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Sumário
Sumário.....................................................................................................................................................................2
Ainda Existe Alguém Fiel?.......................................................................................................................................3
Romance na Cumeeira..............................................................................................................................................8
Por Que os Cônjuges Se Traem?.............................................................................................................................13
Mitos e Lendas Acerca do Casamento....................................................................................................................25
Não Me Induzas á Tentação....................................................................................................................................31
Aconteceu - e Agora?..............................................................................................................................................39
Desfazendo o Triângulo..........................................................................................................................................47
Anatomia de um "Caso" - e Depois!.......................................................................................................................58
Torne Seu Casamento Invulnerável a "Casos"........................................................................................................69
CAPÍTULO 1
Ainda Existe Alguém Fiel?
O que outrora era chamado de adultério e escondido como estigma de culpa e embaraço,
agora é um "caso" — uma palavra que soa bem, convidativa, envolta em mistério, fascínio e emoção.
POR QUE você não terminou a história?" — perguntou ele, apertando minha mão, ao despedir-
se, depois da sessão da manhã da conferência para homens. Eu havia contado a história de um homem
cuja infidelidade havia arruinado o seu casamento, causado um divórcio em outra família e deixado
cicatrizes indeléveis na alma de seus filhos.
"O que você quer dizer?" — perguntei.
"Petersen, tal história não termina costumeiramente em tragédia e frustração; muitas vezes é
através de um 'caso' extraconjugal que uma pessoa encontra o verdadeiro amor e felicidade e alegria
pela primeira vez. Podemos almoçar juntos?"
No carro, indo para o restaurante, fiquei sabendo que esse homem franco, de meia-idade, era um
pastor que dirigia três pequenas igrejas naquela região. Embora casado com uma bela e talentosa
mulher (em sua própria descrição), ele estava profundamente envolvido com uma jovem pianista de
uma de suas igrejas.
"Minha esposa é uma boa mulher, mas quando me casei com ela foi apenas uma decisão
intelectual, e não sabíamos o que era amor. O nosso casamento é sólido, mas não muito emocionante,
e os nossos três filhos adolescentes estão indo bem."
"Fale-me a respeito da pianista."
"Eu comecei a atender chamados pastorais na casa dela quando os filhos estavam na escola e o
marido trabalhando. Descobri que tínhamos afinidade em muitos sentidos, e que havia nela uma
vivacidade que minha esposa não possui. Gostei da maneira como eu agia e me sentia quando estava
com ela. A primeira vez que 'fizemos amor' foi algo do outro mundo."
Com nervosa excitação em sua voz, ele continuou: "Ela é tão desinibida e satisfaz todas as
fantasias sexuais que já tive. Eu nunca havia me divertido muito em minha vida; nunca havia me
sentido jovem, romântico ou 'sexy'. Pela primeira vez descobri o que é o verdadeiro amor. Temos o
direito de ser felizes, não é? Qualquer coisa que seja boa assim tem que estar correta. Eu preferiria ir
para o inferno com ela, do que para o céu com minha esposa."
"Amor verdadeiro?" — perguntei.
"Certamente! Eu estou sempre pensando no melhor para ela. Eu jamais a feriria. Não poderia
pensar em 'fazer amor' com ela enquanto ela estivesse menstruada ou quando estivesse nos dias
férteis."
"Se isto é amor verdadeiro, porque você não se divorcia de sua esposa e se casa com ela?" —
sugeri, jocosamente.
"O quê? Você está brincando! Ora, isso seria errado. Eu não quero ferir minha esposa e destruir
duas famílias."

A Loura
Ela era uma mulher muito atraente: jovem e um tanto tímida. Eu me encontrara com ela depois
da sessão de uma conferência, e ela perguntara se eu tinha tempo para ouvir a sua história.
impecavelmente vestida, o cabelo bem penteado, ela parecia um modelo comparecendo a uma
entrevista. Quando nos sentamos, ela teve todo o cuidado com a sua postura. A posição de suas mãos e
pés era tal, que presumi que ela era muito dona de si ou havia sido treinada em uma escola de arte.
Séria e pesando cuidadosamente cada palavra, ela falou de seu casamento malogrado, que estava agora
no limiar do colapso. Ela e seu marido haviam viajado oitenta quilômetros, para participar daquela
conferência.
A história desconcertante do casamento deles parecia focalizar-se em uma queixa: "Eu preciso
tanto que ele goste de mim. Preciso sentir que significo algo para ele. Eu daria tudo para que ele
dissesse que sou maravilhosa ou linda para ele. Não posso entender por que recebo cumprimentos de
outras pessoas a respeito de minha aparência e meus talentos e parece que ele não os nota de forma
alguma."
"Você encontrou alguém que a encoraja e aprecia?" — perguntei. Ela hesitou, olhou para o
assoalho e, vacilante, balançou a cabeça afirmativamente.
"Fale-me a esse respeito" — continuei.
"Sei que isso está errado e sinto-me culpada, mas não sei o que fazer. Eu nunca pensei em ter
um 'caso' — de fato, este homem é o mais feio que conheço — mas aprendi a amá-lo. Da primeira vez
que o vi, senti repulsa, mas ele falou amável e compreensivamente; ele me aceitou, fez-me sentir
mulher, importante e atraente, e me deu o apoio emocional que eu tanto queria de meu marido.
Finalmente esqueci a sua aparência, porque quando alguém faz por você o que ele fez, você deseja
dar-lhe de volta muito mais — tudo o que você tem."
A essa altura havia lágrimas em seus olhos, e ela exclamou: "Não posso suportar a idéia de
desistir dele, porque acho que meu marido jamais mudará."

O Executivo
Eu estava em meu quarto de hotel, esperando. Alguém bateu à porta. O homem que havia
telefonado, marcando um encontro, chegara. Ele era conhecido na cidade, tivera êxito nos negócios e
era muito considerado por sua capacidade de liderança e seu excelente casamento e família
maravilhosa. Ele viera de sólidas origens, fora educado em colégios evangélicos, era um líder em sua
igreja e estava ativamente envolvido em muitos empreendimentos cristãos.
Depois que trocamos algumas frases convencionais, ele sentou-se nervosamente em uma
cadeira.
"Em que posso servi-lo?" — perguntei.
Por vários minutos, ele falou em termos gerais de problemas que são comuns ao homem:
"Todos enfrentam problemas... ninguém é perfeito... mesmo como crentes, freqüentemente lutamos
com interrogações a respeito do que ninguém sabe... algumas vezes há coisas aqui dentro que os
outros não podem ver e acontecem coisas que nos surpreendem..."
Senti o seu embaraço para chegar ao ponto difícil de revelar o objetivo de sua visita. Ele rodeou
o problema repetidamente, procurando algum indício de compreensão em meus olhos. Finalmente, em
um esforço para ajudá-lo, perguntei: "Por que você não me diz somente o nome dela e conta como
tudo começou?"
"Então você sabe, não é?"
É claro que, a essa altura, eu sabia.
Ele descreveu as recentes desavenças que ele e a esposa estavam tendo a respeito dos filhos e
como o seu relacionamento havia se tornado tenso. Eles estavam pouco a pouco se afastando um do
outro. Nesse mesmo período de solidão, aparentemente ele foi lançado, de maneira inevitável, devido
a atividades eclesiásticas, nos braços de uma jovem e atraente mulher divorciada. Ela havia ficado
frustrada com o ex-marido: "Ele era bronco, parado, sem atrativos — bom, mas chato." As histórias
dos dois eram como as peças de dois quebra-cabeças que se ajustassem. Eles se encaixaram
perfeitamente. Parecia que fora até algo providencial, algo que lhes acontecera pelo destino. Eles se
entendiam um ao outro, precisavam um do outro. Olhos se encontraram e mãos se tocaram —
contentamento, uma fagulha, uma chama, e, antes de perceberem o que estava acontecendo, eles
estavam na cama juntos.
Na ocasião em que ele veio conversar comigo, eles estavam tendo encontros freqüentes, e ele
estava lutando com os sentimentos de terror e fascínio — amor e um sentimento atormentador de
culpa. "Eu sempre achei que algo como isso não deve acontecer, mas quando acontece com você é
diferente. Orei sinceramente para que, se Deus não quisesse aquilo em nossas vidas, que tirasse os
sentimentos que tenho por ela. Chegamos a orar juntos. Orei neste sentido repetidamente, e ele não
respondeu; portanto, deve significar que ele nos quer juntos."
Em uma pequena cidade do centro-oeste, o culto terminou, e a igreja estava se tornando vazia e
silenciosa. Uma mulher, que retardara sua retirada, esgueirou-se até mim, e perguntou se eu podia
conceder-lhe um momento. Indo direto ao assunto, ela expressou fortemente a sua discordância com
uma parte de minha mensagem: — Você chama isso de adultério; eu o chamo de "um caso". Você o
faz soar como a coisa pior do mundo. Eu não estou envolvida com algum vagabundo sujo da rua. O
meu homem é respeitado e tão bom quanto qualquer outra pessoa desta igreja. Acontece ser este meu
pecado corriqueiro e... qual é o seu? Você não é um anjo, é?
Ela piscou para mim, e mergulhou na noite.
Estes são apenas quatro dentre as centenas de homens e mulheres que têm compartilhado
comigo os seus segredos maritais, durante os meus trinta e oito anos de ministério itinerante: esposas
de pastores, missionários, professores de Escolas Bíblicas Dominicais, conselheiros cristãos, membros
de igrejas e líderes cristãos muito ativos. Eles refletem a crescente incidência de casos extraconjugais
entre crentes professos, revelam a ampla gama de pessoas afetadas e a tendência de encontrar razões
para apoiar esse procedimento, embora essas razões possam ser contrárias às convicções morais e
bíblicas que temos esposado há muito tempo.

NÃO É UM PROBLEMA NOVO


Infidelidade no contexto do casamento não é uma idéia nova. Não é um produto da chamada
revolução sexual ou da nova moralidade. Casos extraconjugais têm acontecido à humanidade durante
milhares de anos. "Quando os faraós governavam o Egito", sublinha o psiquiatra Alexander Wolf, de
New York, "virtude, continência e fidelidade matrimonial eram requeridos do marido, e a sua
infidelidade era tratada com rigor." O cineasta social Robert A. Harper declara que "regulamentos a
respeito de relações extra-conjugais e violações desses regulamentos estão certamente enterrados no
passado pré-histórico do homem. Todas as culturas conhecidas estabeleceram algumas limitações em
relação às relações sexuais extraconjugais e alguns meios de castigar as violações desses tabus
designados."1 Em um estudo feito pelo antropólogo J. S. Brown, descobriu-se que, dentre oitenta e oito
sociedades, em várias partes do mundo, 89% desses grupos puniam os seus cidadãos quando eram
descobertos envolvidos em um caso extraconjugal. Em outro estudo, de cento e quarenta e oito
sociedades, os tabus contra casos extraconjugais apareciam em 81 % delas.2
Não obstante, uma conclamação à fidelidade na década de 80 é como uma voz solitária
clamando no deserto sexual de hoje em dia. O que outrora era rotulado de adultério, escondendo um
estigma de culpa e embaraço, agora é um "caso" — uma palavra que soa bem, convidativa, envolta em
mistério, fascínio e emoção. Um relacionamento, e não um pecado. O que outrora ficava por detrás
dos bastidores — um segredo bem guardado — está agora nas manchetes, é um tema da TV, faz
sucesso, é tão comum como um resfriado. Os casamentos são "abertos"; os divórcios, "criativos".
A promiscuidade sexual nunca foi o costume estabelecido em nenhuma sociedade humana, e,
sim, sempre considerada uma influência negativa sobre a família e a sociedade. Até a revista Playboy,
que dificilmente poderia se pensar seja dirigida a casamentos sólidos, descobriu, em uma pesquisa
cuidadosamente realizada, que a esmagadora maioria de homens e mulheres é contra o sexo
extraconjugal para o povo em geral e para eles próprios em particular.3
Dificilmente isto está de acordo com o pensamento do pai do "relatório sexual", Dr. Alfred
Kinsey. Em 1953, ele disse que metade dos homens e um quarto das mulheres que entrevistou
confessaram relações extraconjugais. Desde então, todo autor que escreve a respeito do que o homem
americano faz, se baseia, freqüentemente, nesse relatório e faz elaborações a partir dele. Mas o
relatório de Kinsey não foi exato. Na verdade, ele não entrevistou homens que representassem toda a
população americana. Pelo contrário, dos "5.000 homens (que ele entrevistou), uma parte
exageradamente grande estava em prisões, hospitais de doenças mentais, instituições para deficientes
mentais, incluindo homossexuais".4 Dificilmente era este um grupo representativo que fosse conhecido
por sua saúde moral e mental estável.
Shere Hite, moderna pesquisadora de sexo, diz que as suas descobertas revelam que 66 % dos
homens (americanos) têm casos extraconjugais. McCalls (revista americana para a família) fez uma
pesquisa que discorda dessa porcentagem: ela indica apenas 16 %. Outras estatísticas de grande
publicidade agora concordam com Hite, indicando que dois, dentre três maridos, e quase uma, dentre
duas esposas, foram infiéis em determinada ocasião, durante as suas vidas.
Das cem mil mulheres que responderam à pesquisa do Redbook, em 1974, trinta, dentre cem —
quase um terço — haviam tido "casos" com outros homens. E, se uma mulher teve sexo pré-nupcial,
era muito mais provável que tivesse um "caso". Vinte e seis de cada grupo de trinta haviam tido sexo
pré-nupcial.
Entre as esposas de trinta e cinco a trinta e nove anos de idade, 38 % haviam sido infiéis. Para
as esposas que trabalhavam fora, a porcentagem saltava para 47 % — quase a metade. Ã medida que
mais esposas passam a participar da força de trabalho, os "casos" crescem na mesma proporção. Não é
de se admirar que alguns sociólogos e pesquisadores de sexo predigam que futuramente a metade de
todas as esposas americanas experimentará sexo extraconjugal.
De acordo com o Redbook, é duas vezes mais provável que esposas sem religião tenham sexo
com homens que não sejam seus maridos do que as esposas que sejam cristãs autênticas.1
Tudo isto, a despeito de outra pesquisa, que mostra que 86 por cento de todas as pessoas
interrogadas crêem que o sexo extraconjugal é sempre ou quase sempre errado. Outros 11 % acham
que circunstâncias especiais precisam ser consideradas. Menos de 3 % dizem que a infidelidade não é
errada, de forma alguma. O que afirmamos acreditar e a maneira como vivemos estão muitas vezes
distantes como um pólo do outro.
Durante os recentes escândalos sexuais que abalaram o Congresso americano, o Dr. Sam Janus,
catedrático na Faculdade de Medicina de New York, disse: "Uma aposta vitoriosa seria de que metade
dos membros do Congresso se envolve em 'casos' fora do casamento,"5
Porém, seja qual for o número exato, a "esmagadora maioria" citada pela Playboy que é contra
esses "casos" certamente não controla os veículos de comunicação, o cinema ou a propaganda.
Sexo, sexo, sexo. A nossa cultura está chegando ao ponto de saturação total. A fossa está
transbordando. Livros, revistas, discos e filmes o proclamam incessantemente. A TV, o veículo de
comunicação mais poderoso e imediato, o proclama espalhafatosamente. O sexo está com tudo. Ele é o
tema constante das novelas vespertinas e das mesas redondas, o assunto inevitável das entrevistas com
gente famosa. Todos os dias, o dia todo, bombardeia-nos essa mensagem, como petardos vindos de um
canhão de lavagem cerebral: "Consiga do sexo tudo o que ele pode dar. De todo jeito. Em todo o
tempo. Você só vive uma vez. Goze o que puder. Não deixe passar a oportunidade. O amanhã não
existe."
O estudo dirigido por Louis Harris, em 1978-79, recenseou 1.990 homens entre 18 e 49 anos de
idade, e chegou à conclusão de que "a ênfase crescente que os homens estão dando à auto-realização,
ao prazer e a fazer o que bem entendem está alterando dramaticamente o sistema americano
tradicional de valores. Os valores auto-orientados que estão surgindo representam um novo
liberalismo pessoal. Não é uma forma do velho liberalismo social. Ele se coloca à parte da distinção
tradicional, conservadora-radical, baseada em problemas sociais e econômicos. A sua preocupação é
com a conduta da vida pessoal do homem."6
Traduza esta filosofia, e ela dirá: "A fidelidade está por fora; os "casos" é que estão por dentro.
Se o seu casamento não lhe propicia, em todo tempo, tudo o que você sempre esperou, sonhou ou
imaginou, e deixa de lhe proporcionar o constante prazer dos sentidos e a realização que você merece,
encontre isso tudo em outro lugar, desfrute de algum 'adultério sadio'. As pessoas são espíritos livres, e
não devem ser restringidas. Não pode haver regulamentos a respeito de relacionamentos."
"Adultério sadio" é exatamente a expressão usada pelo Dr. Albert Ellis, proeminente sexólogo.
Ele recomenda, aos casais cujo amor romântico feneceu em seu casamento, que o adultério pode ser
uma coisa sadia para rejuvenescer o seu relacionamento. Não faz sugestões acerca de como revigorar o
relacionamento de dentro para fora — como edificar o amor novamente. Somente dá uma resposta
egocêntrica: pule fora; tenha um "caso".
Toda esta enxurrada pseudocientífica, pseudoliberada, a respeito da necessidade de sexo extra,
tem feito mais do que colocar casais na cama. Tem criado um clima social que tem gerado temor e
silêncio. Os casados fiéis são menos descontraídos do que os infiéis, como se a fidelidade, e não a
infidelidade, fosse motivo de vergonha, nesta sociedade obcecada pelo sexo. Uma jovem casada que
trabalha me disse: "Eu trabalho em um escritório com vinte e três outras esposas. Sou a única que
ainda é fiel ao seu marido. Elas acham que sou esquisita — perguntam-me qual é o meu problema.
A autora Eva Baguedor, em Is Ayone Faithful Anymore? (Ainda Existe Alguém Fiel?) fala a
respeito de mulheres fiéis que parecem autodepreciadoras. Elas protestam, como a desculpar-se: "Eu
sou do século passado, sou quadrada, sou chata, e não há nada interessante em sê-lo."
Uma esposa confessou: "Eu estava almoçando, na semana passada, com onze mulheres. Temos
estudado francês juntas desde que os nossos filhos estão na creche. Uma delas, a provocadora do
grupo, perguntou: 'Quantas de vocês têm sido fiéis durante toda a sua vida de casadas?' Somente uma
de nós, à mesa, levantou a mão. Naquela noite o meu marido me olhou pesaroso quando contei-lhe que
1
NOTA DO TRADUTOR: Ao traduzir, preferi colocar "cristãs autênticas" a "fortemente religiosas", porque no Brasil "religião", para
muitos, inclui a umbanda e o candomblé, que, de certa forma, encorajam o adultério.
não fora eu.
" 'Mas eu tenho sido fiel'" — assegurei-lhe.
" 'Então, por que você não levantou a mão?'"
" 'Fiquei com vergonha."7
Isso é a mesma coisa que uma pessoa ficar com vergonha de sua saúde, durante uma epidemia,
ou se desculpar por sua vitalidade e energia, por ocasião de uma convenção de paraplégicos.
Embora o sexo extraconjugal esteja sendo apresentado como mais aceitável e seja mais
disponível do que nunca, os resultados são tão positivos como a promoção? Costumávamos falar a
respeito do sentimento de culpa, da dor, do extermínio do amor-próprio e do auto-engano, em
enganarmos nosso cônjuge. Será que estas ponderações desapareceram juntamente com a lâmpada a
querosene, e a vida agora pode ser uma grande orgia sexual, sem problemas, sem remorsos, sem
reverberações?
Os médicos Alexander Lowen e Robert J. Levin fazem coro com um sonoro NÃO! Devido à
incomum percepção deles, os cito livremente.
Considere, por exemplo, um marido que está tendo relações sexuais com outra mulher. A sua
atitude, compartilhada por muitas pessoas em circunstâncias semelhantes, é de que sexo e amor são
duas coisas diferentes, e que ele tem o direito de desfrutar do sexo da mesma forma como de qualquer
um dos prazeres físicos da vida. Mas que ele ama e respeita a esposa; dá valor ao seu casamento;
gosta demais de seus filhos. No modo de ver dele, a sua responsabilidade está em proteger a sua
família de qualquer conhecimento de suas infidelidades. E assim, argumenta ele, a sua esposa não
perde nada. Ela pode até ganhar, porque ele volta para ela um homem mais amoroso e relaxado. E
assim, em nome do amor, ele a engana.
Há pelo menos três maneiras de a infidelidade poder ser desastrosa para o futuro de qualquer
casamento. Primeira, ela inevitavelmente causa dor ao outro cônjuge. Um casamento existe quando
um homem e uma mulher estão ligados não pela lei, mas pelo amor, e assumiram o compromisso livre
de aceitar responsabilidade um pelo outro, fortificados pelo sentimento de dedicação completa, que
se estende do presente até o futuro. Virtualmente, todos os casamentos assim começam com fé ou
confiança — o que quer dizer que, quando um homem e uma mulher confiam-se um ao outro, fazem-
no crendo que nenhum deles jamais tentará ferir o outro, que cada um deles contribuirá para a
felicidade do outro e que, juntos, eles procurarão se realizar.
A primeira transgressão dessa fé, ou confiança, a infidelidade básica, precede qualquer ato de
relações extraconjugais. Acontece quando um cônjuge decide afastar-se de seu companheiro, em
busca de intimidade ou realização, e mantém esta decisão em segredo. Esta é a verdadeira traição da
confiança. Um homem não pode ou não quer falar com sua esposa a respeito de assuntos que o
interessam profundamente, e então discute essas preocupações com outra mulher, de cuja companhia
gosta. Ele precisa conservar esse relacionamento em segredo, porque a esposa ficaria ferida se
ficasse sabendo da verdade, e isto, por sua vez, reforça a separação de ambos.
E, também, o marido sexualmente infiel precisa devotar tempo e dinheiro, tanto quanto energia
física e emocional à outra mulher. Seja o que for que ele lhe der, na verdade, ele o precisa tirar de
sua esposa. Isto significa que a esposa está pagando pelos prazeres dele.
Segunda, a infidelidade mascara o verdadeiro problema. Seja até que ponto for que a
infidelidade alivie temporariamente os sintomas superficiais de descontentamento em um marido ou
esposa — tais como o de se sentirem sem atrativos ou não serem apreciados — ela encobre a
verdadeira doença e permite que se agrave. Ao invés de procurar uma confrontação honesta, com
todos os seus riscos e possibilidades, ambos aceitam o ato desonesto da infidelidade — em muitos
casos, um ativamente e o outro passivamente. Angustiados pelo pensamento de uma separação ou
divórcio, eles fingem ser fiéis, enquanto buscam satisfação fora do casamento.
Muitas vezes é o membro mais sadio e mais forte do casamento que encontra realização em
outros lugares, e então pede o divórcio. Esta situação deixa o outro cônjuge com um sentimento de
desamparo e em uma posição muito pior do que se tivesse havido uma confrontação.
Terceira, ela é destruidora do ego. O cônjuge infiel que finge que, conservando em segredo os
seus "casos", protege a esposa e salvaguarda o seu casamento, labora no mais profundo engano de
todos: o engano próprio. Visto que o uso do engano transforma a pessoa contra quem ele é usado em
adversária. Uma pessoa auto-enganada torna-se, obviamente, o seu próprio inimigo, o pior deles.
Como acontece com todas as criaturas vivas, procuramos espontaneamente o prazer, e fugimos
da dor. Dizer a verdade é uma forma de procurar o prazer da intimidade, como os que se amam bem
o sabem. Pregar uma mentira é uma tentativa de evitar castigo e dor. Por conseguinte, é natural
desejar falar a verdade em situações normais e mentir em situações de perigo.
E quando achamos que precisamos mentir a alguém que confia em nós e a quem amamos que
caímos na armadilha do que os psicólogos chamam de laço duplo. Seja o que for que fizermos,
perderemos. £ isto que um marido infiel enfrenta quando volta para casa, para uma esposa que ele
ama genuinamente. Ele quer restaurar o seu senso de proximidade com ela, mas sabe que não pode
contar-lhe o que fez. E então ele mente.
Contudo, esta mentira tem um efeito de bumerangue. 2 Ao invés de aproximá-lo de sua esposa,
ela o faz sentir-se muito mais distante dela. A mentira que o poupara da ira e rejeição dela, trouxe
consigo uma dor caracteristicamente sua. Em tais situações, quanto mais forte for o desejo de uma
pessoa de se aproximar de quem ela está enganando, maior será a dor decorrente da mentira que os
divide.
Contudo, a pessoa que não se importa muito com nada nem com ninguém pode, ajustando a
sua idéia de amor de forma a adequar-se às suas necessidades, dizer tanto à esposa como à amante
que as ama, e crer nisso. As mentiras são inconscientes, e, portanto, não marcadas pela dor. Este é o
ato final do auto-engano. Em vez de resolver o conflito, ele o perpetua; a pessoa que se engana vive
uma mentira; está doente, e não sente a febre.8
Assim, a dor se manifesta, atingindo todas as pessoas envolvidas. Há algo de destruidor em um
"caso": ele destrói a integridade intrínseca do indivíduo, o amor-próprio do cônjuge e a possibilidade
de intimidade, e repercute através das gerações futuras, afetando os nossos filhos e os deles. Os melões
roubados e comidos em segredo, na verdade, são venenosos.
A lei da colheita permanece inexorável. Os homens se arrebentam contra ela, porém ela nunca
se desfaz. "Não vos iludais; de Deus não se zomba. O que o homem semear, isso colherá: quem
semear na sua carne, da carne colherá corrupção; quem semear no espírito, do espírito colherá a vida
eterna."9
Os doutores Lowen e Levin concluem:
O alvo final está além de falar a verdade para si mesmo. Consiste em ser fiel a si mesmo. A
pessoa que é fiel a si mesma não pode viver feliz, a não ser que os cordões gêmeos de sexo e amor
sejam trançados em sua vida. Pelo fato de ser uma pessoa indivisa, ela procura ser fiel à mulher que
ama. A sua fidelidade é filha do amor, e não do medo; é motivada por escolha, e não pelo acaso;
provém do desejo satisfeito, e não de sentimentos extintos.

CAPITULO 2
Romance na Cumeeira
Nenhum bom crente, ou boa crente, se levanta de manhã cedo, olha pela janela, e diz: "Puxa,
que dia bonito! Acho que vou sair por aí e cometer adultério. " Não obstante, há muitos que o fazem.
Florence Littauer
ELA era uma mulher extremamente bela, de dezenove anos, casada havia quatro anos, sem
filhos. Agora, havia alguns meses, o seu marido, de meia-idade, estava fora da cidade, a serviço
militar. Uma noite de primavera, já bem tarde, ela estava se preparando para dormir. Despiu-se para o
banho. O seu cabelo longo, lustroso, negro, caiu suavemente ao redor de sua face e de seu corpo —
um quadro de beleza caracteristicamente feminina. A lua brilhou sobre ela, iluminando as suas formas
esculturais. Ela terminou o seu ritual vespertino particular da higiene pessoal.
Roberta Kells Dorr descreve, em cores vivas, esta cena em sua novela David and Bathseba:
Bate-Seba tirou a roupa e entrou na bacia de alabastro que a sua serva Sara havia enchido
com água morna. Ela permaneceu nua na bacia, enquanto a sua serva enchia uma cuia de água e a
derramava sobre ela. Bate-Seba levantou-se sem embaraço, embora não tivesse nada para cobrir a
sua nudez. Sem que ela o soubesse, os olhos de um homem a estavam observando e... normalmente ele
2
NOTA DO TRADUTOR: Bumerangue é uma arma usada pelos aborígenes neozelandeses, em forma de L, que, quando atirada, volta à
mão do atirador. "Efeito de bumerangue" é o que atinge o autor do processo.
teria olhado para outro lado, mas foi tudo tão inesperado e era tão lindo, que ele continuou a olhar.
Em crescente admiração, ele absorveu-se na beleza dela, vista apenas parcialmente através das
folhas secas de palmeira. O cabelo dela caía em cachos úmidos sobre os seus seios redondos, e a sua
cintura minúscula acentuava a agradável curva de seus quadris. Enquanto ele olhava, ela saiu da
bacia, e, com brusco movimento da cabeça, jogou os cabelos para trás, tornando visível a curva de
suas costas. Ele reconheceu que nunca tinha visto algo tão belo ou tão gracioso em sua vida.'
Uma batida suave na sua porta mudou totalmente os seus planos para o resto daquela noite e o
resto de sua vida.
Um "caso" extraconjugal. Como ele começa; o que faz com que ele continue; quais são as suas
características; e quem são, ao mesmo tempo, os seus perpetradores e as suas vítimas?
A Bíblia nunca encobre ou omite as falhas humanas. Deus não escreve biografias humanas
como um pai "coruja". As falhas e loucuras dos líderes que ele escolheu são identificadas tão
claramente quanto os seus sucessos. Ele não encobre os defeitos deles. As histórias desses líderes
mostram que as tentações hodiernas são tão antigas quanto o homem e que o fracasso faz parte de cada
um de nós. Mas, indubitavelmente, cada caso de infidelidade conjugal é diferente em muitos detalhes:
o contexto geográfico, social e familiar — a idade, as atitudes e os antecedentes das pessoas
envolvidas. Mas os elementos básicos são os mesmos, especialmente entre crentes professos. E o caso
de Davi e Bate-Seba é tão moderno quanto uma novela de TV.

AS CIRCUNSTÂNCIAS
Aquele dia de primavera era comum em todos os sentidos. Não há nada no registro bíblico que
indique que havia algo de inusitado nas atividades ou na atmosfera daquele dia. Os mercadores
apregoavam as suas mercadorias, como haviam feito havia séculos; as crianças brincavam nas ruelas
da velha cidade, e as sinagogas ressoavam com as orações do povo, repetidas sem parar. Israel acabara
de atravessar uma série de batalhas contra os sírios, e estava gozando os frutos de suas vitórias.
Reinavam paz e prosperidade. Davi, procurando alargar os limites de seu reino, havia enviado os seus
exércitos para enfrentar e destruir os amonitas. Quanto ao mais, tudo corria como de costume.
Qualquer coisa que pudesse fazer com que aquela velha cidade vibrasse e que as suas tradições
seculares prosperassem não estava sendo perturbada.
Ninguém suspeitava de algo desastroso naquele dia comum, e muito menos Davi e Bate-Seba.
Nada indicava a terrível cadeia de eventos desencadeada naquele dia: adultério, gravidez, engano,
homicídio, tragédia familiar e juízo divino. Tudo isso num dia como outro qualquer.
"Eu nunca pensei que isto poderia acontecer-nos", soluçou uma esposa de pastor, em meu
escritório. "As coisas pareciam estar correndo tão bem, tudo era normal, não havia sinais de perigo —
naquela época a nossa igreja estava crescendo — e foi tão inesperado, tão chocante. O meu marido
requereu divórcio, abandonou o pastorado e juntou-se a essa mulher leviana que já se divorciara três
vezes."
"Tudo bem", "normal", "nenhum sinal", "igreja crescendo", "inesperado". Estas não são
palavras de surpresa. Tudo parece bem. Não há razões para se suspeitar de uma tragédia. O trabalho
está indo bem. Deus parece estar operando. A família está em paz. E então, sem nenhum sinal de
advertência... a bomba!
José, com cerca de vinte anos de idade, tinha grande responsabilidade na casa de Potifar. Ele
gerenciava todos os assuntos domésticos de seu patrão e todos os seus negócios. Tudo estava correndo
normalmente: as plantações produzindo, os rebanhos se multiplicando. Aquele simpático jovem
administrava tudo sem percalços. Deus o fazia prosperar.
E então, um dia — em nada especial — enquanto ele estava "cuidando de seu trabalho", uma
mulher começou a olhá-lo de maneira significativa, sugerindo sedutoramente: "José, venha dormir
comigo!"
Ao se levantar naquela manhã, José nunca sonharia que naquele dia — outro dia normal de
trabalho — ele receberia um convite apaixonado para um "caso", sofreria chantagem e seria levado
para a prisão.
Eu também não tinha suspeitas. Eu acabara de chegar a uma cidade de Michigan, para começar
uma série de reuniões na igreja, naquele domingo. Era uma comunidade pequena, insípida, um povo
comum, sem sofisticação. Naquela noite de sábado, na recepção de apresentação, uma senhora da
igreja sentou-se ao meu lado. Ela estava longe de ser cativante ou bonita. Uma simples Maria: não
tinha personalidade cintilante, era um pouco gorda, um tipo de dona-de-casa comum.
Durante um momento trocamos cumprimentos. Em seguida, de maneira trivial, ela me estendeu
um pedaço de papel com o seu endereço e número de telefone.
"Pensei que você poderá sentir-se solitário, enquanto estiver aqui. Se quiser passar por lá uma
destas tardes, telefone-me. O meu marido estará ausente a semana inteira, trabalhando em Detroit. O
último orador que tivemos aqui na igreja visitou-me várias vezes; acho que você vai gostar de ir
também." Nada sutil ou expressivo, astuto ou pudico, mas casual como oferecer-se um copo de água, e
aparentemente, sem maiores conseqüências.
Os "casos" não começam com o piscar de luzes vermelhas de advertência. O dia não começa
com nuvens negras e agourentas, avisos de furacão, uma intranqüilidade interior ou uma voz do céu
que diz: "Reforce as suas defesas; a tentação está se aproximando." O furacão que destruiu o prédio
em que estava o meu escritório, há vários anos atrás, apresentou-se inesperadamente, em um belo dia
de primavera, veio rugindo como um avião a jato, e deixou tudo torcido, quebrado e em frangalhos. E
a primavera continuou. Assim também vem a tentação. Quando? Em um dia como os outros.

OS CARACTERES
Creio que aquele "caso" aconteceu quase como uma surpresa, tanto para Davi como para Bate-
Seba. Nenhum dos dois planejara aquilo uma hora antes de acontecer. Não foi o resultado de um
namoro ou de uma cumplicidade voluptuosa. Davi era um homem segundo o coração de Deus, e Bate-
Seba, uma esposa fiel ao seu marido, corajoso e patriota. Davi estava vindo de um período de
prosperidade e fama. Em numerosas batalhas ele fora vitorioso; ele havia destruído oitenta e sete mil
inimigos e capturado vinte e dois mil. E todas essas vitórias eram confirmação da presença de Deus
com ele e da promessa de Deus de lhe dar uma dinastia perene. "E o Senhor ia concedendo vitórias a
Davi por onde quer que ele passasse."2
Haviam acabado de ser pronunciadas as promessas de Deus: "Eu escolhi você... tenho estado
com você... Você será contado entre os homens mais famosos do mundo! ... A família de Davi
governará o meu povo para sempre." E Davi respondera com esfuziantes agradecimentos: "Õ Senhor
Deus! por que derramou suas bênçãos justamente sobre este teu servo de família tão insignificante?...
Essa bondade está longe da compreensão humana!... Toda a honra seja dada ao Senhor... Pois o
Senhor é Deus, e verdadeiras são suas palavras."3
Pouco antes ele saíra de sua rotina, para cumprir os seus votos a Jônatas, e havia restaurado, aos
herdeiros dele, toda a terra anteriormente de propriedade de Saul. O filho aleijado de Jônatas fora
convidado a morar no palácio, como membro da própria família de Davi. Sem nenhum acanhamento,
Davi dançara diante da Arca do Senhor, à vista de toda a cidade, celebrando louvores a Deus. "Não me
importa que aos seus olhos eu não seja bem-visto: continuarei dançando, em louvor ao Senhor", disse
ele.4 "Davi foi um rei justo e estimado por todo o povo de Israel."5 Portanto, aqui está Davi, um
homem de grande coragem, generosidade e bondade, justo e reto em seus atos, dedicado a Deus e
cheio de louvor e ação de graças. Dificilmente poderia ser considerado candidato a um desastre
pessoal.

INOCENTE
Segundo todas as aparências, tanto Davi como Bate-Seba estavam inocentes. Nenhum dos dois
se envolveu em qualquer atividade que pudesse ser interpretada como encorajadora de infidelidade ou
transigência para com o pecado. Bate-Seba ocupou-se com a inocente tarefa de tomar um banho
vespertino. Nada há de sensual nisso. Ela não estava expondo os seus encantos femininos com o
intuito de seduzir. Não era uma prostituta barata nem uma sedutora cortesã; e também não era uma
sereia ardente e ardilosa. Simplesmente uma esposa fiel preparando-se para uma noite de sono.
E Davi? Provavelmente com trinta e nove anos de idade, ele não era um homem sexualmente
frustrado, um macho inquieto, a espreitar nas sombras da noite. E também ele não era um homem
sexualmente faminto, rondando como um animal no cio. Nessa época, ele tinha já mais de sete esposas
e várias concubinas à sua disposição. Ele já gerara dezessete filhos. Assim sendo, dificilmente se
poderia dizer que estava procurando uma nova conquista sexual para evidenciar a sua virilidade. Ele
experimentara o que qualquer um pode experimentar de vez em quando: uma noite insone. Eu tenho
tido muitas. Você também. Uma noite em que os pensamentos parecem correr e pular como cabritos
selvagens, recusando-se a se acalmarem. Talvez ele estivesse pensando em suas tropas que estavam
sitiando a cidade de Rabá. Ou em algum outro problema de Estado.
Mas ainda não era tarde quando Davi levantou-se da cama e foi dar uma volta no terraço do
palácio — para analisar o seu problema, para resolver a sua luta contra a insônia.
Desinteressadamente, ele olhou em várias direções, notando que a cidade estava dormindo melhor do
que ele. Ali perto, os seus olhos foram atraídos por uma pequena luz, que se filtrava através de
postigos parcialmente fechados. Ele olhou rapidamente uma vez, duas — depois os seus olhos se
fixaram ali. Uma bela jovem estava tomando o seu banho vespertino. Até esse ponto, tudo era inocente
e ninguém deve ser culpado.

CONQUISTA
As circunstâncias não fazem um homem: elas o revelam. Ã semelhança dos saquinhos de chá, a
nossa verdadeira força se manifesta quando somos imersos em água quente. Não há nada de errado em
acontecer de se ver uma bela mulher tomando banho. Nada de errado em se reconhecer a sua atração
física e encanto dados por Deus. Nada de errado com um rápido e involuntário pulsar do coração, uma
onda de sangue viril, uma exclamação silenciosa:
"Puxa!" Mas agora começa a luta, a luta com as suas fantasias, a sua carne, a sua fé e o seu
futuro.
Davi conhecia bem a lei de Deus e a sua proibição do adultério. Ele sabia que, de acordo com a
lei, uma mulher que fosse comprovadamente adúltera podia ser apedrejada. Na mocidade, ele
decorara: "Não cobiçarás a mulher de teu próximo." E, sem dúvida, esta não era a primeira tentação
desse tipo que ele sentia. Como jovem forte, sadio, no palácio do rei, admirado pelas; moças do reino,
ele tivera o seu quinhão de seduções e oportunidades. Mas isso era diferente — ou não? Os seus
pensamentos corriam de forma selvagem, desenfreada. "Mais bonita do que qualquer de minhas
esposas. Tão jovem, fremente, convidativa; ela me excita. Tenho sofrido muita pressão; mereço um
pouco de relaxamento. Tenho guardado a lei de Deus por muito tempo; uma pequena infração não é
nada sério demais. De fato, pode ser que Deus me fez andar aqui fora esta noite para que pudéssemos
estar juntos. Talvez este seja o objetivo de uma noite insone, e só uma vez... um ato... não um 'caso'
prolongado. A coisa não precisa passar desta noite. E ninguém ficará sabendo; eu tomarei providências
neste sentido." E pergunta ao seu servo: "Quem é aquela moça? A casa é de quem? Preciso saber."
Nenhuma hesitação, nenhuma espera, consideração, medição de conseqüências, desistência. Ele
não conseguia ver além daquele momento; fora cegado pela paixão. Um fusível começava a despedir
fagulhas. Ele já podia vê-la em seus braços.
"Ela é Bate-Seba, a esposa de Urias" — informa o servo.
Davi murmura: "E Urias está ausente, na guerra. Tudo se encaixa tão bem. Urias é um grande
soldado, mas provavelmente não é muito bom marido ou amante — tão mais velho do que ela — e
ficará ausente por muito tempo. Esta jovem precisa de um pouco de conforto, em sua solidão. Esta é
uma forma em que a posso ajudar. Ninguém ficará ferido. Eu não tenciono nada de errado com isto.
Não é concupiscência — que já senti muitas vezes. É amor. Não é a mesma coisa que achar uma
prostituta na rua. Deus sabe." E ordena ao servo: "Traze-a para mim."
Evidentemente, Davi não pensou muito. O que ele vira incendiou a sua imaginação, e, em
menos tempo do que leva para contar o que aconteceu, ele estava alimentando uma fantasia, que se
tornou uma obsessão. Ele fora arrastado pelos seus próprios desejos; aqueles desejos conceberam, e
ele estava prenhe de pecado antes de Bate-Seba chegar ao aposento real e ficar grávida. 5 A tentação
apela para o desejo, o desejo cria a fantasia, a fantasia incendeia os sentimentos, e os sentimentos
clamam por ação.

O OCULTAMENTO
Durante vários dias — provavelmente semanas — as coisas continuaram como antes. Muitas
vezes Davi relembrou aquela noite memorável, embora ele e Bate-Seba tivessem jurado guardar
segredo e não tivessem planejado nenhum outro encontro. Era uma recordação particular deles,
trancada só em dois corações. Dentro de um mês ou dois os sinais: a ausência de um período
menstrual, tontura matinal, náuseas... e o segredo foi exposto. "Estou grávida".
Desde a época e o exemplo de Adão, o homem, instintivamente, procura encobrir os seus
rastros, "porque os seus atos são maus". 7 Watergate não foi nada de novo. O que se pretendia fosse um
prazer clandestino e passageiro — um ato — agora requer a minuciosa estratégia do engano — uma
atitude. O fato de ter vivido uma mentira uma noite, se não for confessado completamente, requer
muitas mentiras para encobri-lo.
E a pessoa que tem reputação de integridade agora recorre a todo tipo de engano concebível
para salvar a sua pele. Viver uma mentira torna fácil o desencadeamento de outras mentiras; de fato,
elas se tornam necessárias. "Este é o primeiro segredo que escondi de minha esposa em dezoito anos",
confessou um esposo infiel. "Eu me sinto um miserável, tendo que inventar tantas mentiras, visto que
nunca fiz isso antes." A estratégia é sempre a mesma. As táticas, imemoráveis: proteja-se, culpe os
outros, elimine as evidências. Através dos séculos, o homem ainda não inventou maneiras novas de se
esconder.
E também o crente bem doutrinado que prefere ocultar em vez de confessar conta as mesmas
histórias enganosas, tanto quanto o galanteador que nunca ouviu falar da graça de Deus. Um Davi —
homem segundo o coração de Deus — torna-se ardiloso, traiçoeiro, implacável e sem consciência.
Em um golpe de mestre, de desígnio maligno, Davi passou rapidamente e decisivamente a fazer
as três coisas ao mesmo tempo: Tragam Urias da guerra, façam-no dormir com Bate-Seba uma noite
ou duas e mandem-no de volta à batalha. Urias gostaria muito desse descanso; ele e todo mundo creria
que o bebê era dele e Davi estaria completamente livre do alçapão, livre do escarmento, da culpa e da
responsabilidade. Um plano engenhoso! A verdade seria sepultada na ignorância de Urias. E teria
funcionado sem empecilhos, se Urias e Deus tivessem cooperado. Davi não contou com a integridade
de seu soldado nem com a discordância de Deus.
Urias chegou ao palácio por ordem do rei, fez um relatório da batalha e recebeu ordens de ir
para casa e descansar aquela noite. Presentes de comida e vinho foram mandados adiante dele, para
indicar que Davi se alegrava com ele e para preparar o palco para uma noite agradável. Mas aquele
homem era um soldado na plena acepção da palavra, e, embora possivelmente não sentisse nenhum
motivo oculto da parte de Davi, não se podia permitir descansar e desfrutar de sua esposa enquanto os
seus colegas oficiais estavam aquartelados no campo, em uma zona de batalha. Ele dormiu na casa da
guarda do palácio.
Com decisão e ira crescentes, Davi o enviou ao segundo estágio. "Se eu o embriagar, poderemos
fazer com que ele entre em sua casa, e então ele desejará Bate-Seba. Mesmo que ele não durma com
ela, estará bêbado demais para lembrar-se do que aconteceu, e assim tudo estará bem. Mas Urias,
embora inteiramente bêbado, dormiu outra noite com os guardas.
Toda a consideração por esse soldado leal estava se transformando em medo e ressentimento.
"Então ele precisa ser tirado da cena. Se isto significa que eu estou me voltando contra os que me
amam e me servem, que se saiba que os meus amigos podem ser sacrificados. É assim que as coisas
são, às vezes. Eu sacrificarei qualquer pessoa — qualquer relacionamento — para me proteger e
manter a verdade amordaçada.
"Ponde Urias na frente onde for mais renhida a peleja, e retirai-vos dele, para que seja ferido e
morra."8 Ele enterrou o seu pecado no túmulo de Urias. Um "caso" extraconjugal que tem
continuidade sempre necessita de sacrifício. O sacrifício egoístico do amor, da lealdade, dos
relacionamentos, do respeito, da integridade, da consciência — e da comunhão com Deus. "Mas isto
que Davi fez desagradou ao Senhor."9
A noite de prazer que Davi gozara tornou-se um pesadelo de dor. O seu filho morreu. A sua bela
filha, Tamar, foi violentada pelo seu meio-irmão Amnom. Amnom foi morto pelo seu irmão mais
velho, Absalão. Absalão foi separado de Davi durante três anos, e voltou para formar uma conspiração
contra o pai. Quando finalmente Absalão foi morto, em uma emboscada, Davi rompeu em pranto e
soluçou: "Meu filho Absalão, meu filho, meu filho Absalão."10
O que modifica um homem de Deus, de forma que ele se torne velhaco, sinistro, destruidor de
tudo o que ele e as outras pessoas prezam? O que transforma o terno e sensível amor de um homem a
Deus em uma determinação dura, implacável, de agir à sua própria maneira? As lições da experiência
de Davi são óbvias, e se aplicam a todos nós. Sublinhe-as em sua mente e em seu coração.
1. Ninguém, embora escolhido, abençoado e usado por Deus, está imune a um "caso"
extraconjugal.
2. Qualquer pessoa, a despeito de quantas vitórias tenha tido, pode cair desastrosamente.
3. O ato de infidelidade é o resultado de desejos, pensamentos e fantasias descontrolados.
4. O seu corpo é seu servo; se não o for, torna-se seu senhor.
5. O crente que cair vai desculpar-se, racionalizar e encobri-lo, quanto qualquer outra pessoa.
6. O pecado pode ser agradável, mas nunca ser oculto de maneira eficaz.
7. Uma noite de paixão pode desencadear anos de dor para a família.
8. O fracasso não é nem fatal nem final.
Todas estas lições serão abordadas nos próximos capítulos.

CAPITULO 3
Por Que os Cônjuges Se Traem?
O "caso"é um sinal da necessidade de ajuda; uma tentativa para compensar as deficiências que
há no relacionamento, devidas à tensão circunstancial — um aviso de que alguém está sofrendo.
Susan Squire
AS COISAS não acontecem simplesmente. Toda ação tem uma causa. As ações não surgem
espontaneamente do nada. Há fatores que contribuem, forças que pressionam e razões pessoais sob a
superfície. Os ramos têm de ter raízes. E, embora as raízes raramente sejam vistas, elas determinam o
tamanho e o caráter dos ramos.
Se um casamento é vibrante e se desenvolve, é porque há razões para isso. O crescimento não é
espontâneo, imperceptível e sem causa. Os relacionamentos não vicejam, se forem negligenciados ou
se deles se fizer uso inadequado. E, embora os cônjuges possam não ser capazes de articular de modo
correto tudo o que fazem, não obstante, estão fazendo algumas coisas certas.
O fracasso de um casamento acontece da mesma forma. Quando um cônjuge se envolve em um
"caso" — uma aventura de uma noite ou um relacionamento prolongado — há razões. Nem a parte
culpada nem a inocente podem entender plenamente essas razões ou descrevê-las exatamente. Pode ser
que não saibam quais são as suas mais profundas dimensões psicológicas, emocionais, físicas e
espirituais, e o que pode parecer uma razão válida para um, pode parecer uma desculpa para o outro.
O "caso" é um sinal da necessidade de ajuda — uma tentativa de compensar as deficiências
existentes no relacionamento, um sinal de compensar as deficiências existentes no relacionamento, um
sinal de advertência de que alguém está sofrendo. Linda Wolfe o resume: "Ser infiel é um sintoma, e
não uma síndrome. Algo está errado no casamento deles ou em sua capacidade de ter intimidade com
outro ser humano, da mesma forma que uma febre é manifestação de uma infecção. Os 'casos'
extraconjugais servem como indicador de disfunção no casamento."1
As causas da infidelidade conjugal variam tanto quanto as personalidades envolvidas, mas creio
que todas podem ser consideradas, enquadrando — se em uma destas três categorias gerais:
imaturidade emocional, conflitos sem solução ou necessidades não satisfeitas.

IMATURIDADE EMOCIONAL
A adolescência é geralmente temida pelos pais, da mesma forma como teme as doenças da
infância; esperam que os seus filhos não sejam adolescentes difíceis e que não haja traumas
permanentes.
Muita vezes ela é um período traumático, acarretando a mudança de relacionamentos,
agonizante pressão dos colegas e interrogações a respeito da identidade e do futuro do adolescente.
Esse período não deve ser permanente, mas geralmente é uma ponte da dependência da infância para a
interdependência do adulto. Esses anos de transição muitas vezes são marcados por imaturidade,
rebeldia, volubilidade, dúvidas quanto a si mesmo e experimentação. Infelizmente, algumas pessoas
que já têm quarenta ou cinqüenta anos de idade ainda são adolescentes quanto ao seu comportamento.
Em vez de o casamento ser a nossa última chance de crescermos, de acordo com Joseph Barth, ele
torna-se um refletor de nossas imaturidades perpétuas.
Consideremos o meu amigo Joe. Casado há três anos — dois filhos. Durante os anos em que
estava namorando, ele gostava de pensar acerca de si mesmo como um presente de Deus para as
garotas, e mudava de uma namorada para outra. Másculo e simpático, ele tinha um sorriso matreiro e
maneiras confiantes que faziam dele um encanto. Forçado a casar-se devido à inesperada gravidez da
sua namorada, ele queria ser fiel, mas ainda tinha olhos irrequietos. De acordo com ele, sua esposa era
tudo o que uma esposa pode ser: vivaz, sexualmente estimulante, altruísta, e, como ele, crente. Mas,
em sua mente, ele era ainda o adolescente sem peias, namorador. "Na verdade, eu não sou homem de
uma só mulher", jactou-se ele, com um piscar de olhos.
à época em que ele e a esposa vieram a mim, ele estava tendo almoços de negócios em pontos
de encontro, tomando lanches em casas de má fama e visitando uma garota periodicamente. Ele estava
vacilando entre o desejo de manter um casamento bem estabelecido e os seus apetites de adolescente
flutuantes.
Dúvidas quanto a si mesmo podem armar o palco para a infidelidade conjugal. Lembro-me bem
de Jorge. Ele veio de uma família de grandes realizadores: o seu pai estava no topo da pirâmide
gerencial, e sua mãe era calorosa, extrovertida, tendo muitos amigos. Os seus irmãos e irmãs eram
agressivos, confiantes, e todos ativos na igreja. Quando menino, ele lutara com grandes expectativas e
comparações, especialmente com os seus irmãos, e sentia, secretamente, que não era tão bem dotado
quanto eles e por isso não era provável que tivesse sucesso. Tinha pouca estima por si mesmo. Casou-
se com Ana, tipo dominador, e eles se estabeleceram, para formar uma família.
Embora ele tivesse tudo o que acompanha o sucesso — bom emprego, oportunidades ímpares,
casa boa — o seu conflito íntimo continuou. "Todo mundo espera mais de mim; eles não me aceitam
como realmente sou. Até no quarto de dormir, minha esposa reage, mas relutantemente, como a dizer:
'Ande depressa e acabe logo com isso'. Realmente não sou o homem que devia ser."
Ele sentia-se castrado. Sonhava com uma relação em que não tivesse essa luta interior — esse
fracasso constante — embora o adultério fosse totalmente contrário a tudo o que cria e que lhe fora
ensinado. Como a maioria dos homens, ele não estava procurando sexo, mas alguém que fosse um
arrimo sobre o seu amor próprio, tão vacilante.
A garota com quem se encontrou no supermercado era qualquer coisa, menos o tipo que ele
teria considerado para ser sua esposa. Divorciada duas vezes, pobre, desleixada — uma vagabunda,
mas uma campeã em saber como edificar o ego de um homem. Em sua primeira visita à casa dela, ele
sentiu repulsa. Era o oposto de tudo que ele conhecia: tinha apenas poucos móveis, uma cama velha,
umas duas cadeiras de dobrar, uma mesa e um pequeno tapete desfiado. Mas era um escape para tudo
o que pesava sobre ele.
Depois da primeira vez que mantiveram relações sexuais, ele pensou: "Ela gosta de mim pelo
que sou, e não pela pessoa que procurasse fazer de mim. Sou aceito. Ela gosta de mim. Eu a excito."
Ele estava fisgado. Como alguém que encostara em um fio de alta tensão, não podia largá-la. Mais
tarde, ele disse: "Eu nunca me senti tão homem como quando estava com ela."
Abigail van Buren, colunista de imprensa americana, que escreve a famosíssima coluna "Dear
Abby", diz: "Um homem escolhe uma vagabunda, porque quer uma companhia feminina que não seja
melhor do que ele. Na companhia dela, ele não se sente inferior. Ele a recompensa, tratando-a como a
uma dama. Ele trata a esposa (que é uma dama) como uma vagabunda, porque acha que, degradando-
a, a rebaixará até o nível dele. Isto fá-lo sentir-se culpado. Assim, a fim de 'empatar' com a esposa,
pelo fato de fazer com que ele se sinta culpado, ele continua punindo-a.''
Indulgência por parte dos pais pode preparar um filho para uma imaturidade perpétua e para a
infidelidade conjugal. Pais permissivos, temerosos de contrariar os desejos de seus filhos, dão-lhes
tudo o que eles pedem. Nunca lhes é negado nada. Eles são mimados, tratados como bebês e nunca
lhes é ensinada a necessidade ou o valor da disciplina. O adolescente que tem tudo, cujos menores
desejos sempre foram atendidos, não se tornará um cônjuge forte e altruísta. A pessoa que cresce sem
ouvir e respeitar a palavra NÃO jamais a considerará uma resposta hábil, quando estiver sendo tentada
a satisfazer os seus desejos e caprichos.
Steve, provavelmente, nunca entendera que isto fazia parte de seu problema. Ele viera de um
sólido lar cristão, em que a Bíblia era honrada, lida e seguida. O fato de ir à igreja, a reuniões
especiais, a acampamentos bíblicos e a um colégio evangélico, tudo isto era considerado como lugar-
comum e era característico de sua família. Os interesses comerciais da família floresciam, bem como o
seu padrão de vida. Em todos os aspectos, eles eram uma família cristã exemplar, de sucesso. Mas
havia um defeito fatal.
Fosse o que fosse que os filhos quisessem, conseguiam obter. Brinquedos ou roupas, patins,
barcos, carros, casas, viagens — não fazia diferença: bastava apenas mencionar. Claro que os pais não
tencionavam fazer-lhes mal. "Deus nos tem abençoado; vamos aproveitar", esta era a atitude deles.
Sacrifício, abnegação (negação dos próprios desejos), disciplina, eram termos bíblicos familiares, mas
estranhos ao seu vocabulário e estilo de vida. Quando Steve se casou, tudo foi amor e luxo. Muitos
anos mais tarde, com problemas, quando o seu casamento apresentou uma fratura, ele fez a única coisa
que sabia fazer: comprou mais coisas para a esposa. Maiores e melhores. Gastou dinheiro como se não
houvesse o dia de amanhã. Mas a fenda se alargou. O que ela queria era compreensão,
companheirismo, uma solução. Nessa época, uma mulher jovem, na igreja, sentiu a frustração dele, o
seu desencoraja-mento, e ofereceu-lhe um sorriso amistoso, uma mão calorosa, e, finalmente, um
corpo ardoroso. "Casos" eram acontecimento familiar para ela, e ele estava em sua lista.
O "caso" deles o mergulhou em um profundo sentimento de culpa, e ele começou a lutar entre
as opções de negar os seus próprios desejos e de entregar-se a eles. Não obstante, muitas vezes ele
ficava estranhamente contente consigo mesmo por ceder. A sua familiaridade com a Bíblia só fazia
crescer o seu sentimento de culpa. Quando o fiz lembrar-se de que a vontade de Deus proibia aquilo
— "Não adulterarás... Não cobiçarás a mulher do teu próximo... se a tua mão te escandalizar, corta-a"
— ele não conseguia entender. A essência de sua reação foi: "Como é que o senhor ou qualquer outra
pessoa pode dizer-me 'não'? Eu consigo o que desejo, sempre o consegui e sempre o conseguirei.
Quero esta mulher, não importam as conseqüências. Não me venha dizer que significará o rompimento
com minha família, a destruição do casamento dela e prejuízos no testemunho da igreja. Quero este
meu relacionamento." Menino mimado! Os seus pais, perplexos, nunca perceberam como eles haviam
contribuído, anos atrás, para este fracasso e para esse drama familiar que estavam vivendo.
O orgulho também prepara um homem para a queda. Como diz Salomão, em Provérbios:
"Quando o homem se orgulha de si mesmo, acaba sendo envergonhado, mas quando ele se humilha,
acaba se tornando sábio."2 Uma pessoa emocionalmente madura tem um senso realista de suas
próprias fraquezas humanas e da necessidade de dependência de Deus e de outras pessoas. Ela não
exibe a sua força nem flexiona os seus músculos diante de Deus e dos outros.
Um conhecido evangelista tornou-se possuído pelo orgulho. O seu trabalho estava prosperando,
os seus programas de rádio e TV estavam florescendo, crescia o número de convites para falar. Ele
começou a manipular pessoas para satisfazer os seus objetivos egoísticos. Quando se tornou mais
ousado, começou a viajar a sós com sua secretária. Ao um homem de Deus o interrogar a respeito
daquilo, ele se jactou: "Eu conseguirei resolver isto. Não se preocupe comigo. E mesmo que eu decida
me divorciar e casar com essa moça, que é que tem? O povo se esquecerá de tudo em poucos meses.
Isso não afetará o meu ministério." É claro que ele caiu — caiu como um passarinho acertado por um
tiro, e o seu casamento e o seu ministério caíram com ele.
Outro jovem pensava que a sua capacidade de decorar versículos da Bíblia o tornaria seguro.
Ele era capaz de citar mais de dois mil versículos, mas continuava a fazer visitas clandestinas a certa
mulher, quando o marido dela estava fora de casa. "Eu não devia fazer isto, mas acho que sou muito
homem." O orgulho o cegou. O conhecimento, por si só, exalta o ego. Da mesma forma, ele poderia
ter decorado o dicionário. A Palavra, absorvida mentalmente, não fora misturada com fé — a fé que
age. Ele foi como um boi para o matadouro, como uma mariposa para a chama.
Orgulho em um campo de realizações pode preparar-nos para cair em outro, "...e o orgulho vem
antes da queda (a queda de Satanás é um exemplo)."3 Um autor evangélico de grande sucesso, nos
Estados Unidos, com a cabeça pesada do vinho dos elogios e da prosperidade, envolve-se
ousadamente em uma relação adúltera. As duas áreas estão relacionadas. A queda acontece não na
área de seu sucesso; ele ainda está escrevendo. Mas o seu orgulho a respeito do sucesso de seus livros
levou-o ao colapso moral.
"Eu era o pastor de maior êxito na cidade. A nossa igreja crescera, ganhando centenas de
membros em poucos meses" — disse-me um jovem pastor durante uma convenção de verão. "Eu era o
assunto das conversas da comunidade — reconhecido, louvado, admirado. Na história dessa igreja,
ninguém havia obtido tal sucesso. Todos, por assim dizer, comiam em minha mão. E então, por
alguma razão absurda, me envolvi com uma jovem, e requeri divórcio. Na verdade, o nosso casamento
estava indo muito bem, e eu não tinha nada de que me queixar, mas não consegui abrir a mão dessa
jovem."
"Você acha que o fato de você ter resvalado para este 'caso' está, de alguma forma, relacionado
com o seu sucesso na igreja?" — perguntei.
"Oh, claro que sim!" — concordou ele. "O meu egoísmo me arruinou. Eu achava que não havia
possibilidade de eu errar. Comecei a crer no que os outros falavam de mim, elogiando-me. À medida
que a igreja continuou a crescer, fiquei imbuído de orgulho, e isso juntou a ladeira moral em que
escorreguei. Vitória e derrota ao mesmo tempo. E, sem dúvida, o meu relacionamento com essa jovem
apenas alimentou o meu GO ainda mais. Minha esposa não quis me conceder o divórcio, e assim eu
estava amarrado."
Cada pessoa determina a extensão de sua própria imaturidade emocional. Os "casos" não se
originam de maus casamentos: são desenvolvidos por pessoas imaturas. Um clássico parágrafo a
respeito de maturidade é Filipenses 3:10-14:
Presentemente anseio conhecer Cristo Jesus e o poder manifestado pela sua ressurreição, e
ainda por participar dos seus sofrimentos, até mesmo morrer como ele morreu, de modo a poder
talvez como ele obter a ressurreição dos mortos.
Entretanto, irmãos meus, não me considero dos que já a alcançaram "espiritualmente", nem me
julgo ter atingido a perfeição. Mas continuo lutando mais firmemente por aquilo para que Cristo me
atraiu.
Meus irmãos, não creio tê-lo atingido ainda; mas fico-me nisto: deixo atrás o passado, e com
as mãos estendidas para qualquer coisa que se me depare à frente, dirijo-me para o alvo: o galardão
honroso de ser chamado por Deus em Cristo.
Desta passagem aprendo que a maturidade tem cinco elementos:
Confiança completa, irrevogável, em Cristo somente.
Reconhecimento de minhas imperfeições humanas.
Dedicação a aprendizado e crescimento vitalícios.
Conservação de meu futuro diante de mim, esquecendo o passado.
Previsão, busca, persistência para com tudo de bom que Deus quer para mim.
Todos estes elementos também se aplicam ao casamento.

CONFLITOS NÃO RESOLVIDOS


Os conflitos vivenciais são inevitáveis. Na intimidade e constante convivência do casamento
eles não podem ser evitados. Filhos, dinheiro, sexo, estafa, parentes — tudo isto e mais são os
causadores. O jovem casal que percorre o corredor central da igreja com estrelas nos olhos, crendo em
um viveram-felizes-para-sempre, está para sofrer um rude abalo. Eles são como o homem que
comprou um disco por causa da música que continha num lado; quando chegou em casa, descobriu
que tinha outro lado com outra música, totalmente diferente e menos atraente.
Cada pessoa tem a sua coleção particular de idiossincrasias, trazidas da infância e de sua
experiência. Os seus hábitos são peculiares. Ela se sente bem com eles. Pensando em se casar, ela
procura alguém que também se sinta bem com ela como ela é e, ao mesmo tempo, satisfaça as suas
necessidades emocionais. Isto significa, geralmente, alguém bem diferente dela, e faz parte da atração.
Agora, combine estas duas coleções de temperamentos, personalidades e características individuais, e
veja quanto campo para discordância e dificuldades. Adicione a isto a natureza teimosa e egoística de
cada cônjuge, e você pode encontrar ainda mais — um incêndio!
Nessa situação, para que um casamento sobreviva e prospere, precisa haver negociação,
transigência e aceitação. O que tem importância para uma pessoa, pode não ter para outra. Algumas
coisas significam pouco para nós, e nos rendemos a elas. Alguns dos hábitos de nosso cônjuge são
inocentes, e os aceitamos e nos ajustamos a eles. Outras coisas são fonte constante de irritação, e nos
irritamos e lutamos contra elas. Do nosso ponto de vista, elas parecem tão desnecessárias, ilógicas,
sem importância, nada práticas. Não podemos entender por que o nosso cônjuge não consegue
enxergar a sabedoria e a vantagem do nosso ponto de vista, e não quer mudar.
Desenvolve-se um impasse. Um dos cônjuges insiste em seu ponto de vista. O outro finca-se na
sua opinião com a mesma determinação, e assim continua. A essa altura, a comunicação reduz-se a
zero. Nenhum deles tem amor suficientemente forte para ignorar as fraquezas do outro e focalizar-se
nos pontos fortes do outro. Este ponto de confiança então entra na razão dada para a divergência.
"O trabalho é tudo. " O americano médio vê menos a sua família do que qualquer marido e pai
do mundo, observou Pearl Buck. Os destruidores de lares são freqüentemente o trabalho, a firma, a
carreira. Porém nem todo o sucesso do mundo nos negócios pode substituir ou compensar o fracasso
em casa. A promoção extra e um salário mais alto dificilmente compensam a perda de uma esposa
amorosa e a alienação dos filhos. O sucesso não vale muito para um homem de negócios cujas
promessas não cumpridas resultaram em um lar desfeito.
Ainda sinto tristeza por causa do jovem casal com que me encontrei e aconselhei em
Washington: Harold e Phyllis. Ambos eram crentes talentosos, dedicados e davam um impecável
testemunho. Fiquei impressionado com o seu potencial, tão promissor. Deus irá usá-los grandemente,
eu estava certo. Mas o trabalho — a profissão — os clientes. Ele era um "caxias", viciado no trabalho,
bem à semelhança de seu patrão. O primeiro a chegar ao escritório, o último a sair. E, sem dúvida, era
pago regiamente. O seu salário, comissões e promoções aumentaram. E então houve casa nova, carro
novo, roupas novas, restaurantes elegantes. O seu único filho, Brad, estava crescendo em um bairro de
classe, mas com pouco interesse de seu pai.
"Eu não posso fazer tudo o que quero — não tenho tempo. E é claro que tenho de pagar as
contas, e por isso preciso continuar me 'virando'", explicava Harold.
As suas responsabilidades no trabalho cresceram, e o seu filho também, mas não o seu
casamento. Phyllis começou a sentir-se cada vez mais posta de lado, ignorada. "Será que ele não
percebe que não precisamos de mais dinheiro, de mais coisas? Precisamos dele.
O trabalho, para ele, é tudo, e tenho medo do que isto significará para o nosso filho. Ele e seu
pai estão se afastando cada vez mais, e eu não posso continuar dando desculpas esfarrapadas para ele",
queixou-se ela.
O garoto entrou para um grupo de escoteiros. Harold não encontrou tempo para ver um só
desfile, para assistir aos jogos. Mas tomou providências: "Phyllis, cuide para que Brad chegue a tempo
para o jogo, e tenha uma carona para casa."
E, quando o filho chegava, não tinha oportunidade nem de contar ao pai como fora a vitória; ele
não estava lá. Quando finalmente chegava em casa, o garoto estava dormindo. Cada semana a mesma
história. A solidão e o ressentimento cresceram, levando mãe e filho a se voltarem contra o pai.
"Um 'caso' com outro homem nunca entrara na minha cabeça", contou Phyllis. "Esse homem
agradável estava em todos os jogos, e deu especial atenção a Brad e a mim, visto que estávamos
sozinhos. E, uma coisa levou a outra, como dizem."
A esposa de Harold tornou-se amante de outro homem, porque Harold tinha uma amante: o
trabalho.
"A vida toda é uma luta por dinheiro. " "Foi o dinheiro que me lançou nos braços de outro
homem — pelo menos o conflito e as pressões por causa do dinheiro", queixou-se Arlene.
Os conflitos por causa do dinheiro são comuns no casamento. A renda, as despesas, o crédito, as
dívidas, acrescidos do significado diferente que o dinheiro tem para cada cônjuge, podem criar uma
situação tensa, explosiva. Quando um homem perde o emprego e não consegue sustentar a família,
muitas vezes acha que a sua masculinidade está sendo ameaçada. E, nessas circunstâncias, alguns
homens acham que uma conquista sexual vai ajudá-los a reafirmar a sua virilidade.
Porém, voltemos a Arlene. "Tínhamos a oportunidade de comprar uma casa, e era uma
pechincha. Mas precisávamos mobiliá-la, e só as coisas essenciais nos deixariam atolados em dívidas.
Então Bill sofreu um acidente com o carro, e houve um monte de coisas ligadas com ele que o nosso
seguro não cobria. Quando fiquei grávida, descobrimos que alguém no escritório de Bill havia deixado
de incluir o meu nome como dependente dele, de forma que as despesas com o parto também não
foram cobertas. Tentei arrumar um emprego, para ajudar, mas, quando paguei à empregada, comprei
roupas e paguei as refeições fora, e outras coisas, cheguei à conclusão de que não compensava. Toda
nossa vida é uma luta por dinheiro. Todo mês é um tropel frenético para ver que contas podemos
pagar, e o que precisamos deixar de lado. Assumi o 'agradável' serviço de telefonar para os credores e
dizer-lhes que podemos pagar apenas a metade do que lhes devemos cada mês. A constante
preocupação, o embaraço — você não pode imaginar como é isso.
"E então, um dia, encontrei-me, por acaso, com Dave, que fora meu colega no ginásio. Ele
levou-me para almoçar em um restaurante elegante e luxuoso. Oh, que alívio! O simples prazer de
conversar a respeito de coisas comuns, da vida diária, e não ouvir falar nenhuma vez em dinheiro! A
culpa que sinto acerca do meu 'caso' é como gotas de ácido corroendo o fundo de meu cérebro. Mas
preciso ter algum escape, algum alívio dessa preocupação e tensão constantes a respeito de dinheiro."
"A minha sogra não é mandona; ela é uma tirana. " Os parentes de seu cônjuge encorajam a
infidelidade conjugal? A maioria deles está ansiosa para que o seu rebento se saia bem, e não deslustre
o nome da família. E o fato de ter os avós por perto e disponíveis é importante para as crianças, a fim
de lhes dar uma sensação de história e de continuidade.
Mas Joanne aprendeu, da maneira mais difícil, que a integridade do casamento precisa ter
precedência sobre qualquer influência negativa, qualquer intrusão dos parentes, sejam quem forem.
Porém, ela não agiu com suficiente presteza. Tinha apenas vinte e cinco anos de idade, e
trabalhava, em regime de tempo parcial, como enfermeira. A sua reação diante do fim de seu "caso",
bem como as razões que apresentou para justificá-lo foram bem características.
"Jim é um amor — um tanto apático, mas eu o amo demais. Se alguém me dissesse que eu iria
enganá-lo, eu teria rido na cara dessa pessoa. Mas eu o fiz.
"Tudo começou quando minha sogra quebrou o tornozelo e veio ficar conosco, enquanto
convalescia. Minha sogra não é mandona; ela é uma tirana. Ela quer isto, aquilo e mais aquilo outro
feito já, e do jeito dela. Supúnhamos que ia ficar apenas algumas semanas, porém ela se mudou com
armas e bagagens, e, dentro de uma semana, arranjara a nossa casa e as nossas vidas da maneira como
queria. Para mim era evidente que ela planejara ficar permanentemente.
"Achei que não devia dizer nada; afinal de contas, ela era a mãe de Jim. Comecei a ficar cada
vez mais ressentida. E comecei a passar tanto tempo quanto possível fora de casa. Um dia Fred, filho
de um de meus pacientes, ofereceu-se para me levar para casa no carro dele e sugeriu que parássemos
para tomar um café no meio do caminho.
"Foi assim que começou. Durou três meses. Um dia Fred falou algo a respeito de ser grato à
minha sogra por me fazer querer ficar tanto tempo com ele. Aquilo me pôs a pensar, e reconheci várias
coisas. Eu não amava Fred. Na verdade, eu o estava usando como forma aloucada de revidar contra
minha sogra e contra Jim, por não conseguir suportá-la. Eu nunca dissera a Jim o que sentia; esperava
que ele soubesse, e fiquei zangada quando vi que ele não percebia.
"Rompi com Fred, e então disse a Jim que a mãe dele precisava ir embora. Ele ficou surpreso e,
acho eu, aliviado, porque encontrou, para ela, um apartamento — do outro lado da cidade — já no dia
seguinte. Agora estou dez vezes mais feliz."
"Nós discordamos a respeito de nossa filha." "O que você considera problema básico de seu
casamento, que, de alguma forma, se relaciona com a infidelidade que você está praticando? O seu
casamento sempre pareceu bem firmado, e você e sua esposa tinham tanto em comum!" — esta foi a
minha pergunta a um executivo da Califórnia, quando ele pediu ajuda para tirá-lo do emaranhado
extraconjugal em que se metera.
"Minha esposa e eu tivemos uma discussão séria a respeito da nossa filha" — respondeu ele
imediatamente. "Isso se tornou um muro de separação entre nós."
"Conte-me como a coisa se desenvolveu até este ponto" — sugeri.
"Nossa filha estava começando a namorar, e nenhum de nós dois, na verdade, sabia o que fazer.
Minha esposa tinha medo que ela de repente chegasse em casa grávida, considerando a turma com que
ela estava andando. E então disse: 'Proíba-a de andar com eles. Precisamos protegê-la; é para o próprio
bem dela.' Eu também estava preocupado, mas queria abordar o problema de maneira diferente. Queria
dizer-lhe que confiávamos nela, e ela devia firmar-se em sua honra. Discutimos os méritos de cada
abordagem, até que não havia nada mais para se dizer. Mas continuamos falando. Na verdade, não
estávamos mais falando: estávamos discutindo, criticando, ferindo um ao outro.
"Naturalmente, nossa filha aproveitou-se disso ao máximo. Sabia que, se estávamos lutando um
contra o outro, ela estava livre de restrições. Tomou as minhas dores, e colocou-se contra a mãe.
Sentindo-se rejeitada, minha esposa acusou-me de ser fraco e vacilante — e talvez eu o tenha sido. No
que concerne a mim, o golpe me atingiu quando ela disse que havia perdido todo o respeito por mim.
Senti-me devastado. O problema havia se transferido de nossa filha para o nosso casamento. Os
ataques se tornaram mais intensos, e catalizaram outras coisas que, havia muito, tinham sido
esquecidas. Todos os nossos sonhos estavam ruindo por terra.
"Saí andando como um autômato. O que havia sido um casamento extraordinário, agora parecia
uma concha vazia. Eu não estava procurando outra mulher — eu sempre fora fiel — mas estava
procurando um pouco de conforto, um impulso, um arrimo, para o meu espírito vacilante, assim penso.
Esta outra mulher me propiciou isso."
"Uma entrevista com uma rainha. " "Ninguém conseguiu entender quando encontrei outra
mulher e me mudei", disse Frank, "nem mesmo Helen, embora eu tenha tentado explicar o caso a ela.
Foi a atitude boba que ela tinha a respeito de sexo que causou o problema. Para Helen pensar em
relação sexual, tudo precisava estar perfeito. A casa precisava estar limpa, a roupa passada, o cabelo
dela bem penteado, etc... etc, e ela precisava estar perfeitamente feliz comigo em todos os aspectos. Se
tivesse havido qualquer tipo de problema na última semana, bastava. Eu estava andando na corda
bamba. E precisava dar-lhe a conhecer com bastante antecedência que eu queria fazer sexo. Se eu não
o fizesse, ela fingia estar dormindo ou dizia que estava com dor de cabeça. Passei oito anos sentindo-
me como alguém que estava tentando ter uma entrevista com uma rainha. Cada vez eu sentia que fazer
sexo ficava muito caro. É uma pena. É uma pena, porque em muitos outros aspectos ela é uma ótima
esposa."
"Uma dona-de-casa horrível. " A queixa de Samuel é exatamente o contrário. "Lúcia era uma
dona-de-casa horrível. Nunca tinha tempo de passar as minhas camisas, e ficava horas no telefone,
geralmente falando a respeito de nossa vida particular. Assim, quando eu ficava irritado ou
simplesmente tentava falar com ela a respeito do problema, ela me agarrava e me levava para a cama.
Ela pensava que todos os nossos problemas podiam ser resolvidos na cama, sem que ela fizesse
qualquer esforço para mudar a sua maneira de ser. Eu precisava conseguir algum alívio. A primeira
vez que me encontrei com essa divorciada, na casa dela, era um lugar limpo, perfumoso, atraente.
Qualquer pessoa ali se sentiria em casa. Era confortável e repousante. O sexo não era nada de especial,
mas o apartamento, um lugar tão agradável!"
"Antecedentes conservadores. "Ao observar Mary, de trinta e três anos, de minha escrivaninha,
fiquei impressionado com a sua simplicidade. O cabelo, a ausência de pintura, o vestido, tudo dizia
que ela devia ter tido antecedentes religiosos conservadores. Ela remexeu-se, hesitante, na cadeira,
mas finalmente contou a sua história, soluçando.
"Eu não posso crer que Tom tenha feito isso, mas encontrei este bilhete de Diana no bolso dele.
Ele sempre foi ativo na igreja, mas é muito calmo, não sendo do tipo agressivo. E quanto a Diana, nós
estamos no mesmo clube, vivemos apenas três quarteirões uma da outra e os nossos caminhos se
cruzam constantemente."
Quando Tom veio ao meu escritório, alguns dias depois, ele era exatamente o que ela dissera:
distinto, reservado, amável. Enquanto falou de seu "caso", observou tranqüilamente: "Minha esposa é
tão simples e modesta! A família dela era assim. Ela veste roupas tão fora de moda que todos a notam
no meio da multidão. Fico embaraçado, embora queira orgulhar-me dela. Eu já lhe falei repetidas
vezes para arrumar-se melhor, porém ela se recusa. Um pouco teimosa, acho eu."
"Dê-me um exemplo" — pedi.
"Bem, recentemente pedi-lhe para comprar um vestido que não se arrastasse até os seus
tornozelos, porém achou que eu queria que se vestisse indecentemente, e ela não iria fazer isso. Até
mesmo em nosso clube, as esposas dos outros homens têm aparência muito melhor. Mary poderia
parecer muito mais bonita, se pudesse livrar-se dessas noções rígidas. Este é realmente o pomo de
nossa discórdia e conflito."
"Jean super limpa." Os conflitos que se originam em padrões diferentes de higiene não são
apenas comuns, mas também fonte de contínuas discussões, que gradualmente vão erodindo os
sentimentos dos cônjuges um pelo outro. Cada pessoa, em seu subconsciente, tem uma versão ideal de
como deve ser o seu "lar", baseada na experiência de sua primeira infância. Quando essas diferenças
existem, o problema conjugal resultante é muito mais sério do que qualquer discordância a respeito de
sexo ou dinheiro.
Jean era uma perfeccionista e exagerada quanto a manter-se limpa. Bob queixou-se: "Ela é do
tipo de esposa que, se eu me levantar no meio da noite para tomar um copo d'água, arruma a cama de
novo. E, de fato, ela não deixa a família usar a sala de visitas, receosa de que a desarrumemos." Ela era
tão enfadonha quanto ao seu corpo como acerca da casa, e exigia que o marido se afastasse antes de
ejacular, porque não queria o sêmen dele dentro dela.
"O som das queixas dela me cansava. " O que é mais comum do que o cônjuge que se julga
perfeito, cuja importunação e crítica tiram o seu cônjuge do sério?
"Minha esposa resmunga da forma como a maioria das pessoas respira: sem perceber." E os
comentários de Harvey, a respeito da esposa, não eram todos negativos. "Ela sempre teve boa
aparência, foi boa mãe, boa cozinheira e boa dona-de-casa. Mas, rapaz, era só acontecer uma coisa
mais trivial, e ela já destrambelhava. Fiquei tão abalado que preferia ficar sentado no carro, na
garagem, do que entrar em casa, quando chegava do trabalho.
"Certa noite estávamos vindo de carro para casa, e não fiz o retorno a tempo, tendo que
prosseguir até outro retorno. Oito quarteirões mais adiante, ela ainda estava fazendo daquilo um cavalo
de batalha. Aquele som, martelando em meus ouvidos, simplesmente me cansou. Você chega ao ponto
em que não ouve mais palavras, só uma enxurrada contínua de ruídos. Finalmente, precisei cair fora
completamente e encontrar outra companhia feminina, silenciosa. E, pode crer, não é difícil encontrar
uma companhia assim."
"Quem vive relembrando problemas passados", diz Salomão, "destrói boas amizades. É melhor
morar sozinho num quarto de pensão do que numa bela casa com uma mulher briguenta e implicante.
Aquele pinga-pinga constante que acontece quando chove e a mulher briguenta e implicante são muito
parecidos. Tentar impedir que ela reclame e resmungue é como tentar segurar o vento ou uma gota de
óleo na mão."4 Esses versículos aplicam-se também a maridos resmungões.
As discordâncias não prejudicam um casamento, mas a crítica o destrói. Podemos discordar
diametralmente em muitos assuntos, respeitar os pontos de vista um do outro, trabalhar para alisar as
arestas, e ainda amar um ao outro. Mas, quando as discordâncias se transformam em crítica da outra
pessoa, ninguém pode agüentar por muito tempo. O erro de atacar a pessoa, em vez de procurar
resolver o problema, é uma forma segura de sugerir ao seu cônjuge que ele/ela cometeu um erro
casando com você. E ele/ela pode procurar remediar esse erro na companhia de outrem.
"Talvez isto seja apenas a melancolia da meia-idade. " Steve, chefe da companhia que estava
trabalhando em meu gramado na semana passada, foi cruamente sincero quando lhe perguntei acerca
de seu casamento. "Na verdade, sou casado, mas vivo na "Chatolândia'. Parece como se eu estivesse
num túmulo. Vai de mal a pior. Minha esposa parece não entender algumas das lutas que estou
enfrentando — nem eu as entendo. Tenho trabalhado como um mouro — cumprido o meu dever — e
o que foi que isso me adiantou? Estamos ficando velhos. Pode ser que eu tenha apanhado o que eles
chamam de 'melancolia da meia-idade'. No entanto, a metade de minha vida já passou, os filhos já
saíram de casa — um homem tem o direito de se divertir um pouco."
Por conseguinte, o seu "caso" — na verdade, mais de um — se relacionava com a sua meia-
idade e seu estágio na vida, e confirmava o estudo dos doutores Blood e Wolfe, que revelou que
apenas a metade dos casais de meia-idade está satisfeita com o seu casamento. Alguns casais
permanecem juntos até os filhos serem criados, e depois se separam. Contudo, muitos não esperam
nem isso. Hoje em dia, quarenta e cinco por cento de todos os adolescentes americanos vivem em um
lar na companhia apenas do pai ou da mãe, antes de chegarem aos dezoito anos.
A satisfação conjugal, muitas vezes, diminui drasticamente depois que os filhos chegam. A
rotina torna-se mortal, e o casamento torna-se enfadonho, chato e monótono. A medida que os
cônjuges envelhecem, afastam-se um do outro, e experimentam um divórcio emocional. Há uma
erosão gradual de suas esperanças e sonhos mútuos, e a única coisa que compartilham é o banheiro.
E a mudança é difícil — custa caro. Pode parecer mais difícil renovar e regenerar um velho
contrato matrimonial do que fazer um novo com outra pessoa.
Steve concluiu: "Eu sei que estou dando para a minha esposa apenas as migalhas, mas não sou
um velho que 'já era' e não estou para criar teias de aranha junto com uma velha, quando há tantas
coisinhas jovens por aí, achando que eu tenho algo a oferecer. Não pretendo perder o último trem a
sair da cidade."

NECESSIDADES INSATISFEITAS
"Meu parceiro não entende nem satisfaz as minhas necessidades." Todo marido, toda mulher,
sentiu isto em alguma ocasião, embora possa ser que nunca o tivesse expressado audivelmente.
Quando as necessidades não são satisfeitas, está aberta a porta para a infidelidade — outra pessoa que
satisfaça essas necessidades. O Dr. James Dobson, conhecido conselheiro familiar, o expressa
sucintamente:
Surgem grandes necessidades. Quanto maiores as necessidades de prazer, romance, sexo e
satisfação do ego, maiores as necessidades do casamento e mais alto clamam essas vozes. Uma
necessidade cresce, e não está sendo suprida. E geralmente a pessoa clama para os que estão ao seu
redor: "Satisfaçam as minhas necessidades. Ouçam-me. Amem-me. Entendam-me. Cuidem de mim." E
esse clamor não é ouvido, entendido ou respondido. Estamos em casa, estamos vivendo juntos, mas
não estamos suprindo as necessidades um do outro. E as necessidades se agravam; e, quando se
tornam prementes, então as vozes que chamam as pessoas para a infidelidade tornam-se mais
audíveis.5
O casamento é um relacionamento que satisfaz as necessidades. Assim foi durante o namoro e
continua até o último dia em que um casal está junto. Ninguém é tão altruísta ou pouco egocêntrico
que se case pelo puro desejo de satisfazer as necessidades de outrem, sem pedir nada para si. E o fato
de querer que as nossas necessidades sejam supridas não é egoístico nem pecaminoso. Tem sido dito
que o amor é a avaliação exata e o suprimento das necessidades do outro.
Adão e Eva, embora perfeitos e inocentes, tinham várias espécies de necessidades. Deus os
criou dessa maneira. Eles tinham necessidades sociais, emocionais, físicas, psíquicas e espirituais — e
isto antes de eles terem caído em pecado. De fato, a sua queda foi uma tentativa de satisfazer essas
necessidades de maneira e em época contrárias ao plano do Criador.
Deus colocou o homem, com suas necessidades, em uma posição em que elas pudessem ser
supridas.
1. Ele foi colocado em um belo jardim, e lhe foi dito que o cultivasse, guardasse e comesse dele.
As suas necessidades de beleza, trabalho e alimentação podiam ser satisfeitas pelo ambiente em que
vivia.
2. Ele não foi deixado sozinho. Foi-lhe dada outra pessoa, e foi-lhes dito que compartilhassem,
se unissem e procriassem. As suas necessidades de companhia, intimidade, continuidade e família
foram supridas por outra pessoa.
3. Foi-lhe dada comunhão com Deus. As suas necessidades de realização pessoal, propósito e
vida eterna foram satisfeitas somente por Deus.
Só certas necessidades podem ser satisfeitas, no casamento, por outra pessoa. Nem todas. Mas a
essência da promessa do casamento é: "Eu satisfarei essas necessidades." Os votos pronunciados na
cerimônia de casamento dizem:
"Ter-te e conservar-te" — dedicação
"Na alegria e na tristeza" — propriedade
"Na riqueza ou na pobreza" — lealdade
"Na doença ou na saúde" — sustento
"Para amar-te e querer-te" — fidelidade
"Até que a morte nos separe" — companheirismo
São exigências nada fáceis. Não é de se admirar que todos falhemos, por vezes. Não estou
sugerindo que diluamos os votos, mas que entendamos como eles são traduzidos e aplicados às
necessidades diárias de nosso cônjuge.
As necessidades de duas pessoas raramente se encaixam perfeitamente, mas quando cada
cônjuge está procurando seriamente satisfazer as necessidades do outro, o problema da terceira ponta
do triângulo tem pouca oportunidade de vir à existência.
Temos cinco necessidades básicas, que um cônjuge pode satisfazer:

ATENÇÃO
"Você já ouviu falar da grande face de pedra"? — perguntou certa mulher à sua amiga.
"Sim, acho que já" — replicou a amiga.
"Eu me casei com ela" — declarou a mulher. "Meu marido não ouve e não fala."
Sara escreveu-me, depois de nossas sessões de aconselhamento: "Ser-me-á difícil desistir do
amor que sinto por outra pessoa, e dizer 'não' à primeira pessoa que realmente me ouviu. Durante treze
anos com Bruce, não me tenho sentido amada nem desejada. Ele nunca nota o que cozinho, nem
minha aparência e como tento arrumar a casa para ele. Ele nunca presta atenção a mim. Acha que tudo
o que sou ou faço é normal, natural, e, realmente, penso que não sou importante para ele."
Um marido que havia prevaricado e sentia-se culpado disse: "Cheguei a sentir-me como nada
mais do que uma peça do mobiliário. Eu era um joão-ninguém dentro de minha casa, ninguém que
fosse digno de nota, de ser ouvido ou de ser amado. Fiquei cheio. Não faz muito tempo, saí, para não
voltar mais. Finalmente me decidi", disse ele. "Há algumas semanas cheguei em casa e minha esposa
estava colocando o bebê na cama. Comecei a beijá-la. Ela, porém, virou-se de lado e começou a falar a
respeito da erupção da pele do bebê. Você já tentou beijar alguém com um alfinete de segurança na
boca? Por que ela não podia olhar para mim? Conversar comigo? Será que preciso andar de fraldas ou
cuspir fora a comida, para conseguir que ela me note? Eu sou o cara com quem ela se casou. Mas
precisaria chegar com uma perna quebrada ou ficar com pneumonia para conseguir que ela notasse
que estou presente."6

ACEITAÇÃO
Toda pessoa tem uma necessidade profundamente arraigada de ser aceita pelo seu valor
individual. É nosso dever amar nosso cônjuge; cabe a Deus mudá-lo. O autor John Drescher cita o
conselheiro Ira J. Tanner: "Qualquer tentativa para mudar o cônjuge, em um esforço de nossa parte, é
um insulto a ele. Isso divide, suscita ira, e causa solidão ainda maior."7 E posso acrescentar que isso
empurra o cônjuge para outros braços, que o aceitem melhor.
Ruth e Jack eram amigos pessoais de Evelyn e meus. Na verdade eram nossos vizinhos. Mas o
"caso" em que ela se envolveu os trouxe a mim, para serem aconselhados. Jack era ambicioso,
dinâmico, exigente, uma testemunha eficiente de Cristo — um bom papo. Rute era serena, atraente,
extrovertida e distinta. Uma pessoa encantadora.
Os próprios padrões cristãos inflexíveis de Jack atraíam algumas pessoas, mas repeliam outras.
Eram aplicados a todas as pessoas, na igreja e fora dela, produzindo em algumas delas falso
sentimento de culpa; em outras, apenas compaixão... por Jack. Todos os membros da família sentiam a
pressão. Alguns se rebelavam; outros se sujeitavam.
Ruth disse: "Amo muito o Senhor, mas nunca consigo agradar ao meu marido. Eu não estava
crescendo espiritualmente tão depressa quanto ele achava que eu devia. Ele estava sempre procurando
saber quanto eu estava lendo a minha Bíblia. Fiquei simplesmente fisicamente esgotada, e não pude
continuar indo às diversas reuniões da igreja todas as noites da semana. Eu precisava ficar em casa.
Jack interpretou isso como sinal de apostasia, e me criticou na frente das crianças, até que toda a nossa
família começou a brigar constantemente. Então ele me culpou pelos problemas de nossa família,
apresentando como causa que eu estava me 'afastando do Senhor'. Ele queria que eu fosse Madre
Teresa, Betty Crocker e Cheryl Ladd, reunidas em uma só pessoa. Ele estava decidido a me moldar à
sua vontade. Nada que eu fazia lhe agradava.
"Pecado — adultério — era a coisa mais distante de meus pensamentos, desde o dia em que me
convertera a Cristo. Eu não estava procurando sexo — até isso também se havia deteriorado em nosso
casamento. Eu nem sequer estava procurando um 'caso', para me vingar, fazer meu marido pagar, e
nem mesmo para chamar a atenção dele. Eu estava simplesmente aturdida. E, quando o vizinho do
meio do quarteirão me notou, sorriu algumas vezes, conversou comigo amavelmente e gostou de mim
da maneira como sou — aconteceu. Eu estava agonizante."

AFEIÇÃO
Muitos cônjuges traem por nada mais, a princípio, do que o desejo de um pouco de afeição. As
coisas que dão brilho aos dias de namoro e ao começo do casamento — dar-se as mãos, carinhos,
abraços, beijos — não podem agora ser guardadas no guarda-roupa, juntamente com o vestido de
noiva.
"Agora estamos casados; não somos mais crianças." Pensa ele: "Por que você precisa continuar
correndo atrás do bonde, uma vez que já o pegou?" E ela: "Uma vez que você pegou o peixe, pode
jogar a isca fora."
"Nós não nos temos tocado há mais de dois anos, quase literalmente. Certamente temos tido
relações sexuais, mas, na verdade, dificilmente nos tocamos, pelo menos não intencionalmente." —
estas foram as palavras de uma esposa de pastor que veio a uma de nossas conferências.
Ela estava com cerca de cinqüenta anos, era um tanto atarracada, cabelos puxados para trás,
vestida de maneira simples, e parecia do tipo altamente organizado, uma administradora. Com a voz
começando a se embargar, ela continuou: "Eu não tenho sido muito do tipo afetivo, não que eu não
goste disso, mas meu marido e eu precisávamos trabalhar tanto para administrar as igrejas! Durante
vinte e três anos, pastoreamos principalmente igrejas pequenas. O senhor sabe como é isso. Faz-se
todo o trabalho: ensinar, cantar, organizar, visitar, servir de zeladora. Está sempre sobrecarregada,
sempre exausta.
"Quando meu marido não evidenciou nenhum desejo de demonstrar afeição, nenhuma
necessidade disso, presumi que ele fosse simplesmente desse tipo, e que essas coisas não o
interessassem — não fossem necessárias. Por isso, também não insisti, e, por assim dizer, fiquei fora
do caminho dele. Nunca me fora ensinado que essas coisas são importantes para um homem."
"Como é que o seu marido começou a se envolver com essa outra mulher?" — arrisquei.
"Bem, ela se ofereceu para fazer algum trabalho voluntário no escritório da igreja. Não a
conhecíamos bem, mas precisávamos da ajuda. Ficamos em dúvida, uma ou duas vezes, se devíamos
conservá-la, porque ela se vestia de maneira muito sensual. Mas meu marido achava que, visto que ela
era uma crente nova, ele poderia ajudá-la. Achei que ela não seria uma tentação para ele, pois ele não
se interessava por afeição."
A essa altura ela estava soluçando.
"E então, o que aconteceu?"
"Oh, como eu estava cega! Como estava errada! Ela fazia questão de estar no escritório dele,
dando, para isso, qualquer desculpa. Arreliava com ele, tocava-o, brincando, e, bem, algo foi
despertado nele, creio eu. Ele tornou-se outro homem. Foi então que me disse que não me amava mais,
e ia deixar o ministério e morar com ela. Era incrível."
Muitas mulheres também são famintas de afeição. A autora Evelyn Miller Berger lembra a
história familiar, mas jocosa, que ouvi anos atrás. Um casal estava viajando de carro por uma estrada
deserta, certa noite, e foi impedido de continuar, e assaltado. O assaltante lhes disse para entregarem o
dinheiro. "Mas eu não tenho dinheiro", protestou o homem, que estava dirigindo o carro. O bandido
ordenou que ele saísse do carro para ser revistado. De fato, ele não tinha dinheiro. Então o bandido
ordenou que a esposa saísse do carro. Quando ela foi revistada, ele verificou que também não tinha
dinheiro, e então ela recebeu ordens de entrar no carro de novo. E, ao entrar, ela disse: "Se você me
revistar outra vez, eu lhe faço um cheque."

ADMIRAÇÃO
Mark Twain disse: "Eu posso viver dois meses sustentado por um bom elogio." Para cada
comentário negativo que um pai ou mãe faz a uma criança, ele, ou ela, precisa fazer quatro
comentários positivos, para conservar o equilíbrio. Assim acontece no casamento. O louvor verbal
nutre o relacionamento. De acordo com o meu amigo Dr. Ed Wheat, "a consciência de sua própria
beleza, para uma esposa, depende grandemente do que o seu esposo pensa dela. Ela precisa ser nutrida
emocionalmente com louvor, e jamais deve ser diminuída pela crítica."8
A famosa autora Marabel Morgan pergunta: "O que leva o homem a ser responsável e a ter
sucesso em suas ambições? Que incentivo ajudará o homem a permanecer estável, fiel e amoroso para
com sua esposa e sua família? A admiração pode fazer com que o marido ande garbosamente outra
vez, devolverá o brilho aos seus olhos e a vibração ao seu coração. Ele terá novamente a ousadia de
sonhar e crer em suas capacidades, porque você lhe disse que acredita nelas."9
Que características devemos admirar? "Concentre-se nas virtudes dele", dizem Lou Beardsley e
Toni Spry: "No seu papel de marido e pai.
Na sua aparência e modo de vestir.
Nas suas capacidades mentais.
Na sua confiabilidade no trabalho.
Na sua força masculina.
No seu amor ao Senhor.
Na sua capacidade e coordenação atlética.
No seu senso de humor.
Na sua coragem.
Na sua ternura e capacidades sexuais.
Estas são apenas o começo. "10
Todo marido deve ler Provérbios 31 e Cântico dos Cânticos. Sublinhe cada qualidade,
capacidade e área de beleza mencionadas a respeito da esposa, nessas passagens. Aplique-as todas à
sua esposa, e faça a sua própria lista de admiração.

ATIVIDADES
Muitos casamentos naufragam nas rochas da infidelidade porque se tornam chatos. Tornam-se
cansativos. A rotina torna-se mortal. Ir para o trabalho, voltar para casa, assistir TV, ir para a cama —
semana após semana, monotonamente.
"Não fazemos juntos mais coisa alguma", é uma queixa comum das esposas. "Não saímos
juntos sem os filhos, não temos recreação nem vamos a concertos, nem temos interesses ou projetos
que compartilhemos, nem diversão."
"Meu marido e eu costumávamos sair, sem os filhos, três ou quatro vezes por semana, o que era
demais. Mas depois paramos, e não temos ido a lugar nenhum, o que também está errado."
O marido dessa mulher, convalescendo do "caso" que teve com uma moça no escritório,
concordou: "Eu acho que precisávamos passar mais tempo juntos — só nós dois — nos dedicando a
coisas como 'hobbies', projetos, etc."
Casamentos ótimos, ou potencialmente ótimos, sofrem, se forem negligenciados. Leia de novo a
famosa declaração de Benjamim Franklin: "Um pouco de negligência pode gerar muito prejuízo; pela
falta de um prego, perdeu-se a ferradura; pela falta da ferradura, perdeu-se o cavalo; pela falta do
cavalo, o cavaleiro perdeu-se, sendo vencido e morto pelo inimigo — tudo pela falta de um pouco de
cuidado com um prego da ferradura."
Nenhuma pessoa pode satisfazer todas as necessidades de outra. Algumas necessidades são
supridas pelos outros; outras, pelas nossas vocações; e ainda outras, somente por Deus. Esperar que o
cônjuge propicie o que apenas Deus pode propiciar, certamente acarretará desapontamento. Ninguém
pode tomar o lugar dele. E a paz, o contentamento e a força que ele propicia influenciarão todas as
outras áreas do nosso relacionamento matrimonial.
Porém, da mesma forma como nenhuma pessoa pode ocupar o lugar de Deus, Deus não ocupa o
lugar do cônjuge. Fomos criados para suprir as necessidades um do outro, as necessidades que
somente outra pessoa pode suprir. Um comovente poema da famosa poetisa Ella Wheeler Wilcox,
embora escrito há quase cem anos, narra, em cores vivas, a história dos dias atuais:"

DE UMA ESPOSA INFIEL PARA O SEU MARIDO


Marcada e desonrada pelos seus próprios delitos, Estou diante de você; não como alguém que
pede Misericórdia ou perdão, mas como alguém, Depois que o mal foi cometido, Que procura os
porquês e as razões.
Venha comigo, De volta para aqueles primeiros anos de amor, e veja Onde foi que nossos
caminhos começaram a se afastar. Você deve lembrar
Como me perseguiu selvagemente, ultrapassando todos Os competidores e rivais, até que por
fim Me agarrou firme e fortemente, Com votos e aliança. Eu era a coisa central
De todo o Universo, para você, naquela época. Da mesma forma como então, para mim, não
havia outros homens. Eu me preocupava
Apenas com tarefas e prazeres de que você participava. Que dias felizes! Você se cansou
primeiro. Não direi que você se cansou, mas uma sede De conquista e realização no campo masculino
Deixou o barco do amor sem piloto ao leme. A loucura do dinheiro e o desejo intenso De sobrepujar
os outros abrasaram o seu coração. Nessa crescente conflagração, desapareceram Romance e
sentimento.
Lá fora, você era um homem de talentos e poder — O seu dote duplo
De elegância e cérebro lhe deu um lugar de líder; Em casa, você era enfadonho, estava
cansado, banal. Você me dava casa, comida, roupas; você era amável; Porém, oh, tão cego, tão cego!
Você não via nem podia ver as minhas necessidades femininas
De pequenas atenções; e você não deu atenção
Quando me queixei de solidão; você disse:
"O homem precisa pensar no pão de cada dia
E não desperdiçar tempo em vida social vazia —
Ele deixa essa espécie de encargo para a esposa,
E paga as contas dela, e deixa que ela faça o que quer,
E acha que ela deve, com isso, sentir-se satisfeita. "
Cada dia Nossas vidas, que haviam sido uma vida no começo, Começaram a se afastar cada
vez mais. O velho romance de um homem e uma mulher estava morto. Você só falava sobre políticas
do comércio. O seu trabalho, o seu clube, a busca louca de ouro Absorviam os seus pensamentos. O
beijo que você me dava por dever era frio. Sobre os meus lábios. A vida perdera o seu sabor, sua
emoção, até que Num dia fatal, quando a terra parecia muito insossa, O sol nasceu radioso e belo. Eu
falei pouco, e ele ouviu muito; Havia atenção nos olhos dele, e uma tamanha Nota de camaradagem
em seu grave tom de voz; Eu já não me sentia sozinha. Havia um interesse amável na face dele; Ele
falou da maneira como eu estava penteada. E louvou a roupa que eu vestia. Parecia que já fazia mil
anos ou mais Que eu não era notada dessa forma. Se o meu ouvido Estivesse acostumado a
cumprimentos ano após ano, Se eu tivesse ouvido você falar
Como esse homem falou, eu não teria sido tão fraca. O começo inocente De todo o meu pecado
Foi apenas o anseio feminino de ser colocada No santuário interior do pensamento de um
homem. Você me conservou lá, como namorada e noiva; Mas depois, como esposa, você me deixou de
fora. Tão longe, tão longe, que não me podia ouvir gritar; Você podia, você devia, ter-me salvo de
minha queda. Eu não era má; somente solitária — isso era tudo.
O homem deve oferecer algo para substituir
A doce aventura da perseguição do amante
Que termina no casamento.
As leis do amor, quando negligenciadas,
Pavimentam o caminho para a "Causa Estatutária".

CAPITULO 4
Mitos e Lendas Acerca do Casamento
Quando alguém espera, do casamento, algo que ele nunca pretendeu dar, está condenado a
sentir-se frustrado, desiludido e irado. Isto pode tornar-se uma desculpa para um "caso" ou pode ser
uma oportunidade para crescer.
MAIORIA das coisas em que grande parte de nós cria, quando chegou ao casamento, não é
verdade. Esses mitos e lendas têm atravessado muitas gerações, e, embora a experiência de todo
mundo o negue, ainda nos apegamos a eles tenazmente, como um homem que está se apegando a uma
corda que não está presa a lugar nenhum. Tenho conversado com pessoas que se divorciaram duas e
três vezes que ainda crêem e esperam que esses mitos venham a ser realidade para elas da próxima
vez.
O fato de crer nessas lendas cria expectativas conscientes e inconscientes, que condenam o
casamento desde o princípio e preparam os seus participantes para a infidelidade. Daí, então, eles se
tornam frustrados, enfraquecidos e vulneráveis.
As crenças determinam o comportamento. Você não pode crer errado e agir certo. Você não
pode pensar em doença e saúde; cultivar fracasso, e encontrar sucesso; crer em fábulas, e desfrutar da
realidade.
É triste dizê-lo, mas alguns desses mitos são perpetuados na igreja, na classe da Escola Bíblica
Dominical, no seminário. Não tenho nenhum desejo de perturbar a fé de ninguém. Pelo contrário,
quero que essa fé seja sincera, realista e verdadeiramente bíblica. Mas os crentes, por vezes, crêem em
coisas que não estão na Bíblia, por causa de um método errado de interpretação ou de uma esperança
infantil de que Deus assumirá as responsabilidades por eles.
Todos nós desejamos respostas prontas, soluções pré-fabricadas. Queremos que um mestre
autoritário nos diga em que pensar, e não como pensar. Que nos assegure que "tal maneira de crer",
"tal plano", "tal método", "tal abordagem" é a resposta para todos os problemas e a única verdade
bíblica. E é claro que achamos que só esses mestres têm essas verdades.
Consideremos quatro desses mitos religiosos.

MITO NÚMERO UM: "FEITO NO CÉU"


Esta marca registrada, de todo casamento, significa o que a etiqueta de um estilista famoso
significa em certas calças "jeans": qualidade. Não há defeitos; não há falhas na costura; o material é de
primeira qualidade; o acabamento, impecável; o estilo, revolucionário. Como diz certa companhia, a
qualidade precede o nome.
Assim, se nosso casamento foi feito no céu, se Deus nos ungiu, o êxito é inevitável. Isso não
aconteceu no primeiro casamento, e desde então não tem acontecido. Ninguém questionaria que Deus
uniu Adão e Eva, mas isso não assegurou sucesso familiar.
As suposições não confessadas deste mito são mais ou menos assim: "Visto que o céu é um
lugar perfeito, qualquer plano que venha de lá traz consigo o seu próprio sucesso. Existe só uma
mulher certa, ou só um homem certo — a única pessoa do mundo com quem posso ser feliz — com
quem realmente sou compatível. E Deus estabeleceu que de alguma forma nos uniremos. E, além do
mais, se Deus escolheu o meu cônjuge e nos uniu, certamente não teremos os problemas e dificuldades
que outros casais têm. Pouco ajustamento será necessário, ou mesmo nenhum. Fomos feitos um para o
outro."
Vamos colocar todos esses sonhos diurnos de volta nos livros de contos de fadas, com o
cavaleiro branco e a princesa, pois é a esse ambiente que eles pertencem.
Uma falácia deste mito é a predestinação. Se Deus nos predestinou para este relacionamento e
ele não funciona, a culpa é dele. Nós somos apenas participantes passivos do jogo. Deus o planejou,
elaborou as regras e assegurou a sua prosperidade. Quando dificuldades imprevistas aparecem,
juntamente com Adão, culpamos a Deus: "o cônjuge que tu me deste", abandonamos a nossa fé ou
negamos a realidade do problema.
E, também, crer nesta lenda propicia conforto e segurança falsos. "Deus nos fez um para o
outro" dá a entender que as nossas personalidades se encaixam perfeitamente — que os nossos
temperamentos são complementares. Estamos despreparados para os choques de discórdia e conflito,
ocasiões em que tudo aquece a fogueira — vem o impasse, se apresenta o beco sem saída, a ruptura.
Terceiro, este mito torna-se uma desculpa. Quando o amor romântico fenece, a sua chama
bruxuleia. A antiga vivacidade se vai, o seu cônjuge já não é o mesmo, e começa a deterioração. Então
vem a desculpa: "Para começar, acho que, na verdade, Deus não nos uniu. Talvez o nosso casamento
tenha sido apenas secular, e realmente Deus não estava nele. Não foi ele que nos uniu; por isso é
melhor nos separarmos." Uma mulher que me disse isto acrescentou: "E finalmente encontramos um
versículo que diz que podemos nos divorciar." Isso parece espiritual, mas é tão absurdo quanto um
peixe usando óculos.
Tenho ouvido isso vezes incontáveis, e sempre respondo: "Não sei se o seu casamento foi feito
no céu ou não, mas sei que todo o trabalho de sua manutenção precisa ser feito na terra."
Uma palavra a respeito desta teoria de "o homem certo — a mulher certa": É difícil, para mim,
crer que Deus limitaria desta forma as possibilidades de felicidade de uma pessoa. Morte, acidente ou
separação por outros motivos poderia impedir o casamento de dado homem com dada mulher. Acho
que seria possível edificar um casamento maravilhoso com qualquer membro do outro sexo escolhido
dentre muitas pessoas. Se duas pessoas entendem a natureza ativa do amor e se dedicam ao bem-estar
um do outro, podem gozar de satisfação conjugal.
Em muitas culturas não-ocidentais não há familiaridade nem amor antes do casamento. Os
casamentos são planejados pelos pais. A pessoa não interfere na decisão de quem será o seu cônjuge, e
certamente os nubentes não se conhecem nem se amam. Contudo, muitos casamentos fortes e belos
têm sido produzidos com essa forma de arranjo. Muito amor verdadeiro é desenvolvido depois do
casamento, e requer a mesma qualidade de esforço em qualquer cultura ou civilização.
Este mito também imobiliza. Sinceros jovens crentes esperam, apreensivos, por alguma estrela-
guia — alguma direção dramática, escrita em uma nuvem: CCF — Case-se com Fulano! Um rapaz,
obviamente sincero e preocupado, me implorou: "Por favor, diga-me se eu devo casar-me com essa
moça. Ambos somos dedicados a Cristo e cremos que nos amamos. Namoramos há bastante tempo, e
parece ser a coisa certa, mas eu ainda não tive um sinal claro. Nenhuma certeza de que tudo dará certo
— nenhuma direção específica."
Porém, não sejamos acusados de deixar Deus fora do quadro do casamento. Aqui estão fatos.
Deus certamente tem um plano para a vida de cada pessoa e nos guiará nesse plano, se o quisermos. E
esse plano certamente inclui duas direções básicas: o trabalho que teremos e o nosso casamento — o
nosso lugar e o nosso cônjuge, se o casamento for a vontade dele para nós.
Se um casal procura realmente fazer a vontade de Deus e a busca pacientemente em sua Palavra,
ora e pede o conselho de crentes amadurecidos, Deus unirá as pessoas certas. Enquanto Adão dormiu
segundo a vontade de Deus, Deus lhe preparou uma esposa e a trouxe para ele.
O servo de Abraão foi enviado ao Iraque, para encontrar uma esposa para Isaque. Este servo
queria fazer a vontade de Deus, e orou: "Mostra-me a moça certa, aquela que for generosa, aquela que
se oferecer para servir, para andar a segunda milha."1 Deus gosta de responder a esse tipo de oração.
Considere o meu caso. Evelyn era uma garota vivaz, talentosa, generosa e popular, quando nos
conhecemos. Ela estivera noiva duas vezes, de rapazes crentes, e não tinha falta de pretendentes que a
admirassem. Minha primeira reação, depois de me recuperar do delicioso choque de conhecê-la, foi:
"Preciso salvar esta garota de todos os seus admiradores." Ficamos noivos — não naquele mesmo dia,
é claro, mas não muitos meses depois. Ambos desejávamos realmente a vontade de Deus em nossas
vidas, e sentíamos que ele nos havia unido.
Depois de um noivado de seis meses, discordamos a respeito da decisão de nos casarmos àquela
altura ou terminarmos primeiro os estudos. Rompemos completamente. Definitivamente. Fui para a
escola. Ela voltou para a sua casa, a oitocentos quilômetros de distância. Não continuamos tendo
nenhum contato e destruímos ou devolvemos todas as recordações do nosso relacionamento: cartas,
fotografias, alianças, etc. E, embora estivéssemos completamente fora da vida um do outro e muito
separados, muitas vezes eu me lembrava de como ela era uma garota sensacional, e inconscientemente
comparava com ela as outras garotas com quem saía. Evelyn ainda sentia profundamente em seu
coração que Deus nos havia unido desde o princípio, embora tudo então indicasse que nunca veríamos
isso acontecer.
Muitos meses se passaram. Evelyn, chegando à conclusão de que a nossa amizade terminara
totalmente, relutantemente fez outros planos. Arrumou outro emprego, e toda a sua vida tomou outra
direção. Por fim, ela encontrou um ótimo rapaz crente, e estava noiva outra vez, planejando casar. Por
algum motivo, nessa ocasião, eu precisei enviar-lhe uma comunicação, sem saber de seu iminente
casamento com aquele rapaz — e, é claro, sem saber que os convites já haviam sido enviados, o
vestido de noiva confeccionado, o pastor convidado e todos os outros preparativos terminados.
Minha comunicação reacendeu uma antiga chama. A resposta dela fez suscitar de novo a minha
apreciação por ela. Telefonei-lhe.
O seu espírito vivaz cativou-me novamente. O casamento dela foi desmanchado cinco dias antes
da data estabelecida, e nós recomeçamos de onde havíamos parado. E tem havido muitos benefícios
adicionais. Eu ainda como torradas todas as manhãs feitas na torradeira que alguém lhe deu para o
outro casamento!
Porém não estou sugerindo que isso é um padrão. Foi em cima da hora. Mas nós dois sabemos e
nunca tivemos dúvida de que Deus nos uniu para edificar um casamento forte e para ajudar outros
casamentos.

MITO NUMERO DOIS: "ENCONTRAR O MEU PAPEL"


Tanto quanto posso me lembrar, todo sermão que ouvi a respeito do lar enfatizava dois ou três
pontos. Havia sempre estes dois: "O marido é o patrão; a esposa deve ser-lhe sujeita." Se um terceiro
ponto era incluído, era: "Faça as crianças obedecerem, e mantenha o culto doméstico." Desde aqueles
anos impressionáveis, tenho visto muitos casais com os seus papéis claramente definidos, mas o seu
casamento indo por água abaixo — lares em que era lido Ezequiel, no culto doméstico, e os filhos não
viam a hora de caírem fora.
Duvido que a cena tenha mudado muito, embora certamente haja mais recursos para se ter uma
boa vida familiar agora do que em qualquer outra época da história da igreja. A compreensão prática e
bíblica acerca do casamento e da criação de filhos que temos hoje é maravilhosa. Mas o ensino
desequilibrado a respeito do papel dos cônjuges continua, como se o fato de se identificar e assumir o
seu papel característico assegurasse o sucesso do casamento. Ministros e professores de seminários,
tanto homens como mulheres, ainda estão fazendo as mulheres sentirem o peso da culpa a respeito de
qual é o seu papel, mas não ouço falar muito de os maridos "amarem as suas esposas como Cristo
amou a igreja" e acerca do que isto significa. No começo de meu ministério, eu conseguia falar horas
seguidas a respeito da responsabilidade da mulher, mas balbuciar apenas uma ou duas frases para os
homens, e isso acontecia pouco antes da bênção final.
Em um dos seminários que conduzimos juntos, o Dr. Howard Hendricks disse que muitos
homens crentes são como sargentos frustrados, batendo na cabeça de suas esposas com a Bíblia e
repetindo o único versículo que decoraram: "Submeta-se, submeta-se, encontre o seu lugar e fique ali."
Outras desanimadas esposas crentes estão suspirando: "Ah, se meu marido assumisse o seu
papel como cabeça desta casa, os nossos problemas estariam resolvidos!"
Claro que cada cônjuge tem uma função especial, embora o nosso objetivo não seja dissecar
isso aqui. Deus nos criou com características masculinas e femininas, dons peculiares e
responsabilidades espirituais. Somos iguais em valor e importância, mas diferentes quanto às funções.
Ninguém tem o direito de escolher o lugar que vai preencher nem como o preencherá. Há um plano
preconcebido e ordem.
Todavia, o fato de se assumir um papel e autoridade não é o mesmo que ter liderança em termos
bíblicos. Eu posso assumir essa posição e ainda ser egocêntrico, mandão, tirânico. E, quando a minha
atitude é errada, os meus relacionamentos se desfazem.
Eu era o chefe de minha família. Não havia dúvidas quanto a isso. Mas eu não entendia a receita
de Jesus de que um líder é o servo de todos: dando, ministrando, redimindo.2 Eu podia dar ordens, mas
não conseguia servir. Eu era decisivo, mas inflexível, não cedia nunca. Eu era um bom provedor, mas
providenciava pouco encorajamento para os dons de minha esposa. A meu ver, Efésios 5:22-33 fora
escrito primordialmente para a esposa.
...Até que aconteceu a adversidade. Tensões sobrevindas ao nosso casamento me levaram
novamente a essa passagem, e senti-me arrasado. Palavras que, na verdade, eu não havia visto antes
saltaram da página: submetei-vos... amai... se deu... santifica e purifica a sua esposa... apresentá-la
sem mancha... amai as vossas mulheres como ao vosso próprio corpo... nutre... preza... membros...
deixará/se unirá... serão... uma só carne... ame como a si mesmo... como também Cristo amou a
igreja.
Como foi que Cristo amou a igreja? Fosse o que fosse que ele tivesse pedido de seu povo, ele o
fez primeiro. Ele nos manda amar; ele o fez primeiro. Precisamos perdoar; ele perdoou primeiro.
Somos chamados para levar a nossa cruz; ele a levou primeiro. Precisamos nos sacrificar; ele o fez
primeiro.
Assim, o homem é o iniciador. Ele perdoa primeiro, sacrifica-se, sustenta, aceita primeiro. Ele
modela algo para a sua esposa, como Cristo fez com a igreja. Isto é mais do que usar um título ou ser
um fiscal divino. Subtrai o senso de superioridade de que ele é possuído, e ele reconhece que não pode
fazer isto sem as forças que vêm de Deus.

MITO NUMERO TRÊS: "O CASAMENTO ME TORNARA FELIZ"


Uma das razões por que o casamento tem sofrido críticas hoje em dia é que ele não é o remédio
para todos os males que se pensa que é. E nenhum povo do mundo faz maiores exigências do
casamento do que os americanos. Ele também não faz o que nossos pais, amigos, educadores e o
sucesso não foram capazes de fazer: tornar-nos felizes. Ainda cremos que o casamento é a nossa
grande esperança. Ele nos separará de nosso passado, nos dará todo o amor de que precisamos agora e
nos garantirá uma velhice tranqüila. "Felizes para sempre" ainda consta em nossos sonhos.
A cerimônia do casamento é uma revelação ao mundo de que cremos que encontramos alguém
que nos tornará felizes. Um marido divorciado disse, a um pastor amigo, o que muitos não teriam a
coragem de dizer: "Deus abençoe a minha querida esposa; ela tentou tão intensamente! Eu dei a esta
mulher três dos melhores anos de minha vida, esperando que ela pudesse me entender e me fazer sentir
homem. Ela simplesmente não tinha condições. Ela simplesmente não soube como me fazer feliz."
Os pais dele haviam tentado e falhado. Outros falharam. Por isso, ele casou-se e deu à esposa a
chance de acertar. Ela, porém, também não o conseguiu. Mas ele tentará outra vez, estou certo, e dará
a outra mulher o mesmo privilégio. E ela também falhará. Cada nova tentativa, nessa mesma direção,
desse menino crescido, está destinada a aumentar o seu desapontamento e frustração. Ele é um
sonhador.
Um homem "pensou alto", para mim, acerca do motivo por que o seu casamento não durou. Ele
já fizera a quinta tentativa. Ele é um homem genioso, e as suas explosões destroem tudo o que
realmente deseja. Mas, no conceito dele, a esposa é sempre a culpada, porque não conseguia produzir
a felicidade.
Três falácias compõem este mito:
O casamento compensará os fracassos do passado. "Minha mãe não gostava de mim; uma vez,
meu pai não abotoou as minhas calças direito; vivíamos no lado errado da cidade; minha professora do
primário foi um fracasso. O casamento será um porto em que lançarei a âncora — serei aceito. Todo o
passado será esquecido. Será um novo começo." Claro que será um relacionamento novo, mas o
passado o perseguirá como um cão de caça. Nós nos casamos por todas as razões erradas: fugir de um
lar desajustado, tirar desforra, provar algo. Os problemas do casamento trarão de volta o passado, e o
passado determinará como nos haveremos com os problemas. O seu passado influenciará o seu
casamento mais do que o seu casamento irá alterar o seu passado.
O casamento não modifica o passado; ele o revela. Nem Deus pode mudar o passado; ele
aconteceu; é imutável. Mas Deus pode nos livrar de sua tirania. E então poderemos aprender do
passado e usá-lo como plataforma, da qual lançaremos contra-ataques positivos.
Segunda falácia: O meu cônjuge propiciará o que preciso. Se eu crer nisso, criarei uma
dependência controlada. Tornar-me-ei um aleijado emocional. A qualidade de minha vida é
determinada pelos outros. Não pertenço a mim mesmo. Eles agem, eu reajo. Eles comandam o
espetáculo, eu sou um espectador. Eu me apoio neles; quando eles se movem, eu caio. Eles apanham
um resfriado, sou eu quem espirra. Eu vivo através deles, e os torno moralmente obrigados a
providenciar o meu bem-estar. Quando eles não conseguem providenciar o que acho que preciso, eu os
culpo pelos meus fracassos. Eu lhes dei o poder de me destruírem.
Uma jovem esposa de pastor, em soluços, fez esta confissão a David Wilkerson: "Agora não há
absolutamente nenhuma esperança para o nosso casamento. Vivemos em dois mundos diferentes. Ele
está demasiadamente envolvido no seu trabalho; não tem tempo para mim e para as crianças. Todo o
meu mundo girava ao redor dele, mas agora estou ficando cansada de ficar em casa, esperando por ele.
Não estou realizando nada, pessoalmente. Nem sei se ainda o amo."
Sabiamente, David respondeu: "Que vergonha! Toda a sua felicidade depende apenas do que o
seu marido faz? Sendo um bom marido, tratando-a da maneira que você pensa que deve ser tratada,
gastando um pouco de tempo com você — então você pode achar um pouco de felicidade! Mas se ele
a menosprezar, o seu mundo desmoronará! Tudo depende dos atos de seu marido! .Tovem, você não é
uma pessoa inteira; é apenas meia pessoa. Você não pode sobreviver se depender de outrem para ser
feliz. A verdadeira liberação da mulher significa você encontrar a sua própria felicidade em si mesma,
através do poder de Deus."3
E ele continuou: "O casamento não é feito de duas metades tentando se tornarem um todo. Pelo
contrário, o casamento consiste de duas pessoas inteiras, que são unidas pelo Espírito de Deus.
O casamento nunca funciona, a não ser que cada cônjuge mantenha a sua identidade, estabeleça
os seus próprios valores, encontre o seu próprio senso de realização e descubra a sua própria fonte de
felicidade... através do Senhor."
Intimamente ligada está a terceira falácia deste mito: A felicidade é um resultado — o amor, um
sentimento. A felicidade é o resultado de um acontecimento, e o amor, algo que você consome
gulosamente.
Esses dois conceitos encorajam o cônjuge a ser passivo: a esperar, reagir apenas, ver para que
lado o vento sopra. Ele espera que "algo de bom vai acontecer" com ele. Muitos de nós chegamos ao
casamento gritando: "Satisfaça as minhas necessidades, ame-me, faça-me feliz", e depois esperamos, e
esperamos. E temos esperança.
Mas a verdade é que essa felicidade é uma escolha. Abraham Lincoln sempre dizia: "A maioria
das pessoas é tão feliz quanto escolheu ser." Você não pode escolher os seus sentimentos de
felicidade, mas pode escolher as ações que propiciarão esses sentimentos. Não fazemos o que fazemos
porque sentimos da maneira como sentimos; sentimos da maneira como sentimos porque fazemos o
que fazemos. Agimos, e assim aprendemos uma nova maneira de sentir; e não sentimos, e assim
aprendemos uma nova maneira de agir.
Temos pouco controle sobre as nossas emoções, mas tremendo controle sobre as nossas ações.
Foi por isso que Erich Fromm disse: "O amor não é uma vítima de minhas emoções, mas um servo de
minha vontade." A Bíblia diz a mesma coisa: "Acostumemo-nos a amarmos uns aos outros."4 Você já
praticou algo: piano, tênis, canto, natação? O que é prática? É a repetição da mesma ação até que você
se torna perito, até que aquilo se torna parte de você.
A prática relaciona-se com as ações. Você não pode praticar sentimentos. Portanto, amor é algo
que você faz. Eric Hoffer acrescenta: "Amor é uma atividade direcionada para outra pessoa." Visto que
é ação, é uma decisão — um ato consciente da vontade, um ato de fé. Na cerimônia de casamento, o
pastor pergunta: "Você vai amar esta pessoa?" presumindo que amor é algo que você decide que vai
exercer. E você responde: "Sim, vou", uma promessa, em vez de um sentimento — uma promessa de
fazer, em vez de uma espera para reagir. Quando a ação do amor é iniciada em relação a um cônjuge
no nível volitivo, os outros elementos do amor, intelectuais e emocionais, aparecerão por si. E, como
nos lembra John Drakeford: "Uma vez estabelecido um padrão de comportamento, ele tem o seu
próprio modo de realização."
Assim, precisamos escolher. Um solteiro infeliz será um casado infeliz. Um celibatário infeliz
não será modificado por uma aliança matrimonial. Nenhum cônjuge poderá fazer por mim o que eu
não decidir desejar. A minha felicidade é de minha escolha, e não da obrigação de meu cônjuge.

MITO NÚMERO QUATRO: "OS FILHOS MANTÊM OS CASAIS UNIDOS"


Há uma crença comum de que os filhos consertam um casamento. Se isso fosse verdade,
considerando-se as estatísticas de divórcio, eles não tiveram sucesso nisso. Isto significaria que os
filhos de divorciados estão sofrendo devido ao seu próprio fracasso. Absurdo!
Uma fábula relacionada com essa crença diz: "O nosso casamento pode não ser tão firme, mas a
presença de crianças criará um ponto focai unificador. Se ambos nos concentrarmos em criar filhos, as
nossas diferenças pessoais desaparecerão." Isto é como atirar um fósforo em um barril de pólvora e
sentar em cima dele.
Os filhos não resolvem os problemas conjugais; eles os revelam, os agravam. Eles são muito
maus conselheiros matrimoniais. Em vez de aliviar as tensões maritais, eles as aumentam. As falhas
encobertas serão expostas, e esses amorzinhos vão precipitar um terremoto.
Todo estudo de satisfação conjugal mostra que há um declínio quando os filhos começam a
nascer. Quando chega o terceiro filho, a satisfação conjugal decresce drasticamente. Isto não nos deve
surpreender. O que é que um filho acrescenta ao casamento? A presença iniludível de uma criatura
dependente, exigente, egoísta, vulnerável, que tem duas extremidades que precisam ser limpas.
Certamente isto vai mudar o programa, si 'citar frustrações, esgotar a mãe e diminuir a conta bancaria
17
arf 'gir em nós o que há de melhor e o que há de pior.
As dificuldades do casamento causarão discordância a respeito da criação dos filhos, quanto à
sua disciplina e instrução. Um dos pais é mais permissivo, o outro, mais autoritário. Um diz: Fique. O
outro: Deixe-o ir. Os filhos, estando entre ambos, jogam um cônjuge contra o outro, e,
inconscientemente, os separam ainda mais.
O foco primordial precisa ser o casamento, e não os filhos. Precisamos nos concentrar no que
damos aos filhos, e não no que eles nos dão.
Quando Jesus disse: "Por isso deixará o homem pai e mãe, e unir-se-á a sua mulher; e serão os
dois uma só carne",5 ele não falou nem uma palavra a respeito dos filhos. Só acerca do casamento. O
casamento é permanente, a paternidade temporária. Precisamos nos esmerar no que é permanente, e
não no que é temporário, e criar os filhos no contexto de um casamento em crescimento.
O Dr . Armin Grams enfatiza:
Nunca se pretendeu que os filhos fossem o eixo da família. O seu lugar é na periferia,
protegidos e amados, mas respeitados como crianças, esperando-se deles que se portem como tais. O
centro de uma família é a relação entre o marido e a esposa. Tudo o mais gira em torno disso. Desta
maneira, quando os filhos deixam o convívio da família, podem fazê-lo causando o mínimo de
perturbação para a unidade familiar. Se eles são o centro dessa unidade, não podem sair sem causar
uma ruptura séria nela. A nossa função, como pais, é tornarmo-nos gradualmente desnecessários,
equipar a criança e permitir que ela circunde a família em órbitas cada vez mais amplas, até
estabelecer-se individualmente na sociedade como adulto responsável.6
Até mesmo filhos doentes podem ter um efeito devastador sobre o casamento. Um estudo
indicou um grande coeficiente de divórcios que aconteceu depois que um filho morreu, após longa
enfermidade. A mãe que passa noite e dia cuidando do filho tem a tendência de negligenciar quase
totalmente o seu casamento. Logo depois do funeral a deterioração surge na superfície, e muitos
maridos vão embora. Fico pensando que apoio e cuidado esses maridos estavam oferecendo durante
aqueles dias dolorosos — evidentemente muito pouco. Talvez eles também fossem crianças.
Um estudo feito na Califórnia descobriu que os casamentos de uma surpreendente porcentagem
de oitenta por cento de pais com filhos que tinham câncer finalmente se separou! O Dr. Sidney Arje,
da Sociedade Americana de Câncer, concorda: "Quando as pessoas se descobrem nesta situação, há
todo tipo de reações. Há uma grande interligação de agressões, e, antes de você perceber, muitos
maridos e esposas estão se detestando."
"E, se há uma patologia emocional na família, esta situação a estimula", diz o Dr. M. Lois
Murphey, diretor dos pediatras de um grande hospital americano. "O câncer não produz nada que já
não estivesse latente anteriormente."
Desta forma, como eu disse em meu livro The Marriage Affair, o casamento começa com duas
pessoas, e termina com as mesmas duas. Ele passa pelo ciclo de paternidade, e volta ao ponto onde
começou. Começa com um casal apaixonado, mas não necessariamente termina dessa maneira. Muitas
vezes isto acontece por causa de um lar centralizado nos filhos, e quando esses filhos crescem e vão
embora, não há mais centro de interesse comum. Esses pais, no esforço de fazer o melhor pelos seus
descendentes, na verdade, permitiram que os seus filhos se intrometessem entre eles, para o detrimento
de todas as pessoas envolvidas.7
Estes quatro mitos matrimoniais têm uma característica em comum, uma falácia que os liga: a
de que você pode livrar-se de sua responsabilidade. Que outrem — Deus, o seu cônjuge, o seu filho —
é responsável pelo seu bem-estar. Que outrem deva ser o iniciador.
Esta maneira de pensar prepara você de maneira perfeita para ter um "caso". Se Deus não lhe
deu o cônjuge ideal e o seu cônjuge e seus filhos não lhe propiciam felicidade, por que não procurar
em outra parte? Algures você a encontrará.
E isto também é um mito.

CAPITULO 5
Não Me Induzas á Tentação
Se você está pensando, em seu íntimo:"Um 'caso' jamais poderia me acontecer", está em
dificuldades. Crer que somos imunes nos deixa completamente expostos e desprotegidos.
Ellen Williams
QUANDO você nasceu, casou-se — casou-se com uma companheira que palmilhará o caminho
da vida com você até o fim. Você jamais acordará qualquer manhã nem irá dormir qualquer noite sem
que essa companheira esteja bem ao seu lado. Essa companheira nunca o deixará por falta de sustento.
Você nunca a poderá processar, requerendo sustento separado. É impossível divorciar-se dela. Quer
você goste quer não, você e essa companheira estarão juntos até que a morte os separe. Tentação —
esta é a sua companheira vitalícia.
Todo mundo é tentado. A tentação não desconhece ninguém. Todo mundo é tentado, e sempre
será. Ninguém pode evadir-se dela ou evitá-la. É um fato inescapável da vida. Enquanto um homem
estiver vivo, será tentado. A tentação é como a poeira: cai sobre todo mundo. É como os germes que
carregamos conosco, que nos atacam quando a nossa resistência está fraca.
Nenhum isolamento das outras pessoas nos isolará da tentação. O monge, em seu mosteiro
recluso; o eremita, em sua caverna secreta; o prisioneiro, em sua cela solitária, todos conhecem a
tentação. Não há exceções. Não há isenções. A tentação é uma realidade universal, inevitável.
Se você tem uma mente por meio da qual pensa, será tentado através dessa mente. Se você tem
um corpo em que vive, será tentado através desse corpo. Se você tem uma natureza social, com que se
relaciona com os outros seres humanos, essa será uma avenida para a tentação. Se você é um ser
sexuado, terá tentações sexuais.
Certo autor, na revista Psychology Today, disse: "Todos os homens, desde o primeiro dia de seu
casamento em diante, pensam na sua possibilidade de serem infiéis. Não, necessariamente, que eles
planejem fazer algo nesse sentido, mas a possibilidade é uma coisa consciente em suas mentes." Se o
autor quis dizer que todas as pessoas, homens e mulheres, enfrentam verdadeira tentação sexual, está
absolutamente certo. De fato, se uma pessoa pensa, erradamente, que é isenta da tentação, já está
sendo vulnerável, e Satanás já está passando graxa no escorregador para ela.
"Ninguém, ao ser tentado, deve dizer: 'É Deus que me está tentando', pois Deus não pode ser
tentado pelo mal e a ninguém tenta. Antes, cada qual é tentado pela própria concupiscência, que o
arrasta e seduz. Em seguida, a concupiscência, tendo concebido, dá à luz o pecado, e o pecado,
atingindo a maturidade, gera a morte."1
O Autor da Tentação. Durante a sedução da tentação, é fácil racionalizar, e culpar Deus de ser o
seu autor. Não, conforme Tiago diz, Deus não tenta ninguém. Fazê-lo, seria completamente contrário à
sua natureza, aos seus objetivos e à sua Palavra.
Quem tentou Adão e Eva, no jardim do Éden? Quem tentou Jesus durante quarenta dias no
deserto? Satanás, o Diabo, que é chamado de tentador, a velha serpente, e é nosso grande inimigo. Ele
anda em derredor, rugindo como leão, procurando a quem possa tragar.2 E ele tem um padrão de
tremendo sucesso — que teve êxito, até certo ponto, com todos os membros da raça humana.
A Natureza da Tentação. Note bem isto: tentação não é pecado. Nunca poderia ser. A Bíblia diz:
"Jesus foi tentado em tudo, mas sem pecado."3 Costumávamos cantar, muitos anos atrás, este hino, na
Escola Bíblica Dominical: "Tentado, não cedas; ceder é pecar." A tentação não é pecado.
A nossa reação, a nossa resposta, determina se pecamos ou não. De fato, a tentação, em si
própria, é uma das coisas mais fracas do mundo. Sozinha, ela é totalmente impotente. Para ter êxito, a
tentação sempre necessita de um parceiro — alguém para concordar com ela, para dançar com ela,
para abrir a porta para ela, para dar-lhe as boas-vindas.
Você não pode impedir as tentações de virem, mas pode decidir o que vai fazer com cada uma
delas.
Você não pode impedir os pássaros de voarem sobre a sua cabeça, mas pode impedi-los de
fazerem ninho em seus cabelos.
Você não pode impedir o Diabo de cantar em seus ouvidos as suas cantilenas de encantamento,
mas não precisa juntar-se a ele e cantar um dueto.
Você não pode impedir o Diabo de expor suas mercadorias na vitrine, instando para que você as
compre, mas você não tem de comprá-las.
Você não pode impedir o Diabo de colocar os seus fedelhos à sua porta, e de bater
incessantemente. Mas você não precisa abrir a porta, pô-los para dentro, aquecê-los, vesti-los e
alimentá-los.
Quando uma garota se aproximou de mim, no vestíbulo de um hotel, e, sorrindo, perguntou:
"Você gostaria de se divertir um pouco esta noite?" era apenas uma tentação. Ser induzido à
infidelidade não é pecar. Aquiescer com ela é que faz a diferença.
A Tentação É Sempre Para Pecar... "E origina o pecado'', adverte Tiago. Pecado é o objetivo
da tentação. Embora toda tentação seja aparentemente inocente, o único propósito do Diabo é levar
você a pecar. Não apenas impedir um pouquinho o seu progresso, colocar alguns obstáculos em seu
caminho, mas assisti-lo como uma parteira, e ajudá-lo a dar à luz... o pecado.
O objetivo do Diabo não é ter um mundo cheio de bêbados, prostitutas e toxicômanos. Essas
pessoas não constituem uma propaganda para ele. Mas o pecado, seja em que nível social for e com
que sofisticação, opõe-se ao maravilhoso plano de Deus para a sua vida, e neste objetivo sinistro e
destruidor o Diabo está totalmente empenhado.
A Tentação Apela Para os Seus Desejos Humanos. Para as necessidades que você tem, e que
foram criadas por Deus. Todas elas não são malignas. "...A tentação do homem deriva dum impulso
dos seus próprios desejos... " O apelo da tentação é sempre satisfazer uma necessidade legítima de
maneira errada ou na hora errada. O desejo intrínseco, por si mesmo, é bom, querer satisfazê-lo é bom,
mas quando e como é satisfeito faz a diferença. O bem ou o mal estão na maneira como essas
necessidades são satisfeitas.
O desejo de ter amigos, amor, ser apreciado, ter sucesso, aceitação, intimidade, são todos bons.
Satisfazê-los mediante desonestidade, manipulação, egoísmo e violação da verdade de Deus nos leva
ao pecado.
Acontece exatamente assim com o sexo. Toda pessoa é um ser sexuado, com desejos sexuais,
atrações sexuais e sentimentos sexuais. Tudo isto foi idéia de Deus. Não há nem nunca poderia haver
nada de errado com o sexo. Por ser a sexualidade um dom de Deus, não pode haver erro, defeito ou
mal nela. Mas o homem, historicamente, tem prostituído os dons de Deus, e os tem usado para a sua
vantagem egoística e detrimento.
Satanás é astuto. Ele sabe que, como crentes, temos bom gosto e boas motivações. Ele não nos
tenta com coisas baratas ou com o pecado impudente, pois isso não apelaria à nossa natureza
espiritual. Pelo contrário, ele pega sutilmente algum dos melhores dons de Deus, como intimidade e
unidade de espírito, e injeta, nesse dom, algumas qualidades que não são agradáveis a Deus. Ele
distorce as nossas prioridades e nos tenta a usar as coisas boas de Deus no lugar ou na hora errada.
Desta forma, a atração sexual pode tornar-se um problema num relacionamento amoroso
perfeitamente apropriado.4
A Tentação Apela Para o Ponto Mais Fraco de Sua Vida. Todos nós temos uma fraqueza
especial. Como estrategista arguto, o Diabo reúne as suas forças mais poderosas no ponto mais fraco
da batalha. As nossas diferenças de temperamento, personalidade, fraquezas herdadas nos levam a
reagir peculiarmente a diferentes tipos de tentação. Pedro teve a sua tentação especial, e, certamente,
Tome também, Tiago e João lutaram com suas fraquezas características.
Uma pessoa luta o dia inteiro com a tentação de roubar. Outra preferiria morrer a roubar. Onde
uma pessoa é fraca, outra é forte. Uma, luta contra a tentação de mentir. Uma jovem disse-me, depois
do culto em que eu pregara na capela de certa universidade: "Sr. Petersen, eu sou uma mentirosa.
Minto o tempo todo — sempre menti. Provavelmente, hoje já menti cinqüenta vezes. Minto até
quando não preciso. Minto quando isso não me faz nenhum bem. Mas minto sempre. E, por falar
nisso, estou me preparando para ser missionária." Antes de tornar-se missionária, ela precisa entregar-
se a Cristo, que disse: "Eu sou a verdade." Outra pessoa é muito tentada à inveja, violentamente levada
ao ciúme, quando outros têm sucesso ou adquirem posição, proeminência ou prestígio. Já outra não se
importa. Uma pessoa é gananciosa, ávida. Outras têm o problema oposto. Esbanjam tudo o que
ganham. Algumas lutam com a arrogância e o orgulho, enquanto outras lutam com o complexo de
inferioridade e a passividade. O sexo é um problema mais difícil para uns do que para outros. É que
eles são mais sensuais — suas necessidades emocionais são maiores. A tentação para um "caso"
extraconjugal pode constituir uma grande batalha para eles, maior do que para os do tipo mais
conservador.
A Tentação Começa na Mente. O órgão sexual mais importante é a mente. Um "caso" começa
na mente, muito antes de terminar na cama. A relação clandestina começou como um pensamento
inocente no recesso secreto da mente de alguém. O pensamento é a fonte da ação. O corpo é o servo da
mente. O pensamento determina o caráter. O nosso caráter é moldado na forma de nossa concentração.
A mente é um jardim que pode ser cultivado, para produzir a colheita que desejarmos.
A mente é uma oficina, em que são feitas as decisões importantes para a vida e a eternidade.
A mente é uma fábrica de armas, onde forjamos as armas de nossa vitória ou de nossa
destruição.
A mente é um campo de batalha, em que todas as batalhas decisivas da vida são ganhas ou
perdidas.
Os comunistas aprenderam, através do sucesso de sua lavagem cerebral, que, se puderem
converter e controlar os pensamentos das pessoas, podem reformar o seu caráter e escravizá-las. Eles
crêem, como disse Emerson: "A chave de todo homem é o seu pensamento." Os pensamentos
governam o mundo. Os bons pensamentos nunca produzem maus resultados, nem os maus
pensamentos, bons resultados. Jesus disse: "Conhece-se a árvore por seus frutos."
Napoleon Hill cristalizou o que julgo ser o conceito mais importante e surpreendente a respeito
da mente: "A única coisa sobre que todas as pessoas têm controle completo, indisputado, é a sua mente
— O.Í seus pensamentos." Você não tem controle sobre as suas circunstâncias ou a sua natureza; você
não pode controlar a hereditariedade ou o ambiente; você não pode controlar a sua condição física ou
capacidade mental; nem outras pessoas, amigos ou inimigos, o passado ou o futuro. Há uma única
coisa que você pode controla.-: você tem o poder de moldar os seus pensamentos e adequá-los a
qualquer padrão de sua escolha. "Como ele pensa consigo mesmo, assim é."5
Pensamento do Mal ou Mau Pensamento. Qual é a diferença entre estes dois? Suponhamos que
eu leia um livro ou revista ou assista a um programa de TV. Algo que vejo — uma propaganda, um
parágrafo, um desenho — faz com que um pensamento do mal relampeje pela minha mente. Isso é
pecado? Não. Dirigindo pela rua, o que vejo em uma propaganda ou ouço no rádio do carro faz com
que uma sugestão do mal invada a minha mente. Isso é pecado? Não. Ou, enquanto estou trabalhando
na fábrica, no refeitório do escritório, no clube, ouço piadas sujas, anedotas picantes, o relato de
aventuras sexuais. É pecado ouvi-las? Claro que não.
Ou então me encontro na igreja e deparo com uma mulher que é radiante, charmosa, vibrante.
Embora não haja flerte, ela tem uma personalidade radiante. Conserva-se em forma, veste-se bem e
dispõe de uma amabilidade cristã extrovertida, que a torna muito atraente. Um pensamento esvoaça
pela minha mente de que essa pessoa é uma beleza, é mui talentosa e que é sexualmente atraente para
qualquer homem que tenha sangue nas veias. Há algo de errado com isso? Não! Não é pecado ouvir as
centenas de sugestões passageiras e tentadoras que batem à porta de minha mente todo dia, a vida
inteira. Para o super-sensível, o Diabo cochicha: "Há algo de errado em você. Se você fosse um bom
crente, Deus estaria cuidando de você, e você não teria esses pensamentos. Ê tarde demais; você já
pecou." Você pode reconhecer as mentiras do Diabo, porque são sempre negativas e levam a um
sentimento irremediável de culpa e à autocondenação.
Mas quando esse pensamento passageiro do mal é aceito, recebe acolhida e é acariciado
demoradamente, com o consentimento de sua vontade, torna-se um mau pensamento. Se eu abrir a
porta, convidar amavelmente o visitante para entrar, der-lhe uma cadeira confortável para descansar e
encorajar conversa adicional, o estranho se torna meu amigo. Este amigo agora me ajuda a formar um
quadro — simples a princípio, mas por fim com detalhes e a cores vivas — de tudo o que essa
amizade pode significar para mim c das necessidades que serão supridas por ela.
Esse quadro é uma fantasia, e as fantasias são os aprestos para a ação desejada. Uma "transa" é
experimentada muitas vezes na fantasia, antes da hora e do lugar do primeiro encontro serem
estabelecidos.
Alguém perguntará: "Quando Jesus falou a respeito de concupiscência ou adultério mental, ele
estava falando apenas de pensamentos do mal ou de maus pensamentos?" Verifiquemos
cuidadosamente as suas palavras em Mateus 5:28: "Eu, porém, vos digo que todo aquele que olhar
para uma mulher para a cobiçar, já em seu coração cometeu adultério com ela."
Em seu vibrante livro Love and Marriage, o Dr. David Hocking torna este princípio
meridianamente claro:
Primeiro, a palavra olhar está no presente, no grego, indicando um hábito vivencial contínuo.
Não cremos que esteja dizendo que olhar com desejo sexual em um dado momento é errado. Deus nos
fez com desejo sexual. Os homens gostam de olhar para as mulheres, e as mulheres gostam de olhar
para os homens. Cremos que esta passagem está condenando a prática de centralizar a sua atenção
em uma dada pessoa, com a motivação de cometer adultério com ela.
Em segundo lugar, a palavra "mulher" está no singular, quanto ao número, e não no plural. O
texto não está condenando o ato de se olhar para mulheres em geral, mas a concentração em uma
mulher em particular. Uma pessoa determinada começa a dominar os nossos desejos.
Em terceiro lugar, as palavras "para a cobiçar" têm referência óbvia à perpetração do
adultério. Isto não é a mesma coisa que experimentar o desejo de olhar para a aparência física de
uma mulher e gostar do que se viu. O problema acontece quando você se concentra em uma pessoa
em particular e mentalmente vai para a cama com ela.6
Este é o mau pensamento, a fantasia, "concentrar-se em uma dada pessoa, e planejar
mentalmente ir para a cama com ela".
Neste ponto, a mente começa a fazer duas coisas. A sua parte subconsciente não faz diferença
entre bem e mal, e apenas reage às sugestões e figuras que lhe são ministrados, audivelmente ou na
imaginação. As sugestões vêm da conversa com nós mesmos que todos praticamos, não percebendo,
muitas vezes, o seu tremendo poder 3 influência. Todas as pessoas conversam consigo mesmas o
tempo todo, reagindo inconscientemente a todas as situações, analisando, julgando, recordando,
expressando as suas crenças, temores ou desejos. O psicólogo Dr. David Stoop fez um estudo sobre
nossa conversa com nós mesmos e observa: "Geralmente, em voz alta, dizemos a média de 150 a 200
palavras por minuto. Algumas pesquisas sugerem que falamos com nós mesmos, em nossos
pensamentos, a média de, aproximadamente, 1.300 palavras por minuto. Visto que muitos de nossos
pensamentos tomam a forma de imagens ou conceitos mentais, podemos pensar, em uma fração de
segundo, em algo que nos tomaria vários minutos de discurso verbal para descrever."7
A medida que se desenvolve a fantasia a respeito da possibilidade de uma relação extraconjugal,
a nossa mente afirma e incentiva essa fantasia, mediante o que dizemos para nós mesmos e as imagens
criadas. "Isso seria gostoso... eu preciso disso... a vida tem sido enfadonha... ela é algo mais... as
maçãs roubadas são mais doces... Não estou pensando em nada de errado." E assim por diante, à
velocidade de 1.300 palavras por minuto. Centenas de imagens alimentam a fantasia. Se repetirmos
qualquer delas audivelmente para nós mesmos, essa auto-sugestão cauteriza a imagem ainda mais
profundamente, e o nosso subconsciente tomará providências para que isso aconteça.
Motivadores de sucesso há muito têm reconhecido a veracidade deste princípio. O primeiro
passo para o sucesso, dizem eles, é decidir exatamente o que você deseja realizar e quando. Identifique
claramente o seu objetivo, o seu alvo. Escreva isto, de forma que você possa vê-lo. Faça um desenho.
Repita o alvo audivelmente todos os dias, talvez cinqüenta vezes de manhã e cinqüenta vezes de noite.
Em seguida, faça um livro de recortes. Encontre figuras coloridas, de revistas, que se relacionem com
o seu alvo, ou o que você possuirá, quando o alcançar: casa nova, carro, roupas de tamanho menor,
férias, etc. E, ao estudar as figuras, comece a falar consigo mesmo positivamente. Você criará uma
imagem forte e clara em sua mente; as emoções apropriadas se seguirão, e o seu objetivo será
realizado.
Assim, as nossas mentes alimentam a fantasia, a fantasia cria as emoções, e as emoções clamam
pela experiência propriamente dita. Ê por isso que, quando uma pessoa está emocionalmente decidida
a ter um "caso", toda a verdade e toda a lógica do mundo não parecem intimidá-la. Em uma disputa
entre emoção e verdade, a emoção geralmente vence.
Outra coisa que a nossa mente faz é nos enganar. A nossa mente nos ajuda a encontrar o que
esperamos encontrar, quer isso esteja ou não presente. Temos um modo esquisito de encontrar aquilo
que estamos procurando. Se estamos cultivando uma "transa" extraconjugal, uma fantasia, a nossa
mente aparecerá com todo tipo de idéias acerca de como isso poderá ser feito, onde e quais serão os
resultados positivos.
A nossa mente também nos ajuda a racionalizar, isto é, a encontrar boas razões para justificar
qualquer coisa que façamos. Elaboramos um belo rosário de razões para justificar as nossas ações,
embora possamos estar ferindo outras pessoas, no processo. Sob a nobre bandeira de sermos sinceros
para com nós mesmos, enganamos o nosso cônjuge. A nossa mente não é um instrumento que detecta
a verdade, mas corteja o nosso "ego" e nos protege de ouvir coisas que não queremos ouvir. Não é de
se admirar que Paulo tenha falado a respeito da necessidade de uma transformação resultante de uma
"renovação da vossa mente".8
Quando uma fantasia extraconjugal é nutrida e alcançou este ponto, há vários efeitos colaterais,
que fazem o casamento desmoronar ainda mais.

O Cônjuge Torna-se Passivo


É impossível estar alimentando ativamente uma fantasia e estar edificando ativamente o
casamento em casa ao mesmo tempo. Estes esforços são automaticamente tirados do outro. As
pequenas coisas que melhorariam o casamento são reservadas para o amante. Se alguém inicia ações
positivas no lar, que ajudam o relacionamento, não tem desculpas. Se a situação piora ainda mais, isso
ratifica a sua racionalização. E é claro que não há oração séria. Ninguém está esperando a intervenção
de Deus, quando as emoções estão clamando por um corpo ardente.

Comparação Gera Desdém


A mulher em casa, com um avental, não é páreo para outra que esteja em nossa fantasia. As
comparações aumentam à medida que o "caso" se aprofunda. A esposa em casa agora não se comunica
mais, não é tão afetuosa, não satisfaz as minhas necessidades, não sai tão bem na cama, etc. Em outras
palavras, ela não se compara com esse barco de ilusões que encontrei. Agora, na cama, há três pessoas,
em vez de duas. As relações sexuais, que, por necessárias, só podem ser mecânicas, envolvem apenas
dois participantes, mas o terceiro está na imaginação e na fantasia do trapaceiro.

Engano Torna-se a Regra


O começo de um "caso", ou a sua continuação, requerem desonestidade, engano e duplicidade.
Uma pessoa que vive uma mentira não tem problema de pregar mentiras. De fato, a situação o exige.
Mentira é como batatinha frita: você não consegue parar apenas com uma. Pessoas outrora honradas
agora olham para o seu cônjuge bem nos olhos e mentem ousadamente a respeito de seus programas,
sua saúde, seu trabalho e seus gastos. Um "caso" atinge bem fundo a integridade de uma pessoa, e a
verdade se torna dispensável. Quando uma pessoa se envolve dessa maneira, você crê no que ela faz, e
não no que ela diz — nas suas ações, e não nas suas palavras.

Um Secreto Desejo de Morte


A fim de racionalizar um "caso", a mente do infiel apresenta todos os subterfúgios concebíveis.
Creio que todas as pessoas que continuaram tendo ligações extraconjugais, em algum tempo,
desejaram que o seu cônjuge morresse silenciosamente durante o sono, para que pudessem continuar
tendo tal relacionamento sem sentimento de culpa. Uma espécie de desejo benevolente de morte. Não
estou dizendo que querem que eles sejam assassinados — embora em alguns casos isso inclua
envenenamento da comida ou o empréstimo de uma arma (lembre-se de Davi e Urias). Da mesma
forma, não acho que eles lamentariam sinceramente a perda. "Mas se houvesse alguma forma de o
meu cônjuge dar o fora desta vida legítima e pacificamente, eu estaria livre e não seria desonrado nem
precisaria me esconder." O coração humano, sem a graça de Deus, fará o que for necessário para
torcer as coisas de acordo com os seus desejos depravados, conscientes ou inconscientes.

QUANDO VEM A TENTAÇÃO


Contudo, não é suficiente analisar a tentação — dissecar os seus resultados. Como você a
enfrenta? O que você faz para arrancar as suas presas, e fazer dela sua escrava?

Anule-a, Ficando de Sobreaviso


Uma grande parte do poder da tentação está em sua estratégia: agir de surpresa. Um ataque de
surpresa é uma das táticas mais eficientes do inimigo. Freqüentemente tenho ouvido isso de crentes
sinceros: "Nunca sonhei que seria tentado a ser infiel; pensei que estava a salvo, que isso não podia
acontecer comigo." Visto que a Bíblia nos diz claramente que seremos sempre tentados, por que não
esperá-lo? Muitas vezes fazemos um jogo passivo, defensivo, em vez de jogar inteligente e
agressivamente. Expressamos surpresa, ficamos chocados quando a tentação acontece da maneira
como Deus disse que aconteceria.Surpresa seria se a tentação não viesse. Por que não crer em Deus?
Um amigo querido me telefonou, e eu podia perceber, pela sua voz, que ele estava com
problemas. Não fiz grandes conjeturas, porque ele era, eu sabia, um crente muito forte, convertido de
uma vida escabrosa, e que, havia anos, era um respeitado líder em sua igreja. Chegando ao meu
escritório, ele falou de uma jovem divorciada que estava desamparada, como ele lhe levara uma cesta
de compras, mandou consertar o carro dela e procurou ajudá-la como irmão em Cristo. Parte da reação
dela foi apaixonar-se por ele e convidá-lo a ir à casa dela, para uma noite calma, íntima. "Achei difícil
dizer não", disse ele. "Fiquei surpreso por ter havido uma luta. Acho que eu pensava que não teria
essas tentações nunca mais."

Desenvolva uma Consciência Bíblica


Em uma luta contra a tentação, geralmente vivemos os nossos valores, e não o que cremos. Se a
nossa consciência foi treinada pela Bíblia e somos dedicados aos nossos princípios, enfrentamos a
tentação com confiança, e não com medo. As advertências de Deus são as palavras amorosas de um
pai, dizendo ao seu filho para não correr na rua, não pular da ponte, não brincar com fósforos. São
apenas proteções amorosas, e não proibições arbitrárias.
Aqui estão algumas advertências que propiciam percepção e força — uma âncora: A sabedoria
do Senhor pode livrar você das palavras doces e mentirosas da prostituta, da mulher que abandona
seu marido, sem se lembrar que o casamento é um compromisso feito perante Deus. Quem freqüenta
as casas dessas mulheres põe em risco a própria vida; quem anda com elas se dirige diretamente
para o reino dos mortos. Acima de tudo, meu filho, tome muito cuidado com suas emoções, porque
elas afetam toda a sua vida. Tome cuidado com a mentira e a falsidade; fuja delas, e olhe sempre
para a frente, sem olhar para os lados. Pense muito antes de dar qualquer passo, e andará sempre
pelo caminho do bem. Não se desvie nem para a direita nem para a esquerda! Não ande pelo
caminho do mal!
Saiba que as prostitutas usam palavras doces e suaves para atrair os jovens. Mas, depois de
tudo, o que sobra para você é a vergonha amarga e uma consciência pesada, que fere como uma
espada aguda e bem afiada.
Beba água do seu próprio poço, meu filho — seja fiel e leal para com sua esposa! Qual o valor
de ter filhos com mulheres sem honra, mulheres de rua? Para que ter filhos que não serão seus e
viverão com pessoas que você nem ao menos conhece? Use bem essa bênção que você recebeu, a
capacidade sexual. Aproveite o prazer que ela pode lhe dar através do amor de sua esposa. Ela deve
ser sempre para você a mulher mais bela e encantadora! Os abraços e carinhos de sua esposa devem
ser o seu prazer, a sua satisfação total! . Não dê valor à beleza dessas mulheres nem se deixe atrair
pelos seus olhares provocantes. E a mulher que trai seu marido é ainda pior que a prostituta! Esta
exige apenas um pouco de dinheiro, mas a mulher que trai o marido deseja destruir a vida do jovem.
Será possível alguém abraçar brasas acesas sem queimar o peito? £ possível alguém andar sobre
brasas acesas sem queimar os pés ? Da mesma forma, é impossível alguém roubar a mulher de outro
homem e não ser castigado pelo seu pecado!... Só mesmo um louco seria capaz de roubar a mulher de
outro homem! Só mesmo alguém que deseje destruir sua própria vida faria uma coisa dessas!
A loucura, ao contrário, parece uma prostituta, dominada pelo fogo da paixão, que nada sabe
nem deseja saber. Fica sentada à porta de casa ou anda pelas esquinas da cidade, fazendo propostas
aos homens que passam e tratam de seus negócios e dizendo aos descuidados e sem compreensão da
vida: "Venham a minha casa comigo! A bebida roubada é mais doce! O pão roubado e comido às
escondidas é muito mais gostoso!" E muitos vão atrás dela, sem saber que estão caminhando para a
morte, que muitos já seguiram a loucura e agora estão no fundo do inferno.
E porque o Senhor viu a traição que vocês cometeram, abandonando suas esposas, que foram
fiéis por tanto tempo. Aquelas companheiras a quem prometeram cuidado e sustento. Ninguém com
um pouco de juízo faria isso. "Mas, que fez um patriarca?", dirão vocês. Bem, ele procurava uma
descendência prometida por Deus, num propósito espiritual. Portanto, tenham cuidado com suas
paixões e ninguém seja infiel à sua esposa!
Eis por que eu digo: Fujam do pecado sexual. Nenhum outro pecado atinge o corpo como este.
Quando vocês cometem este pecado, é contra o seu próprio corpo. Será que vocês não aprenderam
ainda que seu corpo é a morada do Espírito Santo que Deus lhes deu, e que ele vive dentro de vocês?
Seu próprio corpo não lhes pertence. Porque Deus comprou vocês por preço elevado. Portanto, usem
todas as partes do seu corpo para render glória a Deus, porque o corpo lhe pertence.
Porque Deus deseja que vocês sejam santos e puros, e se conservem afastados de todo pecado
sexual, a fim de que cada um de vocês se case em honra e santidade. E não em paixão carnal, como
fazem os pagãos, na sua ignorância de Deus e de seus caminhos. E esta é também a vontade de Deus:
que neste assunto nenhum de vocês cometa jamais a usurpação de tomar a esposa de outro homem,
porque o Senhor lhes dará por isto uma retribuição terrível, como nós antes já os advertimos
severamente. Porque Deus não nos chamou para vivermos na impureza nem cheios de imoralidade,
mas para ser santos e puros. Se alguém se recusar a viver de acordo com estes mandamentos, não
estará desobedecendo às leis dos homens, mas de Deus, que dá o seu Santo Espírito a vocês.
Honrem o casamento e os seus respectivos votos; e sejam puros; porque Deus sem falta
castigará todos os que são imorais ou cometem adultério.9

Desarme-a, Recusando-se a Temê-la


Um medo fatalista da tentação aumenta o seu poder sobre nós. Algumas pessoas dariam tudo
para que a tentação pudesse ser eliminada e elas pudessem viver sem lutar. "A maior de todas as
tentações é a de não tê-la", diz Henry Drummond. Napoleão Bonaparte declarou: "Aquele que tem
medo de ser vencido está certo da derrota."
Cada tentação é uma oportunidade de derrotar o Diabo. Devemos dar as boas-vindas a cada uma
dessas oportunidades. A tentação é uma chance de desenvolver virtudes e autodomínio — uma pedra
para a construção do caráter cristão. O homem que tem mais tentações tem mais oportunidades de
crescer na graça. Tomateiros frágeis e sem firmeza podem ser cultivados na atmosfera controlada de
uma estufa. Mas são necessárias tempestades e ventos para fazer crescerem os carvalhos. Depende do
que você quer ser. Cada tentação nos leva para mais perto de Deus e dá a ele a oportunidade de
confirmar e demonstrar a vitória dele sobre Satanás.
Graças a Deus pela tentação e seus efeitos benéficos. O que o Diabo tencionava fosse a nossa
destruição, Deus usa para o nosso desenvolvimento. O que o Diabo planejava para nos deter, Deus usa
para o nosso aperfeiçoamento. Deus usa a luta moral para nos levar à maturidade. Ele criou o homem
para ter domínio, para estar acima das circunstâncias, problemas, tentações, e não abaixo deles. Fomos
feitos para sermos vencedores, e não covardes; filhos de Deus, e não escravos; vitoriosos, e não
desertores.

Decida com Determinação Se Você Quer Vitória


A palavra "vitória" pressupõe batalha. A tentação é o campo de batalha. Indecisão em uma batalha
significa derrota. O objetivo de toda a sua vida determinará como você enfrentará as tentações diárias.
Se você vacilar aqui, vacilará quando a pressão for forte.
E. Stanley Jones o declara intensamente: "Se você não resolver, a sua mente indecisa vai
derrotá-lo. Aqui é o lugar em que não pode haver ociosidade. Pois qualquer ociosidade será o cavalo
de Tróia, que penetrará em seu interior e abrirá as portas para o inimigo. Deus pode fazer qualquer
coisa pelo homem que se decidiu; mas ele pode fazer pouco ou nada pelo que não tem pensamentos
firmes."10 Os nossos queridos amigos, os radialistas David e Karen Mains, falam a respeito de sua
dedicação à "fidelidade mental":
Há muitas coisas a que não nos permitimos ser expostos, nesta sociedade ímpia e louca.
Algumas vezes é uma conversa com outra pessoa, em que temos que mudar de assunto. Ou um
programa de TV, uma revista ou jornal que precisa ser rejeitado. Podemos controlar estes fatores. As
pessoas que caem sexualmente não caem automaticamente. Caem porque estavam brincando com
certas coisas, em sua mente, durante determinado período de tempo. Sempre que esse tipo de
pensamento vem, nós o expulsamos de nossa mente. Há uma tremenda força no hábito, e,
habitualmente, durante muitos anos, sempre que essas tentações se apresentam, através de uma
revista, uma publicidade ou seja o que for, nós a recusamos. Esta fidelidade mental nos torna
incapazes de sermos atingidos no que concerne à nossa relação conjugal.
A vitória não acontece por acaso. Ela vem como resultado de uma dedicação completa a Deus e
uma estratégia de vida planejada. Nada de valor é ganho sem que se pague um preço. Rendição a Deus
é o preço que você paga pela liberdade. O Dr. Jones conclui: "Uma erupção de desejo passageiro o
derrotará, se você permitir que ele tome controle de sua vontade e se torne algo permanente. Uma
vontade frouxa deixará você frouxo — e vacilante. Desejos mutuamente exclusivos, competindo
dentro de você pelo domínio de sua vontade, o deixarão anulado — farão de você uma nulidade.
Decida-se, em sua mente, a pagar o preço da vitória, porque, se não o fizer, você precisará decidir-se a
ser uma casa dividida contra si mesma, que não prevalecerá." Na verdade, uma pessoa não cai na
imoralidade porque não pode impedi-lo. Pelo contrário, ela o faz porque no seu íntimo está
acariciando esse pensamento. Ela não fez um ato de consagração.

Determine Antecipadamente a Sua Reação


Você não pode esperar até estar cara a cara com a tentação, para decidir qual vai ser a sua
reação. Então será tarde demais. No banco de trás do carro, na convenção de vendas, na estrada, na
festa, juntos no escritório — esses não são os lugares certos para se meditar, analisar e decidir a
respeito de um "caso". Emoção demais encontra-se presente. A decisão deve ser tomada
antecipadamente, e só ser confirmada na ocasião da tentação.
Um representante comercial crente, meu amigo, estava assistindo a uma convenção de
vendedores em New York. Numa noite livre, ele estava esperando um carro, com outros homens, para
conhecer alguns dos lugares turísticos da cidade. Mas entrou no carro errado. Aqueles vendedores não
estavam indo ver as atrações turísticas, mas dirigiam-se para um famoso bar dançante. Antes de
entender o seu erro, o meu amigo estava a caminho com os outros, sem possibilidade de voltar. Ao
entrar no bar, a cada homem juntou-se imediatamente uma dançarina, que o tomou pelo braço e o
levou a uma mesa. A jovem que o conduziu era elegante, atrevida e se vestia sedutoramente. "A
medida que a noite continuou, a tentação tornou-se como um rolo compressor", ele me contou mais
tarde. "Aquela mulher era deliciosa. Eu fiz tudo o que pude para não agarrá-la impulsivamente e levá-
la para um dos quartos, nos fundos. Mas a coisa que me segurou e me protegeu — a única coisa — foi
que, antes de ter saído de casa, eu havia dito, à minha esposa, que era só dela, e que, não importava
que tentações houvesse, pertencíamos somente um ao outro e estaríamos orando um pelo outro." A sua
decisão antecipada o salvou.

Discipline Sua Mente com Contra-ataques


Jesus contou a história de um homem que expulsou os espíritos malignos de sua casa, mas
deixou-a limpa e vazia. Um vácuo. Por fim, os espíritos voltaram com maior força, e a situação ficou
pior que antes. Não é suficiente resistir às forças negativas: precisamos nos esmerar nas coisas
positivas. Se não abrigar o bem, nenhum homem pode conservar por muito tempo o mal do lado de
fora. Paulo diz: "...vence o mal com o bem."
Contra-ataque é a chave. "Firmem seus pensamentos naquilo que é verdadeiro, bom e direito.
Pensem em coisas que sejam puras e agradáveis e detenham-se nas coisas boas e belas que há em
outras pessoas. Pensem em todas as coisas pelas quais vocês possam louvar a Deus e alegrar-se com
elas."11 Outra tradução diz: "Fixe os seus pensamentos... pense... pense... pense." Isto não significa
desengatar a sua mente, deixá-la em ponto morto e esperar que alguns pensamentos excelentes surjam
nela inopinadamente. Coloque o seu carro em ponto morto, e ele cairá pela ribanceira, descontrolado.
Sonhar com os olhos abertos é perigoso, é um dos desastres mais dispendiosos da vida. Precisamos
nos concentrar deliberada e decididamente no que é puro, digno de louvor, positivo e honrado.
Toda a nossa sociedade desencoraja esta prática. O Dr. Lacy Hall realizou uma pesquisa séria e
descobriu que noventa por cento de tudo o que contribui para a vida de uma pessoa é negativo. Só dez
por cento dos pensamentos e conceitos na vida das pessoas são positivos. Não é de admirar que a
maioria delas siga a linha de menor resistência — a lei do mínimo esforço — e deseje desistir, parar de
lutar. A maioria dos pensamentos que penetram em nosso cérebro e em nossas almas é negativa. É por
isso que precisamos saturar a nossa mente com a Bíblia e outra literatura sadia. Cante hinos que
elevem e encorajem. Arranje um amigo crente positivo, para se sustentarem mutuamente. Agradeça
diariamente a Deus por seu cônjuge, seus filhos, seus pais e sua família.
Pedro disse: "Cingindo os lombos do vosso entendimento."12 E Isaías afirma: "Tu conservarás
em paz aquele cuja mente está firme em ti."13
Descubra o Segredo da Vitória de Cristo
Nosso Senhor foi tentado em tudo, da mesma forma que nós, e venceu. Ele enfrentou as
tentações como homem, usando os mesmos recursos que estão à nossa disposição. Se ele tivesse
recorrido ao seu poder divino, como Filho de Deus, poderia ter operado um milagre, para destruir o
seu inimigo e suprir as suas necessidades. No entanto, em vez disso, como ser humano, com todas as
emoções, pressões e fraquezas do homem, ele enfrentou o tentador em todos os pontos. Durante
quarenta dias no deserto, na companhia de animais selvagens, ele foi exposto a todo o arsenal satânico
de tentações. Ele suportou quarenta dias de provação severa e constante. Durante quarenta dias e
noites na tempestade, a sutileza e a persistência das tentações cresceram. Satanás apertou os laços,
usando todos os argumentos e seduções possíveis, e estava decidido a ter uma vitória decisiva.
As tentações atacaram o ponto mais fraco, na hora mais difícil. Quando Cristo estava faminto,
devido ao jejum, a tentação foi propiciar pão, para satisfazer a fome, a necessidade. Quando ele estava
sentindo-se abandonado, a tentação foi testar o amor de Deus e verificar se ele ainda se importava com
o Filho. Quando ele estava sendo subjugado por uma sensação de importância, a tentação foi transigir,
a fim de ganhar poder e domínio. Em todos os pontos Cristo resistiu firmemente, decisivamente.
Qual foi o segredo de sua vitória? Três princípios podem ser detectados:
Ele foi obediente ao seu Pai. Antes da tentação, ele havia se rendido a toda a vontade de Deus.
Este foi o princípio fundamental de sua vida — uma escolha tranqüila e repetida de obedecer a cada
passo.A obediência a um programa planejado por Deus nunca é fácil, mas é o preço da liberdade e
plenitude.
Ele estava cheio do Espírito. O Espírito Santo o havia controlado, de forma que tornava-se
possível a manifestação exterior de sua dedicação a Deus. O poder do Espírito Santo o capacitava para
enfrentar destemida e agressivamente a tentação, e sair-se incólume.
Ele estava saturado das Escrituras. Para contra-atacar cada tentação de Satanás, Jesus citou a
Bíblia. "Está escrito" foi a sua poderosa arma, em cada batalha. A Escritura fazia parte de sua vida—
memorizada, estudada, usada.
Cristo é o nosso padrão. Obtemos a vitória, da mesma forma como ele a obteve, através de
nossa obediência, do Espírito Santo e da Palavra de Deus. A nossa dedicação e as nossas decisões
operam em cooperação com o poder de Deus.
Duas meninas estavam atravessando um campo, a caminho da escola. Um touro bravo começou
a persegui-las. Uma delas gritou de medo: "Vamos parar aqui e orar para que Deus nos proteja." A
outra, um pouco mais sábia, disse: "Não, vamos correr e orar." Os pés dela e a força de Deus:
cooperação.
Cada tentação requer a sua responsabilidade e a capacidade de Deus. Deus não fará por você
aquilo que já equipou você para fazer por si mesmo. E, por outro lado, não importa o quanto você
tente, não conseguirá fazer o que somente ele pode fazer.

CAPÍTULO 6
Aconteceu - e Agora?
Muitos maridos e esposas pensam que é mais fácil promover a separação do que consertar o
casamento. Só quando já é tarde demais é que eles percebem que escolheram o caminho mais fácil,
mas não o mais sábio.
Um HOMEM de meia-idade e sua esposa estavam de pé na lama e água, olhando tristemente
para as ruínas e os escombros de sua casa e de tudo o que possuíam. Eram vítimas de um furacão. A
sua bela casa de praia, no Texas, outrora uma propriedade invejável, agora não passava de uma
grotesca pilha de pedras, madeira, eletrodomésticos, móveis, comida e roupa — tudo ensopado de
água salgada. As sirenes que advertiam da tempestade haviam soado, dando o seu aviso, mas eles
pensavam que estavam em segurança. Não haviam suportado outros vendavais igualmente severos? E
este não seria diferente. As ondas retumbantes, que outrora faziam parte do panorama que se via da
porta de frente, agora haviam destruído a casa.
Ao olharem, pasmos, para aqueles destroços chocantes, interrogações que nunca haviam feito
antes turbilhonavam em suas mentes: "Será que devemos chamar a Cruz Vermelha? O lixeiro? O
Exército de Salvação? Será que há algo que possa ser salvo ou compense o esforço? Devemos
construir aqui novamente? Temos condições financeiras para tanto? É seguro? Ou devemos abandonar
isto para sempre?"
Estas são perguntas muito parecidas com as que são feitas sempre que um "caso" extraconjugal
é descoberto e a realidade dele nos atinge como uma onda de maremoto. Podemos construir o nosso
casamento de novo? Será que quero isso? Há algo nele que possa ser salvo ainda? Se há, como fazê-
lo? Por onde começar? Posso confiar mais uma vez, visto que fui traído? Certa mulher expressou a sua
reação inicial de desespero, quando descobriu a infidelidade de seu marido. "Tudo chegou a um fim
abrupto. Sinto-me como se tivessem me pisoteado, e estou entorpecida de dor. É tudo tão sem
esperança! Õ Deus, ajuda-me! Ajuda-me!"
A sua reação inicial e as seguintes, diante do "caso" de seu cônjuge, determinarão, em grande
medida, quais serão os resultados finais, em termos de dor e de progresso. A infidelidade pode ser o
fato, mas o que você sente a respeito desse fato e a sua reação em relação a ele é que formam o x do
problema. Algumas reações são maduras, mas não fortes. Outras são totalmente improdutivas desde o
começo, especialmente do ponto de vista do casamento e da família. Algumas reações aumentam o
problema, já sério. Vamos discutir cinco das reações negativas mais comuns, antes de acentuar o lado
positivo. As tendências humanas naturais, numa situação de tanta tensão, são: ficar paralisado,
autojustificar-se, dar-se por vencido, lutar e forçar.

FICAR PARALISADO
Esta reação torna a pessoa imóvel por causa da recusa — a recusa de ver e admitir o que as
evidências indicam e o coração confirma. Quando alguém está se envolvendo em uma "transa", há
sempre sinais, sinais definidos que mostram que as coisas não estão como estavam antes. Não é
simplesmente a questão de encontrar um bilhetinho de amor esquecido num bolso, ou manchas de
batom no colarinho. Há mudanças sutis de personalidade, na atenção, quanto à franqueza e respeito à
linguagem corporal.
Para muitas pessoas, o próprio pensamento de o seu cônjuge estar tendo um "caso" torna-as
paralisadas, levando-as a negar o fato e a nada fazerem. As evidências podem estar por toda parte,
porém, elas não querem acreditar. Se o marido chegou em casa com manchas de batom no colarinho,
elas dirão que provavelmente ele estava andando debaixo de uma escada e pingou tinta na camisa.
Sally era assim. Ela me disse: "Eu não parava de dizer a mim mesma que eu estava imaginando tudo
aquilo. Não estava acontecendo — não acontece — não vai acontecer. Estou fazendo uma tempestade
em um copo d'água." Ela levou mais de um ano para reunir coragem para fazer ao marido uma
pergunta a esse respeito.
Nesse ínterim, o seu marido infiel estava fazendo tudo o que podia para ser descoberto, de
forma que ela pudesse saber de tudo e ajudá-lo a enfrentar o problema. Era um grito, pedindo ajuda.
Ele chegou ao ponto de dizer, à mesa do café, depois de ter estado fora a noite toda: "Caí no sono na
casa dela, e acabei passando a noite lá." Ainda assim não se fizeram perguntas, não houve
confrontação. Sally estava enterrando a cabeça em um travesseiro de fantasia, achando, de alguma
forma, que pensar no problema poderia acentuá-lo — que a coisa que ela temia pudesse lhe sobrevir.
Certa amante questionou em voz alta, duvidando que esse tipo de esposa fosse a parte inocente:
"Perguntei ao meu amante se a esposa dele está sabendo de nosso relacionamento, indagando: 'Ela
sabe?'
'"Ela não quer saber'" — respondeu ele. '"Ela nunca o pergunta. Se perguntasse, eu lho diria.'"
A mulher continuou: "Em casos como este, não há partes inocentes. Somente seres humanos,
que não fazem perguntas porque não querem saber as respostas."
Linda Wolfe, que escreveu muito a respeito de infidelidade conjugal, o diz claramente: "Essa
recusa em reconhecer o problema é um artifício psicológico que permite que uma mulher finja para si
mesma que o marido dela é perfeitamente fiel, mesmo quando ele se esforça para apresentar-lhe
evidências de sua infidelidade. Em um caso típico, a mulher que se recusa a reconhecer esse problema
tenta apegar-se ao seu casamento, mesmo quando ele não é mais nada além de uma farsa."1
A recusa em reconhecer o problema é um mecanismo de escape baseado em medo, falsa
esperança e falta de confiança em Deus. Há um medo de incapacidade para enfrentar a crise, um
complexo de não se ter recursos para enfrentá-la, de não se saber para onde se voltar, nessa confusão.
É assim que sentimentos de desamparo, solidão e desespero o inundam, e você não consegue enfrentar
as exigências da situação difícil. "Não me posso permitir crer nisso, pois não saberia o que fazer, se
fosse verdade." Pensamentos de suicídio são comuns nessas circunstâncias. Sally, que mencionei
acima, disse-me como, durante o período em que ela estava recusando-se a reconhecer o problema,
esforçou-se ao máximo, ficando exasperada dia e noite — tendo algumas noites somente três horas de
sono — procurando tirar esse pensamento da cabeça. No limiar de um esgotamento nervoso, ela
começou a tomar doses exageradas de comprimidos para dormir, para não ser obrigada a enfrentar o
problema, pensando: "A única solução é não sentir nada."
O caso de Sally pode parecer extremo, mas qualquer espécie de recusa em reconhecer o
problema só o estimula e agrava. Essa recusa produz várias coisas desastrosas:
Você começa inconscientemente a encobrir as faltas de seu cônjuge, dar desculpas para os seus
atos, culpar-se pelo procedimento dele. Você torna-se parte do problema, e não da solução. Quando os
seus filhos ou seus pais comentam ou perguntam algo, você se apressa a fingir, apresentar um álibi,
tirar as desconfianças da cabeça deles. "Ele tem trabalhado muito... ultimamente não tem dormido
bem... etc, etc."
Sem querer, você estimula a infidelidade. Nesse caso, o tempo não cura, só proporciona, ao
infrator, maior oportunidade. A recusa em reconhecer o problema, exercida passivamente, dá ao
"caso" a oportunidade de se aprofundar, até o ponto em que seja impossível a recuperação, e o
casamento esteja condenado.
Você prolonga o castigo e impede Deus de dar soluções de maneira ativa. Até o próprio Deus
fica limitado, se ninguém admite a verdade. Deus não opera de maneira estranha, etérea, na atmosfera
que cerca o problema. Ele opera nas pessoas e através delas — através de alguém que toma a
iniciativa, confronta, perdoa, sana.
Parece ao seu cônjuge que você não o ama. Ficar paralisado em uma posição de inatividade
também dá a entender ao cônjuge que está se desencaminhando que você não se importa com ele, que
o seu amor é fraco, está baseado nas conveniências. O amor forte diz: "Não quero que você continue a
ferir-se e ferindo os outros, perdendo de vista o que Deus espera de você."
Em uma história verdadeira, a respeito de um casal anônimo, Ellen Williams descreve
vivamente a luta de uma mulher com o seu marido pastor. "Duas vezes, nos meses que se seguiram, eu
lhe perguntei, deitada ao lado dele, em nossa cama, tensa e tremendo, reunindo toda a minha coragem:
'Há outra mulher?'
"'Não!' disse ele com raiva na voz, dando-me a única resposta que eu desejava ouvir. Eu me
enrolei agarrada às costas dele, desse homem que eu conhecia tão bem, esse homem com quem me
casara vinte e sete anos antes, e dormimos ambos, sabendo que ele me havia mentido. Eu o percebera
em sua voz, o sentira em seu corpo. Fiz a única coisa que sabia fazer, quando uma coisa é terrível
demais para se enfrentar. Voltei as costas ao problema. Se eu o encarasse, quem sabe, ele se
desvaneceria."2

AUTOJUSTIFICAR-SE
Muitos cônjuges traídos sentem fogo por dentro; eles ardem de autocompaixão e justiça própria.
Há também hostilidade e humilhação, mas isso se expressa em um "Veja o que ele me fez!" Ao
descobrir o "caso" de seu marido, Lorna explicou, numa atitude de choque e descrença: "Depois de
tudo o que fiz por ele, este é o agradecimento que recebo! Dei-lhe os melhores anos de minha vida.
Fui a mãe dos filhos dele. Mantive a casa limpa para ele. Fiz a comida dele. Tinha uma camisa limpa
para ele todas as manhãs. Fiquei ao lado dele nas horas difíceis, e agora não sou suficientemente boa
para ele. Essa é a gratidão que recebo." E ela poderia, provavelmente, ter desfiado um rosário de
dezenas de outras coisas boas que havia feito por ele. Ela possuía uma personalidade muito ordenada e
tinha a tendência de tomar as rédeas e dirigir as atividades da família e as tarefas diárias com um rigor
de sargento. Ela freqüentemente dava ordens em voz estridente, em vez de pedir ajuda. A idéia que
tinha de um tempo divertido era quando se "fazia algo construtivo", como reformar completamente o
jardim ou fazer seis pares de cortinas em uma noite.
Lorna era uma boa mulher, mas o seu senso de valores estava inteiramente envolvido com o que
ela conseguia realizar. Presumia que essas realizações também edificariam o seu relacionamento
conjugal, e, quando não o fizeram, ela sentiu-se ofendida e deprimida, e censurou severamente o seu
esposo, que não dava valor àquelas coisas.
O meu amigo Bob estava não apenas saindo-se muito bem em seu negócio de vendas de
automóveis, mas tinha também a imagem que o ajudava naquilo. Ele gostava de roupas finas, bons
carros, uma piscina e tudo o mais. O interior de sua casa era imaculado, de fino acabamento, e sempre
parecia como se jamais alguém tivesse morado ali. Eu o visitei muitas vezes. Quando ele descobriu o
"caso" da esposa, ficou perplexo. E exclamou, incrédulo: "Dei a ela tudo o que queria: roupas, carro,
dinheiro — redecorei a casa, comprei móveis novos. Agora ela arruinou a minha reputação,
aproveitando-se de mim. Acho que é verdade que é impossível entender ou agradar uma mulher."

Amor-próprio
O orgulho ferido está intimamente relacionado com o amor-próprio de uma pessoa e a imagem
que ela faz de si própria. O fato de que o seu cônjuge encontrou alguém mais atraente abala esse amor-
próprio. Sobrevém um sentimento de incapacidade, e até de desamor a si mesmo. Uma esposa
exclamou: "Comecei a sentir-me feia, horrível, e ficava diante do espelho, examinando-me, para ver o
que havia de errado que me fazia tão indesejável." Evelyn Miller Berger fala de outra esposa, que
ficou sabendo que a sua negligência, permitindo-se engordar além da conta, encorajara o marido a
iniciar um relacionamento extraconjugal, e que a auto-aversão que se seguiu quase a destruiu. "Meu
marido se queixava de eu ser gorda. Ele perguntava-me como eu podia esperar que ele se sentisse
sexualmente excitado quando o meu corpo parecia um colchão volumoso. Tentei reduzir o peso, mas
as suas críticas me levaram a desejar comer mais — uma espécie de consolo. Mas acho que a essa
altura já estava zangada por ele me culpar, e pensava: 'Bem, se você não gosta disso, eu vou mostrar-
lhe que posso comer até ficar tão gorda quanto quiser!' Depois percebi que estava inequivocamente
feia — gorda — e me odiei por isso."3
Uma esposa traída sentiu que a sua reputação estava destruída: "Senti que não tinha mais
coragem de sair de casa. O que pensariam agora os meus vizinhos, os meus amigos, o povo da igreja?
Todos vão chegar à conclusão de que não consegui prender meu marido. Não é justo", queixou-se ela.
"Como ele espera que eu pareça fascinante, quando tenho filhos e casa para cuidar?"

Perfeccionismo
A reação de um mártir do orgulho é geralmente a reação predominante de um perfeccionista,
quando o cônjuge é infiel. O perfeccionista é um indivíduo amedrontado, competitivo, que sempre
deseja vencer, dominar e controlar as pessoas que o rodeiam. Muitas vezes ele é um detectador de
falhas crônico, e nada é suficientemente bom para ele. Como crente, ele é legalista. Gosta de regras,
rituais e padrões, e não consegue viver espontaneamente. Tendo medo de intimidade, ele faz de seu
casamento mais um contrato comerciai do que um caso de amor sem peias. O sexo torna-se uma
obrigação superficial. Há pouco divertimento, pouco riso.
Tendo um marido brincalhão e galanteador, uma esposa costumava dizer: "George, para com
isso. Não somos mais crianças." Por fim, ele encontrou uma pessoa que gostava de suas piscadelas e
carícias. E a esposa ficou horrorizada. Ao aconselhá-la, minha esposa perguntou-lhe: "Com que
freqüência você tinha sexo com seu marido?"
Ela ficou um pouco embaraçada, e respondeu pensativamente: "Acho que a última vez foi por
ocasião do aniversário dele... sim... eu lhe dei sexo no seu aniversário."
Um presente anual. Quando minha esposa me contou isso, eu disse: Ainda bem que ele não
nasceu no dia 29 de fevereiro, em um ano bissexto.
Ela desempenhou bem o seu papel de mártir e gostou dele. Além disso, pensava que era uma
crente bem doutrinada, avançada, e tinha sérias dúvidas de que o marido fosse crente. Desta forma, no
conceito dela, o "caso" dele e o divórcio subseqüente faziam parte do fato de ela ser "perseguida por
causa da justiça". Claro que essas coisas não tinham nada a ver com isso, mas para suscitar simpatia,
foi isso o que ela anunciou a todos. Ela ainda acha que a solidão que sofre é o preço que está pagando
por ser correta, e isto só aumenta o isolamento em que ela vive.

DAR-SE POR VENCIDO


O cônjuge que se dá por vencido cai em confusão, e assume toda a culpa, esperando pelo
inevitável. Dar-se por vencido significa declarar falência, admitir que os seus recursos estão
totalmente esgotados, abandonar a luta, desistir de assumir controle, tornar-se vítima. Como estas
frases descrevem bem as reações manifestadas diante da descoberta do adultério do cônjuge!
Os Dependentes
Algumas pessoas, especialmente mulheres, caem em confusão por serem dependentes. A escora
da esposa é tirada, e ela cai. A única pessoa de quem ela dependia, a sua muleta, foi removida, e ela
não consegue ficar de pé sozinha. De repente ela percebe que sente-se deserdada, fraca, indefesa,
inadequada e amedrontada, como se de súbito tivesse perdido a capacidade de enfrentar a vida. O
futuro lhe parece perigoso, agourento. O hábito sem solução de apoiar-se em outrem a deixou incapaz
de sustentar-se física e emocionalmente.
Mary, o tipo de beata religiosa, veio a mim, pedindo aconselhamento. Ela era uma pequena
menina amedrontada, embora já estivesse casada havia dezesseis anos. O seu marido, Bill, havia
pedido divórcio, para poder continuar o seu "caso" com Dottie. Mary estava visivelmente abalada —
devastada. Dottie era uma jovem coquete do escritório dele, cheia de problemas com o marido dela, e
Bill havia se tornado o seu "consolador". A coisa toda aconteceu como uma bomba, embora Mary me
tivesse contado que havia tempos estava ouvindo, todos os dias, falar de Dottie e seus problemas com
aquele "cachorro" do marido dela. "Era Dottie no café da manhã, no almoço e no jantar, e embora
estivesse cansada de ouvir falar nela, não esperava nenhuma infidelidade."
Quando Bill requereu o divórcio, tudo o que a sustentava foi retirado, e ela desmoronou. Claro
que ele a manejava como a um boneco. Ameaçou ir embora — chegou a colocar as roupas na mala —
e ela implorou que ele ficasse. Ele ameaçou vender a casa com ela dentro, e, como ele esperava, ela
deu-se por vencida, pedindo misericórdia entre lágrimas. Exatamente como uma escrava. A sua
dependência a degradava, e, na verdade, ela se odiava por isso. "Eu me odeio", disse ela, "por ser tão
imatura a ponto de me apoiar em todo mundo tão fortemente que fico completamente perdida quando
sou deixada por minha conta." A situação mudou tremendamente quando ela experimentou uma
conversão a Cristo e, através de seu poder, que lhe infundiu nova vida, começou a exercer ações
positivas.

Os Maltratados
Algumas mulheres dão-se por vencidas por causa de violência e maus-tratos. Uma amiga
graciosa, bem-educada e talentosa que encontrei na igreja, Noemi, ficava paralisada por medo de
violência corporal. "Se eu enfrentasse o meu marido com o seu engano e infidelidade", disse-me ela,
"estou certa de que nada o impediria de fazer com que eu e as crianças pagassem caro." Eu o vi. Ele
era um homem grande e de mau gênio — um touro. A despeito de todas as minhas recomendações
para ajudá-la a desenvolver uma estratégia de ação, Noemi não o conseguiu. Ele a havia petrificado.

Os Culpados
A culpa também paralisa, provavelmente mais do que qualquer outra reação. Muitas vezes o
cônjuge rejeitado olha para dentro de si mesmo e aceita toda a culpa pela confusão sórdida em que o
seu lar entrou. Esta introspecção não é o questionamento sadio que pergunta se a pessoa contribuiu de
qualquer forma para a situação, e reconhece, e aprende de qualquer falha. Pelo contrário, é a procura
de um bode expiatório, alguém em quem colocar toda a culpa. E, por causa de suas próprias
inseguranças, esse cônjuge assume toda a responsabilidade. Como costumava dizer o comercial da
televisão: "Comi tudo." Isto não é nem verdadeiro nem útil.
A esposa rejeitada muitas vezes recapitula todas as coisas que ela poderia ter feito de maneira
diferente, e se detém nos seus erros passados — alguns reais e outros imaginários. Quanto mais analisa
o seu passado, mais razões encontra para a sua situação. O seu senso de valor próprio vai a zero; o seu
sentimento de culpa se multiplica — falsa culpa, em grande parte. O Diabo impedirá certas pessoas de
até fazerem um inventário honesto da situação; outras, ele lança por sobre a amurada e as afoga em
autocondenação falsa misericórdia entre lágrimas. Exatamente como uma escrava. A sua dependência
a degradava, e, na verdade, ela se odiava por isso. "Eu me odeio", disse ela, "por ser tão imatura a
ponto de me apoiar em todo mundo tão fortemente que fico completamente perdida quando sou
deixada por minha conta." A situação mudou tremendamente quando ela experimentou uma conversão
a Cristo e, através de seu poder, que lhe infundiu nova vida, começou a exercer ações positivas.

Os Maltratados
Algumas mulheres dão-se por vencidas por causa de violência e maus-tratos. Uma amiga
graciosa, bem-educada e talentosa que encontrei na igreja, Noemi, ficava paralisada por medo de
violência corporal. "Se eu enfrentasse o meu marido com o seu engano e infidelidade", disse-me ela,
"estou certa de que nada o impediria de fazer com que eu e as crianças pagassem caro." Eu o vi. Ele
era um homem grande e de mau gênio — um touro. A despeito de todas as minhas recomendações
para ajudá-la a desenvolver uma estratégia de ação, Noemi não o conseguiu. Ele a havia petrificado.

Os Culpados
A culpa também paralisa, provavelmente mais do que qualquer outra reação. Muitas vezes o
cônjuge rejeitado olha para dentro de si mesmo e aceita toda a culpa pela confusão sórdida em que o
seu lar entrou. Esta introspecção não é o questionamento sadio que pergunta se a pessoa contribuiu de
qualquer forma para a situação, e reconhece, e aprende de qualquer falha. Pelo contrário, é a procura
de um bode expiatório, alguém em quem colocar toda a culpa. E, por causa de suas próprias
inseguranças, esse cônjuge assume toda a responsabilidade. Como costumava dizer o comercial da
televisão: "Comi tudo." Isto não é nem verdadeiro nem útil.
A esposa rejeitada muitas vezes recapitula todas as coisas que ela poderia ter feito de maneira
diferente, e se detém nos seus erros passados — alguns reais e outros imaginários. Quanto mais analisa
o seu passado, mais razões encontra para a sua situação. O seu senso de valor próprio vai a zero; o seu
sentimento de culpa se multiplica — falsa culpa, em grande parte. O Diabo impedirá certas pessoas de
até fazerem um inventário honesto da situação; outras, ele lança por sobre a amurada e as afoga em
autocondenação falsa.
Certa esposa escreveu para um conselheiro de uma revista evangélica: "Meu marido disse-me
que ama outra mulher. A princípio fiquei zangada, mas agora acho que tudo foi por minha culpa. Acho
que, como crente, eu devia ter feito mais para salvar o meu casamento. Não contribuí com o suficiente.
Não amei o suficiente. Sinto-me um fracasso, tanto como mulher quanto como esposa. Algumas
manhãs, mal consigo me arrastar para fora da cama. Preferiria dormir e esquecer. Ainda há
esperança?"
Outra disse: "Não posso parar de me focalizar em meus erros. Sinto-me como a ovelha negra,
pois em nossa família nunca houve 'casos' antes."
Como se todos os aspectos do casamento dependessem dela, outra esposa arrasada confessou:
"Fracassei como mãe tanto quanto como esposa, porque não ensinei os nossos filhos de forma que o
meu esposo desejasse passar o seu tempo como eles em casa." Visto que esta mulher evidentemente
cria que o seu marido não tinha nenhuma responsabilidade pela criação dos filhos ou pela atmosfera
do lar, certamente ela não seria capaz de permitir que ele assumisse qualquer responsabilidade por
suas escapadas adúlteras. Dessa maneira, ela as encorajava.

Os Escapistas
Outra palavra que seria sinônima de "dar-se por vencido", neste contexto, seria "fugir". A
tendência natural é correr quando você tem medo, e não tem certeza de onde está o que fazer. Nesse
caso, a desistência é uma forma de fuga, de admissão de fraqueza. O escapismo pode desencadear uma
recusa para considerar o perdão, uma vingança explosiva ou um divórcio rápido. Porém, seja o que for
que torne a pessoa imóvel ou incapaz de agir, é doentio e improdutivo.
Alguns crentes dão-se por vencidos em face de um "caso" por causa de sua própria fé distorcida
e anêmica. A sua marca de cristianismo faz deles capachos para serem pisados e esmagados. Eles
acham que não têm o direito de fazer perguntas a respeito do mal, e assim precisam suportá-lo
passivamente, e sofrer em silêncio. Eles não se permitem lidar com a infidelidade, mas continuam
convivendo com ela e, se necessário, aceitam uma vida de extrema humilhação.
O problema de toda essa inatividade é que ela recompensa o infiel e prolonga a solução do caso.
A infidelidade conjugal é resolvida com uma espécie de ação estratégica, e você não pode iniciar ação
estando a toda hora procurando escapar do problema.

LUTAR
Estou certo de que nunca houve um caso de infidelidade conjugal em que não estivesse evidente
a ira — ira da parte daquele que é infiel, devido à negligência real ou suposta que motivou a sua
infidelidade, e ira, certamente, da parte daquele que se sente traído. Não importa como a pessoa
pareça, calma ou compreensiva, na superfície, o ultraje sofrido está queimando por dentro ou se
preparando para explodir tudo violentamente. Há ira por causa da vergonha, da humilhação, da
desilusão, do engano.
Certa mulher, acerca de quem li, explodiu quando descobriu a infidelidade de seu marido.
"Joguei um prato nele. Disse-lhe que ele podia ir embora, que eu não queria um homem que não me
amava. 'Eu não quero ir embora', disse ele. 'Amo você e amo as crianças.' Aquilo me deixou ainda
mais furiosa; e joguei um copo nele." Isso deu a ela um pouco de alívio, mas certamente não resolveu
nada. E os pratos são caros.
Seria mórbido se não houvesse ira contra "a terrível violência psicológica do adultério". Linda
Wolfe diz: "Os psicanalistas chamam o adultério de 'ferimento psíquico' e de fato parece haver algo
quase visceralmente pungente nesse sentido. Não é apenas uma ferida profunda no ego, mas também
na confiança entre os cônjuges — uma ferida que pode e, de fato, muitas vezes termina fazendo um
casamento sangrar até a morte."4
Todavia, por que esta ira é expressa e em que forma determina se ela é ou não destrutiva?
Estamos lutando pelo casamento, contra o mal, contra o cônjuge ou pelas razões puramente egoístas
de terem sido feridos os nossos sentimentos? A luta pode assumir várias formas, a saber:
Vingança, que é tão comum quanto inútil e autodestruidora. Embora os escritores do Novo
Testamento mencionem várias vezes: "A ninguém torneis mal por mal", esta é uma tendência muito
humana. "Se ele pode fazê-lo, eu também posso." Muitas esposas cedem ao desejo de revidar, de dar a
ele uma prova de seu próprio remédio, de provar que ainda são desejáveis, que ainda podem arrumar
um homem — por malvadez.
Evelyn Miller Berger fala de uma mulher a quem aconselhou. "Eu senti-me justificada em
também ter uma aventura", disse a cliente, com hostilidade franca. "Eu também queria alguma
atenção. Mas quando o 'caso' acabou, de repente acordei para o fato de que eu era aquele caráter
desprezível, 'a outra', eu! Imagine só! Boa, firme, a filha mais velha de um catedrático, sempre uma
garota direita, no caminho reto e estreito da virtude!"5 Embora exista um inegável prazer egoístico em
vingar-se, não obstante, isso só complica o problema — o duplica. Agora são dois que saíram da linha
e precisam de perdão.
A coisa mais importante é: Quem está no controle? Se você paga mal por mal — a sua reação é
determinada pela ação de seu cônjuge — o seu cônjuge controla você. Reagir, pagando com a mesma
moeda, é ser controlado pela pessoa que iniciou a ação. Você é controlado pela pessoa cujas ações
você imita. Você cessa de ser o iniciador, e torna-se apenas um reator, e o tiro sai pela culatra. Você
não é mais inocente em toda a situação do que o seu marido ou a outra.
Vingança é mais do que retaliação. É a busca de uma forma para castigar, como pagamento pela
injúria infligida. Um marido que prevaricou pode não ficar absolutamente ferido quando a esposa se
envolve em uma aventura, como retaliação contra a dele. Ele pode alegrar-se com isso. Agora ele tem
uma boa razão para adulterar, e mesmo para desmanchar o casamento. Mas, se ela deseja vingar-se por
causa do que está sofrendo, vai tomar providências para que ele também sofra.
Uma divorciada escreveu para a "Dear Abby" depois do "caso" de seu marido: "Eu me portei
como maníaca. Gritei e impliquei com ele. Empacotei as roupas dele, e mandei que saísse de casa.
Depois cometi um erro fatal. Contei tudo aos nossos parentes e amigos, e me dirigi imediatamente a
um advogado e pedi o divórcio. Criei um escândalo tão notório que meu marido não pôde mais ficar
na cidade." Ela empatou o placar, e conseguiu vingança. Mas funcionou? "Agora percebo que só
estava pensando em mim. Os meus filhos pagaram o preço do meu orgulho. Eram três meninos com
menos de dez anos de idade." E ela continua: "Os anos se passaram. Os meus filhos agora estão
casados, em seus próprios lares, mas eu estou sozinha. Sinto-me arrasada e a minha amargura se
manifesta claramente."6
Culpar. A ira toma outra forma: de culpar. O oposto da pessoa que aceita toda a culpa, que
mencionei acima, é a que culpa o cônjuge por tudo. Ela explode em justiça própria, com ira, e espera a
confissão e a volta de seu marido. Uma mulher disse-me, espumando de raiva: "O problema é dele;
não meu. Fiquei cansada destas perguntas: 'Onde foi que eu errei? Em que eu fracassei? Como foi que
eu o negligenciei?, etc, etc Foi ele quem adulterou; não eu. E, por falar nisso, é bom que eu diga que
não o empurrei para a cama da outra; ele subiu nela por iniciativa própria."
Há também o desejo de lutar contra "a terceira parte". "Aquela mulher vil roubou o meu marido,
e vai pagar por isso." Se a outra mulher é uma estranha, você pode ter o desejo incontrolável de se
defrontar com ela e fulminá-la com as suas palavras. Doris era uma mulher assim. Ela exigiu que o
marido revelasse quem era aquele "verme". Quando ele se recusou a fazê-lo, ela fez com que alguém o
>seguisse. Mais tarde, quando ela foi até aquela casa, "para ver quem era a sua competidora", não
conseguiu crer no que viu. A casa era simples, pequena, em um bairro de segunda classe — em agudo
contraste com a casa grande e o bairro bonito, cheio de árvores, para onde o seu sucesso os havia
levado. Ela tocou a campainha e esperou nervosamente. Quando a porta se abriu, não apareceu
nenhuma beleza voluptuosa e alucinante enquadrada nos batentes. Só uma dona-de-casa jovem,
despenteada, desmazelada!
Depois de ter injuriado verbalmente aquela mulher e a ter condenado à perdição, Doris exigiu
que ela não permitisse que o seu marido a visitasse outra vez. A resposta que recebeu deu-lhe pouco
alívio. "Se o seu marido volta ou não vem mais, isso é decisão dele. Eu não posso controlar isso.
Talvez ele esteja encontrando aqui algo que não encontra em casa."
Se a "outra" é uma vizinha, amiga ou conhecida, você tenta lutar de outra forma: com difamação
— no cabeleireiro, no clube, na igreja, nas reuniões. Ela é metodicamente destruída por aquele
"pequeno membro", a língua não domada, que Tiago diz que está cheia de peçonha.

FORÇAR
Forçar significa atacar, empurrar impetuosamente exigindo uma solução, manipular as pessoas
envolvidas e a situação, para encontrar um conserto rápido. É natural que desejemos nos ver livres de
um problema horrível como o que estamos considerando o mais depressa possível. Nenhuma pessoa
emocionalmente sadia quer prolongar a dor um minuto mais do que o necessário. Se você tem a
tendência de ser uma pessoa que toma a iniciativa, é quase impossível ficar sentada e esperar que as
soluções apareçam e amadureçam. É quase como se você achasse que qualquer ação é melhor do que
nenhuma.
A descoberta de um caso extraconjugal desencadeia tantas emoções conflitantes — a surpresa
do fato, o engano, o desencanto, a traição. Algo precisa ser feito. Como alguém que está se afogando,
você se debate na água selvagemente, esperando agarrar-se a algo que seja a sua salvação: o milagre.
Essas ações desesperadas podem não estar relacionadas umas com as outras e serem até
antagônicas. Ou podem ir desde fingir ignorância, manipular circunstâncias, até a citação da Bíblia.
Judy, uma nossa distinta amiga crente, ficou arrasada devido às infidelidades crônicas de seu
marido e o subseqüente divórcio. Eu lhe perguntei que reação ela tivera, que se demonstrara negativa,
improdutiva. "Eu fiz tudo de espiritual que pude pensar, para tentar resolver a situação. Eu disse a meu
marido: 'Vamos orar a este respeito', e esperei um milagre. Citei versículos da Bíblia para ele —
versículos que ele conhecia tão bem quanto eu, pois ambos havíamos nascido em lares cristãos. Repeti
todos os fatos e fórmulas cristãos apropriados. Então, depois que toda a minha pregação não
funcionou, mandei um oficial da igreja falar com ele, usar a sua 'mágica' espiritual para com ele.
Quando todas essas fórmulas espirituais só complicaram o problema, você começa secretamente a
perder a sua fé em Deus também."
"Que outras coisas de natureza não espiritual você foi tentada a fazer?" — perguntei.
"Bem, há a tendência de fazer com que o seu cônjuge fique sabendo que você ficaria destruída
sem ele, para que cresça o sentimento de culpa dele. E também você tem vontade de espioná-lo, de
manipulá-lo, em uma tentativa de separá-lo da 'outra' ou de intervir em um salvamento dramático."
"Aprendi, o que foi duro" — declarou Judy, com grande convicção — "que essa espécie de esforços
não apenas falharam, mas também pioraram a situação."
Estas cinco reações — ficar paralisado, autojustificar-se, dar-se por vencido, lutar e forçar —
levam a um beco sem saída. As reações negativas sempre fazem isso. Elas têm uma coisa em comum:
propiciam ao cônjuge um pouquinho de satisfação própria transitória, mas não contribuem para a
solução do dilema. Apenas agravam um assunto já por si delicado e inseguro.
Um pai pediu ao seu filho pequeno que desse graças à mesa.
Enquanto o restante da família observava, o garotinho fitou cada prato de comida que a mãe
havia preparado. Depois do exame, ele baixou a cabeça e orou sinceramente: "Senhor, não estou
gostando do aspecto da comida, mas te agradeço por ela, e vou comê-la assim mesmo. Amém." A
reação certa em uma situação difícil. De semelhantes circunstâncias tratará o capítulo seguinte.
CAPITULO 7
Desfazendo o Triângulo
Ainda estou para ver um casamento ameaçado pela intrusão de uma terceira pessoa em que
cada um dos parceiros não contribuiu para o triângulo.
Dra. Evelyn Miller Berger
SUSPEITA e a descoberta de um "caso" extraconjugal pode ser uma experiência emocional
dolorosa. Emoções de surpresa, choque, ira, medo, ódio e culpa vêm cascateando sobre você como as
cataratas do Niágara. Você fica confuso, e, em vez de as suas reações serem planejadas e positivas, são
imprevisíveis e explosivas. O sociólogo Lewis Yablonsky nota que, quando um "caso" é descoberto,
os homens, provavelmente, manifestarão justiça própria e ira, sendo menos provável que considerem o
"caso" como ato contra eles, e tendem a agir. As mulheres, provavelmente, se sentirão feridas; elas
absorvem as notícias e ficam imaginando o que há de errado com elas, reexaminam o relacionamento,
e tendem, finalmente, a deixar a infidelidade passar.
Certamente é difícil pensar de maneira lógica e sensata quando o seu casamento, como o
Titanic, chocou-se com um "iceberg" e você sente que tudo aquilo pelo que viveu está soçobrando.
Não é de admirar que as nossas reações sejam, muitas vezes, frenéticas e impulsivas. É impossível
sentar-se calmamente na cobertura do navio que já começa a afundar, e elaborar uma estratégia para
salvá-lo.
Todavia, há diferença entre o Titanic que está sendo levado rapidamente para o fundo do oceano
e um casamento profundamente atingido pelo adultério. O casamento é um relacionamento, e não um
objeto. Os relacionamentos não são desenvolvidos nem destruídos em um momento, como resultado
de uma só experiência, boa ou má. O crescimento, ou deterioração, é determinado por muitas
experiências e por nossa reação a essas experiências. Portanto, um esforço feito em momento de
pânico não tem valor e é improdutivo. "Então, o seu cônjuge prevaricou?", pergunta a conselheira
Evelyn Miller Berger. "Isso não significa que a sua vida está arruinada, que o objetivo de sua vida
acabou; há algo que você pode fazer a respeito. Esse acontecimento pode suscitar em você os seus
recursos mais insuspeitos, mas, mesmo que você não consiga salvar o seu casamento, pode haver para
a sua vida um significado profundo, e, com sabedoria e paciência, quem sabe, você pode até salvar o
seu casamento."1 Um "caso" é realmente uma coisa muito complexa, e não cede por meio de soluções
simples, imediatas. Ele não começou da noite para o dia, e não será resolvido do dia para a noite.
Podemos e devemos desenvolver uma estratégia eficiente para nos havermos com esse problema,
porque tanto a parte enganada quanto a parte culpada estão mergulhadas em incertezas a respeito de
como agir.
Eu isolei dez princípios práticos, que nos propiciarão uma compreensão melhor acerca de nós
mesmos, do problema e de suas soluções. Estes princípios ajudarão, quer o "caso" tenha sido apenas
descoberto, quer já tenha continuado por muito tempo. Mesmo para as pessoas que não estão sendo
afetadas pessoalmente, de forma alguma, por um "caso" extraconjugal no momento presente, estes
princípios podem fazer parte de uma estratégia para impedir a infidelidade. Eles não estão
relacionados em qualquer ordem de importância ou seqüência, mas os primeiros quatro, acredito, vêm
antes dos últimos seis.

NÃO SE APRESSE A AGIR


Esta pode ser a coisa mais difícil de se fazer, mas certamente será a mais sábia. Para proteger-se
de julgamentos apressados e emoções súbitas, você precisa afastar-se da situação, em vez de atirar-se
nela, correndo. "A coisa mais importante para se fazer imediatamente é não fazer nada", diz a Dra.
Rita R. Rogers, catedrática de psiquiatria na UCLA (Universidade da Califórnia — Los Angeles).
"Não se apresse a agir, mas, pelo contrário, retire-se, para refletir. Pese o que tudo realmente significa
para o seu cônjuge, bem como para você."2 A tendência, ao se descobrir a infidelidade, é culpar,
acusar, ameaçar, entrar em pânico. Não há como esta maneira de abordar o problema possa ser
construtiva, porque você está agindo baseado em suas emoções, e elas podem fluir desenfreadamente
quando você está sofrendo a dor insuportável de um coração partido. O orgulho ferido, o ciúme e a ira
justa o impulsionarão a alguma ação explosiva. Resista a isso. Não saia imediatamente, para fazer
alguma coisa drástica, como correr ao advogado, pedir o divórcio, ameaçar separação ou fazer algum
ultimato irrevogável, que force o seu cônjuge a agir de forma também apressada, que torne impossível
a restauração de seu casamento.
Se você agir de maneira impulsiva e imediata, nunca será capaz de entender realmente o que
aconteceu e por quê. Espere até saber o que está acontecendo com o seu cônjuge, antes de tomar
medidas apressadas ou mal concebidas. Pelo contrário, você precisa dar-se tempo para permitir que as
suas emoções se acalmem. Isso pode levar dias; assim sendo, espere. Resista a todas as tentações de
fazer algo apressadamente ou de pôr as cartas na mesa. Não fale por enquanto com ninguém, pedindo
conselho ou simpatia. Um dia as lágrimas escaldam a sua face, e você acha que poderia chorar a vida
toda, mas no dia seguinte você se sentirá totalmente destruído, ou destruída, com dores em todo o
corpo ou amortecido de dor.
Outra sugestão: Não se apresse a tirar férias sozinha ou coisa parecida, porque você "precisa de
tempo para pensar nisso". Isto só levará a mais envolvimento com "a outra". Mantenha a sua rotina
costumeira; conserve-se ativa fisicamente, mantenha a casa limpa, cuide dos filhos. Não abandone as
suas responsabilidades em casa, na igreja ou na comunidade, exceto, talvez, por um breve período de
descanso e meditação. Se você trabalha fora de casa, permaneça no seu trabalho. Isso é importante
para a sua cura e seu amor-próprio.
Esta é a hora de conversar com Deus. Derrame diante dele o seu coração, e diga-lhe exatamente
como você se sente. Ele sabe que você é humana. Não procure medir as suas palavras para encaixar-se
na noção que você tem dele. Ele não ficará chocado ou perturbado. Exponha a coisa toda diante de
Deus, e peça a sabedoria dele. Ele é um socorro bem presente na angústia. Uma mulher rejeitada
escreveu a um conselheiro: "Eu orei, pedindo paciência para não perder a calma nem chorar ou
criticar, da forma como sentia vontade de fazer. Orei, pedindo ajuda para continuar a amar, em vez de
odiar o meu marido, como já estava começando a fazer. Tive muita dificuldade em perdoá-lo pelo que
ele havia feito, e por isso orei a esse respeito também."
Outra mulher anônima falou da importante compreensão que recebeu ao orar: "A primeira ajuda
que recebi naquele dia terrível foi a oração. Só o fato de me comunicar com Deus aliviou parte de
minha ansiedade, mas fez mais do que isso. Em oração, cheguei a compreender, num nível emocional,
a verdade que eu conhecera até então apenas academicamente. Enfrentando a possibilidade de uma
família dividida e do divórcio, aprendi à força que o casamento cristão é mais do que um contrato
legal entre um homem e uma mulher ou um acordo que pode ser encerrado, sempre que a esposa ou o
marido o julguem conveniente."
Ela continuou: "Raciocinei que Deus estava presente quando nos casamos; que ele devia
também estar presente então, quando estávamos enfrentando dificuldades. Isto me confortou. Então
levei adiante o meu raciocínio. Meu marido e eu tínhamos apostado em nosso casamento; Deus
também tinha apostado nele. 'Isto é dois contra um', pensei capciosamente, colocando Deus — com
muita autojustificação, eu o reconheço agora — do meu lado. E então, mentalmente, levei minha
lógica um passo além: Deus, eu mesma, três filhos e algo que eu chamava de lar e família — tudo isto
pesava contra um homem e uma mulher em um estado de amor romântico. Quem poderia comparar
logicamente a tragédia de um romance destruído com a de um lar e um casamento destruídos?"
Gastar o tempo para refletir e orar, nos primeiros estágios da descoberta da infidelidade, é a
ação mais importante que você pode realizar. Creia que, de alguma forma, Deus lhe dará sabedoria, e
extrairá o bem a partir de uma situação negativa.

SEPARE OS FATOS DE SUAS OPINIÕES


Quando um "caso" é descoberto, a mente do cônjuge traído funciona em alta velocidade.
Experimenta não apenas todo tipo de emoções, mas essas emoções são também incitadas em seus
pensamentos dia e noite. Inconscientemente, você mistura os fatos propriamente ditos com a sua
opinião negativa a respeito desses fatos, e cria um quadro falso acerca de si próprio e da dificuldade.
Você não apenas rememora os fatos repetidamente, mas também os interpreta e chega a conclusões.
Quando as suas interpretações e conclusões são juntadas aos fatos nus e crus, você acaba tendo um
quadro totalmente distorcido e inexato.
Ora, certamente não é fácil pensar lógica e corretamente quando você está debaixo desse tipo de
tensão e angústia. Mas é absolutamente essencial forçar-se a pensar claramente, senão as suas emoções
fluirão desenfreadamente e criarão toda sorte de inverdades. Não estou dizendo que as suas emoções
são corretas ou incorretas, mas que elas carecem de base. Você precisa constantemente fazer diferença
entre o que são fatos reais e o que são opiniões negativas, que você inconscientemente misturou com
os fatos verdadeiros. Por exemplo: O fato é: "O meu cônjuge é infiel", mas você pode adicionar uma
conclusão falsa e negativa: "...portanto, ele não se importa mais comigo e com as crianças."
"Meu marido ama outra mulher” — "Isto quer dizer que perdi a minha beleza e agora sou feia."
"Meu cônjuge me engana." — "Não posso nunca mais confiar nele."
"O nosso amor nunca mais pode ser reacendido. Sempre será frio e estéril." "Jamais poderei
perdoar e refazer-me disso." "A nossa reputação está arruinada."
"Sou um fracasso como esposa e mãe."
"Agora os crentes não nos aceitarão mais." "Os nossos filhos ficarão marcados para o resto da
vida." "Deus não me perdoará. De agora em diante serei um crente de segunda classe. Deus não pode
mais usar-me; estou destruído."
Nenhuma dessas deduções é válida. Os fatos são verdadeiros — as conclusões são falsas. E,
porque essas conclusões são sempre negativas, elas destroem o seu amor-próprio e o levam a
mergulhar em desespero irremediável. O fracasso do casamento torna-se o seu fracasso, e o faz ficar
imóvel e arrasado pelo sentimento de culpa. Elas também dizem que você crê que o fracasso foi fatal e
final; portanto, não há razão para crer e esforçar-se agressivamente para alcançar uma solução.

NÃO DEIXE O PRESENTE DESTRUIR O PASSADO


A frustração e decepção ocasionados por um "caso" mudam significativamente o presente, mas,
no seu processamento, também podem descolorir o passado ou roubá-lo completamente de você. O
desânimo que você está sentindo agora leva-o a imaginar se todas as alegrias do casamento e da
família desfrutadas no passado não eram falsas, e o seu cônjuge, um hipócrita. Há uma tendência para
pensar: "Ele sempre me enganou; ele nunca me amou; nunca falou de coração o que dizia." Assim,
perdemos a perspectiva das boas experiências do passado. As discordâncias e dificuldades do passado
são exageradas, amplificadas, e nada parece bom mais.
"Fui traída."
"Fui ferida tão profundamente."
"Este é o primeiro caso de infidelidade em nossa família." "O nosso casamento fracassou."
"Este é o primeiro caso de infidelidade em nossa igreja." "A nossa família está dividida."
"Cometi adultério."
Ellen Williams cita uma esposa anônima que escreveu, depois que o seu marido se envolveu
com outra mulher:
Reconhecemos que o nosso casamento havia sido bom. Era mais fácil para o meu marido
afirmar isto do que para mim. Eu tinha a tendência de jogar fora todas as belezas dos anos em que
havíamos vivido juntos, por causa de uma mancha, como se algo que havia ocorrido no presente
pudesse negar a felicidade do passado. Começamos a relembrar juntos aqueles anos, no calor de
nossas discussões e em nossas horas mais tranqüilas. A nossa vida em comum tivera uma rica
história de experiências compartilhadas, três filhos e uma netinha. Tudo isto foi colocado em um lado
da balança. Pesou muito mais do que a infelicidade do ano passado.3
Assim, dê valor aos bons tempos que você gozou — a alegria que gozaram um com o outro, as
risadas, o conforto, a intimidade. Claro que haverá estocadas de dor quando você pensar nessas coisas
à luz da traição atual. Mas deixe que as experiências positivas do passado o encorajem a trabalhar em
favor de uma solução presente. Não sacrifique o prazer do passado ao fracasso do presente. Não
cancele o passado. Cuide dele com carinho. E edifique sobre ele.

DEDIQUE-SE A APRENDER — NÃO A ABANDONAR


A descoberta de um "caso" extraconjugal imediatamente inicia um processo doloroso de
reavaliação. A dinâmica entre você e o seu cônjuge indubitável e irrevogavelmente será mudada. O
relacionamento nunca mais será o mesmo. E duas perguntas serão sempre feitas, deliberada ou
inconscientemente, tanto pela parte inocente quanto pela culpada: "Devo afastar-me? Deve o meu
cônjuge afastar-se?" E dezenas de outras perguntas estão incluídas nessas duas: "O que devo fazer?"
"Qual será o resultado disso tudo?" "Posso confiar outra vez?" "De quem é a culpa?" etc, etc.
Você se acha despreparado para responder a essas perguntas na condição de perplexidade em
que está. Mas pode decidir se para você essa tragédia será o fim de um casamento ou o início de um
processo de aprendizado. Depois que Adão e Eva desobedeceram a Deus e foram descobertos,
imediatamente culparam a Deus, ao Diabo, um ao outro e à situação. Preferiram culpar — não ouvir;
censurar — não aprender; esconder-se — para se protegerem da desaprovação de Deus e daqueles a
quem amavam. Desde então todos os homens têm tido a mesma luta básica. A Dra. Ruth Neubauer,
terapeuta do casamento e da família, residente em New York, diz: "A reconstrução de um casamento
depende, em grande parte, da rapidez com que um casal pode avançar além do estágio em que
simplesmente culpa-se um ao outro. Os cônjuges que nunca avançam além do estágio de culpar podem
permanecer casados, mas os problemas que levaram, a princípio, à infidelidade conjugal passam sem
ser reexaminados e podem resultar em um ciclo de infidelidades repetidas."4
Nenhum amigo de Deus ou do casamento pode dizer que o adultério é uma coisa desejável. Mas
um "caso" é uma crise que indica uma necessidade, uma indicação da necessidade de uma mudança —
de um retorno. A conselheira Mareia Lasswell confirma: "A pessoa envolvida em um caso de
infidelidade extraconjugal fez uma declaração iniludivelmente dramática que não pode ser ignorada, e
abriu a oportunidade para o casal realizar uma obra construtiva em seu relacionamento."5
A psicóloga Dra. Ruth K. Westheimer concorda: "Eu nunca recomendaria um 'caso'... por causa
das outras conseqüências, que são dolorosas. Não obstante, é um fato que certos cônjuges são
sacudidos de sua complacência pelo 'caso' de seu, parceiro."6 Uma esposa abalada, traída, confessou:
"Cada vez que penso naqueles dias terríveis, resolvo novamente tratar o meu casamento e o meu
marido com mais cuidado."
A infidelidade é mais freqüentemente um sintoma do que uma causa de fratura marital. Da
mesma forma como a lâmpada do óleo em seu carro, a luzinha a cintilar revela um problema que
precisa ser resolvido imediatamente — um sintoma de uma grande dificuldade. A luz vermelha não
indica que o carro nunca foi bom, uma porcaria desde a fábrica. Nem indica que o carro está
arruinado, e você deve levá-lo para o ferro velho. É um sinal, uma advertência de que alguma
providência importante é necessária. Muitos anos atrás, minha esposa estava dirigindo o seu carro
alegremente, quando a luz vermelha no painel começou a cintilar. Não sabendo ao certo o que ela
indicava, mas pensando que poderia estar revelando algum desajuste sem importância, ela continuou
dirigindo, até mais depressa ainda, para encontrar um mecânico. Quando chegou à oficina, a muitos
quilômetros dali, o motor do carro havia fundido. Se ela tivesse interpretado corretamente o sinal, os
resultados teriam sido positivos.
O "caso" é um indicador — um alarme, um catalisador para mudança positiva. Decida que você
vai aprender dele, e não usá-lo como um pretexto para desistir, tirar o corpo fora ou afastar-se. Mesmo
que os seus esforços não tenham êxito e seguir-se o divórcio, ainda assim você pode aprender muita
coisa que não aprenderia de outra forma. Deus usa todas as coisas — tudo o que deixamos que ele use
— para nos ensinar e nos ajustar, até mesmo o desastre de um casamento feito em frangalhos.

DETERMINE OS FATOS ANTES DE DECIDIR O DESTINO


Os "casos" acontecem em todos os tamanhos e formas, e por várias razões. O cenário e as
causas são diferentes em cada caso, tão diferentes quanto as pessoas neles envolvidas. Não existe
nenhum "caso típico". O Dr. Westheimer diz: "Há muitas espécies de 'casos', iniciados por diferentes
razões, com vários graus de seriedade."7
Embora o adultério seja o problema, tanto numa aventura de uma noite quanto em um
relacionamento de longa duração, a dinâmica e os resultados variam e cada um deles precisa ser
tratado de maneira diferente. O deão da Escola Bíblica que aconselhei, que deliberadamente seduzia
cada garota que podia, na escola, era uma coisa. Um amigo meu que, reagindo a um problema de seu
casamento, cedeu a uma experiência, apenas uma noite, e então confessou-a a Deus e à esposa, era
outra coisa. A Bíblia faz grande diferença entre a pessoa que é apanhada numa falta — que cai por
causa de falta de vigilância da tentação, e depois se recupera — e a que continua em um programa
deliberado de pecado, só deplorando ter sido pego. Isto não quer dizer que um é menos pecador do que
o outro nem que estamos minimizando o pecado, mas significa apenas que o aconselhamento e o
contra-ataque devem ser diferentes. Posso acrescentar, aqui, que o adúltero crônico — cuja
infidelidade é um modo de vida — é geralmente um homem cujo comportamento tem pouco a ver
com a esposa ou a qualidade de seu matrimônio. Sem que haja um milagre de Deus, não é provável
que ele se modifique.
Em seu livro assaz elucidador, Affair Prevention, o ministro episcopal Peter Kreitler relaciona
oito tipos comuns de casos extraconjugais: O Caso de Amizade, O Caso do Bom Vizinho, O Caso do
Cafezinho, O Caso do Aproveita-o-momento, O Caso da Velha-Amizade-Nunca-Esquecida, O Caso
do Ajudador das Pessoas, O Caso Bang-Bang e o Caso do Escritório. Os nomes que ele deu a esses
"casos" mostram como ou onde eles começam, e são bem auto-explicativos, exceto, talvez, o Caso
Bang-Bang. Este é o do homem promíscuo, cujos muitos casos são como entalhos feitos em seu cinto
de masculinidade — da mesma forma como um cowboy pode cortar entalhes na culatra de seu
revólver para cada bandido que matou.8
Você não pode tratar uma doença, a não ser que saiba qual é. Um estudo mostrou que trinta e
um por cento das mulheres envolvidas voluntariamente contaram a seus maridos a respeito de seus
"casos", comparados com apenas dezessete por cento dos homens. Portanto, precisa haver um tempo
para discussão aberta e franca, e descobrimento dos fatos. Esta discussão direta tem o objetivo de
determinar os fatos básicos do "caso" — a espécie de envolvimento, quem se envolveu, a sua duração,
o nível de dedicação do amor por parte do cônjuge. E também é importante conhecer os sentimentos
de seu cônjuge em relação ao "caso" e ao futuro de seu casamento. Não deve haver acusações, histeria,
ameaças, atribuição de culpa ou sondagem para esmiuçar detalhes. Esta confrontação inicial pode
indicar se há qualquer possibilidade de o casamento sobreviver.
Antes da descoberta propriamente dita do "caso", você, provavelmente, percebeu alguns dos
sinais, de forma que tinha já algumas informações. Houve mudanças nos hábitos de seu cônjuge ou
nos padrões estabelecidos em seu casamento — ou um interesse incomum ou exagerado com sua
aparência pessoal ou um desinteresse para com sexo, e até impotência. Ou um interesse renovado em
experimentos sexuais, ou mudanças freqüentes e inexplicadas em seu programa ou horário de trabalho
ou tempo de lazer. Ou o fato de ele (ou ela) se fechar em longos períodos de silêncio, i
O Dr. Richard Fisch, catedrático de psiquiatria na Escola de Medicina da Universidade
Stanford, sugere isto:
Se você deseja consertar o seu casamento, e não se livrar de seu marido, não tente fazê-lo
confessar o adultério, através do interrogatório, insinuações ou outras formas de ciladas. Diga-lhe
abertamente o que você sabe... e como ficou sabendo. E também espere até que o primeiro choque
emocional passe, antes de tentar falar sobre todo o problema. Quando, por fim, você conseguir trazer
o assunto à baila, não use de ameaças, tais como- divórcio ou separação, não fique lembrando-lhe
que você se sente traída, que ele nunca mais será digno de sua confiança. E não insista para que ele
procure ajuda profissional.'
Durante esta primeira discussão ficou ele aliviado pelo fato de o problema ser exposto
abertamente? Ele queria falar? Expressou remorso pelo fato de você ter sido ferida ou indicou um
desejo de fazer o casamento funcionar? Esses são bons sinais e devem ser estimulados. Propiciam uma
oportunidade de ouro para você usar o melhor de sua sabedoria, e as chances são razoavelmente boas
de que será capaz de salvar o seu casamento.
No entanto, talvez ele tenha sido reticente, negando, culpando, desafiando. Esta situação torna o
desafio maior, mas não, necessariamente, irrealizável. Reações sensatas e cuidadosamente
consideradas, da sua parte, a esta confrontação inicial, serão muito importantes. O seu único objetivo,
nesta ocasião, será obter os fatos, e não saltar para conclusões ou iniciar qualquer ação.

PERGUNTE AS RAZÕES, E NÃO OS DETALHES


Quando obtiver os fatos reais, você poderá explorar as razões para a infidelidade — razões que
a ajudarão a entender as causas e a parte que lhe toca, neste envolvimento. Por que foi que o seu
marido se voltou para outra mulher? Quais são as lutas dele? Em quase todos os casos de infidelidade
conjugal, a "outra" propiciou algo que a esposa não estava dando. A sua motivação precisa ser de
aprender e entender, e não de se defender ou culpar — confrontação com cuidado, não com crítica —
de ouvir sem malícia ou ira. Esta pode ser a tarefa mais difícil de todas: ouvir, colocar-se no lugar de
seu cônjuge, tentar entender os sentimentos dele e por que ele acha que aconteceu o "caso". Algumas
das coisas que você ouvir serão difíceis de aceitar. Podem atingi-la diretamente. Você pode ser ferida e
até mesmo acusada injustamente. Certa mulher contou-me que o marido dela lhe disse: "Eu não posso
conversar com você, e só queria alguém com quem conversar." Você pode sentir-se injustamente
criticada. Contudo, morda os seus lábios, enxugue as lágrimas, e ouça — ouça! Nem pense em usar de
menosprezo, de moralização, de sermões, de versículos bíblicos.
Não estou sugerindo uma impassibilidade prática, isto é, que o cônjuge ofendido se assente
passivamente sem expressar sentimentos, reprimindo toda a dor. Essa pode ser a hora em que você
diga como foi ferida profundamente, e comece a estabelecer diretrizes para a reconstrução da
confiança entre vocês dois. Mas, se você está amargurada, e não vê nada, a não ser falhas, e começa a
menosprezar seu cônjuge, já arrasado pelo sentimento de culpa, pode ser desastroso. O Dr. John F.
O'Connor, do Centro Psicanalítico da Colúmbia Para Treinamento e Pesquisa, adiciona esta sugestão:
"Quando estiver falando, use a regra do 'eu'. Diga: 'Eu fui ferida', em vez de dizer: 'Você me feriu.' Em
outras palavras, nunca comece uma sentença, numa conversa com ele, que ó coloque na defensiva.
Vocês dois devem tentar pensar: 'Este é um ponto morto em nosso casamento', e tentar começar a
resolver a situação juntos."10
Um terapeuta do Hospital Northside de Atlanta, Geórgia, Dr. Al-fred A. Messe, comenta: "Toda
esposa que se defronta com o adultério de seu marido deve insistir para que ele corte todas as ligações
com a outra pessoa e se concentre em incentivar a satisfação de seu casamento. A descoberta diminui a
atração de um "caso". Ele perde o seu encanto clandestino e torna-se menos sedutor e menos
significativo."11
Esta interação aberta é imperativa. Teria sido o "caso" a reação dele à sua ausência física ou
emocional ou a evidência de uma crise na vida de vocês? Uma escapatória de uma situação
desanimadora no trabalho ou incerteza a respeito de sua masculinidade? Fora uma erupção de orgulho,
da parte dele, um sustento para os seus sentimentos de inadequação? Pressão dos colegas? Perda do
amor-próprio, devido à perda de um emprego ou problemas de serviço? Medo da idade? Redução de
capacidades sexuais nó casamento? Mudança de cargo ou de carreira? Nascimento ou enfermidade de
um filho? Viagem da esposa, a serviço? Vingança? Insatisfação emocional? Um desesperado grito,
pedindo socorro? (Ou qualquer uma dentre cem outras considerações?) Este é o tipo de informação de
que você necessita para obter compreensão. Você não conseguirá abordar todos esses aspectos em
uma hora; pode levar dias. E certamente não conseguirá ouvir tudo isto, se manifestar crítica e não-
aceitação. Porém ouvir, observar e compartilhar, a fim de se tornar sensível ao profundo significado do
"caso"( é da maior importância. A esposa precisa colocar as suas cartas na mesa, e convencer o marido
a fazer o mesmo.
Uma advertência: Não sonde, para descobrir os detalhes picantes. "Onde vocês dois iam quando
estavam juntos?" "Quando fazia amor comigo, você estava pensando nela?" "Você alguma vez a
trouxe aqui para nossa casa, para a nossa cama?" Certa mulher, descobrindo que o seu marido infiel ia,
com a "outra", ao Holiday Inn, exclamou: "Eu nunca vou me hospedar em um Holiday Inn enquanto
viver!" Pode haver alguns detalhes que você está morrendo de vontade de conhecer, mas não procure
sabê-los. Eles são irrelevantes para a solução do problema. O fato de conhecê-los pode satisfazer a sua
curiosidade e acender o seu ciúme, mas não contribuirá para a solução.
Resista a todos os desejos de fazer perguntas que a comparem, de qualquer forma, com a outra,
em termos de aparência, maneira de vestir e realizações.
Também, por favor, não lhe pergunte se ele a ama. Você o estará forçando a ficar constrangido.
Nesse ponto, ele não sabe; está dividido. Ele está vivendo no mundo dos seus sentimentos, e, sem
dúvida, sendo enganado por esses sentimentos. Se você perguntar: "Você ainda me ama?" e ele lhe
disser a verdade, é bem possível que ele diga: "Não", ou: "Não sei", e então você ficaria abalada —
sem esperanças. Se ele disser: "Sim", você será tentada a achar que ele está mentindo, ou dizer:
"Então, por que você fez uma coisa dessas? Isso prova que você não me ama." Isto só agrava a
situação. Neste ponto, os atos dele falam mais alto do que qualquer coisa que ele possa dizer.

INCENTIVE O SEU CRESCIMENTO, NÃO O SENTIMENTO DE CULPA


Talvez a coisa mais difícil de todas para se fazer — e ao mesmo tempo a mais necessária — seja
examinar a possibilidade de sua culpabilidade no "caso". Você, de alguma forma, falhou para com o
seu cônjuge? A Dra. Mary Ann Bartusis, psiquiatra e autora, aponta o que devia ser óbvio para todo
mundo: "É necessário haver três ângulos para se fazer um triângulo, e um desses ângulos,
inevitavelmente, é o seu."12 Raramente um marido ou uma esposa iniciam um triângulo amoroso, se o
casamento não estiver seriamente enfermo. O reconhecimento de que falhamos, de alguma forma, ou
contribuímos para o "caso" não nos deve surpreender nem nos lançar em uma excitação de autodefesa.
Afinal de contas, você é perfeita? Você não comete erros? Você não é humana, como nós outros, com
entendimento limitado, fraquezas pessoais, pecados e possibilidades de fracasso? A autojustificação,
em qualquer dos cônjuges, condena o casamento em qualquer estágio. É difícil conviver com a
perfeição.
Por que não engolir o seu orgulho e admitir diante de você mesma, de Deus e de seu cônjuge o
que você de fato sabe ser a verdade, e enfrentar a pergunta necessária e difícil: "O que é que eu fiz que
contribuiu para esta situação?" Não estou sugerindo um prolongado processo de introspecção, onde
você disseca todas as suas falhas, afirma o quanto é má e aumenta o seu sentimento de culpa. Não
precisamos, além do mais, disso. Da mesma forma, não estou recomendando que você assuma toda a
culpa por toda a confusão, isentando o seu cônjuge do pecado que cometeu. Tenho conhecido
mulheres que eram tudo o que um marido poderia desejar, mas assim mesmo o marido as enganou. Há
mais razões para a infidelidade do que uma esposa inadequada. Porém precisamos perguntar
realisticamente: "Eu falhei?" "O que posso aprender com isto?" "Em que devo mudar?" Da mesma
forma como espera que o seu cônjuge infiel reconheça a infidelidade dele e aprenda com ela, você
precisa fazer com qualquer falha de sua parte .1
Natalie Gittelson, a autora do Redbook, sugere isto: Cabe a cada esposa que sabe ou suspeita
que o seu marido está enganando-a dar uma boa olhada em sua própria conduta, suas próprias
atitudes e as mensagens mudas que dirige ao homem de sua vida. Ela deve perguntar a si mesma
francamente se, de certas maneiras sutis, não pode estar privando-o da dedicação de seu tempo,
simpatia, interesse, compaixão. Se não está compartilhando as suas melhores idéias com a sua
melhor amiga, e deixando para o marido apenas os detalhes monótonos da vida doméstica. Se não
está fazendo ouvidos moucos quando ele traz para casa algumas das frustrações de seu dia, e, pelo
contrário, exigindo as atenções dele para as frustrações dela. Será que ele não se tornou personagem
de secundária importância em sua escala de prioridades? Bode expiatório? Muro de lamentações?
Criança problema?13
Certa esposa ferida, todavia, nem por isso mais sábia, concorda: "Você pode se envolver
terrivelmente com os filhos e com o trabalho, sem perceber, e não dar ao seu marido a atenção de que
ele precisa. Descobri que também não era principalmente sexo o que o meu marido queria. Ele estava
procurando todos os outros tipos de atenções que eu estava negligenciando em proporcionar-lhe, até
mesmo, ocasionalmente, o carinho maternal, que todo mundo precisa de vez em quando, e que eu às
vezes desejava receber dele." Marjorie Zimmerman cita um marido infiel, mas penitente: "Um homem
precisa ser mais do que um comensal em sua própria casa."
Uma esposa anônima entristecida acrescenta o seu ponto de vista: "Olhando para o passado,
verifiquei que houve muitas ocasiões — oh, tantas ocasiões! — quando o meu marido procurou
proximidade e compreensão, que não lhe dei. Eu estava sempre fazendo algo mais urgente, como
remendar, limpar o refrigerador, arrancar ervas daninhas do jardim. Lembrei as inúmeras vezes que ele
disse, de modo anelante: 'Por que não saímos sozinhos por uns dois dias? Você poderia comprar um
vestido novo. E nós simplesmente gozaríamos umas férias dos filhos, da casa — ficando sem fazer
nada, sentindo-nos jovens.' Eu não disse diretamente: 'Não seja tolo, somos adultos', mas a minha falta
de entusiasmo, sem dúvida, foi óbvia." Outra mulher, embora uma crente firme, percebeu outra coisa:
"Estou tão envergonhada! Eu devo ter sido uma mulher muito dominadora, autojustificadora. E nunca
percebi o que estava fazendo."
Ao abandonar sua esposa crente, um marido incrédulo disse, candidamente: "Essa outra mulher
não é tão bonita como você — ela não é nem muito limpa. Sem mim ela seria uma alcoólatra. Mas é a
única pessoa que conheço que precisa de mim e me aceita como sou. Ela tem algo para mim que você
nunca teve." Linda Wolfe acrescenta: "A maior parte dos adultérios não ocorre devido aos conflitos
internos de um indivíduo. É bem mais freqüente o adultério ser o resultado de um conflito
interpessoal. O amor-próprio, em declínio, de um homem, pode estar ligado ao fato de a esposa ser a
causa do 'ego' danificado desse homem. Ela pode ser supinamente crítica ou excessivamente exigente
para com o seu marido ou sexualmente indiferente ou até rejeitá-lo sexualmente."
Um conselho semelhante vem do Pastor Henry Wildeboer, da Igreja Reformada:
Pelo fato de as relações extraconjugais muitas vezes suprirem o que falta ao casamento, a sua
causa é freqüentemente um ou mais pecados de omissão, tais como deixar de mostrar consideração
para com o seu cônjuge, negligência, deixar de propiciar-lhe a certeza de seu amor, não
expressando-o audivelmente, negligência em expressar afeição ou em se apresentar atraente,
acessível, comunicativa. Algumas vezes uma esposa com um programa intenso parece desinteressada
e fria. Filhos, clubes, negócios e atividades na igreja, embora importantes, precisam ser conservados
em suas devidas perspectivas... Quando a parte ofendida reconhece as suas próprias falhas e como
elas contribuíram para a crise, ainda pode, com a ajuda de Deus, começar a perdoar o ofensor
e,reedificar a confiança.14
Para Maridos Também Tudo o que dissemos acima vale para os maridos também, cujas esposas
foram infiéis. Tudo o que uma esposa deve ao marido, o marido deve a ela também — sem exceção. O
Dr. David Reuben, autor de sucesso, observa: "O casamento é como uma longa viagem em um barco
pequenino: se um dos dois passageiros começar a fazer o barco balançar, o outro tem que segurá-lo,
'fazê-lo ficar firme; senão irão ambos para o fundo."15
"Com o 'caso' de meu marido", contou-me certa senhora, "aprendi tanto a respeito de mim
mesma, que me tornei uma mulher inteiramente diferente. Enfrentei o que vi e ouvi a respeito de mim
mesma, e orei para que Deus me ensinasse, me transformasse. Tive uma profunda experiência com
Deus, fui realmente convertida, e as minhas atitudes mudaram. Repetidamente orei para que Deus me
desse sabedoria para me tornar ai esposa mais perfeita possível para o meu marido. Até o meu marido
notou a mudança."
Nenhum casamento é reconstruído, a não ser que cada um dos cônjuges esteja disposto a
aprender com o problema e a sofrer modificações positivas. Nenhuma ação direta, de minha parte,
mudará o meu cônjuge, mas eu posso mudar. A graça de Deus está disponível para me fazer crescer,
confessar os meus pecados, a minha necessidade, e ele promete ser "fiel e justo para nos perdoar os
pecados e nos purificar de toda injustiça". 16 Ele também promete dar-me generosamente de sua força,
para eu fazer o que não consigo fazer sozinho.17

PERMITA QUE CADA CÔNJUGE CONFESSE AS SUAS AÇÕES


Visto que são necessárias duas pessoas para constitui um casamento, se uma delas falha, ambas
têm alguma responsabilidade por esse fracasso. A sua responsabilidade não é a mesma, mas elas são
igualmente responsáveis. Uma age, a outra reage; uma negligencia o seu parceiro, a outra, os seus
votos. Uma é infiel nas atenções, a outra, adulterando. Nenhuma pode carregar os fardos da outra.
Cada uma precisa se responsabilizar por suas próprias ações, não importa o que a outra tenha feito.
Nenhuma das duas é responsável pelas ações da outra, mas cada uma, pelo seu próprio
comportamento. "Tudo o que o homem semear, isso também ceifará" aplica-se a cada pessoa em
particular e individualmente.
O ato de se esquivar da responsabilidade é uma característica humana, posta em prática desde
Adão. Gostamos de jogar o "jogo da culpa", e procurar um bode expiatório. O marido infiel acusa:
"Você estava tão preocupada com os filhos que nunca prestou nenhuma atenção a mim." Ou: "Desde
que você arrumou aquele emprego, a perdi de vista", etc. Ele aponta o dedo, e diz: "Você', "você",
"você". O que você fez desculpa o que eu fiz. Se pode conseguir que a sua esposa aceite toda a
responsabilidade, ele fez o bolo e ele mesmo o come. Como um alcoólatra!, ele pode continuar a sua
ação destrutiva, sabendo que a sua "mãe" o protegerá das conseqüências e assumirá toda a culpa.
Qualquer mulher que fizer isto estará apenas dando ao seu marido experiência em atitudes evasivas e
irresponsabilidades egocêntricas. Os doutores Willard e Marguerite Beecher apresentam um parágrafo
ímpar a respeito deste princípio:
Uma pessoa pode ter um problema ou ser um problema. A pessoa que é um problema não acha
que tem problemas. Continua a vida esplendidamente, explorando os outros e tirando das pessoas que
a acolhem. A pessoa que a acolhe é a que tem um problema: o problema de propiciar apoio para a
que é um problema. Em suma, são necessários os dois para tornar possível que um deles falhe!18
Lembro-me de um homem, Charles, que era perito nisso. Depois de ficar um dia ou dois com a
amante, ele vinha para casa e esperava que a esposa o abraçasse e se relacionasse sexualmente com
ele. Quando ela hesitava ou se recusava, ele dizia: ,"Você está me jogando bem nos braços dessa outra
mulher. A culpa é sua se o nosso casamento acabar. É isso que você quer que aconteça?" Ele era um
patife. A verdade é que ele não tinha intenção de desistir de seu "caso", mas queria fazer a esposa
sentir que era a culpada. Ela era a lata de lixo dele.
Qualquer decisão tem que mudar do sentimento de culpa para a responsabilidade. Da mesma
forma como não podemos escapar da participação que tivemos no problema, não devemos desculpar a
parte que os outros tiveram. Não podemos defender o pecado de adultério, mas ao mesmo tempo
podemos reconhecer O nosso pecado de negligência, que contribuiu para a crise. Algumas esposas
rejeitadas, por medo e insegurança, assumem toda a culpa pelas ações de seu marido, e rogam,
imploram, pressionam e aceitam qualquer tipo de humilhação, para impedir que eles as abandonem.
"Você pode fazer qualquer coisa, mas não me abandone. O que eu faria sem você?" Nenhum homem,
no seu íntimo, 'respeita uma mulher assim. O que ela pode pensar que lhe propicia controle sobre ele
realmente é um sinal de sua fraqueza. Ela está dizendo: "Eu não sou uma pessoa importante." O
marido dela a abandonará por falta de respeito, ou continuará com os seus "casos" e ficará, mas para
usá-la como peteca ou como capacho.
O marido que prevaricou, da mesma forma como começou voluntariamente o seu "caso",
precisa escolher voluntariamente permanecer no casamento. Certamente você ora e confia em Deus
para ocasionar uma transformação, mas nem toda ia pressão do mundo conseguirá isso. Você precisa
abrir a gaiola de forma que ele fique livre para tomar uma decisão voluntária. Só esse tipo de escolha
tem algum valor no casamento. Ao mesmo tempo, você expressa o pensamento encontrado nas
palavras do Rev. Mr. Kreitler: "Penso que você seria louco se arriscasse a me perder", ou: "O que
temos juntos ê bom demais para ser destruído." Anos atrás, quando estávamos discutindo a
infidelidade conjugal quanto a alguns amigos que estávamos tentando ajudar, perguntei à minha
esposa: "O que você faria se descobrisse que eu estivesse tendo um 'caso' e pensando em abandonar o
lar?" Sem hesitação, ela respondeu: "Ficaria com o coração partido e, provavelmente, choraria muito.
Mas Deus me ajudaria a atravessar a crise, e eu ainda conservaria as memórias dos bons anos que
vivemos juntos. Mas não choraria eternamente. Há muitos homens que ficariam entusiasmados com a
idéia de ter uma esposa como eu, que os amasse como eu o amei. E estou certa de que não teria
problema nenhum em encontrar um deles." Uma boa resposta. Esse é q tipo de esposa a quem você se
apega.

ABRA-SE COM UM CONFIDENTE OU UM CONSELHEIRO


De acordo com as autoridades médicas, oitenta por cento de todos os problemas curam-se a si
mesmos. Devemos enfrentar os problemas do casamento da mesma forma. "Sim", diz Natalie
Gittelson, que mencionei anteriormente, "o casamento que emenda os seus próprios ossos, por assim
dizer, muitas vezes é fortalecido no processo. Só quando tudo o mais falha e passa a haver uma
emergência emocional insolúvel é que se torna essencial a ajuda psicológica exterior."19 Assim, um
casal deve ir tão longe quanto possível em resolver a crise sem a assistência de profissionais.
Contudo, algumas vezes a dor da infidelidade é tão grande que as pessoas envolvidas precisam
descarregar as suas emoções, abrindo-se com alguém, antes de começaram a ser honestas uma com a
outra. É muito difícil desemaranhar as emoções de ira e culpa, e ter uma perspectiva nova. E elas
precisam desabafar as emoções com alguém que não coloque mais lenha no fogo. Esta deve ser,
provavelmente, uma pessoa que não seja influenciada, imparcial: um pastor, um conselheiro, um
psicólogo. Quarenta a cinqüenta por cento de todos os problemas levados ao pastor, hoje em dia,
relacionam-se com a família e os interesses matrimoniais. Procurar aconselhamento necessário é um
sinal de força, e não de fraqueza. É o mesmo que procurar a ajuda de um especialista para salvar os
seus olhos, ao invés de tolamente e desnecessariamente ficar cego.
Acho maravilhoso que em nossa época o campo de conselheiros cristãos está se expandindo
rapidamente (pelo menos nos Estados Unidos), e, na maioria dos centros metropolitanos, há um
serviço de aconselhamento cristão. Muitas igrejas grandes agora têm as suas próprias clínicas, nos
Estados Unidos. Ao procurar aconselhamento, primeiro consulte o seu pastor. Se ele achar que não
pode ajudá-lo, pode recomendar outra pessoa com a capacidade para isso. Se você é crente, não hesite
em perguntar ao psicólogo, se for consultá-lo, quais são os valores espirituais que ele preza e quais os
seus objetivos em aconselhar. Embora outras pessoas possam ajudar até certo ponto, faça todo o
possível para encontrar um conselheiro competente que aprecie a sua dedicação a Cristo e possa ajudá-
lo no contexto de sua fé, preferivelmente alguém que tenha tido sucesso em seu próprio casamento e
vida familiar. Se o conselho dele, ou dela, não funcionou no seu próprio caso, ele, ou ela, não poderá
ajudá-lo em quase nada.
Qualquer pessoa que esteja sofrendo a dor aguda e a perda ocasionados por infidelidade de seu
cônjuge também precisa de um amigo, um confidente — alguém que saiba ouvir, sem dar palpites.
Alguém que dê apoio, mas sem se enternecer — que manifeste aceitação, mas não dê conselhos.
Todos nós temos uma porção de amigos e conhecidos que gostariam de compartilhar dos detalhes
picantes de um mexerico, ou que sempre têm o conselho certo para qualquer situação, embora o
próprio casamento deles dificilmente seja excitante. Evite-os como a uma praga. A maioria das
pessoas, na verdade, não entende as complexidades ou ramificações de um "caso", e não são capazes
de dar conselhos objetivos. Apressam-se a dizer: "O que eu faria é...", ou: "Eu não confiaria mais
nele", ou: "Seja sincera para consigo mesma." Estes conselheiros encontram-se por aí às dúzias. Não
faça publicidade de sua angústia. Pelo contrário, encontre uma caixa de ressonância onde você possa
abrir o coração, expressar tranqüilamente os seus sentimentos e deixar as lágrimas caírem, um amigo
ou amiga que orará por você e orará com você — alguém que não tem todas as respostas. Um amigo
que, como diz o verso do poeta, "tomará juntos o grão e a palha, e, com um sopro de bondade, soprará
a palha para longe".
Um amigo assim, ou um casal, é suficiente. Não conte o que você está passando para toda a
classe da Escola Bíblica Dominical ou para a sociedade de senhoras ou para os parentes. Sentimos a
tentação, ao descrever o problema, de rebaixar o nosso cônjuge, para ganhar simpatia. Desta forma,
isto envenena a reputação de seu marido, e, depois que o "caso" for resolvido, ele será malvisto.
Haverá períodos escuros, tenebrosos, sentimento de isolamento. Por vezes você terá vontade de entrar
em um buraco e evitar o embaraço de ver velhos amigos ou de ir à igreja sozinha. O pastor e sua
esposa, que mencionei em capítulo anterior, a respeito de quem Ellen Williams escreveu, encontraram
forças em um grupo de amigos na igreja. A esposa disse: "A pressão positiva da comunidade cristã foi
um fator enormemente positivo, enquanto abríamos caminho por entre a crise. Havíamos nos decidido
a compartilhar a nossa dificuldade com outro casal de crentes. Eles foram capazes de nos ajudar a
ambos. Eles tornaram-se um anteparo para mim, no sentido de que a sua influência inabalável me
conservou firme, quando facilmente eu poderia ter explodido. De maneira simbólica, eles ofereceram
ao meu marido aceitação e a certeza de que nada que ele havia feito podia separá-lo do amor de Deus
ou da igreja."

BUSQUE O SEU PERDÃO — DEPOIS EXPRESSE O SEU PERDÃO


Sempre que há pecado, uma traição de confiança, apresenta-se o assunto do perdão. Quer ele
seja procurado pelas partes que precisam dele ou oferecido a elas, nem se precisa dizer que é essencial
para a recuperação do casamento, depois de um "caso", que se entenda bem o que é perdão. Perdão é o
assunto central. Como qualquer pessoa que tenha passado por essa experiência pode testificar, a
restauração de um casamento, depois de infidelidade, não é assunto fácil. O perdão não se manifesta
rapidamente. É difícil. Mas é a única maneira de curar e libertar, a única solução para a dor pungente.
O que é que sabemos realmente acerca do perdão? Como pode ele ser praticado em situação tão
carregada de emoções?

O Perdão É Possível
É possível para ambos os cônjuges: o infiel e o traído. O adultério não é um pecado sem perdão,
como parece que algumas pessoas pensam. A Bíblia não relaciona os pecados como se alguns deles
fossem mais hediondos do que os outros, e alguns mais facilmente perdoados. Alguns pecados causam
mais danos do que outros, e, em suas conseqüências, são de mais longo alcance. Paulo fala a respeito
de como o adultério, de maneira peculiar, afeta tão seriamente o corpo:
Fugi da prostituição. Qualquer outro pecado que o homem comete, é fora do corpo; mas o que
se prostitui peca contra o seu próprio corpo. Ou não sabeis que o vosso corpo é santuário do Espírito
Santo, que habita em vós, o qual possuis da parte de Deus, e que não sois de vós mesmos? Porque
fostes comprados por preço; glorificai, pois, a Deus no vosso corpo.20
Mas todo pecado confessado pode ser perdoado. Nada é impossível para Deus. Depois de seu
adultério com Bate-Seba, Davi disse: "Confessei-te o meu pecado, e a minha iniqüidade não encobri.
Disse eu: Confessarei ao Senhor as minhas transgressões; e tu perdoaste a culpa do meu pecado."21 Os
pecados de omissão, dentro do casamento — negligência, rejeição, egocentrismo, amargura — podem,
por vezes, ser mais corrosivos do que o adultério, e também precisam ser perdoados. Os pecados de
temperamento precisam ser confessados, tanto quanto os pecados da carne. Todo pecado é
primordialmente cometido contra Deus, embora, na infidelidade, muitas outras pessoas sejam feridas:
os cônjuges de ambos os lados, as duas famílias, todos os filhos. Visto que Deus criou cada um de nós,
planejou o casamento e os relacionamentos familiares, e tem um lindo plano para cada pessoa. Quando
pecamos, rejeitamos o plano de Deus. Ele odeia o pecado, porque destrói o homem que ele tanto ama,
de forma que a confissão precisa ser primeiramente feita a ele. Davi enxergou esta perspectiva:
"Contra ti, contra ti somente, pequei, e fiz o que é mau diante dos teus olhos."22
O Perdão É Necessário
É essencial para a nossa saúde mental tanto quanto para a nossa saúde conjugal. Davi falou a
respeito do sentimento de culpa e do engano de seu "caso", e como ele o deixou seco por dentro. E
finalmente a libertação: "Como é feliz o homem cujos pecados Deus apagou e está livre de más
intenções em seu coração! Eu tentei, por algum tempo, esconder de mim mesmo o meu pecado. O
resultado foi que fiquei muito fraco, gemendo de dor e aflição o dia inteiro. De dia e de noite sentia a
mão de Deus pesando sobre mim, fazendo com as minhas forças o que a seca faz com um pequeno
riacho. O sofrimento continuou até que admiti minha culpa e confessei a ti o meu pecado. Pensei
comigo mesmo: 'Confessarei ao Senhor como desobedeci às suas leis.' Quando confessei, tu perdoaste
meu terrível pecado."23

O Perdão E Difícil
Ele atinge o âmago de nossa justiça própria. Algumas vezes gostamos de nos sentir condenados.
Agarramo-nos às nossas feridas, desejando ainda empatar, nos vingando. Perdoar é abrir mão dos
sentimentos de vítima, e isso não é fácil. O nosso ódio próprio muitas vezes está no alicerce de nossa
incapacidade de perdoar; por não conseguirmos aceitar as nossas características humanas, não temos a
capacidade de aceitar o nosso cônjuge, que falhou. A nossa incapacidade de aceitar o amor limita a
nossa capacidade de dá-lo. Sempre julgamos os outros da maneira como nos julgamos a nós mesmos.
Se não temos um amor-próprio sadio e não nos consideramos valiosos, pessoas em estágio de
crescimento, muitas vezes necessitando de perdão, não conseguimos dar ao nosso cônjuge o que não
podemos dar a nós mesmos. Só quando reconhecemos as nossas deficiências é que estamos prontos
para aceitar as imperfeições dos outros. Não podemos oferecer perdão, se estamos num vácuo. Na
medida em que recebemos e gozamos do amor de Deus e dos outros, aprendemos a amar.
Precisamos deixar Deus nos amar. O que recebemos e experimentamos, podemos depois
repartir. O mesmo é verdadeiro em relação ao perdão. Quanto mais sou perdoado, mais perdoador me
torno.

O Perdão E uma Escolha


Jesus coloca o perdão no nível da decisão pessoal, e não da emoção. "Quando estiverdes orando,
perdoai, se tendes alguma coisa contra alguém, para que também vosso Pai que está no céu vos perdoe
as vossas ofensas."24 Esta é uma ordem dada à vontade. As emoções e os sentimentos não podem
receber ordens. Preciso decidir-me a perdoar, mesmo quando todos os meus sentimentos clamem
contra isso. Muitas vezes, quando tenha enfrentado uma luta para perdoar alguém, levanto-me, em
meu escritório, e digo em voz alta: "Eu o perdôo, perdôo, perdôo." Quando coloco a minha vontade e
o meu coração nessa direção, sentimentos de perdão começam a seguir-se, e então consigo dizer à
pessoa envolvida: "Eu te perdôo." Pode levar algum tempo para que as feridas sarem, mas a sua
decisão alivia a tensão, e o tempo começa o processo de cura.

Perdoar Não É Esquecer


O perdão não é um apagador que apaga a lembrança do ato de sua mente definitivamente. Isso é
impossível. Ainda continua sendo história. A cicatriz pode ser permanente. Perdoar e esquecer é
esquecer a ira que sentimos contra a pessoa que nos prejudicou — para nunca mais a usar contra ela, e
para não tirar mais do armário esse esqueleto. Embora nos lembremos do fato, tratamos a pessoa como
se ele nunca tivesse acontecido. Lembrar constantemente o "caso" de seu cônjuge quando estão no
quarto, ou durante algum conflito, assegura que a infidelidade jamais será esquecida por ambas as
partes, e isso pode encorajá-lo a voltar a cometê-la.
Certamente, onde a confiança foi abalada pode haver interrogações durante certo tempo,
pontadas ocasionais de dúvida, ou ecos, mas esses sintomas desaparecerão, se houver um esforço
mútuo para melhorar o relacionamento conjugal.

O Perdão É Oferecido
Gosto da maneira como o Pastor Wildeboer o expressa:
Da mesma forma como o perdão divino não depende do fato de o homem sentir-se perdoado,
mas da declaração de perdão feita por Deus, a ser aceita com base em sua Palavra, assim também
cada cônjuge precisa declarar que perdoa o outro e aceita o perdão do outro com base na palavra
dele. Ambas as partes precisam renovar a dedicação um ao outro, não apenas de maneira emocional,
mas com uma declaração — e com atos que confirmem as palavras... Eles precisarão dizer um ao
outro o que, se são crentes, já disseram a Deus: 'Eu lhe pertenço: coração, alma, mente e forças.
Farei tudo o que estiver ao meu alcance para ser fiel a você. " Depois precisarão pôr em prática o
amor um ao outro. Precisarão dar de si tanto quanto foram capazes de dar e querer e esforçar-se
para dar muito mais.2*
Este perdão pode ser a pedra angular de um casamento mais forte do que nunca. Há anos, li uma
história clássica de perdão excelente, que me comove outra vez, ao escrevê-la. A mulher a conservou
trancada no coração durante meio século, mas compartilhou-a com a "Dear Abby", para ajudar outras
pessoas que se encontrem nas mesmas condições:
Eu tinha vinte anos, e ele, vinte e seis. Fazia dois anos que estávamos casados, e eu nem
sonhava que ele pudesse ser infiel. A terrível verdade foi-me comunicada quando uma jovem viúva de
uma fazenda vizinha me veio dizer que o filho que ela estava esperando era de meu marido. O meu
mundo veio abaixo. Eu queria morrer. Lutei contra uma vontade imensa de matá-la. E a ele também.
Eu sabia que isso não resolveria o caso. Orei, pedindo forças e orientação. E elas vieram. Eu
sabia que precisava perdoar aquele homem, e o fiz. E perdoei a ela também. Calmamente contei ao
meu marido o que havia aprendido, e nós três juntos elaboramos uma solução. {Que criaturazinha
amedrontada era ela!) O bebê nasceu em minha casa. Todo mundo pensou que eu dera à luz, e que a
minha vizinha estava me "ajudando". Na verdade, era exatamente o contrário. Mas poupamos à viúva
a humilhação {ela tinha mais três filhos), e o garotinho foi criado como meu. E nunca ficou sabendo
da verdade.
Teria sido esta a compensação divina para a minha incapacidade de gerar um filho? Não sei.
Nunca comentei este incidente com meu marido. Ele tem sido um capítulo fechado em nossas vidas
durante cinqüenta anos. Mas tenho lido nos olhos dele, milhares de vezes, o amor e a gratidão.26

CAPITULO 8
Anatomia de um "Caso" - e Depois!
Um impulso interior irresistível alimentou esse "caso" ardente por mais de dois anos. Rogando
poder, ele agora transformou-se em outra pessoa, o que causou grande regozijo.
O EDIFÍCIO cor de âmbar, cercado por centenas de metros quadrados de estacionamento,
parecia mais um armazém atacadista do que uma igreja, a casa de Deus. Não havia colunas brancas no
pórtico, nem uma cruz no alto da fachada, nem um gramado bem cuidado. Estacionamento para
centenas de carros, do lado de fora, e dentro, cadeiras simples, e não bancos pesados de mogno, para
as centenas de adoradores. De fato, mil pessoas no culto de domingo pela manhã é coisa comum, e
ainda mais pessoas vêm, se o programa é especial. Esta é a maior igreja daquele condado, naquele
estado no centro dos Estados Unidos.
No quadro de avisos, na entrada, notei o horário dos cultos e uma linha em tipos pequenos, ao
pé da página, que dizia: "Rev. Douglas Nelson, Pastor."^ ) Fiquei imaginando se aquelas centenas de
adoradores conheciam a história de Douglas Nelson que eu conhecia. O seu trágico passado. O
engano. O desastre. Os "casos". Como Doulgas e Sally viram o seu casamento ressuscitar das cinzas.
Não fazia muito tempo, eu me sentara no sofá da sala de visitas de sua casa confortável, e os sondara
com dezenas de perguntas. Nenhuma foi rejeitada como ingênua demais. Nenhuma resposta foi
sonegada. Senti a vibração de seu relacionamento franco e diáfano, que causa refrigério, e a sua
profunda compreensão e dedicação, que foram moldadas através de alguns dias tenebrosos e águas
profundas.
Fiquei impressionado ao ver que todos os princípios que mencionei neste livro tornaram-se
realidade na experiência deles. Eles mostraram-se dispostos a reviver comigo, em detalhes vivos,
comoventes, todos os emocionantes momentos, "se isso ajudar outros casais a encontrarem juntos o
caminho de volta". É uma história verdadeira e iluminadora, de poder, paixão e lindas promessas.
Douglas e Sally encontraram-se na igreja durante a sua adolescência. Na verdade, eles não se
conheceram de maneira formal, visto que cresceram juntos na mesma igreja e freqüentaram o mesmo
ginásio, e, de certa maneira, sempre se conheceram. Vindo de um lar em que ambos os pais nunca
haviam experimentado nada mais do que trabalho duro, para se manterem, Sally estava
emocionalmente esgotada. Seus pais certamente a amavam — ou diziam que a amavam — mas não
sabiam como expressar esse amor de maneira que uma adolescente insegura pudesse entender e
receber. Nenhuma afeição era demonstrada. Só o que havia era trabalho, trabalho, trabalho,
entremeado com um pouco de comer, dormir e estudar. Assim, como simples aluna do segundo ano do
ginásio, ela sentia uma tremenda necessidade de ser apreciada e amada. Nessa pouca idade, quando a
maioria das jovens está almejando apenas uma boa nota em estudos sociais ou um acompanhante para
a festa de promoção da classe, Sally tinha já um grande desejo de se casar e ter filhos. "Talvez o meu
desejo de me casar fosse o de um escape da difícil situação em casa, ou uma esperança de alívio de
minha pobreza. Mas sei que da primeira vez que saí com Douglas, desejei casar-me com ele, que eu
tinha que me casar com ele e que não permitiria que nada o impedisse."
'Os nomes verdadeiros e os lugares foram mudados, mas os fatos são reais.
Douglas, uns dois anos mais velho, também ficou apaixonado, mas a idéia de um casamento
prematuro o deixou amedrontado. Ele gostava da companhia dela, mas estava totalmente despreparado
para pensar em se estabelecer. Os seus pais, que também não eram muito afetuosos, eram bem-
sucedidos, muito disciplinados e encorajavam integridade, excelência e uma ambição aventurosa entre
os seus filhos. A freqüência à igreja era obrigatória; a boa educação, uma necessidade.
Tanto Douglas como Sally eram ativos em seu grupo de jovens e freqüentavam regularmente as
reuniões anuais de avivamento, na igreja. Mas não havia ninguém com quem pudessem conversar;
pelo menos eles assim pensavam. Ninguém com quem pudessem compartilhar as suas lutas e seus
temores. E, como muitos adolescentes cujos pais não demonstram muita afeição, as suas emoções
estavam à flor da pele, esperando para serem incendiadas com uma palavra, um toque e por outro
corpo quente. Se uma garota cresceu sendo tocada e abraçada de maneira sadia pelo seu pai, o homem
mais importante de sua vida, ela será menos vulnerável sexualmente diante do primeiro rapaz que
segurar a sua mão.
"Nós dois gostávamos de estar bem juntos", lembrou Douglas. "E, antes de o percebermos,
havíamos desenvolvido uma intimidade sexual que durou o tempo todo em que estivemos no colégio,
até a faculdade. Ela sempre se manifestava, e nós batalhávamos contra ela constantemente. Guardamos
esse segredo durante anos, e ninguém ficou sabendo." Quando perguntei a respeito de sua relação com
a igreja, ele continuou: "Nós dois éramos crentes e membros da igreja, de forma que nos
arrependíamos imediatamente, nos abstínhamos durante algum tempo, depois cedíamos novamente à
tentação. Não tínhamos apoio interior. Conhecíamos toda a ética: os Dez Mandamentos, os 'deveres',
mas isso não era suficiente para nos manter fora da cama. Um sermão ocasional contra a imoralidade
só parecia nos fazer mergulhar ainda mais profundamente em autocondenação e sentimento de culpa.
Não havia ajuda externa; não que ela fosse ou seria rejeitada, mas não se manifestava. Nenhum dos
adultos parecia perceber as lutas que estávamos tendo. Talvez eles se tivessem esquecido de seu
próprio passado ou haviam atravessado a sua adolescência com as suas glândulas desajustadas."
O casamento aconteceu na semana após a colação de grau, e poucas semanas depois Douglas
entrou no seminário evangélico, em New York. O casamento foi a culminação de quatro anos de
noivado, e a realização de um lindo sonho de Sally. Mas foi uma decisão, para Douglas, que
significava o cumprimento de um dever. "Comecei a perceber que estava me casando com ela por
causa de um profundo senso de honra colocado em minha vida por meus pais. Eu sabia que, de certa
forma, havia desonrado essa mulher, eu a havia deflorado, e agora devia casar-me com ela. Embora
estivesse apaixonado por ela, adentramos o casamento com essa maneira de entendê-lo, e ele nunca,
absolutamente, foi para mim uma experiência muito profunda. Contudo, éramos um casal que gostava
de diversão, e fizemos muitas coisas divertidas juntos."
Sally acrescenta: "Mas para mim foi um grande sentimento de paixão, que continuava desde o
ginásio. Eu tinha a minha paixão e o meu amor todos ligados em um pacote, e estava emocionada por
ser esposa de Douglas, e estava esperando ter filhos."
No seminário, o ritmo não diminuiu. Empregos noturnos, para sustentar a família, duas crianças
para criar e muita atividade religiosa. Embora Douglas estivesse estudando para ser pastor e
profundamente envolvido nos negócios da igreja, classes da Escola Bíblica Dominical, atividades do
seminário, segundo ele disse, "não havia em mim nenhuma sensação de intimidade com Cristo, do
Espírito Santo realmente atuando dentro de minha vida". Quando perguntei se ele percebia o vácuo
espiritual, ele exclamou: "Oh, não! Todas as outras pessoas estavam agindo da mesma forma, de modo
que estávamos todos envolvidos com serviço cristão muito bom. De fato, se àquela época me tivesse
perguntado, estou certo que eu lhe teria dito que me sentia realizado em todos os sentidos. Mas o que
pensávamos que era a nuvem da unção de Deus sobre nós era, provavelmente, nada mais do que a
poeira de nossa própria atividade."
Neste ponto, o casamento deles era típico do da maioria dos casais de estudantes. Eles se
aconchegavam e se abraçavam muito, lutando para encontrar o seu caminho. Nenhum dos pais de
ambos havia estabelecido ou modelado um relacionamento afetuoso, que servisse de exemplo para
eles. Eles estavam aprendendo um do outro, e ambos concordam que foi "difícil". Sally diz que tinha
muitas necessidades emocionais, era muito ciumenta e se agarrava a Douglas, procurando segurança.
Ambos estavam em um nível espiritual superficial. Ao redor deles havia se formado uma concha, a
concha de seus primeiros anos juntos, e "nós sobrevivemos devido à experiência física do amor, a
emoção dos filhos, a excitação de estar entrando no ministério".
"Não obstante, o nosso casamento naquela época era bem corriqueiro", lembra Douglas, "as
minhas ambições estavam nada mais do que dormentes. Estava crescendo em mim um desejo
impulsivo de sucesso e poder. O meu único alvo era subir ao topo da escada eclesiástica, tornar-me
pastor de uma grande igreja, a maior do país, e também tornar-me presidente de nossa grande
Denominação. Isso, para mim, seria o sumo do sucesso."
Tudo parecia estar caindo em seus devidos lugares. Parecia que Deus estava sorrindo para eles,
e seguindo o plano deles. O primeiro convite que ele recebeu, logo que saíram do seminário, foi de
uma igreja bem grande, como pastor adjunto. Os móveis deles nem sequer haviam sido arrumados
direito ainda, na casa pastoral, quando a tragédia se abateu — não sobre eles, mas sobre o pastor
principal. Ele teve um sério ataque cardíaco, e foi removido, tornando-se incapacitado. Passara-se
apenas um mês, e já esse agressivo graduado do seminário estava sendo catapultado para a posição de
pastor titular, na idade de vinte e seis anos.
Sentar-se detrás da escrivaninha de pastor titular era uma coisa inebriante para esse jovem
pregador. Ele tinha poder, proeminência e controle; as pessoas estavam se convertendo, a igreja
crescia, mas ele era como um marinheiro novo ao leme de um navio de guerra. Quando se lhe
perguntava se ele era capaz de fazer aquele trabalho, ele confiantemente repetia o chavão, que parecia
espiritual: "Deus e eu podemos fazer qualquer coisa juntos." Mas era uma jactância oca de um homem
oco. Ensoberbecido com o pensamento de que estava no caminho do sucesso, ele começou a fazer
manobras para abrir caminho através dos canais de influência e poder na comunidade. Enquanto
gozava da alegre companhia dos executivos e líderes profissionais da cidade na Associação Cristã de
Moços, no Rotary, no Lions e no Clube local, o seu casamento mantinha-se coeso apenas pela
atividade estonteante que havia ao redor deles. "Eu estava faminto de poder. Queria ser rei. Queria ser
presidente de todas as organizações." Sally estava envolvida com os filhos — tinha chegado outro — e
não entendia a necessidade de Douglas de ser louvado, ou sua luta com um vazio interior crescente. As
palavras dele são reveladoras: "O anseio por amor que eu sentia no fundo do coração era quase canibal
— procurando devorar qualquer pessoa ao meu redor que parecesse disposta a ser consumida." Sally
não entendia isso. Em vez de se aproximarem, para obterem apoio e compreensão, tendo em vista seu
casamento, cada um deles tinha o seu projeto: ele, a igreja, ela, os filhos. As suas necessidades
pessoais continuaram, sem serem reconhecidas ou satisfeitas. Um vácuo. Um ambiente perfeito para
um "caso".
Até para um pastor.
E isso não é surpresa. Os pastores não são menos susceptíveis ao impulso sexual e à paixão do
que qualquer outra pessoa. Se diferença existe, eles são mais susceptíveis. Eles estão expostos a todo
tipo de doença emocional e espiritual. As pessoas que os procuram, pedindo ajuda, estão buscando
amor e simpatia. Alguém que cuide delas. Qualquer pastor, com apenas um toque de compaixão, não
pode deixar de se identificar e sentir com o seu povo que sofre. Não só os pastores, mas qualquer
pessoa que está em uma profissão destinada a ajudar as pessoas enfrenta as mesmas tentações. Há
anos, um pastor contou-me como o seu aconselhamento a uma mulher jovem, em sua igreja, tornou-se
a sua ruína. Enquanto ela chorava lágrimas de alegria, ele a confortou e a abraçou. Dois corpos
quentes se tocaram e se fundiram juntos. O fusível foi ligado. Logo aconteceu a explosão inevitável.
Foi assim que começou o primeiro "caso" de Douglas. Um beijo inocente de uma garota
agradecida pela obra de Deus em sua vida. A motivação dela era pura, mas um fusível foi ligado, que
provocou uma reação em cadeia, e, embora ela e seu jovem pastor fossem ambos inocentes... bem,
deixemos que Douglas conte o caso.
"O pensamento de imoralidade com qualquer uma das senhoras de minha igreja jamais havia
entrado em minha cabeça. Eu achava que estava imune a isso. E então, certa noite, batizei uma jovem
que havia sido uma verdadeira prostituta, mas que então aceitara a Cristo. Depois daquele culto
vespertino de batismo, ela vestiu-se e voltou ao meu gabinete para me agradecer. O cabelo dela ainda
estava úmido da água do batismo. Para minha surpresa, ela lançou os braços ao meu redor e estalou
um beijo na minha boca, e disse: 'Nem sei dizer como me sinto maravilhosa e purificada, agora.'
Aquilo, provavelmente, fora uma espécie de expressão muito natural para ela — bem meiga. Foi tudo
tão espontâneo, e, estou certo, tão puro. Da parte dela não havia nenhum propósito oculto, mas uns
sinos começaram a tanger dentro de mim, e isso abriu toda sorte de desejos. A lembrança daquele
beijo ficou comigo durante vários dias. Eu lembrei o seu sabor e o revivi muitas vezes, e comecei a
sentir que estava no limiar de uma nova aventura — não procurando algo, mas certamente aberto para
uma aventura."
Essa armadilha satânica fora colocada, e ele sentira o cheiro da isca. Já era tarde para seguir o
conselho de John Dryden: "É melhor recusar a isca do que debater-se no laço." E, um mês mais tarde,
apresentou-se a oportunidade para satisfazer o desejo. Se a tentação está esperando à porta, o Diabo
tomará providências para que alguém esteja ali para abrir a porta depressa. E essa porta aberta sempre
parece tão natural, tão coerente, tão predestinada.
Eram quatro horas da tarde, quando a porta foi escancarada, aberta por um "amigo do peito".
"Eu me lembro muito bem como entrei no hospital para visitar a esposa de um de nossos melhores
amigos. Vivíamos a poucos quarteirões de distância, havíamos passado as férias juntos, algumas
vezes, éramos ativos na mesma igreja, e a esposa era especialmente uma íntima amiga de Sally. Elas
faziam muitas coisas juntas, e tinham grande consideração uma pela outra. Quando eu estava me
preparando para sair, ela agarrou a minha mão e disse: 'Você não sabe disso, mas isto está no meu
coração há dois anos. Eu estou profundamente apaixonada por você. Eu o amo de todo o coração.'
Puxa! Foi como uma festa de São João. Tudo começou a explodir dentro de mim e ao meu redor. O
meu coração começou a bater, e as palmas de minhas mãos, a suar, e a minha boca ficou seca, os meus
olhos se dilataram. Mas eu saboreei aquelas primeiras sensações embaraçosas, e saí do hospital
pisando nas nuvens. O resto da tarde foi um quadro psicodélico, e eu estava de volta às sete da noite,
para ouvi-la dizer aquilo de novo, beijá-la e abraçá-la. Nós ambos começamos a viver esperando o dia
em que ela tivesse alta e pudéssemos 'mostrar o nosso amor um ao outro'."
Aquela visita pastoral tornou-se um convite apaixonado que não pôde ser negado. Um impulso
irrefreável incendiou essa "transa" ardente por cerca de dois anos. Durante dois anos eles tinham os
seus sinais secretos na igreja, os seus lugares secretos, onde deixar bilhetes de amor, os seus encontros
secretos. Ansiando por poder, ele agora o tinha sobre outra pessoa, e isso era emocionante. 'E eu
comecei a ter as mesmas sensações que tivera no ginásio, quando Sally e eu começamos a ter as
nossas pequenas intimidades. Aquelas palpitações do coração agora voltavam, e eu disse para mim
mesmo: 'Estou apaixonado.'"
A essa altura, achei que precisava perguntar: "Sally, onde estava você? O que estava
acontecendo lá 'na cozinha'?" Sally continuou a história: "Bem, eu soube imediatamente que algo
estava errado, mas não estava certa do que era. Suspeitei que houvesse algo entre Douglas e Joanne,
mas não sabia até que ponto estava indo nem como lutar contra aquilo. As minhas intuições estavam
captando sinais por toda parte, e as luzes vermelhas piscando. Tentei afastar-me da família de Joanne
— não tivemos mais jantares juntos, não reunimos mais as duas famílias nem tivemos mais férias
juntos — mas Douglas insistia em que continuássemos considerando-os como amigos.
"Mas aconteceu algo de bom", continuou Sally. "Essa situação derrubou Douglas do pedestal
em que eu o tinha colocado. Eu havia pensado que ele não poderia fazer nada de errado; era um
homem de Deus. Na verdade, eu estava confiando mais nele do que confiava em Deus. Assim, esse
problema realmente me fez recuar, voltar para Deus, e o meu relacionamento com Cristo começou a
aprofundar-se, e ele tornou-se mais real para mim."
Durante dois anos as coisas continuaram, mas não como haviam sido antes, isso era impossível.
Algo tinha que ceder. O que é que acontece por detrás das portas fechadas do coração e da mente do
pastor, quando ele se torna hipnotizado pelas suas "maçãs roubadas" e galvanizado pelo seu engano?
Como é que um homem cavalga três cavalos selvagens ao mesmo tempo e conserva o equilíbrio,
quando eles começam a enveredar por direções diferentes? Quais são? Casamento, ministério e
infidelidade. Os chineses têm um provérbio: "Aquele que sacrifica a sua consciência à ambição
queima um quadro para obter as cinzas." O que estava acontecendo com esse quadro tríplice, quando
as chamas da paixão e da ambição continuaram incontroladas? Como um homem conserva a sua
sanidade mental, quando essas forças de seu inferno interior convergem e concorrem?
A essa altura, o casamento estava em dificuldades. Sally sabia ao certo que Douglas estava
dormindo com a sua amiga, e havia brigas diárias. Acusações. Ameaças. "Em público, quando os
rumores a respeito do 'caso' começaram a vazar, eu defendi Douglas. Eu não estava disposta a permitir
que os outros jogassem pedras nele. Eu achava que era algo que nós precisávamos discutir por detrás
de portas fechadas. Eu chegava até a negar o fato diante do povo da igreja, enquanto brigava com ele
constantemente a respeito, em particular. Chegamos à agressão física, algumas vezes, quando ameacei
contar para todo mundo, e abandoná-lo. As crianças tornaram-se as minhas armas contra ele, e, para
chamar a sua atenção, eu dizia a elas, na presença dele: 'Se vocês soubessem quem é seu pai', ou: 'Seu
pai é...' Mas ele somente ficava ainda mais furioso. A minha atitude era abjeta, mas eu estava me
debatendo de dor, de toda forma que conseguia.
"Além do mais, eu estava sempre questionando a conversão dele. Eu não entendia como ele
podia estar envolvido com outra mulher, e ainda ter boas relações com Deus. E não havia ninguém a
quem eu pudesse recorrer. Muitas vezes senti que estava levando essa carga sozinha. Eu me sentia
humilhada, ferida, rejeitada. Mas nunca houve o pensamento ou a ameaça de me divorciar. Nós
havíamos selado isso quando havíamos nos casado, de forma que eu nunca desisti. Certamente
Douglas estava deixando Deus de lado, deixando-me de lado, mas eu sabia que Deus o faria voltar à
razão, embora o processo fosse doloroso, penoso. Eu cria de todo o coração que, enquanto eu fosse
obediente a Deus, ele cuidaria de meu marido.
"Provavelmente, o senhor pode estar tendo interrogações a respeito de nossa vida sexual.
Embora eu usasse tudo contra ele, nunca recusei-lhe o sexo. Sexualmente, eu procurava satisfazer
todas as necessidades dele, e isso foi uma 'tábua de salvação'. Raciocinei que, já que ele estava indo a
outros lugares para se satisfazer, se eu o pudesse satisfazer em casa, afastá-lo-ia desses outros lugares.
Muitas vezes eu chegava a ranger os dentes, mas sabia que seria errado se eu me negasse a ele.
Acrescentar erro ao erro dele não ajudaria. Dois erros não perfazem uma coisa certa."
Qual era a reação de Douglas a isso? "Sally está certa. Embora ela soubesse que eu estivera com
outra mulher naquela manhã, ela nunca se negou a fazer sexo naquela noite. Penso que, se ela se
negasse, me teria feito sair de casa. Mas disse que isso era problema meu, não dela, e ela estava ali
para se dar a mim. Tudo o que tenho, devo a ela."
Mas o que estava acontecendo com a consciência de Douglas? "É claro que todo homem que
comete adultério também mente. Ambos os pecados vicejam lado a lado. No ato de mentir, o
processamento começou a ser muito rápido. Eu precisava manipulá-la, subjugá-la. Diante das
acusações de Sally, eu dizia: 'Você está imaginando coisas. Há algo errado com você. Pessoas normais
não são ciumentas assim.' Eu tentava convencê-la de que ela estava desequilibrada emocionalmente.
Que, na verdade, ela estava louca.
"E havia aquele terrível conflito interior. Eu achava que amava ambas. Algumas vezes, durante
a noite, eu sonhava. O que aconteceria se eu tivesse que escolher uma das duas? As duas estão no
carro, o carro pegou fogo, e eu posso tirar só uma delas. Qual delas vou escolher? Ah, se minha esposa
morresse! Embora eu não expressasse esse desejo audivelmente, esse desejo de morte tornou-se tão
forte que foi transferido espiritualmente para Sally. E ela começou a desejar morrer. Eu literalmente
colocara esse desejo no espírito dela. Intuitivamente. O pecado sempre acaba em morte, propriamente
dita, ou em se desejá-la. Ele começa como uma coisa pequena, uma brincadeira, mas termina com
você tendo realmente a vontade de que a sua esposa morra."
E o ministério de Douglas? Será que ele tinha problema em pecar sábado à noite e pregar o
evangelho no domingo de manhã? Outro pastor que conheço tornou-se mais legalista e reprovador, em
suas pregações, para afastar as atenções de seus próprios pecados. Douglas respondeu: "Tornei-me
endurecido. A obsessão impulsiva dentro de mim era continuar aquele 'caso', não importava como, e
eu nunca parei para analisar as coisas loucas, estúpidas, que eu estava fazendo. Não havia nenhuma
luta semanal antes de subir ao púlpito, pensando como eu podia fazer aquilo. Eu estava totalmente
cego. Havia tanta cegueira e engano que eu conseguia justificar o que estava fazendo. De fato, eu
pregava melhor quando tinha estado com Joanne na noite de sábado. Mas eu restringia a minha
pregação. Eu não diria, do púlpito, que o adultério é pecado. Eu rodeava o assunto. Eu tinha muito
cuidado, ao atacar os mentirosos. Tudo soava correto, mas eu chegava até a beira e voltava atrás, para
não chegar a condenar a mim mesmo no processo. Mas ninguém jamais podia dizer que eu não estava
sendo bíblico.
"E as pessoas estavam sendo salvas. Casamentos sendo restaurados. Eu ainda fico perplexo com
isto, porque os meus estudos teológicos diziam que Deus não pode usar pessoas nessas condições. E a
minha lógica diz que não há maneira de se colocar essas duas coisas juntas. Mas eu era como aqueles
leões de pedra, com água saindo de suas bocas. O poder de Deus estava operando através de mim, mas
não estava operando em mim."
Mas o tempo de Deus finalmente chegou, pelo menos o começo dele. A estratégia dele com
cada pessoa é diferente, mas os princípios são os mesmos. Um por um, ele remove as escoras, e nos
deixa expostos, até que possa obter a nossa atenção. Algumas vezes é uma abordagem direta,
sobrepujante. Outras vezes, começa com uma pobreza interior. Mas ele está decidido a completar a
obra que começou em nós, não importa quantos obstáculos o nosso orgulho coloque no caminho. Ele
nos levará de volta ao caminho real, não importa quantos coelhos estejamos caçando. A sua própria
maneira e no seu tempo certo, ele põe os desprezíveis para fora do céu.
Com Douglas começou durante os feriados de Natal e Ano-novo. Ele havia mandado a família
passá-los com os parentes no Estado de Michigan, e decidira passar a melhor parte da semana sozinho
na casa pastoral. "Na véspera do Ano-novo, eu me lembro que me sentei em casa sozinho, ninguém
mais estava na casa, e, ajoelhando-me ao lado de uma cadeira, comecei a chorar. Sem saber por quê.
Eu nunca tivera uma explosão emocional como aquela. Repentinamente senti que estava vazio por
dentro, e não o havia percebido. Eu não sabia mais como orar. Lembro-me de ter ficado sentado ali,
tentando orar por Sally, as crianças e Joanne, mas nada saía. Deus ausentara-se. Era a primeira
experiência que eu tinha de meu tremendo vazio espiritual. A única coisa que conseguia fazer era
apenas chorar, soluçar e dizer: 'O que há de errado comigo?' E: 'Õ Deus, ajuda-me!' Eu não estava
disposto a dizer especificamente: 'Remove isto de mim.' Eu não conseguia pedir isso. Tudo o que
podia dizer era: 'Ajuda-me.'
"No mês seguinte, percebi que tudo estava se despedaçando dentro de mim. De fato, comecei a
duvidar que conseguisse continuar no ministério. A convicção de pecado começou a aumentar —
profunda convicção de que eu era uma fraude e que a situação ao meu redor estava se deteriorando. A
minha amante estava começando a fazer exigências inusitadas, que eu não podia cumprir. Ela me
telefonava, para saber se eu fizera sexo com minha esposa na noite anterior. Eu não podia suportar
isso. Era um ciúme extremo. Ela queria tudo de mim, o que é, sem dúvida, a inclinação natural da
mulher. Eu podia suportar uma esposa e uma amante, mas não podia suportar duas esposas. Isto estava
muito além de minhas forças, e eu estava sendo esmagado no meio da situação.
"Na manhã do domingo seguinte havia culto. Fui para o templo bem cedo, cerca de sete e meia,
para repassar o meu sermão e me preparar para os cultos daquele dia. Ao entrar no santuário, ouvi o
órgão e me assentei no último banco. Nossa organista, uma moça solteira de cerca de vinte e sete anos,
estava praticando as músicas para o culto matutino. Não havia ninguém mais no templo. Ao ouvir a
música, comecei a chorar novamente, incontrolavelmente. Quando me levantei e fui descendo pelo
corredor, ela notou que eu estava realmente perturbado, e me disse: 'O que é que eu posso fazer? Sei
que algo está errado.' De repente percebi que ela sabia que eu estava arrasado, e, provavelmente, sabia
a razão. Comecei a sentir que talvez muitas outras pessoas também o soubessem.
"Ela foi comigo ao meu gabinete e, antes de o perceber, eu, por assim dizer, vomitei para ela o
que não dissera para ninguém mais. E solucei: 'Esta coisa com Joanne está me matando.' 'Sim, eu sei',
disse ela, demonstrando simpatia. De repente eu me descobri nos braços dela, e ela estava me
acalmando e acariciando e dizendo: 'Eu compreendo.' E, daquele momento em diante, o caso com
Joanne acabou. Aquele episódio terminou com tudo. Eu nunca mais voltei para ela. Senti, em minha
mente, que fora libertado daquele laço, e transferi tudo para a organista. Tirei dali e coloquei aqui.
Caso número dois."
"Ciúme é o inferno do amante injuriado", escreveu John Milton — "e cruel como a sepultura",
acrescenta Salomão. Joanne, agora repudiada, decidiu que, se ela não conseguia ter o pastor para si,
nenhuma outra mulher o teria. O telefone de Sally começou a tocar o dia inteiro: chamados anônimos
várias vezes por dia: "Com quem o seu marido está fazendo sexo esta noite?" As crianças recebiam
telefonemas de uma voz de mulher disfarçada, que dizia: "Você sabe com quem o seu pai está
dormindo?"
Em minha entrevista com Douglas, agora um maduro homem de Deus, notei várias vezes que
ele sobressaltou-se, incredulamente, ao perceber o quanto fora estúpido, louco. Eu não pude deixar de
perguntar: "Quais são os elementos desses casos? O que você acha que essas mulheres lhe deram, que
a sua esposa não lhe propiciava em casa? Riso, surpresas, presentes, apreciação, edificação de seu
ego?"
"Allan, eu não sei. Eu já pensei nisso. A minha esposa me amava muito, e é claro que essas duas
mulheres diziam que elas também me amavam. Penso que era a emoção de experiências diferentes."
"Como maçãs roubadas?"
"Sim, estou certo de que eram maçãs roubadas. A grama do vizinho parece ser mais verde. A
coisa proibida. Quando era menino, eu costumava esconder-me atrás da casa para fumar, porque os
meus pais não queriam que eu fumasse. E eu achava que era errado fumar na presença deles. Os meus
pais, piedosos como eram, estabeleceram padrões muito elevados para mim. É por isso que nunca
pensei em divórcio. Eu podia mentir, enganar, cometer adultério, mas não podia pensar em divórcio,
porque o divórcio é contra a vontade de Deus. A minha estrutura moral e ética era uma superestrutura.
Eu não estava embutido nela — era um estranho nela, de forma que estava constantemente tentando
abrir caminho para sair daquela prisão. Só muito mais tarde a moralidade tornou-se parte integrante de
mim."
Mas os esforços ciumentos de Joanne estavam começando a fazer efeito. As suas acusações
tornaram-se cada vez mais públicas, até que exerceu-se uma pressão crescente do povo, começando a
dizer que o pastor e a organista estavam tendo um "caso". Mas ninguém podia provar nada. Por
enquanto.
Confiantemente, mas estupidamente, Douglas estava agindo com essa moça como agira com
Joanne. O mesmo padrão de bilhetinhos de amor, nos mesmos lugares. Mas um bilhete, com os
dizeres: "Eu te amo", deixado sobre o teclado do órgão, nunca chegou às mãos da organista. Acabou
nas mãos de um diácono. Evidência "preto no branco". Os cães de caça do céu haviam alcançado o seu
fugitivo.
Os diáconos exigiram uma renúncia imediata. Incapaz de manipular a estrutura política da igreja
ainda mais, Douglas estava numa armadilha. Duas vezes antes, ele havia conseguido enganar o
conselho da igreja, e obtido um voto de confiança. Sair voluntariamente teria sido uma admissão da
culpa. Teria significado também deixar para trás um relacionamento em que ele se revelara com o
mesmo grau de intensidade que um alcoólatra se apega à sua garrafa. Agora ele estava sendo
completamente desmascarado. As suas entranhas estavam se agitando violentamente. Desesperada-
mente, ele tentou mostrar uma fachada de falsa confiança. Porém ela começou a se desfazer quando
lhe pediram para sair da reunião e esperar do lado de fora, enquanto eles discutiam o assunto.
"Em vez de pelo menos simular uma saída tranqüila, eu me assustei. Fugi. Tropecei pelo
santuário escuro, e me ajoelhei, chorando de medo e confusão. De volta à sala de reunião, os homens
estavam decidindo o meu destino. Na sala ao lado, havia um pequeno escritório. Telefonei para Sally:
'Venha me buscar. Não posso agüentar mais isto.' Desliguei e, com tal vergonha que quase me levou a
um estado de choque, encarei a hediondez de tudo aquilo, e fugi a esmo, por um lance de escadas
iluminado apenas pela luz vermelha das letras que diziam: 'Saída'.
"Sally me encontrou, o pastor do rebanho, encurvado, em posição fetal, em um corredor do
porão, amontoado contra a escadaria. 'Seria melhor para você, para as crianças, para esta igreja, se eu
estivesse morto', solucei.
"Ela me consolou. Ela me acalmou. Ela nunca perguntou os detalhes. Não havia necessidade.
Ela me levou pela mão através dos corredores escuros da casa de Deus até o nosso carro, estacionado
debaixo da janela iluminada da sala de conferências. Na época eu não o percebi, mas aqueles homens
eram servos de Deus, enviados, pelo Espírito Santo, para realizar a desagradável tarefa de sacudir um
homem de Deus, até que só o que fosse inabalável permanecesse.
"Naquela noite eu me encaminhei até o jardim de nossa bela casa pastoral. De pé sob o céu de
outono, olhei para os céus e gritei: 'Leva-me! Leva-me agora! Depressa!' Em um movimento
desesperado, agarrei a camisa e a puxei num repelão, abrindo-a ao peito, arrancando os botões
juntamente com a bainha, expondo o meu peito nu aos céus, aguardando o relâmpago que eu esperava
que viesse e me abrisse ao meio, levando-me para o inferno — lugar ao qual pertencia.
"Mas não houve o relampejar do raio, pois o fogo purificador já começara a queimar. Além
disso, Deus não pune o pecado da maneira como nós o punimos. Da mesma forma como os
fazendeiros, muitas vezes, queimam um pasto, para matar as ervas daninhas, de forma que a grama
nova possa brotar, assim também o fogo consumidor de Deus queima a escória, sem consumir o
pecador."
Seguiram-se a revelação dos fatos e a resignação. A igreja lhes deu três meses de salário, três
meses na casa pastoral, mas só até a sexta-feira seguinte para desocupar o gabinete pastoral, com a
clara advertência de que eles nunca mais seriam bem-vindos àquela igreja, em qualquer tempo. Os
líderes da igreja mal souberam como resolver a situação. Através de todo o estado, toda a região, as
más línguas depressa levaram aquelas tristes notícias para pastores e líderes denominacionais.
Douglas procurou desesperadamente os seus amigos, só para descobrir que todos se afastavam
dele. Ele era imundo, um leproso. Noventa e duas cartas foram escritas para amigos influentes,
dizendo: "Estou sem igreja. Preciso de ajuda." Só um se incomodou em responder. Talvez esses
homens soubessem o que Deus sabia — e, provavelmente, Douglas também — que ele não estava
pronto para outra igreja. Pois, a despeito do quebrantamento, da rejeição e do fracasso, por dentro, na
verdade, ele ainda não estava diferente. Só a etiqueta exterior havia mudado, na mesma garrafa vazia.
Ele ainda era o magnificente manipulador, o mestre em controlar, o defensor de sua posição. Ele ainda
estava procurando manejar as pessoas, ainda era mais um político do que um homem de Deus.
Uma igreja pequena, mas em crescimento, abriu-se em Ohio — a única disponível. Mas, a fim
de conseguir a igreja, Douglas mentiu a respeito das razões de sua exoneração. Depois de se mudarem,
Sally dedicava-se às crianças em casa, enquanto Douglas continuava os seus contatos com a organista,
agora em outro estado, pois ela também fora despedida simultaneamente com ele. Havia
correspondência, telefonemas, uma caixa postal particular, encontros clandestinos. Viagens a outras
cidades, a serviço da igreja, sempre incluíam uma parada secreta, mas que não era secreta para Sally.
Ela tornara-se uma boa detetive, descobrindo os chamados nas contas de telefone, os bilhetes e recibos
de motéis. "Toda vez que ele saía para fazer uma viagem", lembra Sally, "eu sabia que ele ia ve-la. Eu
o podia até perceber pela maneira como ele agia. Muitas vezes eu disse a ele que podia suportar
melhor a verdade do que as suas mentiras. De qualquer forma, eu iria descobrir, e isso era mais
doloroso do que se ele simplesmente me contasse a verdade logo do princípio."
Logo rumores do passado começaram a se infiltrar até Ohio — rumores de adultério, de
manipulação, de mentira. E os sentimentos de Douglas? "Eu continuava a lutar, a arrostar
corajosamente o ataque violento e crescente de fatos que continuavam a se amontoar contra mim. A
velha ressaca exercia sucção contra as minhas entranhas, e eu sentia que estava para ser varrido de
volta para o mar.
"A crise explodiu certa manhã de domingo, quando subi ao púlpito para pregar. No púlpito
havia uma petição, para eu renunciar. Era assinada por trezentas e cinqüenta pessoas, muitas das quais
estavam assentadas sorridentes na congregação. Um grupo de homens havia contratado um detetive
particular e examinado o meu passado. O relatório do detetive — quarenta e sete páginas de fatos
terrivelmente distorcidos — havia sido fotocopiado e distribuído a toda a congregação. Os diáconos
exigiram que eu fosse submetido a um teste com o detector de mentiras. Embora eu tivesse passado
nesse teste, isso não foi o suficiente. Fui despedido. Não tive escolha, a não ser esgueirar-me
envergonhado outra vez para casa, e abraçar-me com minha esposa e filhos, enquanto o fogo de Deus
continuava a sua obra purificadora."
Havia um pequeno grupo de pessoas que deixou a igreja com ele, ainda crendo nele, e eles
começaram a reunir-se como uma congregação pequena, lutando para sobreviver, em uma loja.
Despojado de tudo o que, para conseguir, ele pisara sobre muitas pessoas — poder, controle,
reconhecimento — Douglas agora tinha tempo para pensar. Com trinta e cinco anos de idade, ele era
um homem arrasado, com sonhos arrasados e anos de fracasso atrás dele e ao redor dele. Durante
meses ele havia flutuado com a maré, açoitado por todas as circunstâncias que se apresentaram. Vazio,
sem objetivos, mas de certa forma ainda determinado a abrir os seus próprios caminhos.
Mas o começo de uma mudança de cento e oitenta graus foi uma reunião "casual" com um
estranho que se tornara seu amigo. Esse amigo lhe compartilhara uma profunda experiência espiritual
— algumas das grandes coisas que Deus fizera por ele — e convidara Douglas a participar de uma
conferência, com ele, em Chicago. Conferências eram coisas costumeiras para ele, mas aquela devia
ser a experiência de sua vida. Todos os seus outros encontros durante os últimos anos ele havia
preparado pessoalmente e procurado infatigavelmente. Este encontro foi preparado por Deus. Douglas
não tinha idéia do que o esperava, à sua família e ao seu futuro, quando atravessou o vestíbulo daquele
hotel, e entrou no salão de convenções, onde estava se realizando a conferência.
Sendo um visitante, sem responsabilidades determinadas naquela reunião, Douglas ficou
observando o povo, enquanto este entrava para as reuniões. Ele sentiu o seu deleite e excitação de tão-
somente estarem ali. Havia reuniões com diferentes oradores, o dia inteiro, para vários grupos: uma
refeição variegada de oportunidades espirituais de ensino, inspiração e comunhão. Contatos pessoais,
no intervalo entre as reuniões, à mesa de refeições e nos corredores, fizeram Douglas entrar em
contato frontal com pessoas cujas vidas haviam sido radicalmente e lindamente mudadas por Deus.
Tudo isso começou a se focalizar em um vazio interior que estava no centro do ser de Douglas, que
havia sido cercado pela sua criação religiosa, seu treinamento, suas atividades. Esta sensação de vazio
só aumentou a sua luta, enquanto ele se assentou para assistir à última reunião vespertina. Sem
nenhuma intenção de se envolver pessoalmente ou de responder ao apelo público do orador de ir à
frente para orar, ele colocou a cabeça nas costas do assento que ficava à sua frente.
De repente, sem aviso prévio, ele começou a chorar incontrolavelmente — a chorar tanto que
com dificuldade conseguia respirar. Era como se todas as represas interiores tivessem se rompido, e
ele estava sendo inundado de dentro para fora. Sentiu o braço de um amigo ao redor dele, e ouviu a
sua voz orando por ele. Até essa hora, Douglas sempre se preocupara com a opinião pública, a sua
imagem pública. Anteriormente, as lágrimas eram derramadas em particular. Ninguém sabia, ninguém
as via. Agora ele estava soluçando convulsivamente, com gente a toda sua volta. Fora posto a
descoberto. Não era mais capaz de controlar ou manipular as suas emoções, visando aos seus próprios
interesses.
Aquela intensa agitação emocional colocou em posição diametralmente oposta o único ponto de
todo conflito de sua vida: o medo. "Eu sabia que, se eu me abrisse, Deus iria tirar de mim todas as
coisas que eu considerava preciosas, deixando-me à sua mercê, não agüentava lutar mais,
Pela primeira vez lia VM » T
A luz fora acesa em meu abismo negro.
"Quando voltei ao meu quarto, no hotel, era meia-noite. A primeira coisa que desejei fazer foi
telefonar para Sally, acordá-la e contar-lhe as boas-novas. Eu disse: 'Eu precisava telefonar para você e
dizer-lhe como a amo do fundo do coração.' E chorei novamente. Desta vez, uma espécie diferente de
lágrimas. Limpas. Refrescantes,"
Qual foi a reação de Sally ao telefonema de Douglas, e que significado teve? Sem dúvida, ela
pensou que ele estava visitando a sua amante enquanto assistia à conferência. "Sim, mas quando ele
telefonou, chorando à meia-noite, para me dizer que me amava, percebi que algo havia se rompido
dentro dele. Ele nunca demonstrara emoções, como o choro, antes disso — pelo menos não em minha
presença. E então, é claro que eu também comecei a chorar. Ele nem conseguia explicar o que lhe
acontecera, mas o resto daquela maravilhosa noite de vigília fiquei pensando se esta finalmente não
seria a resposta às minhas orações."
No dia seguinte, Douglas pegou um avião diretamente para casa, desta vez com um desejo novo
e dominador: contar a Sally toda a história — tudo a respeito de seu encontro com Deus e tudo acerca
de seus dois "casos". Deitados juntos na cama, ele começou uma confissão que durou a maior parte
daquela noite de domingo. "Abri o coração acerca de tudo o que havia feito, tudo o que estava fazendo
e tudo o que havia planejado fazer nos próximos dias — porque eu tinha um encontro marcado no dia
seguinte em outra cidade. Expus tudo. As mentiras, o engano. Apesar de ela chorar, suportou-o
extremamente bem. Ela nunca exigiu detalhes, embora eu estivesse preparado para lhe contar todos os
detalhes, tudo o que ela pedisse. Foi uma grande catarse, apesar de muito dolorosa para Sally, e
especialmente dolorosa para mim.
"Todavia, pela primeira vez em minha vida, percebi que, se as nossas vidas e o nosso casamento
deviam ser salvos, teria que ser através da sinceridade. A única maneira de eu o poder fazer era
desarmando-me e dando a ela o pino percussor da granada e dizendo: 'Segure-o. Você pode me
explodir a qualquer momento, se quiser, mas precisa saber tudo a meu respeito.' Tomei a decisão de
nunca mais deixar que algo se interpusesse entre nosso relacionamento que eu não pudesse
compartilhar com ela. Fosse o que fosse."
Perdão! Esta palavra é linda e é fácil pronunciá-la. Mas como é que você esquece anos de
engano e devastação? Este era D problema de Sally. A confissão de Douglas foi como o nascimento do
sol depois de sete anos de noite. Como é que você se acostuma com a luz, quando ela começa a revelar
algo a respeito de você mesmo? O perdão se completa em um momento, mas, e a cura, leva mais
tempo? O ato de perdoar restaura a confiança automaticamente? E que dizer das cicatrizes?
Voltei-me para Sally, sentada em uma cadeira ao meu lado, e notei a paz e a serenidade
expressas em sua fisionomia. Ela era uma mulher encantadora, agora com quase cinqüenta aros. "É
claro que eu estava me regozijando", comentou ela, pensativamente. "Mas estava um pouco temerosa
ao mesmo tempo. Aquilo iria durar? Eu já me sentira desapontada tantas vezes, que hesitava em me
permitir crer totalmente que todo aquele pesadelo acabara. Eu não podia relaxar completamente. A
medida que o tempo passou, Deus começou a revelar-me as minhas atitudes de justiça própria. Eu
ainda estava julgando o meu marido de maneira crítica e sentindo pena de mim mesma, e comecei a
querer possuí-lo, controlá-lo. Se eu tão-somente pudesse agarrá-lo, não deixá-lo sair de minhas garras,
ele não cometeria mais erros. Essa possessividade também me fez tentar modificá-lo, para que não
tivéssemos mais problemas. Finalmente percebi que, se Deus havia começado essa obra nova em
Douglas, também só ele poderia continuá-la e completá-la. Assim, reunindo toda a minha força de
vontade, entreguei-o totalmente a Deus — eu o liberei. 'Ele é teu... Ele realmente não pertence a mim.'
E foi então que a verdadeira cura começou a acontecer."
Do outro lado da sala estava Douglas; olhei para ele — agora, dificilmente se diria que era o
retrato do homem que acabara de me descrever. Como eu, com uns poucos quilos além do peso ideal,
ele tem uma fisionomia agradável, com um sorriso fácil, traços animados, mente rápida. "Qual foi o
ponto central de SUA. experiência?" — perguntei. "O que realmente surgiu da experiência purificadora
e saneadora que você teve com Deus? Certamente ela afetou as suas emoções, mas como ela mudou a
sua atitude, as suas ações?"
A resposta dele foi clara, limpa. "Fui levado em direção à verdade — verdade para com minha
esposa, verdade para com Deus. Imediatamente depois daquela experiência decidi que passaria o resto
de minha vida sendo honesto. Eu sabia o que o fingimento nos custara. Perdoe-me a expressão, mas
nós dois havíamos apanhado como o Diabo. Assim, ser honestos, na verdade, não nos custou nada. E
também uma nova apreciação por minha esposa começou a se desenvolver. Passei a vê-la sob uma
nova luz. Eu não só descobri que ela é uma comigo em seu relacionamento com Deus, e igual a mim
em sua inteligência e caracterização emocional, mas que em muitas áreas excede muito a mim no que
faço. Ela algumas vezes ouve Deus muito melhor do que eu. Também notei que desejava colocar o
meu braço ao redor dela em público, e segurar a mão dela, o que não era meu costume. Uma outra
coisa: comecei a ver a diferença entre amor e paixão. Os sentimentos que vêm da paixão, eu não posso
controlar. Mas posso controlar a maneira como expressarei esses sentimentos em ações. Posso
controlar para quem vou telefonar. Para quem vou escrever. Posso controlar quem vou ver, quando
vou ver essa pessoa e com quem irei. Aprendi que amor é um ato, e que preciso começar a trabalhar
nesse sentido — que os meus sentimentos devem ser colocados sob o controle de meus atos."
Faz quinze anos, agora, que o casamento de Douglas e Sally ressuscitou dentre os mortos. A sua
casa espaçosa tornou-se uma Betel — uma casa de Deus — onde eles agora têm um ministério que
tem alcançado outros casais atingidos pela fratura de um "caso" e que estão lutando com a dor que ele
causou. Eles suportaram essa dor pessoalmente. Eles a podem compreender, mostrar simpatia. Eles
atravessaram o sofrimento excruciante causado pelas feridas auto-infligidas. Agora podem aconselhar
com compaixão e certeza. Quando tão-somente um casal pode descobrir, através deles, que há
esperança e cura, eles sentem que a experiência que sofreram não foi em vão.
Enquanto os dois falavam com tanta sinceridade e franqueza a respeito de seus fracassos e da
restauração de seu casamento, o meu coração sentiu-se aquecido e estimulado. Desejei que outros
casais problemáticos que conheço pudessem enfrentar os seus problemas com tanto sucesso. Levantei-
me do sofá confortável, e preparei-me para ir embora. A filha mais nova entrou — uma bela jovem de
dezenove anos. Um netinho veio engatinhando na direção deles. Outros netos, que vivem perto,
brincavam no quintal. Era uma cena tranqüila. Senti pena de ter de ir embora, mas o meu avião não
iria esperar.
Mas eu tinha mais uma pergunta para ambos. "Que lições profundas foram gravadas em suas
almas, com todos esses problemas, e como é que vocês tratam os ecos do passado?"
Sally falou primeiro: "Antes de tudo, uma palavra acerca do perdão. É fácil perdoar alguém
quando você realmente o ama. Esta foi a única razão por que consegui continuar perdoando Douglas
durante todos aqueles anos. Perdão não é apenas algo que você faz. É algo que você é. Não se constitui
de palavras que saem de minha boca, dizendo: 'Eu te perdôo.' É a maneira como uma pessoa vive. Não
deixando a vingança para uma hora mais propícia. É apagar completamente a lousa.
"E, também, o divórcio nunca foi uma opção. Olhando para o passado, fico contente por
ninguém ter aparecido, aconselhando-me a me divorciar. Se eu tivesse sido maltratada fisicamente,
separação ou divórcio poderiam ser necessários, para a minha proteção. Eu sei que tinha todos os
direitos legais e morais de me divorciar, mas preferi permanecer com ele. Vejo toda a mensagem da
cruz nos chamando para permanecer no relacionamento matrimonial e morrer para o eu ali. De que
outra forma a vida nova jorrará em seu cônjuge, a não ser que você esteja disposta a 'morrer'?
"Finalmente, a cura não acontece da noite para o dia. Mas sempre começa com a veracidade —
por dolorosa que seja. Ela leva muito tempo, mas melhora cada dia. As cicatrizes ainda estão lá dentro,
mas o tempo é um fator curador. Eu me focalizo nas experiências felizes de nossos anos recentes, em
vez de nas más recordações do passado tenebroso. Quando um eco do passado repercute, agora
podemos enfrentá-lo juntos, com toda a franqueza. Por que creio que o casamento é para sempre, Deus
me capacitou a me firmar, e agora ele nos abençoou além de nossa imaginação."
Douglas concluiu: "Estou convencido de que uma união mística realmente existe no casamento.
Nós nos tornamos um. Não somos mais duas pessoas vivendo na mesma casa, dois corpos dormindo
no mesmo leito. Em nossos espíritos aconteceu algo que nos tornou um. Esta unidade do casamento
tem como condição necessária o fato de cada cônjuge ter total acesso a tudo que está acontecendo no
outro. Isto não significa dragar todo o passado, e revelar tudo o que aconteceu antes do casamento.
Mas significa viver agora, em nosso relacionamento, com total franqueza. Aconselho os casais da
forma que desejaria que alguém nos tivesse ensinado quando começamos. Façam um contrato de que,
não importa como doa, vocês dois compartilharão todos os sentimentos que tiverem. Não só fatos, mas
também sentimentos, porque os sentimentos são sempre as coisas que nos levam aos fatos. Na
verdade, não somos responsáveis por nossos sentimentos, mas pela maneira como os expressamos e
colocamos em ação.
"Sally e eu temos posto em prática deliberadamente este conceito da verdade. A coisa que
destrói o casamento é a mentira. O adultério sozinho não destruirá, necessariamente, o casamento; é a
mentira. Fomos capazes de resolver o problema do adultério quando o trouxemos à luz. Todo homem
tem defeitos e pecados. Só quando você o conserva no escuro é que o pecado cresce e se multiplica. Se
ele não é trazido à luz, não há esperança para ele. No começo, eu não queria trazê-lo à luz, porque não
queria ajuda. Agora quero ajuda. Assim, se for tentado a pecar, quero que a coisa seja exposta
imediatamente e isto significa que preciso incluir minha esposa. Pertencemos a um grupo de mais
outros quatro casais, com os quais fizemos um contrato de compartilhar e apoiar uns aos outros.
"E também, lembre-se daquele preceito que foi mencionado ligeiramente acima, a respeito de
amor e confiança. Minha esposa o percebeu antes de mim, porque ela achava difícil confiar em mim.
Na verdade, não somos chamados para confiar uns nos outros. Não há ninguém em quem se possa
confiar totalmente. Todas as pessoas são capazes de me decepcionar ou trair, e eu sou capaz de trair os
outros. Somos chamados para confiar naquele que nunca nos trairá, nunca nos decepcionará. Mas
somos chamados também para amarmos uns aos outros. Se o nosso relacionamento for baseado na
confiança, então no momento em que essa confiança for traída, o relacionamento estará destruído.
Assim, confio em Deus e amo minha esposa. Ela confia em Deus e me ama. E, se ela me decepcionar,
vou continuar a amá-la de qualquer forma, porque é a isso que estou dedicado. O amor de Sally
continuou a manifestar-se a mim, preenchendo a brecha que eu constantemente criava, mediante o
meu adultério. Ela estava sempre indo ao meu encontro.
A distância entre nós continuou a mesma, porque ela continuou iniciando, tendo a iniciativa de
me amar. O seu amor, que não me condenava, é a coisa que cobriu uma multidão de pecados.
"Deixe-me também acrescentar algo à palavra de Sally a respeito do perdão. Temos a tendência
de querer perdão instantâneo um do outro. Só Deus pode propiciar isso. Quando digo à minha esposa
que o assunto acabou, quero que ela nunca mais o aborde outra vez, por que acho que ela deve fazer
como Deus faz — apagá-lo para sempre da memória dela. Porém ela não é igual a Deus, Ela opera na
dimensão do tempo, enquanto Deus opera na dimensão da eternidade. Descobrimos que tempo e
paciência são necessários para que o perdão amadureça em cada um de nós, de forma que muitas vezes
precisamos esperar um pelo outro, enquanto ele se desenvolve.
"Finalmente, sei que o fracasso não é nem fatal nem final. Deus é um Deus restaurador, que nos
levanta de onde estamos e nos propicia um novo começo. Eu estava numa verdadeira fossa. Posso
dizer-lhe exatamente como ela é, como cheira mal e o que sai dela. Sei o que os 'casos' fazem ao seu
cônjuge e aos seus filhos, se você continua nesse caminho. Mas Sally e eu somos testemunhos vivos
de que não importa o quanto seja tenebrosa a situação em qualquer casamento, no momento, ou
quantas nuvens negras estejam pairando sobre você por causa de fracassos passados, Deus pode
perdoar completamente. Os campos que foram consumidos pelos gafanhotos são restaurados com
belas colheitas."
Nessas circunstâncias tenebrosas, não conheço nada melhor do que esta certeza.

CAPÍTULO 9
Torne Seu Casamento Invulnerável a
"Casos"
Não há salvaguarda melhor contra a infidelidade do que um casamento vital, interessante.
Dr. Norman M. Lobenz
EM UMA viagem ao Alaska, Evelyn e eu ganhamos umas férias de uma semana, com todas as
despesas pagas, no fabuloso Parque Nacional de Monte Mc-Kinley. Voamos para o parque em um
pequeno avião, sobre profundos vales entre montanhas, bonitos lagos e entre picos magnificentes. Que
cenário maravilhoso! Em seguida transferimo-nos para um ônibus de turismo, para a viagem de cinco
horas através das montanhas, até o remoto Camp Denali, com o nosso hospedeiro, Wally Cole.
Como acontece às crianças, em sua primeira viagem à Disneylândia, tudo para nós era motivo
para admiração. Era o paraíso dos fotógrafos. Ursos pardos, caribus, alces, ovelhas selvagens, pássaros
raros — vimos todos eles. E o ponto culminante da América do Norte, o Monte McKinley, era
espetacular, solene, majestoso, imponente!
Mas, nessa viagem inesquecível, havia também muitos sinais comuns, ao longo do caminho,
sinais de advertência: Cuidado com Rochas Soltas. Não Saia da Estrada. Não Acampar Aqui. E
também sinais indicadores: Parada Panorâmica de Descanso. Estação Científica. Monumento
Histórico.
O casamento é assim — uma viagem longa e memorável. E ele torna-se mais significativo
quando você presta bem atenção aos sinais. E mais seguro — seguro de um "caso" de infidelidade
conjugal. Primeiramente, vejamos os sinais de advertência.
NÃO COMPARE O INCOMPARÂVEL
Não há dois casamentos iguais, de forma alguma. Portanto, compará-los é uma atitude negativa,
produzindo resultados negativos. Se você comparar o seu casamento com muitos outros ao seu redor,
que estão se desmoronando ou são apenas concurso de resistência, ficará desanimado, sentir-se-á fora
de sincronismo com os tempos atuais. Ou se tornará complacente, pensando que não tem por que se
preocupar. Se você se focalizar em casamentos que acha que realmente tiveram sucesso, você se
menosprezará, ampliará as suas próprias incapacidades e irá desesperar. Você nunca poderá alcançar o
padrão.
A verdade é que não existe casamento-padrão. As comparações são como uma porta giratória,
que não leva a gente a lugar nenhum. Você fica dando voltas, e termina no mesmo lugar. Você só
confirma a sua convicção de que seu casamento é de segunda classe, ou aumenta o seu temor de que
não conseguirá ter um casamento de primeira classe. Estas duas atitudes matam a iniciativa pessoal,
que é necessária para se obter êxito no casamento. Não nos admiremos de a Bíblia dizer: "Os que se
comparam entre si não são sábios."
O seu casamento é único — e, por isso, incomparável. Você não compara um Volkswagem com
um Mercedes Benz, embora ambos sejam automóveis, e ambos possam levar você aonde você quiser
ir. Tudo a respeito desses dois carros é diferente, embora ambos tenham as mesmas peças essenciais e
operem segundo o mesmo princípio básico. As personalidades e temperamentos dos cônjuges, as
características herdadas das famílias, as oportunidades, a instrução e a experiência — tudo isso difere
amplamente em cada situação. É fácil imaginar que outros casamentos são muito melhores do que o
seu, mas, na verdade, você não sabe a verdadeira situação do casamento de ninguém. A comparação
de seu casamento com o de qualquer outra pessoa jamais pode ser válida ou positiva. As sementes do
sucesso no casamento já se encontram em seu casamento. Você precisa regá-las e fertilizá-las.
O seu cônjuge é especial. Você não precisa de um outro cônjuge. Entre vocês, ambos têm os
recursos para edificar i.m grande relacionamento, se realmente estiverem empenhados nisso. Ninguém
mais tem o mesmo potencial que vocês têm — a combinação especial de forças e doçura que Deus
lhes deu. Todos os elementos para um casamento que satisfaça já estão aí, se você quiser usá-los. Você
não precisa de um novo emprego, uma nova amante, lá fora, ou de uma cirurgia plástica. Tudo está
bem ao seu alcance, se cada um de vocês dois assumir uma nova atitude. Essas riquezas estão ao seu
alcance. Mas você precisa procurá-las e continuar procurando.
Isto não será fácil. Nenhum casamento maravilhoso acontece automaticamente. Tudo o que tem
valor vale o esforço que se faz para alcançá-lo. Se você está tendo dificuldades, a tendência é
focalizar-se nos problemas, e não em encontrar soluções. A situação exige coragem, bem como
persistência, determinação e dedicação. Ao invés de comparar o seu casamento com outros, compare-o
com o potencial que Deus deu a vocês dois e com os eternos princípios de Deus, que funcionam.
Esquecemo-nos, quando dizemos que a grama do vizinho é mais verde, que ela precisa ser aparada,
fertilizada e regada, da mesma forma como a. de nosso jardim. Os esforços para cultivar o seu
gramado darão resultados mais recompensadores e permanentes do que a excitação passageira de
escapar para uma aventura.
Não olhe para fora, para ver o que os outros estão fazendo. Aproveite qualquer idéia prática que
você puder, provinda de fontes confiáveis, e aplique-a criativamente ao seu relacionamento. Copie
todas as boas idéias que puder, e faça experiências com elas. Pratique-as. Copie, mas não compare.
Olhe para dentro. Você está, agora mesmo, pisando em sua mina de ouro — a sua jazida de diamantes.
Russell Conwell conta uma história incomparável:
Era uma vez um idoso persa que se chamava Ali Hafed. Ele era possuidor de uma grande
fazenda, pomar, campos de cereais, hortas. Fizera muitos investimentos, e estava rico e contente. Um
dia recebeu a visita de um velho sacerdote budista, um homem de elevada estirpe. Eles se assentaram
perto do fogo, e o sacerdote contou-lhe a minuciosa história da criação. E concluiu dizendo que os
diamantes eram as pedras preciosas mais raras e valiosas que haviam sido criadas, "gotas congeladas
de luz solar", e, se Ali tivesse diamantes, ele poderia obter o que quisesse para si e para a sua família.
Ali Hafed começou a sonhar com diamantes — acerca de quanto eles valiam. E tornou-se pobre.
Ele não perdera nada, mas sentia-se pobre, porque tornou-se confuso e descontente porque temia que
fosse pobre. Ele disse: "Quero uma mina de diamantes", e ficava acordado durante a noite.
Certa manhã, ele decidiu vender a sua fazenda e tudo o que tinha, e viajar pelo mundo, em
busca de diamantes. Juntou o dinheiro que tinha, deixou a família aos cuidados de um vizinho, e
começou a sua busca. Viajou pela Palestina e pela Europa extensivamente, e nada encontrou. Por fim,
depois que o seu dinheiro já fora todo gasto e ele estava em farrapos, em miséria e pobreza, chegou a
uma praia em Barcelona, Espanha. Uma grande onda veio quebrando, e esse homem pobre,
desanimado, sofrendo, quase moribundo, não pôde resistir à terrível tentação de se lançar nessa onda
tremenda. E afundou, para nunca mais emergir.
O homem que comprou a fazenda de Ali Hafed, certo dia levou o seu camelo para o regato que
havia em sua horta. Quando o camelo colocou o focinho naquele ribeiro raso, o novo proprietário
notou um brilho curioso de luz, que provinha de uma pedra nas areias brancas da torrente. Ao
esgravatar com os dedos a areia, ele encontrou um monte das mais belas pedras preciosas: diamantes.
Esta foi a descoberta da mais magnífica mina de diamantes na história da humanidade: a Golconda. Os
maiores diamantes que enfeitam as coroas reais do mundo vieram dessa mina.1
Os diamantes de Ali Hafed estavam debaixo de seus próprios pés, mas ele não o percebeu.
Os diamantes de seu casamento estão em seu quintal. Não os deixe passar despercebidos. Não
os menospreze. Garimpe os.

NÃO ARME AS SUAS PRÓPRIAS ARMADILHAS


Muitos "casos" são o resultado da queda nas armadilhas auto-armadas, com iscas para si
próprio. Bisonhamente passamos graxa em nossos próprios escorregadores, e, inconscientemente,
fazemos as coisas que nos preparam para cair.
Considere primeiramente os seus amigos {as). Numa sociedade em que o flerte é a norma, e a
infidelidade, comportamento aceito, você precisa escolher e cultivar as amizades com muito cuidado.
Os amigos que tratam levianamente a infidelidade conjugal ou que contam piadas sugestivas e
histórias picantes são, na verdade, inimigos de seu casamento. Evite-os. Visto que muitos "casos"
acontecem entre amigos íntimos — casais que tiveram muita amizade — uma conversa desbragada a
respeito de sexo derruba os muros protetores, espicaça a curiosidade e suscita fantasias. Quanto mais
franca e aproximada for a amizade, mais necessário é manter a conversa em alto nível. Muitas
mulheres se defrontaram com a tragédia dupla da infidelidade de seu marido com a sua melhor amiga.
Sem querer bancar o "santo", você sempre pode encontrar maneiras de fazer os seus amigos
perceberam que você considera que a infidelidade é algo muito sério. E, indubitavelmente, com ações
positivas, precisa confirmar o seu ponto de vista, de forma que os seus amigos vejam e ouçam que
você admira, aprecia e ama o seu cônjuge. Quando, na conversa, se mencionar algo que, de alguma
forma, demonstre pouco caso do casamento, você deve reagir com algo positivo a respeito de seu
casamento. Não deixe o ambiente continuar envenenado pelas dúvidas e negativismo, que dão ao
casamento uma má fama. Seja mais do que uma testemunha silenciosa. Fale a favor do casamento —
de seu casamento.
Outra armadilha que armamos para nós mesmos é no escritório, no trabalho. Não é segredo
que muitos "casos" são gerados no escritório, e que os favores sexuais muitas vezes influenciam
contratos e promoções. Uma secretária atraente e muito competente contou-me como ela se protege:
"Recuso todos os convites para almoços ou jantares privados com homens de nosso escritório — e
recebo muitos — porque me conheço e sei que seria difícil não reagir à admiração dos outros homens.
Eu dou muito valor ao meu casamento, para me expor a esses riscos."
Evite as revistas e as diversões que diminuem as inibições. Considere as novelas da TV, por
exemplo. É impossível edificar um casamento sólido e ser "gamada" em novelas. Os seus dramas
distorcidos, de romance, sexualidade, infidelidade, "casos" e abortos, induzem a comparações,
insatisfações. Inconscientemente, você começa a pensar por que sua esposa não é igual à "outra
mulher de João" ou por que o seu esposo não é igual ao "marido secreto de Maria". Essas comparações
com a ficção inevitavelmente resultarão em um sentimento de que o seu casamento lhe está roubando
algo, e que um "caso" libertaria você dessa chateação. Esta fantasia irreal aumenta qualquer
desapontamento conjugal que você possa ter. As expectativas frustradas levam você a culpar o seu
cônjuge por estar restringindo você. O fato de culpar o seu cônjuge leva-o a tornar-se inativo em seus
esforços para edificar um casamento sadio. O resultado dessa dedicação e desse esforço decrescentes é
deterioração conjugal ainda maior. Isto, por seu turno, alimenta ainda mais a fantasia e prepara você
para um "caso". É um círculo vicioso. Você não pode edificar um casamento sadio baseando-se em
uma fantasia, com personagens imaginários.
Margaret Hess, esposa de um pastor de Detroit, tem algumas sugestões práticas para você evitar
as suas próprias armadilhas: Trace limites nos relacionamentos com o sexo oposto. Um psiquiatra
disse que evita marcar a última consulta do dia com uma mulher. Um pastor mantém a pessoa que
está sendo aconselhada do outro lado da escrivaninha, e conserva as cortinas abertas. Um médico
chama a enfermeira para a sala, quando precisa examinar uma paciente. Um patrão e sua secretária
podem evitar irem jantar sozinhos ou trabalhar à noite sozinhos. Uma dona-de-casa pode evitar
situações tentadoras com vizinhos, quando o marido está viajando. Uma esposa de bom senso não
ficará três meses numa casa de campo ou de praia, deixando o marido entregue a si mesmo. Da
mesma forma, ela não procurará o marido de alguma outra mulher que foi passar o verão fora. Não
há necessidade de um marido mostrar solicitude indevida por uma mulher cujo marido tem de estar
ausente, a negócios. Ela precisa sentir uma lacuna que só o marido pode preencher.
A Sra. Hess continua:
Será que esses limites significam o impedimento de relacionamentos calorosos entre homens e
mulheres? Claro que não. A Bíblia nos dá o modelo. Paulo aconselhou Timóteo a considerar "um
velho... como a um pai; aos moços, como a irmãos; às mulheres idosas, como a mães; às moças,
como a irmãs, com toda a pureza".2 Você pode desfrutar de amizades maravilhosas com o sexo
oposto. A relação entre irmão e irmã inclui identificação. Expressa interesse e mostra amor. Inclui o
carinho verbal, e mesmo o toque físico, sob certas circunstâncias. Um caloroso aperto de mão pode
expressar apoio. Mas evite qualquer contato físico que contenha insinuações de atração sexual. Os
limites que você estabelecer dependerão do potencial de eletricidade.3
"Abstei-vos de toda espécie de mal. "4
O Dr. Carlfred B. Broderick resume isso de outra maneira: "Se você se encontrar em uma
situação que expresse deliciosa intimidade com um membro atraente do sexo oposto, você deve
começar a procurar maneiras de reestruturar a situação."5 Se você não o fizer, o seu pé será preso em
sua própria rede.

RECUSE-SE A SERRAR PÕ-DE-SERRA


O pó-de-serra não pode ser serrado de novo. O chiclete velho não pode ser mastigado
interminavelmente. O passado agora é história, e não pode ser vivido outra vez. Você não pode fazer
nada a respeito do comportamento do passado, mas pode aprender dele. Você pode viver apenas o
momento presente; quaisquer recordações pessoais ou de outras pessoas a respeito dos erros do
passado só o ferirão e o tornarão incapaz de agir agora. Recuse-se a permitir que o seu casamento hoje
seja ferido pelo que existiu no passado.
Todo mundo tem um passado imperfeito. Ninguém tem uma história imaculada, podendo olhar
para trás e ver uma sucessão de vitórias sem solução de continuidade. O passado de cada um de nós foi
pontilhado de dificuldades, desenganos, fracassos e pecados. Nenhuma vida, nenhum casamento foi
todo ensolarado, sem tempestade, perigo ou crise.
Algumas pessoas se detêm em uma falha, em sua criação. De fato, todos foram vítimas dessas
falhas, porque não há pais perfeitos. Ninguém recebe carinho suficiente de seu pai, carinho suficiente
de sua mãe, carinho suficiente do resto da família. Nenhum casamento, até hoje, foi um modelo
perfeito para os filhos. Alguns de nós fomos privados, ensinados de maneira errada, viemos de um lar
desfeito, aprendemos muito pouco acerca do que é amor. Alguns experimentaram o sentimento de
culpa por causa de fracasso pessoal. O fracasso nos negócios, na escola, na vida moral, no casamento.
Todos temos um passado irrevogável. O que está feito está feito. Isso nunca pode ser mudado
ou revogado. Lord Byron, o poeta inglês, escreveu: "Nenhuma mão pode fazer o relógio bater para
mim as horas que passaram."
Nem todo o esforço do mundo pode trazer de volta a pedra já atirada.
Nem todo o remorso do mundo pode desdizer as palavras contundentes uma vez ditas.
Nem toda a tristeza do mundo pode desfazer o dano que um "caso" inflige ao seu casamento.
Nem todas as lágrimas do mundo podem transformar o adultério em um ato de pureza.
Nem todas as desculpas do mundo consertarão o ato de negligência.
Nenhuma pena pode anular o que já foi escrito.
Não há maneira de se colocar o leite derramado de volta na leiteira ou de recolher novamente a
água perdida no solo.
Ninguém pode reunir de novo as penas que foram sopradas pelo vento, para onde só Deus sabe.
Não há quantidade de orações ou de vida piedosa que desfaça o dano causado por atos
indisciplinados e indulgência.
O seu passado pode beneficiar o seu casamento, ou pode ser que o arruine. Você pode aprender
com ele, edificar sobre ele, e entregá-lo a Deus — ou você pode estacionar ao lado dele, vivê-lo
novamente, e ser seduzido por ele. O passado é um tirano que o manterá amedrontado, e o tornará
incapaz diante das oportunidades de seu casamento hoje. Ou se tornará um bode expiatório, de forma
que sempre haverá algum lugar onde colocar a culpa pela sua indisposição para transformar-se e
edificar o seu matrimônio agora. Você pode desenvolver, dentro de si, uma percepção para examinar o
seu passado. Mas essa percepção por si mesma não mudará o passado nem o presente.
Quando você se desculpa, por causa de seu passado, está se consignando à mediocridade para
sempre — para de contínuo fazer-se de vítima. Como sugere sucintamente o Dr. Wayne W. Dyer: "Se
o meu passado é o culpado pelo que sou hoje, e o passado não pode ser mudado, estou condenado a
permanecer como sou."6 Há um sinal diante do seu passado que diz: NÃO ESTACIONAR AQUI. Se
você ignorar esse sinal, permanecer no passado, recapitulá-lo minuciosamente, estará indicando: "O
meu futuro está atrás de mim." Conseqüentemente, isto solapará o desenvolvimento de seu casamento
hoje e amanhã.
A bagagem de ontem é fardo demasiadamente pesado para hoje. Tenho viajado constantemente
durante trinta e oito anos. Se insistisse em incluir em minha bagagem hoje todos os ternos e camisas,
todos os pares de sapatos e meias, todas as malas de todo esse período, não seria capaz de carregá-la.
Não me deixariam entrar no ônibus ou avião. E também, não teria nenhum objetivo útil. Eu me livrei
de tudo o que não pode me servir hoje. Paulo, o apóstolo, expressou bem isso para todos os
casamentos: "...uma coisa faço, e é que, esquecendo-me das coisas que atrás ficam, e avançando para
as que estão adiante..."7 Cada cônjuge precisa tomar exatamente esta decisão: "Nunca mais suscitarei o
passado. Não podemos deixar que nada do que ficou para trás controle o futuro de nosso casamento.
Jamais tirarei do armário qualquer esqueleto, para fazer você se lembrar de um erro passado, nem
apresentarei contra você qualquer coisa para prejudicá-lo e continuar o sofrimento que nós dois
passamos. Os melhores dias de nosso casamento estão à nossa frente, e nós avançaremos para eles e os
gozaremos juntos."
O amor não guarda nenhum" registro de injustiças sofridas. Você joga fora o livro de registros e
se livra de suas armas de manipulação. Entregue o seu último trunfo.
Desta maneira, cada dia é um novo começo, e não apenas uma recapitulação do passado. Vocês
decidem perdoar, aprender com os erros cometidos, para crescerem juntos. Deus, mediante a nossa
confissão, enterra os nossos pecados no mar de seu esquecimento, e nunca mais os apresenta
novamente contra nós: Ele '...irá atrás de vocês, para protegê-los," 8 Cada um dos cônjuges precisa
assumir um compromisso sério de "ser a retaguarda" do outro, de protegê-lo contra as recordações
automutiladoras do passado. Lembre-se: o ontem acabou a noite passada.

OLHE ATRAVÉS DOS ÕCULOS DE SEU CÔNJUGE


Devido às muitas diferenças temperamentais e emocionais entre homens e mulheres, é natural
que eles julguem de maneira diferente o seu casamento. Um cônjuge pode estar recebendo grande
parte do que deseja, enquanto o outro se sente frustrado. O arranjo que pode ser ideal para um pode ser
maçante para o outro. Portanto, ao considerar o estado de seu casamento, você precisa perguntar-se
corajosamente como o seu cônjuge se sente, e não apenas como você se sente. Visto que o casamento
é uma sociedade, as suas condições e sucesso precisam ser julgados por ambos os sócios. Você não
pode presumir que ambos têm a mesma opinião, e que, porque as suas necessidades são supridas, as de
seu cônjuge também estão sendo supridas.
Tom e Jan são meus amigos especiais, no Texas. Recentemente, quando nos assentamos ao
redor da mesa da cozinha, eles me contaram a sua experiência. Certa noite, eles tinham acabado de ir
para a cama. Tom estava deitado de costas, enquanto eles contavam as suas experiências do dia. Com
as mãos na nuca, ele exclamou com grande satisfação: "Estou muito feliz. Temos um casamento e uma
família maravilhosos, estou indo bem nos negócios, estamos em uma igreja abençoada. Não sei como
poderíamos estar mais contentes." Enquanto ele estava gozando dessa euforia, dessa alegria, percebeu
que Jan permanecia muito quieta, e então a cama começou a ser sacudida. Soluços abafados vinham
do outro lado da cama. Jan rompera em choro. Tom ficou chocado, e então quase morreu de surpresa
quando ela disse: "Como é que você pode dizer isso? Eu nunca estive tão infeliz e desiludida. Nada
está indo direito. Tudo é uma bagunça." Tom me disse: "Eu não podia crer no que estava ouvindo.
Não podia entender aquilo."
Muitas vezes os homens são obtusos. Os maridos, em geral, acham que, se não há conflitos
frontais por várias semanas, nenhuma discussão, ninguém atirou pratos, as coisas estão indo muito
bem, e o casamento está sendo um sucesso. A sua esposa pode estar sofrendo sozinha, por sentir que
não é reconhecida, não é entendida, e que o romance entre eles se desfez.
Certa mulher, que estava visitando um conselheiro conjugal havia várias semanas, finalmente
reuniu coragem suficiente para contar isso ao marido. Ele ficou boquiaberto, como se dissesse: "O que
é que há de errado com você?" Uma junta de cavalos não conseguiria levá-lo arrastado ao conselheiro.
O casamento ia às mil maravilhas — para ele.
Os casais muitas vezes acham, inconscientemente, que discutir as necessidades do casamento
abertamente criará tensões e aumentará os problemas, e que é melhor não mexer com eles. Deixe
sossegado o cão que dorme. Não traga à luz o que não é bom. Mas o oposto é verdadeiro. Enquanto
presumimos que tudo está otimamente bem, se não sabemos onde estão as falhas potenciais, um
terremoto pode estar se formando, e de repente pode abalar tudo, para nunca mais se recuperar.
Precisamos conhecer as forças e as fraquezas de nossa vida em comum. Precisamos saber como o
nosso cônjuge se sente a respeito da qualidade de nosso casamento. Os segredos precisam ser
compartilhados enquanto somos capazes de enfrentá-los positivamente e juntos.
Recentemente, discuti, com um casal que estava casado havia quarenta anos, os problemas de
seu casamento. Embora fossem conhecidos em sua igreja, eles, durante todos aqueles anos, ainda não
se haviam nivelado um com o outro, e cada um presumia que tudo ia bem com o outro. Ambos
desempenhavam certos papéis, e apoiavam um ao outro publicamente, mas, em seu íntimo, a esposa
achava que não tinha identidade própria e fora negligenciada todo aquele tempo. Agora tudo veio para
fora como uma explosão, e os pedaços estão espalhados por toda parte. Ela diz: "O nosso casamento
está condenado."
Pergunte ao seu cônjuge agora: "Como você realmente se sente em relação ao nosso casamento?
Onde você vê áreas de necessidade?" Aliás, enquanto estou escrevendo este capítulo, em casa, saí do
escritório, fui até a cozinha, e fiz à minha esposa estas perguntas. Se ela está chateada, eu preciso ficar
sabendo. Se ela sente-se ferida, preciso saber por quê. Se ela se sente negligenciada fisicamente,
socialmente, sexualmente, preciso ficar sabendo, porque senão não haverá progresso em nosso
casamento.
Assim sendo, faça estas perguntas, e fale a verdade ao respondê-las ao seu cônjuge. Fale a
verdade em amor a respeito de si mesmo, e não a respeito de seu cônjuge. Não aponte o dedo nem faça
acusações. Somente diga como se sente. Troquem de óculos só por um pouquinho, de forma que cada
cônjuge possa ver exata e equilibradamente os pontos de vista do outro. "Em vez disso, seguiremos
com amor a verdade em todo o tempo — falando com verdade, tratando com verdade, vivendo em
verdade — e assim nos tornaremos cada vez mais, e de todas as maneiras, semelhantes a Cristo, que é
o Cabeça."9
Em um casamento que está se desenvolvendo nenhum dos cônjuges deve dizer, surpreso: "Mas
eu não sabia que você estava se sentindo assim."

MANTENHA AS MÃOS VAZIAS, MAS A CAIXA CHEIA


Visto que dirijo grandes conferências sobre o casamento e a vida familiar, estou sempre
procurando novos títulos para as palestras, de modo a conterem um apelo e serem atraentes para o
público. O que você acha deste: "Dez Maneiras Secretas de Segurar o Seu Cônjuge"? Estou certo de
que este tópico será muito atraente, e ajudará a aumentar o número de ouvintes. Mas isso seria trágico.
Como seria incorreto alguém tentar segurar outra pessoa. Pelo contrário, precisamos aprender dez
maneiras de abrir a mão fechada com que cada um está segurando o outro.
Nós agarramos possessivamente o nosso cônjuge, porque sempre deixamos a caixa vazia. O Dr.
Willard Beecher conta como a maioria das pessoas chega ao casamento crendo que ele é uma caixa
cheia de coisas boas, da qual tiramos tudo o de que precisamos para nos tornarmos felizes. Que a
certidão de casamento é também a chave dessa caixa. Que podemos tirar dela tanto quanto desejamos,
e ela, de alguma forma misteriosa, continuará cheia. E, mesmo quando essa caixa fica vazia, e o
casamento se desmorona, ainda não aprendemos a nossa lição. Ainda continuaremos a procurar um
segundo casamento, que traga uma outra caixa sem fundo, de forma que a possamos esvaziar.10
O casamento é uma caixa vazia. Não há nada nela. Ele é uma oportunidade de colocar algo nela,
de se fazer algo por ele. Nunca se pretendeu que o casamento fizesse algo por alguém. Espera-se que
as pessoas façam algo por ele. Se você não puser na caixa mais do que tirou dela, ela ficará vazia. O
amor não está no casamento, está nas pessoas, e as pessoas o colocam no casamento. Romance,
consideração, generosidade, não estão no casamento, estão nas pessoas, e elas os colocam na caixa do
casamento. Quando essa caixa fica vazia, tornamo-nos vulneráveis, susceptíveis a ter um "caso".
Se você pretende conservar cheia essa caixa, deve abrir as mãos e afrouxar o aperto com que
tenta controlar o seu cônjuge. O fato de segurar o seu cônjuge muitas vezes significa oprimi-lo.
Segurar o seu cônjuge, na verdade, significa controlá-lo. Isto é feito de várias maneiras, por exemplo:
sendo autoritário, mandão, dominador. Essa espécie de marido ou esposa geralmente se casou com
uma pessoa "fraca", com alguém que tem de si mesmo idéia muito negativa. Um fraco — alguém que
tem medo e fará o que o outro diz. Um homem que conheço trata a esposa como a um cão. Não, ele
trata o cão melhor. Ele conversa com o cão mais do que com a mulher, e não engana o cão da maneira
como engana a esposa, com os seus "casos". Pelo fato de ela estar amedrontada, sentir-se insegura,
perseguida, ela pensa que é seu dever cristão não dizer nada e não fazer nada. Assim, ele continua
intimidando-a, oprimindo-a ainda mais, e ela se sujeita. Por medo de um futuro incerto, ela se apega a
ele covardemente. Ambos se agarram um ao outro por diferentes razões. Com os punhos cerrados.
Dois fracos.
Esta possessividade de mãos fechadas se manifesta também em uma incapacidade de realçar os
dons, talentos e qualidades de nosso cônjuge. As esposas cujos maridos não as incentivam a
progredirem e a desenvolverem os seus talentos, dados por Deus, estão à mercê das vozes extremistas
do movimento feminista, ou coisa semelhante. Algumas vezes o marido é estimulado pelo seu trabalho
e pelos seus contatos, enquanto a mente de sua esposa está virando geléia, pois só se relaciona com as
crianças em casa. Ele controla e limita o desenvolvimento dela, e depois, anos mais tarde, volta-se
para uma mulher mais faceira, porque a sua esposa não evoluiu. Esta semana mesmo, em Oklahoma,
uma filha me falou a respeito de seus pais. O pai, um pastor, negligenciou a mãe dela completamente
durante anos, oprimindo-a e favorecendo a filha. A esposa raramente era vista, era sempre o cônjuge
silencioso. E ele estava sempre citando versículos bíblicos distorcidos para provar a sua política de
punhos fechados. Com o tempo, tanto a esposa como a filha descobriram que estavam sendo vitimadas
e manipuladas uma contra a outra. Ambas encontraram a sua identidade em Cristo, foram libertas, e
agora estão desenvolvendo de maneira útil suas capacidades dadas por Deus. Quando ele viu que o seu
jogo fora descoberto, saiu de casa, e ainda continua a citar os seus versículos.
Conservar a mão aberta significa que você vive para o seu cônjuge, mas não através dele. David
Wilkerson diz para as donas-de-casa:
Saia da escravidão de viver a sua vida apenas através dos outros. Deus nunca pretendeu que
você encontrasse felicidade só através de seu marido ou de seus filhos. Não estou sugerindo que você
os abandone — mas que tão-somente abandone a sua degradante escravidão à idéia de que a sua
felicidade depende apenas de outras pessoas. Deus quer que você descubra uma vida de verdadeira
felicidade e contentamento, baseada apenas no que você é como pessoa, e não nos caprichos das
pessoas que estão ao seu redor.''
Deus quer que você encontre a sua identidade pessoal no fato de ele o ter criado e redimido.
Você tem valor desde o nascimento, e, além disso, tem uma posição correta para com Deus e sua
justiça, quando recebe a Cristo como Salvador e Senhor. Assim, seja você marido ou mulher, precisa
ter um relacionamento pessoal e crescente com Deus, que não dependa de seu cônjuge ou de seu papel
na família. Assim, vocês dois são livres para viver um para o outro, em vez de viver um através do
outro. Viver um através do outro encoraja um apego doentio, e punhos cerrados, para não ficar opresso
ou desiludido. Viver um pelo outro libera vocês dois para relaxarem o aperto com que prendem um ao
outro, e juntos trabalharem produtivamente para conservarem a caixa cheia.
Existe um pequeno restaurante holandês na Pensilvânia, em um subúrbio, onde Evelyn e eu
gostamos de tomar refeições. Não há nada como ele em toda a região de Chicago. A comida é
maravilhosa — havendo variedade incomum, deliciosamente temperada, o seu preparo constituindo
uma tentação, sendo em porções grandes. Quando temos hóspedes em casa, este é o primeiro lugar em
que pensamos em levá-los. E eles sempre falam de lá, lembrando-o com entusiasmo. Não há
decoração luxuosa; na realidade, ele é bem simples, o refeitório apertado, as mesas cobertas de linóleo.
Não fazem reservas antecipadas, por isso geralmente precisamos esperar até que haja mesa
desocupada. Nenhuma vez os donos nos apertaram num canto e nos fizeram prometer que voltaríamos.
Nenhuma vez eles nos acorrentaram às mesas para terem a certeza de que não os deixaríamos.
Nenhuma vez eles gritaram e se lamentaram:
"O que faremos se vocês não voltarem mais? Vocês não vêem o que estão fazendo por nós?
Como podemos viver sem vocês?" Nenhuma vez eles enviaram piquetes de valentões para arrastar
fregueses para dentro. E eles não dão descontos. Simplesmente mantém a sua caixa apetitosamente
cheia, e as suas mãos generosas sempre vazias. Todo freguês está disposto a esperar pacientemente
uma mesa vazia, e a se arrumar como puder no aperto da sala. Ele sabe que não poderá encontrar nada
melhor em qualquer outro lugar.
Para dizê-lo de outra maneira, abra a gaiola, mas mantenha o cocho cheio de alpiste da melhor
qualidade.

TORNE-SE O HOSPEDEIRO, E NÃO O HÓSPEDE


Não deviam permitir que as crianças casassem. Se essa fosse a lei, ela eliminaria todos os
casamentos, visto que nós todos agimos como crianças egoístas, grande parte do tempo. O fato de
realizarmos o ato adulto de nos casarmos não nos torna adultos. E este é o verdadeiro problema que
está subjacente a qualquer outra dificuldade no casamento. A criança desempenha um papel
passivo/receptivo. Ela espera ser servida. Tudo é feito para ela. Ela não tem nenhum senso de
responsabilidade ou nenhuma iniciativa. É tratada como hóspede. As crianças não sabem como serem
hospedeiras.
Qualquer marido ou esposa com um pouquinho de sinceridade admitirá que é mais gostoso ser
hóspede, ser mimado, que se "faça sala" para a gente. Não ter nenhum senso de responsabilidade, não
assumir nenhuma despesa, não sacrificar nenhum tempo para nos prepararmos — só descansar, gozar
a vida, ser servido. Se cada um dos cônjuges está esperando ser um hóspede, esperando que o outro
exerça iniciativa em seu benefício, haverá problemas. Ambos ficarão desapontados. O casamento
chegará a um ponto insuportável, e a infidelidade se tornará atraente. Ambos começam a pensar que
em algum outro lugar há outra pessoa que dará o "show" e deixará que eles sejam os espectadores.
Isto é bem o contrário do que Jesus disse e demonstrou. "Mas entre vós não será assim; antes,
qualquer que entre vós quiser tornar-se grande, será esse o que vos sirva; e qualquer que entre vós
quiser ser o primeiro, será servo de todos. Pois também o Filho do homem não veio para ser servido,
mas para servir, e para dar a sua vida em resgate de muitos."12
Nenhum casamento pode acomodar dois hóspedes — nem mesmo um. Um casamento que
satisfaz precisa ter dois hospedeiros, cada um dedicado pessoalmente ao papel ativo/comunicador de
adulto maduro, e não ao papel passivo/receptor de criança mimada. Evelyn e eu temos recebido muitas
centenas de hóspedes em nossa casa, através dos anos. Minha esposa ama as pessoas, e durante trinta
anos dificilmente tem se passado uma semana sem hóspedes em casa. Se passamos alguns dias tendo
em casa apenas a nossa família, um de nossos filhos pergunta: "Quando é que vamos ter visitas?"
Temos hospedado ricos e pobres, personalidades mundialmente conhecidas e viúvas solitárias,
famosos líderes cristãos e o casal lutador que mora no fim da rua, que não tem igreja. Houve dezenas
de lanches, jantares, festas, pequenas e grandes. Algumas vezes uma começava quando outra mal
estava terminando. Ser um hospedeiro gentil e bem-sucedido exige exatamente o que é necessário para
edificar um casamento que propicie satisfação.

O Hospedeiro Inicia e Edifica Amizades


Geralmente, quando hóspedes são convidados para uma refeição ou para passar uma noite com
a gente, são amigos do hospedeiro. Pessoas totalmente estranhas, ou inimigas, não fazem parte de
nossa lista de hóspedes, geralmente. Um dos objetivos da hospitalidade é desenvolver novas amizades
e aprofundar as antigas. De fato, amigos e amizade perfazem o elemento central e mais importante,
como diz Salomão: "O homem que tem amigos precisa mostrar-se amável."
Cada cônjuge deve desejar dizer: "O meu cônjuge é o meu melhor amigo." Em uma festa
recente, um líder crente e sua esposa estavam celebrando suas bodas de prata. Perguntei-lhes qual era a
principal característica de seu casamento. A esposa, respondeu imediatamente: "Nós nos tornamos
muito bons amigos." Isto é significativo. Vocês podem ter um relacionamento sexual compatível, e
não ser amigos íntimos. Vocês podem estar associados em suas responsabilidades de pais, e não gozar
de intimidade e franqueza como amigos. Vocês podem desempenhar os seus papéis biblicamente
prescritos, e não aceitar um ao outro como iguais, que é a base da verdadeira amizade.
A própria palavra amizade (no inglês), diz o Dr. Allan Fromme, originou-se de um verbo da
antiga linguagem tribal teutônica, e significa amar. Da maneira sutil que a linguagem é capaz de ligar
experiências humanas afins, "amigos" e "amor" parece terem uma origem comum.13 Em uma pesquisa
feita com mais de quarenta mil americanos, dirigida pela revista Psychology Today, estas qualidades
foram muito apreciadas em um amigo: a capacidade de guardar confidencias, lealdade, calor humano e
afeição. Em seu livro Love Life, o meu amigo Dr. Ed. Wheat inclui um ótimo capítulo a respeito de
como nos tornarmos melhores amigos. Eu o recomendo profusamente. O começo do amor fraternal
(philéo), diz ele, é: "Passamos tempo juntos, nos divertimos juntos, participamos juntos de atividades e
interesses, gostamos um do outro, mesmo depois de nos conhecermos, comentamos sobre diversos
assuntos, temos confiança um no outro, pedimos ajuda um do outro, contamos com a lealdade um do
outro. Tempo compartilhado, atividades compartilhadas, interesses compartilhados e experiências
compartilhadas." "Isto foi a essência de nosso casamento", disse Jan Struther. "Essa exposição e
compartilhamento da bolsa de recordações do dia que passou, a cada noite."14
Assumindo o papel de hospedeiro, trataremos o nosso cônjuge da maneira como tratamos os
nossos hóspedes. Suponha que um hóspede acidentalmente derrame café em sua toalha de linho.
Como você reage? "Não foi nada. Nós também fazemos isso constantemente. Olhe, deixe-me ajudá-lo
a enxugar isso, para que não pingue em sua roupa." Se seu marido faz o mesmo, será esta a sua reação:
"Você é um desastrado. Não pode ser mais cuidadoso? Você sujou a minha melhor toalha! Você não
tem consideração pelo tempo que gasto limpando tudo o que você suja"?
Muitas vezes não demonstramos amabilidade de amigos nem consideração e cortesia. Isto
suscita uma pergunta importante: "Como eu agiria se isso acontecesse com um hóspede em minha
casa?" Faça-se esta pergunta quando a sua esposa produzir um arranhão no carro, quando o seu marido
manchar o tapete ou derrubar aquela xícara de porcelana, quando o seu vaso favorito for quebrado, e
acontecer toda uma série de coisas como essas. Veja o seu cônjuge como o hóspede de honra, e fale
com ele como tal. Quanto melhor for o seu amigo, mais necessários se tornarão o tato e a cortesia.

O Hospedeiro E Também um Planejador Cuidadoso


Hospedeiros e hospedeiras de sucesso não chegam a sê-lo por acidente. Eles planejam os
eventos festivos até o último detalhe. Nada é considerado sem importância. A festa que acontece tão
naturalmente e eficientemente, na verdade, é o resultado de muito mútuos? Para compartilharem os
alvos e sonhos pessoais? Certa mãe cochichou ao ouvido de sua filha, pouco antes de ela entrar na
igreja, para o casamento: "Agora você vai ficar sabendo o que é a verdadeira solidão."
O que dizer a respeito das necessidades sexuais"! Como você vai fazer para suprir as
necessidades sexuais de seu cônjuge, se você for o hospedeiro? Você será mais sensível? Mais
generoso? Mais criativo? Apresentará menos desculpas? Culpará menos? Procurará aprender tudo o
que puder a respeito da natureza sexual de seu cônjuge? Ou continuará na ignorância? O cônjuge que
se recusa a ser hospedeiro e a propiciar a satisfação sexual de seu parceiro está simplesmente pedindo
que outra pessoa entre em cena e satisfaça essa necessidade.
Necessidades espirituais? Se você assumiu a responsabilidade do desenvolvimento espiritual de
seu cônjuge, vai se familiarizar mais com a Bíblia? Estar mais cônscio de como orarem juntos e se
incentivarem mutuamente?
O jantar terminara. Os seus corpos suados estavam descansando, e os seus pés cansados ainda
falavam das estradas quentes e poeirentas que haviam palmilhado. Os discípulos estavam pensativos,
recordando o que haviam visto e ouvido naquele feriado judaico, chamado de Páscoa. Jesus havia,
naquele dia, ensinado algumas coisas surpreendentes, coisas de fazer pensar, como: "Quem me recebe,
recebe aquele que me enviou." Fizera dezenas de declarações como esta.
Durante uma pausa na conversa, Jesus levantou-se e tirou a capa. Movido por um profundo
senso de quem ele era, de onde viera, e o que tinha, colocou uma toalha ao redor da cintura, derramou
um pouco de água em uma bacia e começou a lavar os pés dos discípulos. O líder deles tornara-se seu
servo. Chocante! Ele era o hospedeiro. Eles eram os hóspedes. Ele havia suprido as suas necessidades
humanas de comida e camaradagem, e agora estava lhes falando de parceria, serviço e amor. João 13:1
diz: "Jesus... havendo amado os seus que estavam no mundo, amou-os até o fim." E então, no
versículo 15, Jesus disse: "Porque eu vos dei exemplo, para que, como eu vos fiz, façais vós também."
Isto é o que é necessário para ser um bom hospedeiro, diz ele: grande amor e serviço humilde.
Outra vez, na penumbra da madrugada, após a sua ressurreição, Jesus apareceu à margem do
Mar de Tiberíades, esperando sete de seus discípulos. Quando o barco deles chegou ao alcance de sua
voz, ele os convidou para comerem. "Sejam meus hóspedes", disse ele. Eles estavam cansados e
desanimados, depois de trabalharem a noite toda e não terem pescado nada. Ele sugeriu que eles
lançassem a rede do outro lado do barco, e as suas redes repentinamente se viram cheias. Ele havia
preparado um fogo para aquecê-los, comida para alimentá-los e incentivo para o seu trabalho. E ele
falou com eles acerca de amizade, amor e de segui-lo. Quando a refeição terminou, eles saíram com
alegria e esperança, com suas necessidades supridas. Ele era o hospedeiro perfeito.

ATIVE O AMOR MEDIANTE AS SUAS AÇÕES


"O amor é a única emoção que não é espontânea. A única que precisa ser aprendida e a única
que realmente interessa. O verdadeiro amor é uma habilidade raramente aprendida antes dos trinta e
cinco anos de idade. Nenhum amor, nem mesmo o amor maternal, é instintivo ou inato. Muita gente
consegue amar apenas; de maneira miserável, suspeitando; quando fala de amor, dá a entender
recebimento, e não doação."15 A autora canadense, June Callwood, acertou bem o alvo. O amor precisa
ser aprendido. O amor é uma especialidade. O amor implica em doação. Embora o amor seja a coisa
mais desejada do mundo e incontáveis volumes tenham sido escritos, exaltando-o e explicando-o,
ainda assim temos tão pouco dele e tão pouco entendimento de como ele funciona! William Penn
reconheceu que ele era a lição mais difícil do cristianismo.
Um triste comentário a respeito de toda a nossa sociedade é que estamos mais familiarizados
com o tipo romântico de amor, que é expresso, de maneira mascarada, em música ao luar de verão, em
pasta dental e em sutiãs almofadados. E continuamos a exaltá-lo, sem expressar o que ele na verdade
é: um mundo de pensamentos anelantes de criança. André Maurois o expressa mais abertamente
quando reflete com tristeza: "Devemos à Idade Média as duas piores invenções da humanidade: o
amor romântico e a pólvora."
As concepções erradas a respeito do amor persistem. Para muitas pessoas, ele é o direito de ser
mimado. Uma dívida que os outros precisam nos pagar — uma garantia. Você apaixonou-se, e, agora
que está casado, pode cruzar os braços e esperar que o casamento lhe entregue a felicidade, que é sua
por contrato. Não é assim.
Você adquire amor dando-o, não exigindo-o. É um mito que o amor está presente
automaticamente e que, de alguma forma, virá à tona, mais cedo ou mais tarde. Se você crê nisso, o
desapontamento será inevitável.
Relacionada com isto, existe a noção de que o amor acontece a você. A sua decisão ou ação é
secundária, e você torna-se uma vítima maravilhosa do amor. Ou que o amor é uma espécie de
depósito, que você recebe ao nascer, que forma um reservatório, do qual você pode sacar à vontade,
para satisfazer as suas necessidades e as dos outros. Ou que já vimos equipados com uma capacidade
fixa e finita de amar — um talento especial. Freqüentemente nos consideramos como compreensivos,
doadores e geralmente amorosos, embora os fatos deixem de confirmar esse quadro tão simpático, que
pintamos de nós mesmos. Mas cremos que o amor é uma emoção passiva, que vive e morre dentro de
nós, e que surge e desaparece, dependendo de providência ou circunstâncias favoráveis.
Nas palavras de Katherine Ann Porter: "O amor precisa ser aprendido, e aprendido novamente,
e sempre novamente; não há fim para esse processo." June Callwood concorda: "Uma vida sem amor,
de acordo com os psicólogos modernos, é uma vida de destruição e insanidade. E, enquanto ira, ódio e
culpa desabrocham em qualquer canto, amor, simpatia e tato requerem décadas de cuidados e
carinho."16
Para aprender, precisamos estudar. E a Bíblia, por falar nisso, é o único livro que serve de fonte
inteiramente exata e de autoridade confiável acerca do amor, que se possa encontrar. Há três passagens
principais na Bíblia que tratam do amor, seus elementos e sua prática. O Cântico dos Cânticos de
Salomão é uma história detalhada e cândida de amor conjugal. I Coríntios 13 é um capítulo que mostra
do que o amor é feito, e como ele se comporta. I João 3 e 4 enfatiza as verdades gêmeas de que o amor
precisa ser primeiramente recebido de Deus e depois ministrado ativamente aos outros. Nesses dois
capítulos, os verbos fazer, praticar, dar, agir e amar são usados repetidamente. Visto que o amor é
ordenado por Deus — maridos, amai as vossas mulheres, praticai o amor — isto mostra que o amor é
uma decisão. Uma escolha. Deus não pode comandar os nossos sentimentos ou emoções. Nós também
não podemos. As injunções de Deus podem ser obedecidas somente se amar é uma decisão que
tomamos, uma ação que iniciamos. De fato, é uma escolha expressa em ação e confirmada pela ação.
E por isso que Deus diz: "Vamos parar de dizer que amamos os outros; vamos realmente amá-los, e
mostrá-lo com as nossas ações." Portanto, como já dissemos em capítulo anterior, o amor é algo que
fazemos. Isto tira dele o mistério e o mito que o envolvem — o sentimentalismo barato e o
emocionalismo irracional. O amor é uma arte que é aprendida e uma disciplina que é praticada. A
atenção e os esforços que são necessários para se adquirir qualquer arte, perícia, vocação, precisam ser
empenhados para se aprender a amar. Isto inclui disciplina, concentração, paciência e dedicação. Visto
que esses atos de amor são uma questão de escolha ou decisão, eles não são dependentes de nossos
sentimentos. De fato, eles podem ser contrários aos nossos sentimentos. Ainda ontem uma esposa me
disse: "Eu não sinto mais nada pelo meu marido. Não posso tocá-lo e não quero que ele me toque. E o
senhor quer que eu reaja positivamente a ele, quando é isso que sinto?" Exatamente! As ações
positivas repetidas podem ter um efeito positivo em seus sentimentos.
Repetindo os princípios do capítulo quatro: "Não fazemos o que fazemos porque sentimos da
maneira como sentimos. Sentimos da maneira como sentimos porque fazemos o que fazemos." Isso é
hipocrisia, dirá você! "Você quer que eu expresse amor, fale palavras de amor, demonstre amor,
quando não sinto vontade de fazê-lo?", interrogou um marido. Claro. Aja "como se..." Seria hipocrisia
apenas se as suas motivações fossem enganar ou manipular o seu companheiro. Se o seu desejo é
edificar uma relação e praticar a verdade de Deus, Deus o honrará e os sentimentos corretos se
seguirão.
O colunista de vários jornais e pastor Dr. George Crane conta esta experiência elucidadora:
Uma esposa entrou em seu escritório cheia de ódio contra o marido e decidida a requerer o divórcio.
"Eu não quero apenas me ver livre dele; quero me vingar dele. Antes de me divorciar dele, ,quero feri-
lo tanto quanto puder, pelo que ele fez comigo." O Dr. Crane sugeriu um plano engenhoso: "Vá para
casa e pense e aja como se, na verdade, você amasse o seu marido. Diga-lhe o quanto ele significa para
você. Expresse admiração por todas as suas boas qualidades; louve-o por todas as características
positivas. Esforce-se para ser tão amável, atenciosa e generosa quanto possível. Não poupe esforços
para se dedicar a ele de todas as formas, para agradá-lo, para estar com ele sempre. Faça tudo o que
você puder para levá-lo a crer que você o ama mesmo. Depois que você o convencer de seu amor
infindo e de que você não pode viver sem ele, então solte a bomba. Diga-lhe o quanto você o odeia, e
que você está requerendo o divórcio. Isso realmente vai feri-lo profundamente."
Com expressão de vingança em seus olhos, ela sorriu e exclamou: "Ótimo, ótimo. Não é que ele
vai ficar surpreso?"
E ela o fez com entusiasmo. Agindo "como se". Durante dois meses, ela iniciou atos de amor,
amabilidade, ouviu, deu, reanimou, compartilhou, "fazendo o melhor pelo objeto de seu amor".
Como ela não voltou, o Dr. Crane telefonou-lhe: "Agora você está pronta para iniciar o
divórcio?"
"Divórcio?" — exclamou ela. "Nunca! Descobri que realmente o amo."
Os atos dela haviam mudado os seus próprios sentimentos. Movimento resultou em emoção. O
experimento tornou-se uma experiência.
O Dr. Ed Wheat resume isto nestes quatro princípios: "Um, eu posso aprender o que é amor na
Palavra de Deus e crescer no meu entendimento dele.Dois, amor não é fácil ou simples — ele é uma
arte que preciso aprender e à qual preciso me dedicar. Três, amor é um poder ativo, que controlo pela
minha vontade. Eu posso decidir amar. Quatro, amor é o poder que produzirá amor à medida que
aprendo a dá-lo, em vez de fazer força para atraí-lo."17
A sua capacidade de amar é estabelecida não tanto por promessas fervorosas quanto por atos
repetidos. "E, quando nos amamos uns aos outros, Deus vive em nós e o seu amor em nós cresce ainda
mais." A verdade emocionante é que, quanto mais você dá amor aos outros, mais Deus lhe dá amor.
Você torna-se uma tubulação, e não uma cisterna. O seu suprimento do amor de Deus aumenta à
medida que você aciona o amor pelas suas ações. Quando pára de amar, você se engana a si mesmo. A
fonte seca. Henry Drummond, famoso autor, que escreveu sobre o amor, resume tudo isso:
A vida não é cheia de oportunidades de aprendermos a amar? Todo homem, toda mulher, todos
os dias, têm milhares delas. O mundo não é um parque de diversões; é uma classe escolar. A vida não
é um feriado, mas um curso difícil. E a única lição eterna para nós todos é de que maneira podemos
amar melhor. O que torna um homem um bom artista, um bom escultor, um bom músico?
O treinamento. O que faz de um homem um bom homem? O treinamento. O amor não é produto
de emoção entusiástica. Ele ê uma expressão rica, forte, vigorosa, viril de todo o caráter cristão — a
natureza que se assemelha a Cristo na mais ampla acepção da palavra. E os fatores constituintes
desse grande caráter só podem ser edificados por treinamento incessante.18

COMECE O SEU PRÓPRIO "CASO" EM CASA


"Os 'casos' existem, e sempre existirão, porque as pessoas desejam relacionamentos conjugais
de qualidade, que satisfaçam; e, se elas não os encontram em seu casamento, os procurarão em outros
lugares. Os anseios que estão por detrás dos 'casos' são profundamente humanos e ativos em todos
nós." Essa declaração foi feita pelo Dr. Tom McGinnis, psicólogo e conselheiro em Fair Lawn, New
Jersey.
Se existe alguma verdade nessa afirmação, segue-se que, propiciando em casa aquilo que o
"caso" promete, a tentação para o "caso" fica impotente. Quais são os elementos de um "caso" que o
tornam atraente? O que é que ele oferece? Quais são os seus segredos e mistérios não revelados? Qual
é o desafio que ele faz a um casamento cansado? Quais são as qualidades que você pode adicionar ao
seu casamento, que lhe darão as "sensações" que um "caso" propicia, sem a traição, a destruição e o
sentimento de culpa, que um "caso" inevitavelmente produz?
O texto mais descritivo que li a respeito das características que um casamento precisa ter para
contra-atacar os apelos da infidelidade conjugal foi escrito pelo Dr. Ginnis, mencionado acima. É
citado por Nicky McWhirter, do Serviço de Notícias Knigth-Ridder.
As pessoas casadas procuram "casos" ou sucumbem diante deles quando se acham
desvalorizadas e não estão vivendo plenamente. Quando estão chateadas. Sobrecarregadas. Isso
aumenta quando se sentem muito solitárias, o que pode acontecer em uma casa cheia de crianças e
com um cônjuge palrador, em que haja um programa estafante de coisas "divertidas" para fazer.
As pessoas que procuram ter um "caso" sofrem do anseio infantil mais profundo de serem
tocadas, acariciadas, apoiadas, abraçadas e beijadas, quero admitam, quer não. Elas querem
surpresas felizes. Isto pode significar um presente sentimental e inesperado de vez em quando. Mais
importante do que isto, é o presente fidedigno de tempo e carinho, a dádiva de idéias, experiências,
histórias, disparates e jogos compartilhados, inclusive os jogos sexuais. Elas querem viver.
Elas querem um amigo ou amiga amorosos, um companheiro que não as julgue. Desejam
alguém que as convença de que ainda são amadas, dignas de amor e muito especiais. Por um pouco
de tempo, de vez em quando, elas querem escapar das responsabilidades de adultos, que se tornaram
inevitáveis, monótonas e difíceis.
Há pelo menos dezesseis pensamentos, qualidades e características mencionadas aqui.
Relacionei essas idéias importantes, e propus três perguntas a respeito de cada uma. Repasse essas
perguntas cuidadosamente. Considere-as sem pressa. Responda-as com sinceridade. As suas respostas
sinceras podem prognosticar um novo começo — podem ser o início da mudança. Elas indicarão onde
você poderá começar a mudar o clima de seu casamento, e criar as situações que lhe darão e ao seu
cônjuge os sentimentos bons de que vocês necessitam. (Também incluí essas perguntas em páginas
separadas, no fim deste capítulo, de forma que você pode arrancá-las e conservá-las diante de si
enquanto esses hábitos novos estão sendo formados.)
Uma pergunta importante, final. É realmente possível construir e manter um casamento
vibrante? Podemos enfrentar os inevitáveis desapontamentos e conflitos com coragem, e crescer em
amor e intimidade? A resposta é sim — um enfático SIM. Outro triângulo é formado: você, o seu
cônjuge e Deus. Cada parte é indispensável para o sucesso do casamento. Deus não fará a sua parte —
e você não pode fazer a dele. Ê uma sociedade. Um relacionamento pessoal com Deus capacita-o a
contribuir com o que você tem de melhor para o casamento. E então ele acrescenta a dimensão extra,
de amor, paz, alegria, força e perdão, que você não pode criar por si mesmo.
Deus é quem ele diz que é. Você é quem ele diz que é. Deus fará o que ele diz que fará. Você
pode fazer o que ele diz que você pode fazer.
Sei passar falta, e sei também ter abundância; em toda maneira e em todas as coisas estou
experimentado, tanto em ter fartura, como em passar fome; tanto em ter abundância, como em
padecer necessidade.
Posso todas as coisas naquele que me fortalece.19

TRÊS PENSAMENTOS FINAIS


"Uma coisa continua imutável através dos séculos: nada é mais excelente, mais completo, de
fato, mais santificado, do que o leito matrimonial imaculado, particularmente quando a decisão de que
ele permaneça imaculado é um ato consciente das duas pessoas que o compartilham."20
"Há uma enorme diferença entre querer algo quando não o temos, e continuar a querê-lo quando
o temos. Continuar a desejar e a querer o que temos significa que estabelecemos um relacionamento,
que formamos uma conexão — que, de fato, amamos."21
Há mais de um século, Henry David Thoreau disse esta verdade sucintamente: "Simplifique,
simplifique, simplifique." Focalize-se e permaneça fiel ao que está no centro, e, como planetas ao
redor do sol de nosso casamento, os outros elementos da vida encontrarão o seu lugar apropriado. Seja
fiel, permaneça fiel, tenha fé — e a felicidade acontecerá.

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