficientemente bom para ele. Como crente, ele é legalista. Gosta de regras,
rituais e padrões, e não consegue viver espontaneamente. Tendo medo de intimidade, ele faz de seu
casamento mais um contrato comerciai do que um caso de amor sem peias. O sexo torna-se uma
obrigação superficial. Há pouco divertimento, pouco riso.
Tendo um marido brincalhão e galanteador, uma esposa costumava dizer: "George, para com
isso. Não somos mais crianças." Por fim, ele encontrou uma pessoa que gostava de suas piscadelas e
carícias. E a esposa ficou horrorizada. Ao aconselhá-la, minha esposa perguntou-lhe: "Com que
freqüência você tinha sexo com seu marido?"
Ela ficou um pouco embaraçada, e respondeu pensativamente: "Acho que a última vez foi por
ocasião do aniversário dele... sim... eu lhe dei sexo no seu aniversário."
Um presente anual. Quando minha esposa me contou isso, eu disse: Ainda bem que ele não
nasceu no dia 29 de fevereiro, em um ano bissexto.
Ela desempenhou bem o seu papel de mártir e gostou dele. Além disso, pensava que era uma
crente bem doutrinada, avançada, e tinha sérias dúvidas de que o marido fosse crente. Desta forma, no
conceito dela, o "caso" dele e o divórcio subseqüente faziam parte do fato de ela ser "perseguida por
causa da justiça". Claro que essas coisas não tinham nada a ver com isso, mas para suscitar simpatia,
foi isso o que ela anunciou a todos. Ela ainda acha que a solidão que sofre é o preço que está pagando
por ser correta, e isto só aumenta o isolamento em que ela vive.
Os Maltratados
Algumas mulheres dão-se por vencidas por causa de violência e maus-tratos. Uma amiga
graciosa, bem-educada e talentosa que encontrei na igreja, Noemi, ficava paralisada por medo de
violência corporal. "Se eu enfrentasse o meu marido com o seu engano e infidelidade", disse-me ela,
"estou certa de que nada o impediria de fazer com que eu e as crianças pagassem caro." Eu o vi. Ele
era um homem grande e de mau gênio — um touro. A despeito de todas as minhas recomendações
para ajudá-la a desenvolver uma estratégia de ação, Noemi não o conseguiu. Ele a havia petrificado.
Os Culpados
A culpa também paralisa, provavelmente mais do que qualquer outra reação. Muitas vezes o
cônjuge rejeitado olha para dentro de si mesmo e aceita toda a culpa pela confusão sórdida em que o
seu lar entrou. Esta introspecção não é o questionamento sadio que pergunta se a pessoa contribuiu de
qualquer forma para a situação, e reconhece, e aprende de qualquer falha. Pelo contrário, é a procura
de um bode expiatório, alguém em quem colocar toda a culpa. E, por causa de suas próprias
inseguranças, esse cônjuge assume toda a responsabilidade. Como costumava dizer o comercial da
televisão: "Comi tudo." Isto não é nem verdadeiro nem útil.
A esposa rejeitada muitas vezes recapitula todas as coisas que ela poderia ter feito de maneira
diferente, e se detém nos seus erros passados — alguns reais e outros imaginários. Quanto mais analisa
o seu passado, mais razões encontra para a sua situação. O seu senso de valor próprio vai a zero; o seu
sentimento de culpa se multiplica — falsa culpa, em grande parte. O Diabo impedirá certas pessoas de
até fazerem um inventário honesto da situação; outras, ele lança por sobre a amurada e as afoga em
autocondenação falsa misericórdia entre lágrimas. Exatamente como uma escrava. A sua dependência
a degradava, e, na verdade, ela se odiava por isso. "Eu me odeio", disse ela, "por ser tão imatura a
ponto de me apoiar em todo mundo tão fortemente que fico completamente perdida quando sou
deixada por minha conta." A situação mudou tremendamente quando ela experimentou uma conversão
a Cristo e, através de seu poder, que lhe infundiu nova vida, começou a exercer ações positivas.
Os Maltratados
Algumas mulheres dão-se por vencidas por causa de violência e maus-tratos. Uma amiga
graciosa, bem-educada e talentosa que encontrei na igreja, Noemi, ficava paralisada por medo de
violência corporal. "Se eu enfrentasse o meu marido com o seu engano e infidelidade", disse-me ela,
"estou certa de que nada o impediria de fazer com que eu e as crianças pagassem caro." Eu o vi. Ele
era um homem grande e de mau gênio — um touro. A despeito de todas as minhas recomendações
para ajudá-la a desenvolver uma estratégia de ação, Noemi não o conseguiu. Ele a havia petrificado.
Os Culpados
A culpa também paralisa, provavelmente mais do que qualquer outra reação. Muitas vezes o
cônjuge rejeitado olha para dentro de si mesmo e aceita toda a culpa pela confusão sórdida em que o
seu lar entrou. Esta introspecção não é o questionamento sadio que pergunta se a pessoa contribuiu de
qualquer forma para a situação, e reconhece, e aprende de qualquer falha. Pelo contrário, é a procura
de um bode expiatório, alguém em quem colocar toda a culpa. E, por causa de suas próprias
inseguranças, esse cônjuge assume toda a responsabilidade. Como costumava dizer o comercial da
televisão: "Comi tudo." Isto não é nem verdadeiro nem útil.
A esposa rejeitada muitas vezes recapitula todas as coisas que ela poderia ter feito de maneira
diferente, e se detém nos seus erros passados — alguns reais e outros imaginários. Quanto mais analisa
o seu passado, mais razões encontra para a sua situação. O seu senso de valor próprio vai a zero; o seu
sentimento de culpa se multiplica — falsa culpa, em grande parte. O Diabo impedirá certas pessoas de
até fazerem um inventário honesto da situação; outras, ele lança por sobre a amurada e as afoga em
autocondenação falsa.
Certa esposa escreveu para um conselheiro de uma revista evangélica: "Meu marido disse-me
que ama outra mulher. A princípio fiquei zangada, mas agora acho que tudo foi por minha culpa. Acho
que, como crente, eu devia ter feito mais para salvar o meu casamento. Não contribuí com o suficiente.
Não amei o suficiente. Sinto-me um fracasso, tanto como mulher quanto como esposa. Algumas
manhãs, mal consigo me arrastar para fora da cama. Preferiria dormir e esquecer. Ainda há
esperança?"
Outra disse: "Não posso parar de me focalizar em meus erros. Sinto-me como a ovelha negra,
pois em nossa família nunca houve 'casos' antes."
Como se todos os aspectos do casamento dependessem dela, outra esposa arrasada confessou:
"Fracassei como mãe tanto quanto como esposa, porque não ensinei os nossos filhos de forma que o
meu esposo desejasse passar o seu tempo como eles em casa." Visto que esta mulher evidentemente
cria que o seu marido não tinha nenhuma responsabilidade pela criação dos filhos ou pela atmosfera
do lar, certamente ela não seria capaz de permitir que ele assumisse qualquer responsabilidade por
suas escapadas adúlteras. Dessa maneira, ela as encorajava.
Os Escapistas
Outra palavra que seria sinônima de "dar-se por vencido", neste contexto, seria "fugir". A
tendência natural é correr quando você tem medo, e não tem certeza de onde está o que fazer. Nesse
caso, a desistência é uma forma de fuga, de admissão de fraqueza. O escapismo pode desencadear uma
recusa para considerar o perdão, uma vingança explosiva ou um divórcio rápido. Porém, seja o que for
que torne a pessoa imóvel ou incapaz de agir, é doentio e improdutivo.
Alguns crentes dão-se por vencidos em face de um "caso" por causa de sua própria fé distorcida
e anêmica. A sua marca de cristianismo faz deles capachos para serem pisados e esmagados. Eles
acham que não têm o direito de fazer perguntas a respeito do mal, e assim precisam suportá-lo
passivamente, e sofrer em silêncio. Eles não se permitem lidar com a infidelidade, mas continuam
convivendo com ela e, se necessário, aceitam uma vida de extrema humilhação.
O problema de toda essa inatividade é que ela recompensa o infiel e prolonga a solução do caso.
A infidelidade conjugal é resolvida com uma espécie de ação estratégica, e você não pode iniciar ação
estando a toda hora procurando escapar do problema.
LUTAR
Estou certo de que nunca houve um caso de infidelidade conjugal em que não estivesse evidente
a ira — ira da parte daquele que é infiel, devido à negligência real ou suposta que motivou a sua
infidelidade, e ira, certamente, da parte daquele que se sente traído. Não importa como a pessoa
pareça, calma ou compreensiva, na superfície, o ultraje sofrido está queimando por dentro ou se
preparando para explodir tudo violentamente. Há ira por causa da vergonha, da humilhação, da
desilusão, do engano.
Certa mulher, acerca de quem li, explodiu quando descobriu a infidelidade de seu marido.
"Joguei um prato nele. Disse-lhe que ele podia ir embora, que eu não queria um homem que não me
amava. 'Eu não quero ir embora', disse ele. 'Amo você e amo as crianças.' Aquilo me deixou ainda
mais furiosa; e joguei um copo nele." Isso deu a ela um pouco de alívio, mas certamente não resolveu
nada. E os pratos são caros.
Seria mórbido se não houvesse ira contra "a terrível violência psicológica do adultério". Linda
Wolfe diz: "Os psicanalistas chamam o adultério de 'ferimento psíquico' e de fato parece haver algo
quase visceralmente pungente nesse sentido. Não é apenas uma ferida profunda no ego, mas também
na confiança entre os cônjuges — uma ferida que pode e, de fato, muitas vezes termina fazendo um
casamento sangrar até a morte."4
Todavia, por que esta ira é expressa e em que forma determina se ela é ou não destrutiva?
Estamos lutando pelo casamento, contra o mal, contra o cônjuge ou pelas razões puramente egoístas
de terem sido feridos os nossos sentimentos? A luta pode assumir várias formas, a saber:
Vingança, que é tão comum quanto inútil e autodestruidora. Embora os escritores do Novo
Testamento mencionem várias vezes: "A ninguém torneis mal por mal", esta é uma tendência muito
humana. "Se ele pode fazê-lo, eu também posso." Muitas esposas cedem ao desejo de revidar, de dar a
ele uma prova de seu próprio remédio, de provar que ainda são desejáveis, que ainda podem arrumar
um homem — por malvadez.
Evelyn Miller Berger fala de uma mulher a quem aconselhou. "Eu senti-me justificada em
também ter uma aventura", disse a cliente, com hostilidade franca. "Eu também queria alguma
atenção. Mas quando o 'caso' acabou, de repente acordei para o fato de que eu era aquele caráter
desprezível, 'a outra', eu! Imagine só! Boa, firme, a filha mais velha de um catedrático, sempre uma
garota direita, no caminho reto e estreito da virtude!"5 Embora exista um inegável prazer egoístico em
vingar-se, não obstante, isso só complica o problema — o duplica. Agora são dois que saíram da linha
e precisam de perdão.
A coisa mais importante é: Quem está no controle? Se você paga mal por mal — a sua reação é
determinada pela ação de seu cônjuge — o seu cônjuge controla você. Reagir, pagando com a mesma
moeda, é ser controlado pela pessoa que iniciou a ação. Você é controlado pela pessoa cujas ações
você imita. Você cessa de ser o iniciador, e torna-se apenas um reator, e o tiro sai pela culatra. Você
não é mais inocente em toda a situação do que o seu marido ou a outra.
Vingança é mais do que retaliação. É a busca de uma forma para castigar, como pagamento pela
injúria infligida. Um marido que prevaricou pode não ficar absolutamente ferido quando a esposa se
envolve em uma aventura, como retaliação contra a dele. Ele pode alegrar-se com isso. Agora ele tem
uma boa razão para adulterar, e mesmo para desmanchar o casamento. Mas, se ela deseja vingar-se por
causa do que está sofrendo, vai tomar providências para que ele também sofra.
Uma divorciada escreveu para a "Dear Abby" depois do "caso" de seu marido: "Eu me portei
como maníaca. Gritei e impliquei com ele. Empacotei as roupas dele, e mandei que saísse de casa.
Depois cometi um erro fatal. Contei tudo aos nossos parentes e amigos, e me dirigi imediatamente a
um advogado e pedi o divórcio. Criei um escândalo tão notório que meu marido não pôde mais ficar
na cidade." Ela empatou o placar, e conseguiu vingança. Mas funcionou? "Agora percebo que só
estava pensando em mim. Os meus filhos pagaram o preço do meu orgulho. Eram três meninos com
menos de dez anos de idade." E ela continua: "Os anos se passaram. Os meus filhos agora estão
casados, em seus próprios lares, mas eu estou sozinha. Sinto-me arrasada e a minha amargura se
manifesta claramente."6
Culpar. A ira toma outra forma: de culpar. O oposto da pessoa que aceita toda a culpa, que
mencionei acima, é a que culpa o cônjuge por tudo. Ela explode em justiça própria, com ira, e espera a
confissão e a volta de seu marido. Uma mulher disse-me, espumando de raiva: "O problema é dele;
não meu. Fiquei cansada destas perguntas: 'Onde foi que eu errei? Em que eu fracassei? Como foi que
eu o negligenciei?, etc, etc Foi ele quem adulterou; não eu. E, por falar nisso, é bom que eu diga que
não o empurrei para a cama da outra; ele subiu nela por iniciativa própria."
Há também o desejo de lutar contra "a terceira parte". "Aquela mulher vil roubou o meu marido,
e vai pagar por isso." Se a outra mulher é uma estranha, você pode ter o desejo incontrolável de se
defrontar com ela e fulminá-la com as suas palavras. Doris era uma mulher assim. Ela exigiu que o
marido revelasse quem era aquele "verme". Quando ele se recusou a fazê-lo, ela fez com que alguém o
>seguisse. Mais tarde, quando ela foi até aquela casa, "para ver quem era a sua competidora", não
conseguiu crer no que viu. A casa era simples, pequena, em um bairro de segunda classe — em agudo
contraste com a casa grande e o bairro bonito, cheio de árvores, para onde o seu sucesso os havia
levado. Ela tocou a campainha e esperou nervosamente. Quando a porta se abriu, não apareceu
nenhuma beleza voluptuosa e alucinante enquadrada nos batentes. Só uma dona-de-casa jovem,
despenteada, desmazelada!
Depois de ter injuriado verbalmente aquela mulher e a ter condenado à perdição, Doris exigiu
que ela não permitisse que o seu marido a visitasse outra vez. A resposta que recebeu deu-lhe pouco
alívio. "Se o seu marido volta ou não vem mais, isso é decisão dele. Eu não posso controlar isso.
Talvez ele esteja encontrando aqui algo que não encontra em casa."
Se a "outra" é uma vizinha, amiga ou conhecida, você tenta lutar de outra forma: com difamação
— no cabeleireiro, no clube, na igreja, nas reuniões. Ela é metodicamente destruída por aquele
"pequeno membro", a língua não domada, que Tiago diz que está cheia de peçonha.
FORÇAR
Forçar significa atacar, empurrar impetuosamente exigindo uma solução, manipular as pessoas
envolvidas e a situação, para encontrar um conserto rápido. É natural que desejemos nos ver livres de
um problema horrível como o que estamos considerando o mais depressa possível. Nenhuma pessoa
emocionalmente sadia quer prolongar a dor um minuto mais do que o necessário. Se você tem a
tendência de ser uma pessoa que toma a iniciativa, é quase impossível ficar sentada e esperar que as
soluções apareçam e amadureçam. É quase como se você achasse que qualquer ação é melhor do que
nenhuma.
A descoberta de um caso extraconjugal desencadeia tantas emoções conflitantes — a surpresa
do fato, o engano, o desencanto, a traição. Algo precisa ser feito. Como alguém que está se afogando,
você se debate na água selvagemente, esperando agarrar-se a algo que seja a sua salvação: o milagre.
Essas ações desesperadas podem não estar relacionadas umas com as outras e serem até
antagônicas. Ou podem ir desde fingir ignorância, manipular circunstâncias, até a citação da Bíblia.
Judy, uma nossa distinta amiga crente, ficou arrasada devido às infidelidades crônicas de seu
marido e o subseqüente divórcio. Eu lhe perguntei que reação ela tivera, que se demonstrara negativa,
improdutiva. "Eu fiz tudo de espiritual que pude pensar, para tentar resolver a situação. Eu disse a meu
marido: 'Vamos orar a este respeito', e esperei um milagre. Citei versículos da Bíblia para ele —
versículos que ele conhecia tão bem quanto eu, pois ambos havíamos nascido em lares cristãos. Repeti
todos os fatos e fórmulas cristãos apropriados. Então, depois que toda a minha pregação não
funcionou, mandei um oficial da igreja falar com ele, usar a sua 'mágica' espiritual para com ele.
Quando todas essas fórmulas espirituais só complicaram o problema, você começa secretamente a
perder a sua fé em Deus também."
"Que outras coisas de natureza não espiritual você foi tentada a fazer?" — perguntei.
"Bem, há a tendência de fazer com que o seu cônjuge fique sabendo que você ficaria destruída
sem ele, para que cresça o sentimento de culpa dele. E também você tem vontade de espioná-lo, de
manipulá-lo, em uma tentativa de separá-lo da 'outra' ou de intervir em um salvamento dramático."
"Aprendi, o que foi duro" — declarou Judy, com grande convicção — "que essa espécie de esforços
não apenas falharam, mas também pioraram a situação."
Estas cinco reações — ficar paralisado, autojustificar-se, dar-se por vencido, lutar e forçar —
levam a um beco sem saída. As reações negativas sempre fazem isso. Elas têm uma coisa em comum:
propiciam ao cônjuge um pouquinho de satisfação própria transitória, mas não contribuem para a
solução do dilema. Apenas agravam um assunto já por si delicado e inseguro.
Um pai pediu ao seu filho pequeno que desse graças à mesa.
Enquanto o restante da família observava, o garotinho fitou cada prato de comida que a mãe
havia preparado. Depois do exame, ele baixou a cabeça e orou sinceramente: "Senhor, não estou
gostando do aspecto da comida, mas te agradeço por ela, e vou comê-la assim mesmo. Amém." A
reação certa em uma situação difícil. De semelhantes circunstâncias tratará o capítulo seguinte.
CAPITULO 7
Desfazendo o Triângulo
Ainda estou para ver um casamento ameaçado pela intrusão de uma terceira pessoa em que
cada um dos parceiros não contribuiu para o triângulo.
Dra. Evelyn Miller Berger
SUSPEITA e a descoberta de um "caso" extraconjugal pode ser uma experiência emocional
dolorosa. Emoções de surpresa, choque, ira, medo, ódio e culpa vêm cascateando sobre você como as
cataratas do Niágara. Você fica confuso, e, em vez de as suas reações serem planejadas e positivas, são
imprevisíveis e explosivas. O sociólogo Lewis Yablonsky nota que, quando um "caso" é descoberto,
os homens, provavelmente, manifestarão justiça própria e ira, sendo menos provável que considerem o
"caso" como ato contra eles, e tendem a agir. As mulheres, provavelmente, se sentirão feridas; elas
absorvem as notícias e ficam imaginando o que há de errado com elas, reexaminam o relacionamento,
e tendem, finalmente, a deixar a infidelidade passar.
Certamente é difícil pensar de maneira lógica e sensata quando o seu casamento, como o
Titanic, chocou-se com um "iceberg" e você sente que tudo aquilo pelo que viveu está soçobrando.
Não é de admirar que as nossas reações sejam, muitas vezes, frenéticas e impulsivas. É impossível
sentar-se calmamente na cobertura do navio que já começa a afundar, e elaborar uma estratégia para
salvá-lo.
Todavia, há diferença entre o Titanic que está sendo levado rapidamente para o fundo do oceano
e um casamento profundamente atingido pelo adultério. O casamento é um relacionamento, e não um
objeto. Os relacionamentos não são desenvolvidos nem destruídos em um momento, como resultado
de uma só experiência, boa ou má. O crescimento, ou deterioração, é determinado por muitas
experiências e por nossa reação a essas experiências. Portanto, um esforço feito em momento de
pânico não tem valor e é improdutivo. "Então, o seu cônjuge prevaricou?", pergunta a conselheira
Evelyn Miller Berger. "Isso não significa que a sua vida está arruinada, que o objetivo de sua vida
acabou; há algo que você pode fazer a respeito. Esse acontecimento pode suscitar em você os seus
recursos mais insuspeitos, mas, mesmo que você não consiga salvar o seu casamento, pode haver para
a sua vida um significado profundo, e, com sabedoria e paciência, quem sabe, você pode até salvar o
seu casamento."1 Um "caso" é realmente uma coisa muito complexa, e não cede por meio de soluções
simples, imediatas. Ele não começou da noite para o dia, e não será resolvido do dia para a noite.
Podemos e devemos desenvolver uma estratégia eficiente para nos havermos com esse problema,
porque tanto a parte enganada quanto a parte culpada estão mergulhadas em incertezas a respeito de
como agir.
Eu isolei dez princípios práticos, que nos propiciarão uma compreensão melhor acerca de nós
mesmos, do problema e de suas soluções. Estes princípios ajudarão, quer o "caso" tenha sido apenas
descoberto, quer já tenha continuado por muito tempo. Mesmo para as pessoas que não estão sendo
afetadas pessoalmente, de forma alguma, por um "caso" extraconjugal no momento presente, estes
princípios podem fazer parte de uma estratégia para impedir a infidelidade. Eles não estão
relacionados em qualquer ordem de importância ou seqüência, mas os primeiros quatro, acredito, vêm
antes dos últimos seis.
O Perdão É Possível
É possível para ambos os cônjuges: o infiel e o traído. O adultério não é um pecado sem perdão,
como parece que algumas pessoas pensam. A Bíblia não relaciona os pecados como se alguns deles
fossem mais hediondos do que os outros, e alguns mais facilmente perdoados. Alguns pecados causam
mais danos do que outros, e, em suas conseqüências, são de mais longo alcance. Paulo fala a respeito
de como o adultério, de maneira peculiar, afeta tão seriamente o corpo:
Fugi da prostituição. Qualquer outro pecado que o homem comete, é fora do corpo; mas o que
se prostitui peca contra o seu próprio corpo. Ou não sabeis que o vosso corpo é santuário do Espírito
Santo, que habita em vós, o qual possuis da parte de Deus, e que não sois de vós mesmos? Porque
fostes comprados por preço; glorificai, pois, a Deus no vosso corpo.20
Mas todo pecado confessado pode ser perdoado. Nada é impossível para Deus. Depois de seu
adultério com Bate-Seba, Davi disse: "Confessei-te o meu pecado, e a minha iniqüidade não encobri.
Disse eu: Confessarei ao Senhor as minhas transgressões; e tu perdoaste a culpa do meu pecado."21 Os
pecados de omissão, dentro do casamento — negligência, rejeição, egocentrismo, amargura — podem,
por vezes, ser mais corrosivos do que o adultério, e também precisam ser perdoados. Os pecados de
temperamento precisam ser confessados, tanto quanto os pecados da carne. Todo pecado é
primordialmente cometido contra Deus, embora, na infidelidade, muitas outras pessoas sejam feridas:
os cônjuges de ambos os lados, as duas famílias, todos os filhos. Visto que Deus criou cada um de nós,
planejou o casamento e os relacionamentos familiares, e tem um lindo plano para cada pessoa. Quando
pecamos, rejeitamos o plano de Deus. Ele odeia o pecado, porque destrói o homem que ele tanto ama,
de forma que a confissão precisa ser primeiramente feita a ele. Davi enxergou esta perspectiva:
"Contra ti, contra ti somente, pequei, e fiz o que é mau diante dos teus olhos."22
O Perdão É Necessário
É essencial para a nossa saúde mental tanto quanto para a nossa saúde conjugal. Davi falou a
respeito do sentimento de culpa e do engano de seu "caso", e como ele o deixou seco por dentro. E
finalmente a libertação: "Como é feliz o homem cujos pecados Deus apagou e está livre de más
intenções em seu coração! Eu tentei, por algum tempo, esconder de mim mesmo o meu pecado. O
resultado foi que fiquei muito fraco, gemendo de dor e aflição o dia inteiro. De dia e de noite sentia a
mão de Deus pesando sobre mim, fazendo com as minhas forças o que a seca faz com um pequeno
riacho. O sofrimento continuou até que admiti minha culpa e confessei a ti o meu pecado. Pensei
comigo mesmo: 'Confessarei ao Senhor como desobedeci às suas leis.' Quando confessei, tu perdoaste
meu terrível pecado."23
O Perdão E Difícil
Ele atinge o âmago de nossa justiça própria. Algumas vezes gostamos de nos sentir condenados.
Agarramo-nos às nossas feridas, desejando ainda empatar, nos vingando. Perdoar é abrir mão dos
sentimentos de vítima, e isso não é fácil. O nosso ódio próprio muitas vezes está no alicerce de nossa
incapacidade de perdoar; por não conseguirmos aceitar as nossas características humanas, não temos a
capacidade de aceitar o nosso cônjuge, que falhou. A nossa incapacidade de aceitar o amor limita a
nossa capacidade de dá-lo. Sempre julgamos os outros da maneira como nos julgamos a nós mesmos.
Se não temos um amor-próprio sadio e não nos consideramos valiosos, pessoas em estágio de
crescimento, muitas vezes necessitando de perdão, não conseguimos dar ao nosso cônjuge o que não
podemos dar a nós mesmos. Só quando reconhecemos as nossas deficiências é que estamos prontos
para aceitar as imperfeições dos outros. Não podemos oferecer perdão, se estamos num vácuo. Na
medida em que recebemos e gozamos do amor de Deus e dos outros, aprendemos a amar.
Precisamos deixar Deus nos amar. O que recebemos e experimentamos, podemos depois
repartir. O mesmo é verdadeiro em relação ao perdão. Quanto mais sou perdoado, mais perdoador me
torno.
O Perdão É Oferecido
Gosto da maneira como o Pastor Wildeboer o expressa:
Da mesma forma como o perdão divino não depende do fato de o homem sentir-se perdoado,
mas da declaração de perdão feita por Deus, a ser aceita com base em sua Palavra, assim também
cada cônjuge precisa declarar que perdoa o outro e aceita o perdão do outro com base na palavra
dele. Ambas as partes precisam renovar a dedicação um ao outro, não apenas de maneira emocional,
mas com uma declaração — e com atos que confirmem as palavras... Eles precisarão dizer um ao
outro o que, se são crentes, já disseram a Deus: 'Eu lhe pertenço: coração, alma, mente e forças.
Farei tudo o que estiver ao meu alcance para ser fiel a você. " Depois precisarão pôr em prática o
amor um ao outro. Precisarão dar de si tanto quanto foram capazes de dar e querer e esforçar-se
para dar muito mais.2*
Este perdão pode ser a pedra angular de um casamento mais forte do que nunca. Há anos, li uma
história clássica de perdão excelente, que me comove outra vez, ao escrevê-la. A mulher a conservou
trancada no coração durante meio século, mas compartilhou-a com a "Dear Abby", para ajudar outras
pessoas que se encontrem nas mesmas condições:
Eu tinha vinte anos, e ele, vinte e seis. Fazia dois anos que estávamos casados, e eu nem
sonhava que ele pudesse ser infiel. A terrível verdade foi-me comunicada quando uma jovem viúva de
uma fazenda vizinha me veio dizer que o filho que ela estava esperando era de meu marido. O meu
mundo veio abaixo. Eu queria morrer. Lutei contra uma vontade imensa de matá-la. E a ele também.
Eu sabia que isso não resolveria o caso. Orei, pedindo forças e orientação. E elas vieram. Eu
sabia que precisava perdoar aquele homem, e o fiz. E perdoei a ela também. Calmamente contei ao
meu marido o que havia aprendido, e nós três juntos elaboramos uma solução. {Que criaturazinha
amedrontada era ela!) O bebê nasceu em minha casa. Todo mundo pensou que eu dera à luz, e que a
minha vizinha estava me "ajudando". Na verdade, era exatamente o contrário. Mas poupamos à viúva
a humilhação {ela tinha mais três filhos), e o garotinho foi criado como meu. E nunca ficou sabendo
da verdade.
Teria sido esta a compensação divina para a minha incapacidade de gerar um filho? Não sei.
Nunca comentei este incidente com meu marido. Ele tem sido um capítulo fechado em nossas vidas
durante cinqüenta anos. Mas tenho lido nos olhos dele, milhares de vezes, o amor e a gratidão.26
CAPITULO 8
Anatomia de um "Caso" - e Depois!
Um impulso interior irresistível alimentou esse "caso" ardente por mais de dois anos. Rogando
poder, ele agora transformou-se em outra pessoa, o que causou grande regozijo.
O EDIFÍCIO cor de âmbar, cercado por centenas de metros quadrados de estacionamento,
parecia mais um armazém atacadista do que uma igreja, a casa de Deus. Não havia colunas brancas no
pórtico, nem uma cruz no alto da fachada, nem um gramado bem cuidado. Estacionamento para
centenas de carros, do lado de fora, e dentro, cadeiras simples, e não bancos pesados de mogno, para
as centenas de adoradores. De fato, mil pessoas no culto de domingo pela manhã é coisa comum, e
ainda mais pessoas vêm, se o programa é especial. Esta é a maior igreja daquele condado, naquele
estado no centro dos Estados Unidos.
No quadro de avisos, na entrada, notei o horário dos cultos e uma linha em tipos pequenos, ao
pé da página, que dizia: "Rev. Douglas Nelson, Pastor."^ ) Fiquei imaginando se aquelas centenas de
adoradores conheciam a história de Douglas Nelson que eu conhecia. O seu trágico passado. O
engano. O desastre. Os "casos". Como Doulgas e Sally viram o seu casamento ressuscitar das cinzas.
Não fazia muito tempo, eu me sentara no sofá da sala de visitas de sua casa confortável, e os sondara
com dezenas de perguntas. Nenhuma foi rejeitada como ingênua demais. Nenhuma resposta foi
sonegada. Senti a vibração de seu relacionamento franco e diáfano, que causa refrigério, e a sua
profunda compreensão e dedicação, que foram moldadas através de alguns dias tenebrosos e águas
profundas.
Fiquei impressionado ao ver que todos os princípios que mencionei neste livro tornaram-se
realidade na experiência deles. Eles mostraram-se dispostos a reviver comigo, em detalhes vivos,
comoventes, todos os emocionantes momentos, "se isso ajudar outros casais a encontrarem juntos o
caminho de volta". É uma história verdadeira e iluminadora, de poder, paixão e lindas promessas.
Douglas e Sally encontraram-se na igreja durante a sua adolescência. Na verdade, eles não se
conheceram de maneira formal, visto que cresceram juntos na mesma igreja e freqüentaram o mesmo
ginásio, e, de certa maneira, sempre se conheceram. Vindo de um lar em que ambos os pais nunca
haviam experimentado nada mais do que trabalho duro, para se manterem, Sally estava
emocionalmente esgotada. Seus pais certamente a amavam — ou diziam que a amavam — mas não
sabiam como expressar esse amor de maneira que uma adolescente insegura pudesse entender e
receber. Nenhuma afeição era demonstrada. Só o que havia era trabalho, trabalho, trabalho,
entremeado com um pouco de comer, dormir e estudar. Assim, como simples aluna do segundo ano do
ginásio, ela sentia uma tremenda necessidade de ser apreciada e amada. Nessa pouca idade, quando a
maioria das jovens está almejando apenas uma boa nota em estudos sociais ou um acompanhante para
a festa de promoção da classe, Sally tinha já um grande desejo de se casar e ter filhos. "Talvez o meu
desejo de me casar fosse o de um escape da difícil situação em casa, ou uma esperança de alívio de
minha pobreza. Mas sei que da primeira vez que saí com Douglas, desejei casar-me com ele, que eu
tinha que me casar com ele e que não permitiria que nada o impedisse."
'Os nomes verdadeiros e os lugares foram mudados, mas os fatos são reais.
Douglas, uns dois anos mais velho, também ficou apaixonado, mas a idéia de um casamento
prematuro o deixou amedrontado. Ele gostava da companhia dela, mas estava totalmente despreparado
para pensar em se estabelecer. Os seus pais, que também não eram muito afetuosos, eram bem-
sucedidos, muito disciplinados e encorajavam integridade, excelência e uma ambição aventurosa entre
os seus filhos. A freqüência à igreja era obrigatória; a boa educação, uma necessidade.
Tanto Douglas como Sally eram ativos em seu grupo de jovens e freqüentavam regularmente as
reuniões anuais de avivamento, na igreja. Mas não havia ninguém com quem pudessem conversar;
pelo menos eles assim pensavam. Ninguém com quem pudessem compartilhar as suas lutas e seus
temores. E, como muitos adolescentes cujos pais não demonstram muita afeição, as suas emoções
estavam à flor da pele, esperando para serem incendiadas com uma palavra, um toque e por outro
corpo quente. Se uma garota cresceu sendo tocada e abraçada de maneira sadia pelo seu pai, o homem
mais importante de sua vida, ela será menos vulnerável sexualmente diante do primeiro rapaz que
segurar a sua mão.
"Nós dois gostávamos de estar bem juntos", lembrou Douglas. "E, antes de o percebermos,
havíamos desenvolvido uma intimidade sexual que durou o tempo todo em que estivemos no colégio,
até a faculdade. Ela sempre se manifestava, e nós batalhávamos contra ela constantemente. Guardamos
esse segredo durante anos, e ninguém ficou sabendo." Quando perguntei a respeito de sua relação com
a igreja, ele continuou: "Nós dois éramos crentes e membros da igreja, de forma que nos
arrependíamos imediatamente, nos abstínhamos durante algum tempo, depois cedíamos novamente à
tentação. Não tínhamos apoio interior. Conhecíamos toda a ética: os Dez Mandamentos, os 'deveres',
mas isso não era suficiente para nos manter fora da cama. Um sermão ocasional contra a imoralidade
só parecia nos fazer mergulhar ainda mais profundamente em autocondenação e sentimento de culpa.
Não havia ajuda externa; não que ela fosse ou seria rejeitada, mas não se manifestava. Nenhum dos
adultos parecia perceber as lutas que estávamos tendo. Talvez eles se tivessem esquecido de seu
próprio passado ou haviam atravessado a sua adolescência com as suas glândulas desajustadas."
O casamento aconteceu na semana após a colação de grau, e poucas semanas depois Douglas
entrou no seminário evangélico, em New York. O casamento foi a culminação de quatro anos de
noivado, e a realização de um lindo sonho de Sally. Mas foi uma decisão, para Douglas, que
significava o cumprimento de um dever. "Comecei a perceber que estava me casando com ela por
causa de um profundo senso de honra colocado em minha vida por meus pais. Eu sabia que, de certa
forma, havia desonrado essa mulher, eu a havia deflorado, e agora devia casar-me com ela. Embora
estivesse apaixonado por ela, adentramos o casamento com essa maneira de entendê-lo, e ele nunca,
absolutamente, foi para mim uma experiência muito profunda. Contudo, éramos um casal que gostava
de diversão, e fizemos muitas coisas divertidas juntos."
Sally acrescenta: "Mas para mim foi um grande sentimento de paixão, que continuava desde o
ginásio. Eu tinha a minha paixão e o meu amor todos ligados em um pacote, e estava emocionada por
ser esposa de Douglas, e estava esperando ter filhos."
No seminário, o ritmo não diminuiu. Empregos noturnos, para sustentar a família, duas crianças
para criar e muita atividade religiosa. Embora Douglas estivesse estudando para ser pastor e
profundamente envolvido nos negócios da igreja, classes da Escola Bíblica Dominical, atividades do
seminário, segundo ele disse, "não havia em mim nenhuma sensação de intimidade com Cristo, do
Espírito Santo realmente atuando dentro de minha vida". Quando perguntei se ele percebia o vácuo
espiritual, ele exclamou: "Oh, não! Todas as outras pessoas estavam agindo da mesma forma, de modo
que estávamos todos envolvidos com serviço cristão muito bom. De fato, se àquela época me tivesse
perguntado, estou certo que eu lhe teria dito que me sentia realizado em todos os sentidos. Mas o que
pensávamos que era a nuvem da unção de Deus sobre nós era, provavelmente, nada mais do que a
poeira de nossa própria atividade."
Neste ponto, o casamento deles era típico do da maioria dos casais de estudantes. Eles se
aconchegavam e se abraçavam muito, lutando para encontrar o seu caminho. Nenhum dos pais de
ambos havia estabelecido ou modelado um relacionamento afetuoso, que servisse de exemplo para
eles. Eles estavam aprendendo um do outro, e ambos concordam que foi "difícil". Sally diz que tinha
muitas necessidades emocionais, era muito ciumenta e se agarrava a Douglas, procurando segurança.
Ambos estavam em um nível espiritual superficial. Ao redor deles havia se formado uma concha, a
concha de seus primeiros anos juntos, e "nós sobrevivemos devido à experiência física do amor, a
emoção dos filhos, a excitação de estar entrando no ministério".
"Não obstante, o nosso casamento naquela época era bem corriqueiro", lembra Douglas, "as
minhas ambições estavam nada mais do que dormentes. Estava crescendo em mim um desejo
impulsivo de sucesso e poder. O meu único alvo era subir ao topo da escada eclesiástica, tornar-me
pastor de uma grande igreja, a maior do país, e também tornar-me presidente de nossa grande
Denominação. Isso, para mim, seria o sumo do sucesso."
Tudo parecia estar caindo em seus devidos lugares. Parecia que Deus estava sorrindo para eles,
e seguindo o plano deles. O primeiro convite que ele recebeu, logo que saíram do seminário, foi de
uma igreja bem grande, como pastor adjunto. Os móveis deles nem sequer haviam sido arrumados
direito ainda, na casa pastoral, quando a tragédia se abateu — não sobre eles, mas sobre o pastor
principal. Ele teve um sério ataque cardíaco, e foi removido, tornando-se incapacitado. Passara-se
apenas um mês, e já esse agressivo graduado do seminário estava sendo catapultado para a posição de
pastor titular, na idade de vinte e seis anos.
Sentar-se detrás da escrivaninha de pastor titular era uma coisa inebriante para esse jovem
pregador. Ele tinha poder, proeminência e controle; as pessoas estavam se convertendo, a igreja
crescia, mas ele era como um marinheiro novo ao leme de um navio de guerra. Quando se lhe
perguntava se ele era capaz de fazer aquele trabalho, ele confiantemente repetia o chavão, que parecia
espiritual: "Deus e eu podemos fazer qualquer coisa juntos." Mas era uma jactância oca de um homem
oco. Ensoberbecido com o pensamento de que estava no caminho do sucesso, ele começou a fazer
manobras para abrir caminho através dos canais de influência e poder na comunidade. Enquanto
gozava da alegre companhia dos executivos e líderes profissionais da cidade na Associação Cristã de
Moços, no Rotary, no Lions e no Clube local, o seu casamento mantinha-se coeso apenas pela
atividade estonteante que havia ao redor deles. "Eu estava faminto de poder. Queria ser rei. Queria ser
presidente de todas as organizações." Sally estava envolvida com os filhos — tinha chegado outro — e
não entendia a necessidade de Douglas de ser louvado, ou sua luta com um vazio interior crescente. As
palavras dele são reveladoras: "O anseio por amor que eu sentia no fundo do coração era quase canibal
— procurando devorar qualquer pessoa ao meu redor que parecesse disposta a ser consumida." Sally
não entendia isso. Em vez de se aproximarem, para obterem apoio e compreensão, tendo em vista seu
casamento, cada um deles tinha o seu projeto: ele, a igreja, ela, os filhos. As suas necessidades
pessoais continuaram, sem serem reconhecidas ou satisfeitas. Um vácuo. Um ambiente perfeito para
um "caso".
Até para um pastor.
E isso não é surpresa. Os pastores não são menos susceptíveis ao impulso sexual e à paixão do
que qualquer outra pessoa. Se diferença existe, eles são mais susceptíveis. Eles estão expostos a todo
tipo de doença emocional e espiritual. As pessoas que os procuram, pedindo ajuda, estão buscando
amor e simpatia. Alguém que cuide delas. Qualquer pastor, com apenas um toque de compaixão, não
pode deixar de se identificar e sentir com o seu povo que sofre. Não só os pastores, mas qualquer
pessoa que está em uma profissão destinada a ajudar as pessoas enfrenta as mesmas tentações. Há
anos, um pastor contou-me como o seu aconselhamento a uma mulher jovem, em sua igreja, tornou-se
a sua ruína. Enquanto ela chorava lágrimas de alegria, ele a confortou e a abraçou. Dois corpos
quentes se tocaram e se fundiram juntos. O fusível foi ligado. Logo aconteceu a explosão inevitável.
Foi assim que começou o primeiro "caso" de Douglas. Um beijo inocente de uma garota
agradecida pela obra de Deus em sua vida. A motivação dela era pura, mas um fusível foi ligado, que
provocou uma reação em cadeia, e, embora ela e seu jovem pastor fossem ambos inocentes... bem,
deixemos que Douglas conte o caso.
"O pensamento de imoralidade com qualquer uma das senhoras de minha igreja jamais havia
entrado em minha cabeça. Eu achava que estava imune a isso. E então, certa noite, batizei uma jovem
que havia sido uma verdadeira prostituta, mas que então aceitara a Cristo. Depois daquele culto
vespertino de batismo, ela vestiu-se e voltou ao meu gabinete para me agradecer. O cabelo dela ainda
estava úmido da água do batismo. Para minha surpresa, ela lançou os braços ao meu redor e estalou
um beijo na minha boca, e disse: 'Nem sei dizer como me sinto maravilhosa e purificada, agora.'
Aquilo, provavelmente, fora uma espécie de expressão muito natural para ela — bem meiga. Foi tudo
tão espontâneo, e, estou certo, tão puro. Da parte dela não havia nenhum propósito oculto, mas uns
sinos começaram a tanger dentro de mim, e isso abriu toda sorte de desejos. A lembrança daquele
beijo ficou comigo durante vários dias. Eu lembrei o seu sabor e o revivi muitas vezes, e comecei a
sentir que estava no limiar de uma nova aventura — não procurando algo, mas certamente aberto para
uma aventura."
Essa armadilha satânica fora colocada, e ele sentira o cheiro da isca. Já era tarde para seguir o
conselho de John Dryden: "É melhor recusar a isca do que debater-se no laço." E, um mês mais tarde,
apresentou-se a oportunidade para satisfazer o desejo. Se a tentação está esperando à porta, o Diabo
tomará providências para que alguém esteja ali para abrir a porta depressa. E essa porta aberta sempre
parece tão natural, tão coerente, tão predestinada.
Eram quatro horas da tarde, quando a porta foi escancarada, aberta por um "amigo do peito".
"Eu me lembro muito bem como entrei no hospital para visitar a esposa de um de nossos melhores
amigos. Vivíamos a poucos quarteirões de distância, havíamos passado as férias juntos, algumas
vezes, éramos ativos na mesma igreja, e a esposa era especialmente uma íntima amiga de Sally. Elas
faziam muitas coisas juntas, e tinham grande consideração uma pela outra. Quando eu estava me
preparando para sair, ela agarrou a minha mão e disse: 'Você não sabe disso, mas isto está no meu
coração há dois anos. Eu estou profundamente apaixonada por você. Eu o amo de todo o coração.'
Puxa! Foi como uma festa de São João. Tudo começou a explodir dentro de mim e ao meu redor. O
meu coração começou a bater, e as palmas de minhas mãos, a suar, e a minha boca ficou seca, os meus
olhos se dilataram. Mas eu saboreei aquelas primeiras sensações embaraçosas, e saí do hospital
pisando nas nuvens. O resto da tarde foi um quadro psicodélico, e eu estava de volta às sete da noite,
para ouvi-la dizer aquilo de novo, beijá-la e abraçá-la. Nós ambos começamos a viver esperando o dia
em que ela tivesse alta e pudéssemos 'mostrar o nosso amor um ao outro'."
Aquela visita pastoral tornou-se um convite apaixonado que não pôde ser negado. Um impulso
irrefreável incendiou essa "transa" ardente por cerca de dois anos. Durante dois anos eles tinham os
seus sinais secretos na igreja, os seus lugares secretos, onde deixar bilhetes de amor, os seus encontros
secretos. Ansiando por poder, ele agora o tinha sobre outra pessoa, e isso era emocionante. 'E eu
comecei a ter as mesmas sensações que tivera no ginásio, quando Sally e eu começamos a ter as
nossas pequenas intimidades. Aquelas palpitações do coração agora voltavam, e eu disse para mim
mesmo: 'Estou apaixonado.'"
A essa altura, achei que precisava perguntar: "Sally, onde estava você? O que estava
acontecendo lá 'na cozinha'?" Sally continuou a história: "Bem, eu soube imediatamente que algo
estava errado, mas não estava certa do que era. Suspeitei que houvesse algo entre Douglas e Joanne,
mas não sabia até que ponto estava indo nem como lutar contra aquilo. As minhas intuições estavam
captando sinais por toda parte, e as luzes vermelhas piscando. Tentei afastar-me da família de Joanne
— não tivemos mais jantares juntos, não reunimos mais as duas famílias nem tivemos mais férias
juntos — mas Douglas insistia em que continuássemos considerando-os como amigos.
"Mas aconteceu algo de bom", continuou Sally. "Essa situação derrubou Douglas do pedestal
em que eu o tinha colocado. Eu havia pensado que ele não poderia fazer nada de errado; era um
homem de Deus. Na verdade, eu estava confiando mais nele do que confiava em Deus. Assim, esse
problema realmente me fez recuar, voltar para Deus, e o meu relacionamento com Cristo começou a
aprofundar-se, e ele tornou-se mais real para mim."
Durante dois anos as coisas continuaram, mas não como haviam sido antes, isso era impossível.
Algo tinha que ceder. O que é que acontece por detrás das portas fechadas do coração e da mente do
pastor, quando ele se torna hipnotizado pelas suas "maçãs roubadas" e galvanizado pelo seu engano?
Como é que um homem cavalga três cavalos selvagens ao mesmo tempo e conserva o equilíbrio,
quando eles começam a enveredar por direções diferentes? Quais são? Casamento, ministério e
infidelidade. Os chineses têm um provérbio: "Aquele que sacrifica a sua consciência à ambição
queima um quadro para obter as cinzas." O que estava acontecendo com esse quadro tríplice, quando
as chamas da paixão e da ambição continuaram incontroladas? Como um homem conserva a sua
sanidade mental, quando essas forças de seu inferno interior convergem e concorrem?
A essa altura, o casamento estava em dificuldades. Sally sabia ao certo que Douglas estava
dormindo com a sua amiga, e havia brigas diárias. Acusações. Ameaças. "Em público, quando os
rumores a respeito do 'caso' começaram a vazar, eu defendi Douglas. Eu não estava disposta a permitir
que os outros jogassem pedras nele. Eu achava que era algo que nós precisávamos discutir por detrás
de portas fechadas. Eu chegava até a negar o fato diante do povo da igreja, enquanto brigava com ele
constantemente a respeito, em particular. Chegamos à agressão física, algumas vezes, quando ameacei
contar para todo mundo, e abandoná-lo. As crianças tornaram-se as minhas armas contra ele, e, para
chamar a sua atenção, eu dizia a elas, na presença dele: 'Se vocês soubessem quem é seu pai', ou: 'Seu
pai é...' Mas ele somente ficava ainda mais furioso. A minha atitude era abjeta, mas eu estava me
debatendo de dor, de toda forma que conseguia.
"Além do mais, eu estava sempre questionando a conversão dele. Eu não entendia como ele
podia estar envolvido com outra mulher, e ainda ter boas relações com Deus. E não havia ninguém a
quem eu pudesse recorrer. Muitas vezes senti que estava levando essa carga sozinha. Eu me sentia
humilhada, ferida, rejeitada. Mas nunca houve o pensamento ou a ameaça de me divorciar. Nós
havíamos selado isso quando havíamos nos casado, de forma que eu nunca desisti. Certamente
Douglas estava deixando Deus de lado, deixando-me de lado, mas eu sabia que Deus o faria voltar à
razão, embora o processo fosse doloroso, penoso. Eu cria de todo o coração que, enquanto eu fosse
obediente a Deus, ele cuidaria de meu marido.
"Provavelmente, o senhor pode estar tendo interrogações a respeito de nossa vida sexual.
Embora eu usasse tudo contra ele, nunca recusei-lhe o sexo. Sexualmente, eu procurava satisfazer
todas as necessidades dele, e isso foi uma 'tábua de salvação'. Raciocinei que, já que ele estava indo a
outros lugares para se satisfazer, se eu o pudesse satisfazer em casa, afastá-lo-ia desses outros lugares.
Muitas vezes eu chegava a ranger os dentes, mas sabia que seria errado se eu me negasse a ele.
Acrescentar erro ao erro dele não ajudaria. Dois erros não perfazem uma coisa certa."
Qual era a reação de Douglas a isso? "Sally está certa. Embora ela soubesse que eu estivera com
outra mulher naquela manhã, ela nunca se negou a fazer sexo naquela noite. Penso que, se ela se
negasse, me teria feito sair de casa. Mas disse que isso era problema meu, não dela, e ela estava ali
para se dar a mim. Tudo o que tenho, devo a ela."
Mas o que estava acontecendo com a consciência de Douglas? "É claro que todo homem que
comete adultério também mente. Ambos os pecados vicejam lado a lado. No ato de mentir, o
processamento começou a ser muito rápido. Eu precisava manipulá-la, subjugá-la. Diante das
acusações de Sally, eu dizia: 'Você está imaginando coisas. Há algo errado com você. Pessoas normais
não são ciumentas assim.' Eu tentava convencê-la de que ela estava desequilibrada emocionalmente.
Que, na verdade, ela estava louca.
"E havia aquele terrível conflito interior. Eu achava que amava ambas. Algumas vezes, durante
a noite, eu sonhava. O que aconteceria se eu tivesse que escolher uma das duas? As duas estão no
carro, o carro pegou fogo, e eu posso tirar só uma delas. Qual delas vou escolher? Ah, se minha esposa
morresse! Embora eu não expressasse esse desejo audivelmente, esse desejo de morte tornou-se tão
forte que foi transferido espiritualmente para Sally. E ela começou a desejar morrer. Eu literalmente
colocara esse desejo no espírito dela. Intuitivamente. O pecado sempre acaba em morte, propriamente
dita, ou em se desejá-la. Ele começa como uma coisa pequena, uma brincadeira, mas termina com
você tendo realmente a vontade de que a sua esposa morra."
E o ministério de Douglas? Será que ele tinha problema em pecar sábado à noite e pregar o
evangelho no domingo de manhã? Outro pastor que conheço tornou-se mais legalista e reprovador, em
suas pregações, para afastar as atenções de seus próprios pecados. Douglas respondeu: "Tornei-me
endurecido. A obsessão impulsiva dentro de mim era continuar aquele 'caso', não importava como, e
eu nunca parei para analisar as coisas loucas, estúpidas, que eu estava fazendo. Não havia nenhuma
luta semanal antes de subir ao púlpito, pensando como eu podia fazer aquilo. Eu estava totalmente
cego. Havia tanta cegueira e engano que eu conseguia justificar o que estava fazendo. De fato, eu
pregava melhor quando tinha estado com Joanne na noite de sábado. Mas eu restringia a minha
pregação. Eu não diria, do púlpito, que o adultério é pecado. Eu rodeava o assunto. Eu tinha muito
cuidado, ao atacar os mentirosos. Tudo soava correto, mas eu chegava até a beira e voltava atrás, para
não chegar a condenar a mim mesmo no processo. Mas ninguém jamais podia dizer que eu não estava
sendo bíblico.
"E as pessoas estavam sendo salvas. Casamentos sendo restaurados. Eu ainda fico perplexo com
isto, porque os meus estudos teológicos diziam que Deus não pode usar pessoas nessas condições. E a
minha lógica diz que não há maneira de se colocar essas duas coisas juntas. Mas eu era como aqueles
leões de pedra, com água saindo de suas bocas. O poder de Deus estava operando através de mim, mas
não estava operando em mim."
Mas o tempo de Deus finalmente chegou, pelo menos o começo dele. A estratégia dele com
cada pessoa é diferente, mas os princípios são os mesmos. Um por um, ele remove as escoras, e nos
deixa expostos, até que possa obter a nossa atenção. Algumas vezes é uma abordagem direta,
sobrepujante. Outras vezes, começa com uma pobreza interior. Mas ele está decidido a completar a
obra que começou em nós, não importa quantos obstáculos o nosso orgulho coloque no caminho. Ele
nos levará de volta ao caminho real, não importa quantos coelhos estejamos caçando. A sua própria
maneira e no seu tempo certo, ele põe os desprezíveis para fora do céu.
Com Douglas começou durante os feriados de Natal e Ano-novo. Ele havia mandado a família
passá-los com os parentes no Estado de Michigan, e decidira passar a melhor parte da semana sozinho
na casa pastoral. "Na véspera do Ano-novo, eu me lembro que me sentei em casa sozinho, ninguém
mais estava na casa, e, ajoelhando-me ao lado de uma cadeira, comecei a chorar. Sem saber por quê.
Eu nunca tivera uma explosão emocional como aquela. Repentinamente senti que estava vazio por
dentro, e não o havia percebido. Eu não sabia mais como orar. Lembro-me de ter ficado sentado ali,
tentando orar por Sally, as crianças e Joanne, mas nada saía. Deus ausentara-se. Era a primeira
experiência que eu tinha de meu tremendo vazio espiritual. A única coisa que conseguia fazer era
apenas chorar, soluçar e dizer: 'O que há de errado comigo?' E: 'Õ Deus, ajuda-me!' Eu não estava
disposto a dizer especificamente: 'Remove isto de mim.' Eu não conseguia pedir isso. Tudo o que
podia dizer era: 'Ajuda-me.'
"No mês seguinte, percebi que tudo estava se despedaçando dentro de mim. De fato, comecei a
duvidar que conseguisse continuar no ministério. A convicção de pecado começou a aumentar —
profunda convicção de que eu era uma fraude e que a situação ao meu redor estava se deteriorando. A
minha amante estava começando a fazer exigências inusitadas, que eu não podia cumprir. Ela me
telefonava, para saber se eu fizera sexo com minha esposa na noite anterior. Eu não podia suportar
isso. Era um ciúme extremo. Ela queria tudo de mim, o que é, sem dúvida, a inclinação natural da
mulher. Eu podia suportar uma esposa e uma amante, mas não podia suportar duas esposas. Isto estava
muito além de minhas forças, e eu estava sendo esmagado no meio da situação.
"Na manhã do domingo seguinte havia culto. Fui para o templo bem cedo, cerca de sete e meia,
para repassar o meu sermão e me preparar para os cultos daquele dia. Ao entrar no santuário, ouvi o
órgão e me assentei no último banco. Nossa organista, uma moça solteira de cerca de vinte e sete anos,
estava praticando as músicas para o culto matutino. Não havia ninguém mais no templo. Ao ouvir a
música, comecei a chorar novamente, incontrolavelmente. Quando me levantei e fui descendo pelo
corredor, ela notou que eu estava realmente perturbado, e me disse: 'O que é que eu posso fazer? Sei
que algo está errado.' De repente percebi que ela sabia que eu estava arrasado, e, provavelmente, sabia
a razão. Comecei a sentir que talvez muitas outras pessoas também o soubessem.
"Ela foi comigo ao meu gabinete e, antes de o perceber, eu, por assim dizer, vomitei para ela o
que não dissera para ninguém mais. E solucei: 'Esta coisa com Joanne está me matando.' 'Sim, eu sei',
disse ela, demonstrando simpatia. De repente eu me descobri nos braços dela, e ela estava me
acalmando e acariciando e dizendo: 'Eu compreendo.' E, daquele momento em diante, o caso com
Joanne acabou. Aquele episódio terminou com tudo. Eu nunca mais voltei para ela. Senti, em minha
mente, que fora libertado daquele laço, e transferi tudo para a organista. Tirei dali e coloquei aqui.
Caso número dois."
"Ciúme é o inferno do amante injuriado", escreveu John Milton — "e cruel como a sepultura",
acrescenta Salomão. Joanne, agora repudiada, decidiu que, se ela não conseguia ter o pastor para si,
nenhuma outra mulher o teria. O telefone de Sally começou a tocar o dia inteiro: chamados anônimos
várias vezes por dia: "Com quem o seu marido está fazendo sexo esta noite?" As crianças recebiam
telefonemas de uma voz de mulher disfarçada, que dizia: "Você sabe com quem o seu pai está
dormindo?"
Em minha entrevista com Douglas, agora um maduro homem de Deus, notei várias vezes que
ele sobressaltou-se, incredulamente, ao perceber o quanto fora estúpido, louco. Eu não pude deixar de
perguntar: "Quais são os elementos desses casos? O que você acha que essas mulheres lhe deram, que
a sua esposa não lhe propiciava em casa? Riso, surpresas, presentes, apreciação, edificação de seu
ego?"
"Allan, eu não sei. Eu já pensei nisso. A minha esposa me amava muito, e é claro que essas duas
mulheres diziam que elas também me amavam. Penso que era a emoção de experiências diferentes."
"Como maçãs roubadas?"
"Sim, estou certo de que eram maçãs roubadas. A grama do vizinho parece ser mais verde. A
coisa proibida. Quando era menino, eu costumava esconder-me atrás da casa para fumar, porque os
meus pais não queriam que eu fumasse. E eu achava que era errado fumar na presença deles. Os meus
pais, piedosos como eram, estabeleceram padrões muito elevados para mim. É por isso que nunca
pensei em divórcio. Eu podia mentir, enganar, cometer adultério, mas não podia pensar em divórcio,
porque o divórcio é contra a vontade de Deus. A minha estrutura moral e ética era uma superestrutura.
Eu não estava embutido nela — era um estranho nela, de forma que estava constantemente tentando
abrir caminho para sair daquela prisão. Só muito mais tarde a moralidade tornou-se parte integrante de
mim."
Mas os esforços ciumentos de Joanne estavam começando a fazer efeito. As suas acusações
tornaram-se cada vez mais públicas, até que exerceu-se uma pressão crescente do povo, começando a
dizer que o pastor e a organista estavam tendo um "caso". Mas ninguém podia provar nada. Por
enquanto.
Confiantemente, mas estupidamente, Douglas estava agindo com essa moça como agira com
Joanne. O mesmo padrão de bilhetinhos de amor, nos mesmos lugares. Mas um bilhete, com os
dizeres: "Eu te amo", deixado sobre o teclado do órgão, nunca chegou às mãos da organista. Acabou
nas mãos de um diácono. Evidência "preto no branco". Os cães de caça do céu haviam alcançado o seu
fugitivo.
Os diáconos exigiram uma renúncia imediata. Incapaz de manipular a estrutura política da igreja
ainda mais, Douglas estava numa armadilha. Duas vezes antes, ele havia conseguido enganar o
conselho da igreja, e obtido um voto de confiança. Sair voluntariamente teria sido uma admissão da
culpa. Teria significado também deixar para trás um relacionamento em que ele se revelara com o
mesmo grau de intensidade que um alcoólatra se apega à sua garrafa. Agora ele estava sendo
completamente desmascarado. As suas entranhas estavam se agitando violentamente. Desesperada-
mente, ele tentou mostrar uma fachada de falsa confiança. Porém ela começou a se desfazer quando
lhe pediram para sair da reunião e esperar do lado de fora, enquanto eles discutiam o assunto.
"Em vez de pelo menos simular uma saída tranqüila, eu me assustei. Fugi. Tropecei pelo
santuário escuro, e me ajoelhei, chorando de medo e confusão. De volta à sala de reunião, os homens
estavam decidindo o meu destino. Na sala ao lado, havia um pequeno escritório. Telefonei para Sally:
'Venha me buscar. Não posso agüentar mais isto.' Desliguei e, com tal vergonha que quase me levou a
um estado de choque, encarei a hediondez de tudo aquilo, e fugi a esmo, por um lance de escadas
iluminado apenas pela luz vermelha das letras que diziam: 'Saída'.
"Sally me encontrou, o pastor do rebanho, encurvado, em posição fetal, em um corredor do
porão, amontoado contra a escadaria. 'Seria melhor para você, para as crianças, para esta igreja, se eu
estivesse morto', solucei.
"Ela me consolou. Ela me acalmou. Ela nunca perguntou os detalhes. Não havia necessidade.
Ela me levou pela mão através dos corredores escuros da casa de Deus até o nosso carro, estacionado
debaixo da janela iluminada da sala de conferências. Na época eu não o percebi, mas aqueles homens
eram servos de Deus, enviados, pelo Espírito Santo, para realizar a desagradável tarefa de sacudir um
homem de Deus, até que só o que fosse inabalável permanecesse.
"Naquela noite eu me encaminhei até o jardim de nossa bela casa pastoral. De pé sob o céu de
outono, olhei para os céus e gritei: 'Leva-me! Leva-me agora! Depressa!' Em um movimento
desesperado, agarrei a camisa e a puxei num repelão, abrindo-a ao peito, arrancando os botões
juntamente com a bainha, expondo o meu peito nu aos céus, aguardando o relâmpago que eu esperava
que viesse e me abrisse ao meio, levando-me para o inferno — lugar ao qual pertencia.
"Mas não houve o relampejar do raio, pois o fogo purificador já começara a queimar. Além
disso, Deus não pune o pecado da maneira como nós o punimos. Da mesma forma como os
fazendeiros, muitas vezes, queimam um pasto, para matar as ervas daninhas, de forma que a grama
nova possa brotar, assim também o fogo consumidor de Deus queima a escória, sem consumir o
pecador."
Seguiram-se a revelação dos fatos e a resignação. A igreja lhes deu três meses de salário, três
meses na casa pastoral, mas só até a sexta-feira seguinte para desocupar o gabinete pastoral, com a
clara advertência de que eles nunca mais seriam bem-vindos àquela igreja, em qualquer tempo. Os
líderes da igreja mal souberam como resolver a situação. Através de todo o estado, toda a região, as
más línguas depressa levaram aquelas tristes notícias para pastores e líderes denominacionais.
Douglas procurou desesperadamente os seus amigos, só para descobrir que todos se afastavam
dele. Ele era imundo, um leproso. Noventa e duas cartas foram escritas para amigos influentes,
dizendo: "Estou sem igreja. Preciso de ajuda." Só um se incomodou em responder. Talvez esses
homens soubessem o que Deus sabia — e, provavelmente, Douglas também — que ele não estava
pronto para outra igreja. Pois, a despeito do quebrantamento, da rejeição e do fracasso, por dentro, na
verdade, ele ainda não estava diferente. Só a etiqueta exterior havia mudado, na mesma garrafa vazia.
Ele ainda era o magnificente manipulador, o mestre em controlar, o defensor de sua posição. Ele ainda
estava procurando manejar as pessoas, ainda era mais um político do que um homem de Deus.
Uma igreja pequena, mas em crescimento, abriu-se em Ohio — a única disponível. Mas, a fim
de conseguir a igreja, Douglas mentiu a respeito das razões de sua exoneração. Depois de se mudarem,
Sally dedicava-se às crianças em casa, enquanto Douglas continuava os seus contatos com a organista,
agora em outro estado, pois ela também fora despedida simultaneamente com ele. Havia
correspondência, telefonemas, uma caixa postal particular, encontros clandestinos. Viagens a outras
cidades, a serviço da igreja, sempre incluíam uma parada secreta, mas que não era secreta para Sally.
Ela tornara-se uma boa detetive, descobrindo os chamados nas contas de telefone, os bilhetes e recibos
de motéis. "Toda vez que ele saía para fazer uma viagem", lembra Sally, "eu sabia que ele ia ve-la. Eu
o podia até perceber pela maneira como ele agia. Muitas vezes eu disse a ele que podia suportar
melhor a verdade do que as suas mentiras. De qualquer forma, eu iria descobrir, e isso era mais
doloroso do que se ele simplesmente me contasse a verdade logo do princípio."
Logo rumores do passado começaram a se infiltrar até Ohio — rumores de adultério, de
manipulação, de mentira. E os sentimentos de Douglas? "Eu continuava a lutar, a arrostar
corajosamente o ataque violento e crescente de fatos que continuavam a se amontoar contra mim. A
velha ressaca exercia sucção contra as minhas entranhas, e eu sentia que estava para ser varrido de
volta para o mar.
"A crise explodiu certa manhã de domingo, quando subi ao púlpito para pregar. No púlpito
havia uma petição, para eu renunciar. Era assinada por trezentas e cinqüenta pessoas, muitas das quais
estavam assentadas sorridentes na congregação. Um grupo de homens havia contratado um detetive
particular e examinado o meu passado. O relatório do detetive — quarenta e sete páginas de fatos
terrivelmente distorcidos — havia sido fotocopiado e distribuído a toda a congregação. Os diáconos
exigiram que eu fosse submetido a um teste com o detector de mentiras. Embora eu tivesse passado
nesse teste, isso não foi o suficiente. Fui despedido. Não tive escolha, a não ser esgueirar-me
envergonhado outra vez para casa, e abraçar-me com minha esposa e filhos, enquanto o fogo de Deus
continuava a sua obra purificadora."
Havia um pequeno grupo de pessoas que deixou a igreja com ele, ainda crendo nele, e eles
começaram a reunir-se como uma congregação pequena, lutando para sobreviver, em uma loja.
Despojado de tudo o que, para conseguir, ele pisara sobre muitas pessoas — poder, controle,
reconhecimento — Douglas agora tinha tempo para pensar. Com trinta e cinco anos de idade, ele era
um homem arrasado, com sonhos arrasados e anos de fracasso atrás dele e ao redor dele. Durante
meses ele havia flutuado com a maré, açoitado por todas as circunstâncias que se apresentaram. Vazio,
sem objetivos, mas de certa forma ainda determinado a abrir os seus próprios caminhos.
Mas o começo de uma mudança de cento e oitenta graus foi uma reunião "casual" com um
estranho que se tornara seu amigo. Esse amigo lhe compartilhara uma profunda experiência espiritual
— algumas das grandes coisas que Deus fizera por ele — e convidara Douglas a participar de uma
conferência, com ele, em Chicago. Conferências eram coisas costumeiras para ele, mas aquela devia
ser a experiência de sua vida. Todos os seus outros encontros durante os últimos anos ele havia
preparado pessoalmente e procurado infatigavelmente. Este encontro foi preparado por Deus. Douglas
não tinha idéia do que o esperava, à sua família e ao seu futuro, quando atravessou o vestíbulo daquele
hotel, e entrou no salão de convenções, onde estava se realizando a conferência.
Sendo um visitante, sem responsabilidades determinadas naquela reunião, Douglas ficou
observando o povo, enquanto este entrava para as reuniões. Ele sentiu o seu deleite e excitação de tão-
somente estarem ali. Havia reuniões com diferentes oradores, o dia inteiro, para vários grupos: uma
refeição variegada de oportunidades espirituais de ensino, inspiração e comunhão. Contatos pessoais,
no intervalo entre as reuniões, à mesa de refeições e nos corredores, fizeram Douglas entrar em
contato frontal com pessoas cujas vidas haviam sido radicalmente e lindamente mudadas por Deus.
Tudo isso começou a se focalizar em um vazio interior que estava no centro do ser de Douglas, que
havia sido cercado pela sua criação religiosa, seu treinamento, suas atividades. Esta sensação de vazio
só aumentou a sua luta, enquanto ele se assentou para assistir à última reunião vespertina. Sem
nenhuma intenção de se envolver pessoalmente ou de responder ao apelo público do orador de ir à
frente para orar, ele colocou a cabeça nas costas do assento que ficava à sua frente.
De repente, sem aviso prévio, ele começou a chorar incontrolavelmente — a chorar tanto que
com dificuldade conseguia respirar. Era como se todas as represas interiores tivessem se rompido, e
ele estava sendo inundado de dentro para fora. Sentiu o braço de um amigo ao redor dele, e ouviu a
sua voz orando por ele. Até essa hora, Douglas sempre se preocupara com a opinião pública, a sua
imagem pública. Anteriormente, as lágrimas eram derramadas em particular. Ninguém sabia, ninguém
as via. Agora ele estava soluçando convulsivamente, com gente a toda sua volta. Fora posto a
descoberto. Não era mais capaz de controlar ou manipular as suas emoções, visando aos seus próprios
interesses.
Aquela intensa agitação emocional colocou em posição diametralmente oposta o único ponto de
todo conflito de sua vida: o medo. "Eu sabia que, se eu me abrisse, Deus iria tirar de mim todas as
coisas que eu considerava preciosas, deixando-me à sua mercê, não agüentava lutar mais,
Pela primeira vez lia VM » T
A luz fora acesa em meu abismo negro.
"Quando voltei ao meu quarto, no hotel, era meia-noite. A primeira coisa que desejei fazer foi
telefonar para Sally, acordá-la e contar-lhe as boas-novas. Eu disse: 'Eu precisava telefonar para você e
dizer-lhe como a amo do fundo do coração.' E chorei novamente. Desta vez, uma espécie diferente de
lágrimas. Limpas. Refrescantes,"
Qual foi a reação de Sally ao telefonema de Douglas, e que significado teve? Sem dúvida, ela
pensou que ele estava visitando a sua amante enquanto assistia à conferência. "Sim, mas quando ele
telefonou, chorando à meia-noite, para me dizer que me amava, percebi que algo havia se rompido
dentro dele. Ele nunca demonstrara emoções, como o choro, antes disso — pelo menos não em minha
presença. E então, é claro que eu também comecei a chorar. Ele nem conseguia explicar o que lhe
acontecera, mas o resto daquela maravilhosa noite de vigília fiquei pensando se esta finalmente não
seria a resposta às minhas orações."
No dia seguinte, Douglas pegou um avião diretamente para casa, desta vez com um desejo novo
e dominador: contar a Sally toda a história — tudo a respeito de seu encontro com Deus e tudo acerca
de seus dois "casos". Deitados juntos na cama, ele começou uma confissão que durou a maior parte
daquela noite de domingo. "Abri o coração acerca de tudo o que havia feito, tudo o que estava fazendo
e tudo o que havia planejado fazer nos próximos dias — porque eu tinha um encontro marcado no dia
seguinte em outra cidade. Expus tudo. As mentiras, o engano. Apesar de ela chorar, suportou-o
extremamente bem. Ela nunca exigiu detalhes, embora eu estivesse preparado para lhe contar todos os
detalhes, tudo o que ela pedisse. Foi uma grande catarse, apesar de muito dolorosa para Sally, e
especialmente dolorosa para mim.
"Todavia, pela primeira vez em minha vida, percebi que, se as nossas vidas e o nosso casamento
deviam ser salvos, teria que ser através da sinceridade. A única maneira de eu o poder fazer era
desarmando-me e dando a ela o pino percussor da granada e dizendo: 'Segure-o. Você pode me
explodir a qualquer momento, se quiser, mas precisa saber tudo a meu respeito.' Tomei a decisão de
nunca mais deixar que algo se interpusesse entre nosso relacionamento que eu não pudesse
compartilhar com ela. Fosse o que fosse."
Perdão! Esta palavra é linda e é fácil pronunciá-la. Mas como é que você esquece anos de
engano e devastação? Este era D problema de Sally. A confissão de Douglas foi como o nascimento do
sol depois de sete anos de noite. Como é que você se acostuma com a luz, quando ela começa a revelar
algo a respeito de você mesmo? O perdão se completa em um momento, mas, e a cura, leva mais
tempo? O ato de perdoar restaura a confiança automaticamente? E que dizer das cicatrizes?
Voltei-me para Sally, sentada em uma cadeira ao meu lado, e notei a paz e a serenidade
expressas em sua fisionomia. Ela era uma mulher encantadora, agora com quase cinqüenta aros. "É
claro que eu estava me regozijando", comentou ela, pensativamente. "Mas estava um pouco temerosa
ao mesmo tempo. Aquilo iria durar? Eu já me sentira desapontada tantas vezes, que hesitava em me
permitir crer totalmente que todo aquele pesadelo acabara. Eu não podia relaxar completamente. A
medida que o tempo passou, Deus começou a revelar-me as minhas atitudes de justiça própria. Eu
ainda estava julgando o meu marido de maneira crítica e sentindo pena de mim mesma, e comecei a
querer possuí-lo, controlá-lo. Se eu tão-somente pudesse agarrá-lo, não deixá-lo sair de minhas garras,
ele não cometeria mais erros. Essa possessividade também me fez tentar modificá-lo, para que não
tivéssemos mais problemas. Finalmente percebi que, se Deus havia começado essa obra nova em
Douglas, também só ele poderia continuá-la e completá-la. Assim, reunindo toda a minha força de
vontade, entreguei-o totalmente a Deus — eu o liberei. 'Ele é teu... Ele realmente não pertence a mim.'
E foi então que a verdadeira cura começou a acontecer."
Do outro lado da sala estava Douglas; olhei para ele — agora, dificilmente se diria que era o
retrato do homem que acabara de me descrever. Como eu, com uns poucos quilos além do peso ideal,
ele tem uma fisionomia agradável, com um sorriso fácil, traços animados, mente rápida. "Qual foi o
ponto central de SUA. experiência?" — perguntei. "O que realmente surgiu da experiência purificadora
e saneadora que você teve com Deus? Certamente ela afetou as suas emoções, mas como ela mudou a
sua atitude, as suas ações?"
A resposta dele foi clara, limpa. "Fui levado em direção à verdade — verdade para com minha
esposa, verdade para com Deus. Imediatamente depois daquela experiência decidi que passaria o resto
de minha vida sendo honesto. Eu sabia o que o fingimento nos custara. Perdoe-me a expressão, mas
nós dois havíamos apanhado como o Diabo. Assim, ser honestos, na verdade, não nos custou nada. E
também uma nova apreciação por minha esposa começou a se desenvolver. Passei a vê-la sob uma
nova luz. Eu não só descobri que ela é uma comigo em seu relacionamento com Deus, e igual a mim
em sua inteligência e caracterização emocional, mas que em muitas áreas excede muito a mim no que
faço. Ela algumas vezes ouve Deus muito melhor do que eu. Também notei que desejava colocar o
meu braço ao redor dela em público, e segurar a mão dela, o que não era meu costume. Uma outra
coisa: comecei a ver a diferença entre amor e paixão. Os sentimentos que vêm da paixão, eu não posso
controlar. Mas posso controlar a maneira como expressarei esses sentimentos em ações. Posso
controlar para quem vou telefonar. Para quem vou escrever. Posso controlar quem vou ver, quando
vou ver essa pessoa e com quem irei. Aprendi que amor é um ato, e que preciso começar a trabalhar
nesse sentido — que os meus sentimentos devem ser colocados sob o controle de meus atos."
Faz quinze anos, agora, que o casamento de Douglas e Sally ressuscitou dentre os mortos. A sua
casa espaçosa tornou-se uma Betel — uma casa de Deus — onde eles agora têm um ministério que
tem alcançado outros casais atingidos pela fratura de um "caso" e que estão lutando com a dor que ele
causou. Eles suportaram essa dor pessoalmente. Eles a podem compreender, mostrar simpatia. Eles
atravessaram o sofrimento excruciante causado pelas feridas auto-infligidas. Agora podem aconselhar
com compaixão e certeza. Quando tão-somente um casal pode descobrir, através deles, que há
esperança e cura, eles sentem que a experiência que sofreram não foi em vão.
Enquanto os dois falavam com tanta sinceridade e franqueza a respeito de seus fracassos e da
restauração de seu casamento, o meu coração sentiu-se aquecido e estimulado. Desejei que outros
casais problemáticos que conheço pudessem enfrentar os seus problemas com tanto sucesso. Levantei-
me do sofá confortável, e preparei-me para ir embora. A filha mais nova entrou — uma bela jovem de
dezenove anos. Um netinho veio engatinhando na direção deles. Outros netos, que vivem perto,
brincavam no quintal. Era uma cena tranqüila. Senti pena de ter de ir embora, mas o meu avião não
iria esperar.
Mas eu tinha mais uma pergunta para ambos. "Que lições profundas foram gravadas em suas
almas, com todos esses problemas, e como é que vocês tratam os ecos do passado?"
Sally falou primeiro: "Antes de tudo, uma palavra acerca do perdão. É fácil perdoar alguém
quando você realmente o ama. Esta foi a única razão por que consegui continuar perdoando Douglas
durante todos aqueles anos. Perdão não é apenas algo que você faz. É algo que você é. Não se constitui
de palavras que saem de minha boca, dizendo: 'Eu te perdôo.' É a maneira como uma pessoa vive. Não
deixando a vingança para uma hora mais propícia. É apagar completamente a lousa.
"E, também, o divórcio nunca foi uma opção. Olhando para o passado, fico contente por
ninguém ter aparecido, aconselhando-me a me divorciar. Se eu tivesse sido maltratada fisicamente,
separação ou divórcio poderiam ser necessários, para a minha proteção. Eu sei que tinha todos os
direitos legais e morais de me divorciar, mas preferi permanecer com ele. Vejo toda a mensagem da
cruz nos chamando para permanecer no relacionamento matrimonial e morrer para o eu ali. De que
outra forma a vida nova jorrará em seu cônjuge, a não ser que você esteja disposta a 'morrer'?
"Finalmente, a cura não acontece da noite para o dia. Mas sempre começa com a veracidade —
por dolorosa que seja. Ela leva muito tempo, mas melhora cada dia. As cicatrizes ainda estão lá dentro,
mas o tempo é um fator curador. Eu me focalizo nas experiências felizes de nossos anos recentes, em
vez de nas más recordações do passado tenebroso. Quando um eco do passado repercute, agora
podemos enfrentá-lo juntos, com toda a franqueza. Por que creio que o casamento é para sempre, Deus
me capacitou a me firmar, e agora ele nos abençoou além de nossa imaginação."
Douglas concluiu: "Estou convencido de que uma união mística realmente existe no casamento.
Nós nos tornamos um. Não somos mais duas pessoas vivendo na mesma casa, dois corpos dormindo
no mesmo leito. Em nossos espíritos aconteceu algo que nos tornou um. Esta unidade do casamento
tem como condição necessária o fato de cada cônjuge ter total acesso a tudo que está acontecendo no
outro. Isto não significa dragar todo o passado, e revelar tudo o que aconteceu antes do casamento.
Mas significa viver agora, em nosso relacionamento, com total franqueza. Aconselho os casais da
forma que desejaria que alguém nos tivesse ensinado quando começamos. Façam um contrato de que,
não importa como doa, vocês dois compartilharão todos os sentimentos que tiverem. Não só fatos, mas
também sentimentos, porque os sentimentos são sempre as coisas que nos levam aos fatos. Na
verdade, não somos responsáveis por nossos sentimentos, mas pela maneira como os expressamos e
colocamos em ação.
"Sally e eu temos posto em prática deliberadamente este conceito da verdade. A coisa que
destrói o casamento é a mentira. O adultério sozinho não destruirá, necessariamente, o casamento; é a
mentira. Fomos capazes de resolver o problema do adultério quando o trouxemos à luz. Todo homem
tem defeitos e pecados. Só quando você o conserva no escuro é que o pecado cresce e se multiplica. Se
ele não é trazido à luz, não há esperança para ele. No começo, eu não queria trazê-lo à luz, porque não
queria ajuda. Agora quero ajuda. Assim, se for tentado a pecar, quero que a coisa seja exposta
imediatamente e isto significa que preciso incluir minha esposa. Pertencemos a um grupo de mais
outros quatro casais, com os quais fizemos um contrato de compartilhar e apoiar uns aos outros.
"E também, lembre-se daquele preceito que foi mencionado ligeiramente acima, a respeito de
amor e confiança. Minha esposa o percebeu antes de mim, porque ela achava difícil confiar em mim.
Na verdade, não somos chamados para confiar uns nos outros. Não há ninguém em quem se possa
confiar totalmente. Todas as pessoas são capazes de me decepcionar ou trair, e eu sou capaz de trair os
outros. Somos chamados para confiar naquele que nunca nos trairá, nunca nos decepcionará. Mas
somos chamados também para amarmos uns aos outros. Se o nosso relacionamento for baseado na
confiança, então no momento em que essa confiança for traída, o relacionamento estará destruído.
Assim, confio em Deus e amo minha esposa. Ela confia em Deus e me ama. E, se ela me decepcionar,
vou continuar a amá-la de qualquer forma, porque é a isso que estou dedicado. O amor de Sally
continuou a manifestar-se a mim, preenchendo a brecha que eu constantemente criava, mediante o
meu adultério. Ela estava sempre indo ao meu encontro.
A distância entre nós continuou a mesma, porque ela continuou iniciando, tendo a iniciativa de
me amar. O seu amor, que não me condenava, é a coisa que cobriu uma multidão de pecados.
"Deixe-me também acrescentar algo à palavra de Sally a respeito do perdão. Temos a tendência
de querer perdão instantâneo um do outro. Só Deus pode propiciar isso. Quando digo à minha esposa
que o assunto acabou, quero que ela nunca mais o aborde outra vez, por que acho que ela deve fazer
como Deus faz — apagá-lo para sempre da memória dela. Porém ela não é igual a Deus, Ela opera na
dimensão do tempo, enquanto Deus opera na dimensão da eternidade. Descobrimos que tempo e
paciência são necessários para que o perdão amadureça em cada um de nós, de forma que muitas vezes
precisamos esperar um pelo outro, enquanto ele se desenvolve.
"Finalmente, sei que o fracasso não é nem fatal nem final. Deus é um Deus restaurador, que nos
levanta de onde estamos e nos propicia um novo começo. Eu estava numa verdadeira fossa. Posso
dizer-lhe exatamente como ela é, como cheira mal e o que sai dela. Sei o que os 'casos' fazem ao seu
cônjuge e aos seus filhos, se você continua nesse caminho. Mas Sally e eu somos testemunhos vivos
de que não importa o quanto seja tenebrosa a situação em qualquer casamento, no momento, ou
quantas nuvens negras estejam pairando sobre você por causa de fracassos passados, Deus pode
perdoar completamente. Os campos que foram consumidos pelos gafanhotos são restaurados com
belas colheitas."
Nessas circunstâncias tenebrosas, não conheço nada melhor do que esta certeza.
CAPÍTULO 9
Torne Seu Casamento Invulnerável a
"Casos"
Não há salvaguarda melhor contra a infidelidade do que um casamento vital, interessante.
Dr. Norman M. Lobenz
EM UMA viagem ao Alaska, Evelyn e eu ganhamos umas férias de uma semana, com todas as
despesas pagas, no fabuloso Parque Nacional de Monte Mc-Kinley. Voamos para o parque em um
pequeno avião, sobre profundos vales entre montanhas, bonitos lagos e entre picos magnificentes. Que
cenário maravilhoso! Em seguida transferimo-nos para um ônibus de turismo, para a viagem de cinco
horas através das montanhas, até o remoto Camp Denali, com o nosso hospedeiro, Wally Cole.
Como acontece às crianças, em sua primeira viagem à Disneylândia, tudo para nós era motivo
para admiração. Era o paraíso dos fotógrafos. Ursos pardos, caribus, alces, ovelhas selvagens, pássaros
raros — vimos todos eles. E o ponto culminante da América do Norte, o Monte McKinley, era
espetacular, solene, majestoso, imponente!
Mas, nessa viagem inesquecível, havia também muitos sinais comuns, ao longo do caminho,
sinais de advertência: Cuidado com Rochas Soltas. Não Saia da Estrada. Não Acampar Aqui. E
também sinais indicadores: Parada Panorâmica de Descanso. Estação Científica. Monumento
Histórico.
O casamento é assim — uma viagem longa e memorável. E ele torna-se mais significativo
quando você presta bem atenção aos sinais. E mais seguro — seguro de um "caso" de infidelidade
conjugal. Primeiramente, vejamos os sinais de advertência.
NÃO COMPARE O INCOMPARÂVEL
Não há dois casamentos iguais, de forma alguma. Portanto, compará-los é uma atitude negativa,
produzindo resultados negativos. Se você comparar o seu casamento com muitos outros ao seu redor,
que estão se desmoronando ou são apenas concurso de resistência, ficará desanimado, sentir-se-á fora
de sincronismo com os tempos atuais. Ou se tornará complacente, pensando que não tem por que se
preocupar. Se você se focalizar em casamentos que acha que realmente tiveram sucesso, você se
menosprezará, ampliará as suas próprias incapacidades e irá desesperar. Você nunca poderá alcançar o
padrão.
A verdade é que não existe casamento-padrão. As comparações são como uma porta giratória,
que não leva a gente a lugar nenhum. Você fica dando voltas, e termina no mesmo lugar. Você só
confirma a sua convicção de que seu casamento é de segunda classe, ou aumenta o seu temor de que
não conseguirá ter um casamento de primeira classe. Estas duas atitudes matam a iniciativa pessoal,
que é necessária para se obter êxito no casamento. Não nos admiremos de a Bíblia dizer: "Os que se
comparam entre si não são sábios."
O seu casamento é único — e, por isso, incomparável. Você não compara um Volkswagem com
um Mercedes Benz, embora ambos sejam automóveis, e ambos possam levar você aonde você quiser
ir. Tudo a respeito desses dois carros é diferente, embora ambos tenham as mesmas peças essenciais e
operem segundo o mesmo princípio básico. As personalidades e temperamentos dos cônjuges, as
características herdadas das famílias, as oportunidades, a instrução e a experiência — tudo isso difere
amplamente em cada situação. É fácil imaginar que outros casamentos são muito melhores do que o
seu, mas, na verdade, você não sabe a verdadeira situação do casamento de ninguém. A comparação
de seu casamento com o de qualquer outra pessoa jamais pode ser válida ou positiva. As sementes do
sucesso no casamento já se encontram em seu casamento. Você precisa regá-las e fertilizá-las.
O seu cônjuge é especial. Você não precisa de um outro cônjuge. Entre vocês, ambos têm os
recursos para edificar i.m grande relacionamento, se realmente estiverem empenhados nisso. Ninguém
mais tem o mesmo potencial que vocês têm — a combinação especial de forças e doçura que Deus
lhes deu. Todos os elementos para um casamento que satisfaça já estão aí, se você quiser usá-los. Você
não precisa de um novo emprego, uma nova amante, lá fora, ou de uma cirurgia plástica. Tudo está
bem ao seu alcance, se cada um de vocês dois assumir uma nova atitude. Essas riquezas estão ao seu
alcance. Mas você precisa procurá-las e continuar procurando.
Isto não será fácil. Nenhum casamento maravilhoso acontece automaticamente. Tudo o que tem
valor vale o esforço que se faz para alcançá-lo. Se você está tendo dificuldades, a tendência é
focalizar-se nos problemas, e não em encontrar soluções. A situação exige coragem, bem como
persistência, determinação e dedicação. Ao invés de comparar o seu casamento com outros, compare-o
com o potencial que Deus deu a vocês dois e com os eternos princípios de Deus, que funcionam.
Esquecemo-nos, quando dizemos que a grama do vizinho é mais verde, que ela precisa ser aparada,
fertilizada e regada, da mesma forma como a. de nosso jardim. Os esforços para cultivar o seu
gramado darão resultados mais recompensadores e permanentes do que a excitação passageira de
escapar para uma aventura.
Não olhe para fora, para ver o que os outros estão fazendo. Aproveite qualquer idéia prática que
você puder, provinda de fontes confiáveis, e aplique-a criativamente ao seu relacionamento. Copie
todas as boas idéias que puder, e faça experiências com elas. Pratique-as. Copie, mas não compare.
Olhe para dentro. Você está, agora mesmo, pisando em sua mina de ouro — a sua jazida de diamantes.
Russell Conwell conta uma história incomparável:
Era uma vez um idoso persa que se chamava Ali Hafed. Ele era possuidor de uma grande
fazenda, pomar, campos de cereais, hortas. Fizera muitos investimentos, e estava rico e contente. Um
dia recebeu a visita de um velho sacerdote budista, um homem de elevada estirpe. Eles se assentaram
perto do fogo, e o sacerdote contou-lhe a minuciosa história da criação. E concluiu dizendo que os
diamantes eram as pedras preciosas mais raras e valiosas que haviam sido criadas, "gotas congeladas
de luz solar", e, se Ali tivesse diamantes, ele poderia obter o que quisesse para si e para a sua família.
Ali Hafed começou a sonhar com diamantes — acerca de quanto eles valiam. E tornou-se pobre.
Ele não perdera nada, mas sentia-se pobre, porque tornou-se confuso e descontente porque temia que
fosse pobre. Ele disse: "Quero uma mina de diamantes", e ficava acordado durante a noite.
Certa manhã, ele decidiu vender a sua fazenda e tudo o que tinha, e viajar pelo mundo, em
busca de diamantes. Juntou o dinheiro que tinha, deixou a família aos cuidados de um vizinho, e
começou a sua busca. Viajou pela Palestina e pela Europa extensivamente, e nada encontrou. Por fim,
depois que o seu dinheiro já fora todo gasto e ele estava em farrapos, em miséria e pobreza, chegou a
uma praia em Barcelona, Espanha. Uma grande onda veio quebrando, e esse homem pobre,
desanimado, sofrendo, quase moribundo, não pôde resistir à terrível tentação de se lançar nessa onda
tremenda. E afundou, para nunca mais emergir.
O homem que comprou a fazenda de Ali Hafed, certo dia levou o seu camelo para o regato que
havia em sua horta. Quando o camelo colocou o focinho naquele ribeiro raso, o novo proprietário
notou um brilho curioso de luz, que provinha de uma pedra nas areias brancas da torrente. Ao
esgravatar com os dedos a areia, ele encontrou um monte das mais belas pedras preciosas: diamantes.
Esta foi a descoberta da mais magnífica mina de diamantes na história da humanidade: a Golconda. Os
maiores diamantes que enfeitam as coroas reais do mundo vieram dessa mina.1
Os diamantes de Ali Hafed estavam debaixo de seus próprios pés, mas ele não o percebeu.
Os diamantes de seu casamento estão em seu quintal. Não os deixe passar despercebidos. Não
os menospreze. Garimpe os.